História do mundo dos anjos

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Como falar dos anjos sem mistério? Afinal, assim com muitas das coisas de Deus, sabemos que existem, que foram criadas, mas não as vemos, assim é a história dos anjos.Buscando desvendar este mistério, com base em fatos que se mais se aproximassem da Criação, o autor apresenta-nos uma ficção narrada por um anjo.A olhos nus, esta ideia até pode parecer extravagante de ser tratada no meio católico, mas conhecendo o interesse das pessoas nos anjos e sabendo da miscelânea que o mundo de hoje oferece através de meios nada cristãos envolvendo estes seres celestes, penso ser ousado levar até elas um conteúdo cristão sobre o tema.Se pegarmos o Antigo Testamento, a criação do mundo narrada em Gênesis ou mesmo Apocalipse, no Novo Testamento, notaremos que apesar dos relatos bíblicos, há muito mistério envolvido; mistério este que vemos sendo desvendo nesta nova obra.História do mundo dos anjos. Este livro mudará o conceito sobre o universo celeste...

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  • Pe. Jos Antonio Fortea

    Histria do mundo dos ANJOS

  • Copyright desta edio Palavra & Prece Editora, 2012.Edio brasileira autorizada por intermdio do Autor.

    Ttulo original em espanhol: Histria del Mundo Anglico.Todos os direitos desta edio reservados.

    Fundao Biblioteca NacionalDepsito Legal na Biblioteca Nacional,

    conforme Decreto no 1.825, de dezembro de 1907.

    Coordenao editorialJlio Csar Porfrio

    Reviso e diagramaoEquipe Palavra & Prece

    TraduoLaura de Andrade

    CapaEquipe Palavra & Prece

    Execuo: Srgio Fernandes ComunicaoImagens: Shutterstock

    ImpressoEscolas Profissionais Salesianas

    ISBN: 978-85-7763-203-9

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    ndices para catlogo sistemtico:1. Medos, sndromes e traumas : Superao : Experincias de vida : Cristianismo 248.86

    PALAVRA & PRECE EDITORA LTDA.Parque Domingos Luiz, 505, Jardim So Paulo, Cep 02043-081, So Paulo, SP, Brasil

    Tel./Fax: +55 (11) 2978.7253E-mail: [email protected] / Site: www.palavraeprece.com.br

    Fortea, Jos Antonio Histria do mundo dos anjos / Jos Antonio Fortea ; [traduo Laura de Andrade]. So Paulo : Palavra & Prece, 2012.

    Ttulo original: Historia del mundo anglico. ISBN 978-85-7763-203-9

    1. Anjos 2. Vida crist I. Ttulo.

    12-13426 CDD-235.3

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    Sumrio

    Prlogo .................................................................................................................................... 7

    PRIMEIRA PARTEHistria do Mundo Anglico

    Introduo ............................................................................................................................ 11I Como tudo comeou ..................................................................................................... 13II Fazer a vontade de Deus .............................................................................................. 21III Adorao coletiva ....................................................................................................... 25IV O tempo sem tempo ................................................................................................... 27V A misteriosa presena de Deus .................................................................................. 29VI Deus criou seres livres ................................................................................................ 33VII Nem tudo era perfeito .............................................................................................. 35

    SEGUNDA PARTELcifer

    VIII A obra-prima de Deus ............................................................................................ 41IX O maior entre os maiores........................................................................................... 43X Lcifer no orava .......................................................................................................... 45XI As mudanas comearam aps a Revelao do plano de Deus ............................ 49XII A batalha no Cu ....................................................................................................... 53XIII O belo tornou-se aterrorizante ............................................................................... 57XIV Rainha dos Anjos ..................................................................................................... 59XV Quem como Deus! .................................................................................................... 61XVI Trocaram o certo pelo errado................................................................................. 63XVII O Inimigo dispensa as graas ............................................................................... 67XVIII Nascia uma nova ordem no Cu ........................................................................ 71XIX A queda da terceira parte das estrelas ................................................................... 73XX Satans destilou seu veneno ..................................................................................... 77XXI Onde estava Deus? ................................................................................................... 79XXII O exrcito do Bem .................................................................................................. 83XXIII Os anjos cados tiveram outra oportunidade de regenerao ......................... 85XXIV A expulso dos anjos cados ................................................................................ 89

    TERCEIRA PARTEO Mal espreita de almas

    XXV O abismo ................................................................................................................. 95XXVI A fora do Mal ....................................................................................................... 99

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    Pe. Jos Antonio Fortea

    XXVII Anjos mortos em esprito .................................................................................103XXVIII Um destino sem Deus .....................................................................................107

    QUARTA PARTEO Cu aps a queda dos anjos

    XXIX Tempo de purificao .........................................................................................113XXX Quo sbios so os planos de Deus ....................................................................119

    QUINTA PARTEA histria dos anjos continua... at os nossos dias!

    XXXI H anjos em todos os lugares ............................................................................125XXXII A criao do homem .........................................................................................131XXXIII Satans infiltrou-se no Paraso .......................................................................135XXXIV A vida uma constante luta contra o exrcito do Mal ................................139XXXV Desfrute seu tempo na Terra............................................................................141

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    Prlogo

    Depois de dezesseis anos dedicados ao campo teolgico dos demnios, finalmente, chegou o momento de falar dos anjos. Aps tanto tempo medi-tando como empreender esta tarefa, eu decidi faz-lo no como um ensaio, mas derramando a teologia num leito narrativo. A narrao me permite in-fundir vida quilo que, de outra forma, teriam sido apenas frios conceitos e diversificadas hipteses. Posso assegurar que h teologias por trs desse relato da criao do mundo anglico. Algum que no tenha lido outros textos meus a respeito do tema poder cair na tentao de pensar que neste texto me dedico apenas a inventar, mas posso assegurar que toda essa fico no mais do que a angiologia expressada de um modo literrio. Tudo tem uma razo de ser na fico que proponho cujas linhas, sem dvida, so mais transcendentes do que a Sagrada Escritura.

    A Bblia muito breve ao falar da criao dos anjos. A metafsica ilumi-nada pela Escritura pode desenvolver-se, expandir-se, dando luz ao modo razovel em que tudo pode acontecer. Esta obra nada mais do que isto: um esforo por expor, de um modo razovel, como pode ser a proto-hist-ria dos anjos.

    Eu no estou afirmando como aconteceram as coisas, mesmo porque no tive uma revelao particular a respeito do tema. Apenas exponho como as coisas podem ter acontecido. Uma forma razovel, entre as muitas possveis, de preencher os vazios sobre o tema nas Escrituras.

    Reafirmo que esta obra no est baseada em revelaes minhas nem de outros, mas na metafsica; apenas tomo o objeto da prova dos anjos de uma venervel tradio. Seja qual for a prova que os anjos tiveram ao serem criados, a nica certeza a de que eles passaram por uma prova; e aqui oferecemos uma sugesto de qual possa ter sido. Nesta histria reflito

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    Pe. Jos Antonio Fortea

    inmeras vezes como tudo pode ter sido, mas s Deus conhece o modo em que tudo realmente aconteceu.

    claro que se algum no estiver de acordo com algum ponto da minha histria, tem todo o direito de faz-lo. Alis, os anjos e eu lhes damos toda a permisso para discernir. Talvez algum se sinta incomodado porque uti-lizo termos to visuais ao falar de um mundo to sublime, mas este texto como uma grande tela, um extenso tmpano catedralesco.

    Ou redigia um tratado, ou edificava este autossacramental. Definir este escrito como um autossacramental do sculo XXI me compraz.

    No presente prlogo explico o nascimento desta obra: como um exerc-cio narrativo-teolgico que trata de explicar como puderam ser as coisas, expressando-as com esttica visual e utilizando modos antropomrficos. Pronto para criar, imaginei o quo atraente se resultava literariamente a criao, no s de uma histria dos anjos, mas tambm a criao de uma fictcia origem redacional dessa mesma histria. Ao final, no ofereo so-mente a histria dos anjos, mas tambm a falsa histria de como surgiu essa histria.

    Que me seja me perdoado este ato literrio na obra esttica.

    Padre Fortea

  • PRIMEIRA PARTE

    Histria do Mundo Anglico

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    Introduo

    A nossa histria aconteceu antes dos faras, antes dos construtores dos zigurates, antes que no deserto repousasse a areia, antes que a primeira gota de gua casse no primeiro mar. Foi antes que o Sol brilhasse pela primeira vez, antes mesmo que Deus dissesse: Seja feita a luz.

    Antes da histria de qualquer criatura, veio a nossa histria que a mais antiga. De fato, esta histria teve lugar antes do tempo. Antes de nossa histria, no h nenhuma histria, uma vez que o nico que estava antes de ns no tem histria alguma. Deus no tem histria.

    Eu, um anjo, contarei a vocs, seres humanos embora no possam entender muitas coisas , mesmo que tenha que recorrer a comparaes humanas para que possam compreender o incompreensvel.

    Inicio agora a minha histria...

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    I

    Como tudo comeou

    No princpio estava o Ser, o Ser Infinito, a Trindade Sublime. Imagi-nem Deus como sendo uma imensa Esfera de luz branqussima. Nova-mente, lembro-lhes de que tenho que recorrer a termos limitados, a com-paraes que comparam o incomparvel. Deus no uma Esfera, Deus no tem forma geomtrica alguma. No entanto, peo-lhes que imaginem a minha histria de uma forma visual. Imaginem o Grande Deus como sendo uma Esfera de luz de propores infinitas.

    Essa Esfera de luz estava no meio do nada. Uma Esfera resplandecen-te em meio escurido mais absoluta, a escurido perfeita. No princpio existia apenas essa Esfera. Ningum a contemplava, ningum podia v-la, porque no havia ningum. Essa Esfera de Vida Trina era luz e era grande como milhares de oceanos de luz. Era colossal como milhares de universos.

    Enquanto vocs vivam, nunca podero imaginar quo difcil para mim lhes expressar de uma forma simblica o que ns perceba mos da parte de Deus. Permita-me utilizar a imagem de uma Esfera para falar de Deus, a imagem de uma Esfera grandiosa, porque nEle reinava a perfeio, como apenas pode se expressar na geometria. Mas, ao mesmo tempo era limitado como o mar. O mar estvel, mas tem movimento em si. Mesmo cheio de vida, Deus se mostrava a ns. O que ns vamos era como uma Esfera infinita cheia de mares de vida. Por essa razo o percebamos atravs dos raios que atravessavam os vus dEle. Para que possam compreender

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    Pe. Jos Antonio Fortea

    o que ns vamos, a cena mais prxima a imagem do Sol cuja luz surge arrasadora e lmpida atrs das nuvens de uma tormenta que se abre. Reu-nindo todos estes conceitos to pobres e vocs faro uma ideia aproximada do que descrevo.

    A Trindade da vida gritava alto em Seu interior, flua no seio dessa Es-fera. De repente aconteceu algo. Era a primeira vez que acontecia alguma coisa fora da Esfera. No podemos dizer que isso ocorreu h milhes e mi-lhes de sculos atrs porque, de fato, no havia tempo. Mas entre aquele antes e depois, houve mil eternidades e depois eternidade aps eternidade. Antes do primeiro AGORA, houve uma incontvel srie de sculos sem tempo.

    E foi assim, no momento previsto, no exato instante, antes do qual no houve instante, que uma voz poderosa ressoou no interior da Esfera e disse: Faa-se! E da Esfera surgiu uma luz. Aquele ato se assemelha de longe a uma flor que estende suas ptalas brancas. Esse instante era semelhante quele quando de uma corola surgem para fora suas ptalas. Aquilo parecia como uma exploso de luz em cmera lenta.

    Se nos aproximssemos dessa luz, veramos que cada feixe de luz estava formado por milhes e milhes de seres anglicos. Cada natureza anglica era como uma pequena estrela. Havia estrelas de todos os tamanhos. Cada ser anglico resplandecia com seu prprio tom de luz; cada um emitia uma msica em particular. Se for possvel usar esta expresso, cada um mostrava um rosto espantado, felizmente perplexo, ante o espetculo do ato criador.

    Os anjos mais grandiosos se encontravam suspensos, como que tocan-do a Esfera. Cada anjo superior tinha ao redor outros que eram menores que ele, como planetas que rodeiam um astro. Por sua vez cada um desses satlites tinha outros espritos anglicos que eram como satlites dos pla-netas. Dessa forma podamos ver que havia centenas de hierarquias ang-licas. Cada anjo dependia de outro anjo superior. Os anjos superiores, me-nores e intermedirios formavam incontveis nveis, complexas rotaes,

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    Histria do mundo dos anjos

    inumerveis hierarquias, com plicadas sries de nveis, escales, como se tratasse de um infinito estudo de animais.

    A que compararemos a viso desse ato criador? Era como se a grande Es-fera estivesse rodeada por cerraes. Essas nvoas eram como vias lcteas. Cada uma delas estava formada por milhes de milhares de seres angli-cos. Toda a Esfera estava coberta dessas nebulosidades. Algumas partes da superfcie da Esfera estavam mais densamente cobertas. Em outras, essas nuvens pareciam como se desfiassem em direo para fora. Continuavam surgindo mais e mais destas nebulosas desde o interior da Esfera. Era como se do interior do ser infinito flussem grandiosos rios de luz. Universos e mais universos de anjos saam da Esfera incomparvel.

    Aqueles rios pareciam no se esgotar. Alguns deles surgiam com fora em direo para fora, se dobravam como atrados pela fora de atrao da Esfera da qual surgiam e retornavam a ela percorrendo a superfcie inter-minvel dela. Outros rios saam expelidos com fora e se adentravam no inferior, formando assim espirais que, por sua vez, se misturavam com outras espirais anglicas, combinando-se em incrveis feixes de luz que se redemoinhavam, girando ao redor de si prprios, formando centros e mais centros anglicos.

    Os rios de luz que surgiam da Esfera foram-se enfraquecendo numa espcie de eco que se extingue cheio de majestade, assim como um rgo catedralesco, o qual se faz presso ao mesmo tempo, com as duas mos, dez notas com todos os seus registros numa magnfica harmonia, com todos os seus tubos com total fora e que logo depois de alcanar o clmax, o som se esfuma nas abbodas. Esse eco sinfnico foi se desvanecendo at que o ltimo brao de luz se descolou do oceano de luz da Esfera: a criao dos anjos havia terminado. O ltimo anjo tinha sido criado.

    O nmero dos anjos era incalculvel, mas houve um ltimo anjo a apa-recer. Dizer que eram trilhes de trilhes era pouco. Deus tinha sido ex-traordinariamente generoso ao criar. Feliz que fossem muitos os que po-deriam existir. Deus quis comunicar de uma forma esplndida a alegria

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    Pe. Jos Antonio Fortea

    de ser. Ao serem criados aqueles anjos simplesmente recebiam o nome de glrias, porque eles eram a glria do seu Criador.

    Todos os espritos estavam surpreendidos. Tinham sido lanados existncia. Haviam passado do nada, a existir repentinamente. Aquilo era como se milhes de seres tivessem acabado de despertar. Mas no estavam sonolentos; ao contrrio, mostravam-se cheios de vida. A fumaa efervescia de vigor ao redor da Esfera de vida. A vida se agitava neles, pela felicidade de existir.

    Os espritos se olhavam a si prprios, se conheciam e se olhavam en-tre si surpreendidos. Como as glrias se encontravam girando ao redor de glrias maiores, admiravam o grande anjo ao redor do qual cada es-prito se movimentava. Avistavam a magnitude dos gigantescos astros anglicos. Embora as olhassem de longe, se achavam surpreendidos que pudesse haver glrias to descomunalmente grandes. No centro de tudo: o divino oceano infinito de luz do qual tinham sado. Era como estar junto s margens de um grande mar. Poderamos dizer que estavam sus-pensos, flutuando no ar, levitando sobre um oceano. Mas nesse caso, no fazia sentido afirmar que se estava em cima ou num flanco daquele mar. No havia acima nem embaixo num universo sem referncias especiais. Unicamente aquele grande centro. Um grande centro que era essa Esfera que parecia limitada.

    As glrias contemplavam a Grande Esfera; sabiam que era uma forma esfrica. Era to grande que eles a contemplavam como a um oceano, cujos limites escapavam a viso deles. Esse oceano divino estava em silncio, todos admirados o contemplavam; constitua em si mesmo um espetculo, porque essa luz era amor, sabedoria, beleza, perfeio, equilbrio, plenitu-de. De repente, a Esfera falou. Era a primeira vez que ressoava a Sua voz fora do Seu seio. A voz dEle resultou o fato mais impressionante que se poderia imaginar. A voz de Deus se dirigindo a milhes e milhes de esp-ritos anglicos.

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    Histria do mundo dos anjos

    Todos escutaram uma voz potente, grave, cheia de poder. Tratava-se de uma voz que podia dobrar ferro, partir os cedros. Ainda no existia o ferro, ainda no tinham crescido os cedros, mas se tivesse sido criado o mundo, os pilares da Terra no haveriam resistido o poder da primeira slaba da pri-meira palavra. Diante da apario da voz, todos os anjos recuaram como aquele que investido pelo vento.

    No se faz justia ao dizer que era uma voz maravilhosa. Sua voz estava dotada da maior intensidade que se poderia imaginar. Por sua vez, Suas palavras transmitiam ternura e carinho. Eram as palavras de um Pai. Nelas no havia nada de ameaador. Mas sem ser amea adora, Sua voz era tal que deixava claro que no admitia rplica.

    Deus se dirigiu a ns. Explicou-nos quem Ele era. Exps-nos quem ra-mos ns; o objetivo de ter-nos criado, o que esperava de ns, aquilo que devamos e no devamos fazer. Deus fez s vezes de professor, e ns Lhe escutamos boquiabertos. A voz dEle nos manifestava quais eram os abis-mos do ser, os caminhos do Bem e do Mal. A estrutura lgica do que tinha criado e do que poderia criar. As Suas palavras eram cincia pura sem erros.

    Mas no falava o tempo todo. Em Seu discurso, na Sua explicao do Ser e do ser, na Sua explicao de tudo havia como que em uma sinfonia, momentos de silncio. E nos perguntava. Ns Lhe respondamos, Lhe per-guntvamos, individual e coletivamente. Conversvamos com Ele como os filhos com o seu pai. Verdadeiramente era um Pai. ramos como pintinhos ao redor de uma galinha. Poderamos nos sentir quentinhos sob as asas dEle. Sentamo-nos protegidos. No tnhamos corpo, mas mesmo assim, sentamos o calor da Sua presena.

    A imagem dos pintinhos aconchegados no seio da me descreve muito bem aquele tempo feliz. No era somente o fato de estar sob Suas asas, era estar em Seu seio, como pintinhos completamente envolvidos no leito de plumas.

    De que poderamos nos sentir protegidos? Como poderamos conhe-cer a sensao de temor? Sentamo-nos seguros perante o vazio do nada,

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    Pe. Jos Antonio Fortea

    diante da insegurana de no saber. Ele nos dava certeza perante a dvida. Ele nos oferecia o firme fundamento de saber a nossa procedncia, quem ns ramos, a nossa direo e qual era o sentido de tudo. Sem Ele tera-mos sido como nufragos no meio do vazio. Sem Ele teramos nos sentido abandonados no meio dessas solides. Olhando para trs, ali estavam essas solides vazias e escuras. Quase dava medo olhar em direo do no-ser de onde tnhamos sado, de onde perfeitamente poderamos no ter sado nunca. Teria bastado uma palavra Sua para tirar-nos do nada. Mas com Ele no temamos ao nada: Ele preenchia tudo.

    O Mestre continuava a responder paciente e amorosamente aos Seus filhos. Conseguia responder ao mesmo tempo a milhes de seres. ramos tantos e mesmo assim cada um escutava distintamente a Sua voz. Ns, as glrias, conseguamos escutar as palavras de muitos anjos se dirigindo a Deus e, simultaneamente, podamos Lhe fazer perguntas. Ns consegua-mos entender sem problemas no meio daquelas muitas vozes. Cada um podia perceber mais ou menos desses dilogos, segundo o poder da sua inteligncia.

    No meio daquela sinfonia, formulvamos em coro uma questo a Deus. Mas no meio daquele coral um pequeno esprito conseguia Lhe fazer uma pequena pergunta. Havia conversas coletivas, aconteciam conversas indi-viduais. Outras conversas eram particulares e pessoais, devido a que era o desejo de algumas glrias. E no faza mos apenas perguntas, tambm Lhe dvamos graas; graas por tudo. Tambm conseguamos nos comunicar entre ns mesmos.

    Os anjos mais inteligentes compreendiam melhor aquilo que a Esfera di-zia, e o explicavam a ns, anjos intermdios. Por sua vez, ns explicvamos detalhes aos anjos inferiores. Havia milhares de escalas naquela hierarquia celeste. Todos entendiam o discurso de Deus, mas os anjos superiores nos faziam ver que s tnhamos captado apenas uma parte da profundidade do discurso dEle.

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    Histria do mundo dos anjos

    Ns mesmos nos instruamos e, em conjunto, aprofundvamos o conhe-cimento com os nossos intelectos neste oceano infinito de luz que tnhamos na nossa frente. Cada vez mais percebamos bem claro quem era o Criador, a Fonte, o Sol de Santidade. Quase sem nos darmos conta, levantvamos construes intelectuais. ramos seres intelectuais e desfrutvamos mergu-lhando nossas mentes nessa Esfera sem fim. Podamos mergulhar nEle ape-nas com a nossa inteligncia, apenas com o nosso conhecimento. Podemos dizer que Ele estava ali e ns aqui.

    A incrvel fronteira da transcendncia era impenetrvel. A impenetra-bilidade de Deus que no era percebida como um muro, mas, como uma montanha que para ascend-la precisava-se de sculos. Nesse sentido, a Esfera estava to perto e to longe. A Esfera parecia rodeada de um muro alto como uma montanha. Possivelmente pelos sculos de ascender as suas ladeiras, compreendssemos que apenas havamos comeado a nossa via-gem. Sim, a Esfera apenas era o vu da magnitude.

    Ainda conscientes de nossa pequenez, quanto mais conhecamos, mais queramos conhecer. Com a nossa inteligncia conseguamos percorrer esse objeto de nosso conhecimento. ramos como exploradores daquilo que tnhamos frente a ns. As nossas construes lgicas, metafsicas, teolgi-cas a respeito da divindade nos deixava pasmos. Cada vez ficvamos mais admirados do ser infinito.

    Alguns de ns apreensivos diante de tanta beleza comeamos a nos organizar para Lhe dar culto de modo coletivo. Assim comeou a li-turgia celeste, como uma resposta a tamanho espetculo da divindade.