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II ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DO PIBID- III ENCONTRO INSTITUCIONAL DO PIBID
HUMOR NA SALA DE AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: ANÁLISE
LINGUÍSTICA DO SERIADO CHAVES
Autora: Eveline Rosa PERES (Professora da Rede Municipal de Rio Grande/ Tutora
PIBID Língua Portuguesa/ FURG/sob a coordenação da Profª. Drª. Rosely Dinis S.
Machado)
Co-autores: Angela RIZZO; Daniela Bortoli TOMAZI; Israel La BANCA; Luciene
ROCHA; Roberta Borges BITTENCOURT (Graduandos em Letras PIBID/
FURG/Língua Portuguesa)
EIXO TEMÁTICO: Relatos de experiências em oficinas e salas de aula.
RESUMO
O presente trabalho nasce do anseio de levar à sala de aula de língua portuguesa algo
que faça parte do cotidiano dos alunos e que possa gerar reflexões sobre a língua e
tornar as aulas mais produtivas. Também justifica-se por deter-se sobre um discurso
pouco valorizado na escola que é o discurso humorístico. Devido à grande
popularidade que o seriado Chaves alcançou no Brasil, tendo mais de 20 anos de
exibição e ao enorme número de pessoas, de várias idades, que assistem a essa
série, a escolhemos como objeto de análise. Temos o objetivo de analisar, juntamente
com os alunos do 6º e 7º anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora
Zenir de Souza Braga, Rio Grande/RS, como se dá, linguisticamente, a produção do
humor no famoso seriado e, com isso, contribuir para uma melhor percepção do
funcionamento da língua, atentando para as marcas lingüísticas de ambiguidade,
principais desencadeadoras do efeito cômico. Para efetuar esse estudo, nos
amparamos nas seguintes teorias: Enunciação e Gêneros Discursivos. O trabalho será
desenvolvido em uma sequência didática,que tem a duração prevista de oito encontros
distribuídos em seis etapas,que culminará com uma exposição das análises
desenvolvidas no Mural da Escola. Espera-se, com esse estudo, aumentar a
percepção dos alunos sobre os usos criativos da língua que fazemos e ao que somos
expostos no nosso dia-dia.
Palavras- Chaves: Humor; Seriado Chaves; Ensino de Língua Portuguesa.
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INTRODUÇÃO
O que nos faz rir? Por que gostamos dessa sensação de riso coletivo que
compartilhamos ao assistir a um filme de comédia, um teatro cômico, ao ir ao circo, ao
ler uma narrativa engraçada? O que torna determinada situação engraçada?
Todos esses questionamentos nos surgiram ao observar que, independente de
crença, convicção política, gosto musical, todas as pessoas que conhecemos gostam
de dar uma boa risada. Rir alivia tensões, traz sensações boas de alegria, desestressa
e, rir junto, aproxima as pessoas.
Partindo desses questionamentos e constatações, pensamos que a sala de aula, por
ser um espaço de intenso convívio social- afinal, uma turma tem que se “aturar” por no
mínimo um ano letivo- também pode ser um espaço de compartilhar alegria e nada
como um bom texto- escrito, visual, audiovisual, sonoro, para estreitar os laços de
companheirismo de uma turma.
O ensino de língua portuguesa é marcado historicamente por uma tradição
gramaticista que sufoca qualquer possibilidade de criação do aluno. No entanto, de
uns vinte anos para cá, com os avanços dos estudos sobre gêneros discursivos vem
aumentando o número de propostas que priorize Aumentar a percepção dos alunos
sobre os usos criativos que fazemos da língua e que somos expostos no nosso dia-
dia sem nos darmos conta da riqueza de sentidos que esses usos possuem.m a
leitura e a produção textual, tendo em vista (ou tentando ter) a realidade, o contexto no
qual o aluno está inserido. É pensando no contexto do aluno, e na complexidade que
isto envolve, pois uma escola é composta de vivências e realidades sociais bastante
heterogenias, que buscamos um ponto que possa ser comum para toda uma turma,
tendo como objetivo criar um espaço onde se possa pensar criticamente sobre a
língua, que chegamos a proposta dessa sequencia didática.
Na introdução de sua obra Humores da Língua, Possenti (1996, p.17), diz-nos o
seguinte:
“o que eu gostaria de fazer analisando piadas é descrever as chaves lingüísticas que
desencadeia o nosso riso.”
Na página 27 da mesma obra, o autor sugere, para demonstrar hipóteses ou princípios
de análises lingüísticas, ao invés de utilizar exemplos criados apenas para demonstrar
um fato linguistico, os especialistas poderiam escolher uma piada correte. Possenti
defende que, com isso, os alunos poderiam ter um exemplo autêntico e se envolverem
em situações concretas de interpretação. É na esteira do que intenta Possenti que
iremos desenvolver o presente trabalho.
II ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DO PIBID- III ENCONTRO INSTITUCIONAL DO PIBID
1. HISTÓRIA DO SERIADO CHAVES
El Chavo Del Ocho (literamente "O garoto do oito") foi ao ar pela primeira vez em 1971 na TV TIM do México,como um quadro do programa Chespirito. No entanto, o quadro do garoto Chaves começou a fazer um grande sucesso e ganhou horário próprio, assim como o quadro Chapolin. No ano de 1973, devido ao grande sucesso da TV TIM, a maior emissora do país, a Televisa,comprou aquela emissora. Com a mudança de emissora, o programa passou por uma melhora na qualidade técnica. Neste período podemos notar mudanças no cenário e também no figurino. Também há melhorias técnicas, como melhor iluminação e qualidade de imagem. A principal fase do programa foi em 1977, mesmo ano das filmagens do episódio de Acapulco, que serviu para promover o Hotel Continental, de propriedade da Televisa. Esse foi também o último episódio gravado com o elenco completo, pois Carlos Villagrán, (Quico) aceitou uma proposta para gravar um programa solo na Venezuela. Meses depois, Ramón Valdez (Seu Madruga), seguiria os passos de seu amigo, abandonando o programa. Em 1979, o programa entrou em um novo momento: Seu Madruga e Quico foram substituídos por novos personagens, como Dona Neves e Jaiminho, e Dona Florinda abriu um restaurante. Em 1981, Ramón Valdez volta para o seriado, devido ao fracasso do programa na Venezuela com o Quico, porém abandona o programa definitivamente em 1983 devido ao diagnóstico de um câncer, que o levaria a morte no ano de 1988. No mesmo ano de 1983, o seriado Chaves seria cancelado para voltar no final da década de 1980, mas novamente como quadro humorístico e não mais como um programa. Os atores já estavam muito velhos e já não lembravam tanto os personagens. Assim, as gravações foram encerradas definitivamente em 1995 supostamente com o adoecimento e morte de Raúl ´´Chato´´ Padilla (Jaiminho). HISTÓRIA DO CHAVES NO BRASIL A história do Chaves no Brasil começa quase junto à do SBT. Em 19 de agosto de 1981 entrava no ar a TVS que, alguns anos depois, se tornaria o SBT. Para complementar a programação da recém-formada emissora, Silvio Santos analisou vários pacotes de programação oferecidos por emissoras estrangeiras. Dentre eles estava o da mexicana Televisa, com boas produções a baixos custos. Porém, essa programação só poderia ser vendida por completo com todos os programas, sendo que, no meio dessa programação, estava o seriado ´´El Chavo Del Ocho´´ que não agradou a nenhum diretor do SBT, nem mesmo a Silvio Santos. Mas, sabendo do sucesso que o seriado fazia em toda a América Latina, Silvio Santos decidiu colocá-lo no ar.
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Chaves estreou no Brasil em agosto de 1984 no programa do palhaço Bozo. O primeiro episódio exibido foi ´´Caçando Lagartixas´´ . Cerca de três anos depois o seriado ganhou horário próprio sendo exibido às 12h30 logo após o Chapolin Colorado. Em 1988, Chaves estreou no horário nobre exibindo apenas episódios inéditos, ameaçando a audiência das outras emissoras. No final da década de 90 começaram os problemas: o seriado mudava de horário constantemente, sem aviso prévio e, em várias ocasiões, fora retirado do ar. Mas Chaves resiste e continua no ar depois de 22 anos no Brasil e depois de 35 anos em toda a América Latina.
2. AMBIGUIDADE
O dicionário Houaiss(2004, p.37), apresenta as seguintes definições para a
palavra ambigüidade:
E, para a palavra ambíguo,apresenta as seguintes definições:
Podemos observar que todas as definições para o verbete ambigüidade possuem um
sentido negativo, somente para o verbete ambíguo aparece o aspecto que será
explorado nesse trabalho: “que tem ou pode ter mais de um sentido”.
Essas definições negativas que aparecem no dicionário, não estão lá por
acaso, elas são reflexos de um ensino gramaticista que vê na ambigüidade
somente defeitos, esquecendo que a ambiguidade é essencial em alguns
gêneros discursivos, como as piadas, as charges, os contos humorísticos.
É importante ressaltar que a ambiguidade torna-se um defeito quando é
prejudicial ao sentido de um texto, surgindo dificuldades quando deixa a
informação sem referência clara, o que pode interferir na manutenção da
coerência de um escrito, por exemplo, ao escrever um artigo de opinião, o
aparecimento da ambigüidade pode trazer à tona outro sentido que vai de
encontro ao efeito pretendido.
Ambigüidade s.f. 1. Característica ou condição do que é ambíguo
2. imprecisão de sentidos (de palavras, formas, expressões, etc.)
3. hesitação entre possibilidades; dúvida; incerteza.
Ambíguo adj. 1. Que tem ou pode ter mais de um sentido; equívoco; 2.
Que desperta dúvida; vago.
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3. ENUNCIADO
Benveniste apud Maingueneau (2001, p.6), conceitua enunciação como “um
processo de funcionamento da língua por um ato individual de utilização”,
definição que opõe á enunciado, que conceitua como “o objeto lingüístico
resultante.”
Adotamos o conceito de enunciado para demarcar a real ocorrência dos
diálogos- que fazem parte de uma obra de ficção- opondo aos exercícios
gramaticais forjados com a única finalidade de trabalhar determinado aspecto
gramatical.
Dentro da teoria da enunciação, trabalharemos com os seguintes conceitos:
Contexto- A exterioridade que contribui para o texto “fazer sentido.”
Co-texto- São os elementos que fazem parte da linearidade do enunciado.
Dêitico- Externo ao co-texto, remete à exterioridade. Ex.: “Ele me bateu.”
Anáfora- Retoma o que está presente no texto, no co-texto. Ex.: Chaves foi no
outro pátio, lá encontrou a bola de Quico.
4. GÊNEROS DISCURSIVOS E TIPOS TEXTUAIS
Segundo Marcuschi,(ano!) , tipo textual designa uma espécie de construção
teórica definida pela natureza lingüística de sua composição. O tipo
caracteriza-se muito mais como sequências lingüísticas do que como textos
materializados; na realidade, são modos textuais. Em geral, os tipos textuais
abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração,
argumentação, exposição e injunção.
Os gêneros textuais, diferentemente dos tipos textuais, são os textos que
encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sócio-
comunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos
enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças
históricas, sociais, institucionais e técnicas.
Em contraposição aos tipos, os gêneros são entidades empíricas em situações
comunicativas.
Alguns exemplos de gêneros textuais são: bilhete, notícia, piada, edital de
concurso, bate-papo por computador... Sendo assim, os gêneros são formas
textuais relativamente estáveis, histórica e socialmente situadas.
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As distinções entre um gênero e outro não são predominantemente lingüísticas
e sim funcionais, ou seja, elas se distinguem mais pela função, pelo objetivo
daquela atividade comunicativa e não tanto pela linguagem utilizada em
determinado gênero.
Não há uma dicotomia entre gênero e tipo. Trata-se de uma relação de
complementaridade. Todos os textos são desenvolvidos em um gênero e todos
os gêneros realizam sequências tipológicas diversificadas. Toda e qualquer
atividade discursiva se dá em algum gênero.
O gênero é a ação lingüística praticada como recorrente em situações típicas
marcadas pelo evento. Um jogo de futebol é um evento, assim como um
Congresso Acadêmico ou uma sessão do Congresso Nacional. Mas em cada
situação dessas temos gêneros que são adequados e não adequados.
5. SEQUENCIA DIDÁTICA
Dolz at all ( 2004, p. 97), diz-nos:
“Uma „sequencia didática‟ é um conjunto de atividades escolares organizadas, de
maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral e escrito.”
O objetivo de uma sequencia didática é propor meios através dos quais os educandos
dominem melhor um gênero de texto, permitindo-lhe assim, escrever ou falar de uma
maneira mais adequada numa dada situação de comunicação.
A estrutura básica de uma sequencia didática divide-se da seguinte forma:
- Apresentação da situação;
- Produção inicial;
- Módulos 1, 2,...
- Produção Final.
Adotamos o método de sequencia didática por acreditarmos que ele oferece maiores
meios para o acompanhamento do desenvolvimento do aluno ao longo trabalho, pois
divide-se em módulos, nos quais os professores podem observar o crescimento e as
dificuldades surgidas ao longo do processo.
Indo de encontro ao postulado pelos autores, na p.98, onde apontam que as
sequencias didáticas servem para dar acesso aos alunos a práticas de linguagem
novas ou dificilmente domináveis, esse trabalho irá tratar das formas lingüísticas sobre
as quais se produzem o humor. Ao contrário do que sugerem os autores,os gêneros
discursivos cômicos são práticas de linguagem usuais, conhecidas do falante.
II ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DO PIBID- III ENCONTRO INSTITUCIONAL DO PIBID Entretanto, dificilmente nos debruçamos a pensar sobre que características da língua
nos fazem rir, achar graça de determinada situação; simplesmente rimos.
6. METODOLOGIA
O trabalho será desenvolvido em uma Sequência Didática que têm a duração prevista
oito encontros, distribuidos em seis etapas que culminará com uma exposição no
Mural da Escola.
1ª etapa ) Apresentação da situação- Os professores irão expor a proposta de trabalho:
Assistir a quatro episódios do seriado Chaves: “Seu Madruga leiteiro”, “Independência do Brasil”,
“O varal da vila”, “O último exame da escolinha” , buscando observar que aspectos das falas dos
personagens os fazem rir para posterior exposição no mural da escola das conclusões a que
chegaram após o desenvolvimento de análises das falas dessas personagens.
Será pedido aos alunos que tentem prestar atenção em que situações eles riem, o que
acham mais engraçado nas ações e falas dos personagens. Com esses
questionamentos busca-se verificar como se dá a percepção do humor por parte dos
alunos, se conseguem apontar os fatores desencadeadores do riso. Após os
educandos irão discutir seus pontos de vista.
2ª etapa) Levantamento de hipóteses e testagem através da re-assistência dos
episódios para verificar o que gera o humor nas falas dos personagens. Primeira
produção escrita.
3ª etapa) Análises das ambiguidades utilizadas pelos personagens. Estudar a
definição de ambiguidade, a necessidade dos pronomes se referirem a algo já
mencionado no discurso ou a algo que é do conhecimento de todos os envolvidos no
acontecimento enunciativo.
Analisar a indeterminação dos referentes de advérbios- lá, aqui, antes, depois...
Verificar a caracterização da personagem criança como muitas vezes ingênua e por
isso dada a interpretações não usuais. Possenti,1996, (p.141-150).
EXEMPLOS DE ANÁLISES
Análise do vídeo “O Melhor do Chaves. É que me escapuliu.”
Episódio- Seu Madruga Leiteiro
1º) Diálogo entre Quico e Dona Florinda
Quico bate na porta de casa e chama Dona Florinda, que lhe pergunta o que ocorreu.
Quico responde:
- Olha o que ela fez.
II ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DO PIBID- III ENCONTRO INSTITUCIONAL DO PIBID No mesmo instante chega no pátio o Seu Madruga e se aproxima dos dois (Quico e
Dona Florinda), para entregar a leiteira desta. Enquanto isso prossegue a fala de
Quico:
- Jogou todo o leite em mim, olha. (Indeterminação do “ele”- exploração dos
dêiticos pessoais)
Nessa fala pode ser posta a reflexão sobre o humor gerado pela falta de determinação
de a quem o pronome se refere. Para falarmos de um ele, os participantes da situação
de comunicação tem que saberem de quem se trata,a quem se refere. No entanto,
como o seriado é um produto audiovisual e como, quase sempre, nas acusações da
personagem Quico quem está segurando o objeto utilizado para bater ou causar
algum dano nessa personagem, (nesta situação, derramar o leite), é a personagem
Seu Madruga, a culpa sempre recai sobre esse, que acaba sempre apanhando de
Dona Florinda. No entanto, se um dia Quico explicita-se a quem se refere o ele, a cena
perderia toda a graça.
2º ) Em um outro diálogo, Seu Barriga chega no pátio da vila para cobrar o aluguel de
Seu Madruga e Seu Madruga o pergunta quem entrega seu leite, se Seu Barriga
gostaria de comprar. Seu Barriga pergunta:
- Está pasteurizado?
Ao quê Chiquinha responde:
- Da parte de quem?
Nesta “piada” há um processo de dupla interpretação.
A personagem Chiquinha interpreta como se a pergunta era se uma pessoa chamada
“Pasteurizado” estava, por isso pergunta “da parte de quem.” Essa pergunta de
Chiquinha pode ser interpretada como um mal entendido a partir de um outro sentido
não imaginado pelo enuncador até a outra interpretação da personagem Chiquinha
ser exposta. No entanto, devido as características irônicas da personagem é mais
provável que se trate de um escárnio para com o Seu Barriga.
3º) Em outra cena, Chaves e Chiquinha batem na porta do Seu Madruga. Chaves diz:
- A porteira teve quatro cachorrinhos.
- Quê? Responde Seu Madruga, espantado. (Nesta cena o humor se da através do
absurdo da situação: uma porteira- porta grande- ter cachorrinhos; ou, uma mulher,
que exerce a função de porteira, ter cachorrinhos, pois seres humanos não dão à luz a
animais. Nesta “piada” o cômico não provém da ambigüidade, já que a palavra
“porteira” não permite essa interpretação, mas do uso inusitado da palavra)
Chiquinha explica:
-Não, não Chaves, a cachorra da porteira teve quatro cachorrinhos.
II ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DO PIBID- III ENCONTRO INSTITUCIONAL DO PIBID Seu Madruga diz:
- Que bom, e todos vivos?
Chiquinha traz à tona a outra possibilidade de interpretação da palavra vivo, ao que
responde:
- Ao contrário, bem lerdinhos. Eles levantam e já caem não é? (e olha para Chaves),
que concorda com ela.
Neste trecho do diálogo o humor se dá a partir das possibilidades de sentido da
palavra vivo, que tanto pode significar- ter vida, ou ser esperto
Seu Madruga explica o que havia dito buscando eliminar a ambigüidade
ocorrida:
- Não Chiquinha, não. Perguntei é se não morreu nenhum quando nasceu.
E Chaves respondeu:
- Sim, sua mãe.
Seu Madruga, apavorado, diz:
- A minha mãe?
Chaves:
- Não, a mamãe dos cachorrinhos.
Neste diálogo ressalta-se o uso da indeterminação da palavra “sua”, que pode se
referir tanto ao você- pessoa da situação de enunciação; quanto ao ele externo à
enunciação, à não-pessoa, segundo Benveniste, que aparece no diálogo apenas por
meio da menção, não fazendo parte da interação face a face.
Os professores questionarão os alunos sobre o porquê do Seu Madruga ter chegado a
essa interpretação, que elementos da nossa língua permitem essa outra interpretação
e não o sentido veiculado pela personagem Chaves.
(Continuação do diálogo)
Chiquinha diz:
Mas todos os cachorrinhos viveram. E todos são homenzinhos.
Seu Madruga:
- Não filha, se fala que eles são machinhos.
II ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DO PIBID- III ENCONTRO INSTITUCIONAL DO PIBID Chiquinha:
- São bem assustadinhos papai. Não são machos, é só olhar que eles começam a
tremer, assim. (Fala esse trecho tremendo as mãos e sacode a cabeça, buscando
concordância sobre o que conta com o personagem Chaves).
Nesta cena o humor é extraído da ambigüidade da palavra macho, que pode ser
relacionada ao sexo dos animais, macho-fêmea, ou à valentia, coragem; interpretação
dada pela personagem Chiquinha.
Episódio- “Independência do Brasil”
Neste episódio Chaves e Chiquinha estão estudando na casa do Seu Madruga para
uma prova sobre a independência do Brasil.
Seu madruga pergunta:
-Qual foi o pior obstáculo de D. Pedro I?
Chaves:
- os semáforos.
Seu Madruga:
- Chaves, o estou falando da rua D. Pedro I, estou falando do exército de D. Pedro I
contra Portugal!
Para podermos interpretar o sentido dado pela personagem Chaves, precisamos do
conhecimento contextual, de que D. Pedro I é um rua comum em quase todas as
cidades do Brasil.
Em outro momento Dona Clotilde queixa-se ao seu Madruga:
- Sua filha está me imitando, passa todo o tempo me imitando.
Seu Madruga:
- Chiquinha, quantas vezes já te disse para não agir como imbecil.
Seu Madruga (ao virar-se para trás vê a cara irritada de D. Clotilde- bruxa do 71- e
tenta consertar:
- Quer dizer, sabe? Sabe como são as crianças. Temos que proibir que zombem dos
bobos.
II ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DO PIBID- III ENCONTRO INSTITUCIONAL DO PIBID (Dona Clotilde continua a olhar para ele com os braços cruzados e com olhar de
reprovação)
Neste diálogo há uma quebra do esperado: nessa situação esperamos, de acordo com
as regras de polidez (Graice in Possenti), que o pai repreenda a filha, explicando que
não é educado imitar as pessoas, que devemos respeitar os mais velhos.
Episódio- “O Varal da Vila”
Seu Madruga discute com Dona Florinda, pois esta retira as calças do Seu Madruga
que estavam estendidas no varal, argumentando que havia sido ela que tinha
comprado o varal. Seu Madruga defende-se, dizendo que quem havia comprado era a
bruxa do 71. No mesmo instante chega D. Clotilde.
Seu Madruga defende-se:
-Além disso as minhas calças estão na parte de Dona Clotilde. E nesse caso a única
pessoa que pode tirar as minhas calças e ela:
Dona Clotilde faz uma cara de surpresa e diz:
- Não por favor, Seu Madruga! Ai que horror, ai que calor!
(Nesta cena Dona Clotilde interpreta como tirar as calças do corpo do Seu Madruga e
não tirá-las do Varal, como era o que de fato o Seu Madruga estava falando)
Episódio “O Exame”
Neste episódio o professor Girafáles pede aos pais dos alunos que foram reprovados
(Chiquinha, Quico e Chaves), para assistirem a aplicação da prova e avisa que se os
pais soprarem o teste será anulado.
Dona Florinda diz:
- Dou minha palavra que não irei responder a nenhuma pergunta. Ao que Quico diz:
- O mesmo digo eu.
(O humor aqui se faz presente pois Quico está em exame e precisa responder as
perguntas.)
4ª etapa) Discussão das análises- Segunda produção escrita.
5ª etapa) Produção Final
6ª etapa) Planejamento da Exposição
7ª etapa) Revisão da Produção final
II ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DO PIBID- III ENCONTRO INSTITUCIONAL DO PIBID
8ª etapa) Exposição do trabalho no mural da escola
7. RESULTADOS ESPERADOS
Com esse trabalho intentamos aumentar a percepção dos alunos sobre como o humor
é produzido linguisticamente, tornando-os mais críticos com relação aos usos que
fazemos da língua no nosso cotidiano.
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