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Modapalavra e-perodico Usabilidade: VestuÆrio infantil Usability: infantile clothing Eliana Gonalves 1 JosØ Alfredo Beirªo Filho 2 Resumo: O segmento de roupa infantil no Brasil tem apresentado um crescimento acelerado, hoje as empresas pressionadas por estes consumidores e por reconhecerem a necessidade de ter um produto inovador que surpreenda o seu pœblico alvo, buscam agregar informa- ıes ao vestuÆrio infantil. O presente artigo aborda a questªo da evoluªo do vestuÆrio infantil e a preocupaªo com as questıes associadas usabilidade deste produto. Consi- derando que a usabilidade Ø entendida como a avaliaªo da flexibilidade e de maior inte- raªo produto usuÆrio, tendo em visa as necessidades do utilizador. Palavras chaves: usabilidade, vestuÆrio infantil, consumidor infantil Abstract: The segment of infantile clothing in Brazil has presented a sped up growth, today the companies pressured for these consumers and recognizing the necessity to have an inno- vative product that surprises its target public, searching to add information to infantile clothing. The present article approaches the question of the evolution of infantile clothing and the concern with the questions associates to the usability of this product. Considering that the usability is understood as the evaluation of flexibility and bigger interaction using product, having in it views at the necessities of the user. Keywords: usability, infantile clothing, infantile consumer 1. Introduªo A crescente taxa de natalidade no Brasil representa um mercado em expansªo para o segmento de roupa infantil. Por outro lado se observa que o acesso s informaıes estÆ cada vez mais fÆcil, permitindo que a criana exera a liberdade de fazer suas prprias escolhas, mas, ainda sªo os pais que influenciam suas decisıes de compra, embora o consumidor infantil esteja mais exigente. No passado, nªo existia conceito de moda no vestuÆrio infantil e as coleıes se repetiam quase que invariavelmente. Hoje as empresas pressionadas por estes consumidores e por 1 Especialista em Moda 2 Mestre em Engenharia de Produªo Ano 1, n.1, jan-jun 2008. pp. 107 - 118 107

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    Usabilidade: Vesturio infantil

    Usability: infantile clothing

    Eliana Gonalves1

    Jos Alfredo Beiro Filho 2

    Resumo:

    O segmento de roupa infantil no Brasil tem apresentado um crescimento acelerado, hojeas empresas pressionadas por estes consumidores e por reconhecerem a necessidadede ter um produto inovador que surpreenda o seu pblico alvo, buscam agregar informa-es ao vesturio infantil. O presente artigo aborda a questo da evoluo do vesturioinfantil e a preocupao com as questes associadas usabilidade deste produto. Consi-derando que a usabilidade entendida como a avaliao da flexibilidade e de maior inte-rao produto usurio, tendo em visa as necessidades do utilizador.

    Palavras chaves: usabilidade, vesturio infantil, consumidor infantil

    Abstract:

    The segment of infantile clothing in Brazil has presented a sped up growth, today thecompanies pressured for these consumers and recognizing the necessity to have an inno-vative product that surprises its target public, searching to add information to infantileclothing. The present article approaches the question of the evolution of infantile clothingand the concern with the questions associates to the usability of this product. Consideringthat the usability is understood as the evaluation of flexibility and bigger interaction usingproduct, having in it views at the necessities of the user.

    Keywords: usability, infantile clothing, infantile consumer

    1. Introduo

    A crescente taxa de natalidade no Brasil representa um mercado em expanso para osegmento de roupa infantil. Por outro lado se observa que o acesso s informaes est cada vezmais fcil, permitindo que a criana exera a liberdade de fazer suas prprias escolhas, mas,

    ainda so os pais que influenciam suas decises de compra, embora o consumidor infantil estejamais exigente. No passado, no existia conceito de moda no vesturio infantil e as colees serepetiam quase que invariavelmente. Hoje as empresas pressionadas por estes consumidores e por1 Especialista em Moda

    2 Mestre em Engenharia de Produo

    Ano 1, n.1, jan-jun 2008. pp. 107 - 118 107

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    reconhecerem a necessidade de ter um produto inovador que surpreenda o seu pblico alvo,buscam a profissionalizao, na rea de produo do vesturio infantil.

    No entanto, questiona-se: por trs de toda esta transformao, existe uma preocupao,

    quanto aos aspectos de usabilidade, com os consumidores de produtos do vesturio infantil?Nesta perspectiva, o presente estudo, atravs da Histria e da Ergonomia, aborda os

    princpios da usabilidade, aplicados ao vesturio infantil, como um dos pontos fundamentais no

    projeto ergonmico do produto, considerando que vai causar satisfao e desejo de uso.

    Histria do Vesturio Infantil

    O Sculo XVIII, conhecido tambm como o Sculo das Luzes fez emergir, segundo Aris(1981), um novo ser: a criana. Dotada de necessidades e desejos distintos daqueles dos adultos,passou, a partir de ento, a ter outro mundo prescrito como seu prprio, mas, espacial esocialmente determinado pelo adulto. Seres, at ento assemelhados aos adultos e inscritos nomundo desses, as crianas passaram a ter singularidades, como o estabelecimento de espaos,regras, formas e condutas. Essas mudanas tiveram por objetivo, preparar esse novo ser paraingressar no mundo adulto, do qual era excludo.

    Assim, necessrio para abrigar a nova descoberta (a criana) e dar materialidade a sua

    forma; re-nomear suas coisas, seus tempos, suas necessidades e, seus novos lugares, o mundo dainfncia foi construdo. Mas, estes mundos infantis, distintos do de adultos no acenaram na

    direo da ruptura de amarras. Ao contrrio, vrios foram os novos agentes de controle edisciplinamento que se colocaram, como propositores de tcnicas e mtodos de melhor preparar onovo ser, para o ingresso no mundo adulto: no mundo da razo (ARIS, 1981).

    A esse ser foi atribudo um nome: criana; construdo um espao prprio: a escola;dedicado um tempo: a infncia; desenvolvidos procedimentos e mtodos para sua normalizao:a pedagogia; ampliado o seu campo de obedincia: leis, regras, tribunais; criados locais desujeio: o confinamento, o internato; assim como espaos de proteo: os asilos, os orfanatos(ARIS, 1988).

    Quanto ao vesturio, antes mesmo da construo do mundo da infncia, j se constitua

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    em agente de controle e disciplinamento, porque submetia a criana a roupas carregadas desmbolos, com a mesma aparncia da vestimenta de seus pais, forando-a, portanto, a permanecer

    comportada nos espaos que lhe eram destinados. Conforme constata Aris (1981, p. 69) aindiferena existiu at o sculo XVIII, [...] pelas caractersticas prprias da infncia, no apareceapenas no mundo das imagens: o traje da poca comprovava que a infncia era poucoparticularizada na vida real.

    As primeiras reaes para que as roupas se tornassem mais leves e com uma conotao

    infantil partiu dos filsofos que, com vistas construo de uma nova sociedade, preconizavam oamor maternal e a integrao da criana na famlia como essenciais. Jean Jacques Rousseau, por

    volta de 1762, comeou A combater a moda que no dava liberdade s crianas, teoria que tinhaapoio de educadores, mdicos e filsofos. Este movimento, lentamente, influenciou a adoo detecidos leves e cores mais claras, eliminando as armaes das saias. (ROCHA, 2002).

    No entanto, at o sculo XIX as crianas recm nascidas eram envoltas, da cabea aos

    ps, em faixas que mantinham o corpo aquecido, porm imobilizado, para dar sustentao

    coluna vertebral, sendo-lhes permitido algum movimento, apenas nos momentos de trocas deroupa. Estas faixas, presas por tecidos de linho ou cnhamo, envolviam todo o corpo, dando aosbebs a aparncia de pequenas mmias. Tais prticas eram motivadas pelo medo de que umchoque trmico, ou movimento desordenado destrusse o esqueleto do recm nascido. A partir

    disso, as meninas, dos 4 aos 7 anos, passaram a usar vestidos infantis semelhantes aos deadultos, em tamanho reduzido --- nas cores marrom, vermelha ou preta. O traje masculino infantil que j vinha se diferenciando desde o sculo XVII comeou a evidenciar a importncia dada

    ao masculino, calas curtas para os meninos e outros trajes especiais. (RIS, 1981).

    Outra tentativa aparente de dar conotao infantil roupa das crianas pode ser percebidana literatura, Lewis Carrol, em 1865, em seu livro Alice nos Pais das Maravilhas, sugeriu umtraje para uma menina dotada de esprito e de inteligncia. O traje deixava livres seusmovimentos e, sua aparncia, desprovida de qualquer futilidade. Com vestidos simples, leves,

    soltos e com poucos acessrios, criou uma personagem modelo, que serviria de inspirao para as

    meninas do sculo seguinte, ou seja, somente no sculo XX, as roupas infantis apresentarammudanas favorveis aos seus usurios (SIMON, 1999).

    No decorrer dos anos, alguns tipos de roupas infantis foram smbolos de moda. Por volta

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    de 1850, o ento prncipe de Gales, futuro Eduardo VII lanou a bordo do iate real, Victoria &Albert, o traje de marinheiro: cala branca, casaco azul marinho com gola quadrada, trabalhadacom gales paralelos, num espaamento de dois a trs centmetros, terminando na ponta da

    frente, em forma de gravata e uma boina arrematada com um pompom. Vestir as crianas demarinheiro era o costume de grande parte da sociedade inglesa, que desejava ter um filhoservindo Marinha Britnica, a mais prestigiada do mundo desde o inicio do sculo XIX. Para asmeninas era feita uma adaptao: saias plissadas, em toda espcie de tecidos, e o cabam com oduplo abotoamento e gola quadrada (SIMON, 1999).

    O traje do Colgio de Eton, na Inglaterra, marcou seu estilo na moda infantil, com umpalet curto de cor escura, de comprimento na altura da cintura, bem ajustado e usado sobre uma

    cala comprida cinza. A camisa branca, com uma gola dura e alta, era usada com uma gravata

    preta (SIMON, 1999).

    Composto por knicker e casaca em veludo preto, com gola e punhos em renda, o trajeconhecido como O Pequeno Lord foi lanado por volta de 1885, como traje de criana exemplar,para o personagem do livro O Pequeno Lord Fauntleroy de Frances Hogdson Burnett (SIMON,1999).

    Durante a guerra de 1914-1918, o vesturio infantil foi submetido a sensveismodificaes. A tendncia reduo e simplificao esteve presente ao longo dos 20 anosseguintes. O traje de marinheiro que depois de mais de 50 anos era regra para os garotos e queseguia com pontualidade as modificaes dos uniformes da Marinha Real foi desaparecendo apartir de 1935. O conjunto Eton passou a ser usado apenas em solenidades como primeiracomunho e casamentos, quando o garoto fazia parte do cortejo nupcial. Os trajes militares e do

    escotismo, com seu uniforme de calas curtas, camisa com gola aberta e pulver, passaram ainfluenciar a moda infantil.

    Na Inglaterra e Estados Unidos, os trajes de esporte com blazeres coloridos substituram,progressivamente, os uniformes rgidos do inicio do sculo. A partir de 1920, imitando os

    adultos, os meninos passaram a usar o knicker, muito curto no incio, acima dos joelhos, sealongando at o tornozelo, no final dos anos de 1930.

    As fontes iconogrficas mostram que no Brasil, essas mudanas demoraram um pouco

    mais para acontecer. At os anos de 1920 as roupas infantis se assemelhavam s dos adultos

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    (figura 1). Os vestidos infantis, de corte reto e com cintura notadamente baixa, ainda eram muitosofisticados (figura 2). Da mesma forma, os meninos seguiam, em 1930, as influncias militaresdo ps-guerra (figura 3).

    Figura 1 Trajes infantis dos anos de 1920

    Fonte: Modateca/UDESC

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    Figura 2 Vestido infantil dos anos de 1920

    Fonte: Modateca/UDESC

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    Figura 3 Roupa infantil dos anos de 1930

    Fonte: Modateca/UDESC

    Logo aps o fim da segunda guerra, houve um retorno vestimenta de aparato. Assim que

    o nvel de vida das classes populares comeou a crescer, no inicio dos anos de 1950, os pais,

    como um reflexo natural, procuraram vestir melhor suas crianas. Pequenos conjuntos de veludo

    preto, camisas bordadas, gravatas de seda, vestidos de renda, anguas de tule foram por algunsanos smbolos de elegncia.

    A partir dos anos de 1960, a moda infantil passou por significativa transformao: asvestimentas de aparato, tambm conhecidas como roupas de domingo, desapareceram, quaseque completamente, para dar lugar a vestimentas mais resistentes, menos enfeitadas, de menorcusto e bem mais prticas. Progressivamente, as roupas de domingo, passaram a serem usadasdurante a semana. O jeans surgiu nesse perodo e passou a ser adotado nas vestimentas tanto demeninos, quanto das meninas, como uma espcie de uniforme.

    Do exposto, observa-se que no decorrer da segunda metade do sculo XX, as roupasinfantis sofreram alteraes: os trajes complicados que obrigavam as crianas a brincarem

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    comportadamente, especialmente as de maior poder aquisitivo, foram simplificados. As crianaspassaram a serem mais livres para desenvolver suas atividades e adquiriram o direito de intervirna composio do seu guarda roupa e, as diferenas nas vestimentas, entre as classes sociais,

    diminuram consideravelmente, ao menos na vida diria.

    Usabilidade

    Os produtos podem ser [...] amigveis, fceis de entender, fceis de operar e poucosensveis a erro [...] esclarece Ilda (2005, p. 320). Em vista disso, quando se usa uma roupa, cujo

    efeito esttico no corresponde ao desejado, ou funcionalmente no atende s necessidades de

    conforto, pode se afirmar que os aspectos de usabilidade no foram contemplados no projeto dedesenvolvimento do produto. Ao contrrio, quando a pessoa se sente confortvel e descontrada,a roupa foi bem projetada, observando as qualidades desejveis de usabilidade.

    Assim, a adequao entre o produto e as tarefas a cujo desempenho ele se destina, aadequao com o usurio que o utilizar e a adequao ao contexto em que ser usado, representapara Moraes (2005), o conceito de usabilidade, ou seja, facilidade e comodidade no uso dosprodutos, tanto no ambiente domstico como no profissional.

    Dessa forma, a usabilidade, tambm entendida como sinnimo de flexibilidade e de maiorinterao uma das reas da Ergonomia utilizada para avaliar a relao produto-usurio, tendo

    em vista as necessidades do utilizador e o contexto em que este est inserido, afirma Jordan(1998, p. 6-7) ampliando a discusso e alertando para a necessidade de se observar a proposiodo Internacional Standard Organization-ISO para o termo, como sendo [...] a eficincia, eficciae satisfao com a qual usurios especficos podem alcanar seus objetivos em ambientes

    particulares.

    A eficincia esclarece o mesmo autor, refere-se aos recursos necessrios e consumidos

    para atingir o objetivo ou tarefa. A eficcia a qualidade com que o utilizador atinge osobjetivos, a distino entre uma tarefa bem sucedida ou no. J a satisfao o nvel deconforto e o grau de aceitao do sistema, por seus usurios e por outras pessoas, afetadas peloseu uso.

    Martins (2005) ao abordar o conforto no vesturio, afirma que este no pode ser usado

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    para todos os usurios porque possuem diferentes caractersticas, como: idade, gnero, tipo fsico,aptides. Portanto, quando se projetar determinado produto, necessrio ter uma compreenso desua demanda. No caso dos produtos do vesturio infantil, este fator fundamental porque osconsumidores so de variadas faixas etrias, e com necessidades caractersticas a cada uma delas.

    Os produtos utilizados no dia-a-dia, de uma maneira geral, esto cada vez maiscomplexos, em termos de caractersticas e funcionalidade. No vesturio infantil este fato no diferente - as diversas formas e tipos de tecidos - podem proporcionar, ou no, benefcios ao seuusurio. Para que os usurios possam se beneficiar destas caractersticas, os projetistas devemconsiderar as exigncias e limitaes dos consumidores, no desenvolvimento do produto. Nestecontexto, Jordan (1998) orienta, os projetistas, para o estudo dos seguintes fatores:

    a) descrio dos usurios: refere-se a caractersticas tais como: conhecimentos,habilidades, experincias, educao, treinamentos, atributos corporais, capacidades motoras esensrias. Pode ser necessrio, tambm, descrever categorias de usurios, com nveis diferentes

    de experincias, ou desempenhando papis diferentes. No segmento do vesturio infantil estesaspectos devem ser levados em conta, porque a criana precisa de liberdade para desempenharsuas atividades de brincar;

    b) descrio das atividades/tarefas: trata-se das atividades realizadas para atingir umameta. Devem ser descritas as caractersticas das atividades que podem influenciar a usabilidade,por exemplo, a freqncia e durao da atividade. No caso da avaliao ou projeto de aspectos da

    interao com o produto, ser necessrio descrever detalhadamente as atividades e processos, as

    mesmas devem ser relacionadas com as metas a serem atingidas;

    c) descrio de equipamento: pode ser em termos de um conjunto de produtos, ou umconjunto de atributos ou caractersticas do seu desempenho;

    d) descrio de ambientes: fsico e social, tais como aspectos do ambiente tcnico (redesde telecomunicaes). Ambiente fsico (natureza e localizao da instalao), temperatura,umidade, iluminao e o ambiente social e cultural (estrutura organizacional, atitudes, rotinas detrabalho).

    Alcanar a relao adequada produto/usurio, sem dvida, um objetivo que deve ser

    perseguido pelos projetistas e pelas indstrias, pois quando h um programa de avaliao de uso,o processo de desenvolvimento de um produto, pode contribuir para a garantia de tal objetivo.

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    Apesar de as teorias da usabilidade serem formuladas para avaliar os requisitos e asnecessidades relativas rea de tecnologia da informao, seus pressupostos podem ser utilizadosno produto vesturio infantil. Para tanto, so apresentados a seguir os principais pressupostos queJordan define como importantes no design, quando associados com a usabilidade, nodesenvolvimento do projeto de um produto:

    Consistncia - as tarefas semelhantes devem ser realizadas de forma semelhante; Compatibilidade - projetar um produto que assegure o seu funcionamento de acordo como conhecimento do usurio, e fora do seu mundo. Consideraes de entendimento do usurio: o mtodo de operao de um produtonecessita considerar a demanda colocada pelo usurio durante a interao; Realimentao: as aes levadas pelo usurio devem ser reconhecidas e fornecidas deforma clara sobre os resultados destas aes; Preveno de erros: projetar um produto de forma que a probabilidade de erro pelousurio seja minimizada, e, que se ocorrer erros que sejam facilmente recuperados; Controle do usurio: o usurio deve maximizar o controle sobre as aes dos produtos; Clareza visual: as informaes devem ser exibidas de forma clara, para que possam serlidas rapidamente sem causar contradies; Priorizao da funcionalidade e das informaes: as funes e informaes maisimportantes devem estar facilmente acessveis ao usurio; Transferncia apropriada de tecnologia: fazer uso apropriado de tecnologiadesenvolvidas em outros contextos, para aumentar a usabilidade do produto; Clareza no manuseio: sugestes de operar os produtos devem ser claras ao usurio. (1998, p 25-27)

    Vrios outros autores trabalham o assunto usabilidade, todavia, neste artigo optou-se por

    Jordan (1998), tendo em vista que trabalha os princpios da usabilidade mais voltados aodesenvolvimento do projeto de produto.

    Usabilidade do vesturio infantil

    Como se pde observar, em 1762 Jean Jacques Rousseau fez as primeiras tentativas parainfluenciar a forma de vestir das crianas. Conseguiu com o auxilio de educadores, mdicos efilsofos que as crianas maiores ganhassem trajes um pouco mais apropriados para si. Foi o

    inicio de uma preocupao no sentido de usabilidade com o produto do vesturio infantil.

    No entanto, em 1865, com exceo da tendncia implcita na literatura Alice no pas dasmaravilhas - os trajes: marinheiro, o conjunto Eton e o Pequeno Lord confrontavam com osprincpios de usabilidade, especialmente quanto priorizao da funcionalidade, uma vez que se

    assemelhavam aos trajes dos adultos, cujas caractersticas apresentam diferenas com as dascrianas. E tinham implcito uma noo de disciplina e hierarquia que a composio do traje,

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    inclusive na limitao dos movimentos ajudavam a impor como regra a ser seguida e modelo de

    ser criana.

    De acordo com ries (1981), pode-se inferir que o vesturio infantil, at as primeirasdcadas do sculo XX, no levava em considerao nenhum princpio de usabilidade, pois osbebs eram enrolados em faixas de tecidos, logo que nasciam, o que limitava a sua mobilidade strocas de roupa. E, o vesturio das crianas, dos 4 aos 7 anos, era semelhante ao de adultos, comgrandes volumes e excessos de tecidos e aviamentos, o que limitava os movimentos necessriospara realizar atividades como correr, andar, pular e saltar. Nestes casos, o princpio dacompatibilidade do produto que assegura o movimento ao seu usurio, no era atendido.

    Somente a partir de 1960 quando as roupas passaram a serem produzidas por segmentos esporte, passeio, festa -- os princpios mencionados anteriormente como: consideraes de

    entendimento do usurio, clareza no manuseio, consistncia, priorizao da funcionalidade e dasinformaes foram sendo inseridos, gradativamente, na elaborao de um produto do vesturio

    infantil, especialmente no processo de modelagem de uma pea e no tipo de tecido utilizado,onde o usurio obtm a eficcia, que a qualidade com que o utilizador atinge os objetivos; aeficincia que quando se despende recursos -- com modelagem, maquinrio, cores, formas,

    design, aviamentos -- para que o produto do vesturio atenda os objetivos do consumidor; e asatisfao que o nvel de conforto e o grau de aceitao por parte do usurio. Alm disso, outro

    aspecto que se deve levar em considerao o esttico, responsvel, em parte, pela satisfaoemocional do cliente. O produto do vesturio, alm de ser funcional, deve ser esteticamenteconfortvel.

    Consideraes finais

    At as primeiras dcadas do sculo XX, assim que deixava os cueiros, ou seja, a faixa de

    tecido que era enrolada em torno de seu corpo, a criana era vestida como os outros homens emulheres de sua condio, ou seja, os adultos. Os adultos, como sujeitos dos destinos dascrianas, ditaram formas, modelos, normas e regras de como lidarem com suas vidas. As razes

    que conduziram a distintos olhares em relao s crianas, em momentos vrios na histria dasociedade, se assentam em mltipla ordem de fatores: religiosos, demogrficos, morais, polticos,econmicos, sociais, tnicos, raciais, eugnicos, legais. Mas, foram tambm essas razes que

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    ditaram e, ainda, ditam para as crianas, o seu futuro.

    Assim, a adoo de um vesturio prprio da infncia, que se tornou geral em todas asclasses, a partir da segunda metade do sculo XX, marca uma data muito significativa naformao do sentimento da infncia, esse sentimento que faz das crianas uma sociedade

    separada da dos adultos.

    Em relao usabilidade de um produto, em tempo de globalizao no pode ser

    considerada como um valor agregado, e sim um valor intrnseco ao produto. Isso porque o fato deum produto ser facilmente utilizado por uma pessoa, no significa que necessariamente elepoder ser utilizado, da mesma forma, por outra pessoa e, que por isto, o preo do produto tenhavalor diferenciado.

    Referncias:

    ARIS, P. Histria social da criana e da famlia. Rio de Janeiro: Afiliada, 1981.

    _____. A criana e a vida familiar no Antigo Regime. Rio de Janeiro: Companhia das Letras.1988.

    IIDA, I. Ergonomia: projeto e produo. So Paulo: Edgard Blucher, 2005.

    JORDAN, P. W. A Introduction to usability. London: Taylor e Francis, 1998.

    MARTINS, S. B. O Conforto no vesturio: uma questo de ergonomia metodologia deavaliao de usabilidade e conforto no vesturio. 2005. 150 f. Tese (doutorado) CentroTecnolgico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis.

    MORAES, A. Agradabilidade, usabilidade e antropometria. In: Ergodesign de Produto. Rio deJaneiro: IUsEr, 2005.

    ROCHA, R. de C. Histria Da Infncia: reflexes acerca de algumas concepes correntes.Revista ANALECTA, Guarapuava: Unicentro, v. 3, n. 2, p. 51- 63 jul/dez. 2002.

    SIMON, M. La mode enfantine, les carnets de la Mode. Paris: Edition du Chene-HachetteLivre. 1999.

    Proposta apresentada em 12/jun/2007. Aprovada em 17/12/2007.

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