Homofobia Nas Universidades: uma realidade a ser enfrentada

Homofobia nas universidades: uma realidade a ser enfrentada

Jaqueline Gomes de Jesus Doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das

Organizações pela UnB. Pesquisadora do Laboratório de Trabalho, Diversidade e Identidade – LTDI/UnB

Curso “A prática dos Direitos Humanos na UnB” 18 de outubro de 2012

Dra. Jaqueline Gomes de Jesus

Homofobia & Transfobia (Jesus, 2012)

Medo ou ódio com relação a lésbicas (lesbofobia), gays, bissexuais (bifobia) e, em alguns casos, a travestis, transexuais e intersexuais, fundamentado na percepção, correta ou não, de que alguém vivencia uma orientação sexual não heterossexual.

Transfobia:

Preconceito e/ou discriminação em função da identidade de gênero de pessoas transexuais ou travestis. Não confundir com homofobia.


“Alunos da UFMG são vítimas de homofobia”

“Alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) denunciaram que foram vítimas de homofobia durante a calourada dos alunos de Letras”

“Os meninos relataram que estavam se beijando quando um homem os separou e começou a bater e a dizer que o beijo "era coisa de veado". Os estudantes disseram que não reagiram. Com se não bastasse, o casal foi agredido novamente pelo mesmo homem quando deixavam a festa”.

(A Capa, 13/04/2011. Foto: Leo Fontes) Dra. Jaqueline Gomes de Jesus

O Parasita, jornal de alunos da USP, prega agressão a gays em troca de convite para festa

(Imagem da TV Globo)


Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no dia 20 de abril de 2012, Leilane Assunção, doutoranda em Ciências Sociais, foi impedida por quatro agentes de segurança de utilizar o banheiro feminino, porque era uma mulher transexual.

Leilane Assunção foi tratada no masculino e lhe foi dito que aquele não era o seu lugar. Como a estudante afirmou que era direito dela fazer uso do banheiro feminino, um dos seguranças afirmou que iria arrancar a cabeça dela e ainda “lhe cortaria inteira em pedaços”.


Pichação na UnB (Mendes, 2012)


Cartaz de pesquisa sobre homofobia na UnB é violado (Mendes, 2012)


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Relato do aluno João (Mendes, 2012, p. 30)

João é homossexual, e expôs que, em um seminário sobre John Maynard Keynes, um professor fez diversas piadas sobre a orientação sexual desse importante economista.

O seminário discutia as funções políticas da economia, sendo uma das abordagens a liberdade sexual, o feminismo e a liberdade de orientação sexual. João fez um comentário sobre a abordagem, mas o professor debochou do que foi colocado pelo aluno e afirmou haver assuntos mais importantes a serem discutidos.

Segundo João, é costume dos professores de economia a realização desse tipo de piada sobre a sexualidade de Keynes, afirmando que o único defeito desse economista era ser gay.


Relato do aluno Pedro (Mendes, 2012, p. 33)

Pedro é um homem transexual. Ele relata que recebe olhares desconfiados todas as vezes que solicita a seus professores que modifiquem a chamada.

Certa vez, Pedro se encaminhou à DDS com a namorada para solicitar a utilização do seu nome social. Como Pedro não queria ser constrangido em ter que explicar a situação mais uma vez, e por imaginar que seria tratado de maneira grosseira, pediu que a namorada fizesse o requerimento.

Porém, ao fazê-lo, ela foi tratada de forma desrespeitosa por uma funcionária da seção. A funcionária alegou que Pedro só

poderia utilizar o nome que estava assinado, que aquele era o seu nome e era aquele nome que ele deveria utilizar.


Relato da aluna Júlia (Mendes, 2012, p. 38)

Júlia é bissexual. Ela estava em uma festa na Faculdade de Educação com o seu namorado, Tales, quando um grupo se aproximou e um deles a assediou. O casal e amigos saíram.

Tales sentou no colo dela e a beijou, provocando a reação de um amigo de Júlia, que perguntou por que ele a tinha beijado. Júlia respondeu que ele era seu namorado, e o amigo indagou como aquilo era possível, pois Tales era “veado”.

Júlia ouviu pessoas gritarem palavras como “veadinho” e “bicha”. 3 pessoas, supostamente amigos do seu colega, agarraram seu namorado, jogaram-no sobre uma moita e o agrediram.

Eles gritavam que ele não tinha o direito de “roubar” a mulher que lhes pertencia, pois ele passava de um veadinho.


Orientação Sexual

• heterossexual é a pessoa que vivencia afeto e prazer sexual com pessoas de _____ gênero

• homossexual é a pessoa que vivencia afeto e prazer sexual com pessoas de _____ gênero

• bissexual é a pessoa que vivencia afeto e prazer sexual com pessoas de _____ gênero

• assexual? Dra. Jaqueline Gomes de Jesus

Os Homo/Bissexuais

• O grupo constituído pelos Homo/Bissexuais é considerado como aquele que tem a “diferença invisível”

• A partir dos dados do Relatório Kinsey, é possível estimar que pelo menos 10% da população é exclusivamente homossexual, esta, acrescida à dos bissexuais, contabiliza 25% da população

• Brasília: +- 625.000 indivíduos.


Orientação Sexual no Brasil

• A orientação sexual homossexual ainda é vista como um tabu, o que torna difícil retratar essa população que, na maioria absoluta dos casos, nem se percebe como tal

• O preconceito e a discriminação sofridos por esse grupo acontece mesmo no âmbito familiar. Não recebe apoio explícito da comunidade e de organismos sociais.


E nas escolas?...

• UNESCO: “Cerca de 25% dos alunos do Distrito Federal não gostariam de ter um amigo gay”

Falas de professores:

• “Muitas vezes os professores não apenas silenciam, mas colaboram ativamente na reprodução da violência... alguns consideram que as brincadeiras não são manifestações de agressão, naturalizando e banalizando expressões de preconceito”

• “Se não sou homossexual, o que tenho a ver com os que o são?”


Mais uma Pista...

• “Lembro-me, no início de meu magistério, em duas escolas públicas estaduais, em Fortaleza, no Ceará, onde lecionei língua portuguesa, de casos de reprovação ou mesmo de atitudes agressivas ou condutas hostis de professoras com relação a alunas lésbicas, sob o argumento de que, enquanto tivessem explicitamente a opção homossexual, não seriam aprovadas na disciplina.”


Outra Pista...

• “A homossexualidade é tema que educadores, sejam diretores, coordenadores ou professores, com ou sem pós-graduação, fazem questão de silenciar. Nós evitamos comentar o assunto. Ignoramos as crianças e adolescentes com tendências homossexuais e ficamos torcendo, de forma iníqua, que no futuro, isto é, na fase adulta, os homossexuais mudem de opção sexual”


Algumas Referências O que é Homossexualidade. Peter Fry e Edward MacRae.

Brasiliense.

O que é Orientação Sexual. Fernando Luiz Cardoso. Brasiliense.

O que é Lesbianismo. Tânia Navarro. Brasiliense.

Matei porque Odeio Gay. Luiz Mott. Editora Grupo Gay da Bahia.

Devassos no Paraíso. João Silvério Trevisan. Record.

O Homossexual visto por Entendidos. Carmem Dora Guimarães. Garamond.

Preconceito contra homossexualidades. Marco Aurélio Máximo Prado e Frederico Viana Machado. Cortez.


Alguns Sites

• www.sbrash.org.br

• www.gph.org.br

• www.edgls.com.br

• www.sedh.gov.br

• www.abglt.org.br

• www.bisides.com


• “Sou Homem”, “Sou Mulher”.

• Cisgêneros:

Sintonia sexo e gênero (crença social)

• Transgêneros:

Sem sintonia sexo e gênero

(mostram que a crença não funciona sempre)

Homens/Mulheres biológicas → cisgênero

Homens/Mulheres transexuais → transgênero

Identidades de Gênero


• Drag queens / Drag kings

• Travestis

• Crossdressers

• Transexuais


• Atores performáticos - “Transformistas”

• Inversão temporária de gênero

• Diversão e entretenimento

Rodrigo Faro,

apresentador,

como Priscila, a

Rainha do

Deserto Dra. Jaqueline Gomes de Jesus

• Vivenciam diferentes papéis de gênero mas não se reconhecem como homens ou como mulheres, entendendo-se como membros de um terceiro gênero ou de um não-gênero

• Tratamento feminino

• Adequação corporal não

inclui transgenitalização

Andréia Albertine,

profissional do sexo Dra. Jaqueline Gomes de Jesus

• Homens heterossexuais, geralmente casados

• Privativo ou em grupos fechados

• Esposas apoiadoras ou não

• Vivência fetichista de gênero

Laerte,

cartunista. Dra. Jaqueline Gomes de Jesus

• Vivenciam diferentes papéis de gênero como homens ou como mulheres e se reconhecem como tais

• Ao longo de toda a História e no mundo inteiro

• Atuais avanços médicos: fisiologia quase idêntica à de mulheres e homens cisgênero

Adequação corporal não necessariamente inclui transgenitalização


Mulher transexual é toda pessoa que busca o reconhecimento social

e legal como mulher (Bento, 2010)

Lea T,

modelo e estilista.


Homem transexual é toda pessoa que busca o reconhecimento

social e legal como homem (Bento, 2010)

João W. Nery,

psicólogo e escritor.


Transexual é o mesmo que Homossexual?

Não.

• Identidade de Gênero X Orientação Sexual

• Pessoas transexuais podem ser de qualquer orientação sexual: heterossexuais, homossexuais, bissexuais ou assexuais

Lésbicas e gays apenas se sentem atraídos por pessoas do mesmo sexo, não têm

necessariamente alguma questão com sua identidade como mulheres e homens


Lutas Atuais

• Adoção do nome social em órgãos públicos e privados

• Despatologização:

– CID 10: “transtorno de identidade sexual”

• Aumento da visibilidade

• Inserção educacional e laboral

• Realização do processo transgenitalizador pelo SUS

• Direito a adequar registros civis à sua identidade de gênero


Leituras Básicas

O Que é Transexualidade. Berenice Bento. Brasiliense.

Transexuais: Perguntas e Respostas. Gerald Ramsey. Editora GLS.

Evolução do Gênero e da Sexualidade. Joan Roughgarden. Editora Planta.

Olhares de Cláudia Wonder. Cláudia Wonder. Editora GLS.

A Inevitável História de Letícia Diniz. Marcelo Pedreira. Editora Nova Fronteira.

Muito Prazer, Roberta Close. Lúcia Rito. Rosa dos Tempos.

Viagem Solitária. João Nery. Editora Leya.


Sites

• http://www.feminismo.org.br

• http://www.abglt.org.br

• http://leticiadiniz.com.br

• http://anavtrans.blogspot.com

• http://astrario.blogspot.com

• http://transgrupotmp.blogspot.com.br

• http://ftmbrasil.org.br

• http://transfeminismo.com


Diversidade Sexual e de Gênero é assunto para Tod@s, dentro ou fora das Universidades


Afinal, este lugar é de todas e todos NÓS!

Bibliografia Citada

Bento, B. (2010). O que é transexualidade. São Paulo: Brasiliense.

Jesus, J. G. (2012). Orientações sobre identidade de gênero: conceitos e termos. Goiânia: Ser-Tão. Disponível em http://www.sertao.ufg.br/pages/35655

Mendes, T. M. C. (2012). A homofobia na Universidade de Brasília: discriminação, expressões e representações entre estudantes [Monografia de graduação]. Instituto de Ciências Humanas. Departamento de Serviço Social. Universidade de Brasília, Brasília.


http://www.sertao.ufg.br/pages/35655

PARA SABER MAIS SOBRE PRECONCEITO E AFETIVIDADE, consulte este livro:

Psicologia Social: principais temas e vertentes. Torres, C. V. & Neiva, E. R. (Orgs.). Porto Alegre: ArtMed, 2011.

Capítulo Preconceito, Estereótipo e Discriminação, de Pérez-Nebra, A. R. & Jesus, J. G.; e

Capítulo Atração e Repulsa Interpessoal, de

Jesus, J. G.


Meus Contatos

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Muito Obrigada!


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