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http://graficaluciano.wordpress.com/aulas/ 1 Representação 2Aula 01/Prof. Luciano HISTÓRICO A linguagem sequencial da narrativa dos comics, bandè dessinès, fummeti, manga ou quadrinhos, como a conhecemos atualmente, tem sua constituição semântica nitidamente estabelecida com os processos pós-revolução industrial, atrelados a massificação cultural decorrente desses processos. Entretanto, a necessidade narrativa empregando a conjugação de texto e imagem sequenciada remonta o princípio da civilização e pode ser observada sob diversas modalidades de representação ao longo da história da arte. DESCRIÇÃO GRÁFICA NARRATIVA NA ANTIGUIDADE E NA IDADE MÉDIA A tradição oral da narrativa de mitos e sagas encontrou na expressão gráfica da escrita, do desenho e da pintura, veículos de expansão cujo caráter contemplativo associou-se ao aspecto documental. Possibilidades técnicas que individualmente deram origem a literatura e as artes visuais, quando associadas em conjunto ao interesse narrativo, sugeririam fragmentos de uma linguagem típica, cujo caráter sequencial de leitura tornara-se a principal evidência. Na antiguidade, civilizações expressaram essa “tendência multimidiática” sob as necessidades religiosas, decorativas, contemplativas e documentais. Os Babilônios, os egípcios, os minóicos, os maias, a cultura greco-romana e o mundo medieval fizeram uso desse tipo de expressão gráfica conjugada para descrever conteúdos de narrativas sobre a criação do mundo, jornadas de entidades mitológicas, registros de batalhas e feitos heróicos e mesmo o cotidiano diário.

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1 Representação 2– Aula 01/Prof. Luciano

HISTÓRICO A linguagem sequencial da narrativa dos comics, bandè dessinès, fummeti, manga

ou quadrinhos, como a conhecemos atualmente, tem sua constituição semântica nitidamente estabelecida com os processos pós-revolução industrial, atrelados a massificação cultural decorrente desses processos. Entretanto, a necessidade narrativa empregando a conjugação de texto e imagem sequenciada remonta o princípio da civilização e pode ser observada sob diversas modalidades de representação ao longo da história da arte.

DESCRIÇÃO GRÁFICA NARRATIVA NA ANTIGUIDADE E NA IDADE MÉDIA

A tradição oral da narrativa de mitos e sagas encontrou na expressão gráfica da escrita, do desenho e da pintura, veículos de expansão cujo caráter contemplativo associou-se ao aspecto documental. Possibilidades técnicas que individualmente deram origem a literatura e as artes visuais, quando associadas em conjunto ao interesse narrativo, sugeririam fragmentos de uma linguagem típica, cujo caráter sequencial de leitura tornara-se a principal evidência.

Na antiguidade, civilizações expressaram essa “tendência multimidiática” sob as necessidades religiosas, decorativas, contemplativas e documentais. Os Babilônios, os egípcios, os minóicos, os maias, a cultura greco-romana e o mundo medieval fizeram uso desse tipo de expressão gráfica conjugada para descrever conteúdos de narrativas sobre a criação do mundo, jornadas de entidades mitológicas, registros de batalhas e feitos heróicos e mesmo o cotidiano diário.

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As pinturas rupestres de Lascaux, as narrativas heróicas na pintura em cerâmica grega, o relato da conquista da Dácia nos baixos relevos da Coluna de Trajano, a pintura documental nos vasos maias ou as estampas de batalha na Tapeçaria de Bayeux, demonstram a associação narrativa entre imagem e texto ao longo da história, entretanto, uma busca tão longa no passado por este tipo de linguagem, afasta-se do contexto sócio-cultural, econômico e tecnológico em que se tornou possível a conversão desses princípios expressivos como meios de comunicação e entretenimento modernos.

São os tempos adjacentes à Revolução Industrial que se tornam fundamentais à compreensão da formação da linguagem gráfica sequencial moderna, que deu origem aos comics, as bande dessines e aos quadrinhos. Em parte pela afirmação concreta dos modelos produtivos e societários que geraram os meios de comunicação, assim como os novos caminhos percorridos pelo texto e pela imagem, da maneira como os interpretamos hoje. PRECURSORES DA LINGUAGEM GRÁFICA SEQUENCIAL MODERNA

As reformas políticas na Inglaterra ao fim de mil e setecentos, foram o palco

prolífico para surgimento de uma geração de caricaturistas, que também eram ativistas políticos, tais como: William Hogarth, James Gillray, Thomas Rowlandson e George Woodward. A tradição da caricatura política britânica é tipificada pela tórrida crítica social sob a forma de representação caricata, assim como pelo uso de tipologias e símbolos incomuns a forma de representação tradicional na pintura, gravura e ilustração. A caricatura política do reformismo inglês popularizava o gênero temático do humor, assim como os elementos de uma linguagem gráfica singular, que se consolidava e se estendia como influência sobre a representação gráfica tanto na Europa quanto no Novo Mundo. Na obra destes artistas, vemos o surgimento e o emprego sistemático de novos elementos de verbalização como legendas e balões indicando as vozes dos personagens retratados, assim como a justaposição de quadros em sugestão narrativa.

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Na Europa continental, no início do século XIX, os mesmos elementos são

empregados de maneira diversificada, e no auxilio da charge e da caricatura política, surgem muitos tratados sobre expressões faciais e fisiognomonia, que introduziam a representação caricata em detrimento ao aspecto realista da representação. Seja na crítica política de Honoré Daumier na França, ou posteriormente nas histórias pitorescas do gravador suíço Rodolphe Töpffer, o estudo da expressão facial, a síntese do desenho e a capacidade de reprodução e impressão, somavam-se ao repertório de sinais gráficos que compunham uma linguagem em formação.

Após os meados do século XIX, nos centros urbanos do outro lado do Oceano

Atlântico os efeitos da Revolução Industrial e do incremento da imprensa, proporcionavam uma sistematização de linguagem semelhante ao que acontecia na Europa. No Brasil, tal como os caricaturistas britânicos, a produção de Angelo Agostini enfatizava a charge política, porém esta era mais integrada aos meios de comunicação impressos. Agostini foi um editor prolífico, fundando revistas importantes para imprensa brasileira como Revista Illustrada e Cabrião, posteriormente colaborando com revistas como O Malho e o Tico-Tico. Suas narrativas seqüenciais eram quase sempre de longa duração, sem balões e com textos ao pé de cada vinheta e muitos atribuem a ele as

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primeiras manifestações dos quadrinhos brasileiros. Agostini também introduziu personagens que foram sucesso de popularidade em seus periódicos, como Nho Quim e Zé Caipora.

Através de precursores de linguagem como Hogarth, Rowlandson, Daumier, Töpffer e Agostini entre outros, notamos que repertório de elementos semânticos que compuseram o código narrativo e os recursos de transição temporal na leitura dos comics, estava se estruturando muito tempo antes que eles surgissem com a revolução na imprensa americana ao início do século XX.

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NASCIMENTO DE UMA LINGUAGEM: OS JORNAIS E OS COMICS

A massificação da imprensa no início do século XX disseminou a imagem associada

ao texto no jornal e na revista. As facilidades de produção induziram a introdução de novos produtos e costumes no mercado consumidor. Por meio das comic strips e dos comic supplemets publicados nos jornais americanos, introduziram-se os costumes de leitura diária e semanal do comic, sendo que de 1890 até 1910 a variedade semântica na linguagem dos comics delineava-se como código organizado através das obras de Richard Outcault ( Yellow Kid -1896, Buster Brown-1902), Frederick Opper e Rudolph Dirks (The Katzenjammer Kids-1897, Happy Hooligan-1899), James Swinnerton (Little Jimmy-1905), Winsor Mccay (Little Nemo in Slumberland-1905), Gustave Verbeck (The Terror of the Tiny Tads-1903, The Upside-Downs-1903); encontrando um período de ajuste e estabilização até a crise econômica de 1929, período este, onde os códigos de linguagem da comic art atingiram sua maturidade através das histórias de George McManus (Bringing Up Father-1913), George Harriman (Krazy Kat-1911), Martin Branner (Winnie Winkle-1920), Frank King (Gasoline Alley-1918), Billy De Beck (Barney Google-1919), entre outros.

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Todos os elementos semânticos que conhecemos como típicos da linguagem dos comics, foram sistematizados e aprimorados nestes períodos de afirmação da comic art: balões, legendas, vinhetas, requadros, sarjetas, onomatopéias, linhas cinéticas entre outros elementos gráficos, se institucionalizaram como códigos de linguagem gráfica sequencial.

O período do inicio do século até 1930, representaria a base editorial e a afirmação de uma linguagem diante de um público consumidor sólido e fiel. Os padrões da indústria editorial americana se tornariam o exemplo a ser seguido, e a década de trinta daria início a golden age dos comics, com a introdução do revolucionário formato comic book e com a emancipação do comic como produto editorial.

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FORMATOS DE PUBLICAÇÃO

A introdução de novos formatos de publicação para a representação gráfica sequencial dos comics, reflete não só as estratégias de crescimento editorial, como também as transformações no meio de vida urbano. A evolução de formatos populares no inicio do século XX, como a comic strip para formatos o comic supplement e o comic book, demonstram a afirmação de uma linguagem e a popularização de um costume de leitura de entretenimento. As derivações de formato de publicação demonstram um descolamento do comic em relação ao jornal, caminhando rumo a independência de formato como revista e a constituição de um mercado consumidor pleno e específico. Entre os principais formatos de publicação temos em ordem de aparecimento:

Comic strip: sequencia narrativa curta sobre personagem ou aventura, arranjada em tira horizontal, publicada correntemente em periódico. As comic strips podiam conter gags e pequenas sequencias concluídas ou apresentarem-se em forma de continuity strip que lidas diariamente fechavam uma história. Seus sinônimos podem ser: daily strip, newspaper strip ou mesmo comics.

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Comic page: sequencia narrativa mais extensa de uma única página, descrevendo

uma história, que na maioria das vezes reunia o conjunto de daily strips ou continuty strips publicadas durante a semana. Era publicada aos domingos e em geral sua impressão era colorida. Sinônimos: sunday page, page, full page.

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Comic supplement: sessão separada de um jornal com um conjunto de histórias impressas em formato Sunday Page, geralmente colorido e publicado aos domingos. Sinônimos: Sunday supplement, weekly supplement.

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Comic book: revista individual contendo histórias completas ou coletâneas de comic strips. O comic book surgiu para reimprimir séries de comic strips populares e logo começou a apresentar histórias originais publicadas com títulos exclusivos. Conhecido como comic magazine na Europa.