24
AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB PUB Associações vão emprestar dinheiro DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 SEGUNDA-FEIRA 14 DE ABRIL DE 2014 ANO XIII Nº 3070 PÁGINA 8 Acaba de publicar um livro de contos, ditos da Água e do Vento, no qual perpassa por diversas culturas, da China ao Alentejo. Fernanda Dias, a mais internacio- nal dos escritores de Macau, explica como surgiu a ideia destas narrativas e como existem mais, muitas mais, histórias para contar. Também fascinante, para ela, é o facto de culturas tão distantes se encontrarem nos temas, nos métodos narrativos e mesmo, por vezes, nos símbolos que utilizam. ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3 Foram misteriosas as primeiras reu- niões de Nuno Crato, ministro da Educação de Portugal, na RAEM. Os dirigentes da Associação de Pais da Escola Portuguesa, inexplicavel- mente, preferiram manter um prudente silêncio. Ao que se sabe, na mesa estiveram os novos estatutos do estabelecimento de ensino. Mas o que realmente foi discutido, ficou no segredo dos deuses. PÁGINAS 4 E 5 Não há calendário definitivo ou sequer provisório. Não se sabe quando serão lançadas as obras na península, nem quando poderá o primeiro passageiro entrar nas carruagens que, pasme-se, chegam no próximo ano a Macau. Aqui ficarão a apodrecer enquanto os carris não se aprontam. São as obras públi- cas à Macau. PÁGINA 6 Fernanda Dias explica o que realmente é uma boa história Uma no Crato, outra na ferradura O mistério do metro que nunca acaba É uma maravilha de solidariedade. Duas associações e empresários ofereceram-se para emprestar dinheiro suficiente para as obras de recuperação do edifício. Depois, dizem, logo se vê. hojemacau SIN ONG F

Hoje Macau 14 ABR 2014 #3070

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Hoje Macau N.º3070 de 14 de Abril de 2014.

Citation preview

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

PUB

Associações vão emprestar dinheiro

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 S E G U N DA - F E I R A 1 4 D E A B R I L D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 7 0

PÁGINA 8

Acaba de publicar um livro de contos, ditos da Água e do Vento, no qual perpassa por diversas culturas, da China ao Alentejo. Fernanda Dias, a mais internacio-nal dos escritores de Macau, explica como surgiu a ideia destas narrativas e como existem mais, muitas mais, histórias para contar. Também fascinante, para ela, é o facto de culturas tão distantes se encontrarem nos temas, nos métodos narrativos e mesmo, por vezes, nos símbolos que utilizam.

ENTREVISTA PÁGINAS 2 E 3

Foram misteriosas as primeiras reu-niões de Nuno Crato, ministro da Educação de Portugal, na RAEM. Os dirigentes da Associação de Pais da Escola Portuguesa, inexplicavel-mente, preferiram manter um prudente silêncio. Ao que se sabe, na mesa estiveram os

novos estatutos do estabelecimento de ensino. Mas o que realmente foi discutido, ficou no segredo dos deuses.

PÁGINAS 4 E 5Não há calendário definitivo ou sequer provisório. Não se sabe quando serão lançadas as obras na península, nem quando poderá o primeiro passageiro entrar nas carruagens que, pasme-se, chegam no próximo ano a Macau. Aqui ficarão a apodrecer enquanto os carris não se aprontam.São as obras públi-cas à Macau.

PÁGINA 6

Fernanda Dias explica o que realmente é uma boa história

Uma no Crato, outra na ferradura O mistério do metro que nunca acaba

É uma maravilha de solidariedade. Duas associações e empresários ofereceram-se

para emprestar dinheiro suficiente para as obras de recuperação do edifício. Depois, dizem, logo se vê.

hojemacau

SIN ONGF

ANTÓ

NIO

FALC

ÃO

2 hoje macau segunda-feira 14.4.2014ENTREVISTA

JOSÉ C. [email protected]

- Como nasceu o seu interesse pelos contos tradicionais?Cresci numa casa grande, cheia de livros. Aos serões, com música, mas sem televisão, havia reunião familiar no Inverno em volta da lareira, no verão debaixo do limoeiro, entre alteias e lilases. Como eu explico neste poema de um livro inédito:

A madrinha lia em voz alta aos serões“A Toutinegra do Moinho”. Lágrimas furtivasdeslizavam nas faces das meninas.

FERNANDA DIAS, ESCRITORA, AUTORA DO LIVRO “CONTOS DA ÁGUA E DO VENTO”

“A boa história é que a me faz sorrir enquanto fico com os olhos marejados”

Fernanda Dias está de volta com um novo livro publicado recentemente pela Livros do Meio. “Contos da Água e do Vento” é a concretização de uma ideia antiga da escritora de Macau, que desde sempre rejeitou o tradicional “e viveram felizes para sempre”

No cache-pot pintado com lírios Arte-Novamurchavam os lilases do quintal.Quando nos anos sessenta emigreidescobri que afinal “La Fauvette du Moulin”de Emile Richebourg, cantava noutros pradosnão nos moinhos a submergir do Guadiana.

A infância refugiada nos cadernos,a casa vendida, os lilases-da-Pérsia decepadosfizeram prédios feiíssimos e caros no quintale as meninas da casa que restaramestão agora nos retratos sempre lindas.

- Quando começaram a ser escritos estes contos? E como nasceu a ideia?

A ideia nasceu há muitos anos atrás, quan-do ainda adolescente contava e recontava contos às minhas quatro irmãs mais novas. Sonhava reformular certos contos, não por me parecerem inverosímeis, mas porque me irritava a fórmula “foram felizes para sempre”. Os contos não precisam de um fim formulado, ou então este deveria ser, “o conto não termina aqui, e será recontado para sempre.”

- Quais são para si as maiores diferenças entre os contos tradicionais portugueses e os chineses?Uma das minhas intenções ao contar estes

“Ao longo das eras o conto liberta-se da fixidez primordial para poder ser reelaborado, modelado no acto da transmissão oral, e respeitando na maioria dos casos uma estrutura tradicional, o conto renova-se.”

3 entrevistahoje macau segunda-feira 14.4.2014

Este é um livro de recontos. Às histórias e lendas que recolhi em leituras, encontros e viagens, acrescentei os pontos que a tradição manda acrescentar aos contos.Se no Alentejo tem raízes a minha sina de contadora de histórias, a maneira de contar corre paralela ao hábito de artífice de nomear as técnicas, os materiais, as cores, as formas.Os ritos e os saberes de quem faz coisas acarretam um turbilhão de palavras agrupadas em redor de cada arte e de cada ofício. Cada conto exige um rigor de pintor.Na poesia, basta dizer “uma árvore” e essa invocação é já um poema, todo e inteiro. Contando um conto, importa saber se a árvore é uma romãzeira, um carvalho, um ácer, um cedro doirado ou uma palmeira. Pois o simples facto de nomear a árvore no seu velho e genuíno nome já coloca o conto na sua cultura, na floresta, planura ou no pátio interior onde a história decorre.Essa paixão de retratar um lugar enumerando visões vem de longe na minha escrita.Quando abriram o sarcófago de Tutankhamon encontraram uma coroa de flores que logo se desfizeram em pó; mas alguém anotou que eram centáureas, camomila, nenúfares, flores entretecidas em ramos de salgueiro. Havia

Excerto do prefáciocontos, foi precisamente mostrar que as dis-semelhanças pouco importam, pois podemos começar nos velhos mitos chineses e acabar nos contos alentejanos, e encontrar um cerne comum, quer na forma, quer no conteúdo. Elaboradas muitas vezes sobre mitos antigos, muitos já perdidos, estas formas de oralidade, sobretudo as mais antigas, circulam por ve-zes em formas fixas, sujeitas à rima, ou a um encadeamento sincopado, onde as fórmulas servem a memorização, mas também uma transmissão que se pretende imutável. Ao longo das eras o conto liberta-se da fixidez primordial para poder ser reelaborado, modelado no acto da transmissão oral, e res-peitando na maioria dos casos uma estrutura tradicional, o conto renova-se. A pluralidade das versões deriva assim da liberdade dos narradores, legitimada pela crença expressa no aforismo português de que “quem conta um conto acrescenta um ponto.” Isso aconte-ce até a escrita se apropriar dos contos orais: o autor do registo – do reconto – regido por um impulso criador individual dá ao conto um cunho próprio que o fixa e caracteriza, e aí sim, surgem diferenças que não cessam de inspirar os investigadores.

- E as maiores semelhanças?As semelhanças já estão todas patentes nos mais antigos relatos que conhecemos es-critos, embriões de contos que correm eras e mundos culturais: O cântico dos Cantos, a Epopeia de Gilgamesh, o mito de Nuwa, divina mãe primordial, ou de Pan Gu, o gi-gante cósmico. Poderia citar muitos mais…enumerar as semelhanças exige outro longo livro, mas o reconhecimento delas fez-me anteceder cada conto de uma epígrafe que por vezes é oriunda de culturas antípodas

- Estes (re) contos têm origens diversas. O que os pode ligar a todos?Liga-os o meu fascínio pelos mitos, pelas viagens do imaginário, pela etnobotânica, pela infância das técnicas como suporte das estéticas. - O que a fascina mais no universo do conto tradicional chinês?O que não é dito: aquilo que só pode ser intuído se tivermos amado o solo e o céu da China e comido com desembaraço da tigela popular o arroz de cada dia. Mais do que sedas e jades, é dessa matéria-prima obscura e remota que são esculpidos os contos chineses que admiro.

- A “transmigração dos contos de língua para língua” é uma perda ou um bene-fício?É as duas coisas. É uma perda a água que rios vão perdendo ao irrigar as terras por onde passam? É uma perda o usufruto na língua portuguesa de palavras de origem grega, árabe, goda, provençal?

- A língua dum povo é o reflexo dum certo pensamento? Ou será o contrário? Ou nem uma coisa nem outra?Não entendo “povo” no sentido de comunida-

de cultural sem o elo de uma língua comum, ainda que essa língua possa estar enriquecida por numerosos dialectos ou regionalismos. Pensamentos expressos sem uma linguagem? Acredito que isso seja do domínio da filoso-

fia… Ou será da neuro-fisiologia? “Não suba o sapateiro além da sandália…” não sei…

- Sabendo que é a escritora mais interna-cional de Macau, como é que encara essa

“Tenho outros contos… mais livros inéditos…dizem que escrevo muito, devem querer dizer que escrevo maisdo que é possível publicar!”

também outras plantas medicinais como grão-de-bico, junco, papiro, feno-grego. A enigmática máscara de oiro desperta uma admiração sempre crescente por essa arte distante, porém os nomes das ervas trazem-nos de volta aos campos da infância, quando há ainda um olhar para as flores, quando os sábios ainda as usam para sarar as maleitas do corpo ou simbolizar os estados de alma.Assim é com os contos tradicionais das mais remotas paragens. Nenhum exotismo aparece completamente desprovido de imagens maravilhosamente familiares, quando se trata de falar do pão de trigo, do azeite da oliveira, das maçãs que perfumam os Outonos, das tâmaras mel do deserto, dos coqueiros das ilhas do sonho.Os contos viajam e os países mudam de nome. As fronteiras esbatem-se ou alteram-se. A flora silvestre sucumbe aos venenos da nossa civilização. Mas aos que se interessam pela geografia dos contos de fadas, dou um conselho: sigam a pista das árvores e das flores, não há que enganar. O cedro, a árvore

mais citada na Bíblia, sumiu das florestas do Líbano, mas ainda existe na sua bandeira, e na imortal saga de Gilgamesh.Marco Pólo escreveu sobre o reino de Kush: “os reis provêem de uma linhagem que descende do rei Alexandre e da sua esposa filha do rei Dário, o Grande, Senhor da Pérsia… os habitantes são bons arqueiros, bons caçadores, e a maior parte veste-se depeles de animais, pois há grande penúria de outro vestuário…” Essas notas do grande viajante deram o tema à lenda do Lobo Azul? Certamente que não, são apenas ramos confluentes do mesmo manancial da tradição.(…)Seriam necessárias não apenas mil e umas noites, mas mil e umas vidas, para iluminar as grutas comunicantes cheias de enigmas, tesouros, lições, dos contos de encantar. As epígrafes de cada conto provêm de culturas afastadas da origem do mesmos; escolhi-as pelo eco persistente dos arquétipos comuns, e foram re- pescadas nos livros velhos e novos que tenho nas minhas estantes.Que Sherazhade nunca seja esquecida!

Fernanda Dias

situação? O que sente por a sua escrita ser estudada em universidades italianas e brasileiras e que influência é que isso tem na sua escrita? Não sou eu. Apareço também em antologias nos USA, e em inusitadas publicações em inglês, traduzidas nem sei por quem. Repito, não sou eu. As escritas ou morrem estioladas à mingua de leitores, ou escorrem lentas e infiltram-se por onde acham espaço. Isso não me diz respeito. A minha filiação é outra. Isso estará explicado no livro inédito de que já falei.

- O que é para si uma boa história?Uma boa história é que a me faz sorrir en-quanto fico com os olhos marejados.

- Que contos pode Macau contar? E por-que não entram neste livro?Este livro já ia longo… tenho outros con-tos… mais livros inéditos… dizem que escrevo muito, devem querer dizer que escrevo mais do que é possível publicar! Às vezes luto para publicar obras de ou-tros autores, que apenas tentei recontar na minha língua, para tirar das gavetas coisas que me contam… e vou deixando nas gavetas do meu computador coisas minhas.

- Para quando mais contos e mais his-tórias?Tenho um livro pronto, poesia, ainda e intensamente sentida e escrita em Macau. Nesse livro cada poema é um conto que contei muito depressa, ao ritmo das multi-dões que traçam estranhos trilhos na cidade, entrecortados de momentos de silêncio, em recantos onde ainda podemos respirar, escutando as árvores.

hoje macau segunda-feira 14.4.20144 VISITA

A vinda de Nuno Crato a Macau tem como ponto principal na agenda a manutenção das instalações

da EPM, depois de dez anos de indecisões quanto a uma possível mudança de espaço. Nuno Crato tem hoje uma reunião com Chui Sai On, Chefe do Exe-cutivo, onde essa decisão deverá ser comunicada de forma oficial.

O presidente da APEM garantiu, contudo, que a mudança de instalações não foi debatida no encontro com o ministro. “Isso está na agenda mas não qui-semos abordar. Concordamos (com a manutenção das instalações) e sempre defendemos que essa era a melhor solução. A maioria dos nossos associados concorda e os pais também, cerca de 90%.”

Há cerca de dez anos que se fala da possibilidade de mudança de instalações, tendo a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) feito um donativo de 65 milhões de patacas para o efeito, que nunca se concretizou. A mudança para o hotel Estoril, junto à praça do Tap Seac, chegou a ser pensada.

Fernando Silva defende que, a ficar junto ao casino Grand Lisboa, a EPM vai necessitar de sofrer obras de remodelação. “É natural que sim, porque a escola como está não tem condições para albergar mais alunos.”

Nuno Crato vem acompanhado por Roberto Car-neiro, presidente da FEPM, cuja visita termina hoje ao final da tarde. Depois do encontro com Chui Sai On, Nuno Crato irá visitar as instalações da EPM.

ESCOLA PORTUGUESA NUNO CRATO REUNIU COM ASSOCIAÇÃO DE PAIS E APIM

O respeitinho é ainda muito bonito

ANDREIA SOFIA [email protected]

O S novos estatutos da Escola Portuguesa de Macau (EPM) e da sua Fundação foi

o principal assunto debatido no primeiro evento oficial do ministro da educação de Portugal, Nuno Crato, que está a realizar uma visita à RAEM.

A reunião com a Associação

de Pais da EPM (APEM) decor-reu durante a manhã de ontem, mas Fernando Silva, presidente, pouco quis adiantar ao HM.

“Houve da nossa parte pro-blemas apresentados e que não têm nada a ver com a posição da escola. Têm a ver com os proble-mas do futuro jurídico da escola ou da Fundação. Isso é o que nos preocupa. O que sei, através da comunicação social, é que estão a ser alterados”, disse Fernando

Silva, sem querer adiantar con-clusões do encontro.

Amélia António, que partici-pou na reunião a convite da APEM na qualidade de presidente da Casa de Portugal em Macau, também optou por não fazer quaisquer comentários até ao final da visita de Nuno Crato.

Questionado sobre o calendá-rio dos novos estatutos, José Sales Marques, presidente da Fundação da EPM, também pouco adiantou. “Não posso dizer que os novos estatutos já estejam feitos, mas não quero fazer comentários sobre este assunto.”

Em Fevereiro último foi noti-ciado que os novos estatutos se-riam concluídos “a breve prazo”. A proposta, segundo disse José Sales Marques, estaria “a ser apreciada do ponto de vista jurídico para que a Fundação prossiga com novos estatutos e com apenas dois membros: o Ministério da Educação em Portugal e a Asso-ciação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) (sem a Fundação Oriente). O objectivo é que a Fundação corresponda a 110% a uma instituição de Macau e para Macau”.

Nuno Crato disse apenas no final do encontro que ouviu “as preocupações” dos pais sobre a instituição de ensino, tendo dito que uma “escola sem pais não pode funcionar devidamente”. Crato disse ainda que a EPM é uma entidade que “orgulha e representa muito bem Portugal no mundo”.

Os estatutos da Fundação da EPM e da escola foram criados em 1998 pelo Estado português, tendo a Fundação Oriente (FO) e APIM sido as entidades criadoras, responsáveis pelo financiamento e gestão da escola. Em 2012, a FO anunciou que ia deixar de subsi-diar a EPM, passando o encargo para o Governo local, através da Fundação Macau.

Contudo, os estatutos nunca se alteraram. João Amorim, da Fundação Oriente, apenas disse que “a FO estará representada na Fundação da EPM enquanto os associados julgarem útil que esta situação se mantenha”.

O ministro da Educação de Portugal reuniu ontem com a Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau tendo sido abordado o “futuro jurídico da escola e da fundação”. No fim os pais saíram calados, caladinhos, não vá o ministro tecê-las...

Mudança de instalações foi tabu em conversa mole

PUB

hoje macau segunda-feira 14.4.2014 5 visita

O primeiro dia da visita de Nuno Crato, ministro português da

Educação, a Macau ficou marcado por uma visita ao Instituto Politécnico de Macau (IPM), onde Crato referiu que o ensino em Portugal está aberto a coope-rações não só com a RAEM mas com o resto do mundo.

“Esta é uma colabora-ção que tem este ponto de partida, mas que se pode estender a muitas outras áre-as e muitas outras escolas, e nós estamos à disposição do IPM, assim como estamos à disposição de outras insti-tuições do ensino superior que estejam interessadas em colaborar com Portugal. Com certeza que abriremos as portas todas para que esta colaboração frutifique e para que este exemplo fru-tifique”, disse Nuno Crato à agência Lusa.

“Hoje em dia a qualifica-ção não se faz de uma forma fechada, faz-se de uma forma aberta, com ligação com todo o mundo e, por isso, a internacionalização das escolas portuguesas entra como um factor de

NUNO CRATO DISSE QUE O ENSINO EM PORTUGAL ESTÁ ABERTO À COOPERAÇÃO

“Estamos à disposição do IPM”

desenvolvimento das pró-prias escolas superiores e da própria formação que se faz em Portugal, que não é mais uma formação fechada de portugueses para portugue-

ses, mas que é uma formação aberta de portugueses para o mundo inteiro e também, como aqui se vê, do mundo inteiro para Portugal””, dis-se ainda o ministro.

Nuno Crato, que foi re-cebido por alunos do curso de tradução e interpretação chinês-português, destacou os “êxitos” da instituição de ensino superior, tendo

sempenha um papel muito importante no ensino da lín-gua e da cultura portuguesa demonstrando uma visão de futuro que serve os desígnios de Macau, da China e como ponte de ligação com os pa-íses da lusofonia”, segundo um comunicado enviado pelo IPM.

Lei Heong Iok, presi-dente do IPM, disse ainda que não é apenas a “grande China que mostra interesse no ensino e aprendizagem da língua portuguesa, mas também noutros países e regiões da Ásia. O Vietname e Taiwan estão igualmente a pedir ajuda do IPM para dar o maior apoio no ensino da cultura e língua portu-guesa”.

O ministro da Educação discutiu ainda um maior “aprofundamento” das re-lações entre o IPM e a Es-cola Portuguesa de Macau (EPM). - A.S.S. com Lusa

referido que “o IPM tem desempenhado um papel fundamental para o desen-volvimento de Macau, tem feito e continua a fazer um excelente trabalho e de-

hoje macau segunda-feira 14.4.2014

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

6 POLÍTICAOrçamento de Macau com saldo positivo de mais de 35 mil milhões

AAdministração de Macau fechou o primeiro trimestre com um sal-

do orçamental positivo de cerca de35 mil milhões de patacas, mais 24,6% do que no mesmo período de 2013 e correspondente a 54,7% do previsto para o final do corrente ano.

Dados provisórios disponíveis na página electrónica dos Serviços de Finanças relativos à execução orça-mental indicam que as receitas totais da administração se saldaram entre Janeiro e Março em 42.146,2 milhões de patacas contra despesas de 7.061,7 milhões de patacas.

As receitas aumentaram 22,1% face ao primeiro trimestre do ano passado e estão cumpridas em 29,8% do previsto para os 12 meses de 2014, ao passo que as despesas cresceram 19,9% e estão cumpridas em apenas 9,2%.

No campo da receita, os impostos directos - contabilizados em 36.511,5 milhões de patacas constituem a maior fonte de receita pública com os impos-tos directos sobre o sector do jogo - no valor de 35% sobre as receitas brutas dos casinos - a traduzirem 98% desse capítulo do orçamento, ou 35.800,2 milhões de patacas.

Os impostos directos corres-pondem a 86,6% da receita total da administração, enquanto os impostos directos sobre o jogo possuem um peso de 84,9% nessa mesma receita.

Apesar dos orçamentos de Macau serem, habitualmente, elaborados de forma conservadora com as despesas potenciadas e as receitas calculadas abaixo do que acaba por acontecer, a fraca execução no campo da despesa é também justificada com a realização de apenas 0,4% dos Investimentos do Plano para 2014.

De facto, este capítulo do orçamen-to gerou apenas uma despesa de 56,8 milhões de patacas nos três primeiros meses do ano de um total previsto para os 12 meses de 14.801,4 milhões de patacas.

JOANA FREITAS [email protected]

E M mais um dia de debate na Assembleia Legislati-va (AL) - desta vez inter-posto pelo democrata Ng

Kuok Cheong - o secretário para as Obras Públicas e Transportes mostrou que as únicas calendari-zações sobre o sistema de metro ligeiro são previsões para a che-gada das carruagens e para a con-clusão do traçado da Taipa. “Os comboios que se encontram em fabrico em série serão entregues a Macau no próximo ano. A linha da Taipa entrará primeiramente em operação em 2016, no sentido de estender-se o mais cedo possível até à península de Macau.”

Os deputados queriam saber datas concretas para o início das operações do metro do lado de Macau, uma vez que, recente-mente, o Executivo disse que poderiam ser décadas até que tudo estivesse concluído.

As perguntas foram quase todas à volta do mesmo e quase todas ficaram sem resposta. Lau Si Io assegura que o desenvolvi-mento de Macau está a dificultar a vida à conclusão das obras - algo que deveria ter acontecido este ano. Inicialmente, estava previsto que, em 2014, já todos pudessem andar de metro. “Macau está a desenvolver-se a um ritmo rápido e estão muitas infra-estruturas em execução simultaneamente. (...) Não temos condições para dar data de conclusão, vamos divulgando informação em tempo oportuno.”

Dados fornecidos pelo coor-denador do Gabinete de Infra--Estruturas e Transportes (GIT) e apresentados ao hemiciclo sugerem que “em dois ou três meses” se fará um ajustamento ao Centro Modal da Barra, onde ficará a estação principal na liga-ção Macau-Taipa.

Só no início do próximo ano é que é que vai ser aberto um concurso para a construção da estação que, depois, terá então de ser construída. “A ligação para a Barra só vai estar pronta quando, então? Em 2018, 2019?”, atirou Ho Ion Sang. “Na zona central de Macau quantas paragens vamos

METRO GOVERNO NÃO TEM INFORMAÇÕES SOBRE DATAS OU CUSTOS. TRAÇADO EM MACAU PRECISA NO MÍNIMO DE CINCO ANOS

Um mistério a cada metro

“Resolveram inventar e apresentar um novo plano, que inclui um traçado que atravessa a Nobre de Carvalho, traçado esse que pode prejudicar a segurança da ponte. Isto só levou a desperdícios de erário público com a empresa de consultadoria e atrasos na execução das obras, impedindo a entrada em funcionamento atempada de diversos troços”NG KUOK CHEONG Deputado

ter? Quando vai lançar uma con-sulta pública sobre o traçado de Macau? Estamos a esperar, sem saber quando todo o sistema vai ser concluído e só vemos me-ramente subidas constantes nos custos”, acrescentou Si Ka Lon.

PREÇOS PESADOS?Os custos representam motivo de mais dúvidas, tanto da parte da população, como dos deputados, mas também nisto não há quais-quer informações da parte do Governo. Em 2012, recorde-se, um relatório do Comissariado de Auditoria mostrou que, em cinco anos, o orçamento previsto para

a 1ª fase do metro passou de 4,2 mil milhões de patacas para 11 mil milhões. O relatório dizia que o GIT fez previsões “aquém das condições reais” e que o Governo não conseguiria prever gastos no futuro.

Isso parece ter assustado o Executivo, que não avança, agora, com números. “Temos de esperar pela empresa de con-sultadoria, talvez a meio do ano já tenhamos mais informação. Os estudos têm de passar pela ponte [Nobre de Carvalho] e não podemos avançar com cus-tos antes disso. A empresa de consultadoria tem de ponderar

esta solução e, em meados do ano, pode ser possível divulgar dados preliminares. E pedimos à empresa de consultadoria que tenha atenção ao relatório do CA”, explicou Lei Chin Tong.

O Governo foi autorizado pelo Governo Central a introduzir ajustes à área dos novos aterros urbanos, aumentando a área de terreno ao longo da Avenida Dr. Sun Yat-Sen. Foi contratada uma empresa de consultoria para analisar as possibilidades do segmento sul do metro, mas uma das soluções na alteração é a passagem pela ponte. “Há desvantagens e vantagens nesta solução, por isso precisamos de mais tempo”, referiu o coorde-nador do GIT.

“Resolveram inventar e apresentar um novo plano, que inclui um traçado que atravessa a Nobre de Carvalho, traçado esse que pode prejudicar a se-gurança da ponte. Isto só levou a desperdícios de erário público com a empresa de consultadoria e atrasos na execução das obras, impedindo a entrada em funcio-namento atempada de diversos troços”, acusou o autor do debate, Ng Kuok Cheong.

Lei Chan Tong admitiu que o Governo está a “enfrentar al-gumas incertezas”, mas assegura que os trabalhos não vão parar. Lau Si Io acrescenta que os traba-lhos de lançamento dos concur-sos públicos poderão começar no início do próximo ano e afirma que “poderão haver condições” de ligar Macau e Taipa em 2019, mas que nada é concreto.

As incertezas levaram os deputados a desistir de fazer perguntas e a atacarem o Gover-no, com José Pereira Coutinho a questionar se todas as altera-ções estavam a ter em conta os residentes ou os turistas. Para o coordenador do GIT “é difícil diferenciar se a infra-estrutura visa a população ou os turistas”, devido ao montante de dinheiro investido no projecto, mas Lei Chin Tong quis frisar que, como primeiro objectivo, a ideia do me-tro é aliviar a pressão do trânsito em Macau e que, com isso, quem mais sofre são os residentes.

Não se sabe nem quanto vai custar, nem quando vai ficar pronto o sistema de metro ligeiro de Macau. O Governo diz “não ter condições” para fornecer esta informação à população e foi Lau Si Io quem o admitiu aos deputados na passada sexta-feira. O secretário deixa uma promessa: mais informações “em tempo oportuno”

Aprovado o aumento das pensões e subsídios da segurança socialO aumento das pensões e subsídios do regime de segurança social, aprovado na reunião do Conselho Permanente de Concertação Social na passada sexta-feira, deverá entrar em vigor depois do final deste mês. Os efeitos retroactivos deste aumento dizem respeito ao dia 1 de Janeiro de 2014 e a medida deverá entrar em vigor depois da publicação do despacho do Chefe do Executivo. Até lá, os aumentos, que incluem a pensão social, para idosos e de invalidez, juntamente com um conjunto de subsídios que o Fundo de Segurança Social atribui aos beneficiários, continuam a ser calculados com base na fórmula presentemente em vigor.

hoje macau segunda-feira 14.4.2014

HOJE

MAC

AU

7 política

CECÍLIA L [email protected]

O presidente do Insti-tuto Cultural (IC), Guilherme Ung Vai

Meng, disse este Sábado que as obras da nova biblioteca central deverão arrancar só no final do próximo ano. Segundo a imprensa chinesa, já está na fase final o planeamento do projecto que irá ficar albergado no antigo edifício do Tribunal Judicial de Base (TJB) e da Po-lícia Judiciária (PJ), localizado na Rua Central.

Segundo o presidente do IC, o futuro edifício vai ser “complexo”, o que, para além da biblioteca, deverá incluir áreas para o ensino infantil e juvenil, sala de exposições, um pequeno museu e uma livraria com café. Segundo Ung Vai Meng, estão a ser feitas negociações com a PJ no sentido de criar um museu para contar a sua história.

Saúde Deputada exige aplicação no telemóvel para tempo de espera

A deputada Angela Leong enviou mais uma carta aberta aos Serviços

de Saúde (SS) onde pede que o Gover-no crie uma aplicação de telemóvel que permita aos utentes do hospital Conde de São Januário e centros de saúde conhecerem o tempo de espera dos serviços. Segundo a deputada, um hospital privado, que o HM sabe ser da Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST), já possui essa plataforma, que inclui informações sobre a lista de médicos, custos das consultas e serviços disponíveis.

Angela Leong cita ainda as experi-ências de Pequim e Taiwan, referindo que já disponibilizam estas aplicações aos pacientes, o que lhes permite não esperar muito tempo no hospital. A deputada escreveu ainda na sua carta que alguns departamentos do Governo também começaram a utilizar estas aplicações para aumentar a transparência dos serviços prestados, dando o exemplo da Polícia de Segurança Pública (PSP). A deputada defende que deve ser criada uma aplicação de telemóvel para todos os departamentos, por forma a promover a transparência do Governo e a facilitar o dia-a-dia dos cidadãos. - C.L.

TRÊS ASSOCIAÇÕES PARTICIPARAM NO DEBATE DA ENERGIA CÍVICA SOBRE IMPORTAÇÃO DE TERAPEUTAS

Agnes Lam prefere a prata da casa

BIBLIOTECA CENTRAL UNG PROMETE ALGO “COMPLEXO”. OBRAS SÓ COMEÇAM NO FINAL DE 2015

A leitura pode esperar

ANDREIA SOFIA [email protected]

A polémica estalou quan-do o Instituto de Acção Social (IAS) anunciou em Março que ia im-

portar 40 terapeutas ao exterior. Muitas vozes já se levantaram con-tra a medida, afirmando que deve haver um estudo prévio sobre o número de terapeutas locais. Uma

dessas vozes é a de Agnes Lam, que, através da sua associação Energia Cívica, promoveu ontem um debate sobre o assunto.

“Estamos muito cépticos em relação a essa questão. O Governo tem de ter muito cuidado e não

estamos de acordo em relação à importação de profissionais. Devíamos ter um mecanismo em relação a isso”, disse ao HM.

Um dos problemas levantados com a importação de terapeutas seria o idioma. “Têm de estar

fissionais existentes está a ser calculado.”

ESCALÕES DIFERENTES NO GOVERNOPara a professora da Universi-dade de Macau (UM), e ex-can-didata às eleições legislativas, existe um problema de diferentes escalões na Função Pública para os terapeutas. Quem trabalha no hospital público trabalha segundo o regime de terapeuta, mas aque-les que estão na área da educação são considerados meros técnicos. “O Governo não sabe que estas pessoas existem e quem trabalha em outros departamentos, e até em associações e organizações não governamentais. Não têm qualquer protecção para traba-lhar, e enquanto profissionais vão ter problemas.”

“O Governo deveria comuni-car mais com as associações que representam estes profissionais. Cada departamento da Função Pública deveria trabalhar em conjunto e deveria ser analisado quantos estudantes estão a tirar a licenciatura nesta área, e também aqueles que foram estudar para fora e que vão regressar”, acrescentou Agnes Lam.

A ex-candidata pede que o Governo analise primeiro o número de terapeutas existentes antes de importar profissionais, exigindo ainda um melhor processo de acreditação

aptos para falar cantonense e mesmo que venham da China será difícil, porque falam mandarim.”

“Ainda temos locais a traba-lhar”, defende Agnes Lam. “Há uma preocupação em relação à forma como o número de pro-

Ung Vai Meng disse ainda que a mudança de instalações por parte da PJ trouxe “mais possibilidades” ao projecto da nova biblioteca, o qual está a ser pensado pelo Governo desde 2009.

A próxima fase será, segun-do Ung Vai Meng, de consultar as opiniões da Direcção de Serviços de Solos, Obras Pú-blicas e Transportes (DSSOPT) e negociar a viabilidade do projecto do ponto de vista da sua concepção gráfica.

O presidente do IC disse ainda que é a primeira vez que esta entidade aceita um novo projecto da biblioteca central com uma grande dimen-são, sendo um trabalho mais complexo do que o esperado anteriormente.

Tang Mei Lin, directora da actual biblioteca, disse que se as condições das obras e dos edifícios permitirem, será possível construir uma plataforma para observar o céu. O IC garante estar ainda a recolher as opiniões dos cidadãos sobre o planeamento da nova biblioteca, cujo pro-cesso decorre até ao dia 27 deste mês.

8 hoje macau segunda-feira 14.4.2014SOCIEDADE

CECIL IA L [email protected]

JOANA [email protected]

L AU Si Io garantiu novamen-te que o Governo não vai utilizar erário público para a reconstrução do Sin Fong

Garden, o edifício evacuado em 2012 devido a uma ruptura de um dos principais pilares de suporte. O secretário afirmou isso mesmo na passada sexta-feira, um dia depois da publicação do relatório final de investigação, que responsabiliza-va o director técnico da obra e o construtor civil, Ho Weng Pio, pela falta de qualidade do betão utilizado nos pilares.

O Executivo ajuda os con-dóminos do Sin Fong a nível do apoio judiciário – caso queiram interpor acções judiciais – e com estudos e despesas antecipadas para uma eventual restauração dos pilares, mas nada mais. “Caso os condóminos decidam proceder a restauração do edifício, a Adminis-tração encomendará aos especia-listas na matéria a elaboração do plano de restauração do edifício e procederá - em adiantado - ao pa-gamento das respectivas despesas de restauração.”

As obras de restauração, diz ainda Lau Si Io, serão adjudica-das a uma entidade exterior e a fiscalização da obra por uma outra terceira entidade, “independente”. Contudo, o caso muda de figura se os condóminos quiseram recons-

MORADORES DO SIN FONG GARDEN NÃO QUEREM PROCESSOS JUDICIAIS

Os moradores optaram pela reconstrução do Sin Fong Garden e, depois do Governo dizer que não iria abrir os cordões à bolsa, a Associação Tong Sin Tong e a dos Conterrâneos de Kong Mun de Macau ofereceram-se para financiar imediatamente as obras. O Executivo não deixou de lado um puxão de orelhas aos moradores, que continuaram a manifestar-se. Sete foram detidos

SIN FONG GOVERNO GARANTE QUE NÃO DÁ DINHEIRO A MORADORES. ASSOCIAÇÕES JÁ SE OFERECERAM PARA EMPRESTAR

Moradores acampados, moradores avisados

truir o prédio da Rua do Patane. Neste caso, o Executivo diz vir a facilitar os trâmites para autoriza-ção das obras.

INVESTIDORES NA RECONSTRUÇÃO Se a Administração assegura não ter sequer meios legais para que o Governo avance verbas aos moradores do Sin Fong Garden para a reconstrução do prédio, já há quem queira ajudar. É o caso do deputado e empresário da construção civil Mak Soi Kun e do empresário chinês António Ferrei-ra, vice-presidente da Associação de Beneficência Tong Sin Tong.

No sabádo à tarde, o empre-sário assegurou que iria adiantar 50 milhões de patacas para a re-construção do edifício em forma de empréstimo sem juros. “Tenho pena dos proprietários. Por isso, venho anunciar que eu e os meus amigos juntámos um total de 50 milhões de patacas para que eles possam começar a reconstrução do edifício. Este montante vai ser cedido aos moradores antecipada-mente”, afirmou António Ferreira.

O empresário – que disse ter ficado emocionado com a intensi-dade da reacção dos moradores e do Governo - não revela a identidade dos “três ou quatro amigos”, mas assegura que não estão relaciona-dos com o construtor Ho Weng Pio, que os relatórios do Governo apontam como um dos respon-sáveis pelo incidente. Também o presidente da associação, o depu-tado Chui Sai Cheong, diz que os

moradores estão satisfeitos com a ajuda. “Desde o primeiro dia do incidente até hoje, a nossa atitude tem sido a de que, se mais de me-tade dos proprietários apoiarem a reparação, então reparamos. Mas se apoiarem a reconstrução, é reconstruído”.

A Tong Sin Tong é proprietá-ria de mais de 32 apartamentos e parques de estacionamento no Sin Fong Garden, mas Chui Sai Cheong esclarece que esta parte vai ser paga pelo fundo da associação e não com o dinheiro do empréstimo. Outro dos vice-presidentes da Tong

Os moradores do edifício Sin Fong Garden realizaram ontem uma conferência de imprensa onde frisaram que não querem processar ninguém, uma vez que a situação do edifício “é uma

grande prova”. Além disso, se decidirem seguir para a via judicial, os moradores entendem que vão perder a hipótese de regressar mais cedo às suas casas. Chao Ka Cheong, porta-voz dos

moradores, disse que a maioria dos proprietários são idosos, e que, se o processo nos tribunais demorar mais de dez anos, não vão poder regressar às suas casas. O grupo de moradores já decidiu

não processar ninguém pelo incidente, mas referiu que a decisão final ainda será feita mediante uma reunião geral com todos os proprietários. “Entre a justiça e as necessidades

dos moradores, preferimos deixar que os moradores regressem primeiro às suas casas”, disse o porta-voz, referindo que, mesmo que ganhe o processo, a empresa não vai conseguir pagar a

compensação com apenas 100 mil patacas. Os moradores pedem ainda que os deputados possam melhorar a legislação em vigor, para que casos semelhantes não voltem a acontecer em Macau. - C.L.

Sin Tong, Peter Lam, que é também membro do Conselho Executivo, explicou que estes 50 milhões de empréstimo vão ser geridos pela “Macau Social Enterprise Com-pany Limited”.

Mas, a Tong Sin Tong não está sozinha. Depois de dizer que

9 sociedadehoje macau segunda-feira 14.4.2014

JOANA [email protected]

L EI Kai Fai, funcio-nário do Instituto para os Assuntos Cívicos e Munici-

pais (IACM), foi mais uma testemunha a ser ouvida no julgamento que tem Raymond Tam, presidente suspenso do instituto, e outros três responsáveis no banco dos réus. Na passada sexta-feira, o trabalhador – que era encarregue de trabalhos de expediente e administrativo – afirmou ao tribunal que chegou a levar colegas do núcleo dos cemitérios ao edifício onde estariam arquivados documentos relacionados com o caso das campas perpétuas e confirmou ter encontrado a ex-secretária de Ng Peng In no arquivo da Barra à procura dos mesmos papéis.

A entrega tardia destes documentos ao Ministério Público (MP) foi o que motivou a acusação de prevaricação que os argui-dos enfrentam. Os papéis

SIN FONG GOVERNO GARANTE QUE NÃO DÁ DINHEIRO A MORADORES. ASSOCIAÇÕES JÁ SE OFERECERAM PARA EMPRESTAR

Moradores acampados, moradores avisados

CASO TAM FUNCIONÁRIO DO IACM RECEBEU FICHEIROS COM DOCUMENTOS DE NG PENG IN

O que estará nas pastas?

esperava que o financiamento da associação pudesse originar mais apoios, a Associação de Conter-râneos de Kong Mun de Macau - conhecida como Associação dos Amigos de Jiangmen - anunciou que vai também pagar 60% do cus-to total das obras de reconstrução, que, entretanto, os moradores já decidiram ser o caminho a seguir.

A associação prevê que o custo total da reconstrução sera de 270 milhões de patacas. O president e fundador da associação, Sio Tak Hong, o empresário das obras ao lado da Casamata, disse não saber que a Tong Sin Tong tinha já anun-ciado um empréstimo sem juros de 50 milhões de patacas, mas avança que vai prosseguir com a decisão. “Temos de ver a quantidade real das despesas, porque tem que ser racional. Se, no final, não se con-seguir apurar a responsabilidade dos culpados pelo incidente, não vamos recuperar o dinheiro.”

O dinheiro, esse, estaria aloca-do para a construção de um lar dos idosos e uma creche na zona norte, algo que não vai mais acontecer. Sio diz que só quer agora que os moradores não continuem com as acções radicais.

SETE DETIDOSNa noite em que se souberam os resultados da investigação final ao Sin Fong Garden, alguns moradores foram para a porta do prédio manifestar-se, tendo alguns que ser inclusive retirados à força pela polícia. De acordo com dados fornecidos pelas autoridades, sete proprietários foram acusados de desobediência qualificada.

O secretário para os Transportes e Obras Públicas sentiu mesmo ter que repreender os moradores, alertando-os que estavam a lesar o interesse público. “Sempre es-tiveram abertas as portas para o diálogo e nunca houve uma posição quanto ao desfecho do caso, pelo que se apela aos condóminos para o debate sobre a questão de forma racional, para que então se avance para a fase seguinte e se resolva em conjunto com a Administração esta questão.” Lau Si Io alertou os condóminos que não podem entrar no edifício – alguns queriam regressar depois de o Governo dizer que o prédio não estava em risco de ruína -, porque isso pode afectar os dados de monitorização sobre a segurança e a estrutura do prédio, “podendo, eventualmente, pôr em causa a segurança dos condóminos e a pública.” O Executivo garante que adoptará medidas necessárias para que isso não aconteça e Lau Si Io não poupa nas palavras. “Foi já criado um mecanismo de diálogo entre a Administração e os condóminos, pelo que actos mais extremistas não ajudaram a resolver a questão. Se os condóminos recusarem o di-álogo, será difícil a ambas as partes contornarem este obstáculo, o que não ajudará a resolver a questão.”

estão relacionados com a atribuição alegadamente ilegal de dez sepulturas no Cemitério de São Miguel Arcanjo.

A defesa dos respon-sáveis do IACM diz que os documentos não foram entregues a tempo para a investigação do MP, por-que ninguém conseguia encontra-los. A ideia dos advogados é que era Ng Peng In, ex-Chefe de De-partamento dos Serviços de Ambiente e Licencia-mento e ex-administrador do IACM, quem tinha os documentos.

Na semana passada, Lei Kai Fai admitiu pe-rante o tribunal que andou também à procura dos documentos a pedido do arguido Fong Wai Seng, à data chefe do departa-mento dos Serviços de Ambiente e Licenciamen-too, mas não os conseguiu encontrar.

Lei disse ainda ter estado com Yu In Leng quando esta foi à procura de documentos no arquivo da Barra, onde também

visitou o gabinete do chefe de divisão, Wong Wan, que substituía Ng Peng In e cujo escritório era o mesmo. “Ela sabia onde era e foi lá procurar os documentos sozinha.

Ela afirmou que estava à procura de documentos relacionados com os ce-mitérios e disse que eram várias caixas. “Não sei se queria levar todas. Esse gabinete era do Ng Peng In antes.” A secretária de Ng Peng In, que acabou de ser ouvida na sexta-feira, foi questionada directamente por João Nogueira Mar-ques, advogado de defesa, se tinha ido à Barra devol-ver documentos, uma vez que estes apareceram lá em Agosto, depois de ela ter estado no local. Yun In Leng negou.

Lei Kai Fai explicou ainda que chegou a levar pessoal do núcleo dos cemitérios a um ouro edifício, onde estavam guardados documentos e que foi este grupo que acabou por encontrar do-cumentos. Álvaro Rodri-

gues, defensor de Tam que desde o início teoriza que era o ex-administrador do IACM quem escondia os documentos, fez questão de frisar que o chefia deste grupo era Ng Peng In, algo confirmado pela defesa.

Na próxima sessão, Lei Kai Fai vai analisar sete pastas com documentos ligados aos cemitérios de Macau, que foram entre-gues ao funcionário por Ng Peng In. Em 2012, Ng entregou as pastas a Lei, quando este assumiu funções de chefe funcional dos cemitérios.

“Foram pastas arqui-vadas por ele”, explicou o funcionário, respondendo à defesa que era possí-vel os administradores terem documentos con-sigo no escritório e não nos arquivos. “Ele fez o reordenamento dos docu-mentos para me facilitar o trabalho, porque eu era novo, por uma questão de gestão.”

Confrontado pelos advogados do IACM, Lei admitiu que, caso Ng não

lhe tivesse dados as pastas, nunca seria possível saber que este os tinha. Recorde--se que Ng – que responde num outro processo por falsas declarações – disse em tribunal ter os do-cumentos consigo e ter pensado em queimá-los devido, tendo proposita-damente deixado de lado ajuda aos responsáveis do IACM quando estes andavam à procura deles.

Agora, a 25 de Abril, Lei vai analisar as pastas, algo requerido pela de-fesa de Tam. “Requeria que a testemunha fosse novamente notificada para vir na próxima audiência, para confrontá-lo com os documentos dessas pastas.”

Álvaro Rodrigues dis-se achar a questão perti-nente, algo contrariado pela assistente no pro-cesso, Paulina Alves dos Santos. Ainda assim, o juiz concordou com a defesa, dizendo mesmo que esta pode ser uma forma de acabar com as dúvidas de todos.

hoje macau segunda-feira 14.4.201410 CHINA

São os outros, não os chineses, que estão preocupados com a desaceleração da economia

O vice-ministro das Finanças da China, Zhu Guangyao, dei-xou claro durante a

reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) que a principal prioridade do país é a reestruturação, e não o crescimento. “Enfrentamos o desafio da desace-leração económica. Mas, sincera-mente, acredito que o exterior está mais preocupado do que nós com esta desaceleração”, afirmou.

E MBAIXADOR da Chi-na em Cabo Verde, Su Jian, anunciou na ci-

dade da Praia a intenção do seu governo em continuar a estabelecer uma cooperação com o continente africano, passando de relações bilaterais para multilaterais.

O diplomata chinês con-sidera que o seu país mantém parcerias “interessantes” com diversos países africa-nos sobretudo no sector da agricultura mas admite que a relação entre a China e estes países podem evoluir ainda mais tal como já acontece com Timor Leste, adoptando uma parceria tripartida.

“Antes de vir a Cabo Verde, eu era embaixador em Timor Leste. Nessa altura, fizemos uma parceria tripar-tida China, Estados Unidos e Timor Leste especialmente para a produção de arroz. Esta iniciativa foi muito bem-sucedida ”, afiançou.

Trata-se, segundo o em-baixador chinês acreditado em Cabo Verde, de uma experiência que pode servir de exemplo aos dois países agora que as relações entre Cabo Verde e a China se

intensificam, “passando a centrar-se nas pessoas”.

O embaixador revelou ter recebido uma proposta “muito interessante” da ministra da Agricultura de Cabo Verde, Eva Ortet, neste sentido.

“Recentemente a senho-ra ministra sugeriu-me que estudemos as possibilidades de uma cooperação triparti-da entre Cabo Verde a China e Organizações internacio-nais no sector da agricultura” acrescenta.

Su Jan disse ainda que, por ocasião do Fórum de Macau realizado em No-vembro de 2013, a China havia manifestado o interes-se em estabelecer relações tripartidas envolvendo, no caso dos países africanos da expressão portuguesa, paí-ses como Portugal e Brasil.

“No fórum de Macau realizado em Novembro, o representante da China anunciou a disponibilidade da China em cooperar com Portugal e o Brasil no esta-belecimento de cooperação tripartida com os países afri-canos de língua portuguesa”, concluiu.

O presidente do banco cen-tral da China, Zhou Xiao-chuan, disse que embora o

crescimento do crédito permaneça estável, o BC está vigilante para os riscos das dívidas no sector corporativo.

“Não devemos baixar as nossas defesas contra os riscos do crédito no sector corporativo”, disse no fórum de investimento de Boao, no sul da China.

Zhou enumerou os factores que influenciam o banco central quando a entidade formula a política mo-netária, afirmando que a inflação permanece por enquanto como o foco pricipal.

“A inflação, o crescimento do PIB, novos empregos e o equilí-brio internacional de pagamentos são as metas que consideramos ao formular a política monetária”, disse Zhou.

“Todos os factores serão ajus-tados de maneira dinâmica com base nas mudanças de condições, e é difícil dizer como avaliar os pesos respectivos de cada um”, disse Zhou, acrescentando que normalmente a meta de inflação tem o peso maior.

Os comentários vieram depois

do primeiro-ministro chinês, Li Ke-qiang, ter dito no fórum de Boao que sustentar o crescimento saudável no mercado de trabalho da China é a prioridade do governo, e que não importa se o crescimento vier um pouco abaixo da meta oficial de 7,5 por cento.

Zhou pareceu apoiar este pensamento, destacando: “Há a possibilidade de um maior ajuste à política monetária se o crescimento se desviar completamente da meta”.

O presidente do banco central da China observou que a entidade precisa de ser parte do governo para que o país cumpra os seus planos de reforma, e que há razões sólidas para que não seja completamente independente, ao contrário dos bancos centrais de outras grandes economias.

“Se o banco central não for parte do governo, não será eficiente a coordenar políticas para avançar com as reformas”, disse Zhou.

“A nossa escolha tem os seus próprios motivos racionais por detrás. Mas essa escolha também tem os seus custos. Por exemplo, se podemos lidar de forma eficiente com bolhas de activos e com infla-ção é questionável”.

Cavaco Silva visitará a China em MaioO presidente Cavaco Silva deverá visitar Pequim, Xangai e Macau em Maio, na primeira viagem oficial de um chefe de estado português à China em quase uma década, confirmou fonte diplomática à agência Lusa. A data ainda não foi oficialmente anunciada nas capitais dos dois países, mas segundo adiantou hoje o semanário Expresso, deverá coincidir com o final da campanha para as eleições europeias, marcadas para 25 de Maio. A visita coincide com o 35.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a República Popular da China. O último presidente português que visitou a China foi Jorge Sampaio, em 2005. Cavaco Silva já esteve duas vezes em Pequim, em 1987 e 1994, na qualidade de primeiro-ministro. Na primeira visita, assinou com o homólogo chinês, Zhao Zyiang a Declaração Conjunta sobre Macau, que determinou a transferência do território para a administração chinesa em Dezembro de 1999.

Heliongjiang Quinze feridosem descarrilamentoPelo menos 15 pessoas foram hospitalizadas na sequência de um descarrilamento de comboio na província de Heliongjiang, nordeste da China. Segundo confirmou hoje o Departamento provincial dos Caminhos de Ferro na sua conta oficial no Weibo – rede social chinesa equiparada ao Twitter - o incidente ocorreu esta madrugada, com um comboio de passageiros que circulava de Heihe para Harbin, cidade e capital, respectivamente, de Heliongjiang. As autoridades abriram uma investigação para apurar as causas do desastre. Os acidentes ferroviários não são comuns na China, país com uma das maiores redes ferroviárias do mundo e a nação com mais quilómetros de alta velocidade (cerca de 9.000, um número que deverá duplicar até 2015).

Fuga de óleo contagia água A fuga num tubo de óleo elevou a quantidade de benzeno químico tóxico a níveis excessivos na água de abastecimento de uma grande cidade chinesa. O incidente resultou num alerta contra a potabilidade da água. O susto, que afectou mais de 2,4 milhões de pessoas na cidade de Lanzhou, aumentou preocupações sobre a segurança das tubagens de óleo da China. No ano passado, o rompimento de um oleoduto resultou em explosões na cidade de Qingdao, matando 62 pessoas. Em Lanzhou, um oleoduto de petróleo bruto gerido pela estatal China National Petroleum tinha uma fuga que contaminou a água que alimentava um complexo local, disse a agência oficial de notícias Xinhua. A cidade de Lanzhou afirmou que tem acompanhado os níveis de benzeno em tubagens de água para garantir a segurança pública, enquanto os residentes locais faziam fila para comprar água engarrafada.

ECONOMIA PEQUIM DIZ QUE O GRANDE DESAFIO NÃO É O CRESCIMENTO

Operação reestruturação

PEQUIM QUER CHEGAR À CPLP PELAS PORTAS DE CABO VERDE

África amigaBANCO CENTRAL CRESCIMENTO DO CRÉDITO É FIRME MAS HÁ RISCOS

Quem muito deve, pouco acerta

Zhu apontou a criação de empregos, a questão ambiental e a aprovação de legislação para flexibilizar os orçamentos das províncias mais endividadas como os principais objectivos do governo chinês.

Os comentários de Zhu vão de encontro aos feitos pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, num encontro de líde-

res empresariais e políticos que teve lugar a semana passada, na China. Li afirmou que Pequim não recorrerá a novas medidas de estímulo só para alcançar a meta de crescimento de 7,5% e que está disposto a aceitar alguma flutuação na medida em que o crescimento diminui.

Esta mensagem pode de-cepcionar os investidores que

apostaram recentemente que o governo chinês terá que agir para conter a desaceleração eco-nómica. A China divulgará na próxima quarta-feira os números do Produto Interno Bruto (PIB) para o primeiro trimestre e muitos economistas estão a reduzir as suas previsões.

Zhu minimizou também as preocupação dos EUA e do FMI com a recente desvalorização do yuan e o potencial impacto no comércio após a decisão do Ban-co do Povo da China (PBOC, o banco central do país) de permitir que a moeda flutue.

Zhu afirmou ainda que o Fe-deral Reserve precisa de dar mais atenção ao impacto que as suas políticas causam a nível global. Segundo o vice-ministro, a dimi-nuição do programa de compras de bónus do Fed deve afectar a China e o resto do mundo.

PUB

hoje macau segunda-feira 14.4.2014 11 china

Flexibilizadas restrições sobre investimentos no exterior

A China vai flexibilizar restrições sobre in-vestimentos internacionais por empresas

locais e negócios abaixo de mil milhões de dólares não vão precisar de aprovação, afirmou o órgão de planeamento económico do país, em mais um passo para facilitar o crescimento do investimento privado.

A partir de 8 de Maio, companhias chinesas que planeiam investir menos que mil milhões de dólares apenas precisarão registar a intenção em vez de procurar a benção da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, informou o órgão em comunicado divulgado no final da quinta-feira.

Numa série de reformas divulgadas em No-vembro, a China prometeu abrir o mercado através da simplificação do controlo administrativo e para restringir a gestão do governo central de questões microeconómicas.

T RÊS navios da guarda costeira chinesa nave-garam no sábado nas

águas das ilhas disputadas com o Japão e que são for-malmente controladas por Tóquio, revelou a guarda costeira japonesa.

Os navios chineses en-traram nas águas exclusivas das ilhas Diaoyu, pelas 9:00 e deixaram a zona cerca de duas horas depois, referiu a guarda costeira japonesa.

Navios chineses e avi-ões têm regularmente rea-lizado este tipo de incursão no arquipélago localizado no Mar da China Oriental depois de o Japão ter nacio-nalizado algumas daquelas ilhas em Setembro de 2012, dando início a uma série de incidentes numa disputa territorial de longa duração.

MINISTRO VISITA SANTUÁRIO CONTROVERSO Entretanto, enquanto os navios chineses frequen-

tavam as águas territoriais das Diaoyu, o ministro do Interior e Comunicação japonês, Yoshitaka Shin-do, visitava o controverso santuário Yasukini, em Tóquioque a China e Co-reia do Sul consideram um símbolo do passado militarista do Japão.

A visita ao templo foi reportada pela agência Jiji Press e o jornal Yomuri Shimbun. Em Dezembro, Shinzo Abe visitou pela primeira vez o santuário na qualidade de primeiro--ministro japonês.

O templo de Yasukuni homenageia os milhões de japoneses mortos em combates entre 1853 e 1945, incluindo cinco altos oficiais executados por crimes de guerra depois da II Guerra Mundial.

CHINA PROTESTA Como seria de esperar, o Ministério dos Negócios

Estrangeiros da China já apresentou um protesto contra o Japão logo no sábado.

A China, bem como a Coreia do Sul, já de-monstrou diversas vezes ser contrária às visitas de políticos japoneses ao Santuário Yasukuni.

O MNE da China disse que a visita de Yoshitaka Shindo, ministro de as-suntos internos do Japão, mais uma vez mostrou que o governo do Japão teve a “atitude errada” quando se trata de enfrentar a História.

“Exortamos o Japão a adoptar uma atitude correc-ta em questões de história, sinceramente enfrentar os apelos à justiça dos seus vizinhos asiáticos e da co-munidade internacional, e acabar com todos os actos de provocação que vão contra a maré dos tempos”, afirmou o Ministério em comunicado.

TRÊS NAVIOS CHINESES JUNTO ÀS DIAOYU

Ilhas pródigas

EXPOSIÇÃO NO BELA VISTA

12 hoje macau segunda-feira 14.4.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

NÃO É MEIA NOITE QUEM QUER • António Lobo AntunesO enredo do livro desenvolve-se em três dias, sexta-feira, sábado e domingo. Uma mulher com perto de cinquenta anos vai passar um fim-de-semana na casa de férias da família, numa praia não identificada. A casa, modesta, foi vendida e ela quer despedir-se da casa, mas também relembrar tudo o que se passou ali - a sua infância com os pais e os irmãos, o suicídio do irmão mais velho, o irmão surdo-mudo, o complexo e dramático relacionamento dos pais, a menina da casa em frente, sua amiga do tempo de férias. Vem depois a sua vida actual, mal casada, sem filhos, professora numa escola como tantas outras, com uma relação frustrante e sem entusiasmo com uma colega mais velha. O falhanço que é a sua vida reflecte-se na casa há muito desabitada e nos sonhos de todos eles, ali irreme-diavelmente enterrados. A despedida da casa pode levá-la a imitar o irmão mais velho e, no domingo, atirar-se das arribas e encerrar ali uma vida sem futuro.

U MA das mais antigas livrarias de Pequim tornou-se esta se-mana a primeira da

cidade a estar aberta toda a noite, numa tentativa de acor-dar o público para o prazer da leitura e dos livros.

A iniciativa só será formal-mente lançada a 23 de Abril, mas a livraria Sanlian Taofen, no centro de Pequim, já come-çou a testar o novo horário (24 hora por dia) e logo na primeira noite facturou mais de 14.000 yuan, correspondendo a 150 vendas, disse a imprensa local.

Outra fonte de atracção, o café do segundo piso da livraria, gerido por uma ca-deia chamada “Esculpindo o

P ORTUGAL tem “convite aberto” para a próxima edição do projeto “Ace”,

que une arquitectura, cultura e sustentabilidade e é organiza-do pelo Instituto de Estudos Europeus em Macau (IEEM), disse o presidente daquela entidade.

“Programas como o Ace são oportunidades únicas para trocar ideias e falar de experi-ências diferentes, procurando também encontrar soluções que dizem respeito ao urbanismo e arquitectura sustentável”, disse José Luís Sales Marques, à margem da sétima edição do programa Arquitectura, Cultura e Ambiente (Ace).

“Estivemos presentes em Portugal em 2009 e 2011 em Vila Viçosa e foi uma experiência absolutamente fantástica para todos nós”, disse o presidente do IEEM.

Esta experiência em Por-tugal, disse, permitiu que o grupo de professores e alunos trabalhassem nas áreas das “minas de mármores, tornando a experiência inesquecível”.

O projecto Arquitectura, Cultura e Ambiente “nasceu”

Mirtilo

Paula BichoNaturopata e Fitoterapeuta • [email protected]

Nome botânico: Vaccinium myrtillus L.Família: Ericaceae.Nomes populares: Arando; Erva-escovinha; Uva-do-monte.

Nativo das zonas montanhosas e frias da Europa e América do Norte, o Mirtilo é um pequeno arbusto que atinge o meio metro de altura. Apresenta caules verdes e angulosos, folhas ovaladas e caducas e pequenas flores delicadas em tons rosa; o fruto é uma baga esférica, primeiro vermelha, depois azul-violácea com a maturação.Conhecido há muitos séculos, o Mirtilo era um alimento muito apreciado pelo seu elevado valor nutritivo. As suas propriedades medicinais são conhecidas desde a Idade Média, altura em que era designado por Vacinia ou Mora Agrestis. Foi referido por vários autores medievais, entre o quais Santa Hildegarda, abadessa beneditina do século XII. Os frutos são cada vez mais usados, na alimentação e em fitoterapia, embora as folhas também sejam medicinais.

COMPOSIÇÃOTaninos, antocianósidos, mirtilina, com-postos fenólicos, ácidos orgânicos, açú-cares, pectinas, carotenos, flavonoides, vitaminas (A, C, E e complexo B) e sais minerais. Sabor adocicado levemente ácido.

AÇÃO TERAPÊUTICAUm dos frutos com maior actividade antio-xidante, o Mirtilo apresenta propriedades tónicas e protectoras sobre os vasos capilares e venosos, aumentando a re-sistência das suas paredes e diminuindo a sua permeabilidade; desta forma impede a saída de líquido para os tecidos, reduzindo o edema e a inflamação, bem como detém pequenas hemorragias. Estudos científicos apoiam a sua administração na fragilidade capilar e nas perturbações circulatórias do sistema venoso, tais como edema dos membros inferiores, sensação de peso e dor nas pernas, varizes, flebites, úlceras varicosas e hemorroidas. Estas bagas actuam ainda sobre os capilares da retina, melhorando a irrigação das células sen-síveis à luz (bastonetes) e regenerando a sua púrpura retiniana (rodopsina), de que resulta uma maior rapidez na adaptação à obscuridade e melhor acuidade visual nocturna; têm por isso sido empregues

em retinopatias, degeneração macular, miopia, cataratas, glaucoma, cegueira nocturna e xeroftalmia.Para os diabéticos, o Mirtilo é uma planta de excelência: além das propriedades enu-meradas, úteis na prevenção e tratamento das complicações vasculares associadas à diabetes, inclusive a retinopatia diabética, reduz ainda os níveis de açúcar no sangue.

Outras propriedadesAdstringente e tonificante sobre o aparelho digestivo, o Mirtilo desinflama e normaliza o funcionamento do intestino, combate vómitos, tem acção anti-bacteriana contribuindo para a regulação da flora intestinal e prevenindo fermentações e putrefacções; tem sido usado nas diarreias e nos parasitas intestinais, especialmente oxiúros, que ajuda a expulsar. Pela sua acção antissética sobre o trato urinário inferior é ainda empregue no tratamento das infecções urinárias (cistites, uretri-tes), permitindo evitar recaídas quando tomado de forma continuada (de um a três meses).

COMO TOMAR• Uso internoFrutos frescos: 50 a 100 gramas por dia, como forma de tratamento. Alimentícios e refrescantes, os Mirtilos podem ainda ser ingeridos como uma fruta, adicionados ao iogurte ou aos cereais de pequeno-almoço. Como sobremesa, o cheesecake e a tarte de Mirtilos são muito apreciados.Infusão dos frutos secos esmagados: 2 colheres de chá por chávena de água fervente, 10 minutos de infusão. Tomar 3 a 6 chávenas por dia.Na forma de sumo, ampolas, tintura, xaro-pe, cápsulas e comprimidos, participando de numerosas fórmulas para a visão, circulação e diabetes.

PRECAUÇÕESDevido ao conteúdo em taninos pode pro-vocar agravamento em caso de gastrite ou úlcera gastrintestinal – evitar doses elevadas ou tratamentos prolongados. Por inibir a agregação das plaquetas pode interferir com medicamentos an-tiagregantes plaquetários (aspirina) e anticoagulantes (varfine). Nos diabéticos pode ser necessário ajustar a dose dos antidiabéticos orais ou da insulina. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.

HOJE NA CHÁVENA

MACAU CONVIDA PORTUGAL A PARTICIPAR EM PROGRAMA SUSTENTÁVEL

Junta-te a nós companheiro

PRIMEIRA LIVRARIA DE PEQUIM ABERTA TODA A NOITE QUER ACORDAR O PÚBLICO PARA A LEITURA

As 24 horas de Sanlian TaofenTempo”, também está aberto toda a noite. A ideia inspira-se no sucesso de uma livraria de Taiwan, Eslite, que há treze anos adoptou aquele horário.

“Quando visitei Taiwan, em 2010, fiquei emocionado com o grande número de leito-res que encontrei uma noite na livraria Eslite”, disse o presi-dente da empresa proprietária da Sanlian Taofen, Fan Xian.

Segundo uma sondagem da

Academia Chinesa de Impren-sa e Publicações citada pelo Global Times, em média, os chineses entre os 18 e 70 anos leram apenas 4,39 livros e 2,35 livros electrónicos em 2012, o que equivale a menos de meia hora de leitura por dia. “Os nú-meros melhoraram em relação a 2011, mas são ainda muito inferiores aos de muitos outros países”, comentou o jornal.

No relatório apresentado

Amanhã, dia 15 de Abril, inaugura na residência consular, ex-Hotel Bela Vista, uma exposição de gravura de Nim Castanheira.

UM DENTISTA EM XANGAI, POR VOLTA DE 1890

13 eventoshoje macau segunda-feira 14.4.2014

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

NÃO É MEIA NOITE QUEM QUER • António Lobo AntunesO enredo do livro desenvolve-se em três dias, sexta-feira, sábado e domingo. Uma mulher com perto de cinquenta anos vai passar um fim-de-semana na casa de férias da família, numa praia não identificada. A casa, modesta, foi vendida e ela quer despedir-se da casa, mas também relembrar tudo o que se passou ali - a sua infância com os pais e os irmãos, o suicídio do irmão mais velho, o irmão surdo-mudo, o complexo e dramático relacionamento dos pais, a menina da casa em frente, sua amiga do tempo de férias. Vem depois a sua vida actual, mal casada, sem filhos, professora numa escola como tantas outras, com uma relação frustrante e sem entusiasmo com uma colega mais velha. O falhanço que é a sua vida reflecte-se na casa há muito desabitada e nos sonhos de todos eles, ali irreme-diavelmente enterrados. A despedida da casa pode levá-la a imitar o irmão mais velho e, no domingo, atirar-se das arribas e encerrar ali uma vida sem futuro.

SÃO FRANCISCO DE ASSIS • Augustine ThompsonUm dos santos mais populares da religião católica, São Francisco de Assis (c. 1181-1226) é lembrado pela sua dedicação à pobreza, o amor pelos animais e a natureza, e o desejo de seguir os ensinamentos e o exemplo de Cristo. Nesta nova biografia, Augustine Thompson, baseando-se em novas fontes históricas, separa, pela primeira vez, o homem da lenda. O re-sultado é um retrato complexo e fidedigno tanto do homem como do santo.

Curso de vinhos na Rádio Macau O programa “Vinhos na Rádio” (emitido semanalmente na Rádio Macau) promove nos dias 17 e 18 de Abril, no Museu do Vinho, um curso de vinhos. O curso, ministrado em língua portuguesa, será orientado pelo conceituado jornalista João Paulo Martins (Revista de Vinhos, Expresso e autor do mais conhecido guia sobre vinhos portugueses). Durante o curso vão ser provados cerca de 20 vinhos portugueses e de outros países produtores. O curso decorrerá na quinta-feira, 17 de Abril, entre as 19 e 21 horas e na sexta-feira, 18 de Abril, entre as 16 e 20 horas, no Museu do Vinho. Inscrição: 900 patacas, através do telefone 66811109 ou pelo e-mail [email protected]

Loja alemã vende canecas com foto de HitlerUma loja de utilidades alemã teve que se retratar publicamente por causa de um dos produtos que estava nas suas prateleiras. A pequena rede tinha colocado à venda cinco mil canecas que tinham o retrato de Hitler impresso em porcelana. Segundo Christian Zurbrueggen, co-proprietário da rede de lojas Zurbrueggen, 175 unidades das canecas foram vendidas antes que o problema fosse percebido. Ainda de acordo com Zurbrueggen, a loja não tinha a intenção de vender tal produto. Agora, a loja está a retirar todas as unidades de circulação. Para isso, os 4.825 artigos restantes foram destruídos e oferece-se 20 euros a quem devolver o produto. As canecas possuem várias estampas de decoração sobre o retrato de Hitler. Há também uma suástica, símbolo do nazismo, impressa no material. Os produtos foram fabricados na China.

MACAU CONVIDA PORTUGAL A PARTICIPAR EM PROGRAMA SUSTENTÁVEL

Junta-te a nós companheiro

PRIMEIRA LIVRARIA DE PEQUIM ABERTA TODA A NOITE QUER ACORDAR O PÚBLICO PARA A LEITURA

As 24 horas de Sanlian Taofen

há dez anos, em Macau, pela iniciativa do IEEM e da Universidade Politécnica de Milão, e pretende “levar à prá-tica projectos de arquitectura e construção, nomeadamente edifícios públicos ou projectos

que sejam financiados pela administração”, explicou José Sales Marques.

Ainda não foi apresentada oficialmente a data para a oi-tava edição, mas o programa contará com novos países

Outros tempos, outros métodos, outras dores. Arrancar um dente era tão difícil como hoje pagara renda em Macau.

participantes, como o caso do Japão e Singapura. “Estamos sempre disponíveis para que outros países e as suas entida-des de ensino e investigação se juntem a nós”, concluiu José Sales Marques.

o mês passado à Assembleia Nacional Popular, o primeiro--ministro chinês, Li Keqiang prometeu “encorajar o povo a ler”, o que foi interpretado como um sinal da importância que o governo atribuiu ao fenómeno.

Desde o início deste ano, os impostos sobre os livros vendidos em livrarias bai-xaram e foi criado um fundo especial de um milhão de yuan para apoiar o comércio livreiro tradicional, refere o Global Times, jornal em lín-gua inglesa do grupo Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista Chinês.

A Sanlian Taofen, fundada em 1948, tem cerca de 80.000 títulos à venda, espalhados por 1.500 metros quadrados.

Sede de um município com cerca de vinte milhões de habitantes e uma área equivalente a quase metade da Bélgica, Pequim é consi-derada a “capital cultural” da China, enquanto Xangai é a “capital económica”.

Um romance de 300 pági-nas de um autor estrangeiro custa cerca de 30 yuan, o que corresponde ao dobro do salário mínimo à hora em Pequim.

PUB

hoje macau segunda-feira 14.4.201414 publicidade

Request for Proposal - Duty Free Services Subconcession at Macau International Airport

1. Company: Macau International Airport Company Limited (CAM).2. Tendering method: Open tender.3. Tender objective: To select TWO bidders to operate the Duty Free Services

Subconcession at Macau International Airport. 4. Location and size: Approximately 1,122 m2 (Option A) and 1,130m2 (Option B) at

the airside of the departure level of Macau International Airport.5. Validity of the Bidders’ tenders: The validity period of the Bidders’ tenders shall be

180 days counting from the deadline for submission of proposals.6. Minimum qualification:

For details, please refer to Page 11 of the RFP.7. Location and time to request tender documents:

Macau International Airport Company Limited (CAM)4th Floor, CAM Office Building, Avenida Wai Long, Taipa, Macau S.A.R.Monday to Friday (except holidays) 9:00a.m-1:00p.m and 2:30p.m to 5:30p.m until the deadline for submission of Bidders’ tenders, or to download through www.macau-airport.com and www.camacau.com

8. Location and deadline for submission of Bidders’ tenders:Macau International Airport Company Limited (CAM)4th Floor, CAM Office Building, Avenida Wai Long, Taipa, Macau S.A.R.12:00 noon of 3 June 2014.

9. Tender evaluation criteria: Experience and Qualifications 150 pointsCustomer Service 200 pointsFinancial 340 pointsMarketing and Operation Plans 160 pointsDesign and Proposed Capital Investment 150 points-----------------------------------------------------------------------------------Total 1,000 points

hoje macau segunda-feira 14.4.2014

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

15

PARA ALÉM DO BEM E DO MAL

N ÃO é segredo nenhum. No final da dé-cada de 1930, em plena guerra sino--japonesa, o poeta W.H. Auden esteve em Macau. Na companhia de Christo-

pher Isherwood, Auden viajou pela então República da China no momento em que, pela segunda vez em poucas décadas, a vontade de domínio imperial do Japão desencadeava nova guerra. “Journey to a War”, escrito a duas mãos entre Auden e Isherwood, foi o livro que resultou da aventura. Ao registo diarístico do companheiro de viagem, Auden juntou sonetos. Um é dedicado a Macau.

“A weed from Catholic Europe, it took rootBetween the yellow mountains and the sea,And bore these gay stone houses like a fruit,And grew on China imperceptibly.

Rococo images of Saint and SaviourPromise her gamblers fortunes when they die;Churches beside the brothels testifyThat faith can pardon natural behaviour.

This city of indulgence need not fearThe major sins by which the heart is killed,And governments and men are torn to pieces:

próximo oriente Hugo Pinto

Religious clocks will strike; the childish vicesWill safeguard the low virtues of the child;And nothing serious can happen here.”

Mais tarde, Auden haveria de rever o poema. Os terceiro e quarto versos, por exemplo, foram mudados para “Its gay stone houses an exotic fruit/A Portugal-cum-China oddity”, e onde havia “This city of indulgence...” ficou “A town of such indulgence need not fear/Those mortal sins by which the strong are killed/And limbs and governments are torn to pieces”.

Como nota George Monteiro, da Universidade de Brown, com as alterações Auden pintou um “diferente quadro moral de Macau”, na versão mais recente apresentada já num contexto de “grandes guerras”. De “grande destruição”.

Os “homens” que se despedaçam são agora “membros”; os “pecados maiores” passaram a “mortais”. Mas a cidade

“não precisa de temer”. Intocável, a conclusão permanece: “And nothing serious can happen here”.

Será? Por quê? Foi a entrega ao prazer? Foram as “igrejas ao lado de bordéis”, testemunhando que “a fé perdoa o comportamento natural”, pecados maiores ou mesmo capitais? Por que será que “nada de grave pode acontecer aqui”? Nada de grave acontece aqui?

Qualquer coisa de pouco séria Auden entreviu. Terá sido a “erva daninha que se enraizou” fora da sua natureza, longe do chão onde pertenceria e onde estava destinada a crescer. Terá sido a “esquisitice”, ou, de forma mais benigna (mas ainda assim acusatória), a “extravagância” de Portugal e da China, duas realidades opondo-se, contrariando-se, cultural e moralmente. Que sentido apreender e fazer?

Não há castigo para os pecados que são muitos e grandes e cometidos sem um módico de vergonha ou arrependimento. Os bordéis são construídos paredes meias com igrejas e o que se passa nos prostíbulos ouve-se nos confessionários. Todavia, nesta história não há penitentes, apenas incautos.

Nem o que de mais “grave” ou “sério” existirá – as pessoas e as suas vidas, que, como os “governos”, noutros sítios são “desfeitas em pedaços”, precisam de temer ou sequer fingir qualquer sentimento respeitoso. Livres do “mal”, estamos também livres do “bem”. Resta o quê?

POR QUE SERÁ QUE “NADA DE GRAVE PODE ACONTECER AQUI”? NADA DE GRAVE ACONTECE AQUI?

HUGO

PIN

TO

16 hoje macau segunda-feira 14.4.2014h

RamiRo TeixeiRa

Este “menino bem” da geração 50 tinha, simul-taneamente, algo de “enfant gâté” e de “enfant terrible” e estas contradições pagam-se… Como escritor destoava quer do meio social, quer das vigências literárias da época e era um “british” quando os estrangeirados aceitáveis de então tinham como modelo a França…

Rodrigues da Silva, 12/12/1988: “O Testemunho de um Desencontro”

R UBEN A. destoava tanto do paradigma literário (e não só) que Salazar, pela leitura de “Páginas II”, considerou que

o livro ou era de um louco ou de um sujeito que se propunha rir dos leitores:

“Caiu-me ontem debaixo dos olhos um livro, “Páginas II”, de Ruben A., que me dizem ser leitor de Português em Londres, escolhido portanto ou patro-cinado pelo Instituto de Alta Cultura. Pertence a uma boa família do Porto - Andresen, creio. O livro, ou é de um louco ou de um sujeito que, tendo di-nheiro para pagar um livro de dislates, se propôs rir-se de todos nós. Há pági-nas inteiras ininteligíveis e irredutíveis na análise das regras da gramática portu-guesa, recheadas de termos de invenção do Autor e formadas sem tom nem som. Explora-se o reles, o ordinário, o pala-vreado porco, não só da língua literária, mas do falar corrente.

As porcarias, obscenidades, pala-vrões juncam o livro. Em certas passa-gens é chocarreiramente desabrido com os ingleses.

Parece-me que o livro pertence a uma onda modernista, e não é caso para a Censura é para o polícia de costumes. Mas se o Autor é leitor em Londres, nessa qualidade temos nós de ver o que escreve e como escreve. Em conclusão: o Autor não pode representar Portugal nem en-sinar português. Este é que é o ponto essencial a tratar com o Instituto de Alta Cultura. E já não falo de certas taras mo-rais ou sexuais do livro onde se vê que o Autor deve pertencer aí a um círculo de pessoas que a polícia persegue…”

Isto é deveras curioso, antes de mais porque da obra em questão, à semelhan-ça do 1º volume, venderam-se ao todo cerca de 30 exemplares! Aliás, de acordo com a informação que esta biografia re-gista, em Setembro de 1951, a Coimbra Editora dá a conhecer ao escritor “que este ano venderam-se 4 exemplares do primeiro volume e 3 do segundo…”

Depois a que título é que Salazar te-ria descoberto e se debruçado sobre esta obra? Retornando à razão da leitura de “Páginas II” por Salazar, explicou o bio-

A VIDA AVENTUREIRA DE RUBEN A.

grafado a Liberto Cruz, que o questio-nou em devido tempo sobre o assunto, ter existido certa senhora, sob as iniciais M.A.L. que, despeitada por razões que não vêm ao caso, ofereceu a obra ao dita-dor sem pensar nas consequências, o que Ruben A. punha seriamente em dúvida…

Fosse como fosse, certo é que Sala-zar, depois de ter accionado em vão a máquina persecutória, que em Londres pouco valia, ao ponto do reitor da Uni-versidade de Londres salientar perante o embaixador de Portugal que se não deixava o Governo trabalhista meter o nariz na Universidade, muito menos o deixaria a um governo estrangeiro, e mais declarar, para arrumar a questão, ponderar acabar com o leitorado de Português e contratar Ruben A. como professor da cadeira.

De forma que, passado algum tempo, Salazar veio a orientar os persecutores, em face das informações que lhe foram transmitidas, com a seguinte indicação:

“Não há objecção ao que se preten-de (a continuidade no cargo) dado que o maluco do homem tem habilidade e competência para o cargo.”

Pessoalmente creio que este deva-neio de crítica literária de Salazar e mais o que dela o ditador preconizou, a breve trecho revisto, foi não só ter concluído não fazer sentido criar um conflito di-plomático, ligeiro que fosse, em face da posição do reitor da universidade, mas igualmente pela circunstância de o autor pertencer “a uma boa família do Porto.”

Curiosamente, também Agustina Bes-sa Luís, por razões que não vêm ao caso, alinha com os comentários críticos de Salazar. Em “Os Meninos de Ouro”, sob

a caracterização da personagem de nome Farina, que no romance supra aparece como uma espécie de revisor de ideias e dos escritos de Matildes, recriação de Sá Carneiro, o singulariza da seguinte forma:

“Farina era um medíocre que se de-sempenha de um cargo difícil através do descaramento dos processos; numa sociedade normalizada ele nunca tivera cabimento; mas a revolução dera aos co-leópteros a virtude de se julgarem aves com quatro asas…;

De um modo geral Farina parecia ri-dículo, com os seus romances que eram obra de cordel para psicopatas. Não sa-bia escrever, e tirava-se de apuros usando o estilo armoriado de desleixos gramati-cais e sensibilidade inovadora (p.79/80).”

Aceite que seja esta crítica no âmbi-to literário, tanto quanto julgo reforçada por factores exógenos provenientes de negócios mal sucedidos, teremos de ter em conta que, no caso, Ruben A. foi um homem de sete instrumentos, entre os quais o de negociante de peças artísti-cas, mobiliário, livros, porcelanas, pratas, pintura, etc., sendo provável que alguma transacção acabasse por não sair a con-tento de uma das partes… De um Rodin que o escritor possuía e que inclusive foi por si emprestado à Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, por ocasião do cin-quentenário do falecimento do escultor e da exposição que aí se realizou, veio de-pois a saber-se que era falso…

À margem porém destes pormenores, se uma imensa maioria celebrou entu-siasticamente o escritor, aqui e além não faltaram vozes credenciadas dissonantes para além das já registadas, como por exemplo a de Óscar Lopes, que a pro-

pósito de “A Torre de Barbela” (recusada tanto por Lyon de Castro, da Europa--América, como por Snu Abecassis, da D. Quixote), considera ser “um romance que poucas pessoas de bom gosto terão a coragem de ler todo, sem saltar mui-tas páginas, salvo se o tiverem de fazer, como eu, por dever de ofício…” - o que não impediu, todavia, que um excerto do mesmo tenha sido dado no exame final dos Estudos de Linguística da Faculdade de Letras de Lisboa e que um ano depois, em 1968, fosse escolhido como leitura obrigatória para a prova oral do exame final de português na Université de Hau-te Bretagne de Rennes, provavelmente, penso eu, por deliberação de Liberto Cruz que aí ministrava o ensino.

A verdade é que o estilo da escrita de Ruben A., pelo desassombro da sua composição e recursos inusuais, dando--nos a ideia duma escrita artificial, entre a frivolidade e um realismo sobrecarre-gado de incidências absurdas, até por-que não colhia similitude com nada do que se escrevia então, não facilitou o entendimento, gerando algumas opini-ões curiosas não só sobre o estilo da sua escrita como da sua proveniência social.

Luísa Dacosta, por exemplo, atenta sobre ele do seguinte modo:

“Felizmente, Álvaro de Campos, ain-da há gente no mundo. Ainda há quem confesse fracassos, inconsciência, enxo-valhos, menos inteligência que os ami-gos… Quem? Um Rubirosa filho-família, dividido entre o ténis, os piqueniques no Guincho, o bridge, nascido para os luga-res de Director, de Administradores, de Ministros, de Chefes, todo o concentra-do no direito a uma viagem à Alemanha para praticar a pouca vergonha, e festejar a maioridade e um seguro a receber. Ins-talado naquele reduto de alta burguesia, constantemente a casar com os restos amolecidos da aristocracia, numa incons-ciência de viver, fora das angústias do mundo circundante.” (pp.175).

Na qualidade de um dos meninos de ouro, segundo o apodo de Agustina, Ru-ben A. nasceu e viveu fora das angústias do mundo circundante, o que não in-valida ter passado maus bocados, ainda que sempre relativos comparativamente ao vulgo. No genérico, porém, para ele a vida foi uma festa.

Com apenas 18 anos inicia-se como viageiro do mundo, percorrendo a Ale-manha, onde se confronta com os pri-mórdios da perseguição aos judeus pelos nazis, Áustria, França, Inglaterra, Brasil, Holanda, USA, Suécia, Dinamarca, Noruega, Lapónia, Espanha, Itália, Gré-cia, Egipto, Líbano, Turquia, Checos-lováquia, etc., conhecendo e amando

17 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 14.4.2014

Portugal, de norte a sul, como poucos, ao ponto de proclamar o seguinte: “O grande defeito do homem público, no Poder ou fora do Poder, é o desconhe-cimento quase total, muitas vezes assus-tador, da terra portuguesa. Vivemos no abstracto, cheios de teorias, cheios de discussão (…) Quem conhece a Terra? Quem conhece o português?” – reco-mendando as obras de Orlando Ribeiro, Jorge Dias e Miguel Torga, entre outras.

Quanto a lugares de destaque, teve os que teve, desde logo o de professor de Francês da Escola Comercial Filipe de Vilhena, no Porto, de que era direc-tor Pedro Homem de Melo, que se por um lado o massacrava com a recitação de poemas seus a toda a hora, por outro deu-lhe a conhecer o Minho, onde Ru-ben virá a construir a casa Sargaço, ar-rojada como ele próprio o era, em Car-reço, a poucos quilómetros de Viana; depois como professor de História na Escola Rodrigues Sampaio, em Lisboa; a seguir como bolseiro do Instituto da Alta Cultura em Londres, onde obtém o diploma de Master of Arts no King’s College e a nomeação de leitor de Por-tuguês no mesmo estabelecimento. Se-guem-se as funções de examinador nas Universidades de Oxford e Cambridge, sob a direcção de Charles Boxer; de palestrante na BBC; de colaborador do jornal “Diário Popular”; de adido cultu-ral da Embaixada Brasileira em Lisboa; de Conservador do Instituto de Cultura Brasileira da Faculdade de Letras de Lis-boa; de representante da Academia Por-tuguesa de História; e só não o de pri-meiro director do Centro Cultural Ca-louste Gulbenkian, em Paris, a convite de Azeredo Perdigão, porque o recusa!

Entretanto, o Department of State oferece-lhe uma visita aos EUA duran-te 40 dias, onde realiza seminários nas universidades mais importantes, a que se segue a nomeação de Administrador da Imprensa Nacional/Casa da Moeda e

depois a de Director-Geral dos Assuntos Culturais do Ministério da Educação e Cultura; sócio correspondente da Acade-mia Brasileira de Letras, etc. E finalmente o convite para Professor Associado na Universidade de Oxford, que aceita, re-gressando a Londres, onde virá a falecer.

Também não lhe faltaram comendas, desde a Medalha de Honra da Incon-fidência, do Estado de Minas Gerais, à Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

Como refere Luísa Dacosta, o Rubi-rosa filho-família, teve o estatuto inerente à qualidade ou afim à origem do seu nascimento.

Ficcionista, dramaturgo, diarista, crítico literário, ensaísta, historiador, di-vulgador cultural, etc., difícil será avaliar em quais destes segmentos terá sido mais representativo ou colhido maior êxito, ainda que por mim o aprecie sobrema-neira através de “Páginas”, num total de 6 volumes, publicados entre 1949 e 1970, e “O Mundo à Minha Procura”, três volu-mes, entre 1964 e 1968, ou seja, através da sua autobiografia ou registo diarista, riquíssimo em memórias, peregrinações existenciais e geográficas, divagações, comentários, incursões históricas, etc.

Prosador de vanguarda e de escrita vertiginosa, tenho-o como um Joyce à portuguesa, fazedor de um novo “Ulis-

ses”, senão mesmo de um outro “Finne-gans Wake”, pelas rupturas que imple-mentou na gramática portuguesa. Tal como o tenho por leitor de Boris Vian.

“A Torre de Barbela”, por exemplo, bem pode passar pelo relato deambu-latório de um Ulisses colectivo, que na odisseia portuguesa, desde os primór-dios da nacionalidade aos descobrimen-tos, passando pela guerra civil e a revo-lução republicana, estabelece similitude com a recriação de Joyce. Do mesmo modo, “Kaos”, que alguns consideram incompleto, tal e qual como “Finnegans Wake”, que não possui princípio nem fim, pretendendo apenas relatar a obra em progresso, isto é, uma obra que se faz fazendo-se, sem regras e sem outras intenções que não a acumulação de fac-tos e dos acontecimentos no estado vir-gem em que acontecem ou surgem por epifania. Como ele refere algures, o que escrevia era uma confusina para quem não tiver periscópio…

A realidade é que a confusina não se limitou apenas à literatura: toda a sua vida foi uma confusina permanente, des-de logo accionada por um tipo de com-portamento febricitante, com semanas, meses e anos eléctricos, programando eventos boémios e domésticos, jantares e patuscadas, excursões para os amigos, representações teatrais, encontros e de-sencontros culturais e de aventura.

Os projectos nele eram como as mu-lheres que amou, mais do que muitos: ad-vogando a criação de um Instituto Portu-guês em Londres, tal como um Instituto de Cultura em Goa e Instituto Luso-Ame-ricano em Lisboa; um Prémio Paisagem e Turismo, um Museu de Cristo, com o be-neplácito de José Régio, o Museu Regio-nal de Viana do Castelo para acolher o espólio da Fábrica de Faiança de Darque; uma Exposição de Azulejaria Portuguesa destinada à URSS e aos USA; um Inven-tário das Fontes e Chafarizes de Portu-gal; um Plano Rodoviário para 1975/80, a criação de Lares Cheshire, à semelhança dos que existiam em Inglaterra; a Semana Musical de Viana do Castelo, a Fundação Camões, etc., etc.

Como refere alguém, ninguém sabia como é que Ruben arrumava a cabeça na confusão da vida que levava e dos projectos que programava, por entre a escrita e as funções que exercia e que não consta que fosse relaxada, bem pelo contrário. Aliás, tudo quanto o moti-vasse, por mais improvável que fosse a sua realização, era detalhado com rigor, desde os percursos de veraneio e res-pectivo roteiro, locais de refeição e de dormida, até aos cadernos de encargos e de actividade, localização e perfil de pessoal a contratar, a par dos contactos a estabelecer para as fundações e demais instituições que idealizava criar.

Não obstante este rigor e expressão de raciocínio organizado, o sentido de

liberdade que o possuía, ausente de to-das as formas paradigmáticas, ora sob a capa de humor e despreendimento incontrolado, ora através duma atitude crítica acutilante, era fenomenal, com atitudes totalmente inesperadas, desde a prática de nudismo no areal da Granja, nos idos de 50 do século passado, até se passear em pelota no Pártenon, para não destoar das imagens expostas, depois do encerramento ao público do Museu, aquando da sua viagem à Grécia! E que dizer da viagem que fez num velho táxi adquirido em Londres, desde esta cida-de até à casa que edificara em Sargaço, finda a qual teve artes de vender a viatu-ra pelo preço que a comprou?!

Nesta perspectiva, digamos que Ru-ben A. foi bem adubado por Agostinho da Silva, de quem foi discípulo e que qualifica como o homem mais culto, mais lido com quem conviveu.

Dito isto sobre o autor epigrafado, fica-nos para análise a organização des-ta biografia sob os cuidados de Liberto Cruz e Madalena Carretero Cruz, que se revela de importância fundamental para o conhecimento da personalidade de Ruben A., dando-nos a conhecer o Ho-mem e a sua existência polifacetada, os seus amores, as suas esperanças e convic-ções, as suas relações, enfim, a aventura da sua vida. Fizeram-na não só com com-petência, bem organizada e graduada no interesse que despertam no leitor, mas também com uma dupla sensibilidade: a que vem do cérebro e a do coração. Ou seja; não nos apresentam uma biografia panegírica, mas a aventura de uma vida, com os seus altos e baixos, na qual se mis-tura a do próprio Liberto Cruz, mercê da correspondência íntima e cultural que ambos travaram durante anos. E isto, sem dúvida, valoriza sobremaneira o trabalho apresentado, constituindo uma espécie de complemento directo às páginas au-tobiográficas que Ruben A. publicou.

De resto, a meu ver, deve-se ainda aos autores das melhores abordagens críticas sobre a obra do escritor: “Ruben A. Antologia”. Organização de Liberto Cruz e Madalena Carratero Cruz. Lis-boa, Roma Editora, 2009).

Nesta outra obra trespassam, em su-cessão, um singular conjunto de breves ensaios dedicados a cada um dos títulos do autor referenciado, qual deles o mais decisivo para a descodificação da forma e do conteúdo da obra, apresentando--se, para me valer duma das expressões do escritor, portadores do periscópio capaz de deslindar a confusina da sua es-crita e intenções.

Agora, com o acréscimo desta bio-grafia, fica-nos, se pode dizer, o retrato por inteiro de Ruben A.

Ficha: Ruben A. Uma Biografia. Liberto Cruz e Madalena Carretero Cruz.

Lisboa, Editorial Estampa, 2012

18 hoje macau segunda-feira 14.4.2014h

Alcir PécorA IN SIBILA

R ECENTEMENTE,  expus mi-nha impressão de que o campo literário se encontra hoje numa situação de crise, observável

pela relativa perda da capacidade cultural da literatura de se mostrar relevante, não apenas para mim, mas para muitos que es-tão comprometidos com a cultura: como se alguma coisa se introduzisse nela (sem eventos violentos) e a tornasse inofensiva, doméstica. Um vírus de irrelevância, por assim dizer.

Não gostaria de defender uma tese cabal sobre a fraqueza actual da litera-tura, mas me agrada a ideia de explo-rar, tão fundo quanto possa, esse lugar de crise da expressão. Tento formular sucintamente a seguir, em diferentes ordens de argumentos, alguns dos im-passes que percebo na literatura con-temporânea.

Ocorre, hoje, uma impressionante expansão das narrativas no cerne da própria existência. Antes mesmo de existir como evento, a acção já se apre-senta como narrativa, como ocorre nos reality show, em que as pessoas, antes de agir, representam ou narram a acção que lhes cabe. Ocorre também na mul-tidão que fala pelos blogs e pelas redes sociais, ou se monitoram pelos celu-lares, de modo que a acção ou a con-versa é sempre exibição/narração da conversa. É como se o mundo inteiro fosse virtualidade narrativa antes de ser existência particular, e principalmente como se todo mundo fosse interessan-te o bastante para ser visto/lido. Esse é um dos pontos não negligenciáveis que parecem retirar a prioridade ou a exclusividade da narração do narrador literário. É um problema basicamente de inflação simbólica.

Escrever literatura, para mim, entre-tanto, é um gesto simbólico que traz uma exigência: a de ser de qualidade. Literatura mediana é pior que literatura ruim, pois, mais do que esta, denun-cia a falta de talento e a frivolidade. A literatura decididamente ruim pode ser engraçada, ter a graça do kitsch, do trash, da paródia mesmo involuntária e grosseira: pode ter a graça perversa do rebaixamento. Já a literatura mediana não serve para nada. É a negação mes-ma da literatura, cuja primeira exigên-cia é a de se justificar (justificar a pró-pria presença) face aos outros objectos de cultura. E o que eles exigem é que você os supere, que se apresente como novo ou não dê as caras por lá.

Fazer a lição de casa do ofício de es-

IMPASSES DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA

critor, ser esforçado, tampouco basta, como não basta ter vontade de fazer. Não adianta ser apenas um trabalhador, pois não se trata de adquirir direitos trabalhistas. Estou tentando dizer que escrever é muito competitivo. Boris Groys fala muitíssimo bem do assunto. Você escreve em língua portuguesa, então tem de se defrontar com vivos e mortos. Com os contemporâneos e com Vieira, Gregório, Machado, Rosa etc. Não há meio de não medir forças: a literatura exige a demonstração de força: não há como fazer apenas para participar.

O actual democratismo inflacioná-rio das representações, que mencionei, tende a menosprezar o domínio téc-nico. Para mim, é um erro, desde que literatura, como toda arte, é em pri-meiro lugar techné , técnica, produção objectiva. Não basta ser conhecimen-to, tem de produzir o que não é, o que não há. Sem produção, não há arte: não há nenhum outro valor simbóli-co, de representação, que substitua o

objecto. De outra maneira, a literatu-ra está no campo da composição, em nenhum outro. Não há atitude, com-portamento ou opção ideológica que permita saltar sobre os mecanismos da composição. Acho o menosprezo da produção objectiva, em favor do vo-lume expressivo e representativo um grande atalho falho da produção con-temporânea. Assim, para mim, rigor técnico significa a radicalidade cons-truída dentro do discurso. Atitude

resolve o problema do roqueiro, não resolve a questão da literatura.

Ocorre certo triunfalismo da produ-ção contemporânea, que enfaticamen-te se nega a pensar os seus impasses, ou vê neles apenas má vontade gratuita, tirania académica ou conservadorismo crítico. Acho que essa recusa de sequer considerar a ideia de impasse tem qual-quer coisa de cegueira deliberada. É como se o presente se absolutizasse e não mais admitisse um legado cultural como patamar exigente de rigor para a sua produção. No entanto, a condição da crítica e da criação é justamente a referência a um tempo que não é exclu-sivamente o do presente, mas o tempo de longa duração da obra da arte. Lite-ratura pode ser descrita como o que re-siste às disputas exclusivas do presente para existir como problema por muito tempo. Ela não tem como se fingir de recém-nascida, livre para não ter me-mória e amar integralmente a si própria como invenção de grau zero. Perdida a noção de herança cultural, perde-se a

de crítica, de autocrítica e naturalmen-te a de criação.

Uma variante desse argumento é o seguinte: uma parte dessa cena con-temporânea de crise existe por não haver qualquer disposição para a cri-se. Quem critica parece um vilão, um estraga-prazer, um intrometido. Quem critica as obras, ainda mais se faz isso com argumentos insistentes, tem qual-quer coisa de indecente, de impróprio. Mas, por vezes, a insistência chata é

fundamental para pensar um pouco melhor. Não se vai muito longe com um discurso que não admite contradi-tório, com um discurso de animação de parceiros. Mesmo em casos de parce-ria, sem alguma disposição para encarar a desafinação, não se vai longe: nessas condições, não há orquestra capaz de desconfiar de si mesma e exigir mais de seus membros. Espanta, pois, ver a in-tolerância para a crítica, como se fosse alguma traição pessoal. De onde vem essa ideia de parentesco traído? Pes-soalmente, não vejo por que o crítico tem de ser animador, parceiro, divulga-dor ou chancela do escritor. Ele tem de apontar problemas no objeto, pois são problemas do objecto o interesse prin-cipal da arte, como da literatura.

Em termos de experiência pessoal de leitura, quase sempre (nem sempre, mas quase sempre) acho mais prazer textual, literário, em ler teóricos do que, por exemplo, ficcionistas ou poe-tas contemporâneos. Ou, de outra for-ma, a crise contemporânea me parece

mais patente nos textos críticos dos que nos de ficção e de poesia. Acho que o que está aconte-cendo é muito mais do que uma crise de bons autores: é como se a lite-ratura, entendida como ficcionalização autóno-ma, estivesse esvaziada. Poucos autores de lite-ratura contemporânea me dão mais vontade de ler como teóricos tão diferentes entre si como Rorty, Davidson, Cavell, Agamben, Renato Barilli, Perniola, Sloterdijk, Jo-nathan Lear, Blanchot, Magris, Martha Nuss-baum, Boris Groys… Há muita gente interessante pensando o contempo-râneo e pensando litera-

tura. Fico imaginando se essa não será uma forma de literatura disfarçada. Uma nova máscara da literatura.

Mas por que esse menor poder lite-rário dos autores face aos teóricos? Isso aparece para mim como uma evidência, digamos, sentimental, afectiva, mas as suas razões não são claras. Mesmo em termos de domínio técnico de língua, entre os que citei —-, as invenções lin-guísticas de Rorty, com suas violentas trocas de vocabulário, ou as situações-

19 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 14.4.2014

Marcos Uchôa

-limite da “teoria de passagem”, em Do-nald Davidson, por exemplo —-, me parecem mais radicais como invenção ficcional do que a narrativa dos tantos escritores mais ou menos conformados no esquema da prosa realista do século XIX.

A grande conquista da literatura do século XIX foi a sua autonomia ficcio-nal, que se traduz basicamente por se tornar simbolicamente representati-va do mundo ou expressiva do sujei-to psicológico que a constitui. Quer dizer, restrição do âmbito técnico da imitação e hipersimbolização do real ou da subjectividade deram aos ficcio-nistas o seu estatuto contemporâneo. Neste início de século XXI, o proces-so se amplificou vertiginosamente: a identidade psicológica original em sua relação com o mundo hostil da merca-doria e não a distinção da própria in-venção, enquanto invenção engenho-sa, pretende ser a fonte da qualificação autoral. Será que dá para ser assim? Quem ainda acredita em representati-vidade, fora da discussão dos próprios critérios de representação? Quem jura ainda pela invenção da narrativa fora da construção de uma metalingua-gem que coloque seus fundamentos sob crítica? Contar histórias, enfim, cansou? E poesia contemporânea, por que é quase sempre kitsch? Qualquer subjectividade pode ser um direito, mas parece igualmente expressão de banalidade.

Também, quando alguém diz que um autor é representativo, já não ima-gino boa coisa. Fosse bom, problema-tizaria a representação, a identidade “nossa”, do “eu”, a própria ideia de iden-tidade; nos obrigaria a retroceder para fora de nossa experiência comum. Ou mesmo nos expulsaria do poético, en-velheceria de um golpe os lugares co-muns da invenção. Ele teria complica-do o mundo representado, e destruído a subjectividade expressa. Mas quem está a fazer isso? Afora alguns poucos ficcionistas e poetas importantes, acho que outros estão fazendo essa confusão melhor do que eles.

Enfim, são palpites que partilho aqui, não uma tese. Não quero advogar qualquer fim da literatura, mas não que-ro me poupar de discutir a sua relevân-cia e pertinência no contemporâneo. A minha esperança é que a exposição crí-tica, a rudeza do trato — o chão duro da fricção, como dizia Wittgenstein — ajude a coisa a andar.

H Á certas fortalezas que impressionam. Afinal são séculos e séculos a resistir aos ataques de humanos

e da natureza e finalmente quando se olha tudo é feito de terra, de lama, de pó, primeiro material que o homem moldou e pode usar para construir algo para se proteger.

No Irão, que tem algumas das ci-dades mais antigas do mundo, certas construções sobrevivem. Uma mesqui-ta, considerada a primeira do país, tem aproximadamente 1300 anos.

Ela está danificada porque foi feita

IRÃOCIDADE DE BARRO ABRIGA MESQUITA MAIS ANTIGA DO PAÍS

Em Yazd, no Irão, as construções feitas de terra e lama resistem a séculos dos ataques de humanos e da natureza. Uma mesquita, considerada a primeira do país, tem aproximadamente 1300 anos

no local que antes era o templo do zo-roastrismo. Zoroastro vem de Zaratus-tra, que foi quem criou umaa religião antiquíssima e que, até a chegada dos árabes, era a mais praticada na Pérsia, hoje chamada de Irão.

Zaratustra dizia que se deveria rezar em direcção à luz, e como o fogo era a única fonte de luz que o ser humano con-trolava, cada templo mantinha e mantém uma espécie de fogo eterno. É uma religião que tem na sua essência a proposta: boas palavras, bons pensamentos, boas acções.

O zoroastrismo é conhecido tam-bém como mazdaísmo ou magismo por conta do seu deus, Ahura Mazda. Os três reis magos que visitam Jesus logo depois do nascimento dele, são reis do zoroastrismo.

O uso de árvore de Natal com pre-sentes e velas originalmente também vem desta religião. Yazd é o centro de uma região contígua ao deserto. Mar-co Polo passou por ali no século XII a caminho da China e descreveu-a como um centro de comércio.

Muito originais são as torres cha-madas de badgir, que captam qualquer brisa quente e a esfriam, uma espécie de ar condicionado natural.

Na periferia da cidade encontramos, numa fábrica de tijolos, trabalhadores afegãos. Eles são os pobres do Irão, fazem

os trabalhos mais difíceis e mal pagos. Na beira do deserto, no frio do inverno e na fornalha do verão, é uma vida dura para produzir algo que tecnologicamente ain-da é o mesmo produto há séculos.

Mas logo perto vemos o progres-so, uma fábrica de azulejos. No local trabalham principalmente mulheres, que têm mais paciência, capricho e que recebem salários menores ainda que os afegãos. Medir, desenhar, pintar, cada azulejo é feito a mão.

Na cidade encontra-se o resultado de uma passagem da cor do barro para a explosão de cores que se pode ver de uma mesquita. Imaginem o que não foi na região a construção de algo tão vivo. O prazer que não passou a ser vir rezar no local. Embora uma das ima-gens mais comuns tenha no Ocidente uma lembrança bem negativa.

Embora a suástica tenha sido um símbolo mais conhecido por ter sido usado e abusado pelos nazistas, ela é um símbolo muito antigo, de milhares de anos. As quatro pontas representam o infinito, a passagem do tempo, o nas-cimento e a morte.

Em Yazd e no Irão esbarra-se o tem-po todo nessa noção da passagem do tempo, vê-se como coisas actuais têm uma história tão antiga. A única coisa que não muda é a velha simpatia.

PUB

GONÇ

ALO

LOBO

PIN

HEIR

O

C.P.K 0 – 1 Monte Carlo

Sub-23 0 – 2 Lai Chi

Sporting 0 – 3 Benfica

Ka I 1 – 1 Polícia

* folgou o Kei Lun

RESULTADOS 8ª JORNADA

20 DESPORTO hoje macau segunda-feira 14.4.2014

AVISOCOBRANÇA DA CONTRIBUIÇÃO ESPECIAL

1. Faço saber que, o prazo de concessão por arrendamento dos terrenos da RAEM abaixo indicados, encontra-se terminado, e, que de acordo com o artigo 3.º da Lei n.º 8/91/M, de 29 de Julho, conjugado com os artigos 2.º e 4.º da Portaria n.º 219/93/M, de 2 de Agosto, foi o mesmo automaticamente renovado por um período de dez anos a contar da data do seu termo, pelo que deverão os interessados proceder ao pagamento da contribuição especial liquidada pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes.Localização dos terrenos:- Avenida Olímpica, n.ºs 263 a 323, Rua de Seng Tou, n.ºs 7 a 51 e Rua de Évora, n.ºs 78 a 134, na Ilha da Taipa, (Edifício Flower City- Peonia);- Rua de Évora, n.ºs 161 a 251, Rua de Coimbra, n.ºs 105 a 175, Rua de Tai Lin, n.ºs 122 a 210 e Rua de Seng Tou, n.ºs 76 a 146, na Ilha da Taipa, (Edifício Fá Seng Quarteirão 40);- Rua de Évora, n.ºs 278 a 366, Rua de Coimbra, n.ºs 2 a 78, Rua de Nam Keng, n.ºs 7 a 129 e Avenida Olímpica, n.ºs 475 a 573, na Ilha da Taipa, (Edifício Fá Seng Quarteirão 43);- Avenida Olímpica, n.ºs 177 a 257 e Rua de Évora, n.ºs 10 a 72, na Ilha da Taipa, (Edifício Flower City-Lei Pou Kok);- Rua de Tai Lin, n.ºs 3 a 89, Rua de Seng Tou, n.ºs 171 a 239,

Avenida de Guimarães , n.ºs 94 a 180 e Rua de Bragança, n.ºs 104 a 170, na Ilha da Taipa, (Edifício Lai Chun Kok , Lai Chui Kok, Lai Cheng Kok);- Rua de Évora, n.ºs 281 a 363, Rua de Coimbra, n.ºs 102 a 178, Rua de Tai Lin, n.ºs 236 a 324 e Rua de Nam Keng, n.ºs 153 a 229, na Ilha da Taipa, (Edifício Prince Flower City).

2. Agradece-se aos contribuintes que, no prazo de 30 dias subsequentes à data da notificação, se dirijam ao Núcleo da Contribuição Predial e Renda, situado no rés-do-chão do Edifício “Finanças”, ao Centro de Serviços da RAEM, ou, ao Centro de Atendimento Taipa, para levantamento da guia de pagamento M/B, destinada ao respectivo pagamento nas Recebedorias dos referidos locais.

3. Na falta de pagamento da contribuição no prazo estipulado, procede-se à cobrança coerciva da dívida, de acordo com o disposto no artigo 6.º da Portaria acima mencionada.

Aos, 10 de Março de 2014.

A Directora dos Serviços de Finanças,

Vitória da Conceição

Fórmula 1 Vettel revela sensação especialem voltar a disputar Grande Prêmio da China

BENFICA IGUALA MONTE CARLO NA LIDERANÇA DA LIGA DE ELITE

A águia silenciou o leãoMARCO [email protected]

P etit a petit l’oiseau fait son nid. A Casa do Sport Lisboa e Benfica de Macau precisou de esperar até

à derradeira jornada da primeira volta da Liga de Elite para atingir a liderança da classificação da competição, ainda que em igual-dade pontual com o campeão em título Monte Carlo. A escalada até ao primeiro lugar da prova fez-se a custo, mas a formação encarnada alcançou o patamar cimeiro do mais cotado campeonato da RAEM com um resultado esclarecido. Ontem, as águias do território impuseram ao Sporting Clube de Macau a sua primeira derrota na presente edição da Liga de Elite, num desafio pau-tado por uma arbitragem polémica. O grupo de trabalho orientado por Bruno Álvares derrotou os leões por três bolas a zero, mas só conseguiu fundamentar uma tão vasta vanta-gem depois da formação orientada por Mandinho e por João Maria Pegado ter ficado reduzida a dez unidades à custa da expulsão de Francisco Cunha.

O vermelho directo exibido ao intervalo pelo árbitro filipino Vani ao médio macaense acabou por determinar o desenlace do desafio. Bem disputado por duas forma-ções que nunca abriram mão da iniciativa ofensiva, a partida teve o equílibrio como nota dominante durante os primeiros 45 minutos. Com a liderança sob mira, o Ben-fica entrou melhor na partida e ao onze encarnado pertenceram as primeiras grandes oportunidades do desafio, mas nem Edgar Teixeira conseguiu enquadrar o remate com o último reduto adversário, nem William Carlos Gomes conseguiu bater o compatriota Juninho na baliza dos leões.

Muito dinâmico no primeiro quarto de hora do encontro, o grupo de trabalho orientado por Bruno Ál-vares chegou a empurrar a bola para o fundo das redes do Sporting, mas o lance acabou por ser inviabilizado

pelo trio de arbitragem por alegada falta do autor do remate, o avançado português Bruno Martinho.

A resposta dos leões acabaria por se materializar apenas aos 21 minutos, naquela que foi a melhor oportunidade dos até agora líderes do Campeonato em toda a partida. Antigo jogador do Benfica, Jardel não teve sangue frio suficiente para marcar à ex-equipa na sequência de um lance rápido de contra-ataque que o deixou isolado frente a Rui Nibra. Com tudo para fazer o golo, o avançado leonino rematou ao lado.

O dianteiro esteve bem melhor cinco minutos depois, mas deparou--se com a oposição esclarecida de Rui Nibra. Atento, o guarda-redes encarnado defendeu com as pernas o remate de Jardel e inviabilizou a recarga da linha ofensiva do Spor-ting. Depois do fulgor inicial, o Macau e Benfica só aos 33 minutos voltou a assediar o último reduto do adversário, mas o cabeceamento de William Carlos Gomes esbarrou na

malha lateral da baliza à guarda de Juninho. Três minutos depois, foi a vez de Cuco tentar a sorte, mas o remate não fez sequer sombra ao guardião do Sporting.

A partida desenrolou-se a ritmo lento até ao intervalo, com muitas faltas e paragens de parte-a-parte. O momento que acabaria por ma-cular incontornavelmente o desafio acabou por se materializar já depois do árbitro ter apitado para o fim dos primeiros 45 minutos, com Francisco Cunha a ver o cartão vermelho directo por alegadas pa-lavras dirigidas ao juiz da partida.

Em superioridade numérica, o Benfica não deixou créditos por mãos alheias e não desperdiçou tempo, procurando tirar proveito das fragilidades do adversário o mais cedo possível. Aos 46 minutos, Vinicio Morais Alves tem nos pés a primeira grande oportunidade da etapa complementar. O dianteiro macaense força Juninho a uma defesa elástica, num lance que pres-sagiava, de certo modo, o que estava para vir. O guarda-redes do Sporting nada pode fazer aos 56 minutos para travar uma nova iniciativa do camisola 7 do Benfica. Vinicios Morais Alves recebe à entrada da área leonino e amortece a bola para um remate estonteante, num lance em que o desamparado Juninho pouco ou nada poderia fazer.

GOLO AFECTA LEÕESO golo teve o condão de desnortear a defensiva leonina. Aos cinquenta e seis minutos, Rui Pires faz falta sobre Bruno Martinho no último reduto do Sporting e o árbitro apontou para a marca de onze me-tros. O dianteiro português tomou em mãos a tarefa de converter o lance, mas acabou por permitir a defesa de Juninho.

O guarda-redes dos leões do ter-ritório acabaria por não conseguir fazer valer o mesmo artifício aos 76 minutos para travar nova grande penalidade a punir mão na bola de Alexandre Matos no último reduto do Sporting. Chamado a cobrar o penalti, o brasileiro William Carlos Gomes não perdoou e dilatou a vantagem de que o Benfica dis-punha. O terceiro e último golo do desafio acabaria por surgir a sete minutos do fim, novamente a partir da marca de onze metros. Marcou Nicholas Torrão, depois de o árbitro do desafio ter decidio punir com o castigo máximo uma falta supostamente produzida por Wamba fora do limite da grande área sportinguista.

Pesado, o resultado catapultou o Benfica para a liderança da Liga de Elite. Bruno Álvares reconhece que a expulsão de Francisco Cunha acabou abrir as portas a um triunfo tranquilo do Benfica: “Uma expul-são é sempre determinante, seja ela em que altura for. Esta, no final da primeira parte ajudou a alterar a história do jogo. Mas nem sempre é impossível ganhar com menos

um. O ano passado derrotamos o Lam Pak com menos um jogador e a expulsão não serve, por isso, de desculpa. Não deixa, ainda assim, de ser verdade que na primeira parte tivemos mais dificuldades e menos espaço para produzir o nosso jogo”, sustenta o treinador encarnado.

Para o treinador do Sporting, a expulsão de Francisco Cunha acabou por comprometer as aspira-ções da equipa. João Maria Pegado recusou, ainda assim, escudar-se na arbitragem para justificar o resulta-do: “Não quero ir pela arbitragem porque cada um faz o seu trabalho. Acho apenas que na questão dos amarelos poderia ter sido um bo-cadinho mais equilibrado, porque na primeira parte as faltas foram repartidas e só os jogadores do Sporting foram admoestados”, defende o jovem técnico leonino.

Com o triunfo, a Casa do Sport Lisboa e Benfica de Macau alcançou o campeão Monte Carlo na liderança da classificação. A formação orientada por William Chu lidera nominalmente por ter vencido a partida disputada frente às águias. Este fim-de-semana, o onze “canarinho” cumpriu com o que lhe era exigido e levou a melhor sobre o Chao Pak Kei pela margem mínima, com um golo apontadoa doze minutos do fim por Leong Ka Hang. No sábado defrontaram-se ainda, num encontro de aflitos, as formações da Selecção de Sub-23 da Associação de Futebol de Ma-cau e o Lai Chi, num encontro em que a vitória sorriu aos segundos. O Lai Chi levou a melhor sobre o adversário por duas bolas a zero, com Cheok Ka Fai e Pun Keng Lam a marcar.

Numa jornada farta em novi-dades, para o derradeiro encontro estava reservada uma pequena su-presa, com Ka I e Grupo Desporti-vo da Polícia de Segurança Pública a empatar a um golo. Choi Tak Seng inaugurou o marcador para o onze das Forças de Segurança aos 61 minutos, antes de Alison Briton repôr a igualdade no marcador a cinco minutos dos noventa.

O alemão Sebastian Vettel, da Red Bull, tetra-campeão mundial de Fórmula 1, admitiu nesta

sexta-feira que vive sensação especial toda vez que disputa o Grande Prêmio da China, o primeiro que venceu com a escuderia. “Devido ao tamanho, o circuito é único. As longas retas oferecem muitos lu-gares e possibilidades para ultrapassar. O GP continua sendo especial para mim, porque ali ganhei minha primeira corrida com a Red Bull, em 2009», disse o piloto. Nesta temporada, Vettel ainda não venceu. O melhor resultado do alemão foi o terceiro lugar no Grande Prêmio da Malásia, o segundo da temporada. O dono do carro número 1 nesta temporada é o sexto no Mundial de Pilotos, com 23 pontos, 38 atrás do líder Nico Rosberg, da Mercedes.

hoje macau segunda-feira 14.4.2014 FUTILIDADES 21

Pu YiPOR MIM FALO

João Corvofonte da inveja

C I N E M ACineteatro

SALA 1CAPTAIN AMERICA:THE WINTER SOLDIER [B]Um filme de: Anthony e Joe RussoCom: Chris Evans, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson14.15, 16.45, 21.45

CAPTAIN AMERICA:THE WINTER SOLDIER [3D] [B]Um filme de: Anthony e Joe RussoCom: Chris Evans, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson19.15

SALA 2 WHERE ARE YOU GOING, DAD? [A](FALADO EM CANTONÊS LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Xie DikuiCom: Jimmy Lin, Guo Tao, Tian Liang14.30, 16.30, 19.30

NOAH [C]Um filme de: Darren AronofskyCom: Russell Crowe, Anthony Hopkins, Jennifer Connelly21.30

SALA 3TWELVE NIGHTS [B](FALADO EM MANDARIM LEGENDADOEM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Raye14.30, 16.30, 19.00

KANO [B](FALADO EM JAPONÊS, HOKKIEN E HAKKAE LEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Chih-HsiangCom: Masatoshi Nagase, Oosawa Takao, Togo Igawa21.00

CAPTAIN AMERICA: THE WINTER SOLDIER

Tudo normalO ministro da educação, Nuno Crato, está de visita a Macau, numa altura em que se discute em Portugal o possível encerramento de mais 400 escolas no próximo ano lectivo, situação que pode afectar cerca de 6000 crianças e respectivas famílias. Pais, e associações já começaram a protestar, preocupados com as implicações que esta medida acarreta. Confrontado com a situação o ministro responde que o fecho das escolas “é normal”. Como de costume, as regiões mais afectadas são zonas do interior do país, que se vêm cada vez mais desertificadas, apesar das sucessivas promessas de políticos que em campanha eleitoral, entre um pezinho de dança, uma sande(s) de presunto e um copito de tinto da região lá vão prometendo maiores aproximações ao litoral. Nada disto é novo, nada disto me espanta. É normal. As escolas fecham, a iliteracia cresce a olhos visto, é normal... Dizia há pouco tempo um dos últimos grandes pensadores portugueses ainda vivos, Hélder Macedo, que Portugal vive actualmente com pior política cultural do que nos tempos da ditadura. Será normal?A “normalidade” sempre me inquietou. Este sinal de aceitação de uma inevitabilidade qualquer, por decreto não se sabe bem de quem, deixa-me à beira de um ataque de excentricidade. Macau também não foge à norma. Os anos passam e os problemas persistem. Os táxis não param...é normal...é Macau, a qualidade do ar que (não) se respira é cada vez pior...é normal, associações e lojas fecham portas porque não aguentam os preços das rendas...é normal, os políticos assobiam para o lado incapazes de respostas concretas e directas...é normal. Os exemplos de normalidade são inesgotáveis. Serei anormal?

TEMPO MUITO NUBLADO MIN 21 MAX 26 HUM 80-99% • EURO 11.0 BAHT 0 .2 YUAN 1.3

O sonho não comanda a vida: complica-a.

14 de Abril, o Titanic embatenum iceberg e naufragana viagem inaugural• A 14 de Abril assinala-se o naufrágio do Titanic, que provocou mais de 1500 mortos. O transatlântico inglês vê interrompida a viagem rumo a Nova Iorque, embatendo num iceberg quatro dias após ter partido do porto de Southampton. Em 2012, cumpriu-se o 100.º aniversário do naufrágio do RMS Titanic, que embateu num iceberg no dia 14 de Abril, no Oceano Atlântico, afundando 2h40 mais tarde, na ma-drugada do dia seguinte. Ao longo de um século, a história do naufrágio do navio mereceu uma exaustiva análise, sendo que uma cadeia de eventos provocou o acidente, numa noite de diversos comportamentos negligentes, mas sem que se possa apontar um responsável. O inafundável Titanic deixara o porto de Southampton (Inglaterra), rumo a Nova Iorque (EUA), a 10 de Abril de 1912, com o Capitão Edward J. Smith no comando do navio, numa viagem que terminaria quatro dias depois. O naufrágio do Titanic provocou a morte de 1523 pessoas, de um total de 2240 que seguiam a bordo. O Titanic foi construído em Belfast, Irlanda do Norte, para competir com os navios Lusitânia e Mauritânia, da empresa rival Cunard Line. E superou todos os rivais, no que diz respeito ao luxo e à opulência, além de diversos recursos tecnológicos avançados para a época. Estava preparado para tudo, excepto para um embate com um iceberg...

ACONTECEU HOJE

Construído a partir do famoso conto de Oscar Wilde, a segunda obra da realizadora britânica, Clio Barnard, é um retrato crú e poderoso duma Inglaterra indústrial do século XXI. A acção decorre nos arredores de Bradford onde dois jovens adolescentes, Arbor (Conner Chapman) e Swifty (Shaun Thomas) percorrem as ruas em busca de tudo aquilo que possam recolher para negociar com o ferro velho local. A fábula realista de cariz social, consegue ao mesmo tempo ser um estudo poético sobre a ambição e a solidariedade, contando para isso com as magníficas interpretações dos dois jovens actores não profissionais. Um conto triste, um murro no estomâgo da nova realizadora britânica Clio Barnard. - José C. Mendes

H O J E H Á F I L M EO GIGANTE EGOÍSTA

CLIO BARNARD, 2013

22 OPINIÃO hoje macau segunda-feira 14.4.2014

P ERMITA o leitor que por uma única vez o arauto se deixe levar pela pequena veleidade de julgar que com ele partilha muitas das circunstâncias do esquizofrénico quotidiano de uma cidade sem rei nem roque. Que é dos que vêem a boa disposição matinal azedar ao fim de quarenta minutos de

improfícua busca por um espaço de esta-cionamento ou por uma nesga de passeio desocupado. Que o fantasmático exercício de alimentar parquímetros com a regula-ridade de quem atafulha de bytes um “ta-magotchi” o deixa moralmente combalido e que colecciona baralhos de multas como quem colecciona cromos do Mundial.

Conceda o leitor ao escrivão a liberdade de cuidar que a ideia de atravessar a rua o aterroriza. Que volta e meia a imaginação o trai e dá por si, temeroso, a antecipar o momento em que é abalroado por um motociclo de distribuição de noodles (far-dos de massa esmigalhada no alcatrão, o trágico sapato solitário a cinco metros da moto). Que desperta em sobressalto, refém da omnipresente possibilidade de um dia lhe cair em cima uma enrascada senhora de meia-idade e que o chorrilho

Exercícios de veleidadeTalvez tenha automatizado, mesmo que sem disso se aperceba, que o conforto em Macau é um estado transitório e que a única resposta à inconstância e ao calvário, mil vezes repetido, da mudança de casa é a impassividade budista e o despreendimento do mundo material próprios da mais disseminada das doutrinas orientais

expediente c ín icoMARCO CARVALHO

de pragas e imprecações que tem reservado para o momento nem paliativo é de jeito: a condutora não fala, só grita, só grita, uma medusa irracional enfurecida que traja calças com lantejoulas e uma amarrotada camisola onde se lê “Money is Like Much Not Not” ou qualquer outra máxima de intenção indecifrável.

Faculte o leitor ao cronista a volubi-lidade de julgar que a determinada altura escapou por pouco a um cenário do géne-ro. Que pelo menos uma vez desde que o seu destino se cruzou com o de Macau se sentiu humilhado e impotente ao quase ser abalroado em plena passadeira por um jipe da Judiciária ou por um sedan de uma qualquer Direcção governamental, um bú-dico cavalheiro de bata branca ao volante. Que perdeu já a conta e o fio à meada das

estratégias de guerrilha que se vê obrigado a desembainhar sempre que o recurso a um táxi é inevitável. Que se lançou mais do que uma vez numa animalesca marcação de território, na tentativa de cobrir com eficácia cruzamentos e semáforos ou que encetou, em desespero, rituais imberbes de esvoaçamento, apenas para ver desfilar, impassíveis, caravanas de carros de aluguer, a hóstia vermelha do negócio pirilampando sem remorsos no tablier.

Permita-lhe também, ao autor deste enunciado, a veleidade de cuidar conhecer as dúvidas, os dilemas e as enfermidades que lhe assarapantam o espírito. Bem apessoado, com a leitura dos clássicos feita e dos modernos em curso, o caro leitor não consegue divisar com clareza porque razão, mesmo canalizando metade

do ordenado para a renda da casa, não en-controu ainda a paz de espírito desejada. Talvez tenha automatizado, mesmo que sem disso se aperceba, que o conforto em Macau é um estado transitório e que a única resposta à inconstância e ao calvário, mil vezes repetido, da mudança de casa é a impassividade budista e o despreen-dimento do mundo material próprios da mais disseminada das doutrinas orientais. Despreendimento de qualquer ilusão de estabilidade, mas também do móvel chinês de que gostava tanto, do biombo lacado que comprou ao preço da chuva nos Tin--tins ou mesmo dos vasos de begónias e amores-perfeitos que mantinha com empe-nhado zelo desde há dezasseis casas atrás, que a insofismável tendência é para que as rendas aumentem e as áreas diminuam quase em idêntica proporção. Talvez o afortunado leitor tenha tido a prudência e o discernimento de abraçar o mercado na altura em que o abraço era devido, mas mesmo na posse do privilégio, senhor e rei do seu próprio potentado, escapa o caro leitor (que me desengane, se assim não for) aos efeitos colaterais, paralelos e perpendiculares da cancerígena febre que transformou as exíguas assoalhadas de Macau em minas de ouro, em sentido literal e figurado. Literal, porque que nem no Copperbelt zambiano se destrói, esca-vaca e escarafuncha com tanta azafáma, por vezes durante meses a fio. Figurado, porque não há recanto do planeta onde a má construção, as paredes empenadas e os materiais de terceira sofram uma tão inflamada valorização.

Permita-me o caro leitor a ousadia de tentar identificar a partícula de incerteza que o mais incomoda. Os dias transcorrem monótonos, as semanas tropeçam umas nas outras em catadupa, aos meses sucedem-se anos e o caro leitor não está ainda certo se quer deitar gente ao mundo ou educá-la na incógnita que é Macau, sabendo que os condena ao mesmo quotidiano incerto em que vive, enfadonhamente vivos sob um céu grisalho e ácido que reflecte pela noite dentro um arco-íris eléctrico, incendiário e incandescente.

Permita o caro leitor que por uma outra vez o arauto se deixe levar pela grande veleidade de julgar que com ele partilha como que um mudo desencanto e que, como ele, carrega o peso incerto de uma naúsea que não se consegue explicar, digerir ou combater. Dela sabe-se apenas que existe. Que incomoda. Que se mani-festa por uma cada vez maior aversão às fársicas premissas que consubstanciam o pulsar da política, da finança e da própria condição existencial, numa cidade onde as perguntas são mais que as respostas e a estabilidade económica não se atinge sem custos e a árvore das patacas, como a mais singela das rosas, se tivesse expurgado numa voragem mefistofélica de todos os seus espinhos.

PUTINPLOMACIAcartoonpor Stephff

hoje macau segunda-feira 14.4.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Redacção Joana Freitas (Coordenadora); Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; José C. Mendes; Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

23 opinião

Já ouviram falar de “testamentos conjuntos”? É um testamento feito por duas pessoas. Estamos a falar de casais? Pouco importa. O importante é determinar a partir de quando é que o testamento entra em vigor. Quando morre o marido ou quando morre a mulher?

macau v is to de hong kongDAVID CHAN*[email protected] • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog

*Professor Associadono Instituto Politécnico de Macau

Testamentos conjuntos e aplicações

A última vontade ou o testa-mento só é válido depois da morte do testamentário. Tem lógica. Já ouviram falar de “testamentos con-juntos”? É um testamento feito por duas pessoas. Estamos a falar de casais? Pouco importa. O impor-tante é determinar a partir

de quando é que o testamento entra em vigor. Quando morre o marido, ou quando morre a mulher?

No dia 8 de Março de 2014, o website “hk.news.yahoo.com” deu uma notícia em que A e B são um casal, com cinco filhos, C, D, E, F e G.

D entregou o testamento de A e B ao Probate Registry de Hong Kong. Era um testamento conjunto assinado por A (fale-cido em Janeiro de 2009) e B (falecido em Janeiro de 2007).

O Probate Registry de Hong Kong é um departamento governamental que auxilia o registo do High Court a processar as aplica-ções de “Grant”. “Grant” é um documento legal que dá poder ao executor testamentário para lidar com os bens do falecido. Sem este documento, ninguém pode mexer nesses bens. No caso acima descrito, D é o executor.

A primeira questão que se pôs aos fun-cionários do Probate Registry foi sobre a legalidade deste testamento. O testamento é válido desde a morte da mulher; i.e. em Janeiro de 2007? Ou desde a morte do ma-rido; i.e. em Janeiro de 2009? Na ausência de uma resposta simples os funcionários do Probate Registry indicaram que o testamento deveria ser inválido.

A “wikipedia” diz: “Um testamento é um documento legal

em que uma pessoa, o testamentário, nomeia uma ou mais pessoas como gestor(es) dos seus bens e em que se declara a distribuição das suas posses à altura da morte.”

O caso acima descrito tem o número HCA 375/14. O advogado demandante, já tinha entregue documentação importante ao tribunal. D argumentou que os seus pais deixaram dois tipos de bens no testamento conjunto: uma casa e dinheiro no valor de três milhões de HKD. D acrescentou que tinha comprado a casa para os pais e por isso esta fazia parte dos seus bens pessoais e essa teria sido a razão pela qual os pais lhe tinham deixado o imóvel. O filho de D mudou-se para a casa depois de os avós te-rem morrido. No entanto, a irmã mais nova, G, tomava conta do filho de D e mudou-se também para a casa.

A mudança de G veio alterar tudo. G revelou-se um incómodo constante para o filho de D, fazia barulho, queimava incenso

e praticava actos de magia. O filho de D saiu de casa em Outubro de 2009.

O pai morreu de D morreu em Janeiro de 2009, e este foi Probate Registry requerer o “Grant”. Mas os funcionários declararam que o testamento conjunto podia não ser válido, pelas razões apontadas. D negociou então com todos os irmãos, C, E, F e G, tendo chegado a um acordo em que D pagaria HK$50,000 para que G saísse da casa em Outubro de 2009. Os HK$3 milhões seriam distribuídos em partes iguais entre C, D, E, F e G. Mas G não saiu da casa e E, F e G não reconheceram o acordo. Apenas C ficou do lado de D. O caso foi para tribunal.

O advogado de D sugeriu que o caso fosse tratado como dois testamentos separados, um assinado por A e outro por B.

Curiosamente a Wills Ordinance de Hong Kong não tem uma secção para lidar com testamentos conjuntos. Apenas a secção 19 trata do tempo de entrada em vigor dos tes-tamentos. Deve ser imediatamente a seguir à morte do testamentário. Neste caso, os tes-tamentários faleceram em datas diferentes. Quando é que o testamento entra em vigor? Se tratarmos este caso como dois testamentos diferentes, teremos de ter duas datas para a entrada em vigor dos testamentos.

Como Hong Kong está actualmente a implementar o sistema de Direito comum),

se não for encontrada nenhuma solução na lei tem de se encontrar na jurisprudência. O ad-vogado fê-lo? Não houve notícias disso. Não fazemos ideia do que fez o advogado de D.

Se olharmos para o nosso Civil Law Code, o artigo 2018 permite o testamento conjunto. No entanto, este artigo indica claramente que “dois ou mais testamentários não se podem beneficiar mutuamente”. Por outras palavras, H não pode deixar bens a J e vice-versa. Esta indicação evita a perda de bens se ambos falecerem ao mesmo tempo.

SIDN

EY L

UMET

, 12

ANGR

Y M

EN

No entanto, continuamos sem saber quando é que o testamento entra em vigor. Na morte de H ou na morte de J?

Para além da questão temporal o caso acima descrito tem outra aplicação: como redigir facilmente um testamento válido? A resposta é-nos dada pela Holand Adver-tisement Company “YoungWorks” que fez uma aplicação para telemóvel para escrever um testamento.

A notícia foi dada no dia 31 de Ou-tubro de 2013 no website “techorange.com/2013/10/31/app-fast-will”. O nome da aplicação é “Fast Will快速遺囑” concebida por “Cees Dingler” porque a morte é terrível e cria medo nas pessoas. A aplicação permite que as pessoas se divirtam a fazer o seu próprio testamento.

Cees Dingler sabe que a criação de um testamento é um processo legal complicado e está a discutir a questão com os advoga-dos para que esta aplicação possa produzir testamentos legais no futuro. Se tal vier a acontecer, uma das notas desta aplicação deve ser sobre o problema dos testamentos conjuntos.

JOVENS PROTESTARAM NAS RUÍNAS DE SÃO PAULO

hoje macau segunda-feira 14.4.2014

Portugal Número de trabalhadores a salário mínimo triplicaEntre 2006 e 2012, o número de trabalhadores a receber o salário mínimo nacional (SMN) em Portugal triplicou, totalizando perto de 400 mil pessoas. De acordo com os dados mais recentes do Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia, em Outubro de 2012, 12,9% dos trabalhadores por conta de outrem a tempo completo recebiam 485 euros por mês, mas este valor peca por defeito porque não contabiliza os trabalhadores da agricultura e pesca, nem os cerca de 20 mil funcionários públicos, segundo os cálculos dos sindicatos, que recebem salário mínimo.

Aquecimento global Tempo está a esgotar-se para evitar catástrofeO mundo ainda vai a tempo de cumprir o objectivo de limitar o aquecimento global, mas os atrasos e incumprimentos da última década tornam imperativa uma “mudança maciça” a favor das energias renováveis, adianta o terceiro relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC). Se nada for feito, até ao final do século a temperatura na Terra vai subir entre 3,7 e 4,8 graus centígrados. “A mensagem da ciência é clara: para se evitarem interferências perigosas no sistema climático temos de mudar de abordagem”, afirmou Ottmar Edenhofer, co-presidente do grupo que redigiu o relatório sobre formas de mitigar o aquecimento global, última parte de uma série de análises pedidas ao IPCC e que servirão de base às difíceis negociações internacionais para um novo acordo de redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE).

Hollande O Presidente mais impopular desde 1958Desde o início da V República, em 1958, nunca um Presidente francês escolhido por sufrágio universal foi tão impopular. De acordo com uma sondagem publicada neste domingo, só 18% dos cidadãos estão contentes com o trabalho de François Hollande. Em contrapartida, o novo primeiro-ministro, Manuel Valls, tem 58% de opiniões favoráveis, dizem os dados do barómetro mensal do Ifop relativos ao mês de Abril e publicados pelo Jornal du Dimanche. O estudo de opinião diz que nunca a diferença de popularidade entre um chefe de Estado e um primeiro-ministro foi tão grande, 40 pontos.

Turquia Erdogan acusa Twitter de evasão fiscalO primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou o Twitter de evasão fiscal, depois da rede social ter sido utilizada para divulgar gravações de escutas telefónicas envolvendo próximos do chefe do governo num escândalo de corrupção. “Twitter, YouTube e Facebook são empresas internacionais criadas para obter lucro”, disse Erdogan. “O Twitter também foge aos impostos (...) Vamos tratar disso”, adiantou o primeiro-ministro turco. Sob ordens do governo, a autoridade turca das telecomunicações proibiu a 20 de Março o acesso à rede social, na qual opositores divulgaram gravações de conversas telefónicas pirateadas pondo em causa Erdogan num escândalo de corrupção. O Tribunal Constitucional determinou, no entanto, o levantamento do bloqueio do Twitter a 3 de abril, considerando que a medida viola o direito à liberdade de expressão.

Liverpool derrota Man City e vê o título mais pertoO Liverpool recebeu e venceu este domingo o Manchester City por 3-2 num jogo que pode ser decisivo para a conquista do título pelos «reds» após um jejum de 24 anos. Após uma vantagem de dois golos, o Liverpool deixou o City empatar, mas acabou por conseguir vencer e dar um passo importante para a conquista do que será o 19º título de campeão inglês. Sterling colocou os «reds» em vantagem logo aos seis minutos. Aos 19 minutos, Yaya Touré saiu lesionado, entrando Javi Garcia. Skrtel, aos 26, dilatou a vantagem do Liverpool, que parecia embalado para uma vitória que lhe deixava o título à mercê. Contudo, David Silva reduziu aos 57 minutos. Aos 62, um autogolo de Glen Johnson empatava a partida. Philippe Coutinho, aos 78, recolocou o Liverpool em vantagem. Num momento polémico, Skrtel afastou a bola com a mão na área, mas o árbitro não assinalou a grande penalidade a favor do City. O Liverpool lidera com 77 pontos, mais cinco do que o Chelsea, que hoje joga em Swansea. O Manchester City é terceiro, com 70 pontos mas menos dois jogos. A 27 de Abril, o Liverpool recebe o Chelsea, num jogo que poderá ser decisivo para a definição do campeão.

GOVERNO PEDIU AO FACEBOOK DADOS SOBRE UM RESIDENTE

Liberdade ameaçada?

• A actividade chamava-se “Jovens não ficam mais silenciosos” e decorreu ontem nas Ruínas de São Paulo. As máscaras brancas serviram para contar a história de jovens ou jornalistas que pedem informações ao Governo, mas apenas recebem o silêncio como resposta. No final quem fazia de funcionários públicos entregou doces para os jovens, que representavam benefícios. As máscaras brancas simbolizavam o fim do silêncio junto dos jovens.

O Governo de Macau pediu ao Facebook informações de conta de um dos seus resi-

dentes, pedido ao qual a empresa de Mark Zuckerberg não respondeu. Os números foram publicados no relatório de requerimentos governamentais publicado pela rede social, Facebook. O mesmo documento, que diz respeito ao período de Junho a Dezembro de 2013, refere-se aos pedidos que os governos de vários países fizeram, requerendo dados pessoais ou blo-queios de contas de determinados utilizadores. Este é já o segundo

relatório que o Facebook publica e o primeiro em que Macau é men-cionado, sendo que Hong Kong já consta no primeiro, referente ao primeiro semestre de 2013.

Colin Stretch, conselheiro geral da empresa, disse que “quando recebemos os pedidos de informa-ção, analisamos cuidadosamente se somos legalmente obrigados a responder”. Stretch afirmou, ainda, que rejeitam todos os requerimen-tos “demasiado amplos ou vagos ou que não vão ao encontro dos trâmites legais”. Quando obrigado a dar uma resposta ao pedido de acesso de informação de um uti-lizador, o Facebook confirma que apenas providencia o seu nome e o endereço de IP.

O pedido do Executivo foi re-cusado, mas a questão permanece: qual a razão para o Governo de Macau ter feito este pedido? O relatório demonstra que o reque-rimento não foi aceite, por não ir

ao encontro das políticas do Face-book. Assim, ficam por se conhecer as razões que levaram o Executivo a pedir as informações pessoais de um dos utilizadores da rede social, que apenas as disponibiliza em casos de “assaltos ou raptos. Em muitos destes casos, os governos procuram informações básicas dos utilizadores, como nome completo e tempo de serviço”, por exemplo. Ficam, assim, por apurar as razões que levaram o Executivo a fazer o pedido de informações pessoais.

É a segunda vez que Hong Kong surge nos relatórios da empresa, desta vez com mais 325 pedidos do que no documento anterior, onde se encontra apenas um caso registado. Entre Julho e Dezembro de 2013, o Governo da RAEHK pediu mais de três centenas de dados pessoais dos seus residentes ao Facebook, obtendo respostas positivas em 88% dos pedidos.