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HISTÓRIA DO PENSAMENTO CRISTÃO PREFÁCIO Quando foi perguntado a Jesus, qual era o principal dos mandamentos, ele respondeu citando um versículo do Velho Testamento, mas ao fazê-lo ele efetuou uma adição importante. O texto que ele citou é a própria essência do Judaísmo: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.” Deste modo ele lê os versículos em Deuteronômio 6:4-5. Mas Jesus adicionou: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu entendimento” (Mc12:30). Tem havido uma contínua história do pensamento cristão porque o Mestre exortou seus discípulos a amarem seu Deus, não somente com o coração e a força, mas também com a mente. Contudo, se o Mestre nunca tivesse dado esta prescrição, seus discípulos provavelmente não poderiam ter escapado de usar suas mentes, porque eram compelidos a fazê-lo pelas exigências de sua situação no ambiente do mundo greco-romano, no qual os homens de mente aguçada propunham aos cristãos questões que exigiam profunda reflexão e distinções precisas. Os cristãos se recusavam a adorar o imperador como um deus. Assim também faziam os judeus. A razão dos judeus para se recusarem era óbvia e coerente, baseada naquele grande mandamento que Jesus citou: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus é o único Senhor”, e no mesmo lugar: “Não terás outros deuses diante de mim.” Os judeus não admitiriam a adoração de qualquer outro deus senão Yahweh, e eventualmente eles chegaram a negar a existência de qualquer outro deus. Sobretudo, eles não considerariam algum homem como um deus. Porém os cristãos se recusavam a adorar o imperador, um homem deificado, como incompatível com a adoração exclusiva de Cristo. Os pagãos, então, podiam dizer: “Por que vocês se recusam a adorar um homem como deus? Seu Cristo não era um homem?” Se o cristão respondesse: “Não, ele era um deus”, o pagão refutaria: “Neste caso vocês têm dois deuses, e por que então vocês nos acusam de politeísmo?” Deste modo, a rejeição da adoração do imperador exigia uma Cristologia. Em seus embates com o mundo pagão, os cristãos despojaram os egípcios. Exatamente como os israelitas, Pb Dânglo do Nascimento Página 1

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Justo L. González

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PREFÁCIO

Quando foi perguntado a Jesus, qual era o principal dos mandamentos, ele respondeu citando um versículo do Velho Testamento, mas ao fazê-lo ele efetuou uma adição importante. O texto que ele citou é a própria essência do Judaísmo: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.” Deste modo ele lê os versículos em Deuteronômio 6:4-5. Mas Jesus adicionou: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu entendimento” (Mc12:30). Tem havido uma contínua história do pensamento cristão porque o Mestre exortou seus discípulos a amarem seu Deus, não somente com o coração e a força, mas também com a mente.

Contudo, se o Mestre nunca tivesse dado esta prescrição, seus discípulosprovavelmente não poderiam ter escapado de usar suas mentes, porque eram compelidos a fazê-lo pelas exigências de sua situação no ambiente do mundo greco-romano, no qual os homens de mente aguçada propunham aos cristãos questões que exigiam profunda reflexão e distinções precisas. Os cristãos se recusavam a adorar o imperador como um deus. Assim também faziam os judeus. A razão dos judeus para se recusarem era óbvia e coerente, baseada naquele grande mandamento que Jesus citou: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus é o único Senhor”, e no mesmo lugar: “Não terás outros deuses diante de mim.” Os judeus não admitiriam a adoração de qualquer outro deus senão Yahweh, e eventualmente eles chegaram a negar a existência de qualquer outro deus. Sobretudo, eles não considerariam algum homem como um deus. Porém os cristãos se recusavam a adorar o imperador, um homem deificado, como incompatível com a adoração exclusiva de Cristo. Os pagãos, então, podiam dizer: “Por que vocês se recusam a adorar um homem como deus? Seu Cristo não era um homem?” Se o cristão respondesse: “Não, ele era um deus”, o pagão refutaria: “Neste caso vocês têm dois deuses, e por que então vocês nos acusam de politeísmo?” Deste modo, a rejeição da adoração do imperador exigia uma Cristologia.

Em seus embates com o mundo pagão, os cristãos despojaram os egípcios. Exatamente como os israelitas, quando escaparam do Egito, vencendo alguns dos deuses de seus opressores, assim os cristãos utilizaram as idéias e os métodos intelectuais de seus oponentes ao dar forma a suas respostas. Falando de modo geral, as preocupações intelectuais dos cristãos, embora teológicas em vez de filosóficas, os colocou na tradição da filosofia grega; e mesmo aqueles que, como Tertuliano, censuravam o uso da erudição pagã, não obstante, na sutileza de seu raciocínio foram sucessores da herança clássica. Mas também havia um motivo no Judaísmo para as atividades intelectuais. A Sinagoga era única no mundo antigo, uma igreja sem um altar, somente uma escrivaninha para a leitura da Lei. E depois da leitura vinha a exposição, pois a Lei devia ser interpretada. A escrivaninha na Sinagoga era o atril de um professor, bem como o púlpito de um profeta. O rabi era ambos. Sugestivamente as primeiras igrejas foram modeladas conforme a Sinagoga.

Assim, não havia separação categórica entre o mundo hebraico e o helênico. Eles tinham muito em comum para tornar possível uma fusão, e isto foi ensaiado antes do advento do Cristianismo. Filo, o judeu, vivendo na Alexandria de fala grega, foi o primeiro a fazer a união tão rica semelhante em riqueza e em tensão ao modo de pensar dos séculos porvir. Filo harmonizou amplamente o Judaísmo e o Helenismo, alegorizando o Velho Testamento em um sentido platônico. Os cristãos foram, na verdade, melhores hebreus do que Filo, pois embora abertos à influência platônica, todavia os cristãos, por sua insistência na encarnação de Deus na carne do homem Jesus,

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resistiram persistentemente a tendência platônica de menosprezar a carne como uma inimiga do espírito.

A encarnação de Deus no homem Jesus envolve uma outra afinidade do Cristianismo com o Judaísmo e uma divergência da abordagem helênica da religião, porque o Judaísmo e o Cristianismo vêem a primeira auto-revelação de Deus ao homem nos eventos da história. O Eterno viola o tempo. Isto é o que supremamente acontece com a encarnação, em si mesma um evento no tempo, quando partiu um decreto de César Augusto de que todo o mundo deveria ser recenseado. O Verbo fez-se carne em um ponto no tempo. Portanto, o Cristianismo sempre deve ser orientado historicamente. Isto também significa que Deus, em Cristo, estava revelando-se a si mesmo ao homem. Isto é revelação. Ela desce de cima. Mas para o grego, embora o vidente possa experimentar visões e o devoto êxtase, todavia o conhecimento de Deus é antes o resultado de inferência do observável no mundo da natureza e do homem. Isto é essencialmente verdadeiro para a abordagem estóica e aristotélica e também amplamente no caso da platônica, onde, a partir das sombras que ele vê, o homem infere as realidades que ele não vê. Neste caso, revelação, se isto pode ser assim chamado, procede de baixo. Ela não é um depósito, mas o objeto de uma busca. Ela não é entregue em pronunciamentos, como Moisés entregou a Lei no Sinai, mas antes é esboçado no curso do diálogo no qual a mente do homem é combinada com a mente do homem. No processo, discernimentos prévios podem ser inteiramente rejeitados. Não há necessidade de ancoradouro no assado, e não há nada entregue de uma vez por todas.

O Cristianismo, enraizado na história, afirma a revelação dada de uma vez por todas. Mas ainda, esta revelação deve ser explicada. E, sobretudo, ela não foi dada no Sinai em um conjunto de mandamentos ou rascunhada na forma de um conjunto de proposições. Ela foi dada em uma vida, e até mesmo na primeira geração a importância desta vida foi avaliada diferentemente, apesar da surpreendente unanimidade dos documentos cristãos primitivos. A história do pensamento cristão é o registro da luta do homem com as implicações da autorevelação de Deus no homem Cristo Jesus. Além do mais, na maior parte, os cristãos tem estado prontos para considerar os discernimentos religiosos dos gregos como uma preparação para Cristo e valiosos para serem levados em conta no entendimento de Cristo.

INTRODUÇÃOPor causa da natureza do material com que ela lida, a história do pensamento

cristão, deve inevitavelmente ser um empreendimento teológico. A tarefa do historiador não consiste em mera repetição do que aconteceu – ou, neste caso, do que foi pensado. Ao contrário, o historiador deve começar selecionando o material a ser usado, e as regras que dirigem esta seleção dependem de uma decisão que é, em um grau considerável, subjetiva. Seja quem for que escreva uma história do pensamento cristão, não pode abranger todo o conteúdo dos 382 grossos volumes de fontes originais editadas por Migne – e mesmo estes não vão além do décimo segundo século – porém é obrigado a fazer uma seleção, não somente quanto a quais obras incluir, mas também quanto às fontes a serem estudadas em preparação para a tarefa.

Esta seleção depende, em grande parte, do autor, o que significa que toda história do pensamento cristão é, inevitavelmente, também um reflexo das pressuposições teológicas do escritor; e o historiador que sugere que sua obra esta livre de pressuposições teológicas, está claramente iludido.

Ao lidar com o desenvolvimento da doutrina, este autor está convencido que é necessário fazer isso começando com um conceito teológico, isto é, um conceito cristão sobre a natureza da verdade, e que este entendimento da verdade – aqui não estamos

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alando sobre a verdade em si, mas somente sobre sua natureza – deve ser encontrado na doutrina da Encarnação. De acordo com esta doutrina, a verdade cristã é tal que ela não é perdida ou deformada ao unir-se com o concreto, o limitado e o transitório. Pelo contrário, a verdade ou ao menos aquela verdade que é dada a nós – é dada precisamente ali onde o eterno une-se com o histórico; onde Deus torna-se carne; onde um homem específico, em uma situação específica, é capaz de dizer: “Eu sou a verdade”.

A fim de elucidar este conceito de verdade, vamos compará-lo com dois outros com os quais ele é incompatível, e que, portanto, resultam em outras interpretações sobre a pessoa de Jesus Cristo, as quais negam a doutrina da Encarnação.

Primeiro, poderíamos afirmar que a verdade existe somente dentro do domínio do eterno, do permanente e do universal, e portanto não pode ser dada no histórico, no transitório e no individual. Este conceito de verdade exerceu uma forte atração sobre a mente grega, e através dela, sobre toda a civilização ocidental. Mas um conceito como este, embora possa parecer atrativo, apenas tem levado à negação da Encarnação e à afirmação daquela doutrina conhecida como “Docetismo”, que, embora fazendo de Jesus Cristo um ser eterno, permanente e, até mesmo, universal, também o vê como completamente distinto daquele homem histórico e singular de que os evangelhos nos falam.

Segundo, poderíamos dizer que toda verdade é relativa, que não há tal coisa como verdade absoluta entre os seres humanos. Este conceito de verdade tem estado em moda nos últimos dois ou três séculos, resultado dos enormes desenvolvimentos nos estudos científicos e históricos que nos têm feito conscientes do relativismo de todo conhecimento humano. Mas este ponto de vista, embora ele possa parecer atrativo, é incompatível com a doutrina mais fundamental do Cristianismo, a saber, a afirmação de que no evento histórico de Jesus Cristo é encontrado o próprio significado de toda vida e história, e que isto é tão verdade hoje quanto no primeiro século da era cristã. Um conceito de verdade como este poderia estar relacionado àquela doutrina cristológica chamada “Ebionismo”, que, embora veja em Jesus Cristo um homem limitado, real e histórico, também o vê como completamente diferente daquele que os evangelhos nos apresentam como Senhor de toda vida e história não que os Ebionitas em si mesmos fossem relativistas, mas que nos tempos modernos este entendimento da verdade freqüentemente coincide com uma cristologia ebionita.

Encarado por estas duas posições, o Cristianismo afirma que a verdade é dada noconcreto, no histórico e no particular, contido e escondido dentro dele, mas de um modo tal que nunca perde sua veracidade para todos os momentos históricos. Na humanidade histórica de Jesus Cristo a Palavra Eterna de Deus chega a nós que não o vimos “segundo a carne” nem experimentamos a proximidade com que ele confrontou os primeiros discípulos. Somente na sua encarnação histórica conhecemos esta palavra, todavia sabemos que é a Palavra eterna, que foi e será para nós “um refúgio de geração em geração”, e que chega até nós a cada momento em que proclamamos o Senhor encarnado.

É este entendimento sobre a relação entre a verdade e a história que serve como um ponto de partida em nossa interpretação e avaliação do desenvolvimento doutrinário. A verdade da doutrina nunca será tal que possamos dizer: aqui está a verdade eterna eincomutável, livre de qualquer sombra ou conjuntura de relativismo histórico. A verdade da doutrina somente está presente para aquele grau em que, através de várias doutrinas, a Palavra de Deus (que é a Verdade) é capaz de confrontar a igreja com uma exigência por absoluta obediência. Quando isto acontece, esta doutrina, na verdade, torna-se o padrão de julgamento da vida e proclamação da igreja. Se isto não ocorre,

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então as doutrinas não são mais do que documentos que testemunham do passado da igreja. E quer isto aconteça ou não, não depende de nós, nem está intrínseca no caráter da doutrina em si mesma, porém depende antes de uma decisão do Alto.

Na organização e apresentação do assunto exposto, fui guiado pelas necessidades de um livro texto para estudos teológicos. Aqui, existem duas possibilidades para cada historiador: uma ordem cronológica ou uma ordem tópica e temática. Em um livro no qual o propósito primário é servir como uma introdução à história do pensamento cristão, uma discussão de temas não se mostra aconselhável, pois o leitor que não é versado na história do cristianismo, facilmente será confundido quando presenteado com uma unidade do material que, ainda que muitíssimo, uma parte do pensamento cristão vem de períodos distintivos da história. A apresentação cronológica tem o valor indiscutível de evitar este tipo de confusão, mas sofre o defeito de enfatizar insuficientemente a continuidade das diversas correntes teológicas. É por esta razão que eu sigo um esboço que, embora essencialmente cronológico, procura manter em mente a continuidade de certos temas teológicos de importância primária.

O BERÇO DO CRISTIANISMODe acordo com a tradição refletida no Evangelho de Lucas, o Cristianismo

nasceu em uma manjedoura, uma cena que freqüentemente gostamos de pintar em cores tranqüilas. Porém, esta cena da manjedoura não era de fato um exemplo da indiferença tranqüila do mundo ameaçador, mas, muito pelo contrário, era o resultado de um engajamento ativo. José e Maria foram levados à cidade de Davi por causa das condições econômicas em casa e de um decreto de longe quando César Augusto ordenou a “toda a população do império para recensear-se” (Lucas 2:1). O propósito do censo era a cobrança de impostos, e o mundo ao redor da manjedoura estava repleto de amargas queixas.

Em resumo, desde o começo, o Cristianismo existiu como a mensagem do Deus que “tanto amou ao mundo” que se tornou parte dele. O Cristianismo não é uma doutrina etérea, eterna, sobre a natureza de Deus, mas antes é a presença de Deus no mundo, na pessoa de Jesus Cristo. O Cristianismo é encarnação, e, portanto, existe no concreto e no histórico. O Cristianismo é inconcebível sem o mundo. Portanto, em um estudo tal como este, deveríamos começar descrevendo, ainda que sucintamente, o mundo onde a fé cristã nasceu e deu seus primeiros passos.

O Mundo JudaicoFoi na Palestina, entre os judeus, que o Cristianismo surgiu. Jesus viveu e

morreu entre os judeus e como um judeu. Seus ensinamentos foram concebidos dentro da cosmovisão judaica, e seus discípulos os receberam como judeus. Mais tarde, quando Paulo viajou por todos os lados pregando o evangelho aos gentios, ele normalmente começava sua tarefa entre os judeus da sinagoga. Deste modo, devemos começar nossa história do pensamento cristão com um exame da situação e pensamento dos judeus entre os quais o Cristianismo nasceu.A invejável localização geográfica da Palestina causou muito infortúnio ao povo que aconsiderava sua Terra Prometida. A Palestina, pela qual atravessavam as rotas de comércio do Egito para a Assíria e da Arábia para a Ásia Menor, sempre foi objeto da cobiça imperialista dos grandes estados que surgiram no Oriente Próximo. Por séculos o Egito e a Assíria lutaram por esta estreita faixa de terra. Quando a Babilônia substituiu a Assíria, ela também herdou a Palestina, eventualmente destruindo Jerusalém e levando para o exílio parte do povo. Depois da conquista persa da Babilônia, Ciro permitiu o retorno dos exilados e fez da Palestina uma parte de seu império. Derrotando os persas

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em Issus, Alexandre anexou seu império, incluindo a Palestina, que ficou sujeita ao domínio dos governadores macedônios. Quando Alexandre morreu em 323 a.C., seguiu-se um período de inquietação por mais de vinte anos.

No final deste período, os sucessores de Alexandre tinham consolidado seu poder, mas por mais de um século as duas principais famílias que nasceram dos generais de Alexandre, os Ptolomeus e os Seleucidas, lutaram pela posse da Palestina e seus arredores. No final, os Seleucidas obtiveram o domínio, mas quando Antioco Epifanes tentou força-los a adorar o deus sírio Baal-Shamin, identificando-o com Yahweh, os judeus se rebelaram sob a liderança dos macabeus ou asmoneanos, e como conseqüência eles obtiveram liberdade religiosa e, mais tarde, independência política. Esta independência, contudo, somente foi possível por causa da divisão interna da Síria, e ela desapareceu assim que o próximo grande poder apareceu: Roma. No ano 63 a.C., Pompeu tomou Jerusalém e profanou o Templo, entrando até mesmo no Santo dos Santos. Desde então, a Palestina ficou sujeita ao poder romano, e nestas condições a encontramos no advento de nosso Senhor.

Sob os romanos, os judeus foram particularmente intratáveis e difíceis de governar. Isto ocorreu por causa da exclusividade de sua religião, que não admitia “deuses estranhos” diante do Senhor dos Exércitos. Seguindo sua política de respeitar as características de cada povo conquistado, Roma respeitou a religião judaica. Como conseqüência, muitos partidos na Palestina – particularmente os fariseus – assumiram uma postura pacífica e não se rebelaram contra Roma. Em pouquíssimas ocasiões, os governadores romanos interferiram nas práticas religiosas judias, mas a desordem e a violência resultante os obrigou a retornar novamente à política anterior. Nenhum governador romano teve sucesso em se tornar popular entre os judeus, embora aqueles que entendiam e aceitavam o caráter religioso de seus súditos não encontrassem oposição forte. Desta forma, os procuradores mais astutos tomavam cuidado para não cunhar pequenas moedas – as únicas usadas pelo povo comum – com a imagem doimperador, ou exibir a vistosa e idólatra insígnia romana na Cidade Santa.

A TEOLOGIA DOS PAIS APOSTÓLICOSOs mais antigos escritos cristãos sobreviventes, à parte daqueles que agora

fazem parte do cânon do Novo Testamento, são os escritos dos assim chamados Pais Apostólicos. Eles receberam este título porque na ocasião pensava-se que eles tinham conhecido os apóstolos. Em alguns casos isto parece completamente possível, mas em outros foi um mero produto de imaginação. O nome “Pais Apostólicos” apareceu no décimo sétimo século, quando foi aplicado a cinco escritos ou conjuntos de escritos. Mas através dos anos três outros membros foram adicionados a este grupo,83 de modo que agora os Pais Apostólicos são oito: Clemente de Roma, a Didaque, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Papias de Hierápolis, a Epístola de Barnabé, o Pastor de Hermas, e a Epístola a Diogneto. Com uma única exceção, a Epístola a Diogneto, todos estes escritos são endereçados a outros cristãos.84 Portanto, eles são muito úteis para dar-nos uma idéia sobre a vida e o pensamento da jovem igreja. Lendo os Pais Apostólicos, pode-se vislumbrar os problemas produzidos pelas divisões internas, pela perseguição e pelos conflitos tanto com o Judaísmo como com o paganismo.A natureza literária destes escritos não é uniforme. Entre eles existem várias epístolas,um tipo de manual de disciplina, um tratado exegético e teológico, uma coleção de visões e profecias, e uma defesa do Cristianismo. Em si mesmo, esta variedade aumenta o valor dos Pais Apostólicos, pois mostra diferentes aspectos da vida da igreja primitiva.

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Clemente de RomaO primeiro dos escritos dos Pais Apostólicos, o qual pode ser datado com algum

grau de precisão, é a Primeira Epístola aos Coríntios85 de Clemente de Roma. Tudo que pode ser dito com certeza86 sobre Clemente é que ele foi bispo de Roma no final do primeiro século e que naquele tempo – provavelmente em 96 A.D. – ele escreveu aos Coríntios uma epístola que é sua única obra literária genuína remanescente. Embora não haja razão para duvidar que Clemente a escreveu, sua Epístola – geralmente chamada de I Clemente – na verdade é uma carta da igreja em Roma para a igreja em Corinto. É uma carta de igreja para igreja, e não de bispo do Roma para uma outra igreja.

A DidaqueA Didaque ou Doutrina dos Doze Apóstolos – a palavra grega Didaque significa

“doutrina”- é, sem dúvida alguma, uma das mais importantes descobertas literárias dostempos modernos. Esta obra esteve esquecida por séculos em antigas bibliotecas, até que foi descoberta em Istambul em 1875. Ao lado deste texto grego, existem fragmentos de traduções em Latim, Árabe, Cóptico, Georgoriano e Siríaco. Desde sua publicação dez anos após sua descoberta, este documento tem sido estudado por um grande número de eruditos, e sua origem, autor e data foram e ainda são debatidos. Certamente não há como datar sua composição, pois alguns eruditos crêem que ela foi escrita antes da destruição de Jerusalém em 70 A.D., enquanto que outros a colocam em uma data muito posterior.

Inácio de AntioquiaPor meio das sete epístolas de Inácio de Antioquia nos é dado um vislumbre da situação da igreja no começo do segundo século. Inesperadamente, em meio as sombras que cobriam o Cristianismo daquele tempo, estas sete epístolas aparecem como uma luz queilumina uma ou duas semanas da vida da igreja na Síria e na Ásia Menor. Era o início do segundo século, e Inácio, bispo de Antioquia, foi condenado a morrer na capital imperial, provavelmente a ser devorado por feras. Ele estava sendo levadopara esta capital como prisioneiro pelos soldados romanos, quando escreveu as sete epístolas que sobreviveram.

Policarpo de EsmirnaEntre os Pais Apostólicos também existe uma Epístola de São Policarpo aos

Filipenses, escrita em conexão com o martírio de Inácio. É provável que a Epístola atual originalmente não era uma mas duas cartas. Segundo esta hipótese, o Capítulo 13 e provavelmente o 14 são parte de uma primeira carta, na qual Policarpo respondia ao pedido dos filipenses para que ele lhes enviasse as cartas de Inácio que ele tinha, e também lhes pede notícias referentes a Inácio e seus companheiros. Os outros doze capítulos seriam então uma carta posterior de Policarpo, também endereçada à igreja em Filipos.

Papias de HierápolisPapias estava também entre os discípulos de João, e mais tarde tornou-se bispo

de Hierápolis. Ele tomou sobre si a tarefa de colecionar cada declaração ou ensino do Senhor que ele ouvisse. Assim, ele compilou e compôs sua Exposição das Declarações do Senhor, de cujos cinco livros somente uns poucos fragmentos sobreviveram – e mesmos estes são de importância limitada para a história do pensamento cristão.

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A Epístola de BarnabéEste é o título que foi dado a um antigo documento que algumas vezes foi

incluído entre os escritos canônicos do Novo Testamento, e que provavelmente foi escrito em Alexandria por volta de 135 A.D. Embora alguns antigos escritores cristãos reivindiquem que seu autor seja Barnabé, o companheiro de Paulo, mais seguramente ele não produziu esta obra.

Esta assim chamada Epístola de Barnabé é composta de duas partes claramentedistinguíveis. A primeira (capítulos 1-17) é doutrinária no caráter, enquanto que a segunda (capítulos 18-21) é mais prática.

O Pastor de HermasA obra mais extensa no corpo de literatura reunida sob o título de “Pais Apostólicos” éo Pastor de Hermas, que provavelmente viveu por volta do final do primeiro século e a primeira metade do segundo, 194 e cuja obra consiste numa coleção de materiais produzidos em diferentes estágios durante sua carreira como profeta na igreja romana. Sua principal preocupação parece ter sido a falta de zelo e dedicação de alguns crentes, e especialmente o problema proposto pelos pecados pós-batismal, isto é, pelos pecados cometidos após a conversão e batismo. Haviam muitos que tinham caído em apostasia por causa do medo da perseguição, e que mais tarde se arrependeram sinceramente de sua fraqueza. O próprio Hermas sentia-se culpado por ter olhado cobiçosamente para uma mulher por quem ele devia ter o maior respeito.

Outras Literaturas Cristãs do Mesmo PeríodoAo lado das obras que geralmente são incluídas entre os Pais Apostólicos, existemescritos cristãos do mesmo período que deveriam ser discutidos aqui. Muitos destes escritos reivindicam ser textos judaicos antigos nos quais a obra de Cristo foi prevista, e é por esta razão que geralmente eles são incluídos entre os pseudopigrafos do VelhoTestamento. Alguns destes livros pseudopigrafos cristãos são documentos judaicos que foram interpolados por cristãos, e que devem ser estudados a fim de se estabelecer a natureza exata das interpolações cristãs antes que se possa usá-los como uma fonte para o estudo da teologia cristã primitiva. Finalmente, existem algumas obras que reivindicam ser de origem apostólica, e deste modo são incluídas entre os livros apócrifos do Novo Testamento.

Visão GeralQuando se estuda os Pais Apostólicos, descobre-se a origem de certas escolas ou

tendências teológicas cujo desenvolvimento posterior tornará esclarecedor como esta história progride. Mas também encontra-se a unidade básica por trás desta diversidadeEntre as várias tendências, pode-se falar, em primeiro lugar, de uma compreendendo aÁsia Menor e a Síria. Mais adiante, o pensamento da Ásia Menor seria diferente do da Síria. Mas neste tempo estas duas regiões estavam unidas em contraste com Roma por um lado e com Alexandria por outro. Este Cristianismo da Ásia Menor é conhecido por nós pela literatura Joanina, as obras de Inácio, Policarpo e Papias, e diversas obras pseudopigrafas. Nestes escritos o Cristianismo não é principalmente um ensino moral mas uma união com o Salvador pela qual a imortalidade é alcançada. Assim, o que é fundamental não é simplesmente seguir um certo código de ética, mas antes estar intimamente unido com o Senhor Jesus Cristo. Por isso a importância da eucaristia para Inácio. Por isso seu apelo pela unidade da igreja, pois é na união dos cristãos entre si que eles encontram sua união com Cristo.

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AS HERESIAS PRIMITIVAS: DESAFIO E RESPOSTADesde muito cedo a igreja cristã teve de lutar contra várias interpretações de sua

fé, as quais para muitos parecia pôr em perigo um aspecto crucial desta fé. Vinham para o Cristianismo convertidos de várias religiões e formações culturais diferentes. Como era de se esperar, estas várias origens influenciavam sua interpretação do Cristianismo. Ao mesmo tempo, outros movimentos religiosos tomavam importantes elementos da fé cristã incorporando-os a seus sistemas. Isto era suficiente para chamá-los de cristãos? Onde deveria ser traçada a linha entre o verdadeiro Cristianismo, e o que de fato era uma religião diferente com elementos cristãos? Claramente, esta linha não poderia ser traçada, a priori, por aqueles que eventualmente eram considerados hereges, que não trabalhavam fora da comunidade cristã – ele consideravam-se cristãos fiéis, tentando explicar o evangelho em termos que seus contemporâneos pudessem entender. Igualmente, aqueles que eventualmente eram declarados ortodoxos não concordavam em todas as questões: um observador contemporâneo teria grande dificuldade de distingui-los dos outros. Assim surgiu uma diversidade de doutrinas, todas reivindicando ser o correto entendimento do Cristianismo, porém muitas delas pareciamcontradizer, ou ao menos deixar de lado, alguns dos dogmas fundamentais da fé cristãtradicional. A existência desta diversidade de doutrinas já pode ser vista no Novo Testamento, cujos autores constantemente tentam pôr um fim nelas. Gálatas, Colossenses, a assim chamada literatura Joanina e I de Pedro mostram a luta dos cristãos primitivos contra tais doutrinas. Já vimos como Inácio de Antioquia se opôs àqueles que negavam a encarnação real de Jesus Cristo. Poucos anos mais tarde, Justino novamente atacou os mestres do que ele entendia ser um falso Cristianismo. Além disso, quase todos os apologistas escreveram obras contra os hereges, embora estas não tenham sido preservadas. Durante o segundo século, e especialmente em seus últimos anos, estas doutrinas tornaram-se tão difundidas que provocaram, na igreja como um todo, uma reação que devia ser de enorme importância para a história do pensamento cristão. Portanto, antes do exame daqueles teólogos que a igreja mais tarde considerou serem os grandes defensores da ortodoxia, devemos dar um breve resumo das doutrinas às quais eles se opuseram.

Cristianismo JudaizanteO primeiro problema doutrinário que confrontou a igreja primitiva foi o de seu

relacionamento com o Judaísmo. A solução progressiva deste problema pode ser vista em Atos bem como nas Epístolas de Paulo. Existiam, contudo, algumas pessoas que nunca aceitaram a solução de Paulo, a qual – com algumas variações importantes – eventualmente tornou-se a da imensa maioria dos cristãos.

GnosticismoSob o título geral de “Gnosticismo” estão incluídas diversas doutrinas religiosas que prosperaram no segundo século, e cuja principal característica era seu sincretísmo. Os gnósticos tomavam qualquer doutrina que achavam valiosa, sem qualquer consideração a sua origem ou ao contexto do qual ela era tomada. Quando eles vieram a conhecer o Cristianismo primitivo e ver seu grande apelo, eles tentaram tomar aqueles aspectos do Cristianismo que pareciam mais valiosos para eles e os adaptaram a seus sistemas. Este procedimento propôs um desafio urgente para aqueles cristãos que não o aceitavam, por isso tornou-se necessário mostrar que o Gnosticismo deturpava a doutrina cristã, e mostrar as razões porque não se deveria converter Jesus Cristo em um mero elemento dentro de um sistema gnóstico. De acordo com o Gnosticismo, a salvação consiste na libertação do espírito, o qual está escravizado por causa de sua união com coisas

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materiais. Nos seres humanos o corpo e a “alma animal” pertencem ao mundo material, pois a alma é apenas aquilo que dá ao corpo sua vida, desejos e paixões.341 O espírito realmente não pertence a este mundo, mas é parte da substância divina. Por alguma razão que é normalmente explicada mitologicamente, ele caiu neste mundo e tornou-se um prisioneiro da matéria. Então é necessário libertar o espírito desta prisão; e isto é obtido através do conhecimento ou gnosis – por isso o nome de Gnosticismo.

MarciãoEntre as mais variadas interpretações de sua mensagem, que a igreja cristã

primitiva teve de enfrentar, nenhuma foi mais perigosa do que a proposta por Marcião, um natural de Sinope, no Ponto, onde seu pai era bispo. Depois de deixar a cidade, ele viajou para Ásia Menor e depois para Roma, onde ele foi expulso da igreja, provavelmente em 144 A.D. Então ele fundou uma igreja marcionita, e foi este passo que fez dele um dos mais perigosos rivais do Cristianismo ortodoxo. Os vários mestres gnósticos eram apenas isto: mestres que nunca fundaram mais do que escolas. Marcião fundou uma igreja para rivalizar aquela que já existia, e esta igreja logo teve tantos membros que por algumas vezes o resultado final do conflito esteve seriamente em dúvida. Embora após o terceiro século o Marcionismo tenha começado seu declínio e logo desapareceu da parte ocidental do Império, antes deste tempo ele representou um desafio muito real.

MontanismoMontano foi em sacerdote pagão que converteu-se ao Cristianismo e foi batizado

por volta de 155 A.D. Algum tempo depois de seu batismo, ele declarou-se possuído pelo Espírito Santo, e começou a profetizar com base nesta possessão.375 Logo uniram-se a ele duas mulheres, Priscila e Maximila, que também profetizavam. Isto não era exclusivo, pois o costume de permitir, àqueles que eram inspirados, profetizar ainda continuava em muitas regiões. O que era novo era o conteúdo das profecias de Montano e suas companheiras, que reivindicavam que uma nova dispensação tinha começado com a nova revelação dada pelo Espírito a eles. Esta nova revelação não contradizia o que tinha sido dado no Novo Testamento, mas o ultrapassa no rigor de sua ética e em alguns detalhes escatológicos.

MonarquianismoEnquanto muitos se voltando para o Gnosticismo, a fim de encontrar o que eles

pensavam ser um entendimento mais claro do Cristianismo, outros tentavam esclarecer as relações entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. As menções mais antigas sobre os assim chamados monarquianos, mostram que originalmente este termo era usado em defesa da “monarquia” ou unidade de Deus, em oposição a multiplicidade de eões proposta pelos gnósticos e a dualidade de deuses de Marcião. Alguns dos mais antigos monarquianos – que eram chamados “alogoi” em virtude de sua oposição a doutrina do logos – rejeitavam o Quarto Evangelho, o qual eles declaravam ter sido escrito por Cerinto, e cuja doutrina do logos parecia servir como base para as várias especulações gnósticas referentes a multiplicidade dentro da divindade. De acordo com a alogoi, a divindade de Cristo não pode ser de modo algum distinguida da do Pai, pois tal distinção destruiria a monarquia divina.

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A RespostaEmbora a organização da igreja durante o segundo século não fosse tal que apermitisse tomar decisões rápidas e finais, a igreja em geral reagiu às heresias de um modo surpreendentemente uniforme. Realmente haviam diferenças de escolas – e nos próximos três capítulos estudaremos representantes de três diferentes tendências teológicas – mas, apesar destas diferenças, os cristãos ortodoxos por todo o mundo Mediterrâneo apelaram para instrumentos similares a fim de combater a heresia. Na verdade, estes vários instrumentos eram simplesmente variações práticas e particulares do argumento fundamental que poderia ser apresentado contra as várias heresias: a autoridade apostólica. Esta autoridade é o argumento final que jaz por trás dos instrumentos anti-heréticos, tais como o cânon do Novo Testamento, a regra de fé, os credos, e a ênfase sobre a sucessão apostólica. O cânon do Novo Testamento era considerado ser não mais do que a coleção de livros apostólicos, ou pelo menos daqueles cuja doutrina podia reivindicar ser apostólica, porque foram escritos peloscompanheiros ou discípulos dos apóstolos. A regra de fé é uma tentativa de esboçar e resumir a fé dos apóstolos. Os credos são a expressão daquela fé que o crente aceita no batismo – e é importante notar aquela lenda eventualmente desenvolvida segundo a qual um dos credos mais comuns tinha sido composto pelos apóstolos. A importância da sucessão apostólica está precisamente na reivindicação de que as igrejas que possuem tal sucessão podem julgar o que é e o que não é doutrina apostólica. Finalmente, aqueles teólogos que estudaremos nos próximos três capítulos, de quem grande parte de sua obra foi dedicada à refutação da heresia, criam que sua tarefa consistia em esclarecer e confirmar a fé dos apóstolos, e que seus vários argumentos e métodos eram subsídios para esta tarefa.

Enquanto o Novo Testamento estava sendo formado, a igreja Romana estavadesenvolvendo uma fórmula que mais tarde se tornaria o núcleo de nosso Credo Apostólico atual, e que geralmente conhecido como o “Símbolo Romano Antigo” – abreviado por “R”. Parece que R apareceu primeiro, não como uma fórmula afirmativa, mas como uma série de questões que eram feitas ao catecúmeno no batismo.391 Estas questões eram três, seguindo a mais antiga fórmula tripartida do batismo, e inicialmente se limitavam a perguntar se o candidato ao batismo cria no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Logo a igreja Romana viu a crescente necessidade de usar estas questões como um modo de garantir a ortodoxia do recém batizado. Como o ponto em debate tinha a ver principalmente com a cristologia, diversas cláusulas foram adicionadas à segunda questão. Deste modo desenvolveu-se uma fórmula batismal que deve ter sido muito parecida àquela que é citada por Hipólito em sua Apostolic Tradition (no início do terceiro século):

Você crê em Deus Pai todo-poderoso? Você crê em Cristo Jesus, o Filho de Deus, Que foi gerado pelo Espírito Santo da Virgem Maria, Que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e morreu, e ressuscitou ao terceiro dia dos mortos, e subiu aos céus, e sentou-se à mão direita do Pai, e virá para julgar os vivos e os mortos? Você crê no Espírito Santo, na santa igreja, e na ressurreição da carne?

Esta fórmula batismal mais tarde foi adaptada a fim de servir como uma declaração de fé e como base e clímax do catecismo. Assim foi estabelecida a prática da traditio et redditio symboli, na qual o bispo ensinava o símbolo ou o credo ao catecúmeno, que então o repetia como uma declaração de fé.

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IRINEUDurante o segundo século, muitos cristãos incumbiram-se de refutar as várias

doutrinas nas quais eles viam uma ameaça a sua fé. Como já dissemos, Justino escreveuContra todas as Heresias e Contra Marcião, e Teófilo de Antioquia escreveu Contra Marcião e Contra Hermógenes. Todas estas obras, bem como muitas outras que o historiador Eusébio menciona, se perderam. Por isso o autor antiherético mais antigo, cujas obras sobreviveram, é Irineu de Lion.

Sabe-se muito pouco sobre a vida de Irineu. Parece que ele nasceu na Ásia Menor – provavelmente em Esmirna – em aproximadamente 135 A.D. Ali ele conheceu Policarpo de Esmirna, embora fosse um moço quando o idoso bispo terminou sua vida em martírio. Mais tarde – provavelmente por volta de 170 A.D. – ele foi para a Gália e estabeleceu-se em Lion, onde havia uma comunidade cristã da qual alguns membros também eram imigrantes da Ásia Menor. Em 177 A.D., quando ele era um presbítero naquela comunidade, ele foi encarregado de levar uma carta ao bispo de Roma. Depois de retornar de sua missão, ele descobriu que o bispo de Lion, Pothinus, tinha sofrido martírio, e que ele devia ser seu sucessor no episcopado. Como bispo de Lion, Irineu guiou a igreja naquela cidade, evangelizou os celtas que viviam na região, defendeu seu rebanho contas as heresias, e buscou a paz e a unidade na igreja. Esta última preocupação o levou a intervir na controvérsia Pascal quando Vítor, o bispo de Roma, estava a ponto de quebrar a comunhão com as igrejas da Ásia Menor duranteuma discórdia com relação a data de celebração da Páscoa.407 Contudo, o que deu a Irineu sua grande importância para a história do pensamento cristão foi sua luta contra a heresia, e sua preocupação em fortalecer a fé dos cristãos, pois estas eram as razões que o levaram a escrever suas duas obras sobreviventes. Quanto a sua morte, é dito que ele morreu como um mártir, embora nenhum detalhe seja dado. Provavelmente ele morreu em 202 A.D., quando muitos cristãos foram mortos em Lion.

TERTULIANOÉ interessante notar que as origens da literatura latina cristã não são encontradas

em Roma mas no Norte da África. Embora a Primeira Epístola aos Coríntios de Clemente, a qual procede de Roma, seja um dos escritos cristãos mais antigos, este documento foi escrito em grego. Durante muitos séculos a África, e não Roma, foi o centro do pensamento cristão latino. Foi ali que o vocabulário teológico da igreja ocidental recebeu sua forma básica. E ali prosperaram os mais importantes escritores cristãos latinos dos primeiros séculos – tais como Tertuliano, Cipriano, Agostinho e outros. Alguns têm identificado Tertuliano com um advogado do mesmo nome que aparece no Corpus Iuris Civilis, contudo não é possível tomar uma decisão final com relação a esta identificação. De qualquer modo, Tertuliano viveu em Roma por vários anos, e depois de sua conversão, a qual ocorreu quando ele estava com cerca de quarenta anos, ele retornou a Cartago, onde tinha nascido por volta de 150 A.D. Ali ele empreendeu uma extensa produção literária em favor de sua nova fé, a qual ele defendeu contra aqueles que a perseguiam, bem como contra aqueles que pareciam pervertê-la. Contudo, no início do terceiro século – provavelmente em 207 A.D. – ele abandonou a comunhão com a igreja africana a fim de tornar-se um montanista. As razões pelas quais ele tomou esta decisão não são muito claras, mas parece que para ele o Montanismo personificava o espírito de protesto contra o crescente poder da hierarquia, e contra sua suposta frouxidão em lidar com os pecadores arrependidos. Era este aspecto do Montanismo que interessava a Tertuliano, que já tinha mostrado um excessivo rigor moral.

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A CONTROVÉRSIA ARIANA E O CONCÍLIO DE NICEIAO quarto século viu o começo de uma nova época na história da igreja, e,

portanto, na história do pensamento cristão. Constantino transformou a Igreja perseguida na Igreja tolerada, e mais tarde – especialmente depois da fundação de Constantinopla – em uma Igreja protegida. Um dos resultados imediatos destas novas circunstâncias foi que o quarto século foi a época dos grandes “Pais” da igreja, pois a energia que anteriormente foi dedicada ao treinamento para o martírio e à refutação de acusações pagãs, poderia ser agora canalizada para outras atividades. Esta é uma das razões porque o quarto século é rico em figuras muito grandes: Atanásio, os Capadocianos, Jerônimo, Ambrósio, e Agostinho, e o primeiro historiador do Cristianismo, Eusébio de Cesaréia. Outros cristãos, agora que o martírio pelasmãos do Estado não era mais possível, entregaram-se ao martírio substituto do monasticismo, e assim o quarto século viu milhares de bandos eremitas indo para o deserto egípcio. A arte cristã, até aquele tempo limitada a funerais e outras expressões menores, agora tornara-se uma arte triunfal, progressivamente centralizada em Cristo como Senhor do céu e da terra. A liturgia, que permanecera relativamente simples, começava agora a adotar os usos da corte imperial, pois foi estabelecido um paralelismo entre Cristo e o Imperador. E a arquitetura agora encarregava-se da construção de igrejas capazes e dignas dos novos desenvolvimentos litúrgicos. Estas novas condições tiveram suas conseqüências negativas também. Em primeiro lugar, logo começou uma conversão em massa que inevitavelmente depreciou a profunda convicção e a vida moral da igreja. Em segundo lugar, a proteção imperial tornou mais fácil aos poderosos unirem-se a igreja e procurarem manter e exercer seu poder dentro da comunidade da fé. Finalmente, a mesma proteção, que deu aos cristãos a possibilidade de desenvolverem sua teologia a um ponto que anteriormente era impossível, também implicou na possibilidade de condenação ou privilégio imperial a uma ou a outra posição teológica, e isto por sua vez deu às controvérsias teológicas uma dimensão política que elas não tinham anteriormente. É isto que aconteceu com a controvérsia ariana.

Ario era um presbítero popular na Igreja de Alexandria que entrou em conflito com seu bispo, Alexandre, sobre a maneira pela qual a divindade de Jesus deveria ser interpretada.

Alexandre era um “origenista de direita” que sentia que a divindade do Verbo encarnado em Jesus deveria ser preservado a todo custo. Ario, por sua vez, interpretava de modo completamente divergente.Por um lado, é dito que Ario pertencia à linha de sucessão daqueles origenistas quecolaboraram na obtenção da condenação de Paulo de Samosata. De acordo com estainterpretação, o ponto de partida do Arianismo é um monoteísmo absoluto, de modo que o Filho não pode ser uma emanação do Pai, ou uma parte de sua substância, ou um outro ser semelhante ao Pai, pois qualquer dessas possibilidades ou negaria a unidade ou a natureza imaterial de Deus. O Filho não pode existir sem um começo, pois então Ele seria um “irmão” do Pai, e não um Filho. Por isso, o Filho tem um começo, e foi criado ou feito pelo Pai do nada. Antes desta criação, o Filho não existia, e é portanto incorreto afirmar que Deus é eternamente Pai. Isto não significa, contudo, que não existiu sempre um Verbo em Deus, uma razão imanente; mas este Verbo ou razão de Deus, é diferente do Filho, que foi criado mais tarde. Portanto, quando alguém diz que o Filho é a Sabedoria ou o Verbo de Deus, isto está correto apenas com base na distinção entre o Verbo que sempre existiu, como a razão de Deus, e aquele outro Verbo que é “o primogênito de toda a criatura”. Embora todas as coisas foram criadas por ele, ele próprio foi feito pelo Pai, e é, portanto, uma criatura, e não Deus no sentido estrito da palavra.

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Uma outra interpretação vê Ario e seus seguidores como defendendo um conceito de salvação que eles viram ameaçado por Alexandre e seus auxiliadores. De acordo com esta interpretação, Ario e seus “companheiros lucianistas” estavam preocupados que Jesus fosse verdadeiramente humano, e de sua divindade fosse expressa, não em termos de substância, mas antes em termos de vontade – isto é, em termos suscetíveis de imitação e repetição pelos crentes. Desta perspectiva, a principal preocupação de Ario era que o Salvador fosse tal que pudesse ser imitado. Para Ario, era importante que o Filho o fosse por adoção, de modo que pudéssemos segui-lo e sermos igualmente adotados. Assim, “o modelo central Ariano foi o de uma criatura perfeita, cuja natureza permanecesse sempre humana e cuja posição estivesse sempre subordinada e dependente da vontade do Pai”.711 Embora seja muito difícil aplicaresta interpretação ao Arianismo posterior, parece que na essência do Arianismo primitivo está a mesma preocupação de salvaguardar a humanidade do Salvador que foi anteriormente manifestada por Paulo de Samosata. Isto também explicaria porque desde os tempos mais antigos períodos o Arianismo foi interpretado como a continuação dos ensinos e preocupações de Paulo de Samosata. Além disso, se interpretarmos o Arianismo primitivo como uma especulação sobre a Divindade, mas antes como sendo proveniente de um entendimento particular da obra de Cristo, podemos começar a entender o encanto que o Arianismo tinha sobre as massas em Alexandria – um encanto que é normalmente explicado meramente com base na popularidade pessoal de Ario.

As notícias a respeito destes eventos alcançaram Constantino, que esperava que o Cristianismo fosse “o cimento do Império”, e que já se encontrava na necessidade de intervir no cisma donatista no norte da África. Esta nova ameaça de cisma, no qual estavam envolvidos problemas teológicos, os quais ele não entendia, foi muito desanimadora. Por isso ele decidiu mandar para o Oriente seu conselheiro em questões religiosas, o bispo Ósio de Córdoba, que foi armado com uma carta na qual o imperador pedia aos partidos hostis para resolverem sua disputa pacificamente. Quando Ósio lhe informou que as razões para a dissensão eram profundas, e que não era possível resolvê-las por meros esforços de reconciliação, Constantino decidiu convocar um concílio de bispos que lidaria não apenas na questão ariana, mas com muitos problemas que precisavam de uma solução comum.

O Concílio reuniu-se na cidade de Nicéia, na Bitínia, em 325 A.D., e estiverampresentes mais de trezentos bispos. Para eles, a perseguição era ainda uma lembrança viva, e por isso muitos sentiam que esta assembléia, reunida sob o manto imperial, era um verdadeiro milagre. Somente uns poucos bispos que compareceram ao Concílio tinham opiniões firmes acerca do principal problema a ser discutido. Por um lado, o pequeno grupo dos “companheiros lucianistas”, encabeçado por Eusébio da Nicomédia – como Ario não era um bispo, ele não era um membro do Concílio – parece ter pensado, a princípio, que seriam capazes de facilmente ganhar o apoio da maioria. Por outro lado, uma outra minoria, encabeçada por Alexandre de Alexandria, e na qual certamente haviam alguns bispos de tendências Monarquianistas, estava empenhada em conseguir a condenação do Arianismo.

Mas a ampla maioria parece não ter entendido a importância do assunto em mãos, e seu medo do Sabelianismo os fez relutantes em condenar o subordinacionismo em termos muito fortes. Além disso, o imperador, cujo interesse estava mais na unidade do império do que na unidade de Deus, estava inclinado a encontrar uma fórmula que fosse aceitável ao maior número de bispos possível.O curso exato das deliberações não é claro. Aparentemente, Eusébio da Nicomédia fezuma declaração esclarecendo seus ensinos e os de seus “companheiros lucianistas” –

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incluindo Ario. Parecia que ele argumentava pela subordinação do Filho. O que está claro é que muitos dos presentes ficaram escandalizados, e a partir deste momento a causa ariana estava perdida. Durante algum tempo foi feita uma tentativa de elaborar um documento que, fazendo uso de termos bíblicos, claramente declararia que o Filho não é uma criatura. Mas o partido ariano tinha sua própria interpretação sobre todos os textos que poderiam ser opostos a eles. Foi então que o imperador interveio e sugeriu que a palavra “consubstancial” (homoousios) fosse incluída em um credo, a fim de tornar clara a divindade do Filho. Com esta indicação, que possivelmente foi sugerida ao imperador por Ósio de Córdoba, um partido que era oponente convicto do Arianismo foi comissionado a escrever uma declaração de fé. O resultado foi o seguinte credo, que o Concílio adotou:

“Cremos em um Deus, o Pai Todo-Poderoso, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em um Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado como o Unigênito do Pai, isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não-feito, de uma substancia com o Pai, mediante o qual todas ascoisas vieram a existir, tanto as que estão no céu como as que estão na terra, Que pornossa causa, humanos, e por causa da nossa salvação, desceu e encarnou-se, tornando-se humano, sofreu e ressuscitou no terceiro dia, ascendeu aos céus, e virá julgar osvivos e os mortos.E no Espírito Santo”.

Mas quanto àqueles que dizem, que Existia quando Ele não era, e que antes de ser nascido Ele não era, e que Ele veio a existir do nada, ou quem declara que o Filho deDeus é de uma hypostasis ou substância diferente, ou é criado, ou está sujeito aalteração ou mudança – estes a Igreja Católica excomunga.A interpretação tradicional sobre a origem deste credo é que ele era uma revisão deuma outra fórmula que Eusébio da Cesaréia lera muito antes da assembléia. Existem, contudo, muitas objeções sérias a este entendimento de eventos, e parece mais provável que o que realmente aconteceu foi que um credo previamente existente da região da Síria e Palestina foi alterado a fim de incluir frases tipicamente anti-Arianas.722

De qualquer forma, o significado deste credo adotado por Nicéia é encontrado nascláusulas “ isto é, da substância do Pai,” e “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, nãofeito, de uma substância com o Pai (homoousios)”. Deveria ser notado também que a frase “para nossa salvação” exerce um papel fundamental no próprio credo. A seção anterior à frase enfatizava a divindade eterna do Filho. A seção que se segue fala de Sua encarnação, sofrimento e exaltação. Assim, a fórmula de Nicéia tenta tornar claro, que para o Filho ser verdadeiramente nosso Salvador, não é necessário fazê-Lo uma criatura subordinada.

Finalmente, os anátemas adicionados no fim não deixam espaço para uma interpretação ariana. A partir destes textos, está claro que a intenção do credo era não deixar espaço para o Arianismo, que daqui por diante deveria ser considerado herege.

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A CONTROVÉRSIA ARIANA APÓS NICÉIAEmbora o Concílio de Nicéia tenha condenado o Arianismo, esta condenação

não encerrou a controvérsia, que continuou por mais de cinqüenta anos além deste. Isto foi devido, por um lado, às dúvidas sinceras que alguns bispos tinham com relação a fórmula nicena e, por outro lado, devido às variações da política imperial que, desde a conversão de Constantino, tornou-se um fator importante em toda controvérsia teológica. Era de se esperar a insatisfação dos bispos com a decisão nicena. Enquanto o Concílio esteve em sessão, e o problema principal era o Arianismo como ele era exposto por Eusébio da Nicomédia, os bispos ali reunidos sentiram-se inclinados a aceitar uma fórmula que condenava o Arianismo sem dizer uma só palavra a respeito do Sabelianismo. Mas ao retornarem para suas Igrejas, onde o Arianismo ainda não era uma ameaça real, e onde eles enfrentavam constantemente a doutrina sabeliana, os bispos começaram a duvidar da sabedoria de sua decisão no Concílio.

A política eclesiástica de Constantino consistia em tornar a Igreja no “cimento do Império”. Por isso, e também porque ele não podia ver a importância das sutilezas que os teólogos debatiam, ele facilmente perdia sua paciência e reagia contra aqueles que mostravam uma atitude firme com relação as suas próprias posições teológicas. Esta foi a razão porque, após o Concílio de Nicéia, ele exilou Ario e todos aqueles que se recusaram a assinar o Credo Niceno. Pela mesma razão, Eusébio da Nicomédia foi mandado para o exílio alguns meses depois. Ao desembaraçar-se destes elementos extremos, Constantino esperava solidificar a paz que ele cria ter sido estabelecida no Concílio de Nicéia.

Esta Apostila é uma síntese muito sucinta do livro UMA HISTÓRIA DO PENSAMENTO CRISTÃO Dos Primórdios ao Concílio de CalcedôniaJusto L. González Volume I – Edição Revisada

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