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1. EXPLICAÇÃO DO CASO 2. QUESTÕES RELEVANTES Análise do Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 20 de Abril de 2006 Francisca Barreiros Maria do Carmo Seabra

I. Ac STJ 20-04-06 Francisca Barreiros e Maria do Carmo Seabra

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Page 1: I. Ac STJ 20-04-06 Francisca Barreiros e Maria do Carmo Seabra

1. EXPLICAÇÃO DO CASO

2.QUESTÕES RELEVANTES

Análise do Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 20 de Abril

de 2006

Francisca Barreiros Maria do Carmo Seabra

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O CASO “JOANA”

Matéria de facto dada como provada em Tribunal de Júri:

O arguido João manifesta desprezo pela vida humana – resultado de mau ajustamento social e de frieza afectiva –e tem tendências anti - sociais/psicopáticas ,com dificuldade de controlo dos impulsos, que o leva a ser agressivo, tentando solucionar os conflitos através de tal agressividade, não sentindo remorsos pelas consequências dos actos.

Por acórdão transitado em julgado, foi o arguido João condenado na pena de 4 anos de prisão pela prática de um crime de homicídio na forma tentada.

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FACTOS DADOS COMO PROVADOS

a arguida Leonor manifesta comportamento socialmente desviante ao nível das normas, valores e responsabilidades, instabilidade emocional salientando-se na sua personalidade a ausência de empatia e a insensibilidade, o que leva ao desprezo da arguida pelos direitos, necessidades e sentimentos dos outros, para estes dirigindo a sua agressividade, tendo fraca capacidade para sentir remorsos; possui personalidade limite com traços anti-sociais/psicopáticos, narcísicos e esquizoides

antes da arguida Leonor se encontrar a viver com o companheiro L..., pretendeu aquela deixar de ter a menor Joana a seu cargo, tendo-a deixado, com 5 meses de idade com o pai, P... – com quem não se relacionava desde o início da gravidez – o qual acabou por a ‘devolver’ cerca de 2 dias depois, sendo que, mais tarde, voltou a entregá-la ao pai, o qual não quis ficar com ela

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FACTOS DADOS COMO PROVADOS

Cerca das 20 h daquele dia 12 de Setembro, a arguida Leonor mandou a Joana adquirir um pacote de leite e duas latas de conserva, num estabelecimento denominado “Pastelaria C...”, situado na Figueira, cerca de 420 metros da casa;

A sala da casa onde residia a arguida Leonor, é situada imediatamente após a porta de entrada na casa e a porta que dá acesso à rua tem manípulo do lado exterior que permite a entrada imediata na residência;

A menor Joana regressou a casa vinda da “Pastelaria C...”, onde havia adquirido os produtos alimentares mencionados;

A dada altura, por motivo não concretamente apurado, ambos os arguidos começaram, a dar sucessivas pancadas na cabeça da menor Joana, levando-a a embater com a cabeça na esquina da parede, sendo visível que sangrava, da boca, nariz e têmpora, mercê dos embates na parede, que causaram também a queda da menor e a sua morte, cessando então a actividade dos arguidos;

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FACTOS DADOS COMO PROVADOS

Ficaram vestígios de sangue da menor nas paredes e no chão da sala, em diversos locais, e também junto à entrada;

Os arguidos asseguraram-se da morte da Joana, verificando que não respirava nem reagia e então, decidiram obstar a que tal morte fosse conhecida de terceiros;

Assim, logo decidiram que teriam de fazer com que não fosse verificada na casa a existência de quaisquer sinais do que haviam acabado de praticar, que o corpo da menor nunca fosse encontrado;

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FACTOS DADOS COMO PROVADOS

Como sabiam que o companheiro da arguida Leonor e o amigo deste, C…, estavam prestes a chegar a casa, podendo descobrir o que se havia passado caso ali chegassem antes se serem limpos os vestígios, o arguido João saiu, dirigindo-se à “Pastelaria C...”, onde se encontrou com o L... e o Carlos, que já ali se encontravam, e a quem disse que a menor Joana não havia regressado a casa;

Quando os três regressaram a casa, a arguida Leonor já tinha limpo as marcas de sangue ali existentes, utilizando um balde e esfregona e referiu igualmente que a menor Joana não tinha regressado a casa depois de efectuar as compras;

L…. e o C…. decidiram ir procurar a menor, enquanto os arguidos ficaram em casa;

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FACTOS DADOS COMO PROVADOS

Decidiram então os arguidos, em conjunto, cortar o corpo da menor para poderem guardar o mesmo na arca frigorífica existente na sala;

Fizeram-no com uma faca e uma serra de cortar metal que se encontravam na habitação;

Cada um desses pedaços de corpo foi colocado dentro de sacos de plástico , e os arguidos tentaram, pelo menos, inseri-los nas gavetas da arca frigorífica, deixando vestígio s de sangue na mesma;

Os arguidos não colocaram os sapatos que a menor tinha calçados nos sacos, tendo ficado em casa todos os pares de sapatos que a menor utilizava naquele Verão;

A arguida de nada informou as autoridades policiais, apesar de haver militares da GNR de serviço, foi terceira pessoa que comunicou, telefonicamente o desaparecimento da criança às autoridades;

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FACTOS DADOS COMO PROVADOS

Na manhã do dia 13, a arguida Leonor deslocou-se ao Posto da GNR, em Portimão, acompanhada do arguido João, onde apresentou queixa pelo desaparecimento da Joana;

No final da noite de dia 13, os arguidos saíram juntos de casa, levando um saco;

Os dois arguidos, de forma que não foi possível apurar, transportaram os restos mortais de Joana para local desconhecido, não sendo até hoje localizados tais restos, tal como não foram localizados os instrumentos de corte utilizados, que os arguidos esconderam em local desconhecido;

No dia 18.09, a arguida Leonor adquiriu petróleo e um esfregão de aço, com o que lavou a casa, aproveitando assim para apagar quase todos os indícios, restando apenas vestígios de sangue humano no interior da casa, contaminados pelos produtos utilizados

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O CASO “JOANA”

Meios de prova utilizados:

Reconstituição do facto efectuada pelo arguido João;

Provas periciais à personalidade dos arguidos

Provas periciais a vestígios recolhidos no local no seguimento de buscas e apreensões;

Provas testemunhais

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O CASO “JOANA”

o Tribunal de Júri decidiu condenar: João : 1. como co-autor material de um crime de homicídio qualificado, p.p. pelos art.ºs

131.° e 132.° n.ºs 1 e 2 alínea b), ambos do C. Penal, na pena de dezoito anos de prisão;

2. como co-autor material de um crime de ocultação de cadáver, p.p. pelo art.º 254.º, n.º 1, al. a), do C. Penal, na pena de vinte meses de prisão;

3. e em cúmulo jurídico destas penas, na pena única de dezanove anos e dois meses de prisão;

Leonor : 1. como co-autora material de um crime de homicídio qualificado, p.p. pelos art.ºs

131.° e 132.º, n.ºs 1 e 2, alíneas a) e b), ambos do C. Penal, na pena de dezanove anos de prisão;

2. como co-autora material de um crime de ocultação de cadáver, p.p. pelo art.º 254.º, n.º 1, al. a), do C. Penal, na pena de vinte e um meses de prisão;

Tanto os arguidos como o Ministério Público recorrem da decisão do Tribunal de

Júri para o Supremo Tribunal de Justiça

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DECISÃO DO STJ

O STJ decide condenar os arguidos como co-autores do:

crime de homicídio qualificado, previsto e punido pelos artigos 131.º e 132.º, n.ºs 1 e 2, alínea b), quanto ao primeiro, e alíneas a) e b), quanto à segunda, na pena de 16 (dezasseis) anos de prisão cada um deles;

crime de ocultação e profanação de cadáver, previsto e punido no art.º 254.º, n.º 1, als. a) e b), do C. Penal, na pena de 2 anos de prisão;

em cúmulo jurídico destas penas, condená-los na pena única de 16 anos e 8 (oito) meses de prisão;

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1. REVISTA ALARGADA

2.PROVA INDIRECTA

3.DEPOIMENTO INDIRECTO

4.PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO

5. RECONSTITUIÇÃO DO FACTO

6.DECLARAÇÕES DA P.J

QUESTÕES RELEVANTES

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1. REVISTA ALARGADA

À excepção dos casos em que do texto do acórdão recorrido resulte algum dos vícios referidos no art.410º nº2, o STJ só conhece a matéria de direito dos recursos que lhe são dirigidos

Os arguidos vêm invocar estes vícios

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1. REVISTA ALARGADA

Artigo 410.º

Fundamentos do recurso

2 - Mesmo nos casos em que a lei restrinja a cognição do tribunal de recurso a

matéria de direito, o recurso pode ter como fundamentos, desde que o vício resulte do texto da decisão recorrida, por si só ou conjugada com as regras da experiência

comum:

a) A insuficiência para a decisão da matéria de facto provada;

b) A contradição insanável da fundamentação ou entre a fundamentação

e a decisão;

c) Erro notório na apreciação da prova

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1. REVISTA ALARGADA

A insuficiência da matéria de facto provada significa que os factos apurados são insuficientes para a decisão de direito;

A contradição insanável da fundamentação ou entre esta e a decisão, ocorre quando se dá como provado e não provado determinado facto, quando ao mesmo tempo se afirma e se nega uma coisa, ou quando a fundamentação justifica decisão oposta ou pura e simplesmente não justifica a deliberada.

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1. REVISTA ALARGADA

Erro notório na apreciação da prova, consiste em o tribunal ter dado como provado determinado facto, quando manifestamente não o podia ter feito, por força de incongruência lógica, por ofender princípios ou leis formulados cientificamente, por contrariar princípios gerais da experiência comum, ou por ter violado um princípio ou regra fundamental relativa à matéria de prova.

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1. REVISTA ALARGADA

Conjugando a fundamentação com a matéria de facto dada como provada e não provada, conclui o Tribunal que a decisão recorrida não padece de qualquer dos vícios do 410º nº2:

Foi apurada toda a matéria relevante, de acordo com acusação e defesa, sendo suficiente para justificar a decisão de direito,

Não há contradição na fundamentação e entre esta e a decisão, e muito menos erro na apreciação da prova

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1. REVISTA ALARGADA

Os recorrentes confundem estes vícios com o que seria um erro de julgamento, que está para além das competências do STJ, o qual apenas se pode ater aos vícios manifestados no próprio texto da decisão.

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1. REVISTA ALARGADA

Tribunal de Júri teve em consideração a especialidade do caso, e fundamentou ampla e minuciosamente a sua convicção.

Tal convicção foi devidamente objetivada até onde poderia ser, uma vez que, relembra o STJ, comporta sempre alguma margem não completamente racional, mas subjetiva e emocional, sem que todavia se possa falar em arbitrariedade.

Relembra ainda a legitimidade acrescida do tribunal de júri, assegurando uma maior democraticidade ao caso

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2. PROVA INDIRECTA

Não existe nenhuma prova directa dos factos, nem mesmo do homicídio

Ninguém viu o facto a acontecer; o corpo não foi encontrado

É possível dar como provado o homicídio ?

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2. PROVA INDIRECTA

Prova directa: refere-se directamente ao tema da prova

Prova indirecta: refere-se a factos diversos do tema da prova, mas que permite, com o auxílio de regras da experiência, uma ilação quanto ao tema da prova

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2. PROVA INDIRECTA

Artigo 127º CPP:

“Salvo quando a lei dispuser diferentemente, a prova é apreciada segundo as regras da experiência e a livre

convicção da entidade competente”

Princípio da livre apreciação de prova

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2. PROVA INDIRECTA

Livre apreciação de prova: ausência de critérios legais que predeterminem ou hierarquizem o valor

dos diversos meios de prova

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2. PROVA INDIRECTA

Fundamentação do Tribunal:

A prova do homicídio resultou da avaliação que o Tribunal fez sobre um conjunto de provas, de acordo com o princípio da livre apreciação do material probatório

Os elementos trazidos por provas indirectas foram conjugados com outras provas (reconstituição efectuada pelo arguido João; provas periciais à personalidade dos arguidos e a vestígios recolhidos no local no seguimento de buscas e apreensões; provas testemunhais)

Tudo conjugado, de acordo com as regras da experiência, permitiu ao tribunal extrair a ilação de que ambos os arguidos praticaram os factos que deram origem à morte da menor Joana

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3. DEPOIMENTO INDIRECTO

Duas testemunhas referiram no julgamento agressões por parte de ambos os arguidos à menor,

confidenciadas por estes em conversa com as testemunhas

Tratam-se de Depoimentos Indirectos

Podem servir como meio de prova?

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3. DEPOIMENTO INDIRECTO

Artigo 129º CPP:

“Se o depoimento resultar do que se ouviu dizer a pessoas determinadas, o juiz pode chamar estas a depor. Se o não fizer, o depoimento produzido não

pode, naquela parte, servir como meio de prova, salvo se a inquirição das pessoas indicadas não for

possível por morte, anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade de serem encontradas”

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3. DEPOIMENTO INDIRECTO

O testemunho de ouvir dizer só vale como prova se for indicada a pessoa a quem se ouviu dizer e se o juiz chamar essa pessoa a depor

Os arguidos não quiseram prestar declarações. Usaram do direito ao silêncio e, por isso, não foram questionados sobre esses factos

No recurso para o STJ ambos os arguidos alegam a

proibição do depoimento indirecto como meio de prova

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3. DEPOIMENTO INDIRECTO

Fundamentação do Tribunal:

Os arguidos estavam presentes na audiência e os respectivos advogados poderiam ter exercido o respectivo contraditório em relação a essas testemunhas

A impossibilidade de ouvir a fonte citada (os arguidos) pelas testemunhas resultou do direito ao silêncio a que se remeteram os arguidos

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3. DEPOIMENTO INDIRECTO

Assim, não é uma impossibilidade substancialmente diferente da situação prevista no artigo 129º, de impossibilidade de a pessoa indicada ser encontrada

Acresce que a prova dos factos não resultou em exclusivo dos depoimentos indirectos. Foi mais um elemento (não decisivo) no conjunto das provas produzidas

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3. DEPOIMENTO INDIRECTO

O tribunal agiu com a prudência que a impossibilidade de ouvir a fonte impunha e de acordo com as regras da lógica e da experiência

A valoração dos depoimentos nestes termos relativos não ofendeu o disposto no art. 129.º do CPP

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4. IN DUBIO PRO REO

A recorrente Leonor entende que foi violado o princípio do in dubio pro reo, e que, por isso, a decisão do Tribunal não é valida

Como fundamentos, apresenta vários problemas:

Desvalorizara reconstituição como prova face ao silêncio dos arguidos

Considera que esta continha declarações de co-arguido que não podiam valer contra a recorrente

Entende que foram valorizados contra a lei depoimentos indirectos ou depoimentos de entidade policial

Considera que a prova era insuficiente para a condenação, não tendo havido prova directa do crime

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4. IN DUBIO PRO REO

Fundamentação do Tribunal:

O princípio in dubio pro reo vale para a matéria de facto, e não para a matéria de direito

A persistência de dúvida razoável após a produção da prova tem de actuar em sentido favorável ao arguido e, por conseguinte, conduzir à consequência imposta no caso de se ter logrado a prova completa da circunstância favorável ao arguido

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4. IN DUBIO PRO REO

Só pode sindicar a aplicação do princípio in dubio pro reo, se da decisão resulta que o tribunal recorrido ficou na dúvida em relação a qualquer facto e que, nesse estado de dúvida, decidiu contra o arguido

Todas as deficiências que Leonor aponta à decisão são problemas autónomos, que não consubstanciam uma violação deste princípio

o tribunal nunca ficou em dúvida quanto aos factos dados como provados

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5. RECONSTITUIÇÃO

É um dos meios de prova configurados no código de processo penal, no artigo 150º nº1.

Deve ser valorado segundo as regras de experiência e a livre convicção da entidade competente.

Foi requerido pelo Ministerio Público, o visionamento em audiência de julgamento da gravação em vídeo da reconstituição dos factos.

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5. RECONSTITUIÇÃO

Artigo 356.º

Leitura permitida de autos e declarações

1 - Só é permitida a leitura em audiência de autos:

a) Relativos a actos processuais levados a cabo nos termos dos artigos 318.º, 319.º e 320.º; ou

b) De instrução ou de inquérito que não contenham declarações do arguido, do assistente, das partes civis ou de testemunhas.

(…)

8 - A visualização ou a audição de gravações de actos processuais só é permitida quando o for a leitura do respectivo auto nos termos dos

números anteriores.

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5. RECONSTITUIÇÃO

A colaboração de um dos arguidos no ato de reconstituição suscita um problema de compatibilização com a prova por alegações:

Insere-se a prova adquirida na reconstituição nos

autos de inquérito e instrução, cuja leitura não é permitida em audiência por conter declarações dos arguidos?

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5. RECONSTITUIÇÃO

STJ decide: Não haver qualquer obstáculo à reprodução do acto de

reconstituição em audiência de julgamento. Esta constitui uma prova autónoma, que não se confunde

com a prova por declarações. O discurso verbal emitido pelo arguido João nessa sessão

de reconstituição não se configura no conceito jurídico de “declaração”, mas apenas como ato instrumental à recriação do acontecimento.

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5. RECONSTITUIÇÃO

As palavras não são o ponto crucial do acto de reconstituição, a linguagem gestual e corporal assume primacial relevância.

Pelo contrario, as declarações não prescindem de palavras.

Auto de reconstituição não se reconduz ao auto de declarações.

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5. RECONSTITUIÇÃO

Informações prestadas voluntariamente pelo arguido, sem sujeição a qualquer tipo de coacção física ou moral, integram-se num meio de prova autónomo,

Estão para além do círculo de proteção do direito ao silêncio.

Este apenas tem o alcance de não colocar o arguido sob a obrigação de prestar declarações que o auto-incriminem.

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5.RECONSTITUIÇÃO

Reconstituição feita por João incrimina Leonor

Estabelece-se um paralelo relativamente às declarações de co-arguido, para o efeito de se lhe aplicar uma exigência acrescida de prova.

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5. RECONSTITUIÇÃO

Tribunal decide que a exigência de corroboração por outros meios de prova, foi satisfeita por toda a prova (ainda que indirecta) que foi produzida conjugadamente.

A reconstituição, por força das demais provas recolhidas, ajusta-se ao facto morte da menor e ainda à produção desse resultado por ambos os arguidos.

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5. RECONSTITUIÇÃO

Arguida invoca a opção pelo silêncio para arguir a violação do princípio da cross examination relativamente às informações decorrentes do acto de reconstituição

Todas as provas foram produzidas em audiência e sujeitas ao contraditório das partes

Decide o Tribunal que tal pretensão está para além do circulo de protecção essencial daquele direito.

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6. DEPOIMENTOS DE ELEMENTOS DA PJ

A arguida contesta a legalidade dos depoimentos da PJ em sede de audiência de julgamento, por se basearem em declarações cuja leitura não é aqui permitida.

Artigo 356.º

Leitura permitida de autos e declarações

7 - Os órgãos de polícia criminal que tiverem recebido declarações cuja leitura não for permitida, bem como quaisquer pessoas que, a qualquer título, tiverem participado na sua recolha, não podem ser inquiridos como testemunhas sobre o conteúdo daquelas

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6. DEPOIMENTOS DE ELEMENTOS DA PJ

Neste caso, os agentes da PJ tomaram conhecimento direto dos factos por meios diferentes das declarações do arguido durante o processo

Mantêm apenas uma posição de observadores relativamente aos factos não fazendo qualquer sentido, à luz da lei, limitar os seus depoimentos