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Concurso Público de Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados Curso de Processo Legislativo (arts. 21 a 24, 44 a 75 e 84 da CF/88) IGEPP Prof. Leo van Holthe MATERIAL EXTRA: 1) Noções Gerais de Direito Constitucional; 2) Organização do Estado (apenas algumas observações de Federação Brasileira); e 3) Constituição como referência para a atividade legislativa (OBSERVAÇÃO: O presente material foi elaborado pelo Prof. Leo van Holthe no ano de 2011 e está sendo distribuído, não a partir de obrigação contratual, mas como uma liberalidade do Prof. para o uso exclusivo dos seus alunos da turma de Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados, razão pela qual o docente não se responsabiliza por eventuais alterações legislativas ou jurisprudenciais que evidenciem uma possível desatualização do seu conteúdo) I NOÇÕES GERAIS DO DIREITO CONSTITUCIONAL 1. Constituição. Conceito. Classificação. Aplicabilidade e interpretação das normas constitucionais 1.1. Constituição A Constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação e à organização do Estado, formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos. Se adotarmos um conceito amplo de Constituição, podemos dizer que todo Estado, mesmo as formas mais incipientes de organização estatal, possuem uma Constituição. Assim é que, em uma organização tribal, poderíamos reconhecer a Constituição como o conjunto de normas, escritas ou costumeiras, acerca dos integrantes dessa tribo (seu povo), sua delimitação geográfica (território), a forma de aquisição e de exercício do poder político, etc. A Constituição, como a concebemos hoje (um documento escrito e supremo que organiza o poder do Estado e limita a sua atuação por meio da separação de poderes e da declaração de direitos fundamentais), surge apenas no final do século XVIII com o movimento denominado constitucionalismo, tendo como origens formais as Constituições norte-americana de 1787 e francesa de 1791. Na antiguidade e na Idade Média, sob a influência dos Estados absolutistas, predominavam as constituições não escritas, excepcionalmente reduzidas em textos esparsos como os pactos, os forais, as cartas de franquia e os contratos de colonização. O eminente jurista lusitano J.J. Gomes Canotilho preleciona que o movimento constitucional do início do século XIX firmou o conceito ideal de Constituição, segundo o qual ela deve conter as seguintes características: a) consagrar um sistema de garantias da liberdade; b) adotar o princípio da divisão dos poderes (protegendo os cidadãos contra os abusos do poder estatal); c) assumir a forma escrita. Ocorre que, se com o surgimento dos Estados liberais as constituições voltavam-se apenas para a estruturação e organização do Estado (no máximo prevendo os direitos fundamentais de liberdade de primeira geração), no contexto atual dos Estados Sociais e Democráticos de Direito (preocupados com a igualdade social e com a legitimidade do poder pautada na soberania popular), os princípios fundamentais da sociedade e as bases de sua estruturação tornaram-se conteúdos essenciais das constituições. Como consequência, os direitos fundamentais (normas mais importantes de uma Constituição), que antes limitavam apenas os poderes públicos, passaram a obrigar também as

I NOÇÕES GERAIS DO DIREITO CONSTITUCIONAL Público de Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados Curso de Processo Legislativo (arts. 21 a 24, 44 a 75 e 84 da CF/88) IGEPP –

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Concurso Público de Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados

Curso de Processo Legislativo (arts. 21 a 24, 44 a 75 e 84 da CF/88)

IGEPP – Prof. Leo van Holthe

MATERIAL EXTRA:

1) Noções Gerais de Direito Constitucional;

2) Organização do Estado (apenas algumas observações de Federação Brasileira); e

3) Constituição como referência para a atividade legislativa

(OBSERVAÇÃO: O presente material foi elaborado pelo Prof. Leo van Holthe no ano de 2011

e está sendo distribuído, não a partir de obrigação contratual, mas como uma liberalidade do

Prof. para o uso exclusivo dos seus alunos da turma de Consultor Legislativo da Câmara dos

Deputados, razão pela qual o docente não se responsabiliza por eventuais alterações legislativas

ou jurisprudenciais que evidenciem uma possível desatualização do seu conteúdo)

I – NOÇÕES GERAIS DO DIREITO CONSTITUCIONAL

1. Constituição. Conceito. Classificação. Aplicabilidade e interpretação das normas

constitucionais

1.1. Constituição

A Constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas

referentes à estruturação e à organização do Estado, formação dos poderes públicos, forma de

governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e

deveres dos cidadãos.

Se adotarmos um conceito amplo de Constituição, podemos dizer que todo Estado,

mesmo as formas mais incipientes de organização estatal, possuem uma Constituição. Assim é

que, em uma organização tribal, poderíamos reconhecer a Constituição como o conjunto de

normas, escritas ou costumeiras, acerca dos integrantes dessa tribo (seu povo), sua delimitação

geográfica (território), a forma de aquisição e de exercício do poder político, etc.

A Constituição, como a concebemos hoje (um documento escrito e supremo que

organiza o poder do Estado e limita a sua atuação por meio da separação de poderes e da

declaração de direitos fundamentais), surge apenas no final do século XVIII com o movimento

denominado constitucionalismo, tendo como origens formais as Constituições norte-americana

de 1787 e francesa de 1791.

Na antiguidade e na Idade Média, sob a influência dos Estados absolutistas,

predominavam as constituições não escritas, excepcionalmente reduzidas em textos esparsos

como os pactos, os forais, as cartas de franquia e os contratos de colonização.

O eminente jurista lusitano J.J. Gomes Canotilho preleciona que o movimento

constitucional do início do século XIX firmou o conceito ideal de Constituição, segundo o

qual ela deve conter as seguintes características:

a) consagrar um sistema de garantias da liberdade;

b) adotar o princípio da divisão dos poderes (protegendo os cidadãos contra os abusos

do poder estatal);

c) assumir a forma escrita.

Ocorre que, se com o surgimento dos Estados liberais as constituições voltavam-se

apenas para a estruturação e organização do Estado (no máximo prevendo os direitos

fundamentais de liberdade – de primeira geração), no contexto atual dos Estados Sociais e

Democráticos de Direito (preocupados com a igualdade social e com a legitimidade do poder

pautada na soberania popular), os princípios fundamentais da sociedade e as bases de sua

estruturação tornaram-se conteúdos essenciais das constituições.

Como consequência, os direitos fundamentais (normas mais importantes de uma

Constituição), que antes limitavam apenas os poderes públicos, passaram a obrigar também as

relações entre os indivíduos (é a chamada ―eficácia horizontal dos direitos fundamentais‖),

demonstrando, na atualidade, a preocupação do Direito Constitucional com a proteção da

sociedade e do indivíduo, não somente em face do Estado, mas, sobretudo, em face da opressão

que resulta das próprias relações sociais – do abuso do poder econômico, das cláusulas abusivas

nos contratos de adesão, da propriedade que não cumpre sua função social, etc.

Assim, as constituições contemporâneas debruçam-se sobre as bases fundamentais não

apenas do Estado, mas também da sociedade.

De acordo com a lição da doutrina, a Constituição é formada pelos seguintes elementos:

a) elementos orgânicos – dispõem sobre a estruturação e organização do Estado. Ex.:

normas dos títulos III (―Da Organização do Estado‖) e IV (―Da Organização dos Poderes‖) da

CF/88;

b) elementos limitativos – contêm os limites da atuação do poder do Estado. Ex.: as

normas do Título II da CF/88 (direitos e garantias fundamentais);

c) elementos sócio-ideológicos – estabelecem as finalidades a serem alcançadas na

ordem econômica e social. Ex.: as normas dos Títulos VII (―Da Ordem Econômica e

Financeira‖) e VIII (―Da Ordem Social‖) da CF;

d) elementos de estabilização constitucional – prescrevem os meios de proteção das

normas constitucionais. Ex.: art. 102, inciso I, ―a‖ (ADI e ADC); art. 103, § 2.º (ADI por

omissão); art. 102, § 1.º (ADPF); arts. 34 a 36 (intervenção federal e estadual); art. 136 (estado

de defesa); arts. 137 a 139 (estado de sítio) e art. 60 (processo especial de emendas à CF –

rigidez constitucional);

e) elementos formais de aplicabilidade – voltados para a aplicação das próprias

normas constitucionais. Ex.: as normas do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias) e o art. 5.º, § 1.º.

1.2. Conceitos de Constituição Existem várias definições para o termo Constituição, sendo certo que a única

unanimidade nesse tema é a ausência de um conceito definitivo, tamanha a diversidade de

experiências constitucionais já vivenciadas. Passemos, então, à análise das concepções mais

tradicionais na doutrina.

a) Sentido sociológico – Para Ferdinand Lassale, a Constituição real e efetiva de um

Estado apenas reflete a realidade social determinada pelos fatores reais de poder - poder

político, poder econômico, cultural, religioso, etc.- que dominam uma sociedade, não passando

a Constituição escrita de mera ―folha de papel‖.

Havendo um conflito entre a Constituição real e efetiva e a Constituição escrita,

prevalecerá sempre a vontade da primeira, diante da predominância dos reais fatores de poder,

que vem a ser o que realmente importa para essa corrente doutrinária.

b) Sentido político – Segundo Carl Schmitt, a Constituição é a decisão política

fundamental, consistindo em um conjunto de decisões sobre o modo e a forma de existência da

unidade política. A Constituição encontraria, então, seu fundamento de validade em uma

decisão política que a antecede, e não na norma jurídica (teoria decisionista).

Para Carl Schmitt, existe uma diferença entre Constituição “propriamente dita”, que

se refere às decisões políticas fundamentais: estrutura e órgãos do estado, direitos individuais,

regime democrático, etc.; e “leis constitucionais”, que são os demais dispositivos inscritos no

texto constitucional que não contêm matéria de decisão política fundamental (vide o art. 242, §

2.º, da CF como exemplo típico de mera lei constitucional).

A concepção política da Constituição é que inspira a distinção doutrinária entre normas

materialmente constitucionais em contraposição às formalmente constitucionais: enquanto as

primeiras conteriam as decisões políticas mais importantes do país, as últimas seriam

constitucionais pelo simples fato de estarem inseridas no texto da Lei Maior, independente do

seu conteúdo – correspondendo às ―leis constitucionais‖.

c) Sentido jurídico – Para Hans Kelsen, a Constituição é norma jurídica pura, puro

dever-ser, dissociado de qualquer fundamento sociológico, político ou filosófico. Apesar de

reconhecer que o direito é baseado em fatores sociais e políticos, o mestre austríaco entende que

tais influências serão estudadas pela filosofia ou pela sociologia jurídicas, as quais não se

confundem com a ciência do direito, que se debruça exclusivamente sobre a norma pura.

Kelsen concebe a Constituição em dois sentidos:

1.º) o lógico-jurídico – a Constituição significa a norma hipotética fundamental,

servindo de fundamento lógico-transcendental de validade para a Constituição ―jurídico-

positiva‖;

2.º) o jurídico-positivo – é a norma positiva suprema, lei nacional no seu mais alto

grau, encontrando-se no vértice do ordenamento jurídico e servindo como fundamento de

validade para todas as outras leis.

Segundo Kelsen, o ordenamento jurídico é formado por um escalonamento de normas,

sendo que as inferiores encontram seu fundamento de validade nas superiores, numa relação de

verticalidade hierárquica, até se chegar à Constituição (Lei de maior hierarquia jurídica), que,

por sua vez, encontra fundamento de validade na norma hipotética fundamental.

d) Teoria da força normativa da Constituição (Konrad Hesse) – Para essa teoria,

que surgiu como contraponto à concepção sociológica de Ferdinand Lassale, a Constituição não

é uma mera ―folha de papel‖ ou simples reflexo dos ―fatores reais de poder‖. Ao contrário, e

como toda norma jurídica, a Constituição tem força ativa para mudar a realidade.

É importante ressaltar que Hesse não nega a força dos fatores reais de poder social, mas

defende que, no eventual conflito entre esses fatores de poder e a constituição escrita, nem

sempre haverá predominância do primeiro, considerando que não se deve menosprezar o valor

normativo de uma Constituição e a sua força para mudar a realidade social.

Para Hesse, a força normativa de uma Constituição depende da chamada “vontade de

constituição” (que vem a ser a disposição dos indivíduos de orientar a própria conduta segundo

a ordem estabelecida na Lei Maior). Essa vontade será tão mais intensa, quanto a Constituição

tiver espelhado os valores essenciais da comunidade política, captando o seu espírito.

e) Teoria da sociedade aberta dos intérpretes da Constituição (Peter Häberle) –

Para essa teoria, a interpretação da Constituição não deve se limitar aos seus intérpretes formais

(ex.: Poder Judiciário) nem aos procedimentos formalizados (modelo de ―sociedade fechada‖

dos intérpretes constitucionais).

Ao contrário, propõe-se que a interpretação da Constituição esteja vinculada a um

modelo de ―sociedade aberta‖ dos intérpretes constitucionais, não limitado aos órgãos estatais,

mas acessível a todas as forças da comunidade política (cidadãos, associações, partidos

políticos, igrejas, sindicatos, grupos de pressão organizados, opinião pública, etc.), por se

entender que todas essas potências públicas que vivem no contexto regulado pela Constituição

são participantes ativos do seu processo hermenêutico.

Nesse sentido, Peter Häberle propõe uma democratização da hermenêutica

constitucional, compreendendo a Constituição como um documento aberto à interpretação dos

órgãos estatais, da doutrina constitucional e dos mais diversos atores da vida social.

1.3. Classificação das Constituições

a) Quanto ao conteúdo - Constituição material ou substancial: conjunto de normas,

inseridas ou não em um documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização

dos seus órgãos e os direitos fundamentais. Ou seja, Constituição do ponto de vista material

apenas se refere às normas ―tipicamente‖, ―essencialmente‖ constitucionais1 x Constituição

formal: conjunto de normas inseridas no texto constitucional, independente do seu conteúdo.

Devemos ressaltar que a Constituição formal é necessariamente escrita e rígida.

Assim, podemos conceituá-la como o conjunto de normas, reduzidas sob a forma escrita em um

ou mais documentos, solenemente estabelecidas pelo poder soberano, por meio de um processo

legislativo mais dificultoso, diferenciado e mais solene do que o processo legislativo de

formação das demais normas do ordenamento.

b) Quanto à forma - Constituição escrita: conjunto de normas escritas, elaboradas por

um órgão constituinte, encerrando todas as normas constitucionais. A doutrina ressalta o seu

efeito racionalizador, estabilizante e de segurança para o ordenamento jurídico,

1 Ressalte-se que Constituição material no sentido amplo é a própria organização de um Estado, o seu regime

político. Sob esse aspecto, todo Estado tem uma Constituição, pois, se ele existe de certo modo, sob uma forma,

qualquer que seja esse seu modo de existir é a sua Constituição. Já no sentido estrito, Constituição material é o

conjunto de normas, escritas ou não, que tratam das matérias tipicamente constitucionais (organização do Estado,

forma de governo e direitos fundamentais do homem).

denominando-a de “Constituição Instrumental”. Subdivide-se em: codificada (sistematizada

em um único documento) ou legal (contida em mais de um documento legal) x Constituição

não escrita, histórica, consuetudinária ou costumeira: é aquela cujas normas não constam de

um documento único e solene, baseando-se nos costumes, jurisprudência e em textos esparsos

(exemplo: Constituição inglesa)2.

c) Quanto à origem – Constituição democrática, promulgada, popular ou votada:

caracterizada pela participação popular. Origina-se dos trabalhos de uma Assembléia Nacional

Constituinte, composta por representantes do povo, eleitos para essa finalidade. Exs.:

constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946, 1988 x Constituição outorgada: são as

elaboradas sem a participação popular, impostas pelo ditador de plantão (exs.: Constituições

brasileiras de 1824, 1937, 1967 e EC n. 1/69) x Constituição pactuada, mista ou dualista:

oriunda de um pacto celebrado entre dois ou mais titulares do poder constituinte. Ex.: Magna

Carta da Inglaterra de 1215, quando se entendeu que o poder constituinte encontrava-se dividido

entre os barões do reino e o rei João Sem Terra x Constituição cesarista, bonapartista,

plebiscitária ou referendária: são constituições outorgadas que se submetem a uma consulta

popular posterior ou anterior para que sejam aprovadas. Nesses casos, não ocorre uma

participação popular efetiva, pois o plebiscito ou referendo serve apenas para ratificar a vontade

do detentor do poder. Exemplos: Constituições precedidas de plebiscitos napoleônicos e de

plebiscitos no Chile de Pinochet.

d) Quanto ao modo de elaboração - Constituição dogmática: constituição

necessariamente escrita, elaborada em um momento solene por um órgão constituinte

convocado para esse fim, respeitando os dogmas da teoria política e jurídica dominantes. Ex.:

todas as Constituições brasileiras x Constituição histórica: constituição necessariamente não

escrita, fruto da lenta e contínua síntese histórica, da tradição e dos fatos políticos. Exemplo:

Constituição inglesa.

e) Quanto à estabilidade, alterabilidade ou mutabilidade - Constituição imutável: não

prevê nenhum processo de alteração x Constituição fixa: estabelece que somente pode ser

alterada por obra do próprio poder constituinte originário (isso, em verdade, resultaria não em

alteração, mas em elaboração de uma nova Constituição) x Constituição rígida: prevê, para a

sua modificação, um procedimento solene, mais difícil do que o previsto para a alteração da

legislação comum x Constituição flexível: prevê, para a sua modificação, o mesmo

procedimento observado para as leis infraconstitucionais x Constituição semirrígida ou

semiflexível – parte rígida, parte flexível. Ex.: CF brasileira de 18243.

f) Quanto à extensão - Constituição breve, concisa ou sintética: Constituição de

poucos artigos, que prevê somente os princípios e as normas gerais de estruturação e limitação

do poder do Estado. Tende a ser mais duradoura (ex.: Constituição dos EUA, de 1787) x

Constituição longa, prolixa ou analítica: Constituição extensa, que aborda e regula todos os

assuntos que considera relevantes à formação e funcionamento do Estado (ex.: CF/88).

g) Quanto à finalidade - Constituição-garantia (também chamada de negativa): seu

objetivo principal reside na limitação do poder do Estado por meio da previsão de um sistema

de garantia das liberdades públicas (ex.: Constituição dos EUA). Essa Constituição também é

chamada de negativa, considerando que ela limitava-se à previsão das liberdades negativas ou

liberdades-impedimento, que são os típicos direitos de 1.ª geração x Constituição-dirigente:

pretende ser um plano normativo global, que determina tarefas, programas de atuação futura e

fins para o Estado. Caracteriza-se, também, por conter muitas ―normas programáticas‖ em seu

texto (ex.: CF/88) x Constituição-balanço: preocupa-se apenas em retratar uma situação

existente, voltada, portanto, para o mundo do ―ser‖ e não para o mundo do ―dever-ser‖ (ao

contrário da Constituição dirigente, que impõe finalidades para o Estado) (ex.: Constituições

2 Notem que a característica principal da Constituição não escrita consiste no fato de ela não se basear

exclusivamente em textos legais, o que não impede a existência de textos escritos esparsos. Assim, a Constituição não

escrita (costumeira ou histórica) é aquela que se baseia na história e na tradição de um povo, nos costumes, nas

convenções constitucionais, na jurisprudência e, eventualmente, em textos escritos (ex.: a Constituição da Inglaterra

baseia-se na história do seu povo, nos costumes, na jurisprudência e também em textos esparsos – ex.: a Magna Carta

de 1215). 3 À exceção da Constituição de 1824 (semirrígida), todas as outras Constituições brasileiras foram rígidas.

soviéticas de 1924, 1936 e 1977, as quais pretenderam apenas refletir o grau de evolução do

compromisso socialista da antiga URSS).

h) Quanto à ideologia - Constituição ortodoxa ou simples: formada por uma ideologia

única (ex.: Constituições soviéticas) x Constituição eclética, pluralista ou compromissória –

abriga diversas ideologias, que são conciliadas na Lei Maior, por obra do compromisso entre

forças políticas diferentes (ex.: CF/88).

i) Quanto ao objeto - Constituição liberal: limita-se à organização do Estado e à

previsão de direitos civis e políticos, não contendo normas relativas à ordem econômica e social.

É associada ao Estado Liberal de Direito e predominou nos séculos XVIII e XIX (a primeira

Constituição liberal foi a norte-americana de 1787) x Constituição social: contém normas

relativas à ordem econômica e social, buscando o bem-estar da coletividade. Há previsão de

mecanismos de intervenção do Estado na economia, a fim de combater o abuso do poder

econômico e promover uma política de desenvolvimento social. É associada ao welfare state e

aos Estados da social-democracia, predominando a partir do século XX (a primeira Constituição

social foi a mexicana de 1917).

j) Quanto à concordância entre as normas constitucionais e a realidade política

(classificação ontológica de Karl Loewenstein) - Constituição normativa – possui grande

eficácia, uma vez que a dinâmica do poder efetivamente se submete às normas constitucionais

(ex.: CF dos EUA) x Constituição semântica – as normas constitucionais não dominam o

processo político nem há essa vontade. Em verdade, a Constituição semântica não passa de uma

―fachada‖, mera formalização do poder político dominante, servindo exclusivamente aos

detentores do poder e típica de Estados autoritários (exs: CF brasileiras de 1937 e 1967, com a

Emenda de 1969) x Constituição nominal – as normas constitucionais também não dominam o

processo político, existindo, porém, a pretensão de que no futuro haja concordância entre as

normas constitucionais e a realidade política (conservando a Constituição um caráter educativo

e prospectivo). Exs.: CF brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988.

A Constituição brasileira de 1988 pode ser classificada como uma Constituição: formal,

escrita, dogmática, promulgada, rígida, analítica, dirigente, eclética, social e nominalista.

Compõem a estrutura da CF/88:

a) Preâmbulo - é a parte precedente da Constituição, considerado como um documento

de intenções ou proclamação de princípios. Não possui valor normativo (não é norma

constitucional), apesar de possuir valor interpretativo e integrativo, podendo condicionar a

interpretação e a aplicação de toda a parte dogmática e das disposições transitórias.

b) Parte dogmática – é o texto articulado da Constituição, do art. 1.º ao art. 250.

c) Disposições transitórias (ADCT) – fazem a integração entre a nova ordem

constitucional e a que foi substituída, estabelecendo as regras de transição entre as duas

constituições. Possuem também normas constitucionais temporárias (ex.: CPMF – arts. 74 e 75).

O ADCT faz parte do texto constitucional, podendo trazer exceções às regras contidas na parte

dogmática.

d) Emendas constitucionais – apesar de, normalmente, as emendas alterarem o texto

constitucional, na parte dogmática ou no ADCT, muitas emendas constitucionais apresentam

artigos autônomos que não se encontram inseridos na sequência dos artigos da CF, mas que

possuem igualmente força de norma constitucional (ex.: art. 2.º da EC n.º 32/01).

e) Tratados internacionais de direitos humanos com força constitucional – de

acordo com o art. 5.º, § 3.º, da CF/88, acrescentado pela EC n.º 45/04, os tratados internacionais

de direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois

turnos de discussão e votação, obtendo em cada um desses turnos a aprovação de três quintos

dos respectivos parlamentares, serão equivalentes às emendas constitucionais e, portanto, fazem

parte do texto formal da CF/88 (ex.: a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência e seu protocolo facultativo, aprovado no Congresso Nacional pelo Decreto

Legislativo n.º 186/08 e promulgado pelo Decreto presidencial n.º 6.949/09).

1.4. Normas constitucionais: aplicabilidade e interpretação

As normas jurídicas possuem duas espécies de eficácia: a eficácia social ou

efetividade, relacionada com a real observância da norma no meio social, e a eficácia jurídica,

que diz respeito à aplicabilidade e exigibilidade da norma, i.e., sua capacidade para produzir os

efeitos próprios das normas jurídicas.

Todas as normas constitucionais possuem eficácia jurídica, i.e., são aptas a produzir

os efeitos próprios das normas jurídicas. Já em relação à eficácia social, José Afonso da Silva

classifica as normas constitucionais em normas de eficácia plena, normas de eficácia contida e

normas de eficácia limitada. Vejamos cada uma delas:

a) Normas constitucionais de eficácia plena – são aquelas que, desde a entrada em

vigor da Constituição, produzem ou têm possibilidade de produzir todos os efeitos essenciais,

relativamente aos interesses que o legislador constituinte quis regular, porquanto já dotadas de

normatividade suficiente. Possuem aplicabilidade imediata, direta e integral e eficácia social

plena. São exemplos: art. 1.º, art. 5.º, caput, e incisos XXXV e XXXVI, art. 60, §§ 1.º e 4.º, e

art. 69, todos da CF/88.

b) Normas constitucionais de eficácia contida (redutível ou restringível) – são

normas igualmente dotadas de força normativa suficiente para produzir todos os seus efeitos

essenciais.

Porém, diferentemente das normas de eficácia plena, o próprio texto da norma de

eficácia contida deixa margem a que sua incidência venha a ser restringida posteriormente, nos

termos em que o legislador infraconstitucional estabelecer ou diante de conceitos gerais nela

enunciados. A restrição dessas normas ainda pode ocorrer por força de outras normas

constitucionais.

Portanto, na lição de J. Afonso da Silva, a norma de eficácia contida pode ser

restringida:

a) por ―conceitos gerais e abstratos‖ nela enunciados (denominados de conceitos ético-

jurídicos), tais como: ordem pública, segurança nacional, bons costumes, necessidade ou

utilidade pública, etc., resultando em limitação da eficácia do seu conteúdo quando de sua

aplicação no caso concreto (exs.: CF, art. 136 e art. 34, I);

b) por obra do legislador infraconstitucional (exs.: CF, art. 5.º, VIII e XIII);

c) por obra de outras normas constitucionais (ex.: o direito de reunião e o sigilo de

correspondência podem ser restringidos em caso de decretação de estado de defesa – CF, art.

136, § 1.º, III).

As normas constitucionais de eficácia contida possuem aplicabilidade imediata e

direta, mas possivelmente não integral; e eficácia social contida ou redutível.

c) Normas constitucionais de eficácia limitada – são aquelas que apresentam

aplicabilidade mediata ou indireta (também chamada de reduzida ou diferida), porque

somente incidem totalmente sobre os interesses que regulam após uma legislação ulterior que

lhes desenvolva a aplicabilidade. Temos como exemplos o art. 7.º, incisos XX e XXVII, art.

192, art. 215, art. 218, todos da CF/88.

Para José Afonso da Silva, as normas de eficácia limitada subdividem-se em normas

constitucionais de princípio institutivo e normas constitucionais de princípio programático.

Normas constitucionais de princípio institutivo são aquelas que traçam esquemas gerais

de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos, para que o legislador ordinário

os estruture em definitivo, mediante lei. De acordo com José Afonso, as normas de princípio

institutivo podem facultar a elaboração de uma legislação integrativa (ex.: CF, art. 125, § 7.º)

ou obrigar o legislador à emissão dessa legislação (ex.: CF, art. 125, § 6.º).

Por sua vez, as normas constitucionais de princípio programático ou, simplesmente,

normas programáticas explicitam verdadeiros ―comandos-valores‖, programas de atuação

futura, fins a serem perseguidos pelo Estado. Exs.: arts. 215 e 218 da CF. Os direitos sociais, em

regra, vêm previstos na forma de ―normas programáticas‖.

Essas normas costumam ser muito cobradas em concursos públicos, em razão da nossa

CF/88 ser uma ―constituição-dirigente‖, repleta de normas-programa. Essas normas

caracterizam-se por prescrever finalidades, programas de governo para o Estado (ex: promover

o desenvolvimento científico, dar saúde, educação, direitos culturais, etc.), sem especificar os

meios de sua realização. Apesar de uma parcela da doutrina negar a força jurídica dessas

normas, a doutrina majoritária (seguida pela jurisprudência do STF – RE 271286 AgR/RS) já

pacificou que as normas programáticas obrigam todos os poderes públicos, condicionando a

atividade do Executivo, do Legislativo e do Judiciário às finalidades nelas contidas.

Para dar efetividade às normas constitucionais limitadas, carentes de complementação

legislativa, a CF/88 previu os institutos da ADI por omissão e do mandado de injunção, a serem

estudados em momento oportuno.

Embora menos cobrada em concursos, destacamos a classificação de normas

constitucionais quanto à sua eficácia social da professora Maria Helena Diniz:

1) normas supereficazes ou com eficácia absoluta (caracterizadas pela intangibilidade,

não podendo o poder constituinte derivado restringi-las indevidamente – são as cláusulas

pétreas previstas no art. 60, § 4.º, da CF);

2) normas com eficácia plena (equivalem às normas de eficácia plena da classificação

proposta por José Afonso da Silva);

3) normas com eficácia relativa restringível (correspondem às normas de eficácia

contida);

4) normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação

legislativa (correspondem às normas de eficácia limitada).

1.4.1. Interpretação das normas constitucionais São princípios de hermenêutica constitucional:

a) Princípio da unidade da Constituição – como princípio mais importante de

interpretação constitucional, ele impõe que a Carta Magna seja entendida como uma unidade

de sentido, sem a possibilidade de reconhecimento de hierarquia jurídica entre as normas

constitucionais. Com isso, as normas constitucionais devem ser consideradas no seu conjunto,

privilegiando-se uma interpretação sistemática. Ainda, diante desse princípio, o Brasil não

aceita a teoria alemã das ―normas constitucionais inconstitucionais‖4.

b) Princípio do efeito integrador – a interpretação constitucional deve favorecer a

integração política e social, fim último de uma Constituição.

c) Princípio da justeza, correção ou conformidade funcional – a interpretação

constitucional deve respeitar o ―esquema organizatório-funcional‖ (princípio da separação de

poderes) estabelecido na CF/88.

d) princípio da concordância prática ou da harmonização – os bens jurídicos

protegidos pela Constituição devem ser harmonizados no caso concreto, evitando o sacrifício

total de uns em relação aos outros.

e) princípio da força normativa da Constituição e da máxima efetividade ou da

eficiência – esses princípios exigem que a interpretação conceda à norma constitucional o

sentido que lhe dê a maior eficácia.

f) princípio da interpretação das leis em conformidade com a Constituição: as leis

devem ser interpretadas conforme a Constituição e não o contrário, diante do princípio da

supremacia constitucional.

A Constituição não pode ser interpretada a partir da legislação ordinária, sob pena de

ferir de morte o princípio da supremacia da Constituição. Além disso, a lei não pode pretender

interpretar a Constituição (criada pelo Poder Constituinte), daí se dizer que é inadmissível a

interpretação autêntica da Constituição (feita pelo legislador ordinário)5.

4 No direito alemão, inspirado nos ideais jusnaturalistas, admite-se que uma norma da Constituição originária seja

declarada inconstitucional com base em outra norma da Constituição que se coloque mais próxima dos chamados

―direitos naturais do homem‖ (teoria da norma constitucional inconstitucional – Otto Bachof). No Brasil, entendemos

que todas as normas originárias da Constituição de 1988 consistem em decisões políticas fundamentais tomadas pelos

representantes do povo, não cabendo falar em declaração de sua inconstitucionalidade. Portanto, não há, na

Constituição brasileira de 1988, normas constitucionais superiores e inferiores ou hierarquia jurídica dentro da

Carta Magna, devendo o intérprete considerar a Constituição como uma unidade de sentido. 5 Não devemos confundir essa afirmação (a de que não é admissível a interpretação autêntica da Constituição feita

pelo legislador ordinário) com o cabimento das “leis interpretativas” que realizem uma interpretação autêntica da

obra do próprio legislador ordinário. Nesse sentido, a jurisprudência do STF admite a validade de tais leis

interpretativas, que fazem a interpretação autêntica de outras leis anteriores (interpretação autêntica, aqui referida, é

aquela realizada pelo próprio órgão que edita o ato interpretado). O STF entende que essas leis interpretativas,

elaboradas pelo Poder Legislativo, não usurpam as atribuições institucionais do Judiciário e, em consequência, não

ofendem o postulado fundamental da divisão funcional do poder (ADI 605/DF).

Em verdade, a ―interpretação conforme a Constituição‖ é, ao mesmo tempo, princípio

de hermenêutica constitucional e técnica de decisão de controle de constitucionalidade.

Como técnica de decisão, a ―interpretação conforme‖ é utilizada quando uma norma

admite mais de uma interpretação (normas ―plurisignificativas‖), sendo que algumas afrontam o

texto constitucional, enquanto outras não. Nesse caso, o princípio da supremacia

constitucional (ou da prevalência da Constituição) e a presunção de constitucionalidade

das leis (também chamada de preservação das normas) exigem que seja dada preferência

àquela(s) interpretação(ões) que se harmonize(m) com a Carta Política, evitando a retirada da

norma inferior do ordenamento jurídico.

Ressalte-se que, na técnica da interpretação conforme a Constituição, o Poder Judiciário

somente pode atuar como legislador negativo (restringindo os sentidos possíveis da norma, sem

criar uma interpretação não prevista pelo legislador). Com isso, se a lei não tiver alguma

interpretação compatível com a Constituição, ela deve ter sua inconstitucionalidade declarada,

não sendo o caso de utilização desta técnica.

Por outro lado, são considerados métodos de interpretação constitucional:

a) Método jurídico ou hermenêutico-clássico: parte da premissa de que a Constituição

é uma lei, devendo ser interpretada pelos métodos clássicos de hermenêutica utilizados para as

leis em geral (gramatical, lógico, sistemático, teleológico, etc.).

b) Método tópico-problemático: entendendo que a Constituição é um sistema

normativo aberto, admitindo mais de um significado possível, deve o intérprete partir do

problema (i.e., do caso concreto, e não da norma em abstrato), analisando os pontos de vista

possíveis (os ―topoi‖, de acordo com o pensamento tópico), a fim de escolher a melhor solução

para aquele caso específico.

c) Método científico-espiritual: considerando que a Constituição é um instrumento de

integração social e política, deve o intérprete guiar-se pelos valores que formam a essência, o

―espírito da Constituição‖ (ex.: os direitos fundamentais, a forma de Estado, o regime de

governo, etc.), a fim de realizar a unidade sociopolítica pretendida pela Lei das Leis.

d) Método hermenêutico-concretizador: parte da premissa de que a leitura de

qualquer texto normativo, inclusive o texto da Constituição, começa pela “pré-compreensão”

do intérprete, o qual deve concretizar a norma, levando em consideração o contexto histórico

em que se encontra inserido.

e) Método normativo-estruturante: parte da premissa de que existe uma implicação

necessária entre ―programa normativo‖ (os preceitos jurídicos) e o ―âmbito normativo‖ (a

realidade que eles pretendem regular), e que a interpretação da Constituição não deve se

limitar ao texto legal (considerado apenas como a ponta de um ―iceberg‖), devendo igualmente

levar em conta os fatos da realidade social que a Constituição pretendeu regular.

f) Método da comparação constitucional: consiste na confrontação entre pontos

comuns e divergentes entre sistemas constitucionais de diferentes países ou entre as sucessivas

constituições de um mesmo Estado, sendo considerado como um recurso a mais à disposição do

hermeneuta. Esse método trabalha com o chamado ―direito comparado constitucional‖.

1.5. Questões de concursos anteriores 1. (ESAF.APO.SEFAZ.SP.09) Assinale a opção correta relativa à classificação da Constituição Federal de 1988.

a) É costumeira, rígida, analítica.

b) É parcialmente inalterável, outorgada, sintética.

c) É rígida, outorgada, analítica.

d) É rígida, parcialmente inalterável, promulgada.

e) É flexível, promulgada, analítica.

2. (ESAF.AFC.CGU.05) Na concepção de constituição em seu sentido político, formulada por Carl Schmmitt, há

uma identidade entre o conceito de constituição e o conceito de leis constitucionais, uma vez que é nas leis

constitucionais que se materializa a decisão política fundamental do Estado.

3. (ESAF.AFRF.2002) Assinale a opção correta.

a) É típico de uma Constituição dirigente apresentar em seu corpo normas programáticas.

b) Uma lei ordinária que destoa de uma norma programática da Constituição não pode ser considerada

inconstitucional.

c) Uma norma constitucional programática, por representar um programa de ação política, não possui eficácia

jurídica.

d) Uma Constituição rígida não pode abrigar normas programáticas em seu texto.

e) Toda Constituição semirrígida, por decorrência da sua própria natureza, será uma Constituição histórica.

4. (ESAF.AFRF.2003) Da Constituição em vigor pode ser dito que corresponde ao modelo de Constituição escrita,

dogmática, promulgada e rígida.

5. (ESAF.Analista Jurídico.SEFAZ.CE.2006) Sobre a classificação das Constituições e o Sistema Constitucional

vigente, assinale a única opção correta.

a) A Constituição Federal de 1988 é considerada, em relação à estabilidade, como semirrígida, na medida em que a

sua alteração exige um processo legislativo especial.

b) No que se refere à origem, a Constituição Federal de 1988 é considerada outorgada, haja vista ser proveniente de

um órgão constituinte composto de representantes eleitos pelo povo.

c) A constituição escrita apresenta-se como um conjunto de regras sistematizadas em um único documento. A

existência de outras normas com status constitucional, per se, não é capaz de descaracterizar essa condição.

d) As constituições dogmáticas, como é o caso da Constituição Federal de 1988, são sempre escritas, e apresentam,

de forma sistematizada, os princípios e ideias fundamentais da teoria política e do direito dominante à época.

e) Nas constituições materiais, como é o caso da Constituição Federal de 1988, as matérias inseridas no documento

escrito, mesmo aquelas não consideradas ―essencialmente constitucionais‖, possuem status constitucional.

6. (CESPE.MP.RN.09) A Carta outorgada em 10 de novembro de 1937 é exemplo de texto constitucional colocado a

serviço do detentor do poder, para seu uso pessoal. É a máscara do poder. É uma Constituição que perde

normatividade, salvo nas passagens em que confere atribuições ao titular do poder. Numerosos preceitos da Carta de

1937 permaneceram no domínio do puro nominalismo, sem qualquer aplicação e efetividade no mundo das normas

jurídicas. Raul Machado Horta. Direito constitucional. 2.a ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p. 54-5 (com

adaptações). Considerando a classificação ontológica das constituições, assinale a opção que apresenta a categoria

que se aplica à Constituição de 1937, conforme a descrição acima.

A constituição semântica

B constituição dogmática

C constituição formal

D constituição outorgada

E constituição ortodoxa.

7. (CESPE.Auditor.ES.04) O preâmbulo da Constituição Federal, por não trazer disposições de ordem político-

estruturais do Estado, não é considerado texto constitucional propriamente dito.

8. (ESAF.Auditor Fiscal do Trabalho. 2003) Analise as assertivas a seguir, relativas à eficácia das normas

constitucionais e às concepções de constituição, e marque com V as verdadeiras e com F as falsas; em seguida,

marque a opção correta.

( ) Segundo a melhor doutrina, as normas de eficácia contida são de aplicabilidade direta e imediata, no entanto,

podem ter seu âmbito de aplicação restringido por uma legislação futura, por outras normas constitucionais ou por

conceitos ético-jurídicos.

( ) Segundo a melhor doutrina, as normas constitucionais de eficácia limitada são do tipo normas declaratórias de

princípios institutivos quando: determinam ao legislador, em termos peremptórios, a emissão de uma legislação

integrativa; ou facultam ao legislador a possibilidade de elaborar uma lei, na forma, condições e para os fins

previstos; ou possuem esquemas gerais, que dão a estrutura básica da instituição, órgão ou entidade a que se referem,

deixando para o legislador ordinário a tarefa de estruturá-los, em definitivo, mediante lei.

( ) A concepção de constituição, defendida por Konrad Hesse, não tem pontos em comum com a concepção de

constituição defendida por Ferdinand Lassale, uma vez que, para Konrad Hesse, os fatores históricos, políticos e

sociais presentes na sociedade não concorrem para a força normativa da constituição.

( ) Para Hans Kelsen, a norma fundamental, fato imaterial instaurador do processo de criação das normas positivas,

seria a constituição em seu sentido lógico-jurídico.

( ) A constituição, na sua concepção formal, seria um conjunto de normas legislativas que se distinguem das não

constitucionais em razão de serem produzidas por processo legislativo mais dificultoso, o qual pode se materializar

sob a forma da necessidade de um órgão legislativo especial para elaborar a Constituição – Assembléia Constituinte –

ou sob a forma de um quorum superior ao exigido para a aprovação, no Congresso Nacional das leis ordinárias.

a) V, F, V, F, V

b) V, F, F, V, V

c) F, V, V, V, F

d) F, F, F, V, V

e) V, V, F, V, V

9. (CESPE.Juiz.TRF5.09) Acerca do conceito, dos elementos e da classificação da CF, do poder constituinte e da

hermenêutica constitucional, assinale a opção correta.

A De acordo com o princípio da força normativa da constituição, defendida por Konrad Hesse, as normas jurídicas e

a realidade devem ser consideradas em seu condicionamento recíproco. A norma constitucional não tem existência

autônoma em face da realidade. Para ser aplicável, a CF deve ser conexa à realidade jurídica, social e política, não

sendo apenas determinada pela realidade social, mas determinante em relação a ela.

B Segundo Kelsen, a CF não passa de uma folha de papel, pois a CF real seria o somatório dos fatores reais do poder.

Dessa forma, alterando-se essas forças, a CF não teria mais legitimidade.

C A CF admite emenda constitucional por meio de iniciativa popular.

D Segundo Pedro Lenza, os elementos limitativos da CF estão consubstanciados nas normas constitucionais

destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições

democráticas.

E Constituição rígida é aquela que não pode ser alterada.

10. (ESAF.ARFR.2002.2) Um direito previsto numa norma constitucional de eficácia contida pode ser restringido por

meio de lei ordinária.

11. (ESAF.AFRF.2003) A norma constitucional programática, porque somente delineia programa de ação para os

poderes públicos, não é considerada norma jurídica.

12. (ESAF.AFC.CGU.05) Uma norma constitucional de eficácia limitada não produz seus efeitos essenciais com a

sua simples entrada em vigor, porque o legislador constituinte não estabeleceu sobre a matéria, objeto de seu

conteúdo, uma normatividade suficiente, deixando essa tarefa para o legislador ordinário ou para outro órgão do

Estado.

13. (VUNESP.Proc. Munic.São Carlos.SP.09) Sobre a eficácia das normas constitucionais, assinale a alternativa

incorreta.

(A) A entrada em vigor de uma norma constitucional programática implica a proibição de que sejam produzidas

normas ulteriores que contrariem o programa por ela estabelecido.

(B) As normas de eficácia contida são de aplicabilidade indireta e mediata, já que o direito nelas previsto é

imediatamente exercitável, desde a promulgação da Constituição.

(C) As normas definidoras de princípio institutivo são as que traçam esquemas gerais de estruturação e atribuições de

órgãos, entidades ou institutos.

(D) As normas constitucionais de princípio programático são as que traçam princípios a serem cumpridos pelos

órgãos do Estado.

(E) A entrada em vigor de uma norma constitucional programática implica a revogação de todas as disposições em

sentido contrário aos seus comandos.

14. (ESAF.ACE.TCU.05) Quando o intérprete, na resolução dos problemas jurídico-constitucionais, dá primazia aos

critérios que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política, pode-se afirmar que, no trabalho

hermenêutico, ele fez uso do princípio da conformidade funcional.

15. (CESPE.Analista.ANAC.09) Entre os diversos princípios que regem a interpretação das normas constitucionais, a

doutrina relaciona o da máxima efetividade ou eficiência, o qual preceitua que a uma norma constitucional deve ser

atribuído o sentido que maior eficácia lhe conceda.

16. (CESPE.Técnico.TRE.GO.09) Esse método parte da premissa de que existe uma relação necessária entre o texto e

a realidade, entre preceitos jurídicos e os fatos que eles intentam regular. Para Müller, na tarefa de interpretar-

concretizar a norma constitucional, o intérprete/aplicador deve considerar tanto os elementos resultantes da

interpretação do texto (programa normativo), como os decorrentes da investigação da realidade (domínio normativo).

Isso porque, partindo do pressuposto de que a norma não se confunde com o texto normativo, afirma Müller que o

texto é apenas a ‗ponta do iceberg‘; mas a norma não compreende apenas o texto, pois abrange também ―um pedaço

de realidade social‖, sendo esta talvez a parte mais significativa que o intérprete/aplicador deve levar em conta para

realizar o direito. Dirley da Cunha Júnior. Curso de Direito Constitucional. 2.ª ed. Salvador: Editora Juspodivum,

2008, p. 214. (com adaptações). O trecho acima descreve o método de interpretação constitucional denominado

A método normativo-estruturante.

B método tópico-problemático.

C método hermenêutico-clássico.

D método científico-espiritual.

17. (ESAF.AFRF.09) Marque a opção incorreta.

a) A constituição escrita, também denominada de constituição instrumental, aponta efeito racionalizador,

estabilizante, de segurança jurídica e de calculabilidade e publicidade.

b) A constituição dogmática se apresenta como produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a partir de

princípios e ideias fundamentais da teoria política e do direito dominante.

c) O conceito ideal de constituição, o qual surgiu no movimento constitucional do século XIX, considera como um de

seus elementos materiais caracterizadores que a constituição não deve ser escrita.

d) A técnica denominada interpretação conforme não é utilizável quando a norma impugnada admite sentido unívoco.

e) A constituição sintética, que é constituição negativa, caracteriza-se por ser construtora apenas de liberdade-

negativa ou liberdade-impedimento, oposta à autoridade.

18. (CESPE.Analista.INCA.2010) Para Carl Schmitt, a constituição de um Estado deveria ser a soma dos fatores reais

de poder que regem a sociedade. Caso isso não ocorra, ele a considera como ilegítima, uma simples folha de papel.

19. (CESPE.Analista. Adm. TRE/BA.2010) Toda constituição é necessariamente escrita e representada por um texto

solene e codificado.

20. (CESPE Analista.Jud.TRE.MT.2010) Quanto à sua mutabilidade, a CF pode ser classificada como semirrígida,

uma vez que não pode ser alterada com a mesma simplicidade com que se modifica uma lei.

21. (CESPE Analista Jud TRE MT 2010) A CF é um exemplo de constituição outorgada, visto que foi elaborada por

representantes legítimos do povo.

22. (CESPE Analista Jud TRE MT 2010) Segundo a classificação ontológica de Karl Loewenstein, as constituições

podem ser divididas em normativas, nominais ou semânticas, conforme o grau de correspondência entre a pretensão

normativa dos seus preceitos e a realidade do processo de poder.

23. (CESPE Analista Jud TRE MT 2010) Quanto à ideologia, a CF é classificada pela doutrina como ortodoxa.

24. (CESPE Analista Jud TRE MT 2010) A CF foi elaborada sob influxo dos costumes e transformações sociais. Sua

confecção é fruto da evolução histórica das tradições do provo brasileiro, sendo, por isso, classificada como uma

constituição histórica.

25. (CESPE Analista Téc-Adm MS 2010) Em um país que possua uma constituição flexível, caso seja editada uma

lei com conteúdo contrário ao texto constitucional, essa lei será válida e acarretará alteração da Constituição.

26. (CESPE.Técnico.MPU.2010) As normas de eficácia plena não exigem a elaboração de novas normas legislativas

que lhes completem o alcance e o sentido ou lhes fixem o conteúdo; por isso, sua aplicabilidade é direta, ainda que

não integral.

27. (CESPE.Analista Processual.MPU.2010) As normas de eficácia contida permanecem inaplicáveis enquanto não

advier normatividade para viabilizar o exercício do direito ou benefício que consagram; por isso, são normas de

aplicação indireta, mediata ou diferida.

28. (CESPE.Analista Processual.MPU.2010) As normas constitucionais de eficácia limitada são desprovidas de

normatividade, razão pela qual não surtem efeitos nem podem servir de parâmetro para a declaração de

inconstitucionalidade.

29. (CESPE.Analista.MPU.2010) O livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que atendidas as

qualificações profissionais que a lei estabelecer, é norma constitucional de eficácia contida; portanto, o legislador

ordinário atua para tornar exercitável o direito nela previsto.

30. (CESPE.Analista de Infraestrutura.MPOG.2010) O dispositivo constitucional que estabelece ser livre o exercício

de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais instituídas em lei, constitui exemplo

de norma de eficácia limitada.

31. (CESPE.Analista de Infraestrutura.MPOG.2010) Constitui exemplo de norma de eficácia plena o preceito

constitucional que garante aos maiores de 65 anos de idade a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.

32. (CESPE.Procurador.AGU.2010) De acordo com entendimento do STF, configura exemplo de norma

constitucional programática o preceito constitucional segundo o qual a política agrícola deve ser planejada e

executada na forma da lei, com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo tanto produtores e

trabalhadores rurais, como setores de comercialização, de armazenamento e de transportes.

33. (CESPE.Analista.INCA.2010) O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias não possui a mesma natureza

jurídica das normas constitucionais inseridas na Constituição Federal de 1988 (CF), razão pela qual é de hierarquia

inferior a estas.

34. (CESPE.Analista Jud.TRE/BA.2010) No tocante à aplicabilidade, de acordo com a tradicional classificação das

normas constitucionais, são de eficácia limitada aquelas em que o legislador constituinte regula suficientemente os

interesses concernentes a determinada matéria, mas deixa margem à atuação restritiva por parte da competência

discricionária do poder público, nos termos em que a lei estabelecer ou na forma dos conceitos gerais nela previstos.

35. (CESPE Analista Téc-Adm MS 2010) Os artigos que tratam da estrutura e organização do Estado são normas

constitucionais formais.

36. (CESPE Analista Téc-Adm MS 2010) Para que se possa identificar uma norma constitucional de eficácia

limitada, é suficiente observar a expressão ―nos termos da lei‖, prevista no texto constitucional.

37. (CESPE Analista Téc-Adm MS 2010) A distinção hierárquica entre normas constitucionais é inadmissível perante

a Constituição.

38. (CESPE.Defensor Público.DPU.2010) Os direitos sociais previstos na Constituição, por estarem submetidos ao

princípio da reserva do possível, não podem ser caracterizados como verdadeiros direitos subjetivos, mas, sim, como

normas programáticas. Dessa forma, esses direitos devem ser tutelados pelo poder público, quando este, em sua

análise discricionária, julgar favoráveis as condições econômicas e administrativas.

39. (CESPE.Analista.INCA.2010) Normas constitucionais de aplicabilidade reduzida ou de eficácia limitada são

aquelas normas que necessitam da promulgação de uma lei infraconstitucional para produzir os seus efeitos, podendo

ser classificadas em normas constitucionais de princípio institutivo e normas constitucionais de princípio

programático.

40. (CESPE.Analista Processual.MPU.2010) Na interpretação extensiva da lei, são aplicados os princípios de

adequação e proporcionalidade entre os termos empregados e o espírito da norma.

41. (CESPE.Oficial Técnico em Direito.ABIN.2010) Entre os métodos compreendidos na hermenêutica

constitucional inclui-se o tópico problemático, que consiste na busca da solução partindo-se do problema para a

norma.

42. (CESPE.Analista - Especialização: Advocacia.SERPRO.2010) A técnico de decisão denominada interpretação

conforme a constituição deve ser utilizada quando uma norma admite mais de uma interpretação, uma com violação

ao texto constitucional, outra não, devendo prevalecer a hermenêutica que esteja harmonizada com o texto

constitucional, de forma a evitar a declaração de inconstitucionalidade da norma.

43. (CESPE.Procurador.AGU.2010) Pelo princípio da concordância prática ou harmonização, na hipótese de eventual

conflito ou concorrência entre bens jurídicos constitucionalizados, deve-se buscar a coexistência entre eles, evitando-

se o sacrifício total de um princípio em relação ao outro.

44. (CESPE.Procurador.AGU.2010) O método hermenêutico-concretizador caracteriza-se pela praticidade na busca

da solução dos problemas, já que parte de um problema concreto para a norma.

45. (CESPE.Analista Judiciário.Área Jud.TRE/BA.2010) A técnica da interpretação conforme a constituição permite

a manutenção, no ordenamento jurídico, de leis e atos normativos que possuam valor interpretativo compatível com o

texto constitucional.

46. (ESAF AFT 2010) Praticamente toda a doutrina constitucionalista cita os princípios e regras de interpretações

enumeradas por Canotilho. Entre os princípios e as regras de interpretação abaixo, assinale aquele(a) que não foi

elencado por Canotilho.

a) Unidade da constituição.

b) Da máxima efetividade ou da eficiência.

c) Da supremacia eficaz.

d) Do efeito integrador.

e) Da concordância prática ou da harmonização.

47. (CESPE.Analista Judiciário.Execução de Mandatos.STM.2011) Consideram-se normas de eficácia absoluta os

preceitos constitucionais intangíveis, que são inalteráveis mesmo por meio de propostas de emendas constitucionais.

48. (VUNESP.Advogado.CRM/SP.2011) Analise as seguintes disposições da Constituição Federal:

I. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

II. É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei

estabelecer.

III. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas.

IV. Conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em

sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

Considerando a doutrina clássica brasileira sobre a eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais, pode-se

afirmar que as disposições acima reproduzidas são classificadas, respectivamente, como normas de eficácia

(A) contida, plena, programática e plena.

(B) plena, limitada, plena e contida.

(C) limitada, plena, plena e contida.

(D) plena, plena, contida e programática.

(E) plena, contida, limitada e plena.

49. (VUNESP.Advogado.CRM/SP.2011) Dentro da hermenêutica constitucional, o princípio de interpretação

constitucional que exige a coordenação e combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o sacrifício

total de uns em relação aos outros denomina-se princípio

(A) da unidade da Constituição.

(B) do efeito integrador.

(C) da máxima efetividade.

(D) da concordância prática.

(E) da conformidade funcional.

50. (CESPE.Analista Judiciário.Execução de Mandatos.STM.2011) Consideram-se normas de eficácia absoluta os

preceitos constitucionais intangíveis, que são inalteráveis mesmo por meio de propostas de emendas constitucionais.

51. (VUNESP.Advogado.CRM/SP.2011) Analise as seguintes disposições da Constituição Federal:

I. São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

II. É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei

estabelecer.

III. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas.

IV. Conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em

sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

Considerando a doutrina clássica brasileira sobre a eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais, pode-se

afirmar que as disposições acima reproduzidas são classificadas, respectivamente, como normas de eficácia

(A) contida, plena, programática e plena.

(B) plena, limitada, plena e contida.

(C) limitada, plena, plena e contida.

(D) plena, plena, contida e programática.

(E) plena, contida, limitada e plena.

52. (VUNESP.Advogado.CRM/SP.2011) Dentro da hermenêutica constitucional, o princípio de interpretação

constitucional que exige a coordenação e combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o sacrifício

total de uns em relação aos outros denomina-se princípio

(A) da unidade da Constituição.

(B) do efeito integrador.

(C) da máxima efetividade.

(D) da concordância prática.

(E) da conformidade funcional.

53. (CESPE - 2011 - EBC - Analista – Advocacia) As normas previstas no Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias possuem natureza de norma constitucional.

54. (CESPE - 2011 - EBC - Analista – Advocacia) O preâmbulo da Constituição Federal não faz parte do texto

constitucional propriamente dito e não possui valor normativo.

55. (CESPE - 2011 - Correios - Analista de Correios – Advogado) O preâmbulo constitucional estabelece as

diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da CF, razão pela qual pode servir de elemento de interpretação e de

paradigma comparativo em eventual ação de declaração de inconstitucionalidade.

56. (CESPE - 2011 - IFB - Professor – Direito) Entre as normas constitucionais de eficácia exaurida, incluem- se

dispositivos constantes das disposições constitucionais transitórias.

57. (CESPE - 2011 - IFB - Professor – Direito) As normas constitucionais de eficácia plena podem, em regra geral,

ser revistas pelo poder reformador.

58. (CESPE - 2011 - IFB - Professor – Direito) Enquanto, nas normas de eficácia contida, as leis podem restringir-

lhes o alcance, nas normas de eficácia limitada, o seu alcance poderá ser ampliado.

59. (CESPE - 2011 - STM - Analista Judiciário - Execução de Mandados) Consideram-se normas de eficácia absoluta

os preceitos constitucionais intangíveis, que são inalteráveis mesmo por meio de propostas de emendas

constitucionais.

60. (CESPE - 2011 - TJ-PB – Juiz) Com relação ao objeto, aos elementos e aos tipos de constituição, assinale a opção

correta.

a) Quanto ao modo de elaboração, a vigente CF pode ser classificada como uma constituição histórica, em oposição à

dita dogmática.

b) O objeto da CF é a estrutura fundamental do Estado e da sociedade, razão por que somente as normas relativas aos

limites e às atribuições dos poderes estatais, aos direitos políticos e individuais dos cidadãos compõem a Constituição

em sentido formal.

c) Por limitarem a atuação dos poderes estatais, as normas que regulam a ação direta de inconstitucionalidade e o

processo de intervenção nos estados e municípios integram os elementos ditos limitativos.

d) Os elementos formais de aplicabilidade são exteriorizados nas normas constitucionais que prescrevem as técnicas

de aplicação delas próprias, como, por exemplo, as normas inseridas no Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias.

e) Distintamente da constituição analítica, a constituição dirigente tem caráter sintético e negativo, pois impõe a

omissão ou negativa de ação ao Estado e preserva, assim, as liberdades públicas.

61. (CESPE - 2011 - Correios - Analista de Correios – Advogado) Quanto a sua extensão e finalidade, a constituição

sintética examina e regulamenta todos os assuntos que reputa relevantes à formação, à destinação e ao funcionamento

do Estado.

62. (CESPE - 2011 - TJ-ES - Analista Judiciário – Direito) A concepção sociológica, elaborada por Ferdinand

Lassale, considera a Constituição como sendo a somatória dos fatores reais de poder, isto é, o conjunto de forças de

índole política, econômica e religiosa que condicionam o ordenamento jurídico de determinada sociedade.

63. (CESPE - 2011 - TRE-ES - Técnico Judiciário - Área Administrativa) Denomina-se constituição outorgada a

elaborada e estabelecida com a participação do povo, normalmente por meio de Assembleia Nacional Constituinte.

Gabarito: 1 – D; 2 – E; 3 – A; 4 – C; 5 – D; 6 – A; 7 – C; 8 – E; 9 – A; 10 – C; 11 – E; 12 – C; 13 – B; 14 – E; 15 –

C; 16 – A; 17 – C; 18 – E; 19 – E; 20 – E; 21 – E; 22 – C; 23 – E; 24 – E; 25 – C; 26 – E; 27 – E; 28 – E; 29 – E; 30 –

E; 31 – C; 32 – C; 33 – E; 34 – E; 35 – E; 36 – E; 37 – C; 38 – E; 39 – C; 40 – E; 41 – C; 42 – C; 43 – C; 44 – E; 45 –

C; 46 – C; 47 – C; 48 – E; 49 – D; 50 – C; 51 –E; 52 – D; 53 – C; 54 – C; 55 – E; 56 – C; 57 – C; 58 – C; 59 – C; 60

– D; 61 – E; 62 – C; 63 – E.

2. Poder Constituinte. Conceito, finalidade, titularidade e espécies. Reforma da

Constituição. Cláusulas Pétreas

2.1. Conceito e finalidade

Poder constituinte é o poder capaz de estabelecer as normas constitucionais: sejam as de

uma nova Constituição – poder constituinte originário – sejam as que modificam uma Carta já

existente – poder constituinte derivado –, com o objetivo principal de conferir legitimidade ao

ordenamento jurídico de um Estado.

Considerando um conceito moderno de Constituição – documento jurídico escrito,

dotado de supremacia e limitador do poder do Estado, por meio da adoção da separação dos

poderes e pela previsão de direitos fundamentais –, a ideia de poder constituinte é

contemporânea das Constituições escritas e formais do século XVIII (notadamente a norte-

americana de 1787 e a francesa de 1791).

Nesse sentido estrito, a teoria do poder constituinte é atribuída ao Abade de Sieyès, que

em sua obra Quést-ce lê Tiers Etát? (―O que é o Terceiro Estado?‖), publicada em janeiro de

1789 (no calor da revolução francesa!), diferenciava o poder constituinte, que constitui o

Estado e é fonte de todos os poderes públicos, dos poderes constituídos – Legislativo,

Executivo e Judiciário –, os quais derivam do primeiro, sendo essa diferenciação decisiva para a

afirmação da supremacia da Constituição.

2.2. Titularidade

Se nos Estados absolutistas prevalecia o entendimento de que todo o poder (inclusive o

poder constituinte) vem de Deus (teoria da soberania divina), sob a influência das teorias

democráticas, afirma-se que todo o poder emana do povo ou da nação (dividindo-se, portanto,

em teoria da soberania popular e nacional).

Apesar de o Abade de Sieyès ter defendido que todo o poder emanava da Nação

francesa (entendida como entidade abstrata, desvinculada das pessoas que a compõem), a

doutrina moderna entende que a titularidade do poder constituinte reside no povo, conforme

preceitua o art. 1.º, parágrafo único, da CF/886.

2.3. Exercício

A doutrina estabelece uma distinção entre quem titulariza e quem exercita o poder de

elaborar as normas constitucionais. Isso é porque, apesar de o povo ser o titular do poder

constituinte, seu exercício cabe a representantes do povo (chamados de agentes do poder

constituinte) que, em nome dele, criam o Estado, editando a nova Constituição.

Tal exercício pode ocorrer de forma democrática, quando os representantes do povo

são eleitos para compor uma Convenção ou Assembléia Nacional Constituinte; ou de forma

outorgada, quando determinado grupo revolucionário se investe na qualidade de representante

6 Na lição de Michel Temer, povo é o conjunto de brasileiros natos e naturalizados catalogados no art. 12 da CF/88

(povo = brasileiros natos + naturalizados).

do povo, oportunidade em que ocorre verdadeira usurpação da titularidade e do exercício do

poder constituinte.

2.4. Espécies: poder constituinte originário e derivado

Como classificação mais importante para concursos, destacamos que o poder

constituinte divide-se em:

a) originário, que é o poder de elaborar uma nova Constituição de um Estado; e

b) derivado, que se debruça sobre uma Constituição já existente, quer alterando-a

(poder constituinte derivado reformador), quer complementando-a (poder constituinte derivado

decorrente).

2.5. Poder constituinte originário

O poder constituinte originário (também chamado de genuíno, inicial, inaugural ou de

1.º grau) é o poder político que elabora uma nova Constituição de um Estado, organizando-o e

estabelecendo os poderes que passarão a reger a comunidade.

2.5.1. Características

O poder constituinte originário (PCO) possui as seguintes características:

a) Inicial – porque não se funda em nenhum outro poder e é dele que derivam os

demais poderes. Ao criar uma nova Constituição, o poder constituinte originário inaugura uma

ordem jurídica completamente renovada (o PCO é a base da ordem jurídica).

b) Ilimitado juridicamente (ou autônomo) – ao fundar um novo ordenamento

jurídico, o PCO não sofre limitações do Direito positivo anterior, podendo ignorar por

completo a Constituição até então vigente (inclusive cláusulas pétreas, acaso existentes).

Não obstante o poder constituinte originário desconhecer limites jurídicos, parte da

doutrina reconhece determinados limites extrajurídicos ou metajurídicos a esse poder7.

c) Incondicionado – ao elaborar uma nova Constituição, o poder constituinte originário

não tem de seguir formas ou procedimentos pré-determinados, podendo agir livremente.

d) Permanente – o PCO não se esgota com a realização da Constituição. Seu titular (o

povo) pode, a qualquer momento, decidir pela criação de uma nova Carta.

e) Extraordinário – a manifestação do PCO, que dá origem a um novo ordenamento

jurídico, é fato incomum, excepcional.

2.5.2. Formas de expressão

Apesar de o PCO ser incondicionado, não existindo formas pré-fixadas para a sua

realização, existem historicamente dois modelos:

a) Assembléia Nacional Constituinte (ANC) – também chamada de Convenção,

composta de representantes do povo, devidamente eleitos para essa finalidade8, resultando numa

Constituição democrática – PC democrático.

b) Outorga – quando um movimento revolucionário usurpa o poder constituinte

pertencente ao povo e impõe unilateralmente uma Constituição – PC outorgado.

2.6. Poder constituinte derivado

O poder constituinte derivado (também denominado de secundário, de segundo grau,

constituído ou instituído) é o poder de reformar ou de complementar uma Constituição já

existente.

O poder de reformar a Constituição resulta da necessidade de reajustar periodicamente

o texto constitucional, diante da evolução das relações sociais e da dinâmica da vida humana. Já

o poder de complementar a Lei Maior decorre do princípio federativo e permite que estados-

membros e o Distrito Federal complementem a Carta Federal por meio da elaboração de

constituições estaduais e da Lei Orgânica do DF.

2.6.1. Localização

7 Nesse sentido, ao elaborar uma nova Constituição, o poder constituinte inaugural deveria respeitar a configuração

histórica do Estado – Federação, República, etc., – os direitos humanos, os compromissos internacionais assumidos,

as instituições arraigadas (família, propriedade, etc.), a ideologia e os valores dominantes na sociedade, sob pena de a

Constituição não passar de ―letra morta‖, não obtendo adesão da comunidade política que pretende regular. 8 Os representantes da ANC são eleitos exclusivamente para elaborar o novo pacto social, razão pela qual a ANC

deve ser dissolvida logo após a finalização dos seus trabalhos. Daí que a titularidade popular do poder constituinte é

permanente, enquanto o seu exercício pelos representantes do povo é temporário e se dissolve com a elaboração da

Constituição.

O poder constituinte derivado (PCD) está inserido na própria Constituição, vez que é

instituído por normas constitucionais originárias (é o próprio PCO quem estabelece as formas

pelas quais a Constituição pode ser alterada ou complementada). Portanto, conhece limitações

constitucionais expressas e implícitas e é passível de controle de constitucionalidade.

2.6.2. Características do PCD

O poder constituinte derivado possui as seguintes características:

a) Derivado – é um poder de direito, juridicamente estabelecido pelo poder

constituinte originário e, portanto, dele derivado.

b) Subordinado (limitado juridicamente) – o PCD está subordinado, limitado às

regras do texto constitucional, as quais não pode contrariar, sob pena de inconstitucionalidade9.

c) Condicionado – o PCD é limitado e somente pode agir nas condições e formas

fixadas pelo PCO.

2.6.3. Espécies: PCD reformador e decorrente

2.6.3.1. PCD reformador

O poder constituinte derivado reformador (ou poder de reforma constitucional) consiste

na possibilidade de se alterar o texto da Constituição. Essas alterações podem ser pontuais

(emenda constitucional – art. 60 da CF/88) ou globais (revisão constitucional – art. 3.º do

ADCT). O poder constituinte derivado reformador foi atribuído, no Brasil, ao Congresso

Nacional (vide os referidos arts. 60 da CF e 3.º do ADCT).

A doutrina ressalta que as mudanças em uma Constituição podem ocorrer por um

processo formal ou por um processo informal. Daí a necessidade de diferenciarmos os conceitos

de: reforma constitucional e mutação constitucional.

Reforma constitucional é o processo formal de mudança das Constituições rígidas em

que se altera o texto formal da Lei Maior, mediante o respeito a determinadas formalidades.

Como vimos, tais alterações podem ser pontuais ou globais (emenda ou revisão), mas sempre

resultam na modificação do texto formal da Constituição.

Mutação constitucional é o processo informal de alteração das Constituições rígidas,

em que a mudança ocorre no sentido e no alcance de suas normas, e não em seu texto formal. A

mutação resulta dos usos e costumes constitucionais, bem como da evolução da interpretação

das normas da Constituição feita pela jurisprudência, pela doutrina e por todas as forças sociais

que, ao interpretarem a Lei Maior, provocam alterações na significação de suas normas.

2.6.3.1.1. Limites ao poder de reformar a Constituição

Como visto, o PCD reformador é um poder jurídico, estabelecido pelo PCO, e submete-

se a limites jurídicos por ele impostos, sob pena de inconstitucionalidade. A doutrina classifica

os limites ao poder de reformar a Constituição em limites materiais (explícitos e implícitos),

circunstanciais e procedimentais (ou formais).

2.6.3.1.1.1. Limites materiais

Os limites materiais (denominados de cláusulas pétreas) dizem respeito a determinados

assuntos que formam a identidade e o espírito da CF/88 e que, por isso, não podem ser

restringidos indevidamente pelo poder de reforma constitucional. Dividem-se em expressos ou

implícitos.

2.6.3.1.1.1.1. Limites materiais expressos

As limitações materiais expressas (cláusulas pétreas expressas) estão contidas no art.

60, § 4.º, da CF/88. Essas matérias representam a identidade, o núcleo inegociável da CF

(também denominadas de cláusulas de eternidade), e traduzem aqueles conteúdos que o

legislador constituinte originário, por entender serem as decisões políticas mais importantes do

Estado brasileiro, colocou a salvo do poder constituinte reformador.

Sobre as cláusulas pétreas expressas, fazemos as seguintes observações:

1.a) As matérias contidas no art. 60, § 4.º, apesar de chamadas de cláusulas pétreas,

podem ser modificadas por emendas constitucionais (ex.: as ECs 05/95, 15/96 e 46/04

9 Relembremos que, diante do princípio da unidade da Constituição, não existe relação de hierarquia jurídica entre

as normas constitucionais. Apenas, a diferença entre o poder constituinte originário e o derivado possibilita que as

normas constitucionais derivadas submetam-se ao controle de constitucionalidade, a fim de se analisar se o legislador

constituinte derivado efetivamente observou os limites jurídicos que lhe são impostos (a serem estudados em breve).

alteraram dispositivos da Federação brasileira). O que o PCD reformador não pode fazer é

tender a abolir, i.e., restringir indevidamente, violar a essência de qualquer dessas matérias,

para que não haja alteração substancial da identidade da CF/88.

2.a) A proposta tendente a abolir (ainda que indiretamente) qualquer das cláusulas

pétreas não pode ser objeto nem de deliberação (discussão e votação) no Congresso Nacional

(releia o art. 60, § 4.º, da CF!).

3.a) A jurisprudência do STF (muito cobrada em concursos públicos) entende que os

direitos individuais protegidos pelo art. 60, § 4.º, inciso IV, da CF não são apenas os contidos no

rol do art. 5.º da Constituição, mas também outros direitos fundamentais de índole individual

previstos ao longo do texto constitucional, inclusive nos capítulos dos direitos sociais, nacionais

e políticos, bem como os direitos decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Carta

Política (CF, art. 5.º, § 2.º)10

.

2.6.3.1.1.1.2. Limites materiais implícitos

Além dos limites materiais expressamente previstos pelo PCO, a doutrina aponta a

existência de limites materiais implícitos ou inerentes, que não estão escritos expressamente no

texto constitucional (e que são conhecidos como cláusulas pétreas implícitas).

Nesse sentido, entende-se implicitamente que o PC reformador não pode modificar a

titularidade do poder constituinte, originário e derivado. O PC reformador, de forma

implícita, também não pode modificar as normas que prevêem as limitações expressas (todo o

art. 60 da CF/88 – incluindo o art. 60, § 4.º, e o art. 3.º do ADCT). Isso é porque o PC

reformador não pode alterar as limitações impostas a ele mesmo, sob pena de atuar

irregularmente como PCO.

2.6.3.1.1.2. Limites circunstanciais

Determina o art. 60, § 1.º, da CF/88 que não pode haver alteração constitucional na

vigência de estado de sítio, estado de defesa e intervenção federal. É que, nessas

circunstâncias excepcionais, o estado de comoção nacional ou de calamidade pública poderia

levar à introdução de normas descabidas na Carta da República.

2.6.3.1.1.3. Limites procedimentais ou formais

Os limites procedimentais ou formais ao PC reformador consistem nas regras de

processo legislativo – iniciativa, discussão, votação, promulgação e publicação – previstas para

as emendas constitucionais (CF, art. 60, caput e §§ 2.º, 3.º e 5.º) e para a revisão constitucional

(art. 3.º do ADCT).

2.6.3.2. Poder constituinte derivado decorrente (poder constituinte estadual)

O poder constituinte derivado decorrente consiste na possibilidade que os estados-

membros e o DF têm de se auto-organizarem (i.e., de estabelecerem a sua organização

fundamental), por meio de constituições estaduais e da Lei Orgânica do Distrito Federal

(LODF). Ele encontra-se previsto no art. 11 do ADCT e no art. 25 da parte permanente da

CF/88.

Tal poder não se destina propriamente a alterar o texto da Constituição Federal, mas a

complementar o seu conteúdo, permitindo a elaboração das constituições das entidades

componentes do Estado Federativo (o PC decorrente possui, portanto, uma relação direta com a

forma federativa de Estado).

2.6.3.2.1. Limites ao PC decorrente

Sendo o PC decorrente um poder jurídico, derivado do originário, deve respeitar os

limites impostos pela Constituição Federal. O art. 11 do ADCT exige das cartas estaduais a

obediência aos ―princípios‖ da CF/88. A doutrina classifica os princípios da CF/88 limitadores

do poder constituinte decorrente em:

a) princípios constitucionais sensíveis - assim chamados porque se relacionam com

aspectos fundamentais da organização da Federação e porque a sua violação possibilita a

decretação da intervenção da União na entidade federativa que os desrespeitar, a fim de

10

Exemplificando, na ADI 939/DF, o STF considerou que o princípio da anterioridade tributária (CF, art. 150, III,

―b‖) é uma cláusula pétrea, por configurar um direito individual do contribuinte, reconhecendo, portanto, um direito

fundamental pétreo fora do rol do art. 5.º da CF.

restabelecer o equilíbrio federativo. Estão previstos no art. 34, VII, alíneas “a” a “e”, da

CF/88.

b) Os princípios constitucionais estabelecidos (ou organizatórios) - trazem limitações

expressas e implícitas à capacidade de auto-organização das entidades federativas. Ex.: art. 37,

que obriga as unidades federativas à observância dos princípios da Administração Pública.

c) Os princípios constitucionais extensíveis - são aqueles voltados textualmente para a

União, mas que devem ser também respeitados pelas demais entidades federativas. Exs.: as

normas sobre o processo legislativo (art. 59 e ss.) e sobre orçamento (art. 165 e ss.).

2.7. Fenômenos de Direito Constitucional intertemporal

Com o advento de uma nova Constituição, surge o problema de compatibilizar o seu

texto com as normas infraconstitucionais produzidas sob a égide da Constituição anterior.

Vejamos alguns fenômenos citados pela doutrina que procuram equacionar os problemas

surgidos quando duas constituições se sucedem no tempo.

2.7.1. Recepção

O fenômeno da recepção consiste em um processo automático de verificação da

compatibilidade entre as leis anteriores e uma nova Constituição, a fim de atestar quais atos

normativos continuam em vigor, sob a égide do ordenamento jurídico inaugurado pela nova

Carta Magna.

Nesse sentido e nos termos da jurisprudência consolidada do STF, as normas

infraconstitucionais anteriores a uma nova Constituição, cujo conteúdo revele-se incompatível

com o texto da nova Carta, são consideradas revogadas tacitamente, ocorrendo o fenômeno da

não recepção dessas normas.

A contrario sensu, todas as normas inferiores produzidas antes de uma nova

Constituição, cujo conteúdo não a ofender, serão automaticamente consideradas recepcionadas

pela nova Carta.

É importante ter em mente que o fenômeno da recepção apenas se refere aos aspectos

materiais – ao conteúdo – da norma, e não aos seus aspectos formais. Ex.: a Lei n.º 5.172/66 (o

Código Tributário Nacional), quanto aos seus dispositivos que tratam das matérias previstas no

art. 146, I a III, da CF/88, foram recepcionados com força de lei complementar.

Ressalte-se, por fim, que o fenômeno da recepção também ocorre com as leis

produzidas antes de uma emenda constitucional. Assim, publicada uma emenda à CF/88, as leis

anteriores a ela que se mostrarem compatíveis com o seu conteúdo serão consideradas

recepcionadas pela alteração constitucional. Já as materialmente incompatíveis serão tidas por

revogadas.

2.7.2. Repristinação

O fenômeno da repristinação ocorre quando uma norma infraconstitucional que não foi

recepcionada por uma nova Carta Política volta a viger pelo surgimento de uma Constituição

posterior. Seria o caso de uma norma produzida sob a égide da Constituição de 1946 que não é

recepcionada pela CF/67, mas que não se incompatibiliza com a CF/88.

A repristinação constitucional não é um fenômeno automático, dependendo de previsão

expressa no texto supremo. A CF/88 não o adotou.

2.7.3. Desconstitucionalização

Ocorre o fenômeno da desconstitucionalização quando uma nova Constituição

recepciona certos dispositivos da Carta anterior, não como normas constitucionais, mas como

leis ordinárias. Tal fenômeno também não é automático, devendo ser previsto expressamente na

nova Carta. A CF/88 não o adotou.

2.8. Questões de concursos anteriores 01. (ESAF.AFRF.09) Marque a opção correta.

a) O Poder Constituinte Originário é ilimitado e autônomo, pois é a base da ordem jurídica.

b) O Poder Constituinte Derivado decorrente consiste na possibilidade de alterar-se o texto constitucional,

respeitando-se a regulamentação especial prevista na própria Constituição Federal e será exercitado por determinados

órgãos com caráter representativo.

c) A outorga, forma de expressão do Poder Constituinte Originário, nasce da deliberação da representação popular,

devidamente convocada pelo agente revolucionário.

d) O Poder Constituinte Derivado decorre de uma regra jurídica de autenticidade constitucional.

e) A doutrina aponta a contemporaneidade da ideia de Poder Constituinte com a do surgimento de Constituições

históricas, visando, também, à limitação do poder estatal.

02. (ESAF.Analista Jurídico.SEFAZ.CE.2006) Sobre o poder constituinte originário e o poder constituinte derivado,

assinale a única alternativa correta.

a) A revisão constitucional prevista por uma Assembléia Nacional Constituinte, possibilita ao poder constituinte

derivado a alteração do texto constitucional, com menor rigor formal e sem as limitações expressas e implícitas

originalmente definidas no texto constitucional.

b) Entre as características do poder constituinte originário destaca-se a possibilidade incondicional de atuação, ou

seja, a Assembléia Nacional Constituinte não está sujeita a forma ou procedimento pré-determinado.

c) O poder constituinte derivado decorrente é aquele atribuído aos parlamentares no processo legiferante, em que são

discutidas e aprovadas leis, observadas as limitações formais e materiais impostas pela Constituição.

d) O poder emanado do constituinte derivado reformador, que é fundado na possibilidade de alteração do texto

constitucional, não é passível de controle de constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal.

e) O titular do poder constituinte é aquele que, em nome do povo, promove a instituição de um novo regime

constitucional ou promove a sua alteração.

03. (ESAF.ACE.TCU.2006) Sobre poder constituinte, interpretação constitucional e emendas constitucionais,

assinale a assertiva correta.

a) Para o positivismo jurídico, o poder constituinte originário tem natureza jurídica, sendo um poder de direito, uma

vez que traz em si o gérmen da ordem jurídica.

b) Segundo a doutrina majoritária, no caso brasileiro, não há vedação à alteração do processo legislativo das emendas

constitucionais, pelo poder constituinte derivado, uma vez que a matéria não se enquadra entre as hipóteses que

constituem as cláusulas pétreas estabelecidas pelo constituinte originário.

c) Na aplicação do princípio da interpretação das leis em conformidade com a Constituição, o intérprete deve

considerar, no ato de interpretação, o princípio da prevalência da constituição e o princípio da conservação das

normas.

d) Quando o intérprete, na resolução dos problemas jurídico-constitucionais, dá primazia aos critérios que favoreçam

a integração política e social e o reforço da unidade política, pode-se afirmar que, no trabalho hermenêutico, ele fez

uso do princípio da conformidade funcional.

e) A matéria constante de proposta de emenda à Constituição rejeitada só poderá ser objeto de uma nova proposta, na

mesma legislatura, se tiver o apoiamento de três quintos dos membros de qualquer das Casas.

04. (CESPE.Auditor.MG.09) Acerca do poder constituinte, da origem e dos tipos de Constituição, julgue os itens a

seguir.

I O poder constituinte originário é um poder inicial e incondicionado, que pode desconsiderar de maneira absoluta o

ordenamento constitucional preexistente, inclusive as cláusulas pétreas.

II O poder constituinte derivado reformador é exercido pelo Congresso Nacional, sujeito aos limites explicitados pelo

constituinte originário.

III Em sentido material, a Constituição compreende as normas constitucionais, escritas ou costumeiras, inseridas ou

não em um documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos e os direitos

fundamentais.

IV Quanto à sua origem, a CF é outorgada, tendo sido elaborada por representantes eleitos pelo povo de forma livre e

soberana.

V Considera-se Constituição analítica aquela que exige formalidades e exigências mais rígidas para sua alteração.

Estão certos apenas os itens

A I, II e III.

B I, II e IV.

C I, III e V.

D II, III e IV.

E III, IV e V.

05. (CESPE.Advogado.IPAJM/ES.2010) A teoria do poder constituinte foi esboçada por Emmanuel Sieyès e

aperfeiçoada por constitucionalistas franceses. O ponto fundamental dessa teoria é o de que ela só pode ser aplicada

nos Estados em que se adotam constituições não escritas e semirrígidas.

06. (CESPE.Advogado.IPAJM/ES.2010) Segundo a doutrina, apesar de o poder constituinte ser originário, a história

revela experiências no sentido da indispensabilidade de observância de certos princípios, como, por exemplo o

princípio da dignidade da pessoa humana, o da justiça, o da liberdade e o da igualdade , quando da criação de uma

nova constituição.

07. (CESPE.Promotor de Justiça.MP/SE.2010) Tratando-se de mutação constitucional, o texto da constituição

permanece inalterado, e alteram-se apenas o significado e o sentido interpretativo de determinada norma

constitucional.

08. (CESPE.Analista.INCA.2010) O processo de mutação constitucional consiste em proceder a um novo modo de

interpretar determinada norma constitucional, sem que haja alteração do próprio texto constitucional.

09. (ESAF AFT 2010) Sabe-se que a Constituição Federal, apesar de ser classificada como rígida, pode sofrer

reformas. A respeito das alterações na Constituição, podemos afirmar que

I. a emenda à Constituição Federal, enquanto proposta, é considerada um ato infraconstitucional.

II. de acordo com a doutrina constitucionalista, a Constituição Federal traz duas grandes espécies de limitações ao

Poder de reformá-la, as limitações expressas e as implícitas.

III. as limitações expressas circunstanciais formam um núcleo intangível da Constituição Federal, denominado

tradicionalmente por ―cláusulas pétreas‖.

IV. vários doutrinadores publicistas salientam ser implicitamente irreformável a norma constitucional que prevê as

limitações expressas.

Assinale a opção verdadeira.

a) II, III e IV estão corretas.

b) I, II e III estão incorretas.

c) I, III e IV estão corretas.

d) I, II e IV estão corretas.

e) II e III estão incorretas.

10. (FCC.Defensor Público de Classe Inicial.DEFENSORIA PÚBLICA/RS.2011) No que se refere ao Poder

Constituinte, é INCORRETO afirmar:

(A) O Poder Constituinte genuíno estabelece a Constituição de um novo Estado, organizando-o e criando os poderes

que o regerão.

(B) Existe Poder Constituinte na elaboração de qualquer Constituição, seja ela a primeira Constituição de um país,

seja na elaboração de qualquer Constituição posterior.

(C) O Poder Constituinte derivado decorre de uma regra jurídica constitucional, é ilimitado, subordinado e

condicionado.

(D) Quando os Estados-Federados, em razão de sua autonomia político-administrativa e respeitando as regras

estabelecidas na Constituição Federal, autoorganizam-se por meio de suas constituições estaduais estão exercitando o

chamado Poder Constituinte derivado decorrente.

(E) Para parte da doutrina, a titularidade do Poder Constituinte pertence ao povo, que, entretanto, não detém a

titularidade do exercício do poder.

11. (CESPE - 2011 - TJ-ES - Analista Judiciário – Direito) A Constituição Federal de 1988, em sua redação original,

estabelecia limitações de natureza temporal que não permitiram a reforma do texto constitucional durante certo

intervalo de tempo.

12. (CESPE - 2011 - EBC - Analista – Advocacia) Matéria constante de proposta de emenda constitucional rejeitada

não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.

13. (CESPE - 2011 - Correios - Analista de Correios – Advogado) O poder constituinte originário, por ser aquele que

instaura uma nova ordem jurídica, exige deliberação da representação popular, razão pela qual não se admite a

outorga como forma de sua expressão.

14. (CESPE - 2011 - Correios - Analista de Correios – Advogado) Quando, no exercício de sua capacidade de auto-

organização, o estado-membro edita sua constituição, ele age com fundamento no denominado poder constituinte

derivado decorrente.

15. (CESPE - 2010 - AGU - Agente Administrativo) As emendas constitucionais de revisão, aprovadas durante o

processo de revisão constitucional, foram promulgadas pelas duas casas do Congresso Nacional, em sessão

bicameral, de acordo com o mesmo processo dificultoso exigido para qualquer tipo de emenda constitucional.

16. (CESPE - 2010 - MPS - Agente Administrativo) Pode ser objeto de emenda constitucional a proposta tendente a

abolir o direito de petição aos poderes públicos ou a obtenção de certidões em repartições públicas.

17. (CESPE - 2010 - MPS - Agente Administrativo) O poder constituinte derivado, ou de revisão ou reforma,

caracteriza-se por ser inicial, autônomo e incondicionado, corporificando-se por meio de instrumento denominado

emenda constitucional.

18. (CESPE - 2010 - MPE-SE – Promotor) Assinale a opção correta a respeito dos conceitos de mutação

constitucional, revisão constitucional e poder constituinte.

a) Tratando-se de mutação constitucional, o texto da constituição permanece inalterado, e alteram-se apenas o

significado e o sentido interpretativo de determinada norma constitucional.

b) A revisão constitucional prevista no ADCT da CF, que foi realizada pelo voto da maioria simples dos membros do

Congresso Nacional, gerou seis emendas constitucionais de revisão que detêm o status de normas constitucionais

originárias.

c) Previsto pelo constituinte originário, o poder constituinte derivado decorrente encontra limitações apenas nas

cláusulas pétreas.

d) Sendo poder de índole democrática, autônomo e juridicamente ilimitado, o poder constituinte originário tem como

forma única de expressão a assembleia nacional constituinte.

e) É expressamente previsto na CF que os Poderes Legislativos dos estados, do DF e dos municípios devem elaborar

suas constituições e leis orgânicas mediante manifestação do poder constituinte derivado decorrente.

19. (CESPE - 2010 - MPS - Técnico em Comunicação Social) A forma federativa de estado, caracterizada pela

divisão territorial do poder, foi gravada na CF como cláusula pétrea.

20. (CESPE - 2010 - MPS - Técnico em Comunicação Social) A substituição da União, dos estados, do Distrito

Federal (DF) e dos municípios por um único ente central somente seria possível por um poder constituinte originário.

21. (CESPE - 2010 - MPS - Técnico em Comunicação Social) Cabe emenda à Constituição Federal de 1988 (CF)

mediante proposta de mais da metade das assembleias legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada

uma delas, pela maioria absoluta de seus membros.

Gabarito: 1 – D; 2 – B; 3 – C; 4 – A; 5 – E; 6 – C; 7 – C; 8 – C; 9 – D; 10 – C; 11 – E; 12 – C; 13 – E; 14 – C; 15 –

E; 16 – E; 17 – E; 18 – A; 19 – C; 20 – C; 21 – E.

II - A Constituição como refer ncia para a atividade legislativa

1. Controle de constitucionalidade

1.1. Supremacia da Constituição e Controle de constitucionalidade

O controle de constitucionalidade consiste na fiscalização da compatibilidade de uma lei

ou ato normativo do Poder Público com as normas da Constituição.

A existência de um mecanismo de controle de constitucionalidade das leis e atos do

Poder Público pressupõe a rigidez e a supremacia constitucionais, considerando que a

supremacia da Constituição é uma consequência direta da rigidez constitucional11

.

Nesse ponto, ressaltamos que a doutrina reconhece dois tipos de supremacia

constitucional: a material e a formal. Enquanto a supremacia material relaciona-se, de um ponto

de vista sociológico, apenas a uma maior importância da Constituição por tratar das ―normas

fundamentais do Estado‖, a supremacia formal refere-se, de um ponto de vista jurídico, à

hierarquia das normas constitucionais perante o resto do ordenamento jurídico.

A supremacia formal ou jurídica depende do conceito de rigidez constitucional (só

existe nas constituições rígidas), enquanto que a supremacia material existe até nas

constituições flexíveis e históricas.

Daí que o controle de constitucionalidade pressupõe a rigidez e a supremacia jurídica da

Constituição, sendo próprio das constituições rígidas, e não das flexíveis.

Quando falamos em controle de constitucionalidade, devemos ter em mente os dois

fatores principais que despontam nesse processo: o parâmetro e o objeto do controle.

Parâmetro, cânon ou paradigma constitucional consiste na norma ou conjunto de

normas da Constituição que se toma como referência para a declaração de inconstitucionalidade

de uma lei ou ato normativo do Poder Público.

Nesse ponto, é de suma importância saber que todos os dispositivos constitucionais –

do art.1.º ao art. 250 e as normas do ADCT – servem como parâmetro para a aferição da

constitucionalidade dos atos normativos. Também as emendas constitucionais e os tratados

internacionais de direitos humanos aprovados pelo rito descrito no art. 5.º, § 3.º, da CF/88

podem servir como paradigma do controle de constitucionalidade.

Já o preâmbulo, segundo a melhor doutrina, não poder ser parâmetro para a declaração

de inconstitucionalidade das leis, por ser desprovido de valor normativo. Para a doutrina

11 Isso é porque a rigidez, ao conceber um procedimento mais solene e dificultoso para a modificação da

Constituição, acaba protegendo o texto constitucional da legislação ordinária, tornando-o hierarquicamente superior e

conferindo-lhe a supremacia no sentido formal ou jurídico. O princípio da rigidez constitucional é também conhecido

como princípio da ―imutabilidade relativa‖ ou da estabilidade constitucional.

majoritária, o preâmbulo não é norma da CF/88, possuindo apenas um valor interpretativo e

integrativo.

O objeto do controle será a lei ou ato do Poder Público que sofre o controle de

constitucionalidade, podendo ser um ato federal, estadual, distrital ou municipal, desde que

ofenda diretamente a Constituição Federal e seja editado posteriormente a 198812

.

1.2. Espécies de inconstitucionalidade

- Inconstitucionalidade material (o conteúdo da lei ou ato normativo é incompatível

com o conteúdo da Constituição) versus Inconstitucionalidade formal (as regras de processo

legislativo previstas na Constituição Federal não foram observadas na elaboração da lei ou do

ato normativo impugnado). Existe uma subespécie de inconstitucionalidade formal, denominada

de inconstitucionalidade orgânica, cujo exemplo é o da lei estadual que invade a competência

legislativa da União (nesse caso, o órgão que elaborou a norma é incompetente – daí o nome:

inconstitucionalidade orgânica).

- Inconstitucionalidade por ação (decorre de um ato positivo do Estado: a elaboração

de uma lei incompatível com a Constituição) versus Inconstitucionalidade por omissão (a

Constituição exige a edição de ato normativo para o exercício de um direito constitucional e o

órgão competente mantém-se inerte)13

.

A inconstitucionalidade por omissão pode ser total (ou formal), quando nenhuma

providência é adotada pelo administrador ou pelo legislador; ou parcial (ou material), quando

a medida efetivada pelo Poder Público é insuficiente.

Não devemos confundir essa classificação com a outra que divide as omissões

inconstitucionais em absolutas e relativas.

Na omissão absoluta, entende-se que o poder público tinha o dever de agir e se

omitiu (não tomando nenhuma providência — omissão absoluta e total — ou agindo de forma

insuficiente — omissão absoluta e parcial).

Na omissão relativa, o poder público não tinha o dever de legislar, mas resolveu

atuar, surgindo a omissão quando ele concede um benefício a apenas algumas categorias de

pessoas em detrimento de outras, com transgressão ao princípio da isonomia. A omissão

relativa, portanto, relaciona-se com o que a doutrina denomina de benefício incompatível com

o princípio da isonomia.

Nesses casos de omissão relativa (benefício incompatível com o princípio da isonomia),

a doutrina afirma que declarar a nulidade da norma apenas traria um prejuízo para as categorias

beneficiadas, não resolvendo o problema das que foram prejudicadas.

O melhor, então, seria utilizar a técnica judicial da declaração de

inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, a fim de não retirar o benefício já

concedido, apenas apelando ao legislador para que estenda o benefício às demais categorias, em

respeito ao princípio da igualdade.

- Inconstitucionalidade direta ou imediata (a lei ou ato normativo viola diretamente a

Constituição) versus Inconstitucionalidade indireta ou mediata (a norma infralegal - decreto,

resolução, instrução normativa, etc. - viola primeiro a lei a que ela se reporta e, por via oblíqua,

reflexa, mediata, a CF/88). Este último tipo de inconstitucionalidade é, em verdade, uma crise

de ilegalidade, daí se falar em controle de legalidade, e não em controle de constitucionalidade.

- Inconstitucionalidade originária (o Poder Público produz uma norma incompatível

com a Constituição já em vigor, fazendo com que o ato seja inconstitucional desde a sua

12 A jurisprudência consolidada do STF (vide ADI n.º 2, Rel. Min. Paulo Brossard) considera que os atos do Poder

Público anteriores a 1988 não podem sofrer controle de constitucionalidade, pois se submetem ao fenômeno da

recepção constitucional. Com isso, os atos anteriores à CF88, se com ela materialmente compatíveis, serão

recepcionados pela Carta Magna, permanecendo válidos; os que forem materialmente incompatíveis serão

considerados não recepcionados, o que equivale à simples revogação desses atos. 13

A CF/88 trouxe dois mecanismos para combater a inconstitucionalidade por omissão: o mandado de injunção

(art.5.º, LXXI) e a ação direta de inconstitucionalidade por omissão – a ADI por omissão (art.103, §2.º).

origem) versus Inconstitucionalidade superveniente (a norma nasce constitucional, mas torna-

se incompatível com a Carta Magna supervenientemente, seja pelo surgimento de uma nova

Constituição, seja em virtude de reforma no texto constitucional).

1.3. Sistemas de controle de constitucionalidade

a) Controle Político - o controle é exercido por órgãos de natureza política, distintos do

Poder Judiciário - podendo ser um órgão do Legislativo, do Executivo ou, ainda, um órgão

especial. É o sistema adotado na França;

b) Controle Jurisdicional - o controle é feito por órgãos do Poder Judiciário. É o

sistema adotado nos EUA e, como regra, o adotado no Brasil.

c) Controle Misto - certas categorias de lei são submetidas ao controle político e outras

ao controle jurisdicional. É o sistema adotado na Suíça.

1.4. Tipos de controle

a) Quanto ao momento:

- Controle Preventivo ou a priori - controle realizado antes de a norma ser

definitivamente elaborada.

- Controle Sucessivo, Repressivo ou a posteriori - é o controle feito após a norma ser

definitivamente elaborada.

b) quanto aos órgãos competentes:

- Controle Difuso ou Aberto - o controle é exercido por vários órgãos, no Brasil,

exercido por qualquer juiz ou tribunal;

- Controle Concentrado ou Fechado - o controle é feito por um único órgão ou por

poucos órgãos competentes. No Brasil, o controle concentrado é realizado pelo STF quanto à

Constituição Federal e pelos Tribunais de Justiça quanto às Constituições Estaduais.

c) quanto à via utilizada:

- Controle por via de exceção ou de defesa, incidental, incidenter tantum - controle

concreto - no controle por via de exceção, a inconstitucionalidade da lei é arguida

incidentalmente, no curso de um processo judicial onde estão sendo discutidos direitos

subjetivos.

O controle incidental é realizado diante de uma lide, de uma situação concreta, sendo a

questão da inconstitucionalidade prejudicial14

ao julgamento do mérito da causa e produzindo

efeito somente entre as partes15

.

- Controle por via de ação direta, via principal - controle abstrato, em tese - no

controle por via de ação, determinadas autoridades públicas ou entidades (ex.: Presidente da

República e Conselho Federal da OAB) podem ajuizar uma ação autônoma (ADI, ADC, ADI

por omissão, ADPF) cujo objetivo principal é a declaração da inconstitucionalidade da lei, sem

levar em conta qualquer caso concreto, com o efeito de declarar a nulidade da norma, retirando-

a definitivamente do ordenamento jurídico.

Nesse tipo de controle, a fiscalização da constitucionalidade dos atos normativos é feita

“em tese”, sem haver uma lide ou discussão de quaisquer situações individuais subjetivas.

1.5. Controle de constitucionalidade no Brasil

No Brasil, o controle preventivo é eminentemente político, realizado por órgãos

políticos, seja pelo Poder Legislativo, seja pelo Executivo.

Exemplos: exame da constitucionalidade de um projeto de lei pelas Comissões de

Constituição e Justiça (CCJs) da Câmara e do Senado e o veto do Presidente da República,

quando se baseia na inconstitucionalidade da norma (veto jurídico)16

.

14 Decisão de mérito de que depende o julgamento da causa. 15 No controle concreto de constitucionalidade, o pedido principal da causa é um bem da vida (liberdade, propriedade,

etc), enquanto a declaração da inconstitucionalidade da lei apresenta-se como prejudicial ao julgamento da causa,

tendo como único efeito a invalidação da lei para aquele caso concreto, sem retirá-la do ordenamento jurídico.

Excepcionalmente, o controle preventivo poderá ser realizado pelo Poder Judiciário.

Nesse sentido, o STF admite a impetração de mandado de segurança por parlamentar durante

a elaboração de uma lei ou emenda constitucional, quando o processo de elaboração da norma

violar o ―devido processo legislativo‖ - arts. 59 a 69 da CF/88.

O controle repressivo brasileiro, por sua vez, é predominantemente jurisdicional,

combinando-se o modelo norte-americano ou difuso-incidental com o modelo europeu ou

concentrado-principal (a serem posteriormente estudados). Por esse motivo, a doutrina afirma

que o Brasil adotou, como regra, o controle repressivo jurisdicional eclético, sincrético ou

“misto‖17

.

Ocorre que, excepcionalmente, o controle repressivo pode ser realizado por órgãos

políticos, a saber:

a) medida provisória (CF, art. 62);

b) “veto legislativo” (CF, art. 49, V: o Congresso Nacional pode sustar os atos

normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de

delegação legislativa);

c) tribunais de contas (Súmula 347 do STF: O tribunal de contas, no exercício de suas

atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público);

d) chefes do Poder Executivo (STF, ADI 221/DF: os chefes do Poder Executivo

podem determinar aos seus subordinados que deixem de aplicar uma lei considerada

inconstitucional).

1.6. Histórico

O controle de constitucionalidade surge no Brasil a partir da Constituição de 1891 com

um controle difuso ou aberto (realizado por qualquer juiz ou tribunal) e incidental (arguido

como questão prejudicial em um caso concreto), inspirado no modelo norte-americano.

A Constituição de 1934, mantendo o modelo difuso e incidental, introduziu a cláusula

de reserva de plenário, a competência do Senado Federal para suspender a execução, no todo ou

em parte, de lei ou ato declarado inconstitucional pelo Poder Judiciário e a representação

interventiva (ADI Interventiva).

A Constituição outorgada de 1937 manteve basicamente o modelo de controle de

constitucionalidade instaurado no Brasil desde 1891. Como grande inovação, estabeleceu um

odioso mecanismo de limitação da autoridade das decisões do Poder Judiciário ao prever, no seu

art.96, parágrafo único, que:

no caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do Presidente da República, seja

necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou à defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o

Presidente submete-la novamente ao exame do Parlamento; se este a confirmar por dois terços de votos de

cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do Tribunal.

A Constituição de 1946, mais precisamente a Emenda Constitucional nº16/65,

introduz no Brasil o controle abstrato de constitucionalidade das leis ao criar a ―representação

de inconstitucionalidade genérica‖ (equivalente à atual ADI genérica), cuja legitimidade ativa

foi conferida com exclusividade ao Procurador-Geral da República e sujeita à competência

originária do STF.

A partir da Constituição de 1988, o modelo abstrato/concentrado de controle de

constitucionalidade passa a ser predominante no Brasil, principalmente com o reforço da ADI

genérica e a criação da ADC - ação declaratória de constitucionalidade - pela emenda

constitucional nº03/93. São inovações trazidas pela CF/88:

16 O Presidente da República, nos termos do art.66, §1.º da CF, pode vetar um projeto de lei por considerá-lo

contrário ao interesse público (veto político) ou por considerá-lo inconstitucional (veto jurídico), quando, então,

estará realizando controle preventivo de constitucionalidade. 17 O sistema de controle de constitucionalidade adotado como regra pelo Brasil foi o jurisdicional e não o misto

(combinação do jurisdicional com o político). O que a doutrina afirma é que, pelo fato de o Brasil adotar o controle

jurisdicional, combinando os modelos norte-americano (difuso-concreto-incidental) e europeu (concentrado-abstrato-

direto), o nosso sistema seria o jurisdicional misto.

a) Ampliação da legitimidade ativa para a propositura da ADI genérica, nos termos do

art103, I a IX.

b) Criação da ADI por omissão e do mandado de injunção.

c) Previsão de citação do Advogado-Geral da União para defender a lei ou o ato

normativo impugnado e da manifestação do PGR para atuar como defensor da

Constituição nas ADIs genéricas, assim como em todos os processos de competência do

STF.

d) Criação da ação declaratória de constitucionalidade (ADC) pela EC n.º03/93.

e) Criação da arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), outro

instrumento de controle abstrato das normas, regulamentado pela Lei n.º 9.882/99.

1.7. Controle jurisdicional difuso ou aberto (e concreto)

O controle difuso ou aberto (também conhecido como: controle incidental, incidenter

tantm, por via de exceção, por via de defesa, indireto, ou, ainda, controle concreto) surge, e

com ele a teoria do controle de constitucionalidade, em 1803 na Suprema Corte norte-

americana, no célebre caso Marbury x Madison.

Como visto, este controle caracteriza-se por ser exercido por qualquer juiz ou tribunal

no caso concreto, quando uma das partes, em um determinado processo individual, argúi a

inconstitucionalidade de uma lei incidentalmente, por via de exceção.

No controle difuso, a declaração de inconstitucionalidade não é o objeto principal da

ação. A questão da inconstitucionalidade surge quando uma das partes alega como ―causa de

pedir‖ ou como argumento de defesa a incompatibilidade de uma lei ou ato normativo com o

texto da Lei Maior.

A questão da inconstitucionalidade nesse tipo de controle pode ser alegada por qualquer

das partes, pelo Ministério Público, ou ainda, pode ser conhecida pelo juiz ou tribunal de

ofício, uma vez que o Judiciário tem a obrigação de zelar pelo cumprimento da Constituição,

sendo essa verdadeira matéria de ordem pública (que são exatamente as questões que podem

ser conhecidas pelo juiz independentemente de alegação das partes).

O controle difuso pode ser realizado em qualquer espécie de ação (ação ordinária, ação

de alimentos, reclamação trabalhista, habeas corpus, mandado de segurança etc.)18

.

Os efeitos do controle de constitucionalidade difuso ou aberto são, via de regra:

a) EX-TUNC: retroagem à data da publicação da lei; e

b) INTER PARTES: produz efeitos somente entre as partes, fazendo com que a lei

deixe de ser aplicada apenas no processo em que foi julgada.

Ocorre que nos termos do art.52, inciso X, o Senado Federal pode: ―suspender a

execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do STF‖.

Isso significa que o Senado Federal pode ampliar os efeitos da declaração incidental de

inconstitucionalidade, desde que a decisão tenha sido proferida pelo STF, tornando-os ―ERGA

OMNES‖ e ―EX NUNC‖.

Assim, o Senado Federal, ao ―suspender a execução‖ da lei impugnada, estará

concedendo eficácia geral - erga omnes - a uma decisão até então restrita às partes do processo,

fazendo com que a lei perca sua eficácia em relação a todos os cidadãos, não podendo mais ser

aplicada.

Sobre a ampliação dos efeitos do controle difuso pelo Senado Federal, algumas

observações:

18

O STF já pacificou o entendimento pelo qual a ação civil pública pode ser utilizada como mecanismo de controle

difuso de constitucionalidade, apesar dos seus efeitos ―erga omnes‖, bastando que a declaração de

inconstitucionalidade da lei seja arguida incidentalmente, como fundamento do direito difuso, coletivo ou individual

homogêneo que se quer proteger.

1) A doutrina majoritária entende ser um poder discricionário do Senado Federal

ampliar ou não os efeitos da declaração de inconstitucionalidade proferida pelo STF em sede

de controle incidental.

2) O art.52, inciso X, somente se aplica para as declarações de inconstitucionalidade

proferidas pelo STF no controle difuso, posto que, no controle concentrado (exemplo: ADI

genérica), as declarações de inconstitucionalidade já produzem efeitos contra todos.

3) Considera-se que a decisão do Senado Federal é irreversível.

4) Para a doutrina majoritária (José Afonso da Silva e Alexandre de Moraes), a

resolução do Senado Federal produz efeitos “ex nunc” (isto é, a partir da publicação dessa

resolução, a lei declarada inconstitucional pelo STF num caso concreto fica com a sua eficácia

suspensa).

Ocorre que, no âmbito da Administração Pública federal direta e indireta e por força do

Decreto presidencial n.o 2.346/97 (art. 1.º), a resolução do Senado Federal produzirá efeitos

―EX TUNC‖, retroagindo até a data de entrada em vigor da norma declarada inconstitucional.

1.7.1. Cláusula de reserva de plenário

O art. 97 da CF/88 dispõe que os tribunais somente poderão declarar a

inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo pelo voto da MAIORIA ABSOLUTA de

seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial.

Assim, quando a inconstitucionalidade de uma lei for arguida em sede de tribunais por

uma das partes do processo, os juízes do órgão fracionário (câmara ou turma recursal) a que

competir o julgamento da causa, terão duas opções:

1ª) se rejeitarem a alegação de inconstitucionalidade, prosseguirão com o julgamento do

processo (notem que a cláusula de reserva de plenário só se aplica à declaração de

inconstitucionalidade da lei, podendo o órgão fracionário do Tribunal declarar a sua

constitucionalidade);

2ª) se acolherem a alegação de inconstitucionalidade, será lavrado acórdão a fim de que

o incidente de inconstitucionalidade seja submetido ao tribunal pleno ou órgão especial que lhe

faça as vezes, nos termos do art. 93, inciso XI (art.481, caput, do Código de Processo Civil).

Ocorre que o art. 481, parágrafo único, do CPC trouxe duas importantes exceções para a

cláusula de reserva de plenário. Prescreve o referido dispositivo legal que os órgãos fracionários

dos tribunais não precisam submeter a arguição de inconstitucionalidade ao plenário, ou ao

órgão especial, quando já houver:

a) pronunciamento anterior do plenário ou do órgão especial do mesmo tribunal

sobre a matéria; ou

b) pronunciamento anterior do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a

questão.

Concluindo, podemos afirmar que a cláusula de reserva de plenário somente se aplica

quando os juízes do Tribunal decidem pela inconstitucionalidade da lei impugnada e, mesmo

assim, desde que não haja um pronunciamento anterior do plenário ou do órgão especial do

próprio tribunal ou do STF, hipóteses em que o órgão fracionário pode valer-se desta decisão

anterior para, ele próprio, declarar a inconstitucionalidade da norma sem necessidade de

remessa para o órgão máximo do seu Tribunal.

1.8. Controle jurisdicional concentrado e abstrato

O controle concentrado é aquele realizado exclusivamente pelo órgão de cúpula do

Judiciário: o STF quanto à Constituição Federal e os Tribunais de Justiça quanto às

Constituições Estaduais.

Por meio do ajuizamento de ações específicas, o controle concentrado busca a

discussão ―em tese‖ (controle abstrato) da compatibilidade de um ato normativo com a Lei

Maior, sem levar em conta qualquer situação subjetiva individual.

Nesse sentido, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que o controle

abstrato faz instaurar um processo objetivo, sem partes, no qual inexiste um litígio, uma lide,

referente a situações concretas ou individuais, apensa busca-se a harmonia do ordenamento

constitucional e a defesa da ordem jurídica.

No controle concentrado, a declaração de inconstitucionalidade da lei, em regra, tem

efeitos ―ERGA OMNES” (contra todos), VINCULANTES (para os demais órgãos do Poder

Judiciário e para a Administração Pública Direta e Indireta federal, estadual e municipal), além

de retirar a norma do ordenamento jurídico com efeitos ―EX TUNC” (retroativos).

O controle de constitucionalidade concentrado no STF é realizado mediante as seguintes

ações:

a) ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) Genérica (CF, art.102, I, ―a‖ e Lei 9.868/99);

b) ADI Interventiva (CF, arts. 34, VII e 36, III);

c) ADI por Omissão (CF, art.103, §2.°);

d) ADC ou ADECon - Ação Declaratória de Constitucionalidade (CF, art.102, I, ―a‖ e Lei

9.868/99);

e) ADPF - Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (CF, art.102, §1.° e Lei

9.882/99).

1.8.1. ADI Genérica

A ADI genérica é a ação típica do controle de constitucionalidade abstrato no Brasil.

Sendo um controle abstrato, a ADI aprecia a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo

―em tese‖, sem discutir casos concretos ou direitos subjetivos, com a exclusiva finalidade de

garantir a harmonia do ordenamento jurídico e proteger o sistema constitucional.

Competência – a ADI em face da Constituição Federal só pode ser proposta perante o

STF.

Objeto – pode ser objeto da ADI genérica uma lei ou ato normativo do poder público

federal ou estadual (ou distrital no uso de competência estadual).

Caso uma lei municipal viole a Constituição Federal, tal inconstitucionalidade poderá

ser declarada no âmbito do controle difuso, que pode chegar até o STF por Recurso

Extraordinário; ou, ainda, no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

(ADPF), a ser posteriormente estudada.

Além de ser oriundo do poder público federal ou estadual (ou distrital), a jurisprudência

do STF estabeleceu alguns requisitos que devem ser atendidos cumulativamente a fim de que a

lei ou o ato normativo possa ser objeto de ADI. São eles:

1) a lei ou ato normativo deve ter emanado do Poder Público;

2) a lei ou ato normativo deve ser posterior à Constituição de 1988;

3) a lei ou ato normativo deve ser geral, abstrato e impessoal19

.

4) a lei ou ato normativo deve ofender diretamente a Constituição;

5) a lei ou ato normativo deve estar em pleno vigor.

A partir do cumprimento desses requisitos, a jurisprudência do STF entende que cabe

ADI para impugnar, dentre outros:

a) emendas constitucionais;

19 Relativizando essa jurisprudência, o STF atualmente entende que os atos editados sob a forma de lei (ou de

medida provisória) devem submeter-se ao controle abstrato de normas, independente de serem leis gerais ou de

efeito concreto (isso diante da importância das leis formais aprovadas pelos Parlamentos). Ressalte-se que, em

relação aos demais atos normativos do Poder Público (decretos, resoluções, portarias, etc.), persiste a necessidade de

eles serem gerais e abstratos para que se submetam ao controle abstrato de normas. Apenas as leis formais e MPs de

efeito concreto é que agora podem ser objeto de controle de constitucionalidade por meio de ADI (ADI 4.048

MC/DF, Trib. Pleno, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 17.04.08, v. Informativo n. 502 do STF).

b) normas das Constituições Estaduais;

c) tratados internacionais (inclusive os de direitos humanos);

d) decretos e regulamentos autônomos;

e) medidas provisórias;

f) regimentos dos tribunais;

g) atos administrativos dotados de abstração, generalidade e impessoalidade (pareceres

normativos do Poder Executivo, resoluções administrativas dos tribunais, etc.).

Em sentido contrário, a jurisprudência do STF entende que não pode ser objeto de ADI,

dentre outros:

a) normas constitucionais originárias (pelo princípio da unidade da Constituição, não

existem ―normas constitucionais inconstitucionais‖ na Constituição originária, devendo as

―aparentes contradições‖ serem harmonizadas e interpretadas sistematicamente);

b) leis ou atos normativos anteriores à CF/88 – não são inconstitucionais, mas sim

revogados pela CF/88;

c) atos normativos de efeitos individuais e concretos (com a exceção das leis de efeito

concreto, as quais podem ser objeto de controle abstrato – STF, ADI 4.048/DF-MC);

d) decretos regulamentares e regulamentos executivos (ofendem a Constituição apenas

de maneira indireta);

e) súmulas dos tribunais, por não apresentarem características de ato normativo;

f) sentenças coletivas ou convenções coletivas de trabalho.

Legitimidade - possuem legitimidade para propor a ADI: Presidente da República,

Mesa do Senado Federal, Mesa da Câmara dos Deputados, Mesa da Assembléia Legislativa (ou

da Câmara Legislativa do DF), Governador de Estado (ou do DF), o Procurador-Geral da

República, Partido Político com representação no Congresso Nacional, Confederação Sindical

ou Entidade de Classe de âmbito nacional, Conselho Federal da OAB.

Apesar de a Constituição não ter feito qualquer distinção entre os legitimados ativos, a

jurisprudência do STF passou a exigir de alguns legitimados a demonstração de um vínculo

entre a matéria impugnada na lei e as suas finalidades institucionais específicas, a que se deu o

nome de ―pertinência temática‖. A partir disso, o STF passou a reconhecer dois tipos de

legitimados:

a) os legitimados neutros ou universais – que não precisam provar a sua pertinência

temática, podendo ajuizar ADI sobre quaisquer leis ou atos normativos, independentemente do

seu conteúdo. São eles: o Presidente da República, Mesas do senado Federal e da Câmara dos

Deputados, Procurador-Geral da República, Conselho Federal da OAB e partido político com

representação no Congresso Nacional.

b) os legitimados interessados ou especiais – que devem demonstrar a existência de um

vínculo entre a matéria impugnada na lei e as suas finalidades institucionais específicas. São

eles: o Governador de Estado (e do DF), mesa da Assembléia Legislativa (e da Câmara

Legislativa do DF), Confederação Sindical e Entidade de Classe de âmbito nacional.

Pedido de desistência - não há possibilidade de pedido de desistência de ADI, quem

quer que seja o autor da ação, em respeito ao princípio da indisponibilidade da instância.

Caráter dúplice - a ADI possui caráter dúplice ou ambivalente, ou seja, se julgada

improcedente, se transforma numa ADC (ação declaratória de constitucionalidade), com todos

os seus efeitos, nos termos do art.24 da Lei n.º 9.868/99.

Prescrição e decadência - a propositura de ADI não se sujeita à prescrição ou

decadência, pois as inconstitucionalidades nunca se convalidam.

Julgamento da ADI - o julgamento da ADI será realizado pelo plenário do STF e

necessita do voto da maioria absoluta de seus membros - art. 97 da CF/88. Para ser instaurada

a sessão, é necessário um quorum de 2/3 dos Ministros do STF (8 ministros).

Efeitos - a decisão definitiva de mérito da ADI possui, via de regra, efeitos:

1) “ERGA OMNES” - as decisões em sede de ADI não se restringem às partes do

processo, possuindo eficácia geral, contra todos. A declaração de inconstitucionalidade na ADI

resulta na retirada da norma impugnada do ordenamento jurídico, tendo essa decisão eficácia

geral;

2) ―EX TUNC” - diante do princípio da nulidade das normas inconstitucionais20

, as

decisões em ADI declaram a inconstitucionalidade das leis com efeitos retroativos, a fim de

retirá-la do ordenamento jurídico desde o seu início.

Em regra, as decisões definitivas de mérito das ADIs são proferidas com efeitos

retroativos. Ocorre que, como veremos adiante, o art.27 da Lei n.o 9.868/99 possibilita a

manipulação dos efeitos da ADI pelo Supremo Tribunal Federal, que poderá declarar a

inconstitucionalidade da lei com efeitos ex nunc ou até pro futuro;

3) VINCULANTES - as decisões definitivas de mérito das ADIs vinculam os demais

órgãos do Poder Judiciário (não o próprio STF) e o Poder Executivo (Administração Pública

Direta e Indireta das esferas federal, estadual, distrital e municipal), que devem absoluto

respeito ao quanto decidido nesta ação.

A principal consequência do efeito vinculante consiste na possibilidade de qualquer

interessado ajuizar uma reclamação no STF (CF, art.102, inciso I, alínea ―l‖), para exigir o

respeito à decisão da Suprema Corte em sede de ADI e, se for o caso, desconstituir o ato do

Poder Judiciário ou do Executivo que a desrespeitou.

4) REPRISTINATÓRIOS - com a declaração de inconstitucionalidade de uma lei,

ocorre a plena restauração da eficácia da legislação anterior que havia sido revogada pela lei

inconstitucional. Como a declaração de inconstitucionalidade resulta na nulidade da lei, são

considerados inválidos todos os efeitos que a lei impugnada já produziu no passado, inclusive o

efeito de ter revogado a legislação anterior que com ela mostrou-se incompatível.

Manipulação dos efeitos da ADI por parte do STF - Art. 27 da Lei 9.868/99:

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em

vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o

STF, por maioria de 2/3 dos seus membros, restringir os efeitos daquela declaração

ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de

outro momento que venha a ser fixado.

Com essa possibilidade de manipulação do STF, podemos afirmar que os efeitos da

declaração de inconstitucionalidade de uma ADI são, em regra, erga omnes e ex tunc, pois o

STF, mediante o voto de 2/3 dos seus membros e por razões de segurança jurídica, pode

restringir a abrangência dessa decisão ou, ainda, conferir-lhe efeitos ex nunc ou pro futuro.

Concessão de liminar - a medida cautelar na ADI, salvo nos período de recesso e de

férias, quando poderá ser excepcionalmente concedida pelo Ministro-Presidente do STF ad

referendum do Tribunal, será concedida por decisão da maioria absoluta dos seus membros (6

ministros). Para ser instaurada a sessão, é necessário um quorum de 2/3 dos Ministros do STF

(8 ministros).

A decisão da medida cautelar da ADI possui, em regra, efeitos ex nunc, erga omnes,

vinculantes (para os demais órgãos do Poderes Judiciário e para o Executivo) e

repristinatórios.

Nos termos do art.11, §1.º, da Lei n.º 9.868/99, a medida cautelar da ADI, dotada de

eficácia contra todos, será concedida com efeitos ex nunc (regra geral), salvo se o Tribunal

entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa (ex tunc).

20 A declaração de inconstitucionalidade de uma lei representa a declaração de sua nulidade (não de sua inexistência,

anulabilidade ou simples irregularidade).

Já o art.11, § 2.º, da referida Lei prevê que a concessão da medida cautelar torna

aplicável a legislação anterior acaso existente (efeitos repristinatórios), salvo expressa

manifestação do STF em sentido contrário.

Quadro-resumo:

EFEITOS DAS DECISÕES EM SEDE DE ADI

LIMINAR DEFINITIVA DE MÉRITO

– EX NUNC, salvo se o STF expressamente

conceder eficácia retroativa (ex tunc). – EX TUNC, salvo o art.27 da Lei nº 9.86899

(eficácia ex nunc ou até pro futuro).

– VINCULANTES para o resto do Poder

Judiciário e para o Executivo (Federal, Estadual e

Municipal), mas não para o Legislativo.

– VINCULANTES para o resto do Poder

Judiciário e para o Executivo (Federal, Estadual e

Municipal), mas não para o Legislativo.

– ERGA OMNES. – ERGA OMNES, salvo o art. 27 da Lei n.º

9.86899.

– REPRISTINATÓRIO, salvo expressa

manifestação do STF em contrário.

– REPRISTINATÓRIO.

Advogado-Geral da União - dispõe o art.103, §3.º, da CF88: ―Quando o Supremo

Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo,

citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado.‖

Entende a doutrina majoritária, com base nesse dispositivo constitucional, que a atuação

do AGU é vinculada, devendo o mesmo obrigatoriamente opinar pela constitucionalidade da

norma, ainda que seja gritante a violação da Constituição. O AGU atuará tanto na defesa da

legislação federal, quanto na defesa da legislação estadual.

Procurador-Geral da República - já o PGR atua na defesa da Constituição, e não da

norma impugnada, tendo uma atuação independente que pode resultar em parecer tanto pela

constitucionalidade, quanto pela inconstitucionalidade da norma.

Ressalte-se que o PGR deverá ser previamente ouvido não só nas ADIs, como em todos

os processos de competência do STF (CF, art.103, §1.º).

Intervenção de terceiros - não se admitirá intervenção de terceiros no processo da

ADI (art.7.º da Lei 9.868/99).

Recorribilidade - a decisão que julga a ADI genérica é irrecorrível, salvo embargos

declaratórios, não cabendo também ação rescisória (art. 26 da Lei n.º 9.868/99).

1.8.2. Ação declaratória de constitucionalidade (ADC)

Competência - só pode ser proposta perante o STF.

Finalidade - esta ação tem a finalidade de declarar a adequação de uma lei

infraconstitucional com a Carta Política, transformando a presunção relativa de

constitucionalidade que toda lei possui em presunção absoluta, devido aos seus efeitos

vinculantes.

Objeto - somente poderá ser objeto de uma ADC uma lei ou ato normativo do poder

público federal, nunca uma lei estadual ou municipal.

Requisito - há necessidade de demonstração de ―comprovada controvérsia judicial‖.

Ou seja, deve estar acontecendo no Brasil um estado de incerteza sobre a constitucionalidade da

lei, exigindo-se a comprovação de inúmeras ações em andamento em juízos ou tribunais em que

a constitucionalidade da lei esteja sendo impugnada.

Legitimidade - com a EC n.º 45/04 (―Reforma do Judiciário‖), a legitimidade da ADC

passou a ser a mesma da ADI genérica, ou seja: Presidente da República, Mesa do Senado

Federal, Mesa da Câmara dos Deputados, Mesa da Assembléia Legislativa (ou da Câmara

Legislativa do DF), Governador de Estado (ou do DF), o Procurador-Geral da República,

Partido Político com representação no Congresso Nacional, Confederação Sindical ou Entidade

de Classe de âmbito nacional e o Conselho Federal da OAB.

Pedido de desistência - não há possibilidade de pedido de desistência, não importando

quem seja o autor da ação, em respeito ao princípio da indisponibilidade da instância.

Caráter dúplice - a ADC possui caráter dúplice ou ambivalente, nos mesmos termos

da ADI genérica, ou seja, se julgada improcedente, se transforma numa ADI, com todos os seus

efeitos.

Julgamento da ADC - o julgamento da ADC, igualmente ao da ADI (Lei nº 9.868/99)

será realizado pelo plenário do STF e necessita do voto da maioria absoluta de seus membros

(6 ministros). Para ser instaurada a sessão, é necessário um quorum de 2/3 dos Ministros do STF

(8 ministros).

Efeitos - a decisão definitiva de mérito da ADC possui efeitos: ex tunc, erga omnes e

vinculantes (para os demais órgãos do Poder Judiciário e para a Administração Pública Direta e

Indireta federal, estadual e municipal).

Liminar e suspensão de processos - o art. 21 da Lei 9.868/99 traz a possibilidade de

concessão de liminar por parte do STF que consistirá na suspensão de todos os processos no

Brasil que tratem da matéria cuja constitucionalidade se discute, até o seu julgamento final ou

pelo prazo máximo de 180 dias, quando os processos voltarão a ter o seu curso normal.

Entende-se que a decisão da medida cautelar da ADC tem efeitos ex nunc, erga omnes

e vinculantes.

Advocacia-Geral da União - a Advocacia-Geral da União não atua na ADC, pois, em

verdade, ninguém atuará como defensor da ―inconstitucionalidade‖ da lei ou ato normativo

federal.

Procurador-Geral da República - como afirmado anteriormente, o PGR atua em todos

os processos de competência do STF, inclusive em ADC. Atuará, como sempre, de maneira

independente, podendo se manifestar tanto pela constitucionalidade, quanto pela

inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo federal.

Recorribilidade - a decisão que julga a ADC é irrecorrível, salvo embargos

declaratórios, não cabendo também ação rescisória.

1.8.3. ADI Interventiva

A ADI interventiva, também denominada de ―representação interventiva‖, está prevista

no art. 36, inciso III, da CF/88, sendo modalidade de controle de constitucionalidade direto e

concentrado no STF.

Legitimidade - A propositura da ADI interventiva é exclusiva do Procurador-Geral

da República (PGR).

Hipótese de cabimento - quando um ato omissivo ou comissivo, normativo ou

concreto, estadual ou distrital ferir um ―princípio constitucional sensível‖ da CF/88 (art.34,

inciso VII).

Concessão de liminar – a partir da edição da Lei Federal n. 12.562, de 2011, a qual

regulamentou a ADI Interventiva, é cabível a liminar nesta ação, nos termos do art. 5º desta

Lei.

Por meio da ADI interventiva, o PGR ajuíza uma ação (representação interventiva) no

STF, impugnando um ato estatal ou distrital que venha a violar um dos ―princípios

constitucionais sensíveis‖21

da CF/88 (art.34, inciso VII), a fim de que a nossa mais Alta Corte

julgue procedente o pedido de intervenção federal e, nos termos do art.36, inciso III, requisite

21 Assim chamados porque se relacionam com a organização fundamental da Federação brasileira e sua

violação, além da inconstitucionalidade, pode resultar na decretação de uma intervenção federal.

ao Presidente da República a sua decretação, sendo esta uma hipótese de intervenção federal

obrigatória e vinculada para o Chefe do Executivo.

1.8.4. ADI por omissão

A ADI por omissão foi introduzida no Direito brasileiro pela CF/88 (juntamente com o

mandado de injunção) com o objetivo de dar efetividade às normas constitucionais que

dependem de complementação legislativa, combatendo a denominada ―síndrome de

inefetividade das normas constitucionais‖.

Competência - só pode ser proposta perante o STF.

Hipótese de cabimento - a ADI por omissão é cabível quando uma norma

constitucional, para ter plena eficácia, precisa ser complementada total ou parcialmente pelo

legislador ou pelo administrador e este não cumpre o seu dever constitucional.

Requisito - é requisito da ADI por omissão o ―dever constitucional de ação‖. Ou seja,

a Constituição deve ter condicionado a eficácia de uma norma do seu texto à edição de uma lei

ou ato administrativo.

Legitimidade – A mesma da ADI genérica e da ADC (CF, art. 103).

Procedimento – A Lei n.º 12.063/09 introduziu alguns dispositivos na Lei 9.868/99, a

fim de regular o procedimento da ADI por omissão, cujos aspectos mais relevantes para

concursos, passamos a destacar:

a) Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria e por decisão da maioria

absoluta de seus membros, desde que presentes na sessão pelo menos 8 ministros, o STF

poderá conceder medida cautelar, que poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do

ato normativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos

judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência a ser fixada pelo

Tribunal (art. 12-F da Lei n.º 9.868/99).

b) Em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providências deverão ser

adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razoável a ser estipulado

excepcionalmente pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso e o

interesse público envolvido (Art. 12-H, § 1º, da Lei n.º 9.868/99).

Efeitos da decisão – conforme decisão do STF, a ADI por omissão terá dois efeitos

básicos: declarar a mora do legislador ou do administrador em cumprir o seu dever

constitucional de legislar (efeito declaratório); exortando-o a editar a norma regulamentadora

(efeito mandamental).

O art.103, § 2.º, estabelece um tratamento diferenciado:

a) se a omissão for do poder competente (Poder Legislativo) - será dada ciência ao

poder respectivo, sem estipulação de prazo para a elaboração da lei, nem possibilidade de

responsabilização administrativa;

b) se a omissão for de órgão administrativo - será dada ciência ao órgão, sendo fixado

o prazo de 30 dias para suprir a omissão (ou algum outro prazo razoável a ser estipulado

excepcionalmente pelo Tribunal, conforme visto acima), sob pena de responsabilidade da

autoridade omissa.

ADI por omissão versus mandado de injunção

ADI por omissão Mandado de injunção

- Hipótese de controle abstrato e concentrado

de constitucionalidade (CF, art.103, § 2.º)

- Hipótese de controle concreto e difuso de

constitucionalidade (CF, art. 5.º, LXXI)

- Declara a mora do órgão competente e exige

a elaboração da norma regulamentadora da

Constituição

- Dá o direito constitucional, ainda não

regulamentado, no caso concreto22

- Competência: STF (CF, art.103, § 2.º) - Competência: STF (CF, art.102, I, ―q‖ e II,

―a‖), STJ (CF, art.105, I, ―h‖), TRE (CF, 121,

§ 4º, V) e TJ ( art.125, § 1º)

1.8.5. Arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF)

A ADPF é prevista pelo art. 102, § 1.º, da CF/88 e tem seu processo e julgamento

regulado pela Lei n.º 9.882/99.

Competência - só pode ser proposta perante o STF.

Legitimidade ativa - a mesma da ADI genérica, nos termos do art. 2.o da Lei 9.882/99.

Hipóteses de cabimento – de acordo com o art. 1.o da Lei n.º 9.882/99, caberá o

ajuizamento de uma ADPF para:

a) evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público

(art.1.o, caput);

b) quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato

normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição (art.1.o,

parágrafo único).

Na primeira hipótese, temos a ADPF direta ou autônoma que visa a evitar (caráter

preventivo) ou reparar (caráter repressivo) lesão a preceito fundamental, resultante de ato do

Poder Público (federal, estadual, distrital ou municipal).

Na segunda hipótese, temos a ADPF incidental ou por equiparação, cabível quando

for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal,

estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição.

A ADPF incidental permite que qualquer dos legitimados do art.103 da CF/88

provoquem o Supremo Tribunal Federal para que o mesmo resolva com eficácia geral (―erga

omnes‖) uma controvérsia constitucional relevante instalada em um processo judicial concreto.

Pelo seu objeto (ato do Poder Público federal, estadual, distrital ou municipal), percebe-

se que a ADPF veio para completar o sistema de controle de constitucionalidade concentrado no

STF, fazendo com que atos do Poder Público até então insuscetíveis de ADI ou ADC, conforme

a jurisprudência do STF (exemplo: leis municipais e o direito pré-constitucional), passem a ser

objeto de controle concentrado de constitucionalidade no Supremo via ADPF.

Preceito fundamental – o parâmetro do controle de constitucionalidade via ADPF são

os ―preceitos fundamentais‖ da Lei Maior. Cabe ao STF a tarefa de definir quais normas

constitucionais podem ser caracterizadas como ―preceitos fundamentais‖.

Concessão de liminar – de acordo com o art. 5.o da Lei n.º 9.882/99, é cabível a

concessão de liminar na ADPF por decisão da maioria absoluta dos membros do STF (6

ministros). Em caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave, ou ainda, em período de

recesso, poderá o relator conceder a liminar, ad referendum do Tribunal Pleno.

22 A posição dominante no STF ―era‖ a posição não-concretista, pela qual a decisão em mandado de injunção apenas

declarava a inércia do Poder Público na regulamentação de uma norma constitucional (eficácia declaratória) e

exortava o legislador a elaborar a regulamentação do preceito constitucional (eficácia mandamental), não cabendo

ao Poder Judiciário produzir a norma faltante e aplicá-la ao caso concreto. Posteriormente, o STF modificou o seu

entendimento, passando a admitir a possibilidade de o próprio Poder Judiciário emitir uma regulação

provisória, enquanto não suprida a lacuna legislativa. Esta decisão foi tomada nos Mandados de Injunção de n.os

708/DF, 712/PA e 670/ES, julgados em 25.10.2007, quando se discutiu o direito de greve do servidor público (vide

Informativo do STF n.o 485).

Nos termos do art. 5.º, § 3.º, da Lei 9.882/99, a liminar da ADPF poderá consistir na

determinação de que juízes e tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de

decisões judiciais que apresentem relação com a matéria objeto da ADPF (salvo se decorrentes

da coisa julgada) até seu julgamento final.

Julgamento da ADPF - o julgamento da ADPF será realizado pelo plenário do

Supremo e necessita do voto da maioria absoluta de seus membros (art. 97 da CF/88),

presentes 2/3 deles (quorum de instauração da sessão), ou seja, 8 ministros.

Efeitos - a decisão definitiva de mérito, em regra, possui efeitos: ex tunc, erga omnes e

vinculantes.

O art.11 da Lei n.º 9.882/99 permite ao STF manipular os efeitos da decisão da ADPF,

desde que por razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social e pelo voto de

2/3 dos seus membros. Nesses casos, a decisão da ADPF poderá ter seus efeitos reduzidos ou

apenas ser eficaz a partir do seu trânsito em julgado (ex nunc) ou até de outro momento que

venha a ser fixado em data futura pelo STF (inconstitucionalidade pro futuro).

Caráter subsidiário - determina o art. 4, § 1.º, da Lei n.º 9.882/99 que não será

admitida ADPF quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.

O STF já assentou que, considerando o caráter acentuadamente objetivo da ADPF, o

juízo da subsidiariedade dever levar em consideração apenas os demais processos objetivos já

consolidados no sistema constitucional — a ADI e a ADC.

Recorribilidade - A decisão da ADPF é irrecorrível, não podendo ser objeto

igualmente de ação rescisória.

Reclamação no STF - Caberá o ajuizamento de reclamação por qualquer interessado

contra ato judicial que desrespeite a autoridade da decisão proferida pelo STF em sede de

ADPF.

1.11. Questões de concursos anteriores

1. (ESAF.Analista Jurídico.SEFAZ.CE.2006) O Congresso Nacional, ao rejeitar medida provisória, está

atuando preventivamente no controle de constitucionalidade, haja vista a espécie normativa não ter

ingressado de forma definitiva no ordenamento jurídico pátrio.

2. (ESAF.Analista Jurídico.SEFAZ.CE.2006) O Chefe do Poder Executivo, considerando determinada lei

inconstitucional, poderá determinar a seus subordinados que deixem de aplicá-la. Da mesma forma, o

Ministro de Estado poderá determinar a seus subordinados que deixem de aplicar determinado ato

normativo, relativo à sua pasta, que considere inconstitucional.

3. (ESAF.Auditor Fiscal do Trabalho. 2003) No âmbito da Administração Pública Federal, a suspensão,

pelo Senado Federal, da execução de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo

Tribunal Federal tem efeitos ex tunc.

4. (ESAF.Fiscal de Tributos.PA.2002) O STF não pode declarar a inconstitucionalidade de lei municipal

em sede de controle de constitucionalidade em concreto.

5. (ESAF.Auditor Fiscal do Trabalho. 2003) É admissível a propositura, perante o STF, de uma Ação

Direita de Inconstitucionalidade contra uma lei distrital que disciplinou a cobrança do Imposto Predial e

Territorial Urbano em desconformidade com o texto da Constituição Federal.

6. (ESAF.Analista Jurídico.SEFAZ.CE.2006) O Supremo Tribunal Federal admite o controle concentrado

de constitucionalidade em face de decreto, quando este, a pretexto de regulamentar lei, desvirtuar o

sentido da norma.

7. (ESAF.Fiscal de Tributos.PA.2002) Não somente leis estaduais, mas também certos atos do Executivo

e do Judiciário estaduais podem ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo

Tribunal Federal.

8. (SEF.Técnico da Fazenda.AM.2005) Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação

declaratória de constitucionalidade: o Presidente da República; a Mesa do Senado Federal; a Mesa da

Câmara dos Deputados; a Mesa da Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;

o Governador de Estado ou do Distrito Federal; o Procurador-Geral da República; os Conselhos Estaduais

da Ordem dos Advogados do Brasil; partido político com representação no Congresso Nacional;

confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

9. (SEF.Técnico da Fazenda.AM.2005) As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, nas ações

diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia

contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração

pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

10. (ESAF.AFRF.2003) Diante da omissão do Legislativo em editar leis que sejam necessárias para que o

cidadão goze efetivamente dos direitos fundamentais dispostos na Constituição Federal, o STF pode,

provocado por ação direta de inconstitucionalidade por omissão, criar, ele próprio, as normas faltantes.

11. (Analista.MP.RN.2004) A ação direta de inconstitucionalidade interventiva é de exclusiva atribuição

do Procurador-Geral da República e de competência do Supremo Tribunal Federal, sendo inadmissível a

concessão de ordem liminar de intervenção.

12. (ESAF.Gestor.MPOG.2005) Qualquer indivíduo que tenha sofrido afronta a um direito fundamental

pode ajuizar uma ação por descumprimento de preceito fundamental, perante o STF, desde que tenha

exaurido os meios ordinários para restaurar o seu direito.

13.(ESAF.AFRF.09) Marque a opção correta.

I. O disposto no artigo 5o, inciso XIII da Constituição Federal – ―é livre o exercício de qualquer trabalho,

ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer‖, cuida-se de uma norma

de eficácia limitada.

II. A ideia e escalonamento normativo é pressuposto necessário para a supremacia constitucional e, além

disso, nas constituições materiais se verifica a superioridade da norma magna em relação àquelas

produzidas pelo Poder Legislativo.

III. O sistema de controle Judiciário de Constitucionalidade repressiva denominado reservado ou

concentrado é exercido por via de ação.

IV. Na via de exceção, a pronúncia do Judiciário sobre a inconstitucionalidade não é feita enquanto

manifestação sobre o objeto principal da lide, mas sim sobre questão prévia, indispensável ao julgamento

do mérito.

V. A cláusula de reserva de plenário não veda a possibilidade de o juiz monocrático declarar a

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

a) As afirmativas I e III estão corretas.

b) As afirmativas II e V estão incorretas.

c) As afirmativas III e IV estão incorretas.

d) As afirmativas I e V estão incorretas.

e) As afirmativas IV e V estão corretas.

14. (ESAF.AFRF.09) Marque a opção correta.

a) Declarada incidenter tantum a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo pelo Supremo Tribunal

Federal, referidos efeitos serão ex nunc, sendo desnecessário qualquer atuação do Senado Federal.

b) O Supremo Tribunal Federal não admite controle concentrado pelo Tribunal de Justiça local de lei ou

ato normativo municipal contrário, diretamente, à Constituição Federal.

c) Proclamada a inconstitucionalidade do dispositivo, pelo Supremo Tribunal Federal, julgar-se-á

improcedente a ação direta de inconstitucionalidade.

d) Atos estatais de efeitos concretos se submetem, em sede de controle concentrado, à jurisdição abstrata.

e) As Súmulas, por apresentarem densidade normativa, são submetidas à jurisdição constitucional

concentrada.

15. (ESAF.AFRF.09) Marque a opção correta.

a) O Supremo Tribunal Federal, em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, exige pertinência

temática, quando a ação é proposta pelo Governador do Distrito Federal.

b) Antes da concessão da liminar em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, é possível que seu

autor peça desistência da mesma.

c) Para a propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade, se faz necessário observar um dos

requisitos objetivos pertinente ao prazo prescricional.

d) A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental é cabível, mesmo quando impetrado

Mandado de Segurança com a finalidade de sanar a lesividade.

e) A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, segundo a legislação pertinente, apresenta

mais legitimados ao que se verifica na legitimidade para a propositura de Ação Direta de

Inconstitucionalidade.

16. (FESMPFDT.Promotor.DF.09) Sobre o controle de constitucionalidade das leis, assinale a alternativa

correta.

A) A ação direta de inconstitucionalidade interventiva, por violação aos direitos humanos, tem como

legitimado ativo

o Procurador-Geral da República e o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, e o decreto

de intervenção federal independe do controle político do Senado Federal.

B) No sistema brasileiro de controle de constitucionalidade das leis é vedado ao Supremo Tribunal

Federal declarar a

inconstitucionalidade de lei, ou ato normativo, mantendo todo o texto da norma válido e eficaz, mas,

declarando, entre as interpretações possíveis, aquela interpretação que é conforme à Constituição.

C) A ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade são consideradas

ações dúplices, quanto aos efeitos da decisão.

D) Os efeitos da declaração de inconstitucionalidade, no controle abstrato de normas, não podem ser

mitigados por razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social.

E) O veto do Presidente da República, o trabalho da Comissão de Constitucionalidade e Justiça do

Congresso Nacional e a ação direta de inconstitucionalidade são formas de controle preventivo da

constitucionalidade das leis e atos normativos no ordenamento jurídico brasileiro.

17. (CESPE.Auditor.MG.09) Tendo em vista o controle de constitucionalidade, assinale a opção correta.

A) Em regra, a declaração definitiva de inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo pelo STF tem

efeito ex nunc, só tendo eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser

fixado pelo STF.

B) No Brasil, o controle exercido pelo Poder Judiciário sobre a constitucionalidade das leis e dos atos

normativos, ocorre tanto pela via difusa quanto pela via concentrada.

C) No controle incidental, os juízes e tribunais só podem se manifestar sobre a inconstitucionalidade de

uma lei, deixando de aplicá-la a casos concretos, se, antes, tiverem sido provocados por uma das partes.

D) Compete ao tribunal de justiça de cada estado-membro exercer o controle concentrado da

constitucionalidade das

leis e dos atos normativos estaduais e municipais perante a CF.

E Os tribunais somente podem declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público

pelo voto unânime de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial.

18. (CESPE/PGE-AL/09) Ainda há muitas discussões nos tribunais pátrios acerca da cláusula

constitucional de reserva de plenário. Ainda prevalece o entendimento de que não há violação a essa

cláusula quando a decisão de órgão fracionário de tribunal afasta a incidência de lei ou ato normativo do

poder público, no todo ou em parte, sem declarar expressamente a sua inconstitucionalidade.

19. (FCC.Defensor.SP.09) Assinale a alternativa correta.

(A) Compete ao Tribunal de Justiça exercer o controle concentrado de leis municipais em face da

Constituição Federal eis que no artigo 5o, XXXV consta expressamente que a lei não excluirá da

apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça à direito.

(B) As decisões proferidas em ADC têm efeito vinculante em relação aos órgãos do poder Judiciário, do

Legislativo e do Executivo, o que implica na imposição de restrição à Administração pública direta e

indireta.

(C) Tratando-se de controle de constitucionalidade não é possível aplicação do princípio da simetria

federativa

para que a ADPF seja inserida no texto constitucional estadual.

(D) Quando julga mandado de segurança impetrado por parlamentar federal para defender direito

subjetivo à participar de um processo legislativo hígido, o STF incide no controle político de

constitucionalidade.

(E) Com o advento da Lei no 9.882/99, que regulamenta a ADPF, está admitido o exame da legitimidade

do direito pré-constitucional em face da norma constitucional superveniente.

20. (CESPE.Analista.ANATEL.09) O princípio da proporcionalidade acha-se vocacionado a inibir e a

neutralizar os abusos do poder público no exercício de suas funções, qualificando-se como parâmetro de

aferição da própria constitucionalidade material dos atos estatais.

21. (FGV.Juiz.PA.09) A respeito da arguição de descumprimento de preceito fundamental, analise as

afirmativas a seguir:

I. Recebida a petição inicial da arguição de descumprimento de preceito fundamental, o Ministro Relator

deverá

suspender todos os processos em curso ou os efeitos das decisões judiciais ou de qualquer outra medida

que apresente relação com a matéria objeto da arguição, salvo se decorrentes da coisa julgada.

II. Qualquer cidadão poderá propor arguição de descumprimento de preceito fundamental perante o

Supremo Tribunal Federal.

III. A arguição de descumprimento de preceito fundamental pode ter por objeto a compatibilidade com a

Constituição de 1988 de leis vigentes anteriormente à sua promulgação.

IV. Aplica-se à arguição de descumprimento de preceito fundamental o princípio da subsidiariedade,

segundo o qual

ela não será admitida se houver outro meio eficaz de sanar a lesividade.

Assinale:

(A) se somente a afirmativa I estiver correta.

(B) se somente a afirmativa III estiver correta.

(C) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.

(D) se somente as afirmativas III e IV estiverem corretas.

(E) se somente as afirmativas I, III e IV estiverem corretas.

22. (CESPE.Analista.TCE.AC.09) Acerca do controle de constitucionalidade no ordenamento jurídico

brasileiro, assinale a opção correta.

A) Quem não tem legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade não a tem para ação de

descumprimento de preceito fundamental (ADPF), razão pela qual prefeito municipal é parte ilegítima

para propor

ADPF.

B) A omissão legislativa inconstitucional pressupõe a inobservância de um dever constitucional de

legislar, que

resulta, no entanto, apenas de comandos explícitos da Constituição, não decorrendo de processo de

interpretação.

C) Podem propor ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade, entre

outros legitimados, o presidente da República, o procurador-geral da República e o advogado-geral da

União.

D) O STF, por decisão de dois terços de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação

declaratória de constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os tribunais

suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da

ação até seu julgamento definitivo.

E) Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança

jurídica ou de

excepcional interesse social, poderá o STF, por maioria absoluta de seus membros, restringir os efeitos

daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro

momento que venha a ser fixado.

23. (ESAF.Analista Administrativo-comum a todos os cargos.ANA.2009) A lei que posteriormente é

declarada inconstitucional perece mesmo antes de nascer, por isso, os efeitos eventualmente por ela

produzidos não podem incorporar-se ao patrimônio dos administrados, ainda que se considere o princípio

da boa-fé.

24. (ESAF.Auditor-Fiscal do Trabalho.MTE.2010) Sabe-se que a Constituição Federal sofre controle de

diversas formas. Acerca do controle constitucional, é correto afirmar que

(A) é admitida a concessão de liminar em Ação Direta de Inconstitucionalidade, por omissão.

(B) o ajuizamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade não se sujeita a prazos prescricional ou

decadencial, vez que atos inconstitucionais não são suscetíveis de convalidação pelo decurso do tempo.

(C) o procedimento a ser seguido pela Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão não é o mesmo

da ação de inconstitucionalidade genérica.

(D) a Ação Direta de Inconstitucionalidade, em face de sua natureza e finalidade especial, é suscetível de

desistência a qualquer tempo.

(E) na Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão é obrigatória a oitiva do Advogado-Geral da

União, tendo em vista que qualquer ato impugnado deve ser defendido.

25. (CESPE.Oficial Técnico de Inteligência.Área de Direito.ABIN.2010) A ADPF tem caráter

subsidiário, ou seja, só é possível se conhecer da ação caso inexista outro meio eficaz para a sua

propositura.

26. (CESPE.Oficial Técnico de Inteligência.Área de Direito.ABIN.2010) Para os casos em que a falta da

norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das

prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, a CF enumera, taxativamente, os

legitimados para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

27. (CESPE.Oficial Técnico de Inteligência.Área de Direito.ABIN.2010) No controle de

inconstitucionalidade por omissão, a decisão do STF é meramente declaratória, devendo-se dar ciência ao

poder competente para adotar as providências necessárias, e, em se tratando de órgão administrativo, para

fazê-lo em trinta dias.

28. (CESPE.Analista Processual.MPU.2010) O pedido de medida liminar é cabível na ação direta de

inconstitucionalidade, mas não na arguição de descumprimento de preceito fundamental, que exige, para

sua propositura, o esgotamento de todas as vias possíveis para sanar a lesão ou a ameaça de lesão a

preceito fundamental.

29. (CESPE.Analista Processual.MPU.2010) Verifica-se a inconstitucionalidade formal, também

conhecida como nomodinâmica, quando a lei ou o ato normativo infraconstitucional contém algum vício

em sua forma, independentemente do conteúdo.

30. (CESPE.Analista Processual.MPU.2010) No direito brasileiro, em se tratando de controle de

constitucionalidade, em regra, aplica-se a teoria da nulidade de forma absoluta no controle concentrado.

31. (CESPE Analista Jud Área Judiciária TRE MT 2010) Os deputados e senadores dispõem de

legitimação ativa para suscitar o controle incidental de constitucionalidade pertinente à observância dos

requisitos que condicionam a válida elaboração das proposições normativas que se achem em curso no

âmbito de suas respectivas casas legislativas.

32. (CESPE.Defensor Público de Segunda Categoria.DPU.2010) Atendendo ao princípio denominado

correção funcional, o STF não pode atuar no controle concentrado de constitucionalidade como legislador

positivo.

33. (CESPE.Procurador.AGU.2010) De acordo com entendimento do STF, o controle jurisdicional prévio

ou preventivo de constitucionalidade sobre projeto de lei ainda em trâmite somente pode ocorrer de modo

incidental, na via de exceção ou defesa.

34. (CESPE.Defensor Público de Segunda Categoria.DPU.2010) A legislação em vigor não admite a

concessão de medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

35. (CESPE.Procurador.AGU.2010) Para o STF, o indeferimento da medida cautelar na ADI não

significa confirmação da constitucionalidade da lei com efeito vinculante.

É comum o emprego da expressão jurisdição constitucional para designar a sindicabilidade desenvolvida

judicialmente tendo por parâmetro a CF e por hipótese de cabimento o comportamento em geral,

principalmente, do poder público, contrário àquela norma paramétrica. A fiscalização do cumprimento da

CF tem como pressuposto básico a ideia desta como conjunto normativo fundamental, que deve ser

resguardado em sua primazia jurídica, vale dizer, em que se impõe a rigidez constitucional. Requer-se,

ainda, a CF em sentido formal. André Ramos Tavares. Curso de direito constitucional, 6.ª ed., p. 240

(com adaptações).

Tendo o texto acima como referência inicial, assinale a opção correta, acerca do controle de

constitucionalidade.

36. (CESPE Téc Assuntos Educacionais DPU 2010) O controle de constitucionalidade preventivo é

realizado durante a etapa de formação do ato normativo, com o objetivo de resguardar o processo

legislativo hígido. Caso haja proposta de emenda constitucional tendente a abolir direito fundamental,

qualquer dos legitimados poderá ajuizar, ainda durante o processo legislativo, ação direta de

inconstitucionalidade para impedir o trâmite dessa emenda.

37. (CESPE Téc Assuntos Educacionais DPU 2010)O sistema jurisdicional instituído com a Constituição

Federal de 1891, influenciado pelo constitucionalismo norte-americano, acolheu o critério de controle de

constitucionalidade difuso, ou seja, por via de exceção, que permanece até a Constituição vigente. No

entanto, nas constituições posteriores à de 1891, foram introduzidos novos elementos e, aos poucos, o

sistema se afastou do puro critério difuso, com a adoção do método concentrado.

38. (CESPE Téc Assuntos Educacionais DPU 2010) A CF mantém regra segundo a qual somente pelo

voto de dois terços de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial podem os tribunais

declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público. Essa norma se refere à reserva

de plenário.

39. (CESPE Téc Assuntos Educacionais DPU 2010) A inobservância da competência constitucional de

um ente federativo para a elaboração de determinada lei enseja a declaração da inconstitucionalidade

material do ato normativo.

40. (CESPE Téc Assuntos Educacionais DPU 2010) A inconstitucionalidade formal se verifica quando a

lei ou ato normativo apresenta algum vício em seu processo de formação. O desrespeito a uma regra de

iniciativa exclusiva para o desencadeamento do processo legislativo constitui exemplo de vício formal

objetivo.

41. (FGV - 2011 - SEFAZ-RJ - Auditor Fiscal) Suponha que o STF, em ação direta de

inconstitucionalidade (ADI), tenha julgado a lei X inconstitucional. Nesse caso, seria correto afirmar que

a lei X

a) é federal e deverá ser encaminhada ao Senado para que seja suspensa.

b) pode ser federal ou estadual e deverá ser encaminhada ao Senado para que seja suspensa.

c) pode ser federal, estadual ou municipal e deverá ser encaminhada ao Senado para que seja suspensa.

d) pode ser federal, estadual ou municipal e não precisa ser encaminhada ao Senado para ser suspensa.

e) pode ser federal ou estadual e não precisa ser encaminhada ao Senado para ser suspensa.

42. (FGV - 2011 - TRE-PA - Analista Judiciário) O controle concentrado de constitucionalidade pode ser

exercido por meio de diversos instrumentos elencados na Constituição. Nesse sentido, é correto afirmar

que

a) são legitimados para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade, entre outros, o Presidente da

República, o Procurador-Geral da República, o Presidente do Senado e o Conselho Federal da OAB.

b) a concessão de medida cautelar em sede de ação direta de inconstitucionalidade não torna aplicável a

legislação anterior acaso existente, em virtude da impossibilidade de repristinação no ordenamento

jurídico brasileiro.

c) o Advogado-Geral da União funciona como uma espécie de curador da presunção de

constitucionalidade dos atos emanados do Poder Público; entretanto, ele não está obrigado a defender tese

jurídica se sobre ela o STF já fixou entendimento pela sua inconstitucionalidade.

d) a decisão do STF em sede de ADI e ADC somente admite agravo de instrumento e embargos de

declaração interpostos pelos requerentes ou requeridos, sendo vedado o benefício ao amicus curiae.

e) a sentença de inconstitucionalidade tem natureza declaratória e, em consequência disso, possui,

sempre, eficácia ex tunc, ceifando o ato no momento de sua entrada no ordenamento jurídico e assim

colhendo todos os efeitos por ele produzidos à pecha de nulidade.

43. (FGV - 2010 - PC-AP – Delegado) Relativamente ao controle de constitucionalidade, assinale a

afirmativa correta.

a) As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de

inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e

efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário, mas não à administração pública

direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

b) Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade,

dentre outros, Governador de Estado, o Procurador-Geral da República, o Conselho Federal da Ordem

dos Advogados do Brasil, dois terços dos membros do Senado Federal ou da Câmara dos Deputados.

c) A súmula vinculante terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas,

acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública

que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

d) A matéria constante de proposta de súmula vinculante rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser

objeto de nova proposta enquanto não for modificada a composição do Supremo Tribunal Federal.

e) Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, a ação direta de

inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal,

estadual ou municipal em face da Constituição Federal ou das Constituições Estaduais.

44. (FGV - 2010 - CODESP-SP – Advogado) Considere as afirmativas abaixo:

I. São legitimados para intentar ação de inconstitucionalidade o Presidente da República e a entidade de

classe de âmbito municipal ou estadual.

II. Não se admite declaração de inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo com força de lei por lei

ou ato normativo com força de lei posteriores.

III. Admite-se o efeito ex nunc na declaração de inconstitucionalidade de lei municipal em processo de

controle difuso.

IV. Na ação direta de inconstitucionalidade, é vedada a intervenção de terceiros, mas admite-se a

desistência da ação.

Somente é correto o que se afirma em

a) I e III.

b) II e III.

c) I e IV.

d) II e IV.

e) III e IV.

45. (FGV - 2008 - TJ-PA – Juiz) A respeito do controle de constitucionalidade de lei municipal, assinale a

alternativa correta.

a) Se lei ou ato normativo municipal, além de contrariar dispositivos da Constituição Federal,

contrariarem igualmente previsões expressas do texto da Constituição Estadual de repetição obrigatória e

redação idêntica, a competência para processar e julgar a representação de inconstitucionalidade será do

Tribunal de Justiça do respectivo Estado-membro.

b) Se lei ou ato normativo municipal, além de contrariar dispositivos da Constituição Federal, contrariar

igualmente previsões expressas do texto da Constituição Estadual de repetição obrigatória e redação

idêntica, a competência para processar e julgar a ação direta de inconstitucionalidade será do Supremo

Tribunal Federal.

c) O único controle de constitucionalidade de lei municipal em face da Constituição Federal é o difuso,

exercido incidenter tantum, por todos os órgãos do Poder Judiciário, quando do julgamento de cada caso

concreto. No entanto, o controle concentrado de lei municipal em face da Constituição Federal poderá se

dar, excepcionalmente, por meio de ação direta de constitucionalidade, caso a lei impugnada fira os

princípios sensíveis previstos na Carta Maior.

d) Se lei ou ato normativo municipal, além de contrariar dispositivos da Constituição Federal,

contrariarem igualmente previsões expressas do texto da Constituição Estadual de repetição obrigatória e

redação idêntica, os legitimados para propor a ação cabível podem escolher onde ajuizá-la, uma vez que a

própria Constituição Federal abriga, no artigo 5º, inciso XXXV, o princípio da inafastabilidade da

jurisdição.

e) O único controle de constitucionalidade de lei municipal em face da Constituição Federal é o difuso,

exercido incidenter tantum, por todos os órgãos do Poder Judiciário, quando do julgamento de cada caso

concreto.

46. (FGV - 2008 - TCM-RJ – Procurador) A via de exceção para o controle de constitucionalidade é

própria:

a) do controle difuso.

b) do controle concentrado.

c) do controle concentrado e difuso.

d) do controle feito pelo Magistrado, ex officio.

e) da ação popular.

47. (FGV - 2010 - SEFAZ-RJ - Fiscal de Rendas) Não possui legitimidade para propor ação direta de

inconstitucionalidade:

a) a mesa da Câmara dos Deputados.

b) a mesa do Senado Federal.

c) a mesa do Congresso Nacional.

d) a mesa da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

e) a confederação sindical de âmbito nacional.

48. (FGV - 2008 - TJ-MS – Juiz) Assinale a alternativa correta.

a) O controle concentrado de constitucionalidade, no Brasil, é feito privativamente pelo Supremo

Tribunal Federal.

b) A cláusula de reserva de plenário, prevista na Constituição Federal, é condição de eficácia jurídica,

como regra, da declaração jurisdicional de inconstitucionalidade dos atos do Poder Público, e deve ser

observada por todos os Tribunais no controle difuso.

c) No Brasil, o controle de constitucionalidade preventivo de projeto de lei é feito exclusivamente pelo

Chefe do Poder Executivo, por intermédio do veto jurídico.

d) No sistema brasileiro, o controle repressivo de constitucionalidade é exercido exclusivamente pelo

Poder Judiciário.

e) A resolução do Senado Federal que suspende a execução da lei ou ato normativo declarado

inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, terá efeitos erga omnese ex tunc.

49. (FGV - 2009 - TJ-PA – Juiz) A respeito da arguição de descumprimento de preceito fundamental,

analise as afirmativas a seguir:

I. Recebida a petição inicial da arguição de descumprimento de preceito fundamental, o Ministro Relator

deverá suspender todos os processos em curso ou os efeitos das decisões judiciais ou de qualquer outra

medida que apresente relação com a matéria objeto da arguição, salvo se decorrentes da coisa julgada.

II. Qualquer cidadão poderá propor arguição de descumprimento de preceito fundamental perante o

Supremo Tribunal Federal.

III. A arguição de descumprimento de preceito fundamental pode ter por objeto a compatibilidade com a

Constituição de 1988 de leis vigentes anteriormente à sua promulgação.

IV. Aplica-se à arguição de descumprimento de preceito fundamental o princípio da subsidiariedade,

segundo o qual ela não será admitida se houver outro meio eficaz de sanar a lesividade.

Assinale:

a) se somente a afirmativa I estiver correta.

b) se somente a afirmativa III estiver correta.

c) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.

d) se somente as afirmativas III e IV estiverem corretas.

e) se somente as afirmativas I, III e IV estiverem corretas.

50. (FGV.Técnico.Processo Legislativo.08) Consoante a jurisprudência assente no Supremo Tribunal

Federal, em tema de controle da constitucionalidade, é possível estabelecer o controle direto de:

(A) lei complementar e regulamento.

(B) lei delegada e lei municipal.

(C) emenda constitucional e lei estadual.

(D) lei ordinária e lei municipal.

(E) Regulamento e de emenda constitucional.

51. (FGV - 2009 - SEFAZ-RJ - Fiscal de Rendas) Ao estabelecer que "a lei não excluirá da apreciação do

Poder Judiciário nenhuma lesão ou ameaça a direito", o inciso XXXV, do artigo 5º, da Constituição

Federal está:

a) conferindo aos juízes em geral o poder de controle concentrado de constitucionalidade.

b) conferindo a todos os membros do Judiciário o poder de derrogar uma lei que lese ou ameace um

direito fundamental.

c) conferindo aos juízes e tribunais o controle difuso de constitucionalidade.

d) conferindo apenas aos tribunais o controle difuso de constitucionalidade.

e) conferindo tanto aos juízes de primeira instância, como aos tribunais, apenas o controle concentrado de

constitucionalidade.

52. (CESPE - 2010 - IPAJM – Advogado) Assinale a opção correta acerca de controle de

constitucionalidade, direito comparado e sistema brasileiro, poder constituinte e conceito e classificação

de constituição.

a) No Brasil, os sistemas de controle de constitucionalidade adotados são o jurisdicional, o político e o

misto. Isso porque podem declarar a inconstitucionalidade das leis o Poder Judiciário, o Poder Legislativo

e o Poder Executivo.

b) A teoria do poder constituinte foi esboçada por Emmanuel Sieyès e aperfeiçoada por

constitucionalistas franceses. O ponto fundamental dessa teoria é o de que ela só pode ser aplicada nos

Estados em que se adotam constituições não escritas e semirrígidas.

c) Mesmo que a CF fosse classificada como flexível, seria legítimo o controle de constitucionalidade de

seu sistema jurídico.

d) Segundo a doutrina, apesar de o poder constituinte ser originário, a história revela experiências no

sentido da indispensabilidade de observância de certos princípios, como, por exemplo, o princípio da

dignidade da pessoa humana, o da justiça, o da liberdade e o da igualdade, quando da criação de uma

nova constituição.

e) Uma norma pode ter a sua constitucionalidade aferida pelo modelo de controle difuso ou pelo modelo

concentrado. O primeiro teve sua origem na Áustria, sob a influência de Hans Kelsen, e o segundo, nos

Estados Unidos da América, a partir do caso Marbury versus Madison, em 1803.

53. (CESPE - 2010 - IPAJM – Advogado) A respeito do controle de constitucionalidade, assinale a opção

correta.

a) No Brasil, o controle preventivo de constitucionalidade ocorre apenas de duas maneiras: por intermédio

das comissões de constituição e justiça do Poder Legislativo e pelo veto do presidente da República.

b) A suspensão de lei considerada inconstitucional em controle difuso, de regra, acarreta efeitos ex tunc.

Tais efeitos atingem somente as partes do processo. Todavia, se o Senado Federal, por resolução, usar a

prerrogativa constante do art. 52, X, da CF, qual seja, a de suspender, no todo ou em parte, a execução da

lei tida por inconstitucional, desde que a decisão tenha sido definitiva e deliberada pela maioria absoluta

do pleno do tribunal, os efeitos serão erga omnes, porém valerão a partir do momento em que a resolução

do Senado Federal for publicada na imprensa oficial.

c) Caso determinada lei seja suspensa por inconstitucionalidade em controle concentrado, os efeitos dos

atos praticados sob a vigência dessa lei serão ex tunc e erga omnes. Ressalte-se que até mesmo os atos

cometidos antes da declaração de inconstitucionalidade serão atingidos pela decisão, o que leva o STF,

obrigatoriamente, a alterar a eficácia temporal da decisão.

d) A expressão ―no todo ou em parte‖ — nos termos do art. 52, X, da CF — deve ser interpretada como

sendo possível o Senado Federal ampliar, interpretar ou restringir a extensão da decisão do STF, de forma

que, caso tenha toda a lei sido declarada inconstitucional pelo STF, em controle difuso, de modo

incidental, é possível que o Senado Federal, por entender conveniente a suspensão da lei, faça-o apenas

em parte, como manda a CF.

e) De acordo com o STF, podem ser objeto de controle de constitucionalidade perante o STF leis e atos

normativos federais ou estaduais — como resoluções administrativas dos tribunais — e atos estatais de

conteúdo meramente derrogatório — como as resoluções administrativas —, desde que incidam sobre

atos de caráter normativo, entre outros. Além desses, a Corte admite o controle de constitucionalidade das

súmulas de jurisprudência e das súmulas vinculantes.

54. (CESPE - 2010 - TRT - 21ª Região (RN) - Analista Judiciário - Área Judiciária) No controle de

constitucionalidade por via de exceção, a inconstitucionalidade não diz respeito diretamente ao objeto

principal da lide, mas, sim, à questão prévia, tida como indispensável ao julgamento de mérito. Em razão

disso, a decisão tem efeito inter partes, já que o ato normativo ou a lei permanecem válidos e com força

obrigatória em relação a terceiros.

55. (CESPE - 2010 - TRT - 21ª Região (RN) - Técnico Judiciário - Área Administrativa) Para declarar a

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, exige-se o voto da maioria relativa dos

membros do respectivo órgão especial, como forma de reforçar o controle de constitucionalidade no

ordenamento jurídico.

56. (CESPE - 2010 - DPE-BA - Defensor Público) O STF admite, com fundamento no princípio da

contemporaneidade, a aplicação da denominada teoria da inconstitucionalidade superveniente.

57. (CESPE - 2010 - DPE-BA - Defensor Público) De acordo com a CF, o controle abstrato de

constitucionalidade realizado no âmbito do tribunal de justiça do estado, por intermédio de ação direta de

inconstitucionalidade, somente pode ter por objeto leis ou atos normativos estaduais ou municipais

confrontados perante a Constituição estadual.

58. (CESPE - 2010 - DPE-BA - Defensor Público) Os efeitos gerais da declaração de

inconstitucionalidade, no âmbito da ação direta de inconstitucionalidade, pelo STF são vinculantes em

relação aos órgãos do Poder Judiciário e da administração pública federal, estadual, municipal e distrital.

59. (CESPE 2011 TCU - Analista de Controle Externo – Auditoria Governamental) Não se admitem a

desistência e a ação rescisória dos julgados de ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de

constitucionalidade.

60. (CESPE - 2010 - TCE-BA – Procurador) No controle concentrado, os efeitos da declaração de

inconstitucionalidade são erga omnes e ex tunc, mas, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de

excepcional interesse social, o STF pode, por maioria qualificada de dois terços de seus membros,

restringir os efeitos da declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado

ou de outro momento que venha a ser fixado.

61. (CESPE - 2010 - MPE-RO – Promotor - ADAPTADA) A respeito do controle de constitucionalidade

na jurisprudência do STF, assinale a opção correta.

a) O STF está adstrito à fundamentação jurídica (causa petendi) invocada na ADI, desde que o proponente

a tenha trazido de forma específica, e não genérica.

b) A ação civil pública pode ser manejada para se obter o controle de constitucionalidade de lei, desde

que a declaração de inconstitucionalidade seja incidenter tantum e tenha eficácia erga omnes.

c) Quando ato normativo municipal for contestado em face de norma da constituição do estado repetida

da CF, por força da reprodução obrigatória, a competência para julgar a ADI será do STF.

d) Não é cabível o ajuizamento de ADI perante o STF para impugnar ato normativo editado pelo DF, no

exercício de competência que a CF tenha reservado aos municípios.

62. (CESPE - 2010 - DPU - Agente Administrativo) O princípio da supremacia requer que todas as

situações jurídicas se conformem com os princípios e preceitos da CF. Essa conformidade com os ditames

constitucionais, agora, não se satisfaz apenas com a atuação positiva de acordo com a Constituição. Exige

mais, pois omitir a aplicação de normas constitucionais, quando a CF assim a determina, também

constitui conduta inconstitucional. De fato, a CF reconhece duas formas de inconstitucionalidade: a

inconstitucionalidade por ação (atuação) e a inconstitucionalidade por omissão. José Afonso da

Silva. Curso de direito constitucional positivo. 27.ª ed., São Paulo: Malheiros, 2006, p. 46-7 (com

adaptações). Tendo o texto acima como referência inicial, assinale a opção correta acerca do controle de

constitucionalidade.

a) A CF prevê tanto o controle posterior de constitucionalidade, quanto o preventivo, cabendo este apenas

ao Poder Legislativo, que, por meio de suas comissões de constituição e justiça, pode barrar projeto de lei

que, de algum modo, viole o texto constitucional.

b) O sistema jurisdicional instituído com a CF, influenciado pelo constitucionalismo norte-americano,

acolheu exclusivamente o critério de controle de constitucionalidade difuso, ou seja, por via de exceção.

c) O controle difuso (ou jurisdição constitucional difusa) e o controle concentrado (ou jurisdição

constitucional concentrada) são dois critérios de controle de constitucionalidade. O primeiro é verificado

quando se reconhece o seu exercício a todos os componentes do Poder Judiciário, e o segundo ocorre se

só for deferido ao tribunal de cúpula ou a uma corte especial.

d) A inobservância da competência constitucional de um ente federativo para a elaboração de

determinada lei enseja a declaração da inconstitucionalidade material do ato normativo.

e) Qualquer ato normativo que desrespeite preceito ou princípio da CF deve ser declarado

inconstitucional, por possuir vício formal insanável.

63. (CESPE - 2010 - DPU – Economista) É comum o emprego da expressão jurisdição constitucional

para designar a sindicabilidade desenvolvida judicialmente tendo por parâmetro a CF e por hipótese de

cabimento o comportamento em geral, principalmente, do poder público, contrário àquela norma

paramétrica. A fiscalização do cumprimento da CF tem como pressuposto básico a ideia desta como

conjunto normativo fundamental, que deve ser resguardado em sua primazia jurídica, vale dizer, em que

se impõe a rigidez constitucional. Requer-se, ainda, a CF em sentido formal. André Ramos Tavares.

Curso de direito constitucional, 6.ª ed., p. 240 (com adaptações). Tendo o texto acima como referência

inicial, assinale a opção correta, acerca do controle de constitucionalidade.

a) A inconstitucionalidade formal se verifica quando a lei ou ato normativo apresenta algum vício em seu

processo de formação. O desrespeito a uma regra de iniciativa exclusiva para o desencadeamento do

processo legislativo constitui exemplo de vício formal objetivo.

b) O controle de constitucionalidade preventivo é realizado durante a etapa de formação do ato

normativo, com o objetivo de resguardar o processo legislativo hígido. Caso haja proposta de emenda

constitucional tendente a abolir direito fundamental, qualquer dos legitimados poderá ajuizar, ainda

durante o processo legislativo, ação direta de inconstitucionalidade para impedir o trâmite dessa emenda.

c) O sistema jurisdicional instituído com a Constituição Federal de 1891, influenciado pelo

constitucionalismo norteamericano, acolheu o critério de controle de constitucionalidade difuso, ou seja,

por via de exceção, que permanece até a Constituição vigente. No entanto, nas constituições posteriores à

de 1891, foram introduzidos novos elementos e, aos poucos, o sistema se afastou do puro critério difuso,

com a adoção do método concentrado.

d) A CF mantém regra segundo a qual somente pelo voto de dois terços de seus membros ou dos

membros do respectivo órgão especial podem os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato

normativo do poder público. Essa norma se refere à reserva de plenário.

e) A inobservância da competência constitucional de um ente federativo para a elaboração de determinada

lei enseja a declaração da inconstitucionalidade material do ato normativo.

64. (CESPE - 2010 - MPE-ES – Promotor - ADAPTADA) Segundo jurisprudência pacífica do STF, na

hipótese de propositura simultânea de ação direta de inconstitucionalidade contra lei estadual perante o

STF e o TJ, o processo no âmbito do STF deverá ser suspenso até a deliberação final do TJ estadual.

65. (CESPE - 2010 - MPS - Agente Administrativo) O controle repressivo de constitucionalidade,

realizado pelo Poder Judiciário, pode dar-se por via de ação ou via de exceção, também dito de defesa,

difuso ou aberto.

66. (CESPE - 2010 - MPS - Técnico em Comunicação Social) A perda superveniente da

representatividade do partido político no Congresso Nacional acarreta o arquivamento de ação direta de

inconstitucionalidade proposta por esse partido.

67. (CESPE - 2010 - AGU – Procurador) Tal como ocorre na ADI, não é admitida a impetração de

mandado de segurança contra lei ou decreto de efeitos concretos.

68. (CESPE - 2011 - STM - Analista Judiciário - Área Judiciária) É possível se formular pedido cautelar

em ação direta de inconstitucionalidade.

69. (CESPE - 2011 - TJ-ES - Analista Judiciário – Direito) A ação direta de inconstitucionalidade por

omissão pode ser proposta pelos mesmos legitimados à propositura da ação direta de

inconstitucionalidade genérica e da ação declaratória de constitucionalidade.

70. (CESPE - 2011 - TRE-ES - Analista Judiciário - Área Judiciária) Segundo o STF, na ação direta de

inconstitucionalidade genérica, é cabível a concessão de medida cautelar que suspenda a vigência da lei

ou do ato normativo arguido como inconstitucional, assim como é viável a concessão de medida liminar

na ação declaratória de constitucionalidade; em ambas as ações, tal concessão tem efeito vinculante.

71. (CESPE - 2011 - TJ-ES - Comissário da Infância e da Juventude) Os efeitos da decisão procedente de

uma ação direta de inconstitucionalidade são ex tunc e erga omnes, não se admitindo exceções à regra

legalmente instituída.

72. (CESPE - 2010 - EMBASA - Analista de Saneamento – Advogado) No Brasil, o controle de

constitucionalidade jurisdicional combina os critérios difuso e concentrado. A regra é que, no controle

concreto, ocorre a coisa julgada entre as partes do processo e, no controle abstrato, há a eficácia contra

todos e efeito vinculante. Há, contudo, instrumentos que acabam por objetivar o controle difuso, entre os

quais se destaca a súmula vinculante.

73. (CESPE - 2011 - EBC - Analista – Advocacia) Antes de um projeto de lei ser votado em uma das

casas do Congresso Nacional, ele é submetido à Comissão de Constituição e Justiça da respectiva Casa e,

caso essa comissão emita pronunciamento no sentido de ser inconstitucional o projeto, ele não poderá ser

submetido ao plenário para votação, antes de sanada a inconstitucionalidade.

74. (CESPE - 2011 - EBC - Analista – Advocacia) Somente o Poder Judiciário pode pronunciar a

inconstitucionalidade de uma lei em vigor, alcançando retroativamente as situações que se formaram sob

sua égide.

75. (CESPE - 2011 - Instituto Rio Branco – Diplomata - ADAPTADA) Acerca da Constituição Federal

de 1988 (CF), do controle de constitucionalidade e da personalidade jurídica no direito brasileiro, assinale

a opção correta.

a) A CF é, quanto à estabilidade, uma constituição semirrígida, pois admite, desde que expressamente

declarado, que lei infraconstitucional posterior possa alterá-la.

b) Os atos jurídicos normativos devem estar em conformidade com os preceitos constitucionais. No que

diz respeito aos atos jurídicos de efeito concreto, estão sujeitos à autoridade normativa da CF os atos

praticados na esfera dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, mas não os praticados por

particulares.

c) A ação direta de inconstitucionalidade pode ser impetrada contra tratados que versem sobre direitos

humanos com status de norma constitucional, contra tratados de direitos humanos que ingressem no

ordenamento jurídico com a natureza de norma supralegal e contra os tratados que, não dispondo sobre

direitos humanos, adentrem o ordenamento com força de lei ordinária.

d) Editadas unilateralmente pelo presidente da República, as medidas provisórias somente adquirem

eficácia e plena aplicabilidade após serem aprovadas nas duas casas do Congresso Nacional e,

consequentemente, convertidas em lei.

76. (CESPE - 2011 - TJ-PB – Juiz) Acerca do controle de constitucionalidade, assinale a opção correta.

a) No controle difuso de constitucionalidade, os efeitos da decisão são, no aspecto temporal, ex tunc e,

quanto aos atingidos, inter partes, não se admitindo exceções.

b) O controle judicial preventivo de constitucionalidade, que envolve vício no processo legislativo, deve

ser exercido pelo STF via mandado de segurança, caracterizando-se como controle in concreto e

efetivando-se de modo incidental.

c) Conforme entendimento do STF, não cabe controle de constitucionalidade contra leis ou atos

normativos anteriores à CF, seja por via de controle concentrado, seja por controle difuso.

d) A inconstitucionalidade formal relaciona-se, sempre, com a inconstitucionalidade total, visto que o ato

editado em desconformidade com as normas previstas constitucionalmente deve todo ele ser declarado

inconstitucional.

e) Em atenção ao princípio da adstrição, o ordenamento jurídico brasileiro não admite a

inconstitucionalidade por arrastamento, que consistiria na possibilidade de o STF declarar a

inconstitucionalidade de uma norma objeto de pedido e também de outro ato normativo que não tenha

sido objeto do pedido, em virtude de correlação, conexão ou interdependência entre uma e outro.

77. (CESPE - 2011 - Correios - Advogado) Decisão proferida pelo STF em sede de ADPF pode ser objeto

de ação rescisória, considerando-se as peculiaridades do instituto.

78. (CESPE - 2011 - Correios - Analista de Correios – Advogado) O controle difuso de

constitucionalidade, que é exercido somente perante caso concreto, pode ocorrer por meio das ações

constitucionais do habeas corpus e do mandado de segurança.

79. (CESPE - 2011 - Correios - Advogado) Em regra, decisão proferida pelo Supremo Tribunal

Federal (STF) que defere a medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade tem efeitos ex nunc.

80. (CESPE 2011 TCU - Analista de Controle Externo – Auditoria Governamental) Tanto a proposta de

emenda constitucional quanto a própria emenda constitucional podem ser objeto de controle de

constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal (STF).

81. (FGV.Analista.Processo Legislativo.08) Relativamente à argüição de descumprimento de preceito

fundamental, analise as afirmativas a seguir:

I. Podem propor argüição de descumprimento de preceito fundamental os legitimados para a ação direta

de inconstitucionalidade.

II. Não cabe argüição de descumprimento de preceito fundamental para reparar lesão a preceito

fundamental resultante de lei ou ato normativo anterior à promulgação da Constituição.

III. A supremacia da Constituição admite a propositura de argüição de descumprimento de preceito

fundamental quando em substituição a qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.

IV. É possível a propositura de argüição de descumprimento de preceito fundamental quando for

relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou

municipal.

Assinale:

(A) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas.

(B) se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas.

(C) se apenas as afirmativas I e IV estiverem corretas.

(D) se apenas as afirmativas I, II e III estiverem corretas.

(E) se todas as afirmativas estiverem corretas.

Gabarito: 1-E; 2-E; 3-C; 4-E; 5-E; 6-E; 7-C; 8-E; 9-C; 10-E; 11-C; 12-E; 13 – E; 14 – B; 15 – A; 16 – C; 17 – B; 18

– E; 19 – E; 20 – C; 21 – D; 22 – A, 23-E, 24-Anulada, 25-C, 26-E, 27-C, 28-E, 29-C, 30-E, 31-C, 32-C, 33-C, 34-E,

35-C, 36-E, 37-C, 38-E, 39-E, 40-E; 41-E; 42-C; 43-C; 44-B; 45-A; 46-A; 47-C; 48-B; 49-D; 50-C; 51-C; 52-D; 53-

B; 54-C; 55-E; 56-E; 57-C; 58-C; 59-C; 60-C 61-D; 62-C; 63-C; 64-E; 65-C; 66-E; 67-E; 68-C; 69-C; 70-C; 71-E;

72-C; 73-E; 74-C; 75-C; 76-B; 77-E; 78-C; 79-C; 80-C; 81-C.

III – ORGANIZAÇÃO DO ESTADO (no presente material: observações de

Federação Brasileira)

1. Características do Estado Federal e da Federação brasileira

Os artigos 18 e 19 da CF/88 dispõem sobre a organização político-

administrativa, consagrando no Brasil o Estado Federativo23

, que se opõe ao Estado

Unitário por conter uma descentralização político-administrativa.

A Federação é uma forma de Estado pela qual se objetiva distribuir o

poder pelo território, preservando a autonomia dos entes políticos que a compõem.

No pacto federativo, serão repartidas as tarefas estatais entre as entidades federativas

(distribuição de competências) e se assegurará a autonomia necessária para o

cumprimento das atribuições de cada um.

Resumimos da seguinte forma as características comuns a um Estado Federal:

a) Existe uma Constituição Federal rígida, que organiza o Estado Federativo.

b) A Federação caracteriza-se por uma descentralização político-

administrativa e por uma divisão espacial do poder, o que gera uma pluralidade de

entidades governamentais e de ordenamentos jurídicos dentro de um mesmo território

estatal.

c) O Estado Federal (a República Federativa do Brasil) é o único dotado de

soberania, entendida esta como o poder de autodeterminação plena, não condicionado

por nenhum outro poder, externo ou interno.

d) As entidades federativas (União, estados, DF e municípios) são dotadas

apenas de autonomia, concebida como a capacidade de autodeterminação (financeira,

administrativa, legislativa, orçamentária e política – FALOP), dentro dos limites

previstos na CF/88.

e) É inadmissível o direito de secessão (os entes federativos não possuem o

direito de se separar do Estado Federal – princípio da indissolubilidade federativa).

No Brasil, qualquer movimento separatista resultará na decretação de intervenção

federal (CF, art. 34, I).

f) Não existe hierarquia entre os entes da Federação (a União não é

hierarquicamente superior aos estados nem estes aos municípios).

g) Há repartição de competências entre os entes (no pacto federativo, são

repartidas as tarefas estatais entre as entidades e assegura-se exatamente a autonomia

23

A forma federativa de Estado é adotada no Brasil desde o Decreto n.º 1, de 15.11.1889, que instituiu também a

forma republicana de governo.

necessária para o cumprimento das atribuições de cada um).

h) As entidades federativas participam na formação da vontade nacional

(no Brasil, por meio do Senado Federal, constituído de representantes dos estados-

membros e do DF).

i) É previsto um controle de constitucionalidade para evitar a invasão de

competências entre os entes da Federação.

j) Existe um guardião da Constituição (no Brasil, o STF).

Importante para concursos!

- O Estado brasileiro (a República Federativa do Brasil) é o único dotado de

soberania (ampla liberdade externa e interna). A União, os estados-membros, o DF e

os municípios são dotados apenas de autonomia (i.e., de liberdade político-

administrativa nos limites da CF).

- Representando matematicamente: a RFB (única dotada de soberania) =

{União, estados, DF, municípios} (estes dotados de autonomia).

- União = {estados-membros, DF, municípios}

- A União, por vezes, exerce a soberania do Estado brasileiro, mas isso não lhe

retira a natureza de pessoa jurídica de Direito Público interno, dotada apenas de

autonomia.

- Na Federação, não existe o direito de secessão, valendo o princípio da

indissolubilidade federativa.

Já as características da federação brasileira podem ser resumidas da seguinte

forma:

a) O federalismo brasileiro é de formação centrífuga ou por desagregação,

considerando que um Estado unitário (o Império do Brazil) resolveu dividir-se numa

Federação.

b) A CF/88 tenta emplacar um federalismo de equilíbrio, mas, na prática,

temos um federalismo centrípeto, i.e., com poderes concentrados no ente central: a

União. ATENÇÃO: o nosso federalismo é centrípeto, mas de formação centrífuga!

c) O federalismo brasileiro é tripartido ou tridimensional (e não clássico ou

dual).

d) O Brasil adota o federalismo homogêneo ou simétrico (pelo qual todas as

entidades federativas são tratadas de maneira igual), mas faz concessões ao

assimétrico ou heterogêneo (ex.: art. 45, § 1.º).

e) A CF/88 contempla mecanismos do federalismo cooperativo, pelo qual as

entidades devem cooperar entre si para que cada uma consiga realizar plenamente as

suas atribuições (ex.: art. 30, VI).

f) A CF/88 abraça a repartição horizontal de competências (típica do

federalismo clássico) em seus arts. 21, 22, 25, § 1.º, e 30; e a repartição vertical

(típica do federalismo cooperativo) em seus arts. 23 e 24.

2. Componentes do Estado Federal O Brasil adotou o sistema tricotômico, com três esferas de poder

24 (o poder

central, o regional e o local), sendo componentes da federação brasileira: a União, os

estados-membros, o Distrito Federal e os municípios.

24

O Brasil não adotou o modelo clássico, dual ou bipartido de Federação, que é o norte-americano, onde só existem

duas esferas de poder: o poder central da União e os poderes regionais dos estados-membros.

Brasília é, ao mesmo tempo, a Capital da República Federativa do Brasil, a

Capital da União e também sede do governo do Distrito Federal, mas não é uma

―cidade‖, pois não é sede de município.

O Distrito Federal não é estado-membro nem município (nem pode se subdividir

nestes) e exatamente por isso o DF possui as competências legislativas, administrativas

e tributárias de ambos. Mas não todas! Isso é porque, na CF/88, a autonomia do DF

encontra-se parcialmente tutelada pela União, a saber:

a) Compete privativamente à União organizar, manter (i.e., pagar) e legislar

sobre o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do Distrito

Federal e Territórios (CF, arts. 21, XIII, 22, XVII, e 48, IX). Assim, o TJDFT, o

MPDFT e a DPDFT são órgãos da União, e não do DF (pois foram criados para atender

o DF e os territórios federais).

b) Compete à União organizar e manter (i.e., pagar) a Polícia Civil, a Polícia

Militar e o Corpo de Bombeiros Militar do DF, bem como prestar assistência financeira

ao DF para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio (v. Lei n.º

10.633/02 – Fundo Constitucional do Distrito Federal – FCDF) (CF, art. 21, XIV).

Ressalte-se que a PCDF, a PMDF e o CBMDF são órgãos do DF, mas pagos e

legislados pela União.

Importante para concursos!

- O DF acumula as competências dos estados-membros e dos municípios, mas

não todas: o DF não possui autonomia sobre o seu Poder Judiciário, Ministério

Público, Defensoria Pública, Polícias Civil e Militar e Corpo de Bombeiros

Militar, os quais são mantidos, legislados e organizados pela União.

Jurisprudência

Súmula 647 do STF: ―Compete privativamente à União legislar sobre

vencimentos dos membros das polícias civil e militar do Distrito Federal‖.

Os territórios federais não são componentes da Federação brasileira. São

autarquias, pessoas jurídicas de direito público, ligadas à União e tendo nela a fonte

de sua própria legislação.

A criação de um novo território federal, sua transformação ou reintegração no

estado de origem poderão ser regulamentadas por Lei Complementar. Já a sua

organização administrativa e judiciária serão dispostas em lei ordinária federal.

Estabelece o art. 18, § 3.º, da CF/88, que os estados podem incorporar-se entre

si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos

estados ou territórios federais, mediante aprovação da população diretamente

interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por Lei Complementar.

Nos termos do art. 18, § 4.º, da CF/88, a criação, a incorporação, a fusão e o

desmembramento de Municípios far-se-ão por lei ordinária estadual, dentro de período

determinado por lei complementar federal, e dependerão de consulta prévia, mediante

plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos ―Estudos de

Viabilidade Municipal‖, apresentados e publicados na forma da lei.

Segue quadro-resumo com os requisitos de criação das entidades federativas.

Entidades Requisitos para a sua criação

Estado-membro

(semelhante ao

território federal)

– Plebiscito com as populações diretamente interessadas.

– Oitiva das assembléias legislativas envolvidas.

– Lei complementar federal.

Município

– Divulgação dos estudos de viabilidade municipal.

– Plebiscito com as populações diretamente interessadas.

– Lei ordinária estadual, dentro do período determinado por

lei complementar federal.

3. Vedações constitucionais de natureza federativa

O art. 19 da CF contempla algumas vedações de natureza federativa. A que mais

é cobrada em concursos é a do inciso I, que proíbe a vinculação entre Igreja e Estado e

afirma o caráter leigo, laico, ou não confessional do Estado brasileiro (assim sendo

desde a CF de 1891).

A única ressalva da proibição de vinculação entre Estado e Igreja diz respeito à

colaboração de interesse público, a exemplo da subvenção a hospitais, asilos e

orfanatos mantidos por igrejas.

Jurisprudência

Viola o art. 19, III, da CF, por criar distinção entre brasileiros, a lei estadual que:

a) estabelece, como condição de acesso a licitação pública para aquisição de

bens ou serviços, que a empresa licitante tenha a fábrica ou sede no respectivo estado-

membro (ADI 3.583/PR);

b) na análise das propostas em licitações, concede vantagens a empresas que

tenham pago mais tributos à Fazenda Pública daquele estado-membro (ADI 3.070/RN).

4. Bens da União

O art. 20 da CF/88 explicita quais são os bens da União. Sobre esse tema,

destacamos para concursos públicos as seguintes dicas:

1.ª) Nem todas as terras devolutas são bens da União, mas apenas aquelas

indispensáveis:

a) à defesa das fronteiras (i.e., situadas na faixa de fronteira);

b) à defesa das fortificações e construções militares;

c) à defesa das vias federais de comunicação;

d) à preservação ambiental.

2.ª) São rios federais: os que banham mais de um estado, os que sirvam de

limites com outros países ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham.

3.ª) Apenas as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros

países são bens da União. As demais (inclusive ilhas situadas entre estados-membros)

pertencem aos estados e ao DF.

4.ª) Todas as praias marítimas são bens da União.

5.ª) As ilhas oceânicas e costeiras, em regra, são da União. A EC n.º 46/05

retirou da propriedade da União as ilhas oceânicas e costeiras que sejam sede de

município (ex.: Florianópolis/SC), apesar de manter como propriedade federal, nessas

ilhas que sediam município, as áreas afetadas ao serviço público federal e à unidade

ambiental federal.

6.ª) O mar territorial (até 12 milhas marítimas) faz parte do território nacional

e é bem da União. Já a plataforma continental e a zona econômica exclusiva (de 12

a 200 milhas marítimas) não integram o território brasileiro e apenas os recursos

naturais dessas regiões são bens da União.

Jurisprudência

1) Propriedade anterior à Constituição de 1934: No processo de demarcação das

terras indígenas, deve ser respeitado o domínio dos particulares, se o título estiver

devidamente registrado e remontar a data anterior à CF de 1934 (STJ, MS 4.810/DF).

2) No julgamento da ação popular que questionava o modelo contínuo de

demarcação da terra indígena Raposa/Serra do Sol, situada no estado de Roraima (Pet

3.388/RR, v. Info 539 do STF), o STF decidiu que:

a) Apenas a demarcação contínua viabiliza o direito dos índios às terras que

tradicionalmente ocupam.

b) Quanto ao marco temporal, determinou-se que os índios têm direito às terras

que tradicionalmente ocupavam na data da promulgação da CF/88 (5/10/88), desde

que essa ocupação tivesse a característica da perdurabilidade, sendo mais antiga do que

qualquer outra, daí a nulidade e a extinção de atos que tenham essas terras por objeto,

prevalecendo o direito por continuidade histórica até mesmo sobre o direito adquirido

por título cartorário ou concessão estatal (CF, art. 231, § 6.º). Por outro lado, ressaltou-

se que a ocupação tradicional dos índios não deve ser ignorada onde, ao tempo da

promulgação da CF/88, a reocupação apenas não ocorreu por efeito de renitente

esbulho por parte de não índios.

c) No que se refere à abrangência fundiária do advérbio tradicionalmente (CF,

art. 231), considerou-se que ele engloba todas as áreas necessárias à habitação

permanente dos índios, as utilizadas para as suas atividades produtivas, mais as

imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e as

necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições

(CF, art. 231, § 1.º).

d) A existência de terras indígenas em faixa de fronteira não ameaça a soberania

nacional, cabendo ao Estado instalar postos de vigilância dos órgãos competentes

(Forças Armadas, Polícia Federal, etc.), sem necessidade de licença de quem quer que

seja para fazê-lo.

e) A exclusividade de usufruto das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nas

terras indígenas é conciliável com a eventual presença de não índios, bem assim com a

instalação de equipamentos públicos, a abertura de estradas e outras vias de

comunicação, a montagem ou construção de bases físicas para a prestação de serviços

públicos ou de relevância pública, desde que tudo se processe sob a liderança

institucional da União, controle do Ministério Público e atuação coadjuvante de

entidades tanto da Administração Federal quanto representativas dos próprios indígenas.

O que já impede os próprios índios e suas comunidades, por exemplo, de interditar ou

bloquear estradas, cobrar pedágio pelo uso delas e inibir o regular funcionamento das

repartições públicas.

3) O STF decidiu que compete ao TCE, e não ao TCU, a fiscalização da

aplicação dos recursos recebidos pelos estados a título de royalties decorrentes da

exploração de petróleo, xisto betuminoso e gás natural em seu território, por se

constituírem tais recursos receitas originárias dos estados (CF, art. 20, § 1.º).

Entendeu-se inaplicável ao caso o disposto no art. 71, VI, da Carta Magna, o qual se

refere especificamente ao repasse efetuado pela União, mediante convênio, acordo ou

ajuste, de recursos originariamente federais (STF, MS 24.312/DF).

4) O TRF da 1.ª Região decidiu que a compensação financeira e a participação

nos resultados, a que se refere o art. 20, § 1.º, da CF, constituem receitas originárias

patrimoniais (de caráter indenizatório), não tributária, a elas não se aplicando os

princípios constitucionais tributários (AC 96.01.10417-8/DF).

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que

adotarem, observados os princípios desta Constituição.

Dicas para concursos

1. O caput do art. 25 trata da auto-organização e da autonomia legislativa e

determina que as constituições e as leis estaduais respeitem os princípios da CF/88.

2. O poder constituinte estadual (também denominado de poder constituinte

derivado decorrente) é o poder que os estados e o DF possuem de elaborar as suas

próprias constituições, complementando a CF/88 e organizando as suas próprias

estruturas políticas e administrativas.

3. A doutrina classifica os princípios da CF/88 limitadores do poder constituinte

estadual em:

a) Princípios constitucionais sensíveis, que se relacionam com aspectos

fundamentais da organização federativa e cuja violação por normas da constituição

estadual (ou da LODF) resulta na decretação de uma intervenção federal, a fim de

restabelecer o equilíbrio federativo (daí a sua sensibilidade). Estão previstos no art. 34,

VII, alíneas a a e, da CF/88.

b) Princípios constitucionais estabelecidos (ou organizatórios), que trazem

limitações expressas e implícitas à capacidade de auto-organização dos entes

federativos. As limitações expressas podem ser de caráter mandatório (exs.: arts. 37 a

41 da CF) ou vedatório (exs.: arts. 19 e 150 da CF). As limitações implícitas decorrem

da necessária observância às normas centrais da Constituição Federal (exs.: arts. 1.º ao

5.º, princípio democrático, direitos fundamentais, etc.).

c) Princípios constitucionais extensíveis, que são aqueles voltados

textualmente para a União, mas que devem ser respeitados pelas demais entidades

federativas (exs.: arts. 59 a 69 e 165 e seguintes).

4. Os limites ao poder constituinte estadual têm íntima ligação com o princípio

da simetria, o qual exige a correspondência entre as instituições no âmbito federal e

estadual (ou seja, as instituições estaduais devem ser organizadas em conformidade com

os parâmetros fornecidos pelas instituições federais).

Nesse ponto, a doutrina distingue as normas da CF/88 que são de reprodução

obrigatória pelas entidades federativas (denominadas de normas de reprodução

obrigatória ou normas de reprodução) das normas da CF de reprodução facultativa

(também denominadas normas de imitação).

As normas centrais da CF, que são aquelas relacionadas com o princípio da

separação dos poderes e com aspectos fundamentais do federalismo, da república e da

democracia certamente são de reprodução obrigatória. Já as normas da CF voltadas para

a organização da União, mas que não digam respeito a tais aspectos, apenas

facultativamente devem ser reproduzidas pelos demais componentes do Estado Federal.

Nem sempre é fácil distingui-las. O STF já entendeu que os arts. 51, I; 57, § 4.º;

62 e 131, § 1.º, da CF são normas de imitação (HC 86.015/PB e ADIs 2.371/ES-MC,

812/TO-MC e 2.581/SP), enquanto as regras fundamentais do processo legislativo

constitucional (ex.: art. 61, § 1.º) e o art. 55, § 2.º, da CF são normas de reprodução

(ADIs 1.254/RJ-MC e 2.461/RJ).

5. Para além dos casos de normas da CF/88 de repetição obrigatória ou

facultativa pelo poder constituinte estadual, o STF reconhece algumas normas da

Constituição Federal que não podem ser repetidas pelas constituições estaduais, a

exemplo dos §§ 3.º e 4.º do art. 86 da CF (ADI 978/PB).

Jurisprudência

1) O STF entende que afronta o princípio da separação de poderes o trato, em

constituições estaduais, de matéria sem caráter constitucional que caracterize fraude à

iniciativa reservada ao Poder Executivo de leis ordinárias, prevista no art. 61, § 1.º, da

CF.

Dito de outra forma, o constituinte estadual não pode tratar de matérias que a CF

reservou à lei ordinária de iniciativa do Chefe do Poder Executivo (CF, art. 61, § 1.º),

por entender que a constitucionalização de tais matérias afronta uma norma da CF de

observância obrigatória pelos estados-membros (o art. 61, § 1.º, da CF), além de

dificultar o seu gerenciamento por parte do Executivo, diante do quorum qualificado

existente para a aprovação de emendas constitucionais.

Com base nesse entendimento, o STF já declarou a inconstitucionalidade de

norma de constituição estadual que:

a) estabelecia que o valor do soldo de praça da polícia militar não poderia ser

inferior ao salário-mínimo vigente (entendeu-se usurpada a iniciativa reservada ao

Chefe do Poder Executivo para instauração do processo legislativo ordinário em tema

concernente a servidores públicos, seu regime jurídico e aumento de sua remuneração –

CF, art. 61, § 1.º, II, a e c) (ADI 3.555/MA).

b) criou uma instituição responsável pelas perícias criminalísticas e médico-

legais (idem em relação à criação, estruturação e atribuições de órgãos da administração

pública – CF, art. 61, §1.º, II, e) (ADI 3.644/RJ, v. Info 537 do STF).

2) Ocorre que essa jurisprudência restritiva do STF em relação às constituições

estaduais não alcança matérias que a própria Constituição Federal tratou, emprestando-

lhes estatura constitucional. Assim, não viola a CF norma de constituição estadual que:

a) prevê a escolha do procurador-geral do estado entre os integrantes da carreira

(ADI 2.581/SP e ADI 2.682/AP, vide Info 535 do STF);

b) anistia infrações disciplinares de servidores estaduais cometidas na época do

regime militar, à semelhança do art. 8.º do ADCT (ADI 104/RO).

3) "Processo de reforma da Constituição estadual — Necessária observância dos

requisitos estabelecidos na Constituição Federal (art. 60, §§ 1.º a 5.º) — Impossibilidade

constitucional de o Estado-Membro, em divergência com o modelo inscrito na Lei

Fundamental da República, condicionar a reforma da Constituição estadual à aprovação

da respectiva proposta por 4/5 (quatro quintos) da totalidade dos membros integrantes

da Assembléia Legislativa — Exigência que virtualmente esteriliza o exercício da

função reformadora pelo Poder Legislativo local (...)‖ (ADI 486/ES).

4) Por ofensa aos princípios da Constituição Federal (notadamente a separação

de poderes), o STF já declarou a inconstitucionalidade de norma de constituição

estadual que:

a) estipulava prazo para que o governador encaminhasse projetos de lei (PL) de

sua iniciativa legislativa exclusiva (CF, art. 61, § 1.º), por considerar que essa

propositura depende da análise discricionária daquela autoridade, quanto ao momento, à

oportunidade e à conveniência de apresentar o PL ao Legislativo (ADI 2.393/AL);

b) definia os crimes de responsabilidade do governador, estabelecia as penas e

regulava o respectivo processo de impeachment, considerando que compete à União

legislar sobre direito penal e processual penal (CF, art. 22, I) (Súmula 722 do STF e

ADI 2.050/RO);

c) subordinava a nomeação do procurador-geral de justiça (Chefe do MP

estadual) à prévia aprovação do seu nome pela assembléia legislativa, considerando que

a CF já estabelece os requisitos de sua nomeação (CF, art. 128, § 3.º) (ADI 452/MT).

5) O STF declarou a constitucionalidade de norma de CE que fixa a competência

do TJ para processar e julgar o procurador-geral de justiça nos crimes comuns e de

responsabilidade, considerando que cabe à CE estabelecer a competência dos TJs,

observados os princípios da Constituição Federal, nos termos do art. 125, § 1.º, da CF

(ADI 541/PB).

6) O STF decidiu que os estados-membros são competentes para explorar e

regulamentar a prestação de serviços de transporte intermunicipal, mas não a do

transporte intramunicipal (ADIs 2.349/ES e 845/AP).

Art. 29, X – julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça; (EC n.º

01/92)

Dicas para concursos

A CF/88 apenas concedeu ao prefeito municipal a garantia do foro privilegiado.

As constituições estaduais e leis orgânicas municipais não podem estender aos prefeitos

quaisquer outras imunidades concedidas aos governadores ou ao presidente da

República (CF, arts. 51, I, 52, I e 86).

Jurisprudência

1) Pela Súmula 702 do STF, a competência do tribunal de justiça para julgar

prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça Comum Estadual. Nos

demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo

grau (TRF, TRE ou STM, se o crime for, respectivamente, federal, eleitoral ou

militar).

2) Nos termos da Súmula 208 do STJ, compete à Justiça Federal (e, portanto, ao

TRF) processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de

contas perante órgão federal (ex.: TCU).

3) De acordo com a Súmula 209 do STJ, compete à Justiça Estadual (e, portanto,

ao TJ) processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao

patrimônio municipal.

4) Ao cancelar a sua Súmula 394 (―Cometido o crime durante o exercício

funcional, prevalece a competência especial por prerrogativa de função ainda que o

inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessão do referido exercício‖), o STF

passou a aplicar a regra da atualidade do mandato para os foros privilegiados das

autoridades brasileiras. Assim sendo, findo o mandato, o processo criminal contra o

prefeito, deputado, etc. volta para o juízo competente de origem.

5) Nos termos da Súmula 721 do STF, ―a competência constitucional do tribunal

do júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente

pela constituição estadual‖. Como o foro privilegiado do prefeito deriva da Constituição

Federal, ele prevalece sobre a competência do júri. Ex.: prefeito acusado de assassinar

policial federal em serviço (no caso, um crime doloso contra a vida de competência da

Justiça Federal) é julgado pelo TRF, e não pelo tribunal do júri.

6) Súmula 703 do STF: A extinção do mandato do prefeito não impede a

instauração de processo pela prática dos crimes previstos no art. 1.º do Decreto-Lei n.º

201/1967.

Art. 30. Compete aos Municípios:

I – legislar sobre assuntos de interesse local;

Dicas para concursos

1. A CF/88 adotou um sistema complexo de repartição de competências,

combinando as seguintes técnicas:

a) Enumeração expressa dos poderes da União (arts. 21 e 22).

b) Previsão do poder remanescente, não enumerado, residual ou reservado para

os estados-membros (art. 25, § 1.º).

c) Indicação dos poderes dos municípios, em torno do critério do interesse

local (art. 30, I).

2. A lei orgânica municipal possui a importante função de discriminar os

assuntos de predominante interesse local, considerando que a CF/88 não os enumerou

como fez com as competências da União.

Jurisprudência

1) Por considerar ser assunto de interesse local, declarou-se a

constitucionalidade de lei municipal/distrital que:

a) disciplina o tempo de permanência em fila em estabelecimentos bancários e a

obrigação de atender em prazo razoável os usuários desses serviços. Sendo do

município (e, portanto, do DF) a competência para legislar sobre a matéria em causa,

qualquer antinomia ou incompatibilidade entre a lei municipal (ou distrital) e a lei

federal determina a prevalência daquela em relação a esta, e não o contrário (STJ, REsp

598.183/DF e STF, RE 432.789/SC, v. Info 392 do STF);

b) obriga a instalação, em estabelecimentos bancários, de sanitários e

bebedouros (STF, AI 614.510-AgR) ou de equipamentos de segurança, tais como portas

eletrônicas ou câmaras filmadoras (STF, RE 385.398/MG);

c) dispõe sobre limite de tempo de espera em fila dos usuários dos serviços

prestados pelos cartórios localizados no seu respectivo território (STF, RE 397.094/DF).

2) Por vislumbrar ofensa ao art. 30, I, da CF e aplicando a orientação de sua

Súmula 645 (―É competente o município para fixar o horário de funcionamento de

estabelecimento comercial‖), o STF declarou a inconstitucionalidade de portaria de

secretário de segurança pública estadual que fixava os horários de funcionamento dos

estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas no respectivo estado-membro

(ADI 3.731/PI-MC e ADI 3.691/MA, v. Info 477 do STF).

3) Apesar de dispor de assunto de interesse local, ofende o princípio da livre

concorrência a lei municipal que proíbe a instalação de nova farmácia a menos de

quinhentos metros de outra (STF, RE 203.909/SC e Súmula 646 do STF).

4) É inconstitucional lei municipal que proíbe , em todo o território do

município, a fabricação e a comercialização de armas de fogo e munição (STF, AI

189.433-AgR).

5) É inconstitucional lei municipal que fixa o horário bancário de atendimento

ao público, por ser essa matéria de competência da União (STJ, REsp 15.767/PR e

Súmula 19 do STJ).

Importante para concursos!

- Município é competente para dispor sobre horário de funcionamento dos

estabelecimentos comerciais existentes em seu território, mas não é competente para

fixar o horário bancário de atendimento ao público, que é matéria de competência da

União.

II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Dicas para concursos

1. Os incisos I e II do art. 30 da CF/88 trazem as principais competências

legislativas dos municípios: a exclusiva (art. 30, I) e a suplementar (art. 30, II).

2. Quanto à primeira, compete à lei orgânica municipal definir o que ela entende

por assunto de predominante interesse local, considerando que a CF/88 enumerou

apenas parcialmente o seu conteúdo (exs.: CF, arts. 30, 156 e 182, § 1.º).

3. Para ser da competência exclusiva dos municípios, não é necessário que o

assunto seja de exclusivo interesse local. Basta que a matéria seja de predominante

interesse local, atendendo de modo direto e imediato às necessidades locais, ainda que

com alguma repercussão sobre as necessidades dos estados e do País.

4. Quanto à competência suplementar dos municípios, ela somente incide sobre

algumas das hipóteses de competências legislativas concorrentes do art. 24 (não sobre

as matérias de competência legislativa privativa da União do art. 22 da CF).

Exemplificando, é possível que lei municipal suplemente a legislação federal ou

estadual sobre direito tributário (CF, art. 24, I), considerando a necessidade de os

municípios regulamentarem os seus tributos.

Por outro lado, não se admite que lei municipal suplemente a legislação federal

ou estadual sobre defensoria pública ou sobre os direitos e deveres das polícias civis

(CF, art. 24, XIII e XVI), tendo em vista os municípios não possuírem esses órgãos

públicos (defensoria pública e polícia civil) em sua estrutura administrativa.

Finalmente, a doutrina brasileira não admite que lei municipal suplemente a

legislação federal em quaisquer das matérias previstas no art. 22 da CF (exs.: direito

civil, penal, processual ou trabalhista), diante do reconhecimento dos assuntos inseridos

no art. 22 como de predominante interesse nacional, o que evidencia a necessidade de

uma legislação federal uniforme.

5. A doutrina entende que os municípios não desfrutam das mesmas regras da

competência legislativa concorrente, previstas nos parágrafos do art. 24 da CF,

razão pela qual os municípios não poderiam legislar sobre normas gerais na ausência

das leis federais e estaduais, apenas cabendo-lhe complementar os seus conteúdos,

quando já existentes a lei federal e a estadual.

De acordo com essa corrente doutrinária, são requisitos para os municípios

exercerem a competência legislativa suplementar:

a) que a legislação federal ou estadual haja sido elaborada;

b) que essas lacunas sejam referentes a normas específicas;

c) que a supressão dessas lacunas se insira no interesse local do município.

6. Intervenção Federal A intervenção federal consiste em medida excepcional de supressão

temporária da autonomia de determinado ente federativo, fundada em hipóteses

taxativas previstas na Constituição e que visa à unidade e preservação da soberania do

Estado federal e das autonomias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios.

A União somente poderá intervir nos Estados e no Distrito Federal, ou, ainda,

nos Municípios localizados em Territórios Federais – intervenção federal –, enquanto

os Estados somente poderão intervir nos Municípios integrantes do seu território –

intervenção estadual.

A intervenção é ato privativo do Chefe do Poder Executivo, seja do Presidente

da República25

(no caso de intervenção federal), seja do Governador (no caso de

intervenção estadual). O decreto de intervenção deve especificar a amplitude, o prazo e

as condições de execução e, se necessário for, deve afastar as autoridades locais e

nomear temporariamente um interventor.

O decreto interventivo sofre um controle posterior do Poder Legislativo

(controle político), uma vez que, no prazo de 24 horas, ele será submetido à apreciação

25

A Constituição prevê que o Presidente da República, antes de decretar a intervenção federal, receba as

considerações do Conselho da República (art.90, I) e do Conselho de Defesa Nacional (art.91, § 1º, II) – órgãos

superiores de consulta –, sem que haja vinculação do Presidente aos respectivos pareceres.

do Congresso Nacional que, se estiver em recesso, será convocado extraordinariamente.

Se o Congresso rejeitar o decreto e suspender a intervenção, esta passará a ser

inconstitucional e deverá cessar imediatamente, sob pena de crime de responsabilidade

do Presidente da República.

Art. 34 da CF – hipóteses de intervenção federal em Estado-membro ou no DF.

Art.35 – hipóteses de intervenção estadual (ou de intervenção da União em Município

localizado em Território Federal).

São quatro as espécies de intervenção federal do art. 34 da CF:

a) intervenção espontânea - aqui o Presidente da República age de ofício (sem

necessitar do requerimento de qualquer órgão ou autoridade). São as hipóteses

do art.34, incisos I, II, III e V;

b) intervenção provocada por solicitação - art.34, inciso IV, c/c art.36, inciso I

(primeira parte). A intervenção dependerá de solicitação do Poder Executivo ou

do Poder Legislativo das unidades da Federação, quando se declararem

ameaçados ou impedidos do livre exercício de suas funções;

c) intervenção provocada por requisição - são duas as hipóteses: 1) art.34,

inciso IV, c/c art.36, inciso I (segunda parte). Nesse caso, a intervenção

dependerá de requisição do STF, sendo o Poder Judiciário de uma das

unidades da Federação que se sente ameaçado ou impedido de exercitar

livremente suas funções; 2) art.34, inciso VI (segunda parte), c/c 36, inciso II.

Ocorre no caso de desobediência a ordem ou decisão judicial, quando a

decretação da intervenção federal dependerá de requisição do STF, STJ ou do

TSE, a depender da matéria veiculada na ordem ou decisão judicial;

d) intervenção provocada por ação judicial (representação interventiva) –

ocorre em duas hipóteses:

d.1) art.34, inciso VII, combinado com o art.36, inciso III. Esta é a ADI

Interventiva, que é uma ação ajuizada pelo Procurador-Geral da República no STF

em que se pede a decretação da intervenção federal por ter um Estado-membro ou o

DF ofendido os princípios constitucionais sensíveis (CF, art.34, inciso VII).

Percebam que aqui a decretação da intervenção dependerá de o STF julgar

procedente essa ação ajuizada pelo PGR;

d.2) art.34, inciso VI (primeira parte) combinado com o art.36, inciso III, no

caso de recusa à execução de lei federal, quando a intervenção também dependerá

da procedência dessa ação (que em ambas as hipóteses é conhecida como

―representação interventiva‖) ajuizada pelo PGR no STF26.

26 Com a EC n.º 45/04 (―Reforma do Judiciário‖), a representação interventiva no caso de recusa à execução de lei

federal passou da competência do STJ para o STF. Assim, reforçou-se o entendimento pelo qual o Supremo Tribunal

Federal é a Corte da Federação brasileira, devendo concentrar-se no julgamento das causas de interesse geral.