Histria pessoal

Traduzi as folhas sobre a personalizao da prpria histria. So como trs momentos de trabalho que pretendem apenas ajudar-te a viver mais perto de ti mesmo a tua histria. Num primeiro momento tenta-se VER: dar uma vista de olhos ao acontecido, aceitando que no nos pertence escolher o que acontece mas sim escolher o que fazer ou como responder perante ao que nos acontece; a primeira parte tentar ajudar-te neste ver. Num segundo momento trata-se de encontrar luzes: iluminar o que temos visto; pode ajudar-te essa reflexo sobre as crises existenciais, mas tambm, e isto seria o mais importante, a tua orao, as tuas leituras, as coisas que j aprendeste e superaste, qu chaves te ajudaram, o que tenhas conversado com outros Padres, amigos... E num terceiro momento trata-se de delinear o caminho a seguir, de estabelecer o compromisso para o futuro, encontrando tu mesmo o sentido que pode verdadeiramente reconciliar-te contigo mesmo, fazer que vivas mais livre respeito de ti mesmo y por isso mesmo com mais amor para com os outros.

Cada pessoa tem um processo; os processos no so programas. No ajuda julgar-se. Trata-se de perceber existencialmente, tentando descobrir os chamados profundos da Graa de Deus que nos liberta na medida em que nos abrimos ao amor de Deus e nos aceitamos como somos, como Deus mesmo nos aceita. Essa gratuidade de Deus. Tal vez encontre apenas alguma coisa, algum matiz, que possa iluminar a sua situao. Tambm no podemos nem pretendemos solucionar nada. O que tem a ver com a vida no se soluciona, aceita-se, assume-se e situa sempre caminho.

Histria pessoal

1. Olha para atrs, percorre a tua histria desde criana. Qu experincias achas mais significativas, sejam positivas ou negativas?

2. Tem algum captulo na tua vida que preferirias que no tivesse existido? Porqu? Tal vez foi uma ofensa a Deus e embora te sintas perdoado te d pena por Ele? Tal vez seja porque rompeu a tua imagem? Nunca o conseguiste aceitar? Se o tens enquistado, como algo perturbador, est a revelar coisas muito importantes de ti mesmo... O que agora percebes como ferida, ao que no podes dar sentido, mais tarde o percebers como graa, tal vez a mais importante da tua vida.

3. em toda vida humana existe alguma experincia configuradora. Tudo mudou desde ento. Quando o vivias, notavas, inconscientemente que estavas a pr em jogo o melhor e o pior de ti mesmo. Qual a experincia configuradora mais importante da tua vida?

4. Quase sempre estas experincias tem muito a ver com os sonhos ntimos, aqueles que as pessoas alimentam, a pesar de tudo. Tem sido como as constantes da prpria histria. Agora, estas experincias te servem de refgio ante a dureza da vida? Foram adaptando-se segundo a idade? Alguma frustrao dos teus sonhos te marcou? Como a elaboraste?

5. Essas experincias e sonhos tm algo de incondicional e de absoluto? Por exemplo, o amor, os valores ticos, a relao com Deus... Tm algo a ver com o teu modo actual de afrontar a vida?

6. Desgraadamente, tem pessoas que, quando encontram experincias significativas, preferem guardar a roupa. Olham com curiosidade, vivem um pouco, mas no se comprometem...

7. Este processo de personalizao da prpria histria pode ser uma dessas experincias... vives disposto a que assim seja?

Crises existenciais

1. O tempo humano no s cronologia, sucesso, histria vivida. Por isso cada tempo tem a sua prpria densidade. Falamos de mudana do ritmo existencial. Embora haja pessoas que no tm histria, mas s acontecimentos, porque no vivem o seu tempo.

2. As crises existenciais marcam o modo diferente de viver os grandes ciclos vitais. Deveriam ser crises de crescimento. S que s vezes so mal resolvidas, e ento as pessoas expem-se a bloquear a sua histria.

3. A crise de autoimagem corresponde primeira etapa do adulto, quando se sai da adolescncia e se comeam a tomar as decises que orientam definitivamente o sentido da vida e, normalmente o projecto de vida.

( Crise de identidade, porque at agora o eu se percebia desde um ideal de si. Agora se percebe o desfase entre o ideal do eu e o eu real.

( sensao confusa de insatisfao consigo prprio. Primeiras experincias globais de limitao, at agora latentes, comeam a emergir (autorealizao, primado do processo pessoal sobre os ideais...)

( Mas ainda o projecto de futura est cheio de esperana.

4. A crise de realismo, em geral, vai dos trinta anos para diante, e costuma ser progressiva.

( A realidade no respondeu s expectativas, nem aos sonhos juvenis de vida espiritual, de virtude, de transformao do mundo.

( necessrio inclinar-se perante limitao. Perigo de cepticismo. Vale a pena tanta entrega? No seria melhor construir-se um espao vital cmodo?

( Emerge a necessidade de significao pessoal para algum concreto. Possvel crise afectiva dos clibes.

5. A crise de reduo. Prolonga e radicaliza a do realismo

( advm pelo declive da idade; sensao do tempo como limite mais do que como possibilidade. Algumas circunstncias influentes: doena, fracasso profissional...

( tentao de fugir da caducidade (viagens, concentrao na eficcia laboral, envolvimentos afectivos...) e desafio em ordem a uma nova sabedoria de vida na qual fica o essencial (Deus e o amor desinteressado ao prximo)

6. Os ciclos vitais misturam-se, mas pergunta-te: podes soldar a tua histria, dar a cada tempo o seu sentido, integrar cada crise, percebendo-a como possibilidade real de crescimento, de modo que j no renegues nada de ti mesmo? Em que crise te situas? Como a ests a elaborar? (Haver se calhar aspectos de vrias etapas crticas, pois o desenvolvimento pessoal no o mesmo para todos)

Sentido da minha histria

1. O nosso racionalismo tenta sempre encontrar explicaes causais. O importante porm no determinar porque tiveste os pais que tiveste, porque aconteceu o que aconteceu, porque foste um idealista... o importante dar sentido ao conjunto da prpria histria. Isso depender do horizonte de sentido no qual tenhas vivido. Por exemplo se para ti o importante foi a ordem religiosa-moral, com certeza que te ser difcil viver reconciliado com os teus pecados ou debilidades morais. Se precisas saber tudo, quando muitas vezes as coisas no tm explicao racional verificvel, com certeza que te sentirs perdido, especialmente perante o futuro que aguarda.

2. Nada na vida est perdido, nem sequer o passado, pois sempre pode ser revivido doutro modo:

( O problema no est no que aconteceu, mas em ti: porque tentas constantemente negar o que aconteceu, porque no o fazes teu.

( Podes perguntar: como fazer meu algo que mau? Mas no se trata de o justificar, seno de o assumir.

( No conjunto da tua vida tambm isso tem sentido. Podes descobrir seu lado positivo. Onde h desvantagem h vantagem. Por exemplo se tiveste uma rija educao, de represses, de excessivas exigncias, com certeza que isso te deu uma maior sensibilidade para o Absoluto...

( A realidade, positiva ou negativa, tem sentido, simplesmente, porque ela a tua histria. Depende da atitude bsica de aceitao da finitude.

( E o mais importante, para ti, crente, tudo graa; apenas deves dar conta que Deus te ama como es, que Ele quem d sentido ao sem-sentido, at ao pecado. Como etapa ou momento da histria da salvao. (Este ponto pode ser aprofundado com outro material)

3. Tenta descobrir qu constante d sentido tua histria. Alguma coisa, em particular, est a te impedir perceber a relao de sentido entre o teu passado e o teu presente?

4. Comeas a intuir alguma experincia configuradora que te permita re-elaborar o sentido da tua histria, por exemplo, a experincia do amor gratuito de Deus, a vida como autenticidade,...? comeas a dar conta que o teu futuro no pode ser questo de desejos mas de fidelidade prpria histria, de processo de personalizao?