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HOTEL FISCHER FOTOGRAFIAS E MEMÓRIA

HOTEL FISCHER · Ao contarmos as histórias de uma construção arquitetônica, parece inevitável usar a expressão “se essas paredes falassem”. Mesmo que, num passe de mágica,

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Foto de capa: Hotel Fischer, década de 1960.

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A Fundação Cultural de Balneário Camboriú apresenta

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Hotel Fischer na década de 1960.

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Terreno onde estava o Hotel Fischer. 2016.

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Ao contarmos as histórias de uma construção arquitetônica, parece inevitável usar a expressão “se essas paredes falassem”. Mesmo que, num passe de mágica, isso pudesse ser real, as paredes estariam mudas. Não há paredes.

A história do Hotel Fischer ressurge dos escombros do esquecimento. A história do Hotel Fischer renasce na memória de seus personagens e nas fotografias escondidas, até hoje, em gavetas, arquivos e álbuns.

A inauguração do Hotel Fischer data de 15 de dezembro de 1957. Porém, a história da família em Santa Catarina começa em Videira, no Oeste, e dá os primeiros passos em Balneário Camboriú no ano de 1950.

Com projeto ousado, tanto pela localização escolhida quanto pelas características na estrutura, o Hotel Fischer foi símbolo do setor turístico e da história da cidade. O Hotel Fischer recebeu hóspedes de todo o mundo e até mesmo presidentes brasileiros se hospedaram em seus quartos.

O crescimento da cidade, porém, atingiu o Hotel Fischer, que não conseguia aproveitar todo o seu potencial dos anos iniciais. Depois de 52 anos, o hotel fechava suas portas em 2009. A demolição, em 2012, foi consequência. Se havia, até hoje, um certo vazio, simbolizado no terreno onde havia a estrutura do hotel, essa história começa a mudar ao revivermos a história a partir das memórias e fotografias aqui compartilhadas.

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Vista panorâmica da Barra Sul, próximo ao local onde foi construído o Hotel Fischer. Década de 1950.

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ÚNICO ACESSO

Vista aérea da Praia Central de Balneário Camboriú. Meados da década de 1950.

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Na década de 1950, a paisagem da praia de Balneário Camboriú era agreste. “Tava cheio de roseta, cheio de pitanga, gabiroba, goiaba, tudo isso tinha lá”, conta Klaus Fischer. Pitanga e goiaba hoje apenas nos sabores artificiais dos picolés. O cenário natural e, até certo ponto, inóspito, foi o escolhido para a edificação do Hotel Fischer. Escolha inusitada e ousada. Tal postura, por fim, transformou-se num símbolo do empreendedorismo no setor turístico e imobiliário da cidade.

Início da construção do Hotel Fischer. 1956-1957.

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Fase inicial da construção do Hotel Fischer, entre 1956 e 1957.

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Evolução das obras, fase final da construção do Hotel Fischer. 1957.

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Operários posam em frente à obra quase concluída. 1957.

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O casal Adolfo e Herta Fischer, acompanhando o desenvolvimento da obra. 1957.

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Barcos de pesca em frente ao já inaugurado Hotel Fischer. Meados da década de 1960.

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O VIZINHO DA FRENTE

A localização geográfica da construção forjou uma íntima relação entre hotel e Oceano Atlântico. A lembrança desse nobre vizinho que “morava” logo em frente, com seu imenso jardim azul, era reforçada por objetos decorativos como ossos de baleia e cascos de tartaruga que enfeitavam as paredes do Hotel Fischer.

Edifício Comasa e Hotel Fischer. Meados da década de 1960.

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Vista aérea do Hotel Fischer, construído entre o Oceano Atlântico e o Rio Camboriú. Virada da década de 1950 para 1960.

Segundo Klaus Fischer, no início das atividades do hotel, o abastecimento de água dependia de caminhões pipa e a eletricidade era fornecida por gerador. Diariamente, às 23h, o gerador era desligado e restava o romantismo das luzes de vela e, com sorte, da lua a brilhar intensa

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Rio Camboriú, fundos do Hotel Fischer. -O barco a vela e a lancha eram utilizados para lazer da Família Fischer e amigos. As velas do barco foram feitas com lençóis do hotel. -À direita, no trapiche, está Klaus Fischer.

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O VIZINHO DE TRÁS

O Rio Camboriú não tinha lá o charme do Oceano Atlântico e sua utilização tinha um viés mais prático. Foi utilizado algumas vezes como rota de mercadorias, de funcionários e até alguns passeios de hóspedes. Porém, segundo Cláudio Fischer, não se tinha na época interesse em explorar o potencial turístico do rio e, por isso, poucas estruturas de ancoragem foram criadas.

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Hotel Fischer recém concluído. -Planta do pavimento térreo, desenvolvida pelo escritório Püller, em 1956.-Hotel Fischer nos anos 1960.

O projeto arquitetônico do hotel foi encomendado pela família Fischer em 1956 ao escritório Püller, de Blumenau, que também realizou a construção ao longo de 1957. A fachada original não agradou à família, que trouxe referências da arquitetura alemã para solicitar alterações no projeto.

TOQUE ALEMÃO

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Imagens utilizadas em materiais de divulgação do hotel. Nelas, aparecem alguns cômodos do Hotel Fischer: sala de estar com lareira, restaurante, quarto e bar. Circa 1960.

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Dependências ocupadas pela família e hóspedes. Klaus Fischer jogando xadrez na sala da lareira. -Adolfo Fischer na mesa com empresários e políticos, entre eles: Paulo Willrich e Bruno Schroeder.- Ondina e Klaus Fischer sentados no balcão do bar, acompanhados por funcionários do hotel. -Klaus com sua esposa, Ondina, em momento de celebração com amigos. -Circa 1960.

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Banhistas em frente ao hotel.À direita Ondina e sua filha Renate Fischer.-Waldir Malagrino e Bárbara Fischer, irmã de Klaus, sentados sobre osso de baleia.-Herta Fischer no jardim dos fundos. -1960-1970.

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Hóspedes na varanda que ficava de frente para o mar. 1960-1970.

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Família Fischer: Claudio, Ondina, Adolfo, Paula, Klaus, Herta e Renate. Década de 1960.

ENTRE FAMÍLIA

Em certas épocas, o hotel transformava-se em uma espécie de residência familiar apenas. Cláudio Fischer relata que, no entorno do edifício, “as pessoas eram amigas”. “Não havia relação patrão-funcionário. Às vezes ficávamos meses sem hóspedes e acontecia uma vida no hotel, tomávamos café juntos, batendo papo. No início, o hotel era nossa casa”, relata Cláudio.

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Paula Fischer, mãe do fundador do hotel. Adolfo Fischer. Circa 1950.

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Adolfo Fischer tomando mate com seu filho Klaus Fischer. Década de 1950. -Klaus, Claudio, Renate e Ondina Fischer, em frente ao Rio Camboriú, fundos do Hotel Fischer. Década de 1950.

Klaus Fischer transformou-se praticamente em um personagem ao longo dos anos. O cachimbo só virou hábito aos 34 anos, quando foi presenteado por um hóspede com um exemplar feito de raiz de rosa. O cachimbo, o chapéu e o cavanhaque ajudaram a construir, junto à íntima relação com o mar, o imaginário de Klaus como um capitão.

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Klaus Fischer fumando seu cachimbo. Década de 1960.

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Com um espírito contemporâneo e livre, Ondina expandiu os horizontes da família ao mesmo tempo que preservava as características afetuosas de uma matriarca clássica. No hotel, criava peças de lã para as crianças e a família. Além disso, incentivou o filho Cláudio a viajar e a aprender a voar, além de costurar seus calções de surfe.

Ondina e Renate Fischer posando na lambreta do Foto Camboriú.-Ondina passeando na praia, próximo ao Hotel Fischer, com os filhos Claudio e Renate.

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Ondina e Renate vendo os aviões estacionados na areia da praia próximo ao Hotel Fischer. -Claudio, Klaus, Ondina e Renate em frente ao Hotel Fischer. -Ondina, Claudio e Klaus, em frente ao Rio Camboriú, nos fundos do Hotel Fischer.

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O cachorro “Flohbock” (Saco de Pulgas), os porcos Fritz e Carolina e o macaco Chico eram animais de estimação que viviam no Hotel Fischer.

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A área dos fundos do Hotel Fischer, principalmente nos anos iniciais, manteve um aspecto bastante natural, com sua mata ciliar bastante preservada. Tal cenário incentivava a criação de alguns animais, como cachorros, porcos e até mesmo um macaco.

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Renate e Claudio na Kombi do Hotel Fischer. Década de 1960.

Kombi do hotel na esquina da Rua 1400 com Av. Atlântica.-

Ondina e seus filhos.-

Klaus Fischer reformando a Kombi. -

Fotografia feita durante uma das viagens da família pelo Brasil.-

Kombi em Brasília. -

Década de 1960.

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Para além da vida e da rotina no hotel, a família Fischer também construiu parte de sua história na estrada. Na década de 1960, Klaus e Ondina, junto aos filhos Cláudio e Renate, viajaram pelo Brasil de Kombi. O veículo foi reformado, com o interior feito de marcenaria pelo próprio Klaus, colocando um colchão de casal no meio. A família viajou pela costa brasileira, passando por Bahia, Recife e Rio de Janeiro, além de uma passagem por Brasília.

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PRIVACIDADE PARA JANGO E JK“Difícil de se encontrar até mesmo em Florianópolis”. O comentário de Klaus Fischer tem relação com o luxo que acompanhou a inauguração do hotel. Foi o primeiro hotel de Balneário Camboriú a ter banheiro em todos os quartos. Por essa razão, passou a ser o escolhido nas ocasiões de visita de presidentes como João Goulart e Juscelino Kubitscheck, já que, como bem comentou Klaus, nem a capital possuía tal luxo.

João Goulart ao lado de sua esposa, Maria Thereza Fontella Goulart, nas dependências do Hotel Fischer. A criança é João Vicente Goulart, filho do casal. Circa 1960.

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Transcrição do recado deixado por João Goulart no livro de ouro do Hotel, em 22 de outubro de 1958:“Parabéns aos que tiveram a feliz iniciativa de construir o Hotel Fischer. Modelar na sua organização e no conforto que proporciona a todos aqueles que tem a ventura de aqui hospedar-se. Bastaria um “punhado” de “Hotel Fischer” espalhado pelas encantadoras praias brasileiras para que o turismo no nosso país se tornasse uma realidade”.

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Claudio Fischer ao lado de um pescador segurando um tubarão martelo. -A sopa de tartaruga fazia parte do cardápio do Hotel e os cascos eram utilizados como decoração. -Os pescadores levavam os melhores peixes para vender ao hotel. -Fotografias da década de 1960.

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A relação do hotel com o Oceano Atlântico era tão íntima que a areia da praia era praticamente o quintal. Se em outros hotéis com vista para o mar poderíamos dizer que a praia está a um passo, do Hotel Fischer diríamos que está a um “escorregão”. O escorregador de concreto era ponto clássico para a fotografia das crianças nas férias em Balneário Camboriú

AO MAR NUM ESCORREGÃO

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Fotografias feitas na década de 1960.

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Vista do Hotel Fischer para a Barra Norte. -Hotel Fischer visto da praia. -Adolfo Fischer em traje de banho. -Década de 1960.

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O estilo de vida mais livre que tomava o mundo nos anos 1960, e até mesmo práticas como o surfe e o vôlei de praia, chegava ao litoral. Em Balneário Camboriú, na década de 1970, o turismo crescia devido a melhorias no sistema rodoviário. A partir de 1980, esse cenário se reforça. “Foi o estouro de Camboriú”, relata Klaus Fischer.

Fotografias feitas entre a Rua 2000 e Central. Década de 1960.

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O 12º ANDAR É O MAIOR BARATO

Na década de 1970, com a reforma do prédio, foi incluído um novo pavimento, o 12º andar do hotel, que passou a servir de residência da família Fischer. Acima dessa construção foi implantado o primeiro heliponto da cidade, pouco utilizado à época.

Hotel Fischer em meados da década de 1970.

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Heliponto do hotel. -Cláudio Fischer no 12º pavimento.-Vista da cobertura para a praia. -Ondina e sua mãe, Filomena Oliveira, na cobertura do Hotel, que também tinha vista para o Rio Camboriú. -Fotografias feitas na década de 1970.

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Diversas fases da construção do prédio novo. Ao lado, aparecem os proprietários Klaus e Adolfo Fischer. Meados e final dos anos 1970.

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Vistas de frente e dos fundos do novo prédio, inaugurado em 1975. Fotos: circa 1980.

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Fundos da antiga e nova edificação. Circa 1980

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A fachada do Hotel Fischer, marcada pelo contraste das duas construções. Circa 1980.

As fotografias ilustram bem as mudanças que a fachada frontal do Hotel Fischer experimentou ao longo dos anos. O guarda-corpo dos balcões, com as sacadas dos quartos, passou de madeira a concreto pintado com floreiras. O terraço-varanda recebeu diversos acabamentos e intervenções na decoração e mobiliário.

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Hotel Fischer visto da Avenida Atlântica. Circa 1980.

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Novo restaurante do Hotel. As cadeiras foram produzidas por Klaus Fischer. -Ondina no 12º pavimento. -Um dos quartos do prédio novo.

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Piscina construída em frente ao prédio antigo. Circa 1990.-Klaus Fischer em frente ao Hotel Fischer. Circa 2000.

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PARA SEMPRE NA MEMÓRIA

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Antes mesmo de pisar na ainda deserta cidade de Balneário Camboriú e construir um hotel e uma história rica, a família Fischer já tinha a marca do tempo e de seus fatos marcantes registrados em sua trajetória. O patriarca Adolfo Fischer é natural da pequena Dalberg-Wendelstorf, cidade alemã que mesmo nos dias de hoje não passa dos 600 habitantes. Nascido no dia 12 de outubro de 1903, Adolfo teve uma forte ligação inicial com o campo, devido às características do município alemão, que refletiu em sua formação em Agronomia. Aos 20 anos de idade, Adolfo vem para o Brasil buscando melhores condições após a Primeira Guerra Mundial. Ele e a família se instalam perto de Videira, no Vale do Rio do Peixe, Oeste do estado de Santa Catarina. Foi lá que em 1929 nasceu Klaus. O primogênito de Adolfo também iniciou a vida com uma ligação com o campo. Andava a cavalo, trabalhava na fazenda e gostava muito de marcenaria. Ao fim dos anos 1930, mesmo morando no Brasil, Adolfo foi obrigado a servir o exército alemão na Segunda Guerra Mundial. Lutou por um ano e meio e, segundo Klaus, voltou abatido do campo de batalha. Em terras brasileiras o reflexo da guerra foi sentido pelo restante da família. Klaus conta que estudava alemão, mas que devido ao conflito foi proibido de utilizar a língua do pai e mesmo as relações pessoais da família com outros moradores se tornaram difíceis.Casa onde residía a família Fischer, na

Alemanha.-Adolfo Fischer em traje militar durante a Segunda Guerra Mundial.

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PRA PERTO DO MAR

Foi então que a vida parece ter oferecido a chance da família Fischer construir sua história de forma marcante. Um amigo de Adolfo o convidou para deixar Videira e se associar ao arrendamento do Hotel Miramar. Em 1950 a família Fischer desembarca em Balneário Camboriú. Klaus, então com 21 anos, conta que Balneário Camboriú “era uma beleza. Tinha trezentas e poucas casas de madeira, mas tinha umas quatro ou cinco construções de material. Mas tudo gente de Blumenau, Brusque, Timbó, redondeza, né?! Então, o nosso turista pra chegar aqui era difícil. Não tinha estrada de asfalto, só daqui a Curitiba eram 8, 9 horas de viagem. Pra Florianópolis, quatro horas você chegava. Aqui, quando chovia, nós tínhamos só um ônibus, o Baturité. Ele ia pra Itajaí. No morro ele encalhava”, conta, entre risos.

Klaus ainda constrói o imaginário da cidade na década de 1950, explicando que na região da Barra Sul “tava cheio de roseta, cheio de pitanga, gabiroba, goiaba, tudo isso tinha lá. A entrada [acesso para a praia] era no Hotel Miramar [avenida Central], era única. Não tinha mais entrada.”

A rede hoteleira de Balneário Camboriú começou a surgir no fim da década de 1920, com o Strand Hotel (ou Hotel do Jacó), o primeiro da cidade, onde hoje confluem as avenidas Central e Atlântica. Essa região era o centro de desenvolvimento do município, onde havia alguma infraestrutura, por isso o caráter inusitado de onde seria construído, mais tarde, o Hotel Fischer.

Klaus Fischer de bicicleta em frente ao Hotel Miramar.

Klaus Fischer trabalhando como marceneiro no Hotel Miaramar

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Em 1950, Adolfo chega com a família ao litoral e começa a trabalhar no Hotel Miramar como garçom. A trajetória empresarial da família começa mesmo quando poucos anos depois passam a administrar o Terraço Boa Vista, estabelecimento gastronômico fundado por Gerard Schepperes e arrendado pelos Fischer. No ambiente do Terraço Boa Vista, destaca-se a presença de Herta Fischer, esposa de Adolfo, que fazia sorvete, churrasco na tábua de madeira, pastéis e tortas. Klaus também participa ativamente no espaço, com serviços gerais e marcenaria.

Dono de um estilo singular, na época com seus chapéus e lenços, Klaus conhece a futura esposa no Terraço Boa Vista. Com família de Jaraguá do Sul, o pai de descendência afro e indígena e a mãe alemã, Ondina Oliveira conquista Klaus.

UMA IDEIA OUSADA

Com o dinheiro do negócio no Terraço Boa Vista, Adolfo compra, poucos anos depois, o terreno no inóspito local onde será mais tarde construído o Hotel Fischer. A escolha foi dita como ousada na época, pois a região era distante do centro, onde a cidade possuía uma mínima estrutura. A postura visionária já ao fim da década de 1950 ajudou a construir a identidade cultural da cidade, tão reconhecida por seu desenvolvimento turístico e imobiliário.

Segundo Adolfo Fischer, a Balneário Camboriú de 1950 tinha pouco mais de uma centena de casas, a maioria de pescador. Se distante de onde a cidade iniciava sua infraestrutura, o terreno onde se ergueria o Hotel Fischer era próximo de três marcos: o rio, o mar e o histórico

Terraço Boa Vista.

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Bairro da Barra. Na região do terreno, o Rio Camboriú faz uma curva e forma uma faixa de areia relativamente estreita, deixando os dois corpos d’água, rio e mar, bem próximos. Duas ilhas pequenas no leito do rio marcam a paisagem natural do espaço também. Sobre a localização e o início da construção, Klaus comenta: “(...) este prédio que nós chamamos de ala germânica. Aí em onze meses nós fizemos isso daí. Fizemos uma coisa que muita gente daqui do Estado dizia: ‘esses alemães são loucos’. Primeiro fez um hotel no canto da praia onde não tinha movimento nenhum, só casinha de pescador, né. Mas nós fizemos o hotel, porque era frente mar e frente rio. Então nós sabíamos que lugar mais calmo que aqui não existia, não existe em Camboriú”.

O projeto arquitetônico para o hotel foi encomendado em 1956 ao escritório Püller, de Blumenau, que foi também responsável pela construção, realizada ao longo de 1957. A edificação seguiu padrões construtivos novos para a época, especialmente em relação à verticalização, que ainda era pouco dominada pelas construtoras. Segundo Klaus, a fachada original idealizada pelos arquitetos não agradou à família e acabou sofrendo alterações, recebendo principalmente uma extensa mansarda na cobertura, referência direta às arquiteturas alemãs.

Com seus quatro andares iniciais, a técnica construtiva adotada foi a de alvenaria estrutural, com paredes duplas de tijolos maciços nas paredes externas e simples nas paredes internas. O concreto armado foi utilizado somente nas lajes. O edifício robusto que surgia iria ser, talvez, um dos principais indícios da identidade desenvolvimentista que a cidade adotaria a partir de então, e que perdura com grande

Início da construção do Hotel Fischer.

Localização do terreno onde foi construído o Hotel.

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intensidade até os dias de hoje. Ao longo da estrutura principal em formato de L foram acrescidas edificações de dois pavimentos, que atendiam às funções operacionais do hotel, como lavanderia e depósito.

A fachada contava com um terraço-varanda, coberto parcialmente por uma marquise de concreto. O local era muito frequentado pelos hóspedes e se transformou em um dos cartões-postais do Hotel Fischer. Outros elementos arquitetônicos e de decoração que foram cenário de diversas fotografias foram o escorregador de concreto junto à calçada, dando acesso à areia, e uma costela de baleia, exposta nas dependências do hotel.

Nos anos iniciais os quartos ficavam nos 3º e 4º andar. Alguns deles eram interligados por uma porta, o que criava quartos conjugados, apropriados para as famílias que se hospedavam no início do hotel. Os cômodos que ficavam de frente para o mar possuíam uma sacada com um guarda-corpo, inicialmente de madeira e posteriormente de concreto.

Quando inaugurado, no dia 15 de dezembro de 1957, o Hotel Fischer possuía 26 quartos luxuosos, sendo 18 apartamentos e 8 suítes, algo “difícil de se encontrar até mesmo em Florianópolis”, comenta Klaus. Foi o primeiro hotel de Balneário Camboriú a ter banheiro em todos os quartos e tinha a capacidades de atender 108 hóspedes. Os funcionários do hotel nessa época eram majoritariamente parte da comunidade local. Klaus conta que os homens viviam da pesca e as mulheres e filhas trabalhavam em hotéis e restaurantes.

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OS PRIMEIROS ANOS

Por conta das dificuldades estruturais do local escolhido, junto ao hotel, a família Fischer buscou diversas melhorias. Uma dessas obras foi a construção de um extenso muro de arrimo junto à areia da praia, com cerca de 1.500 metros, com aterramento e plantio de árvores. Klaus conta também que o abastecimento de água era feito por caminhões-pipa e a eletricidade era fornecida por um gerador, desligado diariamente às 23h.

Toda a rouparia do Hotel Fischer vinha da região de Blumenau, aproveitando o setor têxtil catarinense que já crescia na época. As roupas dos funcionários eram todas costuradas pelas mulheres da família Fischer.

A vida ao redor do Hotel Fischer exibia as marcas da relação íntima com o mar. Banhos e passeios na orla estavam entre as atividades preferidas dos hóspedes. Para além da recreação, a paisagem adentrava o prédio através de objetos decorativos como ossos de baleia e cascos de tartaruga. Já o rio serviria algumas vezes como rota de mercadorias, via de chegada de funcionários e alguns passeios.

Por conta dessa relação com o estilo de vida de praia, havia uma característica sazonal na ocupação dos hóspedes. Na baixa temporada, inclusive, o hotel diminuía o número de funcionários, ficando “uma ou outra camareira”, “uma pessoa responsável pelas reservas” e “um ou dois hóspedes”, conta Elaine Dias dos Santos, ex-funcionária do Hotel Fischer.

Na estação fria do ano, Ondina usava suas habilidades para produzir peças de lã para as crianças e para a família, além de, no início, costurar uniformes para as camareiras. A revista alemã Stern servia de

Muro de arrimo em frente ao Hotel. Circa 1960.

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inspiração para os modelos que vestiam os filhos Cláudio e Renate. Nessas épocas de menor movimento no hotel, a relação entre a família e outros funcionários se reforçava. “As pessoas eram amigas. Não havia relação patrão-funcionário. Às vezes ficávamos meses sem hóspedes e acontecia uma vida no hotel. Tomávamos café junto, batendo papo. No início o hotel era nossa casa”, contou Cláudio Fischer.

AS FIGURAS DA FAMÍLIA Klaus talvez tenha sido a figura mais forte ao longo da história do Hotel Fischer. Chegando já na juventude em Balneário Camboriú, ele construiu uma imagem de homem de personalidade forte, misturando a raiz cultural da vida no campo com as características da vida na praia. Ao longo dos anos Klaus foi criando uma relação intensa com o mar. De seu estilo, o cachimbo, chapéu e o cavanhaque foram os elementos mais marcantes. O primeiro cachimbo, aliás, feito de raiz de rosa, Klaus recebeu como presente de um hóspede aos 34 anos. Foi assim, além dos conjuntos de algodão clássico, com calça social e camisa tradicional, que ele construiu essa imagem de capitão, de marinheiro.

Para além da vida e da rotina no hotel, a família Fischer também construiu parte de sua história na estrada. Na década de 1960, Klaus e Ondina, junto aos filhos Cláudio e Renate, viajaram pelo Brasil de

Retrato de Klaus Fischer. Circa 1960.

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Kombi. O veículo foi reformado, com o interior feito de marcenaria pelo próprio Klaus, colocando um colchão de casal no meio. A família viajou pela costa brasileira, passando por Bahia, Recife e Rio de Janeiro, além de uma passagem por Brasília.

No hotel, todos da família estabeleceram relações fortes com o mar. Adolfo e Herta caminhavam diariamente às 5h da manhã. Cláudio Fischer foi um dos que mais alimentou essa intimidade com o mar e o rio. Foi velejador e também surfou durante certo período.

As atividades de Cláudio, não só em relação ao mar, sofreram fortes influências de Ondina, que, segundo ele, foi sua grande inspiração na leitura e na formação acadêmica, incentivando-o a viajar pela Europa e aprender a voar com 15 anos de idade.

A AMPLIAÇÃO

Na década de 1970, a região de Balneário Camboriú começa a sentir impactos da melhoria do sistema rodoviário, o que intensifica os fluxos turísticos. Mais próximo à década de 1980, essa estrutura se reforçou e, segundo Klaus Fischer, “foi o estouro de Camboriú”. O reflexo dessas mudanças foi a percepção da família Fischer de que o hotel havia ficado pequeno para a nova realidade turística da cidade. Logo em 1972 foi dado início ao projeto arquitetônico para a reforma e ampliação do Hotel Fischer. O novo edifício apresentava 12 andares e ficava encostado na lateral do antigo hotel. O volume

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das duas edificações ficava alinhado à fachada e aos fundos. O estilo arquitetônico adotado no projeto seguia um padrão muito recorrente no início dos anos 1970, momento em que a arquitetura modernista se popularizava. No novo edifício, isso fica bastante perceptível pelas linhas retas da fachada e pela planta-baixa de desenho racionalista.

Vale destacar que, mesmo com mais de uma década de diferença entre o edifício original e o novo, as duas arquiteturas seguiam preceitos bastante funcionalistas, típicos das arquiteturas modernistas da época, e que encontravam alinhamento ideológico com a visão progressista do empreendimento dos Fischer. Tal postura era também bastante perceptível na cultura das famílias descendentes da imigração alemã do Vale do Itajaí e do estado de Santa Catarina.

O projeto arquitetônico do novo edifício do hotel foi realizado por um escritório de Porto Alegre, o Paulon&Paganelli, que o elaborou ao longo de 1971 e 1972. A construção do hotel também foi realizada pelo escritório gaúcho, ao longo dos anos de 1973 e 1974. O novo edifício foi inaugurado em 1975, marcando um momento de grande transformação nos serviços prestados pelo Hotel Fischer.

As estruturas de recepção e restaurante do Hotel passaram agora para o novo edifício, que, por sua vez, encaminhava os hóspedes para os quartos do antigo edifício, quando fosse o caso.

A partir do terceiro pavimento inicia uma série de oito pavimentos, com 11 quartos cada. Todos os quartos possuíam áreas equivalentes, e alguns deles podiam ser interligados, chamados de suítes ou quartos conjugados. O 11º pavimento consistia essencialmente pelo terraço e pelas suítes presidenciais.

Ainda foi somado mais um pavimento ao projeto original, o 12º Projeto arquitetônico para a ampliação do Hotel.

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andar, que servia como residência da família Fischer. Acima desse pavimento, o hotel apresentava ainda o serviço de heliponto. Esse uso era bastante eventual, sendo pouco utilizado, mas marcou a paisagem urbana, por ter sido o primeiro da cidade.

O FIM

No início dos anos 2000 Balneário Camboriú já apresentava suas características de crescimento vertical e explosão da construção civil e do setor imobiliário. Alguns edifícios, mais antigos e menores, começavam a ser demolidos para dar lugar a prédios de grande porte. O setor turístico e de hotelaria também modernizavam suas atividades e instalações.

Todas essas mudanças acabaram por atingir também a forte história do Hotel Fischer, que passou a não desenvolver todo o potencial econômico que seu terreno comportava. Depois de 52 anos de operações, com hóspedes que registravam no livro-ouro todo o prazer

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de ter se hospedado no hotel, com a história de uma família construída ao redor do edifício, com a recepção de presidentes brasileiros, como João Goulart e Juscelino Kubitschek, o Hotel Fischer fechou suas portas em 2009. O fato do empreendimento estar fechado, a falta de articulação de políticas públicas e as generosas ofertas de negócios proporcionadas pela construção civil são considerados os principais fatores que levaram à venda do hotel, e, consequentemente, a sua demolição em 2012. O hotel foi comprado pela construtora Procave, que já investia em imóveis na orla da praia e estava interessada em um empreendimento imobiliário residencial no local.

A demolição do Hotel Fischer foi realizada pela empresa Terra Brasil Terraplanagem, e foi realizada através da técnica de desmonte do edifício, de cima para baixo.

No terreno, o espaço ainda vazio só faz alimentar a imaginação e a memória, que projeta ali as histórias do que não foi apenas um estabelecimento ou um edifício nesse mar de prédios de Balneário Camboriú. O Hotel Fischer representa parte fundamental de uma ainda recente história da cidade. Se as paredes não existem mais, a memória, através de relatos e fotografias, seguirá edificada.

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Hotel Fischer em meio aos arranha-céus de Balneário Camboriú. Circa 2007.

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HOTEL FISCHER - 1957 / 2012

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos especialmente aos Senhores Klaus e Claudio Fischer, por colaborarem integralmente com este projeto, nos recebendo em sua casa, cedendo entrevistas e todo acervo de documentos para uso da equipe. Nota-se que a cordialidade é uma característica desta família, que merecidamente conquistou o respeito e admiração de pessoas do mundo inteiro.

Agradecemos também aos Senhores Carlos Alberto Schlup e Richard Lopes Correia, por colaborarem voluntariamente com as pesquisas e análises de documentos, bem como às seguintes instituições: Prefeitura de Balneário Camboriú, Fundação Cultural de Balneário Camboriú, Arquivo Municipal de Balneário Camboriú, Secretaria de Planejamento Urbano de Balneário Camboriú e SESC.

Por fim, aos familiares e amigos da equipe, da Família Fischer e a todos que colaboraram direta ou indiretamente com este projeto, fica aqui registrado nossos mais sinceros agradecimentos.

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Hotel Fischer: fotografias & memória. 1ª edição: dezembro, 2016. memoriahotelfischer.wordpress.com

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Coordenação geral:Sergio Antonio Ulber

Edição:Núcleo Catarinense de Fotografia - NCFnucleocf.tumblr.com

Análise Histórica: Murilo Maluche Schaefer

Análise Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico: Gabriel Gallarza

Análise Moda e Estilo de Vida: Caroline Santos

Análise Iconográfica: Sergio Antonio Ulber

Textos e revisão: Vinicius Batista de Oliveira

Projeto gráfico e diagramação: Felipe Gallarza

Curadoria fotográfica: Felipe Gallarza e Sergio Antonio Ulber

Digitalização: Vitor Ebel

Tratamento: Felipe Gallarza e Sergio Antonio Ulber

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Contato:[email protected]

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Este livro foi produzido entre 2015 e 2016, com recursos da Lei de Incentivo e Fomento à Cultura de Balneário Camboriú. www.culturabc.com.br

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Tiragem: 1500 exemplaresCapa: Triplex Duo 300gMiolo: Couche Fosco 170gTipografia: Adobe Garamond Pro Gráfica: Tipotil Indústria Gráfica

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As fotografias publicadas neste livro pertencem ao acervo particular de Klaus Fischer, exceto a da página 7, que pertence ao NCF.

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Mapa página 64: Google Maps.

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O Brasão da família Fischer foi utilizado como marca do Hotel durante o período que esteve em atividade. Ao longo dos anos passou por algumas mudanças, mas sempre preservou a figura do pescador como elemento central.

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Patrocínio Apoio

H O T E L F I S C H E R

Ao contarmos as histórias de uma construção arquitetônica, parece inevitável usar a expressão “se essas paredes falassem”. Mesmo que, num passe de mágica, isso pudesse ser real, as paredes estariam mudas. Não há paredes.

A história do Hotel Fischer ressurge dos escombros do esquecimento. Renasce na memória de seus personagens e nas fotografias escondidas, até hoje, em gavetas, arquivos e álbuns.