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A CONTABILIDADE EM ANGOLA A IMPORTâNCIA DA ORDEM DOS CONTABILISTAS E DOS PERITOS CONTABILISTAS www.valoracrescentado-online.com Angola 20 USD’s | Portugal 26| Resto do Mundo 25 USD’s SETEMBRO / OUTUBRO 2010 | n.º 16

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A CONTABILIDADEEM ANGOLAA IMpOrTâNCIA DA OrDEM dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas

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NOVO LIVrO

Brevemente

Aprender o CONTIF

A importância da Harmonização Contabilística a nível mundial.

O IASB e a sua estrutura conceptual.

Importância e função de um banco perante a Norma

Internacional de Contabilidade nº 30.

Decisões de crédito e geração de valor.

Afectação do Capital incluindo Basileia I e Basileia II.

Exercícios práticos sobre as várias matérias apresentadas.

JOSÉ LUÍS FARIA MAGRO

C M Y CM MY CY CMY K

1º VoLUMe

pLAno de ContAs dAs

InstItuIções FInanceIras

de angola

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No dia 7 de Junho, pelas 23 horas, faleceu o Professor Doutor António Lopes de Sá, com 83 anos de idade.

A primeira vez que contactei o grande Mestre, já lá vão uns anos, era estu-dante universitário e tinha de apre-sentar um trabalho sobre “As origens das provisões”. Precisava de falar com alguém sobre esta matéria no sen-tido de esclarecer algumas dúvidas. Mandei-lhe um e-mail às 2 horas, da cidade do Porto para Belo Horizonte, sua terra natal, onde viveu e morreu e eram 10 horas já tinha a resposta, pese embora a diferença de fusos ho-rários.

Aquela resposta pronta foi importan-te para o meu ego (ainda hoje guardo esse e-mail), pois é motivo de orgulho ser “ouvido” por uma pessoa tão sin-gular e tão fantástica, como o nosso Mestre.

Passaram alguns anos e quando lan-çámos a revista Valor Acrescentado,

contactei-o no sentido de colaborar connosco, com os seus ilustres ar-tigos. Prontificou-se de imediato e, inclusive, divulgou o meu nome no mundo académico brasileiro.

Tal facto, originou que outros auto-res seus compatriotas, contribuíssem também com artigos para a Valor Acrescentado.

A globalização via Internet permite felizmente este convívio, esta troca de opiniões.

Conheci pessoalmente o grande Mes-tre António Lopes de Sá, na Faculdade de Economia do Porto, numa palestra com professores portugueses. Alguns tinham sido meus professores. Lopes de Sá era um brilhante conferencista participando sempre que lhe era pos-sível em eventos e congressos.

Pai do Neopatrimonialismo - corrente criada por si e espalhada pelos vários cantos do mundo – era um Homem

sábio, de ideias claras e abrangentes, que só os grandes Mestres conseguem legar às gerações futuras.

Pessoa solícita e sempre disposto a ajudar, começámos a ter mais con-tactos pessoais. Trocámos muitas opiniões, algumas discordantes, no-meadamente no que concerne à har-monização/normalização contabi-lística, a nível mundial, mas sempre contribuindo para o enriquecimento do meu conhecimento.

António Lopes de Sá tratava-me por colega. Não. Reconheço as minhas limitações. Estou a anos-luz do seu conhecimento.

António Lopes de Sá pediu-me para ser um continuador da sua corrente neopatrimonialista em Angola. É um grande desafio. Vamos ver. Será de certeza a melhor homenagem que lhe posso deixar.

Paz à sua alma.

editorial

HOMENAGEM AO PROFESSOR DOUTOR ANTÓNIO LOPES DE SÁ

PROPRIEDADE Valor Acrescentado - Prestações de Serviços, Lda.DIREcTOR José Luís MagroADMINISTRADOR Luís GomescHEFE DE REDAcçãO Adelaide AlvesREDAcçãO Filipa Couto, Carlos NetoPUbLIcIDADE Luís HandangaDESIGN GRÁFIcO PMD - Design de Comunicação | www.pmd.ptIMPRESSãO Uniarte Gráfica / PortocOLAbORARAM NESTE NúMERO Filipa Couto, José Luís Magro e Miguel Gonçalves

Tiragem: 10.000 exemplares. Registada sob o número McS-430/b/2006.

SEDEAv. Comandante Valódia, nº 5 - 5º Ap 53 - Luanda Tel. 00244 222 430 583 - Fax 00244 222 431 168

DELEGAçãORua Serpa Pinto, nº 750 - 4º4550-465 Porto - PortugalTel. 00351 228 300 507 - Fax 00351 228 329 897

www.valoracrescentado-online.cominfo@valoracrescentado-online.com

2 . Valor aCresCentado // agosto | setembro 2010

Análise de Projectos e InvestimentosAnálise FinanceiraAuditoria FinanceiraAvaliação de Empresas e NegóciosContabilidade e Fiscalidade para AdvogadosContabilidade e Fiscalidade para EmpresáriosContabilidade BancáriaContabilidade e FiscalidadeContabilidade para IniciadosContabilidade Prática InformatizadaGestão Comercial e Inventários com Aplicação InformáticaOrçamento EmpresarialRecursos HumanosSecretariado com aperfeiçoamento do Português Tesouraria com Aplicação Informática

CUrSOS DISPOnÍveIS

InSCrevA-Se

JÁ.

00244 222 430 58300244 923 454 67700351 919 352 [email protected]

Formadores: dr. José luís Magro / dra. adelaide Magro

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4 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

Setembro/Outubro ‘10 | nº 16

contabilidade

14 VIAGEM HISTÓRICA PELO VESTUTO MUNDO DA CONTABILIDADE

Oartigoassumeafinalidadedeapresentarumaresenhasobreaevoluçãodo pensamentocontabilístico,efectuando,paraoefeito,umaviagempela ContabilidadedealgumasdasmaisinteressantescivilizaçõesdaAntiguidade OrientaleClássica.

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. 5Setembro | Outubro 2010 // VALOR ACRESCENTADO

sumário

secções

02 EDITORIAL

06 RECORTESDEIMPRENSA

10 COMUNICADOSDEIMPRENSA

14 CONTABILIDADE

26 GESTÃO

30 INFORMÁTICADEGESTÃO

38 ESPECIAL

80 FORMAÇÃO

82 PRÓXIMONÚMERO

especial

38 A CONTABILIDADE EM ANGOLA: A IMPORTÂNCIA DA ORDEM DOS CONTABILISTAS E DOS PERITOS CONTABILISTAS EM ANGOLA

Hoje fala-senaaberturaparabrevedaBolsadeValoreseDerivativos de Angola. Para que qualquer bolsa financei-ra funcione, se tivermosmercado secundário a funcionar,implicaqueauditoresindependentes,verifiquemascontasdasempresascotadas.Ora,éumaboaoportunidadeparaosurgimentodaORDEMDOSCONTABILISTASEPERITOSCONTABILISTASDEANGOLA.

gestão

34 IDEIAS E TÉCNICAS DE GESTÃO

Letra“R”.

38 GLOSSÁRIO DA BOLSA DE VALORES

Letra“Q”.

informática de gestão

40 CENÁRIOS

AprenderatrabalharcomCenários.

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6 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

recortes de imprensa

CONSELHO NACIONAL DE CARREGADORES LANÇA PORTAL PARA AUXILIAR IMPORTADOR

O Conselho Nacional de Carregadores (CNC) lançou hoje (segunda-feira), em Luanda, um portal e a Bolsa Nacional de Fretes (BNF) para manter informada a comunidade portuária e os cidadãos.Com este meio de informação, cujo domínio na internet é “www.cnc.com”, os importadores nacionais poderão saber a data de chegada de mercado-rias ao país, nome e posição do navio atracado ao longo da costa marítima a cerca de 60 milhas, isto é, 110 quilómetros da zona do porto.Poderão igualmente saber como negociar com os carregadores, uma vez que os valores pagos à transportação para Angola são muito dispendiosos.Actualmente, os cidadãos terão apenas informações referente ao Porto de Luanda e do Lobito e nos próximos tempos serão incluídas dados sobre os portos de Namibe, Cabinda e Soyo.Segundo o director do CNC, Francisco Agostinho Itembo, os importadores e demais cidadãos têm à disposição informações que lhes facilitará nas negociações de fretes.“O importador discutirá o frete com uma base, tendo em conta a referência que é calculada segundo normas que são usadas pelos armadores”, disse o responsável. Francisco Itembo acredita que o frete marítimo de Angola, que é dos mais caros do mundo, será ainda mais reduzido com este serviço.Deu a conhecer também que o preço do frete depende da origem da mer-cadoria. De Portugal para Angola, por exemplo, no ano passado estava na ordem dos oito mil dólares norte-americanos, um contentor de 40 pés, agora já se verifica uma redução, devido o processo de desembaraço no Porto de Luanda levado a cabo desde o ano transacto, pelo ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás.

Fonte: Angola Press

MINISTRO ALEMÃO DEFENDE EXPULSÃO DA ZONA EURO DE PAÍSES QUE NÃO EQUILIBREM CONTAS PÚBLICAS

“Temos necessidade de regras restritas, o que quer dizer, que em último recurso, temos a possibilidade de retirar da zona euro um país que não coloque em ordem a suas finanças, defendeu Wolfgang Schäuble em en-trevista ao diário alemão Bild Zeitung. “Esta perspectiva só por si assegura uma nova disciplina”, notou.O ministro do governo alemão liderado por Ângela Merkel sustentou que há necessidade de criar um Fundo Monetário Europeu, no quadro das regras que orientam os 16 países da zona euro, pois o Pacto de Estabilidade e Crescimento não é suficiente para fazer face à crise. “Temos necessidade de um FME que imponha regras mais firmes, pois o PEC não é suficiente”, defendeu Wolfgang Schäuble.Isto, adiantou, porque quando foi concebido o PEC não previa a possi-bilidade de um país da zona euro poder decretar falência. No quadro da discussão das ajudas europeias à Grécia, o ministro alemão já defendeu publicamente a possibilidade de um país poder sair da zona euro, manten-do-se na União Europeia.

Fonte: Angola Press

ANGOLA PRESENTE NA 156ª REUNIÃO DA OPEP

O ministro dos Petróleos, Bote-lho de Vasconcelos, desloca-se terça-feira a Viena (Áustria), para participar da 156ª reunião ordiná-ria da OPEP, encontro que acon-tece pouco depois de Angola ter passado a presidência da organi-zação à República do Equador.A reunião ordinária acontece quarta-feira, 17 de Março de 2010 e vai analisar, fundamen-talmente, a situação actual do mercado petrolífero, nas suas componentes de oferta, preço e consumo.O preço médio do barril de cru-de é, actualmente, 77.74 dólares norte-americanos e de acordo com analistas do sector, satisfaz tanto os produtores quanto os compradores.Entretanto, a reunião de Viena será também marcada por uma nova liderança - o Equador, de-pois de receber as pastas em Dezembro último.“Angola transmitiu o fecho da presidência da OPEP ao Equa-dor com o sentimento de ter cumprido a sua missão de país produtor”, afirmou, a proposito, o ministro José Maria Botelho de Vasconcelos, ao fazer o balanço da presidência angolana.Durante o seu mandato, Angola organizou, entre outras activida-des, em Luanda, o seminário so-bre contratos petrolíferos e pro-cedeu, de igual modo, no âmbito da SADC. O país submeteu-se às decisões tomadas pela OPEP quanto às quotas de produção.A presidência rotativa de Angola no cartel cessou a 22 de De-zembro último.Para o encontro de Viena, além dos responsáveis do Ministério dos Petróleos, acompanham o ministro quadros da Sonangol e de operadoras petrolíferas que trabalham em Angola.

Fonte: Angola Press

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A vida paga-secom cartão.

BIC Multicaixa

www.bancobic.ao

Toda a gente gosta de compras. E o seu BIC Multicaixa é ideal para pagar tudo de forma mais simples e segura. E tem outras vantagens: pode consultar o seu saldo bancário, o IBAN, os movimentos de conta e fazer transferências. Gerir assim o seu dinheiro, não custa nada.

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8 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

recortes de imprensa

ANGOLA CONTACTA AGÊNCIAS DE RATING PARA OBTER CLASSIFICAÇÃO DE CRÉDITO O governo angolano tem mantido contactos com pelo menos uma agência de rating, nas últimas semanas, de forma a obter classificação de cré-dito antes de realizar uma emissão de dívida, se-gundo fonte governamental.A emissão de dívida, reservada a investidores estrangeiros, ascenderá a quatro mil milhões de dólares.A emissão de obrigações estava prevista para Dezembro e destina-se a investidores estrangei-ros, mas foi adiada devido à remodelação gover-namental, com a nomeação de um novo ministro das Finanças, e à tentativa de obter uma classi-ficação de “rating”, na expectativa de que isso ajude à colocação da emissão.O Governo não confirma oficialmente a procura de classificação de crédito, admitida, há alguns meses atrás, pelo ministro da Economia, como uma vantagem para o país, uma vez que as emis-sões de dívida classificadas pela Moody’s, Fitch e S&P são melhor acolhidas pelos investidores.

Fonte: Público

ANGOLA ECONOMIZA MAISDE USD 500 MILHÕES COMRÁPIDO DESALFANDEGAMENTO Com a redução do tempo de desembaraço de mercadorias, no Porto de Luanda, para cerca de 10 a 15 dias, o país já economizou entre 500 mi-lhões a um bilião de dólares norte-americanos, informou esta segunda-feira, em Luanda, o mi-nistro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás.Segundo o governante, o desembaraço de mer-cadorias no Porto de Luanda era retardado até 90 dias de forma dolosa, prejudicando a econo-mia e com isso os importadores eram forçados a pagar diariamente onerosas taxas pela estadia das mesmas no recinto portuário.O ministro prestou a informação numa reunião promovida pelo Conselho Nacional de Carrega-dores (CNC) que tinha como objectivo a apre-sentação do portal do CNC e da Bolsa Nacional de Fretes (BNF).Na sua alocução, chamou atenção à neces-sidade de coragem e coerência na aplicação das medidas traçadas pelo governo para que o povo, principal destinatário dos serviços públi-cos, se beneficie das mesmas.As medidas de facilitação do desembaraço de mercadorias no Porto de Luanda começaram a ser levadas a cabo pelo Ministério dos Transpor-tes desde o ano transacto.

Fonte: Angola Press

PORTO DO SOYO AUMENTA QUADRO DE INVESTIMENTOSO Porto do Soyo, na Província do Zaire, está aumentar o seu qua-dro de investimentos em infra-estruturas técnicas e administrati-vas, para corresponder com a demanda do crescimento econó-mico nesta região do país e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), soube sábado a Angop de fonte oficial.O programa que se desenvolve durante os anos de 2010 e 2011, visa a aquisição de equipamentos portuários e a construção de mais 300 metros de cais, a construção dum novo edifício adminis-trativo principal e os Portos secos do Nzeto e do Tomboco, expli-cou o director-geral do Porto do Soyo, Abel Paulo.Salientou que as novas descobertas nos blocos petrolíferos da re-gião, a entrada para breve da produção da fábrica de gás liquefeito “Angola LNG”, o impulso do turismo local com a implementação de novos projectos, as perspectivas de novos dados sobre o cres-cimento da indústria das pescas, o comércio e outros, animam a empresa nos novos investimentos.Abel Paulo disse que os investimentos abarcam ainda a reabili-tação e o apetrechamento do Porto do Nóqui, que constitui uma unidade de produção ligada ao Porto do Soyo.O responsável não avançou os valores monetários a serem em-pregue nos investimentos em perspectiva, mas, por exemplo, os equipamentos portuários definem-se em quatro camiões atre-lados, duas gruas com a capacidade de 90/100 toneladas, bem como máquinas empilhadoras de 25 e 45 toneladas.Abel Paulo mencionou outros investimentos como as construções, outros apetrechamentos e aquisições, cujos projectos têm a ges-tão directa do Ministério dos Transportes, de que o Porto do Soyo é unidade orgânica.Os Portos Secos, projectados de suporte a toda a actividade da Empresa Portuária do Soyo, serão criados na área do “Campo 8” (Soyo), com 10 hectares, enquanto outro de 30 hectares será construído entre as localidades do Tomboco e Nzeto, cerca de 200 quilómetros a sul da cidade petrolífera.O director-geral do Porto do Soyo acrescentou que está também prevista a aquisição no período 2010/2011, uma draga de grande capacidade, para a manutenção regular das bacias de manobras do Porto do Soyo, Nóqui e também do Porto de Cabinda, que é parceiro alternativo.“As fortes correntes do Rio Zaire ou Congo são factores que in-fluem na afectação periódica das bacias de manobras portuárias, o que pode desanimar os armadores, devido a constrangimentos nas suas operações de navegação”, referiu.O Porto do Nóqui, considerado outra unidade do tecido económico do país e região fronteiriça, pelo seu papel de reabastecimento do interior das Províncias do Zaire e Uíge e também da República Democrática do Congo (RDC), beneficiou já, há algum tempo, da reabilitação e equipamento do tabuleiro portuário afectados duran-te a guerra.Afirmou que o período do programa considerado de modernização e expansão do Porto do Soyo abrange a realização de uma dra-gagem preventiva à bacia de manobras do Porto do Nóqui, no Rio Zaire ou Congo, entre a vila do Nóqui (Angola) e de Matadi (RDC).O Porto do Soyo tem 30 anos de existência e foi criado fundamen-talmente para apoiar o relançamento das operações da indústria petrolífera, tempos depois da Independência Nacional.

Fonte: Angola Digital

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10 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

comunicado de imprensa

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12 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

A ONG ADRA - Associação Adventista para o Desenvolvimento, Recursos e Assistência enviou sistemas de purifi-cação de água e geradores num voo hu-manitário do Governo Português, a fim de apoiar as equipas de emergência da ADRA que se encontram em Port-au-Prince, Haiti, a prestar auxílio às víti-mas do terramoto que devastou o país.

O material saíu juntamente com outros equipamentos da protecção civil portu-guesa que não coube no primeiro voo do C-130 da Força Aérea Portuguesa para o Haiti. Com o apoio da Secretaria de Estado da Protecção Civil, o equipa-mento seguiu num voo comercial até Caracas, na Venezuela, e daí transpor-tado pelo C-130 da Força Aérea até à capital do Haiti, Port-au-Prince.

Após uma primeira avaliação, as equi-pas de emergência da ADRA, presentes no terreno, avançaram que as duas maiores e mais prementes necessida-des da região são a água e a energia. Os sistemas de purificação de água, que a ADRA Portugal enviou para o Haiti têm a capacidade de captar e tratar 180 mil litros de água por dia, o que será suficiente para fornecer água potável a dezenas de milhar de pessoas.

A aquisição dos Grupos Geradores SDMO teve o apoio do Grupo Auto-Sueco, que prontamente os disponibi-lizou.

Os Grupos Geradores fornecidos, de 4 e 6 kVA, integram-se na Gama de Grupos

Geradores Portáteis e Moto-Bombas, da prestigiada marca Francesa SDMO, que disponibiliza potências entre os 0,9 kVA e 15 kVA, com motores a Gasoli-na ou Diesel, sendo apropriados para este tipo de operações, ou para situa-ções onde seja necessário um ponto de energia autónomo.

comunicado de imprensa

AutO SuecO ApOiA miSSãO pOrtugueSA nO HAiti cOm grupOS gerAdOreS SdmO

Os geradores servirão não apenas para ajudar no funcionamento dos sistemas de tratamento de água, mas também para fornecer energia à equipa da ADRA, no Haiti.

Auto Sueco Angola Av. 4 de Fevereiro 95, 3º Ap.34

CP1273 - Luandatel +244 222 33 74 19fax +244 222 33 75 91

Para mais informações contactar: Luís José · Marketing Assistant

[email protected]

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contabilidade

VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 201014 .

miguel gOnçAlveS

Professor do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra – ISCAC – Portugal

Doutorando em Contabilidade pela Universidade do Minho e de Aveiro

viAgem HiStóricA pelO vetuStO mundO

dA cOntAbilidAde(HISTORIC jOURNEy ON ACCOUNTINg’S ANCIENT wORLD)

O artigo assume a finalidade de apresentar uma resenha sobre a evolução do pensamento contabi-lístico, efectuando, para o efeito, uma viagem pela Contabilidade de algumas das mais interessantes

civilizações da Antiguidade Oriental e Clássica.

A digressão vem acompanhada pela exposição sumária das principais razões que motivaram a neces-sidade do desenvolvimento da Contabilidade em cada uma dessas civilizações.

Tenta-se, também, caracterizar e descrever o material contabilístico que sobreviveu até aos nossos dias e que se encontra documentado, realçando-se, contudo, a principal dificuldade inerente a esta temá-tica: o reduzido número de documentos contabilísticos resistentes à inexorável passagem do tempo.

pAlAvrAS-cHAve: Origem dA cOntAbilidAde; HiStóriA dA cOntAbilidAde; cOntAbilidAde rOmAnA;

civilizAçõeS dA AntiguidAde cláSSicA; evOluçãO dO penSAmentO cOntAbilíSticO; regiStOS cOntAbilíSticOS.

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. 15Setembro | Outubro 2010 // VALOR ACRESCENTADO

1. intrOduçãO

Não será de todo descabido supor que a noção de conta e, consequentemente, de Contabilidade, seja tão antiga como a origem da vida do homem em sociedade. Alguns historia-dores fazem remontar os primeiros sinais objectivos de exis-tência de contas aproximadamente a 4.000 antes de Cristo (a.C.).

O certo é que o homem primitivo ao inventariar o número de instrumentos de caça e pesca disponíveis, ao contar os seus rebanhos ou as suas ânforas de bebidas já estaria a pra-ticar uma forma rudimentar de Contabilidade. Esta opinião é partilhada por Costa (1988: 5), pois para este autor a Con-tabilidade nasceu “logo que o homem primitivo sentiu a necessidade de controlar os animais que possuía, utilizando como processo de contagem e registo as inscrições feitas nos troncos das árvores ou seixos, representativos do número de cabeças do seu rebanho”.

Com efeito, estes registos em rochas ou em placas de ma-terial diverso representam aquilo que se pode considerar como os primeiros vestígios de Contabilidade, tendo como finalidade assegurar, como base de apoio memorialista, o posterior controlo dos seus bens, direitos e obrigações. Noutros termos, na esteira de Barata (1998), estas inscrições permitiam-lhe controlar tudo o que estava incluído no seu património.

A opinião de outros ilustres autores aponta na mesma direc-ção. Atente-se, em primeiro plano, na visão de Sá: “a conta-bilidade nasceu com a civilização e jamais deixará de exis-tir em função dela. Talvez por isso os seus progressos quase sempre tenham coincidido com aqueles que caracterizam os da própria evolução do ser humano” (Sá, 1998a: 19).

O mesmo entendimento parece ser partilhado por Monteiro (1979), ao sustentar que a vida económica do homem primi-tivo fez aparecer aquilo que presentemente se designa pelo objecto da Contabilidade.

Neste mesmo sentido, assinale-se a opinião de outro emérito mestre, Gonçalves da Silva: “a contabilidade é arte velha. Conta milénios de existência. Nas suas formas mais rudi-mentares já a utilizavam os incas, os assírios, os egípcios e outros povos da mais remota Antiguidade” (Silva, 1959: 11).

Como corolário, temos que a Contabilidade, desde o seu aparecimento, privilegiou sempre um cariz memorialista, so-bretudo no que dizia respeito ao registo de valores patrimo-niais e de transacções de maior magnitude e importância, motivadas pelo incremento da actividade comercial. Assim se expressaram Amorim (1929) e Silva (1975).

Desenvolvida para efeitos de gestão das firmas dos comer-ciantes, tendo como fim principal permitir-lhes seguir a evolução do capital nelas aplicado, a Contabilidade emer-ge assim como uma realidade umbilicalmente associada ao Comércio, conexão magistralmente sintetizada por Dó-ria (1919: 10): “A Contabilidade é a ciência a que se pode chamar a alma do comércio”. Mesmo nestas formas mais rudimentares, cremos contudo que o propósito inicial da Contabilidade se mantém actual, ou seja, ela terá sido de-senvolvida e colocada desde sempre para atender a objec-tivos e fins de Gestão, ainda que relativos às carências das pessoas, famílias e comerciantes da época.

A perspectiva de Gonçalves da Silva confirma o argumento supra:

[a génese da contabilidade explica-se pela necessidade], cedo sentida pelo homem, de suprir as deficiências da sua me-mória mediante um processo de classificação e registo que lhe permitisse recordar facilmente as sucessivas mutações de quaisquer grandezas comensuráveis e variáveis (como por exemplo, uma dívida, um stock) em ordem a poder deter-

Não será de todo descabido supor que a noção de conta e, consequentemente, de

Contabilidade, seja tão antiga como a origem da vida do

homem em sociedade. Alguns historiadores fazem remontar os primeiros sinais objectivos

de existência de contas aproximadamente a 4.000 antes

de Cristo (a.C.).

“A contabilidade nasceu com a civilização e jamais deixará de

existir em função dela. Talvez por isso os seus progressos quase sempre tenham coincidido com aqueles que caracterizam os da própria evolução do ser humano”

(Sá, 1998a: 19).

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16 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

minar em qualquer altura a nova medida ou extensão das mesmas (Silva, 1975: 13).

Lopes Amorim, outro excelso especialista sobre História da Contabilidade, insiste também no carácter memorialista da Contabilidade, indo no entanto mais além, explicando ser o crédito o factor impulsionador da técnica contabilística. A este título, atente-se nas palavras do autor:

a Contabilidade surgiu como necessidade imperiosa de se criar um conjunto de processos práticos destinados a suprir a memória dos mercadores a partir do momento em que ela se mostrou incapaz de fixar e de reproduzir com absoluta fide-lidade, em qualquer momento, as quantidades e valores das mercadorias por eles vendidas a crédito. Ora a introdução do crédito no mundo dos negócios é muito mais antiga do que muitos certamente julgarão, podendo mesmo afirmar-se que ela remonta aos longínquos tempos das sociedades primiti-vas (Amorim, 1968: 9).

Não é possível, com exactidão, determinar onde, quando e como nasceu a Contabilidade. No entanto, haverá sempre quem, por desconhecimento ou comodidade, esteja pronto a afirmar ou a acreditar que uma ciência (ou técnica) tenha origem num único homem, que passaria assim a ser o seu inventor. Toda a ciência provém do Homem, mas é sempre uma conquista colectiva. A Contabilidade não configura, naturalmente, excepção.

Mas será que todos os registos dos Antigos podem conside-rar-se registos contabilísticos? Prudentemente, respondemos que não. Só os registos aplicados à contagem de factos de natureza patrimonial representam registos contabilísticos.

A contagem levou à criação dos numerais. Os numerais (números naturais) mais rudimentares de que há memória consistiam em traços rectos (verticais) para os números de um a nove. Estes símbolos apareceram no Egipto (3400 a.C.) e na Mesopotâmia (ca1. 3000 a.C.). Assim que a contagem se aplica aos bens económicos ou aos bens que constituem o património administrável do indivíduo ou da colectivi-dade, pode concluir-se estarmos na presença dos primeiros registos contabilísticos. Consequentemente, nos seus pri-mórdios, a História da Contabilidade confundir-se-á com a História da Conta2.

1 Abreviatura de “cerca”.2 Em verdade, falamos de dois géneros de contas. Numa economia primitiva, em que se fazia a troca directa dos bens, a conta é a expressão das próprias unidades dos bens ou das coisas. Quando foram criados os sistemas de medição e de pe-sagem (pelos sumero-babilónios) a conta exprime as unidades da sua medida. É a conta em “natura” ou em “espécie”. Quando se passa à Economia monetária, ao sistema de troca indirecta, surge a conta “de valores”, ou seja, os bens, os direitos e as dívidas exprimem-se pela quantidade de moeda que valem ou que é devida.

Para finalizar, uma última palavra para os diversos materiais usados como suporte pela técnica contabilística ao longo dos tempos. Em termos quase cronológicos, isto porque al-guns destes materiais coexistiram entre si, enumeramos: a pedra, placas de madeira, placas de couro, placas de argila, papiro, peles de animais preparadas, pergaminho e papel.

2. indicAçõeS dA preSençA dA técnicA cOntAbilíSticA entre OS pOvOS dA AntiguidAde OrientAl e cláSSicA

Cravo (2000) refere que, de um modo geral, todos os povos contribuíram para o desenvolvimento da Contabilidade. Desta forma, o périplo que se segue versará o exame de al-guns dos principais passos da evolução contabilística, efec-tuando-se, para o efeito, uma viagem por algumas das mais interessantes civilizações antigas.

2.1 Civilização Chinesa

Os chineses apresentavam como principais indústrias a seda, a porcelana, o bronze e o papel. A escrita chinesa já há muito tinha sido inventada com o sistema de caracteres que ainda hoje é utilizado na China. Sabe-se que cerca de 800 a.C. existiam, na China, notas de banco. Também utiliza-vam moeda metálica, títulos de crédito, dando assim origem ao aparecimento de entidades intermediárias que desempe-nhavam as funções de banqueiros do nosso tempo.

O elevado grau de desenvolvimento económico-industrial desta civilização aponta no sentido de que este não teria po-dido processar-se – é lícita a conclusão – sem a utilização de uma boa forma de contabilidade adequada, mas como advo-ga Amorim (1968), infelizmente nada se encontrou que nos possa elucidar sobre o funcionamento desta contabilidade.

2.2 Civilização hindu

Na velha Índia, as profissões comerciais e industriais eram tidas como muito honrosas e dignas e as suas principais in-dústrias eram as relativas aos tecidos de algodão, lã, seda e linho.

Provêm desta civilização algumas obras e legislação que de-monstram algum avanço em matérias económicas. Uma des-sas obras foi escrita por Kautilya, um sábio oriental, tendo vivido há cerca de dois mil e trezentos anos, num território situado na actual Índia. Da sua obra Arthasastra3, constam

3 Esta obra é composta por cerca de 150 capítulos.

contabilidade

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diversos conceitos e definições relacionados com a Conta-bilidade, como definições e classificações de lucros, custos, receitas e capital, bem como uma distinção entre despesas ordinárias (constantes) e despesas extraordinárias (variáveis). Existe igualmente uma distinção de despesas que resultavam de fenómenos com fins operacionais e não operacionais.

Realce também para o Código de Manu4, ca. século XII a.C., legislação comercial que incluía disposições atinentes à fisca-lização da qualidade e do preço das mercadorias, à prevenção de fraudes, à regulação dos tributos do Rei por parte de funcio-nários que tinham de prestar contas ao soberano e ainda regu-lamentações sobre a taxa de juro e sobre taxas de empréstimo5.

Não foram encontrados vestígios elucidativos da contabili-dade Hindu, mas, por muito primária que fosse, a contabi-lidade existia, porque havia uma hierarquia de funcionários incumbidos de administrar o produto das cobranças dos im-postos. Prolongando esta linha de pensamento, e segundo Sá (1998b: 263), “tudo indica que na Índia havia já uma organização contabilística apreciável, com muitos cuidados técnicos pertinentes às áreas orçamentárias”.

2.3 Civilização Persa

Os Persas, que habitavam o actual território iraniano, apre-sentavam como principais indústrias o fabrico de tapetes, a cerâmica e o mobiliário. Era costume registar todos os actos e todas as ordens do rei que para esse efeito se fazia sempre acompanhar de secretários.

No tempo do rei Dario (século V a.C.) organizou-se um ca-dastro de todo o império, pelo qual se lançavam os impostos que eram depois repartidos pelas províncias, que não eram

4 Note-se que o Código nada dispunha quanto à maneira de escriturar as opera-ções comerciais.5 O que pressupunha a existência de crédito.

mais do que uma espécie de “repartição autárquica”, com-parável às leis actuais de finanças das autarquias. Faziam-se inventários das propriedades dos conventos, das igrejas, dos comerciantes e dos particulares, o que pressupõe a existên-cia de uma forma de contabilidade pública lado a lado com um sistema de contabilidade privado.

2.4 Civilização suméria, BaBilónia e assíria

Os Sumérios, a mais antiga civilização da Humanidade (ca. 4000 a.C.) habitavam a Mesopotâmia6. São devidas a este povo duas importantes criações: (1) a escrita cuneifor-me (ca. de 3500 a. C.), complexa, conhecida apenas pelos sacerdotes e por uma classe especial7 de escribas, tratava de incisões gravadas em pequenas placas de barro humedecido (que secava rapidamente) com estiletes de madeira com a ponta prismática, de base triangular e (2) as cidades-Esta-do8, com cada cidade a ter um rei, uma murada em seu re-dor, uma divindade própria e todo o movimento comercial a girar à volta de uma estrutura central – o templo.

Como escreve Sá (1998a), existe um generalizado consenso entre os peritos da arqueologia de que foram as imensas ri-quezas da Suméria – muito particularmente as de Uruk – que forneceram subsídios para as bases de um desenvolvimento da escrita contabilística. Prossegue o afamado autor, afir-mando que a origem da escrita cuneiforme, atribuída a esta civilização, muito “orgulhou o conhecimento da Contabili-dade, pela sua qualidade como expressão do pensamento” (Sá, 1998a: 30).

Os registos contabilísticos eram gravados em placas de argila e o instrumento utilizado para efectuar as inscrições cunei-formes era um estilete de madeira. De acrescentar que foram organizadas na Mesopotâmia escolas de escrituração conta-bilística, tendo sido encontradas uma razoável quantidade de placas de argila de exercícios de alunos.

No sentido de sobrelevar a originalidade das pranchas ou placas de argila das civilizações da Mesopotâmia (Babilónia, Suméria e Assíria) na evolução da escrita contabilística, im-porta reter duas reflexões de Sá (1998a: 31-32):

1. as mesmas já registavam apuramentos de custos, orça-mentos, revisões de contas, controlos de gestão de pro-dutividade e

6 Meso – do grego “meio”; Potamos – do grego “rios”. Portanto, entre os rios. Mais concretamente, entre os rios Tigre e Eufrates. A Mesopotâmia corresponde, grosso modo, ao actual Iraque. A parte sul da Mesopotâmia era a Suméria.7 Só esta classe era capaz, por exemplo, de redigir contratos e cartas comerciais.8 A mais conhecida terá sido Ur, mas também Uruk e Lagash.

No tempo do rei Dario (século V a.C.) organizou-se um cadastro de todo o império, pelo qual se

lançavam os impostos que eram depois repartidos pelas províncias,

que não eram mais do que uma espécie de “repartição autárquica”,

comparável às leis actuais de finanças das autarquias.

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2. cerca de 2000 a.C. já se adoptava o razão, produziam-se balanços de qualidade, possuíam-se orçamentos evoluí-dos de receita e despesa pública e calculavam-se custos.

No tempo dos Babilónios (os Babilónios tomaram a Suméria cerca de 2000 a.C.) realça-se o grande centro populacional da cidade de Babilónia9. De destacar, também, um dos mais antigos códigos escritos de legislação comercial e civil: o Có-digo de Hamurabi10.

O Código continha leis gravadas em pedra (numeradas de 1 a 282, mas os números 13, 66 a 99, 110 e 111 não exis-tem) mandadas reunir por Hamurabi, sexto rei da primeira dinastia babilónica e que reinou entre 1729 e 1686 a.C., e inscritas em caracteres cuneiformes. Representa uma nova concepção sobre as classes sociais, a indústria, a economia, as leis em geral e inclusive sobre a família. Mais concreta-mente, e na óptica que mais interessa a este trabalho, apa-recem normas relativas ao contrato de sociedade, à carta de crédito, a empréstimos, ao contrato de comissão e regula-mentação de relações entre empregados e patrões.

Os Babilónios usavam declarações de venda e conferiam muita importância à prova escrita e ao juramento. No seu tempo, havia contratos de troca, de empréstimo, de aluguer e até de penhora. Havia também recibos, sendo claro que o texto era gravado em pequenas placas de argila nas quais se inscreviam as incisões cuneiformes.

Os Babilónios possuíam casas de sociedades em participação sob a forma de um contrato estabelecido entre um capitalis-

9 Sensivelmente a oitenta quilómetros da actual Bagdad.10 Hamurabi foi um rei da Babilónia. O código data de cerca de 1780 a. C.. Está presentemente no Louvre e foi descoberto em 1901 na cidade de Susa (no Irão ac-tual). Trata-se de um monólito de diorito preto com um altura de dois metros e meio.

ta (fornecedor de mercadorias) e um comerciante (fornece-dor de trabalho e de conhecimentos comerciais).

Eram, na realidade, um povo muito desenvolvido, autor do sistema de pesos e medidas, dos títulos de crédito, da car-roça, entre outras invenções, como a cerveja, por exemplo.

De acordo com Vlaemminck (1961), muitas das tábuas ou placas de argila dos sumero-babilónios oferecem todos os elementos da conta moderna11; o saldo anterior, a série de elementos a débito, a série de elementos a crédito e o saldo final que se junta para balancear a conta.

Para além destes elementos, os vestígios que chegaram até aos nossos dias permitem deduzir que estas civilizações teriam registos inscritos em tábuas de argila, de conteúdo mais variado: “incluíam contratos sociais de intercâmbio em espécies, pagamento de salários ou de serviços prestados aos templos, empréstimos em dinheiro, vendas, testamen-tos, acções judiciais e registos de dívidas a e de terceiros” (Rivero Romero [et al.], 1997: 690).

Cravo (2000) refere que é dos Babilónios e dos Sumérios que se obtém a mais antiga documentação com contas com dé-bitos e créditos (ca. de 4000 a.C.). O autor também avança que é a estes povos que devemos o processo de determina-ção e análise de custos (Cravo, 2000).

Por último, sublinha-se que no reinado do rei Nabucodono-sor II (século VI/V a.C.) existia na cidade de Hillah, na As-síria, uma casa bancária com o nome de Egibi e Filhos. Esta emprestava dinheiro a juros, bem como, entre outras coisas, vendia terrenos e escravos.

2.5 Civilização FeníCia

Os fenícios ocupavam uma estreita faixa territorial compre-endida entre o Mediterrâneo, a Síria a Norte e a Palestina a Sul (o que, grosso modo, terá tradução hoje no território do Líbano e da Síria). Este era um território estéril e muito po-bre em produtos agrícolas, pelo que se viraram para o mar – o Mediterrâneo, tendo ficado catalogados como o mais alto expoente no comércio da Antiguidade Clássica.

Criaram entrepostos comerciais – conhecidos como feitorias – na orla mediterrânica para abrigar os seus navios e para aí desenvolverem o comércio. O seu intenso tráfico comercial marítimo requeria a utilização de uma grande frota mercan-te cuja existência e manutenção se apoiavam numa forte indústria de construção naval.

11 De coluna dupla, acrescentamos.

Os Babilónios usavam declarações de venda e conferiam muita importância à prova escrita e ao juramento. No seu tempo,

havia contratos de troca, de empréstimo, de aluguer e até de penhora. Havia também recibos,

sendo claro que o texto era gravado em pequenas placas de argila nas quais se inscreviam as

incisões cuneiformes.

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O uso de uma escrita alfabética simplificou de tal modo os registos que numerosos comerciantes fenícios puderam praticá-la eles mesmos, ao contrário, por exemplo, dos babi-lónios e dos egípcios, cujos sistemas de escrita, cuneiforme e hieroglífica, respectivamente, eram tão labirínticas que só raras pessoas as teriam podido aprender e praticar.

2.6 Civilização egíPCia

No Egipto dos Faraós já se praticava uma Contabilidade com minuciosidade, exactidão e regularidade, necessária para assegurar a administração da monarquia e das obras de irrigação do Rio Nilo. A documentação era já arquivada cronologicamente e com base na oposição receitas-despesas, isto é, entradas e saídas.

Segundo Sarmento (1997: 601), é no Egipto que se realizam “os primeiros registos provisórios feitos em Memoriais, e de-pois definitivamente efectuados em quadros ou dispositivos de secções sobrepostas ou justapostas (contas): em ambos os casos não se trata já de uma relação esparsa, fragmentária, mas sim de um conjunto de registos coordenados”.

A título de exemplo, pode citar-se o sistema de anotações contabilísticas realizadas no reinado do Faraó Sebekhotep (aproximadamente entre 2.000 e 1.900 a.C.). Trata-se do apontamento das despesas e receitas da Corte, elaborado de forma permanente e detalhada.

Entre 1.800 e 1.600 a.C. era usado um manual de ensino que mereceu ao matemático e filósofo Abel Rey a afirmação de que “nele se encontravam os segredos do bom calculador e do bom contabilista” (idem: ibidem).

Quanto aos profissionais que se dedicavam à escrituração, Stone (1969: 284) afirma que “in ancient Egypt in the pharaoh´s central finance department […] scribes prepared records [on papy-rus] of receipts of silver, corn and other goods”. A Contabilidade aparece-nos assim associada ao registo de activos, ganhando especial relevo a figura do escriba. Desta classe, muito consi-derada, saíram as figuras de maior representatividade social na administração pública, no exército, no sacerdócio e nas profissões liberais. Recorde-se que o sistema de escrita hiero-glífica era muito complicado; só os escribas e os sacerdotes eram capazes de a compreender e aplicar.

Disto mesmo nos dá conta Stone (1969: 290), quando sus-tenta que “the earliest management accountants were scribes”. Na mesma linha, White, apud Sá (1998a: 34), enfatiza-nos que o escriba era “considerado como o máximo profissio-nal ou o mais digno de todos os profissionais” no antigo Egipto. Amorim (1968: 35) também nos releva a importân-cia na época dos escribas, citando uma passagem da obra de Brugschbey12: “obedecendo às ordens dos seus superiores, os escribas anotavam as várias ocorrências da vida doméstica, escrituravam exactamente as receitas e as despesas do sobe-rano e tinham em boa ordem as suas contas”.

No entanto, terá sido o uso do papiro13, no Egipto, o gran-de impulsionador da escrita contabilística, aplicada muito particularmente nos domínios do controlo das colheitas ar-mazenadas, na contabilidade das viagens e nas caravanas para transportes de pedras utilizadas nas suas magnificas construções.

No Antigo Egipto, o crédito desempenhava um papel de grande relevo e era interiorizado como um compromisso de

12 História do Egipto e dos Faraós a respeito da administração da casa do primeiro farão “Menah” – cerca do ano 3623 a.C..13 Planta existente nas margens pantanosas do rio Nilo. Esta planta é uma espé-cie de cana com o caule liso e direito, o qual era cortado às tiras horizontais e ver-ticais, fazendo um género de folha. É no nome de papiro que reside a etimologia dos vocábulos papel, papier e paper.

O uso de uma escrita alfabética simplificou de tal modo os registos que numerosos

comerciantes fenícios puderam praticá-la eles mesmos, ao contrário, por exemplo, dos

babilónios e dos egípcios, cujos sistemas de escrita, cuneiforme e hieroglífica, respectivamente,

eram tão labirínticas que só raras pessoas as teriam podido

aprender e praticar.

No Antigo Egipto, o crédito desempenhava um papel de

grande relevo e era interiorizado como um compromisso de honra

que o devedor se esforçava por satisfazer, sob pena de ser considerado infame e de a sua ignomínia se estender aos seus

descendentes.

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honra que o devedor se esforçava por satisfazer, sob pena de ser considerado infame e de a sua ignomínia se estender aos seus descendentes.

No tempo da moeda, na expressão numérica das suas con-tas, os egípcios usavam como unidade monetária o shat e havia bancos públicos e privados14 que aceitavam depósitos em dinheiro e em géneros.

Em termos sintéticos, no Antigo Egipto, muitas eram as ac-tividades que eram objecto de registo, inclusive, como foi constatado, as pilhagens, isto é, os saques que eram feitos nas cidades vencidas e que viriam posteriormente a ser objecto de distribuição pelo Estado. Outro pormenor interessante de constatar era o acompanhamento dado pelos contadores às caravanas para transporte de pedras para construção das pirâmides, quando estas atingiam determinada dimensão.

2.7 Civilização grega

Nos séculos VI e V a.C., a importância do governo das cida-des, a riqueza dos templos e o desenvolvimento da econo-mia dotaram de grande dignidade as tarefas de registo dos factos económicos, designadamente receitas e despesas pú-blicas ou relacionadas com os templos gregos.

Tal como na civilização Suméria/Babilónica, os primeiros banqueiros gregos eram sacerdotes e por isso mesmo os pri-meiros bancos situavam-se nos templos. Depois vieram os Trapezistas15 – nome dado aos banqueiros que se lhes segui-ram – que centralizavam os aforros e que dispensavam o crédito necessário.

Tipicamente, esta Contabilidade consistia em controlar os saldos iniciais e finais, os recebimentos e os pagamentos. “O Estado realizava um inventário anual nos templos, e os contadores preparavam as demonstrações financeiras apro-priadas, as quais indicavam as principais fontes de receitas (juros e rendas dos empréstimos) e a origem das despesas (principalmente sacrifícios, entretimentos e pagamento de salários)” (Kam, 1990: 14).

Estas circunstâncias são também relatadas por Amorim (1968), pois para este autor o comércio marítimo, a activida-de bancária, e a organização administrativa e financeira do Estado, proporcionaram fortes contributos ao desenvolvi-mento da Contabilidade, muito particularmente da Conta-bilidade Pública, como sustenta, admitindo que o primeiro

14 Nestes bancos existiam contas-correntes, transferindo-se assim quantias de uma conta para outra.15 Trapezista deriva de trapeza, palavra grega para mesa.

vestígio da sua existência possa ter sido dado pela apresenta-ção das contas do Estado – gravadas em lápides de mármore – à sanção pública, as quais, nestes termos, eram confron-tadas e livremente criticadas por todos. Adicionalmente, esclarece-nos que, segundo alguns historiadores (não pre-cisando no entanto quais), a contabilidade privada era lar-gamente praticada e tida em conta em conta pelos gregos, existindo mesmo leis que impunham aos comerciantes a obrigação de possuir certos livros, o que parece ser confir-mado por diversas passagens colhidas nas obras de vários escritores (Amorim, 1968: 53).

Cremos que, não fosse a imensa destruição de acervos gre-gos, e muitos mais documentos contabilísticos nos haveriam de chegar. Não obstante, os gregos utilizaram a contabilida-de tanto na administração pública como na privada, muito embora os vestígios encontrados não possam fornecer indi-cações exactas acerca da forma das espécies de registos em que as mesmas se suportavam.

2.8 Civilização romana

Em 753 a.C., na planície que vai desde os Apeninos até ao Mediterrâneo, começou a estruturar-se um dos mais fortes impérios da Antiguidade. Foi ele que dominou a maior parte do mundo antigo, tornando-se assim o centro político-eco-nómico da época, vindo a ter forte influência na formação da sociedade ocidental.

Recebendo grande influência dos Gregos, as notícias mais vetustas que nos chegaram da contabilidade do povo roma-no datam dos séculos II e I a.C..

O mundo romano, sucedendo ao grego, foi palco de grandes acumulações de riqueza, pelo que a sua contabilidade, nas diversas fases da sua civilização (Monarquia, República e Im-pério) pode ser qualificada como de superior, de grande qua-lidade, embora pouquíssima prova material tenha chegado aos nossos dias. Por outras palavras, a economia da Idade Antiga chegou ao seu apogeu no período romano. Os in-tercâmbios comerciais eram realizados por todo o Império, e entre este e o mundo bárbaro para lá das suas fronteiras. Assim, não é de estranhar que a Contabilidade dos velhos tempos tenha atingido a sua mais alta expressão no Império Romano.

O desenvolvimento da Contabilidade foi paralelo ao da administração pública e das empresas agrícolas: era já usa-da uma série de livros de registo que constituía um siste-ma ordenado, devendo-se, assim, aos Romanos a primeira grande contribuição para o desenvolvimento da Contabili-dade, o que pode ser comprovado pela existência de alguns

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conceitos contabilísticos. Por exemplo, e de acordo com Lamarr16, citado por Hendriksen (1970: 26), um arquitecto romano afirmava que a “valorização de uma parede não podia ser só determinada pelo seu custo, mas sim após de-dução a este de um oitavo por cada ano que a parede havia estado de pé, isto é, a utilização de uma taxa de amortiza-ção de 12,5%”.

O objectivo da Contabilidade Romana era similar ao de pe-ríodos anteriores: medir o grau de eficácia dos responsáveis da administração dos bens e propriedades – privadas ou pú-blicas – através de registos exactos e minuciosos. Esta é a opinião perfilhada por Santos (1998), autor para quem esses registos tiveram sobretudo a ver, inicialmente, com o con-trolo da prosperidade das famílias e da respectiva comunida-de. Depois, com a expansão do seu território e o desenvolvi-mento da actividade económica, alargou-se a aplicação dos registos contabilísticos à actividade pública e à actividade comercial.

Em matéria de escrituração contabilística muito pouco se sabe da época monárquica. Aliás, mesmo nos dois outros sis-temas de governo a documentação acumulada é muito exí-gua e as notícias são fragmentadas e indirectas. O pouco que se sabe dos períodos republicano e imperial tem por base mais os comentários e testemunhos de escritores da época do que, efectivamente, documentos contabilísticos que se tenham conservado.

Contudo, podemos afirmar que nos tempos da República a Contabilidade Romana atingiu um enorme grau de perfei-ção, continuando a evoluir no período imperial devido, em parte, ao facto de os romanos terem sido excelentes admi-nistradores, sendo lógico supor que bons administradores teriam bons registos contabilísticos.

Sá (1998a) projecta-nos um quadro com os traços distinti-vos da Contabilidade romana em que faz sobressair o seu carácter eminentemente analítico e a sua primordial preo-cupação em fazer instituir como prova perante o tribunal, os livros escriturados da contabilidade, técnica obrigatória para os comerciantes, proprietários e banqueiros. Baseando-nos em Amorim (1968), podemos identificar uns quantos livros, quase os mesmos que se adoptavam na administra-ção pública:

— Commentarius (ou Libellus): este livro servia ape-nas para registar, preliminarmente, o facto contabilísti-co exactamente como havia sido constatado ou ocorri-do. Era como um tipo de livro de primeiras anotações.

16 Lamarr, Layondon (1923). Rate making for public utilities. McGraw Hill Books Co., Inc. Nova Iorque, p. 51.

Tendo por função referenciar meramente os factos, os registos contabilísticos efectuados neste livro não obe-deciam a nenhuma regra, nenhuma sistematização ou metodologia prévias.

— Adversaria (ou Ephemeris): livro para o qual se pas-sava o movimento do Commentarius e que segundo al-guns autores correspondia a uma espécie de diário;

— Codex accepti et expensi17: uma espécie de caixa. Para Murray (1978: 126) “a sua exacta forma deu azo a muita discussão, mas é quase certo que este Codex tinha uma apresentação que permitia mostrar os débitos e os créditos ao mesmo tempo, provavelmente em páginas opostas, isto é, as entradas eram anotadas numa página e as saídas noutra“. Eram também anotadas a data, o género e a importância de todas as transacções.

— Tabulae Rationum (ou Codex Rationum) – espécie de razão. De acordo com Silva (1970: 36), “o Codex Ra-tionum era conservado e podia, na falta de testemunhas, utilizar-se como meio de prova”.

— Calendarium – aqui se registavam os capitais cedi-dos, os nomes dos devedores, a quantia em dívida, os juros mensais, os dias em que se venciam, etc. O escravo que tinha à sua responsabilidade este livro era conhe-cido como calendarius. Segundo Sarmento (1997: 602), o “nome deste livro provém da data habitual de paga-mento dos juros, isto é, nas calendas (primeiros dias) de cada mês”.

O Commentarius, o Adversaria, o Codex Accepti et Expensi, o Tabulae Rationum e o Calendarium tanto eram usados na Contabilidade privada como na pública. O único livro ex-clusivo da administração pública era o Breviarum Imperii. Este livro, também denominado Rationarium, instituído no governo do imperador Augusto, apresentava aos cidadãos a forma como estavam a ser utilizados os fundos públicos, ou seja, o valor dos tributos arrecadados, provisões e dotações orçamentais bem como o património administrado, com base nas informações recebidas dos governadores e inten-dentes18.

No entanto, Amorim (1968: 58) observa que existiam dois livros e não um só:

1. Breviarum: para a discriminação das receitas auferidas pelo Governo e

17 Era considerado o livro fundamental.18 Intendente é aquele que tem a seu cargo a direcção ou administração de um serviço público ou grande estabelecimento.

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2. Rationarium: para descrever o quantitativo bélico mantido pelo Império e a soma de recursos existentes nos cofres estatais, provenientes dos tributos cobrados. Nele também eram descritos os bens do Império, por unidade governamental (reinos, províncias, etc), e o montante dos impostos, das provisões, doações e en-cargos do Império Romano. Por isso, pode-se concluir que o livro em referência ultrapassava o âmbito orça-mentário, constituindo um verdadeiro livro de registo de inventários.

Uma característica marcante da Contabilidade Romana resi-diu sem dúvida na manutenção de livros para cada activida-de, para cada grupo de factos específicos. Sá (1998a) ilustra-nos alguns clarividentes exemplos: (a) Ratio Praedii – livro de propriedades; (b) Ratio Pecoris – livro de rebanhos; (c) Ratio Vinaria – livro do movimento vinícola; e (d) Ratio Ole-aria – livro da produção do azeite.

A contabilidade pública romana encontrava-se centralizada na figura do Contador Geral do Estado19 – o Procurator a Ra-tionibus – responsável também pela gestão do património público, coadjuvado por um contabilista chefe, dois secre-tários ou contabilistas adjuntos e, na base da pirâmide, por escravos libertos. No maior e mais vasto império de todo o mundo, o mais poderoso gestor da riqueza era um contabi-lista.

Interessante também a circunstância de já nesta época os Romanos estabelecerem hipóteses sobre os custos de des-locamento de tropas para a Germânia ou para a Lusitânia, tendo tudo que ser registado e controlado, especialmente o número de soldados dispersos por todo o império.

Daqui se infere, portanto, que, como advogam alguns auto-res, a contabilidade terá atingido em Roma a sua expressão máxima até então. Nestes termos, Sá (1998a) defende que Roma terá representado o auge do período racional-mnemó-nico20 da História da Contabilidade, por três ordens de ra-zões:

1. pela qualidade dos trabalhos contabilísticos;

2. pela forma como eram analisados e explicados os factos patrimoniais e

19 Com o imperador Marco Aurélio (século II d.C.) este funcionário público benefi-ciava do reconhecimento de ser o cargo melhor remunerado de toda a administra-ção pública de Roma, com honorários de 300.000 sestércios/ano, sendo o único trecenarius, denominação dada a quem auferia tal vencimento.20 Na óptica de Sá (1998: 20), período decorrido da Antiguidade – iniciado cerca de 4000 a.C – até à entrada na Idade Média (476 d.C., com a queda do império romano do Ocidente), que se caracteriza pela disciplina dos registos e pelo esta-belecimento de métodos de organização da informação.

3. pela análise dos factos patrimoniais por actividade.

Fazemo-nos valer da constatação de Amorim (1968: 60) para concluir que,

em face da descrição feita, nenhuma dúvida poderá res-tar de que a contabilidade entre os romanos era corren-temente utilizada tanto na administração pública como na administração mercantil e doméstica e já apresenta-va um apreciável grau de sistematização, se se atender à recuada era em que o império romano existiu.

Com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., observou-se, nesta parte do globo, um período de al-guma letargia no que concerne aos progressos das técnicas contabilísticas, mas de lentos progressos no Oriente. No Ocidente, registou-se um declínio da riqueza e como a ri-queza (património) é o objecto da Contabilidade, assistiu-se assim a um declínio do conhecimento contabilístico.

Com a invasão do Império Romano do Ocidente pelos po-vos bárbaros21, muitíssimo mais atrasados na cultura e ins-tituições, regista-se um enfraquecimento da administração pública e das instituições comerciais, bem como se assiste a uma redução do tráfico comercial, associada também à ruptura das vias de comunicação, pois as calçadas romanas (vias terrestres, precursoras das actuais estradas) foram des-cuidadas, acabando por ficar intransitáveis, na sua grande maioria.

21 Assim considerados pelos Romanos, porque eram povos rudes, desconhece-dores dos primores da civilização romana, os quais sobrepunham o culto da força ao culto do espírito.

Com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C.,

observou-se, nesta parte do globo, um período de alguma letargia no que concerne aos progressos das técnicas contabilísticas, mas de

lentos progressos no Oriente. No Ocidente, registou-se um declínio

da riqueza e como a riqueza (património) é o objecto da

Contabilidade, assistiu-se assim a um declínio do conhecimento

contabilístico.

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Dada a Contabilidade dos Romanos conter todos os ele-mentos principais que se encontram no sistema de registos das épocas posteriores, alguns autores chegaram errone-amente a admitir que os romanos já conheciam a parti-da dobrada, entre os quais, o flamengo Simon Stevin, em 1608. O erro destas opiniões reside na confusão de coluna dupla (accepti – receitas e expensi – despesas) com a coluna do deve e haver na partida dobrada. Afinal, a coluna dupla é um elemento quase inseparável de qualquer contabili-dade, por mais rudimentar que seja. Bastará para tal lem-brarmo-nos das contas gravadas nas placas de argila dos babilónios, por exemplo.

3. cOncluSãO

A noção de conta, exposta ao longo deste trabalho, remon-tará ao tempo em que o Homem se tornou um ser social, isto é, ela existirá desde que este passou a viver em sociedade e a interagir, em termos sociais e económicos, com outros indivíduos, surgindo-lhe deste modo a necessidadede assen-tar elementos relativos a esta interacção.

No que concerne à Contabilidade, entrecruzada com o con-ceito de conta, desde os tempos mais remotos que, enquanto sistema de registo, privilegiou um carácter memorialista, so-bretudo no que dizia respeito a valores patrimoniais e a tran-sacções de maior magnitude de valores e importância relativa.

O aparecimento, em termos históricos, desta Ciência – ou técnica conforme a percepção do leitor – é muito difícil de precisar. A única certeza que existe é que esta não resultou das diligências de um só indivíduo, mas terá sido uma con-

quista colectiva, por intermédio de um gradual desenvolvi-mento e aperfeiçoamento dos seus métodos, limitados pelas necessidades e circunstâncias envolventes de cada época e de cada civilização.

No entanto, não deverá ter sido, de todo, muito fácil a tarefa dos primeiros técnicos de Contabilidade na Antiguidade e da qual não se encontraram vestígios muito completos nas buscas arqueológicas. Não obstante, sabe-se que a técnica de registo existia, de forma rudimentar, porque sempre houve, entre os povos da Antiguidade, histórias e relatos de intenso tráfego comercial exercido nos territórios por ele ocupados, motivado fundamentalmente pelo uso da moeda e pelo uso de títulos de crédito.

Das descrições efectuadas da Contabilidade realizada por cada povo antigo podemos salientar a complexidade notória dos registos contabilísticos das civilizações que habitaram a Mesopotâmia (essencialmente da Suméria e Babilónia) e a minuciosidade, a exactidão e a regularidade dos registos contabilísticos do Antigo Egipto, não obstante estarmos, neste caso, perante uma Contabilidade muito primitiva.

Uma referência especial deverá fazer-se à civilização Roma-na, pois que esta utilizava uma série de livros contabilísticos de registo, constituindo por assim dizer um sistema orde-nado. Partilhamos mesmo o entendimento de que antes do início da Idade Média, e sequente retrocesso e estagnação de todos os aspectos da sociedade europeia, a Contabilida-de atingiu a sua mais alta expressão no Império Romano, devendo-se, assim, a esta civilização, a primeira grande con-tribuição de destaque para o desenvolvimento da nossa área de conhecimento.

REFERÊNCIAS

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ideiAS e técnicAS de geStãO

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gestão

JOSé luíS mAgrO

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. 27Setembro | Outubro 2010 // VALOR ACRESCENTADO

Michael Hammer é considerado o pai da desta teoria radi-cal. Referiu-se ao tema pela primeira vez em artigo publica-do, em Julho de 1990, na Harvard Business Review, mas a consagração só chegaria três anos depois com “Reengineering the Corporation”, escrito em parceria com James Champy. Para os autores, reengenharia significa um redesenho ra-dical dos processos de negócios com o objectivo de obter melhorias drásticas em três áreas: nos custos, nos serviços e no tempo. Os autores acreditam que estamos perante uma segunda revolução industrial, mas as empresas continuam organizadas segundo os princípios da divisão de trabalho e da especialização de tarefas, que data do século anterior. A reengenharia nasceu para quebrar estas velhas regras. Visa criar empresas organizadas por processos (não por funções) e orientadas para o cliente.

Apesar da grande popularidade do conceito, os primeiros resultados da sua ampliação não foram brilhantes. A reen-genharia foi confundida com conceitos como: a reestrutu-ração, o downsizing, a automação ou até os despedimen-tos. Michael Hammer mantém o optimismo e escreveu um novo livro “The Reengineering Revolution” para acabar de vez com as dúvidas.

James Champy, mais céptico, lançou o livro “Reengineering Management” no qual afirma que a reengenharia deparou com um obstáculo inesperado: a mentalidade dos gestores. Ambos estão de acordo. A reengenharia já entrou na se-gunda vaga.

Na primeira, os gestores aplicaram o conceito para reduzir os custos. Agora, têm como objectivo o crescimento das suas em-presas. Num ponto estão novamente e claramente de acordo: a reengenharia é uma revolução que veio para ficar.

REENgENHARIA RISK MANAgEMENT

Bibliografia:“Best Practices in Reengineering” de David Car e Henry Johansson (McGraw-Hill, 1996); “The Reengineering Revolution”, de Michael Hammer [Harper Collins, 1995); “Reengineering Management”, de James Champy [Harper Collins, 1995); “The Reengineering Handbook”, de Raymond Manganelli e Mark Klein (Amacom, 1994); “Reengineering the Corporation”, de Hammer e Champy (Harper Collin, 1993); e “Process Inovation”, de Thomas Daverport (Harvard Business School Press, 1993).

Bibliografia:“The Complete Guide to Business Risk Management”, de Kit Sadgrove (Gower, 1995; “Finantial Inovation an Risk Sharing”, de Franklin Allen e Douglas Gale (Mit Press, 1994); “The New Corporate Finance”, de Donald Chew (MvGraw-Hill, 1993); “Des Primes d’Assurance au Financemwnt des Risques”, Ives Maquet (Bruylant, 1991) e “Risk Management an Insurance” de C. Wlliams e R. Heins (McGraw-Hill, 1985).

Risk management (gestão do risco) significa análise, con-trolo e seguro ideal dos riscos da empresa. O conceito sur-giu nos Estados Unidos e foi importado para a Europa há 20 anos. O objectivo é duplo. Em primeiro lugar, antecipar, analisar, valorizar e minimizar os riscos de funcionamento da empresa. Em segundo lugar, optimizar o rácio qualida-de/custo dos diferentes seguros. O método inclui todos os tipos de riscos clássicos (nomeadamente a segurança das pessoas e bens), mas também alguns cujas frequências ou amplitude cresceu nos últimos anos (tais como riscos de cópias, os ligados ao meio ambiente ou as despesas médicas dos empregados).

A gestão do risco corresponde à preocupação dos líderes em possuir o melhor seguro possível com o mínimo de custos. Mais do que aproveitar a concorrência entre as seguradoras do mercado, as empresas com alguma dimensão deverão fa-zer uma gestão sistemática dos riscos, confiando essa tarefa a um gestor de riscos. Este deve vigiar em permanência a evolução dos riscos, o montante dos prémios de seguro, o conteúdo dos contratos e a qualidade do serviço das segura-doras em caso de acidente. Neste caso, deverá negociar com a seguradora os reembolsos de forma a:

• Serem os mais vantajosos;

• Serem devolvidos atempadamente.

A implementação da gestão de risco pode resumir-se em três etapas-chave.

1. De início, deve-se identificar e avaliar os riscos, por exemplos, listar e valorizar os activos passíveis de perda em caso de sinistro;

2. Em seguida, calcular a cobertura dos seguros (o mon-tante de facto reembolsado), para saber se esse valor é o adequado e se o actual montante de prémio é o ideal;

3. A terceira etapa consiste em desenvolver uma política de prevenção dos riscos.

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28 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

gestão

glOSSáriObOlSA de vAlOreS

FilipA cOutOLicenciada em gestão de Empresas

Pós-graduada em gestão de Centros Urbanos

Q

QUANTIDADE ToTAL Soma de todos os negócios realizados durante o dia na Bolsa de Valores.

QUINTA-FEIRA NEGRA - BLACk THURSDAy

Dia 24 de Outubro de 1929, teve início a queda da Bolsa de Valores de Nova York, desen-cadeando a crise económica da década de 30. Com esta data, foi anunciado a Grande Depressão que se estenderia até meados da década de 30.

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informática de gestão

cenáriOS

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. 31Setembro | Outubro 2010 // VALOR ACRESCENTADO

A Direcção Financeira da empresa XPTO SA apresentou à sua Administração, a seguinte previsão para os Resultados Opera-cionais do exercício económico de 2009:

Contas ValoresProveitos e Ganhos  Vendas 150.000Prestações de Serviço 30.000

Total dos Proveitos operacionais 180.000Custos e Perdas  Custo das Vendas 120.000Custos com o Pessoal 30.000Amortizações do Exercício 5.000Outros Custos Operacionais 15.000

Total dos Custos operacionais 170.000Resultado do Exercício 10.000

Figura 1

O Administrador do pelouro financeiro, com base na demonstração acima, pediu à Direcção Financeira que apresentasse os seguintes cenários:

1. Vendas e o seu Custo, teriam acréscimos de 30% e 10%, respectivamente;

2. Vendas e o seu Custo teriam um decréscimo de 10% e 5%, respectivamente.

Resolução:

Vamos dar o nome ao 1º cenário de “Optimista”. Para os acréscimos pedidos temos:

Designação ValorVendas 195.000Custo das Vendas 132.000

Quadro 1

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informática de gestão

No Excel temos de entrar em “Dados” e posteriormente em “Gestor de Cenários”, conforme figura a seguir:

Figura 2

Accionando o “Gestor de Cenários” aparece-nos:

Figura 3

Em “Adicionar” vamos colocar “Optimista”. Considerámos como células variáveis as que constam da figura a seguir. É im-portante referir que as células variáveis não podem ter fórmulas.

Figura 4

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. 33Setembro | Outubro 2010 // VALOR ACRESCENTADO

Nos campos da figura abaixo vamos introduzir os dados constantes do Quadro 1 ($B$6 e $B$10):

Figura 5

Accionamos “OK” na figura acima e aparece-nos:

Figura 6

Depois de accionar “Mostrar” temos os resultados do cenário “Optimista”:

Figura 7

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informática de gestão

Com os passos acima expostos podemos adicionar o 2º cenário, que designamos “Pessimista”, cujo quadro é a seguir apre-sentado:

Designação ValorVendas 135.000Custo das Vendas 114.000

Quadro 2

Com a figura 7 accionamos “Adicionar” e aparece-nos:

Figura 8

Nos campos da figura abaixo vamos introduzir os dados constantes do Quadro 2 ($B$6 e $B$10):

Figura 9

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36 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

informática de gestão

Accionando os passos da figura 6 aparece-nos os resultados do cenário pessimista:

Figura 10

Se accionarmos “Sumário”, temos:

Figura 11

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Press BK �FRICA LUS�FONA A.F. 07/06/18 12:59 Page 1

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em AngolaA impOrtânciA dA Ordem dos ContaBilistas e dosPeritos ContaBilistas

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. 39Setembro | Outubro 2010 // VALOR ACRESCENTADO

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A Contabilidade é um sistema de informação fundamental na vida de qualquer entidade. E é tão fundamental, que hoje está harmonizada a nível mundial, tendo em consideração a globalização. Foi esta realidade que levou o Banco Nacional de Angola (BNA) a criar um novo Plano de Contas para as Instituições Financeiras

(CONTIF).

Seria bom que outras Instituições com responsabilidade política e organizativa no mundo económico, seguissem o exemplo do BNA, porque é sabido que o Plano Geral de Contabilidade e a própria Contabilidade Pública não estão de acordo com as International Accounting Standards (IAS)1 e com as International Financial Reporting Standards (IFRS)2.

Perguntar-se-á se a Contabilidade Pública também tem de obedecer às referidas Normas Internacionais de Contabi-lidade. Afirmamos que sim. E mais, hoje já estão publicadas internacionalmente 17 normas, com a designação de International Federation of Accountants Public Sector Committee3.

Mas, para se avançar com a Contabilidade privada e pública, implica meios materiais e humanos. Relativamente aos meios humanos, tem havido um adormecimento profundo e prolongado no tempo. É exemplo disso a criação da ORDEM DOS CONTABILISTAS E PERITOS CONTABILISTAS DE ANGOLA (OCPCA).

Vivemos em Angola numa economia de mercado, pelo que não pode ser só o Estado a ter o privilégio e o ónus de criar ferramentas para o bom funcionamento e controlo da Economia e das Finanças. Deve ser dada também oportu-nidade ao sector privado e concretamente aos profissionais da Contabilidade e afins, no sentido de ajudar o Estado a tirar a Contabilidade do limbo onde se encontra, como é demonstrado neste trabalho.

Hoje, diz-se que está para breve a abertura da Bolsa de Valores e Derivativos de Angola. Para que qualquer bolsa fi-nanceira funcione, se tivermos mercado secundário a funcionar, implica que auditores independentes verifiquem as contas das empresas cotadas. Ora, é uma boa oportunidade para o surgimento da OCPCA.

Já há muito que se fala da Reforma Fiscal, inclusive já escrevemos sobre esta matéria na Valor Acrescentado4. Angola, fruto da colonização portuguesa, tem características latinas e nos países desta índole, a Fiscalidade sempre teve um grande peso sobre a Contabilidade. Assim, julgamos que se vislumbra mais uma oportunidade para que exista uma Associação/Ordem de Profissionais da Contabilidade e Auditoria.

1 Em português Normas Internacionais de Contabilidade (NIC)2 Em português Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS)3 Em português Normas Internacionais de Contabilidade do Sector Público (NICSP)4 Revista nº 4 da Valor Acrescentado

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em AngolaA impOrtânciA dA Ordem dos ContaBilistas e dosPeritos ContaBilistas

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1. A Origem dA cOntAbilidAde

e dA prOFiSSãO de cOntAbiliStA nO mundO

“A Contabilidade nasceu com o crédito”5 refere o grande Mestre da Contabilidade Jaime Lopes de Amorim que prosse-gue: “a Contabilidade nasceu por falta de capacidade de memória do Homem”.6

Muitos séculos antes de Cristo (AC), os mercadores quando vendiam a crédito, tinham de fazer registos dessas tran-sacções, no sentido de terem todos os elementos, aquando da cobrança.

O eminente Mestre, António Lopes de Sá, corroborando o pensamento de Jaime Lopes de Amorim refere “a Contabili-dade nasceu com a civilização e jamais deixará de existir em consequência dela”.7 E nasceu com a civilização, porque a Con-tabilidade é “a ciência do património”, tal como definiu um outro grande doutrinador da Contabilidade, Vincenzo Masi.

E o património existe desde o início e existirá até ao fim do Homem no planeta Terra.

A prova da realidade contabilística existe desde o Mundo Antigo. Existe há mais de quatro mil anos antes de Cristo. Atravessou os tempos até à decadência do Império Romano, ao aparecimento dos Bárbaros e do feudalismo, até aos dias que correm.

Essa realidade encontra-se materializada nas gravações em ossos de rena, onde estava identificada a componente patrimonial (geralmente animais). Alguns desses desenhos e traços identificavam as quantidades (riscos que simbo-lizavam quantas vezes se repetia o objecto desenhado). “Antes, pois, que o homem soubesse escrever e calcular, já estas evidências ocorriam e algumas têm sido confundidas com manifestações artísticas, embora para historiadores famosos, como Melis, e arqueólogos consagrados, como Figuer, não tenham dúvidas quanto à natureza contabilística”.8

O povo que mais marcou o mundo da contabilidade foi o Sumério que viveu na Mesopotâmia.9

5 Amorim, Jaime Lopes, Digressão pelo Vestuto Mundo da Contabilidade, p 256 Idem, ibidem, p 267 Sá, António Lopes, História Geral e das Doutrinas da Contabilidade, 2ª edição ampliada, Vislis Editores, p. 19.8 Idem, ibidem, p.25. 9 Entre-os-rios Tibre e Eufrates, onde hoje é o Iraque.

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Vlaemminck refere “os Sumérios foram para a Mesopotâmia, os iniciadores da civilização. Algumas das ideias fundamen-tais do nosso pensamento têm raízes na terra Sumer. Chegou a dizer-se que os Caldeus desempenharam para a região do Eufrates, o papel que os latinos tiveram para a civilização ocidental”.10

A escrita cuneiforme, assim designada pela sua forma de cunha, onde os registos eram feitos em plaquinhas de argila fresca, sulcada por estiletes de madeiras, nasceu no IV milénio antes de Cristo (AC), tendo o condão de acabar com a escrita baseada em desenhos (escrita pictográfica), para passar a uma escrita ideográfica. Ainda hoje há discussões se foi o povo sumério quem inventou a escrita por nós seguida ou se foram os Fenícios com o alfabeto.

Os sumérios não conheciam a moeda. A invenção da moeda é atribuída aos fenícios, muito mais tarde. Assim, os sumérios faziam as suas avaliações tendo como base padrões de metais (prata e cobre) e existiam símbolos para re-sumir valores.

O Prof. António Lopes de Sá chama ao legado deixado pelos sumérios, o “ponto alto da racionalidade mnemónica da riqueza”.11 Isto porque, a maioria das plaquinhas de argila descobertas dessa Civilização eram de natureza contabilís-tica. Outros legados houve, como: o sistema decimal, o calendário, os pesos e as medidas.

Há investigadores que dizem que estes povos que ocupavam, nomeadamente a Suméria e a Babilónia, já faziam: o apuramento de custos, revisões de contas, controlos de gestão e de produtividade, em pranchas de argila (há algumas peças destas nos museus do Louvre e do Vaticano).

No Egipto existiam igualmente numerosos documentos contabilísticos. Destacam-se: a entrega em espécie ao Te-souro, salários de operários e as contas dos templos. Os escribas (contabilistas) tinham duas Contabilidades: uma bastante complexa para apresentar aos clientes e outra mais simples para eles.

Na Índia, aproximadamente de 325 a 83 AC, no período de Maurys, Kautilya escreveu o livro “Arthasastra”, onde constam diversos conceitos e definições de Contabilidade,12 pese embora não ser dirigido única e exclusivamente, para a área contabilística. Incluía outras áreas como: a Economia, o Direito, a Ética… Mas, de importante, na área da Contabilidade, Kautilya teve a preocupação de criar teorias sobre fenómenos patrimoniais, como o conceito de ganhos por natureza e dentro deles, realçou a definição de ágio.

Entretanto, os grandes estudiosos da Contabilidade, até à Antiga Roma, altura em que apareceu material mais resis-tente (papiro ou pergaminho) tiveram grandes dificuldades em provar a existência da Contabilidade. De importante, as provas escritas da altura resumiam-se a:

• Na Antiguidade Oriental, século XII AC, mais propriamente na Índia, o código de Manu já legislava sobre: os lançamentos dos tributos do rei, sobre os juros e sobre os empréstimos;

10 Monteiro, Martim Noel, Pequena História da Contabilidade (2ª edição), Europress, p.39.11 Sá, António Lopes, História Geral e das Doutrinas da Contabilidade, 2ª edição ampliada, Vislis Editores, p. 30.12 Hoje a Contabilidade é a ciência do património. Tem autonomia própria, mais nenhum ramo do saber estuda o património, pese embora a Contabilidade relacionar-se com outros ramos do saber como o Direito, a Economia, a Matemática, a Sociologia…

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• Na Pérsia, entre 521 e 481 AC, o imperador Dário mandou fazer o cadastro de todo o império, que mais tarde serviu de base para o lançamento do imposto sobre a propriedade da terra;

• Na Fenícia, no século V AC, os escribas e os magistrados eram os responsáveis pela recolha dos impos-tos e tinham a obrigação de prestar contas junto do Rei e, posteriormente, do Senado. Mais, há autores, que dizem que foram os fenícios os primeiros a conceber e a praticar a arte de compilar registos e de fazer lançamentos;

• Na Palestina havia a prestação de contas, a julgar pela informação constante no “Livro dos Números” mais propriamente no versículo VII, do capítulo IV do “Velho Testamento”:

“Onde houver muitas mãos, faz uso das chaves. Conta e pesa tudo o que te derem e assenta no livro o nome de quem dá e de quem recebe”.

Julga-se que os hebreus possuíam um sistema completo de registos.

Na Antiga Grécia, apareceram os Trapezistas, que eram comerciantes cuja função era vista como de interesse público e tinham como principais tarefas: examinar moedas, fazer câmbios, receber fundos para colocação e conceder em-préstimos. Os livros de registo usados denominavam-se: Efemérides e Trapedzitika Grammata.

Na Antiga Roma surgiram a letra de câmbio e o cheque, aceites em todo o império. E com as conquistas de novos ter-ritórios, deparavam-se com povos de línguas diferentes e com moedas também diferentes. Neste contexto, surgiram os Argentários ou Mensários, à semelhança dos Trapezistas na Antiga Grécia.

Diz-se terem sido estes os pioneiros dos nossos modernos financeiros.

Os Argentários eram obrigados a possuir registos e a guardá-los, porque muitas vezes em Tribunal, eram obrigados a apresentá-los.

Foi a partir da Antiga Roma que se conseguiu de uma forma inequívoca, saber como a Contabilidade existia e funcio-nava, devido principalmente ao suporte do material usado para a elaboração dos registos – o papiro ou pergaminho.

Com a queda do Império Romano houve uma estagnação a nível mundial e a Contabilidade sofreu também esse contágio.

Com as cruzadas veio a descoberta de um “Novo Mundo” e a saída do “limbo” em todas as frentes. A Contabilidade não ficou alheia a esta situação, como ciência, com uma grande componente social.

Esse acordar teve como principal impacto, o grande crescimento socio-económico das Repúblicas Italianas, onde se destaca Veneza (1494). Aí o Frei Luca Paciolo divulgou o sistema de partidas dobradas (partita doppia) ou sistema digráfico, expresso no “Tractatus XI Particularis e Scripturis” que faz parte da obra “Summa Arithmetica, Geometria Proportioni et Proportionalita”. Em relação a Frei Luca Paciolo, muitos estudiosos, entre os quais Fabio Besta, não acreditavam que tivesse sido ele o seu divulgador, visto ser um monge agostinho cuja vida era em clausura. Mais, Jaime Lopes de Amorim13 refere “na sua qualidade de homem com sentido prático das coisas, Frei Luca foi mais um divul-gador do que propriamente um criador de conhecimentos científicos, não sendo, portanto, de admirar que tendo incluído na sua “Summa” um texto sobre o emprego da Matemática em cálculo comercial, ele tivesse procurado aumentar a utilidade des-sa obra, acrescentando-lhe um texto sobre Contabilidade, visto esta disciplina nas suas aplicações práticas estar intimamente relacionada com o cálculo comercial”.

Por outro lado, há doutrinadores que referem que o sistema de partidas dobradas data de 1292.14

Independentemente da polémica da sua patermidade, foi indubitavelmente, um verdadeiro marco na História da Contabilidade. Com este sistema está sempre implícito a causa e o efeito. Ou seja, a um débito tem de corresponder sempre um crédito, sendo este o sistema que ainda hoje é usado em todo o mundo civilizado.

Em 1936, o matemático Koening aplicou a teoria dos Grafos à Contabilidade. No mesmo ano, Léon Gomberg, no seu livro “La Doctrine de la Comptabilité e les Méthodes Comptables” abordou a Contabilidade Integral. Em 1989,

13 Amorim, Jaime Lopes, Digressão pelo vestuto Mundo da Contabilidade, p 98.14 Amaral, José Gonçalves Dias, em “Contabilidade Geral Tomo I”,2004, Universidade Católica de Angola, p. 13.

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o japonês Yri Ijir, criou a Teoria Multidimensional (1989), que teve como principal seguidor no mundo português o saudoso Prof. Armandino da Rocha. Entretanto, as teorias que surgiram posteriomente ao sistema de partidas dobra-das não conseguiram vingar.

Jean Dumarchey, com a sua obra “Théorie postive de la Compatabilité”, publicada em Lyon em 1914, revolucionou o mundo da Contabilidade, isto porque, traçou um novo rumo, ou seja, a Contabilidade deixou de ser empírica, como refere o Prof. Chendry no prefácio da obra de Dumarchey “... a época das concepções e por vezes pueris tinha pas-sado: o homem chegara ao ponto das concepções abstractas, soando então, a hora da ciência”. A obra de Jean Dumarchey foi traduzida em várias línguas, inclusive, o português e para além do entusiasmo que criou na classe dos contabilis-tas, muito contribuiu para modernizar o ensino da Contabilidade.

Com Jean Dumarchey aparece uma nova noção de Contabilidade, “ciência das contas” e por consequência um novo conceito de conta “classe de unidades de valores essencialmente variável no espaço e no tempo” e classe “conjunto de coisas que apresentam uma característica comum”. Entretanto, Jaime Lopes de Amorim definiu conta como: “uma classe de elementos ou componentes patrimoniais expressos em unidades de valor, susceptível de sofrer variações no espaço e no tempo”.

Os conceitos de conta apresentados pelos dois grandes Mestres acima, mostram a característica científica da Conta-bilidade, ou seja, esta não se baseia em verdades absolutas, mas sim em verdades relativas.

Foi Jean Dumarchey quem criou a Lei do Equilíbrio das Variações das Massas Patrimoniais. “Num Balanço, toda a variação de uma conta do Activo, Passivo e Situação Líquida, provoca necessariamente uma variação de uma das outras duas contas, igual e do mesmo sentido se pertencerem a membros diferentes, e de sentido contrário se pertencerem ao mesmo membro; ou então, uma variação igual e de sentido contrário da mesma conta”.

Eugene Schmalenbach, autor do “Dynamishe Bilanz” (1919) foi o criador da conta Perdas e Ganhos, ou seja, a conta de Resultados. Para este autor, o lucro é o fulcro de todo o dinamismo patrimonial.

Todavia, Eugene Schmalenbach entendeu que a formação do rédito não depende só da empresa, mas também do ambiente externo onde está inserida. Mais tarde, o Prof. António Lopes de Sá, na sua teoria das “Funções Sistemáti-cas”, abriu caminho para uma estrutura de doutrina virada para o meio ambiente, tendo como preocupação a eficá-cia do fenómeno patrimonial e a eficácia do fenómeno ambiental natural.

Para muitos autores, a teoria Dinamista ou Dinâmica de Eugene Schmalenbach, ao dar mais relevo à conta de Perdas e Ganhos, e consequentemente ao lucro, está a retirar ao património, o carácter essencial já dado à Contabilidade e cientificamente provado com a teoria Positivista ou Dinâmica de Jean Dumarchey.

Entretanto, apareceu mais tarde, corria o ano de 1950, a teoria Reditualista de Gino Zappa, autor da obra “Il Reddito di Impresa”. Da teoria deste autor italiano, extraímos o conceito de custo: “expressão sintética de todas as despesas que devem ser recuperadas, a fim de que o capital da empresa vendedora, descuradas todas as outras variações, seja recontituído na medida pré-existente ao suporte dessas despesas”.

E o que é uma despesa? É a obrigação de pagar algo. Assim, nem todas as despesas implicam custos. Exemplo: a criação de uma amortização/reintegração de uma viatura ou a constituição de uma provisão para depreciação de existências.

De acordo com a teoria Reditualista, Rédito e Capital, são duas maneiras diferentes de analisar o mesmo fenómeno. Nesta perspectiva, cada facto patrimonial pode ser analisado da seguinte forma:

1. Na óptica financeira ou do património, isto é, das despesas e das receitas;

2. Na óptica económica ou do rédito, isto é, dos custos e dos proveitos.

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Nos dias que correm estas duas ópticas são muitas vezes confundidas em análises económico-financeiras e a sua apli-cação tem grande importância no princípio geralmente aceite em Contabilidade: o da Especialização dos Resultados ou do Acréscimo, em que “os custos e os proveitos devem ter relevação contabilística quando ocorrem, independentemente de serem pagos (despesa) ou recebidos (receita)”.

A partir da segunda metade do século XX e nos mais diversos recantos do mundo surgiram muitas teorias e pes-quisas científicas e empíricas, com primordial incidência nas áreas do Valor (avaliação), Manutenção do Capital, Retorno do Investimento (payback)... Todos esses trabalhos, como refere o Prof. António Lopes de Sá, estavam mais virados para outras vertentes, como o rédito, a liquidez, o risco... e menos virados para a Teoria Geral da Contabilidade.

Entre essas teorias surgiu o Neopatrimonialismo cujo patrono é o grande Mestre da Contabilidade Prof. António Lopes de Sá. O que é então o Neopatrimonialismo?

É uma corrente de investigação da Contabilidade que procura criar uma forma de conhecer e perceber o que sucede com a riqueza patrimonial das empresas e das instituições. Para o efeito, criou axiomas e teoremas, partindo das seguintes realidades:

1. A necessidade humana gera uma finalidade para conseguir meios patrimoniais que visem suprir o que se precisa;

2. Os meios patrimoniais constituem uma substância ou riqueza (património) das “células sociais” (em-presas e instituições);

3. A riqueza não se move por si mesma, necessitando de agentes motores para isto e estes encontram-se dentro (administradores, funcionários...) e fora das “células sociais” (natureza, sociedade, mercado, tecnologias...);

4. Ao movimentar-se a riqueza, esta transforma-se;

5. Toda a movimentação enseja o exercício de uma função (uso dos meios patrimoniais);

6. A função é, pois, a decorrência do uso ou movimento do meio patrimonial através da acção de um agente motor interno ou externo;

7. Quando a função anula a necessidade, pelo movimento, produz a eficácia (consegue-se o que se deseja);

8. Existem funções definidas com finalidades específicas. Estas constituem sistemas que agem todos ao mesmo tempo e de forma autónoma, em interacção, constituindo assim, um universo patrimonial em movimento.

Estamos na era da digitalização, da virtualização, da personalização e da ligação sem fios, pelo que o Neopatrimo-nialismo, como progresso teórico, serve-se dos avanços da tecnologia, pegando no que foi feito anteriormente pelas outras correntes, nomeadamente patrimonialistas (Fábio Besta, Vincenzo Masi, Jaime Lopes de Amorim, Gonçalves da Silva ...), procurando desta forma dar um maior incremento. A própria velocidade da informação que hoje existe, permite a troca de ideias e de opiniões entre pessoas de todos os cantos do mundo, o que enriquece esta corrente, que tem seguidores em todos os continentes.

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1.1. angola antes e dePois da indePendênCia

O quadro a seguir mostra a evolução da Contabilidade e da profissão de Contabilista/Perito Contabilista em Angola antes e após a independência. Foi grande o legado que Portugal deixou a nível de legislação contabilística e fiscal e que continuou a vigorar depois de 11 de Novembro de 1975:

DATA ACoNTECIMENTo IMPoRTâNCIA

1755 Criação da Junta do Comércio pelo Marquês de Pombal, através do Real Decreto de 30/09

Impulsionou a actividade comercial e industrial e melhorou o en-sino do comércio.

1759 Criação da Aula do Comércio Primeiro estabelecimento de ensino, criado oficialmente em Por-tugal para o ensino da Contabilidade.

É a primeira lei a fazer referência à profissão de “guarda-livros”.

1770 Primeira regulamentação da profis-são contabilística

Por carta de Lei de 30/08.

Os guarda-livros deviam inscrever-se na Junta do Comércio e se-rem graduados pela Aula do Comércio.

Alguns empregos na administração pública só estavam disponí-veis para os alunos da Aula do Comércio.

1838 A profissão de guarda-livros é reco-nhecida nas leis fiscais como uma das profissões liberais sujeita à “dé-cima” (carta de Lei de 07/04)

Ser graduado pela Aula do Comércio e estar inscrito na Junta do Comércio já não era tão importante para poder ser considerado guarda-livros. Embora alguns empregos públicos continuassem a ser atribuídos a alunos da Aula do Comércio.

1883 Publicação do primeiro Código Co-mercial Português, denominado “Código Ferreira Borges”

O Código faz referência à escrituração dos livros, à prestação de contas e à profissão de guarda-livros.

1885 Criação da Associação Portuguesa de Contabilidade

Esta Associação, de acordo com Ricardo Sá, no seu livro “Verifi-cações e Exames de Escripta”, teve vida efémera, não se saben-do o período de actividade.

1888 Novo Código Comercial, denomina-do “Código Veiga Beirão” em home-nagem a um dos seus autores, Fran-cisco António da Veiga Beirão

Permite que os comerciantes e as empresas entreguem a Conta-bilidade a qualquer pessoa, fazendo com que a competência para o trabalho deixasse de ser considerada sob a forma de lei. Assim, a profissão de guarda-livros deixa de ser referida no Código Co-mercial, o que foi considerado um retrocesso.

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DATA ACoNTECIMENTo IMPoRTâNCIA

1889 Ricardo Sá elaborou uma carta des-tinada ao Rei D. Luís (há indícios de que não a tenha recebido) criticando veemente o facto do “Código de Vei-ga Beirão” ter deixado de fazer refe-rência à profissão de guarda-livros

Ricardo Sá foi considerado um dos principais teóricos da Conta-bilidade com várias obras publicadas. Foi também um dos princi-pais defensores da profissão de guarda-livros, sendo a sua carta, indiscutivelmente, um dos documentos históricos da profissão de guarda-livros.

1894 Criada a Associação dos Emprega-dos da Contabilidade, também de-signada por Associação de Classe dos Empregados de Contabilidade, e mais tarde, por Instituto da Classe Comercial de Lisboa

De acordo com Ricardo Sá, no seu livro “Verificação e Exames de Escripta”, esta Associação sucedeu à Associação Portuguesa de Contabilidade e também teve vida efémera, não se sabendo determinar a sua duração.

No entanto, no dia 31/03/1897, esta Associação publica o “Bole-tim do Comércio” cuja edição foi até Junho/Agosto de 1902.

1901 Criação da Direcção dos Serviços de Fazenda e Contabilidade

Os Serviços de Fazenda e Contabilidade com a designação de Direcção, foram criados na província de Angola, em 03/10, atra-vés de Portaria do Ministério das Finanças e do Ultramar.

Todas as deliberações do funcionalismo do Ultramar eram emiti-das a partir de Portugal Continental (Metrópole) através de Por-tarias e de Decretos. Inicialmente pelo Ministério das Colónias, através da Direcção Geral da Fazenda das Colónias que, poste-riormente, passou à categoria de Ministério das Finanças e do Ul-tramar, tendo criado em cada província, a Direcção dos Serviços de Fazenda e Contabilidade.

As deliberações de natureza administrativa eram emitidas da Metrópo-le para o Governador Geral da província de Angola, que por sua vez, as transmitia ao Director dos Serviços da Fazenda e Contabilidade.

A estrutura da Direcção dos Serviços da Fazenda e Contabilida-de, a nível do distrito de Luanda, sede do Governo Geral de An-gola, era a seguinte:

-5 repartições, que por sua vez, eram constituídas por secções. O número de secções era definido pela dimensão da repartição;

- várias recebedorias, cuja actividade principal era a cobrança de impostos de todas as actividades de rendimento, exercidas no distrito de Luanda.

Os outros distritos tinham uma Direcção Distrital, em que a nível de Repartições, as secções tinham estas funções:

1ª Secção – Contabilidade;

2ª Secção – Abonos;

3ª Secção – Pessoal e Expediente.

1902 Criada a Escola Comercial Raul Dó-ria, no Porto, considerada a pionei-ra no ensino técnico comercial e da contabilidade

Foi uma das principais escolas nacionais do ensino prático da contabilidade e do comércio e encerrou no ano lectivo de 1963/64.

1903 Ricardo Sá publica o livro “Tratado de Contabilidade”, Ed. Typographia “A Editora”, Lisboa

Foi considerado o primeiro livro português sobre Teoria da Con-tabilidade.

1908 Publicado o primeiro número da revis-ta “o Guarda-Livros” da Escola Práti-ca Comercial Raul Dória, no Porto

O nº 1 data de 10/08/1908 e foi editado até ao nº 84 de Março de 1914.

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DATA ACoNTECIMENTo IMPoRTâNCIA

1910 IMPLEMENTAÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA

1911 Regulamento de Fiscalização das Sociedades Anónimas de 13/04 (vi-gorou no ano civil de 1911 e no ano económico de 1911/1912). As socie-dades anónimas passaram a ter que submeter as suas contas à fiscaliza-ção oficial de peritos contabilistas. os directores não podiam ser guar-da-livros

o nº 2 do artigo 9º, da parte II, sob o título “Modo de executar a fis-calização”, determina que os do-cumentos de prestação de contas devem ser assinados “sempre pelo guarda-livros”. Além disso, o artigo 35º estabelece que os guarda-livros são co-responsáveis com os geren-tes da sociedade por quaisquer ac-tos dolosos tendentes a ocultar a veracidade das verbas constitutivas dos balanços, e, por tal motivo, são obrigados a subscrever os inventá-rios, os balanços e todas as contas que as sociedades tenham de apre-sentar

Introdução do conceito de “responsabilidade mutual” em relação a actos contabilísticos fraudulentos.

1911 A Lei de 27/05, publicada no Diário do Governo nº 12 de 29/05, exige que a Contabilidade seja executada por técnicos competentes e cria duas Câmaras de Peritos Contabilistas (uma no Norte (Porto) e outra no Sul (Lisboa)) para verificar o relato fi-nanceiro e examinar as contas

Retorno ao corporativismo.

Atribuições das Câmaras:

Dar parecer e verificar as contas que dizem respeito ao balanço e relatório, que devem ser apresentados às Assembleias Gerais das companhias e sociedades anónimas:

Proceder ao exame das escritas quando ordenado pelos respecti-vos juízes nos processos comerciais, criminais e cíveis.

As Câmaras não chegaram a ser constituídas.

1916 Publicado o primeiro número da Revista de Contabilidade, da Esco-la Prática Comercial Raul Dória, no Porto

Sucedeu à anterior revista, “O Guarda-Livros”. O nº 1 foi publica-do em 15/02/1916 e o último (nº 24) em 02/1917.

DITADURA CORPORATIVISTA

1926 Publicado o primeiro número, de Ja-neiro a Junho de 1926, da revista de “Comércio e Contabilidade”

Apenas foram publicados seis números, todos no ano de 1926. A Direcção da revista era composta por Francisco Caetano Dias e pelo escritor e guarda-livros Fernando Pessoa que, na altura, eram cunhados.

1928 Constituída a Associação dos Con-tabilistas e Guarda-Livros do Norte de Portugal

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DATA ACoNTECIMENTo IMPoRTâNCIA

1929 Publicado o primeiro número do jor-nal “A Voz do Comércio” que foi edi-tado até 08/1931.

o jornal tinha o subtítulo “Quin-zenário dos Contabilistas e Guarda-Livros” e era publicado pela Associação dos Contabilistas e Guarda-Livros do Norte de Portugal

1929 Jaime Lopes de Amorim, grande Mestre da Contabilidade (1891-1973), publicou o livro “Lições de Contabilidade Geral”, editado pela Empresa Industrial Gráfica do Porto

Constituiu um marco histórico na investigação contabilística, em Portugal, posicionando a Contabilidade numa perspectiva científi-ca e ao nível do ensino superior.

1933 Publicação do nº 1 de Janeiro/Mar-ço, da revista de “Contabilidade e Comércio”

A revista continua a ser publicada e é a mais antiga em activida-de, em Portugal. O primeiro director foi José Henriques Garcia e o actual é o grande Mestre Hernâni Olímpio Carqueja.

1933 o Governo estabelece uma Comis-são para estudar a regulamentação da profissão de guarda-livros e con-tabilistas

O Governo de Salazar reconhece a necessidade dessa regula-mentação.

1934 Criação do Sindicato Nacional de Contabilistas e Guarda-Livros do distrito do Porto (SNCGDP)

Este sindicato lutou pelo prestígio da profissão de contabilistas e guarda-livros.

1936 obrigatoriedade dos contabilistas e guarda-livros possuírem “carteira profissional” do SNCGDP

Esta “carteira profissional” torna-se essencial para exercer a pro-fissão de contabilista e guarda-livros.

1938 Fernando Vieira Gonçalves da Sil-va (1904-1998), grande Mestre da Contabilidade, defende a sua tese de doutoramento na Universidade Técnica de Lisboa sob o título “A Regulamentação Legal da Escritu-ração Mercantil”, publicada em livro no mesmo ano (Ed. Tipografia da Empresa Nacional de Publicidade) sendo considerada a segunda tese na área de Contabilidade e Direito Comercial

Publicou diversas obras.

A tese de doutoramento contém um capítulo sobre “Funções e Responsabilidades do Guarda-Livros” defendendo a regulamen-tação da profissão e a existência de um Sindicato ou Câmara de Contabilistas.

1940 Proposta datada de 8/11, de regula-mentação da profissão pela Asso-ciação Académica do Instituto Co-mercial do Porto

Esta proposta é um indicador importante do ambiente corporati-vista que se vivia na época.

Divide os técnicos de Contabilidade em três categorias:

- Guarda-Livros, técnico que tem a função de, por si ou conjun-tamente com os seus auxiliares, executar todas as operações de escrituração;

- Contabilista, técnico cuja função consiste em superintender, organizar, orientar e dirigir os serviços de Contabilidade e Admi-nistração dos organismos públicos e privados;

- Perito Contabilista, técnico que tem por função a finalização e a verificação da Contabilidade e factos de gestão dos organismos económicos.

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1943 o Governo dissolve o SNCGDP. os contabilistas e os guarda-livros pas-sam a ficar integrados no heterogé-neo Sindicato dos Empregados de Escritório

O controlo dos sindicatos por Salazar prejudica o interesse dos contabilistas e dos guarda-livros.

1943 Publicação da lei 1.995 de 17/05 Esta Lei instituiu um novo regime de fiscalização da constituição e funcionamento das sociedades por acções, mediante a inter-venção de técnicos especializados e ajuramentados, integrados num organismo colegial que se denominará Câmara dos Verifica-dores das Sociedades por Acções.

1945 Constituição da Sociedade Portu-guesa de Contabilidade (SPC), em 27 de Junho

A SPC teve actividade relevante até ao fim da década de 80.

1949 A SPC promoveu um conjunto de 16 palestras sob o título geral “Vanta-gens para a Contabilidade de Regu-lamentação Profissional dos Técni-cos de Contas”

As palestras constam de um livro com o título “Vantagens para a Contabilidade da Regulamentação Profissional dos Técnicos de Contas”, publicado pela SPC em 1949.

1951 Publicação do Decreto nº 38.331 de 23/04

Este Decreto promulga o Regulamento dos Institutos Comerciais, tendo estabelecido no seu artigo 13º:

“O curso de Contabilista constitui habilitação adequada para pe-ritos contabilistas dos tribunais de comércio, chefes de contabili-dade de serviços fabris do Estado e de serviços municipalizados, oficiais dos serviços de Fazenda e Contabilidade do Ultramar, administradores de falências e para o exercício de funções aná-logas”.

1954 Publicação do primeiro número do “Boletim das Sociedades Portugue-sas de Contabilidade”

O nº 1 foi publicado em Outubro de 1954 e o último (nº 65) em Outubro/Dezembro de 1984. Ou seja, o “Boletim” foi publicado durante 30 anos.

1956 Caetano Leglise da Cruz Vidal defen-deu a sua tese de Doutoramento em Finanças pela Universidade Técnica de Lisboa, sob o título “Ensaio so-bre um Planeamento Contabilístico Racional”, que seria publicada em livro pela Ed. Tip. União Gráfica de Lisboa

É a segunda tese na área da Contabilidade e, concretamente, sobre Normalização Contabilística.

1963 Publicação do Código da Contribui-ção Industrial (CCI), criado pelo De-creto-Lei nº 45 103, de 01/07, o qual exige que a tributação seja baseada no lucro real das empresas

Surge a necessidade de uma Contabilidade mais rigorosa, executada por “Técnicos de Contas” (nova designação). Es-tes desenvolvimentos levaram ao surgimento dos Núcleos de Técnicos de Contas no Sindicato Nacional dos Empregados de Escritório.

O artigo 52º do CCI previa a regulamentação legal do exercício da profissão e, até à sua publicação, os técnicos de contas teriam de se inscrever na Direcção-Geral das Contribuições e Impostos (DGCI) o que veio a acontecer até ao início do processo de ins-crição na Associação dos Técnicos Oficiais de Contas (ATOC), criada pelo Decreto-Lei nº 265/95.

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1964 A Comissão de Contabilidade e Es-tatística do Centro de organizações de Escritórios do Sindicato Nacional dos Empregados de Escritórios do Distrito de Lisboa apresentou um estudo denominado “Plano Geral de Contabilidade: Projecto-Contri-buição para o Plano Contabilístico Português”

É considerado o primeiro estudo sobre um Plano Geral de Con-tabilidade.

1965

Camilo Cimourdain de oliveira, de-cano dos professores universitá-rios portugueses de Contabilidade, apresentou a tese de Doutoramen-to na Faculdade de Economia do Porto, sob o tema “A Reintegração acelerada como incentivo fiscal ao investimento”, publicada em livro, Ed. oficinas Manufacturas Modesta, em 1964

O Prof. teve um papel importante na redacção do Código da Con-tribuição Industrial (CCI), pois integrou o grupo de quatro espe-cialistas que elaboraram o CCI. Assim, pela primeira vez, a legis-lação fiscal, via CCI, passou a contemplar a regulamentação da profissão de “Técnico de Contas”.

1968 Jaime Lopes de Amorim publicou o seu último livro “Digressão Através do Vestuto Mundo da Contabilida-de”. Ed. Livraria Avis, Porto

Pode ser considerada a “cereja no topo do bolo” da sua vasta obra.

1968 Publicação do nº 1, em 10 de Junho de 1968, do “Jornal Técnico de Con-tas e da Empresa”

Foi publicado até Dezembro de 2003, com o nº 457.

A extinção deveu-se ao falecimento do seu fundador e director, José Luís Lopes Marques.

1969 o Decreto-Lei nº 49.381 de 15/11 prevê a fiscalização das Sociedades Anónimas por Revisores oficiais de Contas e estabelece regras para a elaboração do Balanço e da Conta de Resultados

É o primeiro diploma a fazer referência à profissão de “Revisor Oficial de Conta (ROC)”, cujo artigo 43º estabelece no seu nº 3:

“Os membros do Conselho Fiscal e o Fiscal Único podem ser ou não sócios da sociedade, mas um deles ou o Fiscal Único e um suplente têm de ser designados entre os inscritos na lista dos Revisores Oficiais de Contas a que se refere o artigo 43º, salvo o estabelecido nas disposições transitórias”.

O artigo 43º determina que as actividades de ROC e das socie-dades de revisão serão regulamentadas, o que veio a acontecer, quatro anos mais tarde, com o primeiro Estatuto aprovado pelo Decreto-Lei nº 1/72, de 03/01, tendo a Câmara dos ROC sido criada pela Portaria nº 87/74 de 07/02.

1970 Em Lisboa no dia 01/05, o “Grupo de Trabalho Técnica Contábil – Eco-nomia das Empresas” da Comissão Directiva da Secção Profissional dos Técnicos de Contas do Sindicato Nacional dos Profissionais de Escri-tório do Distrito de Lisboa, apresen-tou o “Plano Contabilístico Nacional para a Empresa”

É considerado o segundo estudo sobre um Plano de Contabilida-de Nacional.

15 O eminente Prof. Rogério Fernandes Ferreira é colaborador da revista VALOR ACRESCENTADO.

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52 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

DATA ACoNTECIMENTo IMPoRTâNCIA

1970 A Direcção Geral de Contribuições e Impostos (DGCI) nomeou a Comis-são de Estudos do Plano, constituí-da por Rogério Fernandes Ferreira15, Henrique Quintino Ferreira e Mário Martinho Pereira, ex-técnicos da DGCI, visando a elaboração de um Plano Geral de Contabilidade

É considerada a primeira iniciativa governamental para a imple-mentação de um Plano Contabilístico Nacional.

O projecto do Plano foi elaborado entre 1970 e 1973, pelo Centro de Estudos Fiscais da DGCI e apresentado neste último ano em livro, sob o título “Anteprojecto do Plano Geral de Contabilidade”.

1972 o Governo reconheceu a profissão de Revisor oficial de Contas, através da respectiva Câmara com a publica-ção do primeiro Estatuto inserto no Decreto-Lei nº 1/72 de 03/01, tendo a Câmara sido criada pela Portaria nº 87/74 de 07/02

1972 Associação Angolana dos Técnicos de Contas

Houve uma Assembleia de profissionais onde foram discutidos e criados os estatutos que foram entregues ao Governador-Geral de Angola, que depois de apreciados, os remeteu ao Governo Central.

1974 REVOLUÇÃO 25 DE ABRIL

1975 - 11/11 - Independência de Angola

1976 Em Março, aquando da primeira ope-ração da troca da moeda “escudo” pelo “kwanza”, a Direcção dos Ser-viços de Fazenda e Contabilidade, passou a designar-se por Ministério das Finanças

A data comemorativa é 3/10, porque muitos funcionários das Fi-nanças, referem que esta é a verdadeira data da criação dos ser-viços de Finanças em Angola.

1978 Plano de Contas Criado pelo Ministério do Comércio Interno, no intuito de unifor-mizar o controlo económico das suas Unidades Económicas Es-tatais.

1979 Plano de Contas Nacional, aprovado pelo Decreto nº 250/79 de 19/10

Aplicado em todas as Unidades Económicas Estatais, mistas e privadas.

1982 Plano Geral de Contabilidade, apro-vado pelo Decreto nº 82/01 de 16/11

Terceiro Plano de Contas de Angola, ainda em vigor.

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DATA ACoNTECIMENTo IMPoRTâNCIA

1995 ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas

Começou a ganhar corpo como Associação de profissionais, aproveitando a vinda ao nosso país de uma delegação do Banco Mundial, que na altura fez um levantamento sobre a panorâmica contabilística de Angola. Concluiu-se que, em vez de uma Asso-ciação, seria mais profícuo criar uma Ordem.

1997 o Ministério das Finanças institui, a 10 de Setembro, a “task force” para a implementação do Mercado de Capitais e Bolsa de Valores, tendo como principal função implementar o mercado de valores mobiliários

A “task force” foi integrada por especialistas dos Ministérios das Finanças, do Planeamento e da Justiça, Banco Nacional de An-gola, SONANGOL e ENSA, cujo mandato visava realizar estudos preliminares para a criação da Comissão do Mercado de Capitais e da Bolsa de Valores de Angola.

1998 Estatuto orgânico do Ministério das Finanças

Compreende as seguintes direcções nacionais:

1. Orçamento;

2. Contabilidade;

3. Tesouro;

4. Impostos;

5. Alfândegas;

6. Património do Estado.

1998 Criação do Núcleo da Comissão de Mercado de Capitais e da Bolsa de Valores

Despacho do Ministro das Finanças, Mário de Alcantâra Monteiro.

2000 Regime de obrigatoriedade de Audi-torias

O Decreto nº 38/00 de 06/10 - DR 40/2000 - aprovou o Regime de Obrigatoriedade de Auditorias a serem efectuadas por peritos contabi-listas, para as empresas públicas ou mistas, constituídas sob qualquer forma jurídica: sociedades anónimas, por quotas, constituídas no âm-bito de projectos de investimento estrangeiro e que operem no terri-tório nacional ao abrigo de regimes tributários ou cambiais especiais.

2001 Exercício da Contabilidade e Audi-toria

A Lei nº 3/01 de 23/03 - DR 14/2001 - aprovou o exercício da Conta-bilidade e Auditoria, por parte de contabilistas e peritos de contabili-dade, inscritos na Entidade Representativa dos Contabilistas e Peri-tos de Contabilidade, podendo ser pessoas singulares ou colectivas.

2004 Lei das Sociedades Comerciais, criada pela Lei nº 1/04 de 13/02

Estabelece as regras com que as sociedades comerciais devem funcionar em Angola.

Esta lei estabelece novas regras em matéria de fiscalização das sociedades, exigindo que dos membros dos Conselhos Fiscais um seja contabilista ou perito contabilista.

2004 “Contabilidade Geral - Conceitos Fundamentais” - Tomo I, autor José Gonçalves Dias Amaral

Resulta da sistematização de vários textos de apoio à discipli-na de Contabilidade Geral, regida na Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica de Angola (UCAN), no período compreendido entre os anos de 2000 a 2003.

2004 Publicação do livro “Contabilidade Analítica Pormenorizada” do autor Capela Dombaxi Tepa

O livro tem 12 capítulos, em que os primeiros tratam de apurar de uma forma lógica a Contabilidade Analítica. A segunda parte trata de custos teóricos previstos, utilizando para o efeito conhecimen-tos técnicos e científicos.

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54 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

DATA ACoNTECIMENTo IMPoRTâNCIA

2007 Plano de Contas das Instituições Fi-nanceiras (CoNTIF)

Criado pelo Instrutivo nº 9/07 de 19/09, do Banco Nacional de An-gola. Este Plano já está de acordo com as Normas Internacionais de Contabilidade (NIC) e com as Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS).

Estava estipulado que o CONTIF entrasse em vigor no dia 1 de Janeiro de 2010, devendo as Instituições Financeiras ter encer-rado as contas até 31 de Dezembro de 2009, de acordo com o Plano de Contas em vigor e proceder à abertura das contas com a transposição dos saldos existentes, em conformidade com a nova classificação.

Recentemente, o BNA flexibilizou a entrada em vigor do pla-no CONTIF permitindo, para as instituições que o requeiram, a entrada em vigor até 1 de Julho de 2010. Os bancos que utilizem esta prerrogativa podem entregar as contas em PCIF até 30 de Junho de 2010, transpor os saldos iniciais para o CONTIF nessa data, iniciando o reporte com o balancete de Julho de 2010.

2007 Publicação do livro “Consultoria Contabilística - Aspectos Contabi-lísticos e Fiscais das Imobilizações” do autor Álvaro Vigário

O livro é um instrumento de consulta quer a nível de conceituação e movimentação das contas do imobilizado, quer a nível das im-plicações fiscais sobre os Meios Fixos.

2008 Publicação do “Plano Geral de Con-tabilidade”, editado por “Brito Rebe-lo – Consultores”

É um auxiliar para os profissionais da Contabilidade, tendo em vista reduzir ao máximo, senão eliminá-los, todos os erros e/ou ir-regularidades que habitualmente ainda se verificam nos assentos contabilísticos que servem para registar as operações de explo-ração correntes e não correntes.

2008 Publicação do “Manual de Contabi-lidade Angolano”, dos autores José Luís Faria Magro16 e Adelaide Magro

Trata-se de uma abordagem desenvolvida e integrada do Plano Geral de Contabilidade, incluindo: Teoria Geral da Contabilidade, Fiscalidade com a determinação da Matéria Colectável, Lei das Sociedades Comerciais e Lei Geral do Trabalho.

Esta obra já vai na 2ª edição, que inclui toda a matéria anterior, mais Lucros Mínimos, Reavaliação do Imobilizado Corpóreo, Im-posto de Consumo e Lei Mineira.

2010 1º Curso de Actualização para Con-tabilistas e Peritos Contabilistas

Organizado pelo Grupo Dinamizador da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas, realizado em Fevereiro, com o apoio do Banco Mundial.

Fonte: “AProfissão, asAssociaçõese asRevistasdeContabilidadeemPortugal”de JoaquimFernandodaCunhaGuimarães (colaboradordaValorAcrescentado),MinistériodasFinançasdeAngolaeoutras,comadaptaçõesdaValorAcrescentado.

O quadro acima está dividido em dois grandes grupos: Angola como província de Portugal e Angola como país in-dependente.

Angola, como província de Portugal, teve de entrar em grande parte, na evolução que a Contabilidade teve no país colonizador . A prová-lo está o facto de, em 1901, ter sido criada, em Angola, a Direcção dos Serviços de Fazenda Nacional.

16 Director da revista Valor Acrescentado.

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Independentemente do facto acima, é importante notar a quantidade e a qualidade da informação produzida ainda no tempo da monarquia, até à revolução de Abril, em Portugal. Destaca-se:

• Em 1770, a primeira regulamentação da profissão de Contabilista, em que aparece a figura do guarda-livros. Ainda hoje, esse nome é usado nomeadamente pelas pessoas mais velhas em idade, em relação aos contabilistas. A profissão, já no tempo dos Reis, era importante como profissão liberal, como expressa a carta de Lei de 07/04/1838;

• Em 1888, surge o Código Comercial, conhecido por “Código de Veiga Beirão”, visto um dos seus au-tores, ter sido Francisco António da Veiga Beirão. Este Código ainda está em vigor em Angola. Foram introduzidas ligeiras alterações através das Leis nº 6/03 de 3 de março e nº 4/04 de 13 de Fevereiro, Lei das Sociedades por Quotas e Legislação avulsa;

Em 1888, surge o Código Comercial, conhecido por “Código de Veiga Beirão”, visto um dos seus autores, ter sido Francisco António da Veiga Beirão. Este Código ainda está em vigor em Angola. Foram introduzidas ligeiras alterações através das Leis nº 6/03 de 3 de março e nº 4/04 de 13 de Fevereiro, Lei das Sociedades por Quotas e

Legislação avulsa.

• Em 1901, foi criada a Direcção dos Serviços de Fazenda e Contabilidade, através de Portaria emanada pelo Ministério das Finanças e do Ultramar. Angola passou a ter a Direcção dos Serviços de Fazenda e Contabilidade, dependente de Portugal Continental (Metrópole), cujo nome se manteve até Março de 1976, passando posteriormente a designar-se por Ministério das Finanças;

Direcção dos Serviços da Fazenda e Contabilidade - Mutamba

• Em 1911, já com a implementação da República, aparece pela primeira vez a profissão de “perito contabilista”, apesar de se confundir com a de “guarda-livros”. Dá-se destaque ao conceito de “res-ponsabilidade mutual” perante actos contabilísticos fraudulentos;

• Em 1936, há a obrigatoriedade dos “contabilistas” e “guarda-livros” possuírem “carteira profissional” do Sindicato Nacional de Contabilistas do Distrito do Porto (SNCGDP). Não deixa de ser uma forma de protecção e de responsabilização daqueles profissionais;

• Em 1943, o Governo dissolveu o SNCGDP. Os “contabilistas” e “guarda-livros” passaram a ficar inte-grados nos heterogéneos Sindicatos dos Empregados de Escritório. Este não deixa de ser o primeiro sintoma da vontade política de se sobrepor à vontade de uma classe de profissionais (Contabilidade), tirando-lhe força, com a sua distribuição por diversos Sindicatos;

• Em 1963, foi publicado o Código da Contribuição Industrial (CCI), criado pelo Decreto-Lei nº 45 103 de 01/07. Este Código foi considerado na altura revolucionário para a época, porque foi o primeiro de afectação real. A tributação era baseada no lucro real das empresas.

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O CCI que em Angola se passou a designar por Código do Imposto Industrial (CII), ainda hoje está em vigor, tendo sido aprovado pelo Diploma Legislativo nº 35/72 e demais legislação posterior.

• Em 1969, O Decreto-Lei nº 49.381 de 15/11 prevê a fiscalização das Sociedades Anónimas, por Reviso-res Oficiais de Contas (ROC) e estabelece regras para a elaboração do Balanço e da Conta de Resulta-dos. É o primeiro diploma legal a fazer referência à profissão de “Revisor Oficial de Contas”. Em 1972, a profissão de ROC é reconhecida, através da respectiva Câmara, com a publicação do primeiro Estatuto constante no Decreto-Lei nº 1/72 de 03/01, tendo a Câmara sido criada pela Portaria nº 87/74 de 07/02.

Todos estes acontecimentos tiveram relevo na vida angolana após a independência, pois como se verifica, parte da legislação referida ainda vigora.

A herança do conceito de “perito contabilista” foi transposto para a legislação após a independência, estando con-sagrado no Decreto nº 38/00 e legislação posterior.

De notar que ao longo da História apresentada no quadro acima, houve vários doutoramentos e várias publicações quer em livros, quer em revistas e jornais em Portugal, sobre Contabilidade. Nós, depois da independência, não ti-vemos até à data, nenhum doutoramento nem jornais nem revistas sobre a matéria, sendo a “Valor Acrescentado” a única que aborda temáticas sobre Contabilidade e afins.

A nível de obras publicadas limitamo-nos a um número de cinco. É verdade que tivemos uma guerra devastadora que se prolongou por mais de trinta anos, mas será ela a principal causa deste marasmo em que vive a Contabilidade e a sua investigação?

Felizmente, a Valor Acrescentado, tem fora de Angola, proporcionado conhecimentos a angolanos que estão na diás-pora, sobre a “Evolução da Contabilidade em Angola” o que permitiu a duas conterrâneas (dois casos directamente conhecidos pela nossa revista) fazerem as suas teses de mestrado, em que a tese de uma delas, foi apresentada em Nova York e no Rio de Janeiro. Brevemente será apresentada em Luanda, por nosso intermédio.

Felizmente, a “Valor Acrescentado”, tem fora de Angola, proporcionado conhecimen-tos a angolanos que estão na diáspora, sobre a “Evolução da Contabilidade em An-gola” o que permitiu a duas conterrâneas (dois casos directamente conhecidos pela nossa revista) fazerem as suas teses de mestrado, em que a tese de uma delas, foi apresentada em Nova York e no Rio de Janeiro. Brevemente será apresentada em

Luanda, por nosso intermédio.

É bom notar que o conhecimento, quer no período de guerra quer actualmente, está concentrado em Luanda e no litoral e uma guerra não se combate só com armas. Também se combate com conhecimento e estratégias bem defi-nidas. Argumentar-se-á : falta de quadros. O que temos feito para atraí-los?

Temos uma série de legislação publicada como: Regime de obrigatoriedade de Auditorias (Decreto nº 38/00), Exer-cício da Contabilidade e Auditoria (Lei nº 3/01), Lei das Sociedades Comerciais (Lei nº 01/04), Código do Imposto Industrial (Número 1 do art.º 56º), que falam das profissões de “contabilistas” e “peritos contabilistas” e referem “inscritos na Entidade Representativa dos Contabilistas e Peritos de Contabilidade (nosso parênteses, Peritos Contabilistas) ”.

Acontece que apesar de estar escrito nessa legislação, “Entidade Representativa…”, há mais de 10 anos, que essa Entidade Representativa não existe sob o ponto de vista legal, ou seja, a Ordem/Câmara/Associação ainda é um va-zio em termos legislativos, o que obriga as classes desses profissionais, a perguntar até quando. Possivelmente, esta indefinição será uma das culpadas de se ter investigado, depois da nossa independência, muito pouco na área da Contabilidade.

Prosseguindo, temos a Criação do Núcleo da Comissão do Mercado de Capitais e da Bolsa de Valores (Despacho do Ministro das Finanças Mário de Alcântara Monteiro, em 1998), Lei das Instituições Financeiras (Lei nº 13/05 de 30/09).

Mas a Bolsa de Valores ainda não está a funcionar e tão importante se torna para desenvolver a nossa economia, quer no Mercado Primário quer no Mercado Secundário. Este tema será abordado mais à frente.

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1.2. a história da ordem dos ContaBilistas

e Peritos ContaBilistas de angola

De acordo com Júlio Sampaio, membro do Grupo Dinamizador da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola (OCPCA), “a Ordem começou a ganhar corpo como Associação profissional em meados de 1995. Houve várias trocas de opiniões entre profissionais da Contabilidade e com a vinda ao nosso país de uma delegação do Banco Mundial que na altura fez um levantamento sobre a panorâmica contabilística em Angola, concluímos que seria mais profícuo a criação de uma Ordem.

Neste contexto, solicitámos algum apoio a nível de consultadoria ao Ministério das Finanças, que se traduziu num apoio única e exclusivamente moral. Surgiu então, o Banco Nacional de Angola, através de um projecto de modernização das Institui-ções Financeiras, apoiado pelo Banco Mundial, mais propriamente pela United States Agency for International Development (USAID), que acabou por financiar um grupo de consultores que nos apoiaram na preparação dos estatutos, incluindo Ética e Deontologia. Esse grupo apoiou-nos na elaboração do Plano Geral de Contabilidade criado pelo Decreto nº 82/001 de 16/11.

Júlio Sampaio membro do Grupo Dinamizador da Ordem dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas de Angola

Em Maio de 2002, o projecto de Estatutos da Ordem, previamente encaminhado ao Governo, foi apreciado em Conselho de Ministros que recomendou que os mesmos fossem submetidos à aprovação dos profissionais, o que aconteceu em Assembleia Geral realizada no dia 5 de Novembro de 2002. Nesta Assembleia foram aprovados os Estatutos e confirmada a denominação escolhida como ORDEM DOS CONTABILISTAS E DOS PERITOS CONTABILISTAS DE ANGOLA”.

Rui Santos, membro da Comissão Instaladora da OCPCA, refere: “houve muitos debates, isto porque, muitos colegas de-fendiam que a designação devia ser “Ordem dos Contabilistas e dos Auditores”. Após muita discussão foi-se a votos e o nome ficou “Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola”.

Rui Santos membro do Grupo Dinamizador da Ordem dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas de Angola

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Como disse Júlio Sampaio, a criação da OCPCA teria a função de “apoiar o Governo em matérias de índole contabilística e fiscal e colaborar com as Escolas de Ensino Médio e Superior de Contabilidade”. Num país como Angola, cuja origem, fruto da colonização portuguesa, é latina, e por norma nos países latinos a Fiscalidade tem um grande peso sobre a Conta-bilidade, é importante que o Governo procure uma relação estreita com a classe dos Contabilistas e Peritos Contabilis-tas. No que concerne ao ensino, este tem de estar aberto ao mundo empresarial e dentro deste, às classes profissionais, de forma que os alunos tenham uma melhor adaptação e conhecimento da profissão que venham a exercer.

“Com a saída do Ministro das Finanças, Dr. Júlio Bessa, que era bastante sensível à problemática da Contabilidade e da Auditoria, houve um limbo que durou até à entrada em funções, em 2008, do Ministro das Finanças Dr. Severim de Morais, que felizmente era um homem ligado à profissão e muito contribuiu para reanimar o processo. Este, em 27 de Outubro de 2009, chamou a Comissão Instaladora da Ordem para uma reunião com o concelho de Vice-ministros, no sentido de saberem quais as nossas pretensões e o possível enquadramento da OCPCA como interesse público. A OCPCA fez a apresentação do projecto dos estatutos, que posteriormente foram analisados. Entretanto, foram feitas algumas observações e recomendações pelo referido concelho de Vice-ministros”, disse Júlio Sampaio.

“O Grupo contratou uma jurista angolana, altamente qualificada, que analisou o projecto dos Estatutos e fez as alterações, essencialmente de forma, suscitadas pelas recomendações da Comissão de Vice-ministros. Concluído o trabalho, foi o pro-cesso remetido ao Ministro das Finanças, Dr. Severim de Morais, que, pouco depois cessou funções, no quadro de uma ampla remodelação governamental ocorrida em Fevereiro de 2010. O novo Ministro Dr. Carlos Alberto Lopes é também um homem ligado à profissão, pelo que, há a expectativa de poder contribuir para que o processo de aprovação dos Estatutos venha a ter um rápido desfecho favorável”.

2.

cOntAbiliStAS Ou técnicOS OFiciAiS de cOntAS

No quadro do ponto 1.1 Angola Antes e Depois da Independência, a primeira vez que se fez alusão ao “Contabilista” foi no ano de 1928, aquando da criação da “Associação dos Contabilistas e Guarda-Livros do Norte de Portugal”.

No mesmo quadro, a primeira vez que se mencionou o nome de “Técnico de Contas”, foi em 1963, com a implemen-tação do Código da Contribuição Industrial. Actualmente o Código do Imposto Industrial ainda menciona no seu artigo 56º como subtítulo “Técnico de Contas” para no seu número 1, referir “só podem ser contabilistas…”.

Julgamos que a confusão inserta no artigo acima, tem a ver com o que escreveu em 1963 o Prof. Hernâni O. Car-queja “… portanto em 1963, (altura em que entrou em vigor o CCI, nosso sublinhado), não obstante existir reserva legal da qualidade de “contabilista” para os diplomados pelos Institutos Comerciais e de a expressão “perito contabilista”ser frequen-temente entendida como designação exclusiva dos contabilistas acreditados perante os tribunais, não era clara a fronteira entre guarda-livros, contabilistas e peritos contabilistas que, em conjunto, eram normalmente referidos por técnicos de contas”.

Raul Dória (1973) já faz uma destrinça, quando afirma: “os actuais Técnicos de Contas, em situação tão diferente daquela que, durante tantos anos, usufruíram os antigos Guarda-Livros, contraíram para com Ricardo Sá uma dívida que se encontra ainda por solver: bom seria que pudessem em breve “pôr a escrita em dia” “saldando essa conta”. Para este Mestre, a profis-são de Técnico de Contas substituiu a profissão de Guarda-Livros, cuja origem é do inglês “bookeeper”.

Para Júlio Sampaio e de acordo com o preconizado nos Estatutos da Ordem, o Contabilista “é o profissional inscrito no Ministério das Finanças, mas ainda sem uma grande experiência profissional ou curricular”.

Entendemos que nos dias de hoje, um Contabilista pode ser um Técnico de Contas e o inverso já não é verdadeiro. Porquê? Porque hoje existe a nível de cursos superiores em Angola, o curso de Contabilidade, tal como existe noutros países. A classe dos Técnicos de Contas é uma classe profissional, que integra licenciados em Contabilidade ou afins como: Economia, Gestão de Empresas… e outros profissionais menos qualificados.

Ora repetimos, a profissão de Contabilista no mundo moderno implica formação superior. Em termos comparativos e sem ofender os profissionais envolvidos neste exemplo “um médico não é um enfermeiro (hoje já há licenciados), ou vice-versa, independentemente da experiência profissional de cada um”, pelo que, não deve ser o factor experi-ência a definir a categoria profissional.

Poder-se-á dizer que a realidade portuguesa não é a nossa. Aceitamos. Mas, é bom termos presente a história da profissão ao longo dos tempos e em que estádio de evolução estamos neste momento, para que possamos estudar e adaptar outras experiências, sem beliscar os interesses dos profissionais, no caso concreto dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas Angolanos.

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3. peritOS cOntAbiliStAS Ou reviSOreS OFiciAiS

de cOntAS Ou AuditOreS

No quadro do ponto 1.1 Angola Antes e Depois da Independência, a primeira vez que se fez alusão ao “perito con-tabilista” foi em 1911, mais propriamente com o regulamento de Fiscalização das Sociedades Anónimas, em que as suas contas passaram a ter que se submeter à fiscalização oficial de peritos contabilistas. Tal facto deu lugar à “Lei sobre Peritos Contabilistas”.17

Dória e Dória18, sobre o Perito Contabilista referem: “todo o indivíduo que, sendo técnico de contas, efectua exames peri-ciais com o intuito de descobrir fraudes ou esclarecer dúvidas em qualquer dos casos que indicámos no artigo de Peritagem”. Acrescentando: “oficialmente, só podem exercer estas funções os licenciados em Economia e Finanças e os diplomados com o curso de Contabilista dos Institutos Comerciais”.

Corroboramos o que disseram Dória e Dória, pois antes da independência, os Institutos Comerciais sedeados em Luanda19

e Sá da Bandeira (hoje Lubango), atribuíam o diploma de “Perito Contabilista” aos alunos que aí terminavam os seus cursos de Contabilidade.

Aconteceu que, com a Revolução dos Cravos (25 de Abril de 1974 em Portugal) e a independência em Angola, em 11/11/1975, o ensino em ambos os países sofreu alterações. Em Angola, os Institutos Comerciais passaram a Ins-titutos Médios. Os cursos de Contabilidade entretanto ministrados, foram descaracterizados e os seus diplomados deixaram de ser designados por Peritos Contabilistas.

Para Júlio Sampaio o Perito Contabilista “é o Contabilista que tem uma larga experiência profissional ou curricular. Há efectivamente profissionais que serão Peritos Contabilistas, que têm formação média, mas evoluíram quer profissional quer via formação, estando desta forma devidamente habilitados a exercer a profissão com competência e conhecimento.

Para Júlio Sampaio o Perito Contabilista ”é o Contabilista que tem uma larga experiên-cia profissional ou curricular. Há efectivamente profissionais que serão Peritos Conta-bilistas, que têm formação média, mas evoluíram quer profissional quer via formação, estando desta forma devidamente habilitados a exercer a profissão com competência

e conhecimento.

Com a formação que houve no passado mês de Fevereiro, houve formadores (portugueses nosso sublinhado) que disseram que fomos mais felizes em chamar “Perito Contabilista” em detrimento de “Auditores”, visto esta última designação não estar directamente relacionada com a Contabilidade”.

É bom notar que a experiência profissional não é tudo. Concretizando com um exemplo:

Em Portugal, com a entrada em vigor em 2010 do Sistema de Normalização Contabilística, cujo principal objectivo foi dar cumprimento às International Accounting Standarf (IAS)20 e às International Financial Reporting Srandard (IFRS)21 muitos Técnicos Oficiais de Contas, nomeadamente aqueles sem grande formação académica, mas com vá-rias décadas de experiência, tiveram grandes dificuldades em se adaptar às exigências do Sistema de Normalização Contabilística.

Gouveia Neto, da Comissão Instaladora da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola, relativa-mente à escolha do nome de “Perito Contabilista” e não “Auditor” referiu: “a Auditoria não se resume exclusiva-mente à área da Contabilidade. Existem Auditorias técnicas nas áreas da Engenharia, da Aviação, do Direito … Com o termo de Auditor poderíamos pretender ter um campo de acção muito para além do devido. Nesta perspectiva, teríamos de chamar Auditores Financeiros, Económicos ou de outra área afim. Neste sentido, colhemos experiências mundiais

17 Guimarães, Joaquim Fernando da Cunha, em “A profissão, as Associações e as Revistas de Contabilidade em Portugal”, Ed. Grupo Editorial Vida Econó-mica, p. 163.18 Dória, Raul e Dória, Álvaro, sob o título “ Formação e Missão do Perito Contabilista”, Jornal Técnico de Contas e da Empresa, nº 23 de Junho de 1969, p. 7.19 O director da revista Valor Acrescentado foi seu aluno, tendo obtido a sua licenciatura em Contabilidade, anos mais tarde em Portugal.20 Em português, Normas Internacionais de Contabilidade (NIC).21 Em português, Normas Internacionais de Relato Financeiro.

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nesta vertente. Verificámos que em Portugal, se chama Revisores Oficiais de Contas, no Brasil Contadores, em França Experts Comptables.

Ora, de facto, o Expert Compable traduzido para linguagem portuguesa, pareceu-nos ser aquele que melhor se adapta à nossa profissão, ou seja, perito contabilista. Assim Contador, pareceu-nos curto, Revisor, confuso. Não somos apenas auditores, somos mais do que isso, pois estamos habilitados a dar opiniões sobre a Fiscalidade”.

Entretanto, a Comissão Instaladora da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas, pretende, para uma determi-nada classe, manter a designação de “Perito Contabilista”.

A ORIGEM DA AUDITORIA

A Auditoria nasceu antes de Cristo. Temos como exemplos:

• Na Índia, no século XII AC, o Código de Manu, legislava sobre: fiscalização, qualidade e preço das mercadorias; prevenção de fraudes e protecção da riqueza nacional; lançamentos dos tributos do rei;

• Na Pérsia, entre 521 e 485 AC, Dário ordenou que fosse feito um cadastro de todo o império, que serviu de base para o lançamento de impostos. A partir daí, tornou-se necessário registar permanentemente as alterações ocorridas na posse da propriedade rústica;

• Na Grécia, a constituição ateniense (compilada por Aristóteles em 325 AC) dava ao Senado a competência para legislar sobre arrecadação, guarda e aplicação dos dinheiros públicos.

A Auditoria, tal como a conhecemos, teve o seu início na Grã-Bretanha, corria o ano de 1547, quando foi publicado em língua inglesa (depois de ter sido escrito sucessivamente em italiano, holandês e francês) um livro de autor desconhecido que versa-va escrituração comercial dirigida, entre outros, aos auditores. Ainda na Grã-Bretanha, nos finais do século XVII, reconhecia-se o contabilista profissional como a pessoa habilitada para tratar de casos de insolvências, falências, liquidações…

Entretanto, foi a revolução industrial, mais propriamente em meados do século XIX, que proporcionou aos auditores ingleses o tratamento da Contabilidade e da Auditoria, como hoje são entendidas. Este facto deve-se sobretudo ao grande incremento das empresas industriais e comerciais, as quais começaram a sentir a necessidade de implementar bons procedimentos con-tabilísticos e eficientes medidas de controlo interno. Por outro lado, o facto da maior parte das empresas serem sociedades anónimas, implicou maior rigor na elaboração e controlo das Demonstrações Financeiras (DF) a apresentar aos accionistas. Nesse sentido, a partir de 1900, as DF dessas sociedades passaram obrigatoriamente a ser auditadas por um profissional capaz e independente, ou seja, por um auditor.

Com a colonização dos Estados Unidos e do Canadá pelos ingleses e com o grande desenvolvimento industrial desses paí-ses, a Auditoria acompanhou muito de perto esse incremento tendo alcançado aí, não só uma grande difusão como também um aperfeiçoamento técnico bastante elevado.

Com a expansão das multinacionais, sobretudo americanas, pela América Latina, a Auditoria foi a reboque, porque os au-ditores só podiam emitir as suas opiniões sobre as DF consolidadas, desde que auditassem “in loco” as DF das empresas subsidiárias.

Na Europa, exceptuando a Grã-Bretanha e a Holanda, o desenvolvimento da Auditoria não foi tão evidente, muito embora os países do Centro e do Norte estejam mais evoluídos que os países mediterrânicos. Isto porque, tal como aconteceu na América Latina com as multinacionais, estas “arrastaram” a Auditoria para essas zonas.

Nas outras partes do mundo, a Auditoria foi mais uma vez a reboque das multinacionais para países como: Japão, Austrália, África do Sul, China…

Julgamos ser discutível, devido a:

• Se se pretender trazer para Angola a experiência portuguesa, a figura de “Perito Contabilista” foi subs-tituída em 1972, com o reconhecimento da profissão de Revisor Oficial de Contas (ROC). Não nos parece confuso, isto porque, analisando o significado de revisor e perito, temos para o primeiro: o que revista ou revê; e, para o segundo: o que avalia. Ora, o verdadeiro trabalho quer do ROC quer do peri-to contabilista é a Revisão da Contabilidade e todo o seu meio envolvente. Posteriormente tece a sua opinião, ou seja, avalia depois de rever. O ROC ou o perito trabalha sobre as contas oficiais da empresa ou entidade. É para este efeito que existe a declaração de responsabilidade emitida pela empresa ou entidade a favor do ROC ou perito, regulada pelas Normas Internacionais de Auditoria;

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• Se se pretender trazer para Angola a experiência brasileira, não existe a figura de “Perito Contabilista”, mas sim a de Contador, pese embora por vezes, existirem outras designações como o IBRACON - INS-TITUTO DOS AUDITORES INDEPENDENTES DO BRASIL;

• Experts Comptables22 fazem parte de uma federação, designada por Fédération des Experts Comptables Européens (FEE), cujas normas de Auditoria são equivalentes às emitidas pela American Institute of Certified Public Accountants (AICPA). Teremos alguma relação com eles, quando estão num patamar muito superior?

• De uma forma simplista e eficaz, julgamos que o termo mais correcto seria “Auditor”, tendo em con-sideração a própria etimologia da palavra “Auditoria”, cuja origem é do verbo latino “audire”, que significa “ouvir”. Mais tarde, permitiu a criação da palavra “auditore” como sendo aquele que “ouve”, ou seja, o ouvinte. Saber ouvir é indubitavelmente a grande arma do Auditor.

4. FAz SentidO umA Ordem cOm

cOntAbiliStAS e peritOS cOntAbiliStAS?

No caso concreto de Angola, como refere Júlio Sampaio “esta questão foi bastante discutida entre nós e os consultores que nos apoiaram. Acabámos por aceitar em congregar as duas classes numa única Ordem, visto o número de profissionais das duas classes ser pequeno e fundamentalmente os que estão dispostos a contribuir para que a Ordem apareça e funcione em pleno é um número muito reduzido”.

5. Quem pOde Ser membrO dA Ordem dOS cOntAbiliStAS e peritOS cOntAbiliStAS?

Rui Santos disse: “Não vai haver tal como aconteceu em Portugal, uma entrada automática. Todos os que estão inscritos no Ministério das Finanças têm o direito de se candidatarem à Ordem. Mas têm de cumprir o que está estipulado no projecto dos estatutos. Uma das condições que aí está expressa, são os anos de experiência, que provavelmente vai ser um dos articulados mais contestados.

Tal facto vai obrigar provavelmente logo após a entrada em funcionamento da Ordem, que se faça uma Assembleia Geral para discutir em pormenor o projecto dos estatutos. E porquê? Porque como já passaram oito anos e houve muitas mutações neste espaço temporal, o projecto tem de ser equacionado pelos profissionais. Exemplo: um licenciado em Contabilidade se não tiver 10 anos de prática não tem direito a ingressar de imediato como Perito Contabilista.

22 A Fédération des Experts comptables Européens (FEE) é a organização que representa a profissão de contabilista na Europa. FEE’s membership consists of 43 professional institutes of accountants from 32 countries. A FEE é constituída por 43 institutos profissionais dos contabilistas de 32 países, estando represen-tados em todos os FEE member bodies are present in all 27 member states of the European Union and three member countries of EFTAEEstados Membros da União Europeia e três países membros da EFTA. FEE member bodies represent more than 500,000 accountants in Europe.A FEE representa mais de 500 mil contabilistas na Europa. Roughly 45% of these accountants work in public practice, providing a wide range of services to clients. Aproximadamente 45% desses contabilistas estão no sector público e 55% em várias funções na indústria, comércio, governo e educação.

FEE commenced operations on 1 January 1987.A FEE iniciou suas operações em 1 de Janeiro de 1987. It took over responsibility for the activities previously carried out separately by the Union Européenne des Experts Comptables, Economiques et Financiers (UEC) and the Groupe d’Etudes des Experts Comptables de la CEE (Group d’Etudes). Ela assumiu a responsabilidade pelas actividades anteriormente realizadas separadamente pelos peritos da Union Européenne des Comptables, Economiques et Financiers (UEC) e do Groupe d’Etudes Comptables des Experts de la CEE (Grupo de Estudos). Both organisations had served the European accountancy profession since 1951 and 1961 respectively. Ambas as organizações tinham servido a profissão de contabilista europeu desde 1951 e 1961, respectivamente.

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Outro cenário que pode ser colocado na eventual discussão da revisão dos estatutos será prever-se a figura de um “patrono”. Alguém que assine desde que tenha um “patrono”. É uma hipótese que, devido ao facto da quantidade de profissionais em Angola ser hoje inferior ao desejado para a demanda, talvez tenha que ser equacionada.

Se isso for debatido e equacionado em Assembleia Geral, pode também colocar-se a hipótese de se fazer como se fez em Por-tugal. Todos os inscritos com condições mínimas determinadas, passam automaticamente para a Ordem e fica o mercado encarregue de definir o que é bom ou mau profissional… São hipóteses a considerar…”.

Gouveia Neto argumenta: “Temos cerca de 3.800 inscritos como técnicos na Direcção Nacional de Contabilidade. Com o surgimento da Ordem, estas pessoas não transitam automaticamente. Têm de ser submetidas, como o projecto dos estatutos prevê, a um curso de formação e os que não estiverem capazes de estarem nessa formação, têm de se sujeitar a um exame de admissão e consequente estágio.

Acontece que muitos desses inscritos nem sequer têm os antigos cursos dos Institutos Comerciais e muitos dos actuais cingem-se a cursos médios. Inclusive muitos já estavam inscritos na antiga Direcção Nacional dos Impostos no tempo colo-nial. Neste sentido, essas pessoas não podem ser postas à margem. Assim, a transição não deixa de ser um problema moral. O problema não se põe só a nível da pequena e pouca qualificação dos nossos profissionais. Outro problema existe: a diversidade dos programas dos cursos de Contabilidade que há em Angola, como ainda a série de profissionais que se formaram no es-trangeiro: antiga União Soviética, Cuba, França, Portugal, África do Sul, Estados Unidos da América, Zimbabwe… com uma gama de diplomados com várias cargas horárias e programas curriculares muito díspares. Ora, se for feito o crivo, esses 3.800 inscritos poderão ir para cerca de 600 associados”.

Júlio Sampaio observou: “vai haver um período transitório em que na primeira fase vão entrar todos, desde que tenham os re-quisitos mínimos. Com o correr dos anos, a exigência para a entrada de novos profissionais, vai gradualmente aumentando”.

Independentemente do número de profissionais inscritos na OCPCA, é preciso que os mesmos se espalhem pelo país e não se concentrem em Luanda e no litoral, tal como acontece com advogados, médicos…

Outro aspecto importante é a reciprocidade, ou seja, profissionais estrangeiros exercerem a profissão em Angola:

• Para Júlio Sampaio “é permitido, ou seja, está expresso no projecto dos estatutos. Mas, tem de existir recipro-cidade das Ordens dos respectivos países desses profissionais. Contudo, vai implicar que esses profissionais tenham de fazer formação em Angola, para que estejam dentro do funcionamento quer da Contabilidade quer da Fiscalidade”;

• Para Gouveia Neto ”não estou preocupado se estrangeiros competentes exerçam a sua actividade em Angola. O que estou preocupado é se os angolanos em igualdade de circunstâncias poderão exercer a sua actividade nesses países estrangeiros, ou seja, o princípio da reciprocidade tem de ser devidamente cumprido. A grande questão é que não vejo os profissionais angolanos a irem exercer a profissão no estrangeiro. Isto implica que tenhamos confiança nas Ordens dos países com quem acordámos tal princípio”.

Para Gouveia Neto ”não estou preocupado se estrangeiros competentes exer-çam a sua actividade em Angola. O que estou preocupado é se os angolanos em igualdade de circunstâncias poderão exercer a sua actividade nesses paí-ses estrangeiros, ou seja, o princípio da reciprocidade tem de ser devidamen-te cumprido. A grande questão é que não vejo os profissionais angolanos a irem exercer a profissão no estrangeiro. Isto implica que tenhamos confiança

nas Ordens dos países com quem acordámos tal princípio”.

Vejamos o caso dos médicos. Os que estão inscritos na Ordem dos Médicos de Angola podem exercer medicina em Portugal com o beneplácito da Ordem dos Médicos de Portugal. Mas, perante a crise que grassa em Portugal, só um número bastante reduzido de médicos angolanos (hipoteticamente igual para os Contabilistas e Peritos Contabilistas) estão e irão exercer naquele país. E esses colegas estrangei-ros são tão importantes para ocupar espaços no nosso país. Estou certo que há capitais de província no nosso país onde não existem dois contabilistas inscritos na DNC/MINFIN. Se formos para o interior, tudo indica que o cenário será pior”.

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• Rui Santos diz ainda: “Para que haja reciprocidade implica que haja paralelismo de formação. Isto sai do foro associativo e já entra no foro político”.

Júlio Sampaio e Rui Santos referem ainda que, independentemente do grau de conhecimento que possa ter o técnico estrangeiro, este tem de ter formação em Angola, pois a nossa realidade quer sob o ponto de vista contabilístico quer sob o ponto de vista fiscal é diferente da que adquiriram nos seus países de origem.

6.FOrmAçãO

Para Júlio Sampaio “é obrigatório para todos os candidatos, estarem sujeitos à formação contínua, incluindo uma sensibili-zação para as Normas Internacionais de Contabilidade”.

Para Gouveia Neto “a Ordem ao abrir, tem de ter como princípio fundamental, a formação. Quem se vai inscrever na Ordem tem de ter pelo menos o Curso Geral do Comércio. No caso dos Contabilistas, no mínimo 10 anos do exercício da profissão e no caso dos Peritos Contabilistas um tirocínio de 15 anos, no mínimo.

Outra questão assaz importante sobre a formação, é fazer-se um levantamento do ensino da Contabilidade em Angola desde o médio ao superior. Posteriormente, analisar casuisticamente se tal ensino se coaduna com a nossa realidade contabilística. Depois dessa análise, deve ser criado um programa curricular que seja equivalente no ensino médio e no ensino superior.

Outra questão assaz importante sobre a formação, é fazer-se um levantamento do ensino da Contabilidade em Angola desde o médio ao superior. Posteriormente, ana-lisar casuisticamente se tal ensino se coaduna com a nossa realidade contabilística. Depois dessa análise, deve ser criado um programa curricular que seja equivalente

no ensino médio e no ensino superior.

Acontece que muitos desses alunos, quando acabam a sua formação e ingressam na vida profissional, não estão minimamente prepa-rados para, por exemplo, classificar documentos. Em suma, implica um forte intercâmbio entre a Escola e a vida profissional, pelo que a Ordem poderá ter um papel preponderante nesse sentido. É importante que haja um controlo de qualidade do ensino da Contabili-dade e afins em Angola, para que possamos, no futuro, ter técnicos devidamente capazes e reconhecidos. A nível de cursos tirados no estrangeiro temos de ver a sua credibilidade, nomeadamente dos estabelecimentos de ensino que emitiram os respectivos diplomas”.

Para Rui Santos “a aposta está no “e-learning”, o que já é seguindo por exemplo, pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas de Portugal. Angola está neste caso numa posição privilegiada porque pode dar o que se chama de “salto de rã” e entrar di-rectamente nas novas tecnologias, pois os standards e os conteúdos são hoje uma realidade quase feita e que precisa de muito pouco para se “angolanizar””.

É indubitável que qualquer profissional para se implementar e singrar tem de ter formação, independentemente da sua actividade.

Em Angola, onde houve uma paragem prolongada ao longo do tempo, onde houve um afrouxar na necessidade de profissionais de Contabilidade entre 1975 e 1990, devido ao sistema político que na altura seguiu, mais do que nun-ca, a formação é extremamente importante e essencial. Mas é necessário pensar: que formação?

É necessário acima de tudo, que se faça um levantamento no sentido de se verificar quais são as verdadeiras debili-dades e necessidades dos nossos profissionais. Não vale a pena falarmos no imediato, em Normas Internacionais de Contabilidade (NIC), quando há grandes deficiências a nível de conceitos primários de Contabilidade.

É bom notar que a União Europeia, em Janeiro de 2005, estabeleceu que todas as empresas cotadas em Bolsa teriam de ter a sua Contabilidade de acordo com as NIC. Muitas discussões houve, sobretudo sobre as empresas não cotadas. Devia ser adoptada a Contabilidade monista ou a Contabilidade dualista? Até que em 2010 (cinco anos depois), no caso concreto de Portugal, se passou a utilizar para todas as empresas, as NIC e as IFRS.

Em conclusão, temos de ser realistas, humildes e não entrar em devaneios. Temos de dar tempo ao tempo e preparar-mo-nos de uma forma segura para então sim, partirmos para estádios da Contabilidade mais evoluídos.

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É importante reflectir no que disse Rui Santos: “não sou defensor dos créditos a nível de formação, mas sim, devem existir programas de formação específicos. Que conceitos vai ter a Ordem para a formação dos Contabilistas e dos Peritos Contabi-listas? Vamos sair da nossa História? Ou são conceitos internacionais que vamos buscar e tentar fazer a ligação com a nossa História. Embora em Contabilidade quando se fala com dois contabilistas se obtenham em 99% dos casos duas opiniões, facto é, que existem normas internacionais, os ditos manuais padrão, que precisam claramente de revisões e/ou órgãos regula-dores que os controlem de forma mais acutilante.

No aspecto da “formação contabilística (e não só…)” apesar de colonial, talvez seja de se rever o que foi feito entre os anos de 1964 e 1974, no que diz respeito aos conteúdos programáticos. Existe nesse período uma associação directa entre o que se ensina-va nas escolas, institutos e universidades e as necessidades reais do mercado em todos os níveis e de acordo com as possibilidades financeiras das famílias. Isto precisa no entanto de uma concertação firme entre o(s) sector(es) e o Ministério da Educação.

A violação dos conceitos de Contabilidade a nível internacional levou a que grandes escândalos financeiros e de auditoria acontecessem nos EUA. Se os americanos usassem o método da Contabilidade russa, que Angola seguiu entre os anos 70 e 80, casos como a ENRON teriam maior dificuldade em acontecer”.

“Os grandes escândalos financeiros e de auditoria aconteceram nos EUA”. É verdade. Como também é verdade que as grandes deturpações a nível conceptual, na Contabilidade Internacional são provocadas pelos americanos, talvez fruto de nunca terem aprendido o que diz o grande Mestre António Lopes de Sá sobre a Teoria da Contabilidade, mais propriamente a sua História. Em suma, somos defensores da Harmonização Contabilística a nível mundial, mas há que respeitar conceitos que continuam a ser aceites universalmente e não podem ser adulterados pelos anglo-saxónicos.

Entretanto, decorreu em Fevereiro do corrente ano, uma formação para “Contabilistas e Peritos Contabilistas” e de acordo com Júlio Sampaio “essa formação poderia ter sido feita por professores locais das diversas Escolas Superiores de Contabilidade, mas concluímos que não estão actualizados”.

“Não estão actualizados”. E porquê? Duas hipóteses podem ser colocadas:

1. Conforme o quadro do ponto 1.1, muito pouco se fez a nível de investigação da Contabilidade depois da independência;

2. Lei do menor esforço ou puro mercantilismo. Muitas Escolas do Ensino Superior, a nível do ensino da Contabilidade optaram pelo Plano Oficial de Contabilidade de Portugal (POC). Mais, foi a utilização do POC, em Angola, que motivou o director da revista Valor Acrescentado e a esposa a terem editado o “MANUAL DE CONTABILIDADE ANGOLANO”.

“É necessário acima de tudo que se faça um levantamento”. É verdade. O Ensino tem de estar virado para a vertente profissional e em conjunto acompanharem a evolução do mundo.

Ora, tal implica que as Universidades deixem o seu casulo e procurem tal como acontece no estrangeiro, uma interli-gação com as empresas. Exemplo: o Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Aveiro tem uma cadeira

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que se designa “Simulação Empresarial” e tal como consta no seu site23 “o objectivo pedagógico global da Simulação Empresarial é colocar os alunos num ambiente o mais próximo da realidade profissional, recorrendo, para o efeito, a técnicas e métodos de simulação empresarial”.

De acordo com Gouveia Neto “o Instituto Médio de Economia do Lubango ainda mantém nos seus programas curriculares muitas disciplinas do tempo colonial o que lhe dá uma certa qualidade de ensino. Neste sentido, o Lubango é o centro que melhor prepara os jovens que se iniciam nas lides da Contabilidade”.

Ora, não podemos nem devemos ter um ensino de Contabilidade que divirja de escola para escola, como já referiu Gouveia Neto.

Há necessidade da sua uniformização, o que implica:

1. Um controlo a realizar pelas instâncias políticas;

2. A criação de uma Associação de Docentes de Contabilidade, onde os associados discutam os métodos pedagógicos mais adequados, promovam a investigação e promovam outras iniciativas, como acontece noutros países.

Uma das críticas apontadas à formação ministrada no passado mês de Fevereiro teve a ver com a ocupação do pe-ríodo da manhã e da tarde, o que originou constrangimentos nas empresas onde trabalham os profissionais que frequentaram o curso. Júlio Sampaio responde a esta questão dizendo: “Aceitamos as críticas, mas tivemos de optar por este figurino de formação. Porquê? Por dois motivos:

1. Porque se ela fosse dada espaçadamente, implicaria a vinda dos formadores estrangeiros mais vezes, o que tornaria os custos de deslocação, nomeadamente o transporte aéreo, mais elevados;

2. Haveria mais dificuldade em coordenar a sua disponibilidade”.

Prosseguindo com Júlio Sampaio “em Julho de 2009, a USAID informou-nos que financiava uma formação para 25 pessoas em Outubro ou Novembro, o que era deveras complicado visto estarmos próximos do mês de Natal, tornando assaz difícil a preparação de toda a logística, nomeadamente a vinda dos professores estrangeiros. Em Janeiro de 2010, seria também difícil a sua realização devido ao CAN. Assim, optámos pela sua concretização no mês de Fevereiro, isto porque, a USAID pôs como limite o mês de Março, para usarmos o dinheiro que nos deu. Também é importante dizer que olvi-dámos esforços no sentido de alargar o número de formandos para 60, tendo sido deveras importante o contributo de USD 2.500,00 por cada formando”.

Esta formação não teve só a perspectiva da angariação ou revisão de conhecimentos, proporcionou também a troca de opiniões entre os profissionais”.

A formação de Fevereiro forneceu aos formandos uma ferramenta extremamente importante que foi um CD com todas as NIC /IFRS e Legislação Fiscal de Angola. A distribuição do CD com a informação referida é prática seguida pelas Ordens existentes no estrangeiro, como Portugal e Brasil, onde mensalmente os seus associados sabem o que se passa a nível de Contabilidade do país, da própria Harmonização Contabilística a nível mundial, como ainda legislação fiscal e outras.

Os responsáveis pela Comissão Instaladora da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas esperam ainda no corrente ano realizar mais cursos de formação nos moldes do que foi realizado em Fevereiro, o que nos leva a louvar e a dar dentro do possível, todo o nosso apoio.

E os profissionais fora de Luanda, mais concretamente os que vivem nos municípios mais longínquos? “Vamos ter de aceitar as pessoas que lá estiverem até porque não há muitas e terão de fazer todo o percurso que os de Luanda vão fazer. Julgo que há contabilistas em todas as províncias”, disse Rui Santos.

Julgamos que tudo vai passar pela criação de delegações provinciais da Ordem e dentro do possível criar centros de formação nessas delegações.

23 http://isca.ua.pt

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7.éticA e deOntOlOgiA

Aristóteles, filósofo da Antiga Grécia, disse “o Homem é um animal social”. Assim, a convivência em sociedade implica que os humanos tenham entre si, diária e continuamente, um grande número de relacionamentos.

Esses relacionamentos podem ser positivos, quando há lisura e cumprimento de regras entre as partes e negativos, quando tal não acontece. Pode-se definir ética como um ramo da filosofia que lida com o que é moralmente bom ou mau, certo ou errado. Também se pode dizer que, “ética” e “filosofia moral” são sinónimos.

O uso da palavra ética tem diferentes significados, conforme é utilizada no aspecto pessoal ou no profissional. O pes-soal é aplicado em referência aos princípios de conduta das pessoas em geral; o profissional serve como um indicador de um conjunto de normas que norteia a conduta das pessoas que fazem parte de uma dada profissão.

Exemplo: o Contabilista, ao preparar a Declaração Modelo 1, pode estar perante um dilema de escolha entre, sone-gar ou não valores que contribuam para o aumento da matéria colectável. O julgamento a ser feito e a decisão daí resultantes são de carácter moral.

No memo paralelo, está o Contabilista que ao pretender angariar clientes diz “cobras e lagartos” dos colegas; como o Con-tabilista que toma conta de serviços de clientes que deixaram de pagar os respectivos honorários aos colegas cessantes.

Todos estes exemplos existem na profissão de Contabilista e é importante que seja criado um Código de Ética e De-ontologia para a profissão, tal como existe noutras Ordens congéneres, no estrangeiro. Tal facto, é corroborado pelos membros da Comissão Instaladora da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas.

Mais, hoje, nas Escolas Superiores de Contabilidade e Administração é ministrado por norma, no último ano do curso, uma disciplina de “Ética e Deontologia”, o que deveria ser seguido pelas nossas Faculdades.

8.AS big Five de cOnSultAdOriA e AuditOriA

“Lamentavelmente estas empresas não tiveram participação activa em todo este processo de constituição da Ordem, como futuros associados, apesar de terem estado envolvidas na prestação de serviços de consultoria em matérias ligadas ao assun-to, no âmbito de trabalhos financiados pelo Banco Mundial, nomeadamente, Diagnóstico da Situação da Contabilidade em Angola, elaboração dos projectos do PGC, da Lei da Contabilidade e Auditoria, Código de Ética e outros. De qualquer forma, elas vão ter de se associar à Ordem quando esta surgir.

Estas firmas vão ter de rever a sua política de quadros no que concerne à integração de técnicos nacionais, por forma a que aqueles que ingressem nessas firmas conheçam, à partida, as perspectivas de progressão na carreira que lhes oferecem, obvia-mente, em função das suas qualificações académicas e técnico-profissionais.

Não deixa de ser curioso observar que, ao fim de cerca de seis décadas de presença de firmas internacionais de auditoria em Angola, não há no país, auditores angolanos com qualificação internacional, ao contrário do que ocorre, por exemplo, em países africanos de expressão inglesa!”observou Júlio Sampaio.

Para Rui Santos ”não colocamos o seu valor técnico em causa, apenas dizemos que têm de reunir as condições impostas pela Ordem, ou seja, têm de ser membros. É isso que acontece noutros países para empresas e profissionais estrangeiros e como tal, em Angola, não deve ser diferente”.

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Tal facto, leva a formular a seguinte questão: haverá interesse para as Big Five de Consultadoria e Auditoria a exis-tência da OCPCA?

9.

O FunciOnAmentO dA Ordem dOS cOntAbiliStAS e peritOS cOntAbiliStAS de AngOlA

De acordo com Rui Santos terão de ser cumpridos os seguintes passos para o funcionamento da OCPCA:

1. Aprovação como entidade de interesse público;

2. Nomeação da Comissão Instaladora com os poderes definidos pelo projecto dos estatutos;

3. Eleição dos órgãos sociais.

Mas, para que estes passos possam ser concretizados, muitas agruras da vida já passaram os membros do Grupo Dinamizador da Comissão Instaladora, alguns entretanto já falecidos. Mas a vontade férrea de ver esta “criança” nascer é grande, como refere Júlio Sampaio “criar uma obra a partir do nada é assaz difícil, nomeadamente quando há falta de recursos financeiros. Fomos obrigados a reunir em escritórios de colegas, nomeadamente na “Audiconta”. Houve uma determinada altura em que nos reuníamos num espaço cedido pelo Ministério das Finanças. Com a criação da Ordem, vai ser forçoso, termos instalações próprias, pese embora o nosso grande busílis ser a aprovação dos estatutos”.

“Criar uma obra a partir do nada é assaz difícil, nomeadamente quando há falta de recursos financeiros. Fomos obrigados a reunir em escritórios de colegas, nomeada-mente na “Audiconta”. Houve uma determinada altura em que nos reuníamos num espaço cedido pelo Ministério das Finanças. Com a criação da Ordem, vai ser forço-so, termos instalações próprias, pese embora o nosso grande busílis ser a aprovação

dos estatutos”.

Com a criação e funcionamento da OCPCA há custos fixos como: remunerações ao pessoal contratado e renda de instalações, entre outros; e custos variáveis, onde está incluída a formação. Ora, uma das formas para pagar estes custos é com o valor das quotas dos associados. Nesta perspectiva é necessário saber o número de associados e o valor ideal/possível da quota.

Para Rui Santos “as quotas dos associados não vão ser suficientes para pôr a Ordem a funcionar. Há muitos profissionais que têm problemas pessoais, pelo que temos de arranjar um valor de quota que vá de encontro às possibilidades de todos os profissionais.

Não sendo aceite a entrada automática na primeira inscrição, de todos os registados no Ministério das Finanças, o número de profis-sionais vai ser ainda menor. De facto, na nossa Assembleia Magna colocamos a fasquia muito alta e isso talvez tenha de ser revisto”.

Júlio Sampaio, como membro da Comissão Instaladora, é mais optimista “uma vez que a Ordem vai ser uma instituição de carácter público, pelo menos nos dois a três primeiros anos, vai forçosamente ter apoio do Estado. Por outro lado, estamos convencidos que o Banco Mundial nos vai ajudar”.

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Para Gouveia Neto “a Ordem tem de preservar os seguintes aspectos:

• A integridade;• A independência.

É sobejamente sabido que universalmente a nossa actividade é tutelada pelo Ministério das Finanças. Nesta perspectiva, não é possível a Ordem conviver em contraponto com o Ministério das Finanças, mas tal não invalida que não tenhamos de preservar a nossa independência. Acredito que aquele Ministério vai ter uma importância vital para o arranque da Ordem, nomeadamente no aspecto material e na manutenção dos recursos humanos.

Tal facto implica que todo este meio envolvente tem de ser devidamente pensado, incluindo orçamentos. Mas também é importante dizer que temos de viver com os meios próprios. Temos de demonstrar a nossa capacidade de sobrevivência e de desenvolvimento. Não sabemos como nasceram e cresceram as outras Ordens, o que não invalida que com o rigor exigível, não tenhamos de viver e conviver”.

10.

A prOFiSSãO nA cplp

O II Congresso dos “Técnico de Contas” da CPLP realizado pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas de Portugal teve a participação de cerca de 4.000 profissionais e destacamos as intervenções de responsáveis de cada país:

II Congresso dos Técnicos Oficiais de Contas da CPLP, no Pavilhão Atlântico em Lisboa

10.1. angola

Joana Cordeiro dos Santos, Directora Nacional de Contabilidade, começou por lembrar que Angola não pode ficar de fora das tendências e evoluções da Contabilidade e Fiscalidade, a nível mundial. “Não podemos prescindir da obrigatoriedade das empresas prestarem informações fiscais”, garantiu esta responsável, para quem estão a ser dados passos significativos no país, para a criação de uma Ordem para os Técnicos de Contas. Algo que poderá ser uma realidade nos próximos dois ou três anos. Sem esquecer um passado conturbado e de uma interminável guerra civil, Joana Cordeiro dos Santos garantiu que “aos profissionais angolanos ser-lhes-á exigido um importante papel na reconstrução do país”.

10.2. Brasil

António Marangon, presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perí-cia, Informações e Pesquisas no Estado de S. Paulo (SESCON-SP), trouxe até ao II Congresso alguns números que expressam bem a gigantesca realidade brasileira e, em especial, do Estado de S. Paulo. Eis alguns dos dados: quatro milhões de empre-

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sas, três milhões delas de pequena ou média dimensão. A profissão é regulada pelo Conselho Federal de Contabilidade que tem sob sua jurisdição 27 conselhos regionais. No Brasil existem duas categorias de profissionais: os técnicos de contabilida-de e os contadores. Os primeiros têm uma actividade mais restrita, enquanto aos segundos é permitida a auditoria e perícias contabilísticas. O tecido económico brasileiro conta ainda com 65 168 empresas de Contabilidade, 17 mil das quais, só no Estado de S. Paulo. Cada empresa emprega, em média, entre 17 a 22 pessoas. Os profissionais brasileiros têm também ao seu dispor os sindicatos e as universidades que lecccionam um vasto número de cursos ligados às áreas contabilísticas e fiscais. A terminar, António Marangon lembrou que “a profissão tem um grande valor no Brasil. Porque para pagar impostos e cumprir prazos exigidos, só mesmo com um milagre, dada a complexidade do sistema. Mas os profissionais conseguem-no”.

10.3.

CaBo verde

José Maria Cardoso, presidente da Comissão Instaladora dos Técnicos de Contas, explicou a evolução que a profissão conheceu no arquipélago, desde os tempos coloniais até à actualidade, recordando que ela está intimamente ligada à evolução do próprio sistema fiscal. Em 1984, o governo cabo-verdiano apostou num plano de Contabilidade que veio propiciar um maior controlo sobre as contas das empresas e, oito anos mais tarde, foi introduzida a figura do Técnico de Contas. Apesar da juventude e das debilidades do país, há algum optimismo na forma como os profissio-nais de Cabo Verde encaram o futuro.

10.4. guiné-Bissau

Miguel Mango, presidente da Ordem Nacional de Técnicos de Contas, traçou um quadro completo e complexo da situação que se vive no país. A organização da profissão começou em 1994, mas só em 1998 foi possível criar a pri-meira associação. Começou com 11 membros. Hoje, tem cerca de 70, mas apenas oito se dedicam a tempo inteiro à actividade. Os restantes são, na esmagadora maioria, funcionários públicos que exercem a profissão em part-time, o que cria sérios problemas de concorrência aos profissionais a full time. Uma situação que tenderá a mudar, até porque a entrada do país no espaço económico que é o Centro-Oeste africano, obriga a que os profissionais de Contabilidade não possam exercer outra profissão pública ou privada. Na Guiné-Bissau, o imposto sobre as empresas é actualmente de 30 por cento e deverá cair para 25 por cento em breve, enquanto o IVA é de 15 por cento, adiantou ainda Miguel Mango, que confessou: “O fisco tem sérias dificuldades em cumprir os objectivos legais”.

10.5. moçamBiQue

Prakash Prehlad, vice-presidente da Associação Contabilística da Beira, começou por recordar que os 16 anos de guerra civil se reflectiram de forma muito negativa em todos os sectores da sociedade, pelo que a falta de quadros continua

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a ser um dos principais obstáculos ao desenvolvimento. Moçambique não tem uma associação a nível nacional que represente os Técnicos de Contas, mas as “bases mínimas para o desenvolvimento da profissão estão lançadas”. Ciente da importância que estes profissionais poderão ter, o Governo tem apostado no desenvolvimento da profissão, pelo que está criada uma Comissão Instaladora. Simultaneamente, tem sido modernizado o sistema fiscal.

10.6. Portugal

Armando Marques, vice-presidente da Direcção da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, debruçou-se sobre a realidade portuguesa. A apresentação, com algumas pitadas de humor à mistura, foi dividida em três partes: passado, presente e futuro. A viagem começou em 1963, com o CCI. Recordou-se que nessa altura a qualidade e rigor técnicos não eram dos atributos mais apreciados. Entre 1989 e 1995 o poder ignorou os técnicos de contas, o que originou uma falta de rigor nas demonstrações financeiras. Apenas a necessidade crescente de uma maior eficácia na cobrança de impostos levou os responsáveis políticos a olharem com mais atenção para aqueles profissionais. Com o Decreto-Lei nº 452/99 apareceram as exigências e as responsabilidades para os profissionais que, pela primeira vez, se passaram a designar por Técnicos Oficiais de Contas. Armando Marques realçou a aprovação do Código Deontológico, em vigor desde o dia 1 de Janeiro de 2000 e recordou algumas tentativas do poder político “para descredibilizar a profissão”. Só que, como deixou bem patente o vice-presidente da Direcção da CTOC, actual OTOC, o “facto de se procurar menorizar a profissão deu-nos mais forças”. Uma batalha dura, mas que valeu a pena. Os TOC continuaram o seu caminho e seguiram para patamares mais exigentes. Instituiu-se o controle de qualidade, uma forma de introduzir novas exigências a nível qualitativo.

10.7. são tomé e PrínCiPe

Joana Varela, técnica da Direcção de Contabilidade, fez uma retrospectiva da profissão. Em 1980, foi publicado o Plano de Contas, algo que acabou por deixar bem vincada a resistência à modernização, por parte de muitos pro-fissionais. Todavia, apesar de haver ainda muitas dificuldades e um longo caminho a percorrer, a profissão enfrenta sérios problemas, causados sobretudo, pelas constantes alterações ao quadro legislativo. Por isso, o desejo da respon-sável são-tomense é simples: recolher do congresso novos ensinamentos para partilhar com os colegas do seu país.

10.8. timor

A representar este país estiveram Maria de Jesus Sarmento e Manuel Monteiro, ambos delegados do Ministério do Plano e Finanças. O segundo falou que o seu país pretende seguir as Normas Internacionais de Contabilidade em vi-gor e deixou também uma ideia genérica sobre a estrutura dos impostos vigentes no território: rendimento, salários, outros impostos e impostos indirectos. Realidades de um país nascente, ainda em busca da paz e da prosperidade.

10.9. ConClusão

Como conclusão deste Congresso dir-se-á: todas as antigas colónias ainda estão num estádio intermédio no que concerne à implementação da respectiva Ordem e consequentemente da evolução da Contabilidade. Mas tal fac-to, não nos deve servir de consolação. Temos sim, de evoluir a nível contabilístico, para fazer face aos desafios socioeconómicos que temos pela frente.

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11. bOlSA de vAlOreS e derivAtivOS de AngOlA

Tal como a OCPCA, a Bolsa de Valores e Derivativos de Angola (BVDA) tem estado numa fase de “arranca ou não arranca” e até quando?

A BVDA não pode operar no mercado secundário (acções e obrigações) sem que haja a OCPCA, a não ser que as au-ditorias das empresas cotadas sejam dadas de mão beijada às Big Five.

Entretanto e na expectativa da defesa dos profissionais nacionais, julgamos que o processo tem de passar pelo que disse Júlio Sampaio “a BVDA vai ter de dialogar com a Ordem para se encontrar uma plataforma que defina quais os quesi-tos necessários para se ser auditor das empresas cotadas em Bolsa, dentro dos seus parâmetros”.

Já Rui Santos tem uma opinião diferente. Para ele “a Ordem a funcionar em pleno ainda vai demorar o seu tempo, cerca de dois anos. Se a BVDA entrar em funcionamento este ano, tudo indica que vão ser as Big Five a fazer as auditorias às em-presas cotadas”.

Se assim for, as Big Five aproveitarão as contingências do mercado, que perante o cenário apresentado, lhes será favorável.

12. plAnO gerAl de cOntAbilidAde

O Plano Geral de Contabilidade (PGC) foi criado em 2001, através do Decreto nº 82 daquele ano.

Estamos em 2010. Já passaram nove anos. É bom reter o que está escrito no seu ponto 1 “Justificação do PGC”:

“À medida que a implementação destas alterações se torne efectiva e com vista a flexibilizar a sua actualização em função das alterações que vierem a ser introduzidas nas normas internacionais haverá, então, conveniência em substituir o carácter legal actual por práticas geralmente aceites o que se prevê venha a acontecer de forma progressiva”.

Tendo presente a abertura da BVDA é necessário questionar:

1. Bolsa doméstica?2. Bolsa internacional?

Se a resposta é a segunda, então temos de pensar em alterar e adaptar o PGC às Normas Internacionais de Conta-bilidade (NIC) e às Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS). Já referimos que em 2005, a União Europeia

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determinou que todas as empresas cotadas em Bolsa teriam de adoptar as NIC. Em 2010, Portugal passou a adoptar o Sistema de Normalização Contabilística, o que originou a entrada em vigor de um novo Plano de Contas.

Na edição da revista anterior da “Valor Acrescentado” há um artigo nosso com o título “A CONTABILIDADE EM ANGOLA E A HARMONIZAÇÃO CONTABILÍSTICA A NÍVEL MUNDIAL” onde apresentámos as diferenças de ter-minologia entre o PGC e as NIC/IFRS. Não está em causa só a terminologia, está também a conceituação. Julgamos que muita dela fere os conceitos tradicionais e aceites universalmente, tão defendidos pelos Mestres António Lopes de Sá e Rogério Fernandes Ferreira.

Hoje, o PGC está desfocado da evolução económica que o nosso País tem tido. Um exemplo do que acabámos de afirmar está expresso no ponto 4.2 “Exclusões temporárias”:

“Ficam excluídas deste plano, até que venham a ser regulamentadas, as disposições constantes das normas da “International Federation of Accountants” referentes aos seguintes assuntos:

a. Contabilização das locações. Já consta da Lei sobre as Instituições Financeiras, na alínea g) do artigo 4º da Lei 13/05 de 30/09. O princípio contabilístico geralmente aceite da substância sob a forma, que não figura no PGC é o cerne da contabilização das locações;

b. Determinação, registo e divulgação de impostos diferidos. Estão contemplados na NIC 12;

c. Contabilização e relato dos Planos de Benefícios de reforma. Hoje muitas empresas já optaram por estes Planos;

d. Concentração de actividades empresariais (também conhecida por consolidação de contas). A Lei das Socieda-des Comerciais no título VI, aborda as “Sociedades Coligadas”. Entendemos estar bem articulada, mas sem correspondência contabilística no PGC;

e. Efeitos das alterações das taxas de câmbio em Demonstrações Financeiras de operações estrangeiras”.

É verdade que o PGC relativamente às “Exclusões temporárias”, permite que os utentes possam utilizar as NIC, mas é bom notar que grande parte destas operações já começam a ter frequência relevante em muitas das nossas empresas. Por outro lado, passados nove anos, não é muito curial que existam ainda situações temporárias, cujo significado deve ser limitado no espaço temporal.

Um Plano de Contas não é estático, como também não se pode elaborar para um espaço temporal curto. Como tal, um Plano de Contas deve ter meios expeditos, com força de lei, que permitam uma actualização contínua. como exemplo, as Directrizes Contabilísticas ou outro nome que se achar por conveniente.

13. cOmiSSãO de nOrmAlizAçãO cOntAbilíSticA

Para que a Contabilidade evolua é forçoso que haja planificação e organização das entidades que mandam no nosso país. Não vivemos isolados dos outros povos. Neste sentido, temos de ver e estudar o que se está a fazer a nível das NIC/IFRS e aproveitando o que disse Gouveia Neto: “poderá ser uma forma lenta e gradual das NIC/IFRS entrarem no nosso Plano de Contas”.

Mais, fazemos parte de uma comunidade económica SADC, onde países como África do Sul, Namíbia, Zimbabwe, Zâmbia… já adoptaram o uso das NIC/IFRS.

Já foi referido que a Comissão de Normalização Contabilística, à luz das suas congéneres existentes noutros países, deve ser constituída por membros:

• Do Governo;• Da Ordem dos Contabilistas e Peritos Contabilistas de Angola;• Da Comissão do Mercado de Capitais;• Da Bolsa de Valores e Derivativos de Angola;• Docentes da Contabilidade em Angola;• Investigadores de reconhecida qualidade;• …

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74 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

14. cOntAbilidAde públicA

Já escrevemos sobre esta matéria na VA (edição nº 12).

Contabilidade Pública é o ramo da Contabilidade que regista, controla e demonstra a execução dos orçamentos, dos factos patrimoniais da Fazenda Pública, bem como do património público e das suas variações.

“Em 09/01/2010 foi publicado o regulamento do Sistema Contabilístico do Estado, do qual faz parte o Plano de Contas do Estado, aplicado a todos os órgãos do Sector Público Administrativo. Foi já tornado público pelo Governo, de acordo com a edição nº 151 do Diário da República, de 12 de Agosto passado”.

O órgão oficial refere que a iniciativa surge da necessidade de definir a finalidade e as competências do Sistema Conta-bilístico do Estado, organizar e disciplinar as suas actividades, de maneira a facilitar a análise e a implementação dos resultados económicos e financeiros da gestão dos recursos públicos, a fim de conduzir a uma oportuna e fiável tomada de decisão.

Acrescenta que se deveu ainda à necessidade imprescindível de instituir um mecanismo que possibilite à Contabilidade Pú-blica evidenciar, com individualizações e clareza, a situação patrimonial de todos os agentes públicos que arrecadam receitas, realizam despesas, produzem ou executam obras, bens ou serviços e que guardem ou administrem bens pertencentes ao Estado ou a ele confiados.

O índice remete o primeiro capítulo à definição do objecto e organização do Sistema Contabilístico do Estado, enquanto o segundo é dedicado ao Plano de Contas do Estado”.

[ANGOP09/01/2010].

Entretanto, a “International Federation of Accountants - Public Sector Committee” está a desenvolver um conjunto de normas de Contabilidade recomendadas para as entidades do Sector Público, as quais designou como Normas Internacionais de Contabilidade do Sector Público (NICSP). AS NICSP já publicadas, são as seguintes:

• NICSP Nº 1 – Apresentação de Demonstrações Financeiras;• NICSP Nº 2 – Demonstrações de Fluxos de Caixa;• NICSP Nº 3 – Excedente ou Défice Líquido do período, Erros Fundamentais e Alterações em Políticas

Contabilísticas;• NICSP Nº 4 – Os Efeitos de Alterações em Taxas de Câmbio;• NICSP Nº 5 – Custos de Empréstimos Obtidos;• NICSP Nº 6 – Demonstrações Financeiras Consolidadas e Contabilidade de Entidades Controladas;• NICSP Nº 7 – Contabilização de Investimentos em Associadas;• NICSP Nº 8 – Relato Financeiro de Interesses em Empreendimentos Conjuntos;• NICSP Nº 9 – Rédito de Transacções de Troca; • NICSP Nº 10 – Relato Financeiro em Economias Hiper-inflacionárias;• NICSP Nº 11 – Contratos de Construção; • NICSP Nº 12 – Inventários;• NICSP Nº 13 – Locações;• NICSP Nº 14 – Acontecimentos Após a Data de Relato;• NICSP Nº 15 – Instrumentos Financeiros: Divulgação e Apresentação;• NICSP Nº 16 – Propriedades de Investimento;• NICSP Nº 17 – Activos Fixos Tangíveis.

Perguntar-se-á porque motivo vários países procuram e querem ter Normas Internacionais de Contabilidade do Sector Público? Para ocupar o tempo? Ou têm consciência que o mundo actual não permite que vivamos fecha-dos? Aqueles países pensam que, se estamos em plena globalização, então temos de pensar em conjunto e não cada um por si.

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76 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

15. cOntiF

Foi o Instrutivo nº 09/07 de 19/09 do Banco Nacional de Angola (BNA) que deu vida ao novo Plano de Contas das Instituições Financeiras, mais conhecido por CONTIF.

Com o CONTIF,24 o banco central pretende que as contas dos bancos comerciais estejam de acordo com as NIC, o que é salutar. A NIC 30, por exemplo, está vocacionada única e exclusivamente para a divulgação das Demonstrações Financeiras de Bancos e de Instituições Financeiras Similares.

A entrada em vigor do CONTIF representa o culminar de muito trabalho realizado ao longo do tempo. Foram ne-cessárias reuniões contínuas entre técnicos, na Associação de Bancos de Angola, no sentido de estudar e aprimorar o melhor funcionamento deste novo Plano de Contas, que não deixa de ser revolucionário para o nosso meio.

Estava prevista a entrada em vigor do CONTIF no dia 1 de Janeiro de 2010. Porém, recentemente, o BNA flexibilizou aquela data, permitindo que as instituições que o requeiram possam adoptá-lo a partir do dia 1 de Julho de 2010.

16.reFOrmA FiScAl

Temos um ordenamento jurídico-fiscal antigo e anacrónico. Como exemplos referimos: o Imposto da Sisa e o Có-digo do Imposto Industrial.

Que reforma fiscal?

Temos de pensar em primeira linha no sujeito passivo (contribuinte) da relação tributária. Julgamos ser este o cerne da questão, porque temos de ter a consciência que muitos dos nossos contribuintes têm pouca instrução e, por outro lado, têm de criar hábitos de tributação fiscal.

Concretizando: Hoje é frequente acontecer que, quando alguém abastece uma viatura com combustível, no acto do pagamento solicite um documento. A resposta mais usual a este pedido é: “não temos factura”, ou “o livro acabou”. Há ainda muitas empresas que emitem um documento, o qual designam de factura, mas que não reune fiscalmente condições para ser considerado como tal. A saber: não tem os dados da empresa impressos (estão carimbados), o número da factura também não é impresso (é colocado manualmente).

O sucesso da Reforma Fiscal passa pela sensibilização e pela educação dos contribuintes.

Hoje, fala-se muito da redução da taxa do Imposto Industrial que é de 35%. É verdade que a taxa é alta. Mas não é possível a sua redução para os 15% como já ouvimos publicamente alguém defender, alegando que passaria a existir menos fuga ao Fisco. É possível que passasse a existir menos fuga ao Fisco. Mas temos de pensar na técnica fiscal.

Ou seja, as reduções de taxas do imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas, no nosso caso Imposto Indus-trial, nunca poderão ser reduzidas de uma forma drástica,25 porque nenhum Estado em que as receitas fiscais são as-saz importantes para o seu equilíbrio orçamental, pode acreditar que uma redução substancial das taxas do imposto possa implicar uma grande receita fiscal.

Assim sendo, é normal que as reduções de taxa de impostos sejam feitas de uma forma gradual e por vezes lenta, de exercício económico para exercício económico.

Outra questão pertinente é colocada relativamente aos designados “vendedores de rua”. Será um erro, no nosso entender, independentemente do princípio da igualdade e da equidade fiscal, fazer incidir imposto sobre os seus rendimentos, visto que a maioria não está preparada nem tem cultura fiscal, como já referimos. Entendemos que a melhor forma de conseguir alguma arrecadação da receita fiscal com os “vendedores de rua” será criar taxas sobre a sua actividade, sendo necessário para o efeito, o seu registo ou na Fazenda Nacional ou noutro organismo competen-te e obrigá-los durante a sua actividade a estarem munidos da respectiva autorização/licença.

24 Magro, José Luís Faria, “Aprenda o CONTIF -Plano de Contas das Instituições Financeiras de Angola – 1º volume” a editar brevemente.25   O autor deste trabalho, escreveu em Portugal,sobre as reduções acentuadas das taxas de Imposto s/ Rendimentos das Pessoas Colectivas, caso concreto  da Polónia e Eslóvenia, quando entraram para a União Europeia, no sentido de atrairem Investimento Privado Estrangeiro. Os resultados dessas reduções estiveram aquem do esperado. Quer a França quera Alemanha chamaram a essas reduções de “Dumping Fiscal”.

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78 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

Uma Reforma Fiscal como a pretendida vai incidir sobre todos ou sobre a maioria dos nossos impostos. Tem de ser futurista e prever um conjunto de situações que possam vir a acontecer, porque não é viável fazer Reformas Fiscais de cinco em cinco anos.

Devemos estar atentos ao que aconteceu, por exemplo, em Portugal com a entrada em vigor, em 2010, do Sistema de Normalização Contabilística. Esta alteração teve como repercussão a revisão do Código do Imposto sobre o Rendimento, isto porque, com este novo Sistema Contabilístico, a Fiscalidade deixou de ter o peso que tinha sobre a Contabilidade.

Tem de ser também clara e precisa. Temos de ter em consideração, mais uma vez, que temos um nível de educação baixo, onde estão incluídos muitos contribuintes.

Uma Reforma Fiscal não pode ser só feita pela Administração Fiscal. Tem de ter outros parceiros, onde deve indu-bitavelmente, estarem os profissionais da Fiscalidade e da Contabilidade, pelo que faz todo o sentido a participação da Ordem dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas de Angola. Como ainda dos docentes da Contabilidade, dos ramos de Direito: Fiscal, Trabalho, Societário... da Ordem dos Advogados e Economistas e outros profissionais. Os empresários através das suas Associações também devem ter a sua representatividade, isto porque são eles na maioria dos casos, os sujeitos passivos da relação tributária.

Por outro lado, temos de pensar que o interior de Angola tem de ser desenvolvido. Como? A Lei nº 17/03 de 25/07 sobre os Incentivos Fiscais e Aduaneiros, prova que, apesar da zona C (mais interior) ser a que mais incentivos tem, a concentração das empresas está na zona A, nomeadamente no litoral. Esta constatação leva-nos a perguntar, porquê?

A resposta é óbvia. Porque nessas regiões ainda faltam infra-estruturas básicas como: a electricidade e a água. Para o desenvolvimento de uma actividade empresarial também contribuem as redes rodoviárias. Desta forma, será possível conseguir preços mais competitivos em comparação com os das mercadorias importadas. Com as infra-estruturas a funcionar é possível que haja uma maior deslocação de empresas para o interior e dessa forma faz sentido criar incentivos fiscais, nomeadamente taxas bonificadas.

No seguimento da Reforma Fiscal deveria ser tratada a eliminação da dupla tributação, com os países com quem mais temos intercâmbio comercial.

Para Paulo Costa, especialista na área de fusões e aquisições e ‘project finance’é necessário “melhorar as leis existentes e o nível da sua aplicação, a par da criação de uma forte rede de tratados internacionais de protecção de investimento e de eliminação da dupla tributação”.

As vantagens fiscais resultantes da eliminação da dupla tributação tornam-se especialmente atraentes para sociedades holdings, para as operações realizadas por Instituições Financeiras Internacionais, bem como para os seus clientes.

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A CRISE FINANCEIRA E ANGOLAESTAMOS PREPARADOS?

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N.º 14N.º 12 N.º 13 N.º 15

ANGOLA E O AMBIENTEILAçõEs A rETIrAr dA CONfErêNCIA dE COpENhAGA

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NOVO LIVrO

Brevemente

Aprender o CONTIF

A importância da Harmonização Contabilística a nível mundial.

O IASB e a sua estrutura conceptual.

Importância e função de um banco perante a Norma

Internacional de Contabilidade nº 30.

Decisões de crédito e geração de valor.

Afectação do Capital incluindo Basileia I e Basileia II.

Exercícios práticos sobre as várias matérias apresentadas.

JOSÉ LUÍS FARIA MAGRO

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ObJectivOOferecer aos participantes conhecimentos teóricos, sobre a evolução da Contabilidade ao longo dos tempos e paralela-mente dar a conhecer o seu impacto e importância a nível da globalização. Dar a conhecer a relevância do Anexo ao Balanço e Demonstração dos Resultados para melhor com-preensão das demonstrações financeiras. A responsabilidade do relatório de gestão.

A Quem Se deStinAA Contabilistas, Administradores, Bancários e Gestores de empresas, bem como a todos que estudam esta temática.

reSpOnSáveiS pelA FOrmAçãODrs José Luís Magro e Adelaide Magro, habilitada com o curso de Formação de Formadores. Autores do Manual de Contabilidade Angolano.

limite de FOrmAndOS20

períOdO30 horas, distribuídas por 5 dias por semana:

Período da manhã: 9H00 – 12H30 Período da tarde: 14H00 – 18H00 Período da noite: 18H30 – 21H00

teXtOS de ApOiOFornecidos pelo formador e distribuídos em cada sessão

inFOrmAçõeS e reServASAvenida Comandante Valódia nº 5, 5º A - Ap. 53 - Luanda Telf./Fax 00244 222430583 Móvel 00244 923454677 0351 919352177 Email [email protected]

prOgrAmA

. 81Setembro | Outubro 2010 // VALOR ACRESCENTADO

1º QUADRIMESTRE DE 2010

Curso Carga Horária

Análise de Projectos e Investimentos 30

Análise Financeira 30

Auditoria Financeira 40

Avaliação de Empresas e Negócios 30

Contabilidade e Fiscalidade para Advogados 15

Contabilidade e Fiscalidade para Empresários 10

Contabilidade Bancária 30

Contabilidade e Fiscalidade 30

Contabilidade para Iniciados 20

Contabilidade Prática Informatizada 30

Gestão Comercial e Inventários com Aplicação Informática

30

orçamento Empresarial 30

Recursos Humanos 30

Secretariado com aperfeiçoamento do Português 40

Tesouraria com Aplicação Informática 15

Cursos reconhecidos pelo

INSTITUTO NACIONAL DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL (INEFOP)

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próximo número

82 . VALOR ACRESCENTADO // Setembro | Outubro 2010

A impOrtânciA dA AuditOriA internAOs serviços de Auditoria Interna devem estar preparados para assessorar as administrações na avaliação da adequação das políticas e estratégias às reali-dades da empresa e do mercado, contribuindo dessa forma, para a minimiza-ção dos riscos do negócio.

bAlAnced ScOrecArd e geStãO eStrAtégicAO Balanced Scorecard (BSC) complementa medições financeiras com avaliações sobre os clientes, com identificação dos processos internos que devam ser aprimorados, com a análise das possibilidades de aprendizagem, bem com investimentos em recursos humanos e outros factores operacionais e ambientais importantes ao sucesso do negócio.

OrigenS dAS nOrmAS cOntábeiS denOminAdAS cOmO internAciOnAiSNão é, pois, sem fortes razões que as produções normativas continuam egressas de entidade privada sediada na Inglaterra sob o controle majoritário de grupos norte americano e europeu; modestíssima foi e continua sendo a participação do restante do mundo (ressalvado um percentual para todo o continente asiático) segundo estatísticas editadas na Internet.

A grAnde diFiculdAde dO cOmbAte dA inFlAçãO em AngOlAO mercado informal ainda tem muito peso sobre a economia real. É neces-sário fazer-se estudos sobre o mesmo e tentar agregar o Índice de Preços ao Consumidor. De certeza que a inflação esperada para 2009 que se diz de 12% iria para os 14% ou mais.

viAblidAde ecOnómicO-FinAnceirA de um prOJectO de inveStimentOElaboração em EXCEL de um projecto de viabilidade económico-financeira com a determinação do VAL e da TIR com os respectivos cenários de sensibilização.

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No dia 7 de Junho, pelas 23 horas, faleceu o Professor Doutor António Lopes de Sá, com 83 anos de idade.

A primeira vez que contactei o grande Mestre, já lá vão uns anos, era estu-dante universitário e tinha de apre-sentar um trabalho sobre “As origens das provisões”. Precisava de falar com alguém sobre esta matéria no sen-tido de esclarecer algumas dúvidas. Mandei-lhe um e-mail às 2 horas, da cidade do Porto para Belo Horizonte, sua terra natal, onde viveu e morreu e eram 10 horas já tinha a resposta, pese embora a diferença de fusos ho-rários.

Aquela resposta pronta foi importan-te para o meu ego (ainda hoje guardo esse e-mail), pois é motivo de orgulho ser “ouvido” por uma pessoa tão sin-gular e tão fantástica, como o nosso Mestre.

Passaram alguns anos e quando lan-çámos a revista Valor Acrescentado,

contactei-o no sentido de colaborar connosco, com os seus ilustres ar-tigos. Prontificou-se de imediato e, inclusive, divulgou o meu nome no mundo académico brasileiro.

Tal facto, originou que outros auto-res seus compatriotas, contribuíssem também com artigos para a Valor Acrescentado.

A globalização via Internet permite felizmente este convívio, esta troca de opiniões.

Conheci pessoalmente o grande Mes-tre António Lopes de Sá, na Faculdade de Economia do Porto, numa palestra com professores portugueses. Alguns tinham sido meus professores. Lopes de Sá era um brilhante conferencista participando sempre que lhe era pos-sível em eventos e congressos.

Pai do Neopatrimonialismo - corrente criada por si e espalhada pelos vários cantos do mundo – era um Homem

sábio, de ideias claras e abrangentes, que só os grandes Mestres conseguem legar às gerações futuras.

Pessoa solícita e sempre disposto a ajudar, começámos a ter mais con-tactos pessoais. Trocámos muitas opiniões, algumas discordantes, no-meadamente no que concerne à har-monização/normalização contabi-lística, a nível mundial, mas sempre contribuindo para o enriquecimento do meu conhecimento.

António Lopes de Sá tratava-me por colega. Não. Reconheço as minhas limitações. Estou a anos-luz do seu conhecimento.

António Lopes de Sá pediu-me para ser um continuador da sua corrente neopatrimonialista em Angola. É um grande desafio. Vamos ver. Será de certeza a melhor homenagem que lhe posso deixar.

Paz à sua alma.

editorial

HOMENAGEM AO PROFESSOR DOUTOR ANTÓNIO LOPES DE SÁ

PROPRIEDADE Valor Acrescentado - Prestações de Serviços, Lda.DIREcTOR José Luís MagroADMINISTRADOR Luís GomescHEFE DE REDAcçãO Adelaide AlvesREDAcçãO Filipa Couto, Carlos NetoPUbLIcIDADE Luís HandangaDESIGN GRÁFIcO PMD - Design de Comunicação | www.pmd.ptIMPRESSãO Uniarte Gráfica / PortocOLAbORARAM NESTE NúMERO Filipa Couto, José Luís Magro e Miguel Gonçalves

Tiragem: 10.000 exemplares. Registada sob o número McS-430/b/2006.

SEDEAv. Comandante Valódia, nº 5 - 5º Ap 53 - Luanda Tel. 00244 222 430 583 - Fax 00244 222 431 168

DELEGAçãORua Serpa Pinto, nº 750 - 4º4550-465 Porto - PortugalTel. 00351 228 300 507 - Fax 00351 228 329 897

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2 . Valor aCresCentado // agosto | setembro 2010

Análise de Projectos e InvestimentosAnálise FinanceiraAuditoria FinanceiraAvaliação de Empresas e NegóciosContabilidade e Fiscalidade para AdvogadosContabilidade e Fiscalidade para EmpresáriosContabilidade BancáriaContabilidade e FiscalidadeContabilidade para IniciadosContabilidade Prática InformatizadaGestão Comercial e Inventários com Aplicação InformáticaOrçamento EmpresarialRecursos HumanosSecretariado com aperfeiçoamento do Português Tesouraria com Aplicação Informática

CUrSOS DISPOnÍveIS

InSCrevA-Se

JÁ.

00244 222 430 58300244 923 454 67700351 919 352 [email protected]

Formadores: dr. José luís Magro / dra. adelaide Magro

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A CONTABILIDADEEM ANGOLAA IMpOrTâNCIA DA OrDEM dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas

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