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I Seminário de Desenvolvimento Regional, Estado e Sociedade Agosto de 2012 Rio de Janeiro - RJ - Brasil A METROPOLIZAÇÃO COMO PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UM DEBATE NECESSÁRIO Paulo Romano Reschilian (Universidade do Vale do Paraíba) - [email protected] Arquiteto e urbanista, bacharel em História, Docente e Pesquisador do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraiba, Programa de Mestrado em Planejamento Regional

I Seminário de Desenvolvimento Regional, Estado e ... · a gestão do território. A organização do Estado brasileiro ao configurar a existência de três entes federativos a união,

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I Seminário de Desenvolvimento Regional, Estado e SociedadeAgosto de 2012Rio de Janeiro - RJ - Brasil

A METROPOLIZAÇÃO COMO PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UMDEBATE NECESSÁRIO

Paulo Romano Reschilian (Universidade do Vale do Paraíba) - [email protected] e urbanista, bacharel em História, Docente e Pesquisador do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento daUniversidade do Vale do Paraiba, Programa de Mestrado em Planejamento Regional

A METROPOLIZAÇÃO COMO PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENT O REGIONAL: UM

DEBATE NECESSÁRIO

O processo de metropolização, especialmente nos países em desenvolvimento tem se

asseverado nas ultimas quatro décadas. A despeito da tendência da urbanização

contemporânea ser marcada pelas inflexões da dinâmica da economia mundial que

reconfigura novos cenários de reorganização da base produtiva, e, ao mesmo tempo indicar

níveis de concentração de atividades elevados, as expressões do planejamento regional tem

encontrado perspectivas em diversos países como China, França, Índia, Itália, México e o

Brasil, entre outros. Nesse contexto, tendo em vista o modelo de desenvolvimento

protagonizado no Brasil pela efetiva inserção do Estado na definição de estratégias de

desenvolvimento e inclusão, fundamentados na organização do território em escala

nacional, regional e urbana, observamos uma tendência ao surgimento de novas regiões

metropolitanas no país. Derivada de um debate iniciado, de maneira propositiva, há pelo

menos uma década, com a apresentação do projeto de lei complementar 12/2001, a criação

da RM do Vale do Paraíba e Litoral Norte foi aprovada por meio da lei complementar

estadual 1166, de 9 de janeiro de 2012. Porém, a avaliação do processo histórico de

ocupação e organização do território regional, dos planos realizados e da implantação de

políticas públicas, há pelo menos quatro décadas, sugerem pensar que a questão se coloca

mais para a lógica do modelo de desenvolvimento do que para soluções que possam ser

originadas pelos arranjos da engenharia institucional.

Paulo Romano Reschilian

Doutor em Arquitetura e Urbanismo - FAUUSP

Docente e Pesquisador do Programa de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional da

Universidade do Vale do Paraíba, São Paulo.

Professor Assistente de Planejamento Urbano e Regional licenciado da Universidade de

Taubaté

A metropolização como perspectiva de desenvolviment o regional:

um debate necessário

Considerações iniciais

O processo de metropolização, especialmente nos países em desenvolvimento tem se

asseverado nas ultimas quatro décadas. A despeito da tendência da urbanização

contemporânea ser marcada pelas inflexões da dinâmica da economia mundial que

reconfigura novos cenários de reorganização da base produtiva, e, ao mesmo tempo indicar

níveis de concentração de atividades elevados, as expressões do planejamento regional tem

encontrado perspectivas em diversos países como China, França, Índia, Itália, México e o

Brasil, entre outros.

Estudos realizados pelo CEDEPLAR - Centro de Desenvolvimento e Planejamento

Regional, da Universidade Federal de Minas Gerais, bem como pelo IPEA – Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada e do Observatório das Metrópoles, IPPUR, Universidade

Federal do Rio de Janeiro demonstram a dinâmica, limites e perspectivas da natureza dos

arranjos metropolitanos contemporâneos, colocando-se em questão o processo de

institucionalização de regiões metropolitanas no Brasil.

Além disso, segundo Ribeiro (2011),

“Nos países que têm mais dinamismo, as metrópoles são as

cabeças, o território desse dinamismo, contrariamente do que se

acreditou no passado não muito longínquo: que a revolução

tecnológica, comunicações e transporte iriam inevitavelmente levar a

uma obsolescência das metrópoles.” (RIBEIRO, 2011, p.29)

Nesse contexto, tendo em vista o modelo de desenvolvimento protagonizado no Brasil pela

efetiva inserção do Estado na definição de estratégias de desenvolvimento e inclusão,

fundamentados na organização do território em escala nacional, regional e urbana,

observamos uma tendência ao surgimento de novas regiões metropolitanas no país. Tal

circunstância também é verificável quando ocorre o lançamento do PAC – Programa de

Aceleração do Crescimento, em 2007, sendo uma de suas prioridades o investimento em

infra-estrutura, em áreas como saneamento, habitação, transporte, energia e recursos

hídricos, entre outros.

Iniciativas como a realização, em 2008, do Seminário Internacional sobre o Estudo da

Dimensão Territorial do Planejamento realizado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento

e Gestão atestam o nível de preocupações com um novo cenário de desenvolvimento

alicerçado nos arranjos territoriais como aglutinadores das ações das políticas públicas, das

oportunidades de negócios e do equilíbrio regional em escala nacional.

Os recorrentes e recentes estudos do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada tem

avaliado o quadro da metropolização no Brasil, e, dentre tais análises destaca-se a

compreensão na qual,

“... o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no âmbito da

Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais

(Dirur), desenvolve um projeto intitulado Estratégias de

Desenvolvimento Regional, Políticas Públicas Negociadas e Novas

Institucionalidades. Neste projeto parte-se do suposto de que o

momento é único para a reversão das desigualdades regionais por

meio de um conjunto de ações cujo eixo central é o adensamento

das estruturas produtivas regionais.” (CARLEIAL; CRUZ, 2012, p.9-

10)

Derivada de um debate iniciado, de maneira propositiva, há pelo menos uma década, com a

apresentação do projeto de lei complementar 12/2001, a criação da RM do Vale do Paraíba

e Litoral Norte foi aprovada por meio da lei complementar estadual 1166, de 9 de janeiro de

2012.

Porém, a avaliação do processo histórico de ocupação e organização do território regional,

dos planos realizados e da implantação de políticas públicas, há pelo menos quatro

décadas, sugerem pensar que a questão se coloca mais para a lógica do modelo de

desenvolvimento do que para soluções que possam ser originadas pelos arranjos da

engenharia institucional.

Dessa forma, entendemos a necessidade de debater, difundir e produzir conhecimentos

relativos à temática em questão. E nesse contexto caberão algumas reflexões: se o Estado

tem papel efetivo no ordenamento territorial no Brasil, por que não conseguimos diminuir os

desequilíbrios regionais? Por que a perspectivas de regionalização e planejamento regional

emerge no país depois de algumas décadas? De que forma a criação de Regiões

Metropolitanas poderão de fato alavancar desenvolvimento sustentável e superar as

desigualdades socioambientais? De que forma o processo de participação da sociedade

será de fato contemplado nesse processo?

O contexto global, nacional, regional

A configuração das denominadas metrópoles mundiais ou cidades globais demonstra a

forma pela qual se materializam no território as expressões da economia mundial na

contemporaneidade, sejam elas dotadas de qualidade de vida, infra-estrutura urbana,

garantia de melhor acessibilidade e mobilidade, sejam elas em crescente processo de

precarização como se observa em países como a Índia e no continente africano.

A despeito da tendência crescente de urbanização em escala global, a perspectiva da

concentração populacional em centros ou áreas metropolitanas parece desenhar um cenário

mundial de incremento aos problemas ambientais urbanos nos países pobres ou em

desenvolvimento. A seqüência de imagens demonstra a evolução da população das

metrópoles no planeta de 1975 até 2010, com projeção estimada até 2025.

FIGURA 1 Distribuição das metrópoles no mundo 1975 - 2025

Fonte: EMPLASA: Fórum Nacional de Entidades Metropolitanas, 2011

O processo de desenvolvimento metropolitano no Brasil não é recente. Ele ganhou corpo

institucional no Brasil, durante o governo militar (1964-1985) e teve ao longo do tempo,

períodos de inflexão, notadamente com a crise do planejamento no período de afirmação da

economia global, tentativa de atrofia dos estados nacionais derivada do consenso de

Washington, e do modelo de Estado derivado da Constituição Federal de 1988 que tornou

os municípios entes federativos com autonomia, porém sem capacidade de sustentação

econômico-financeira. A denominada tendência municipalista e a municipalização de

políticas públicas de caráter universal trouxeram ganhos e dificuldades para a integração e

gestão compartilhada em muitos casos, especialmente no processo de organização do

território por meio de planos diretores. Deve-se considerar que há experiências e estudos

em diversos países, inclusive no Brasil que contém inúmeras críticas não só aos critérios de

criação de regiões metropolitanas e quanto ao resultado de sua criação.

Observa-se também que embora as escalas metropolitanas sejam diferentes, e, em

diferentes países, a tendência de polarização das metrópoles e sua perspectiva de serem

pólos catalisadores e difusores da dinâmica econômica no contexto da globalização se

mantém e até indica crescimento.

Para Ribeiro (2011, p.31) “as regiões metropolitanas nos trazem ainda uma questão muito

mais geral, referente à incompatibilidade crescente entre a geografia do estado nacional, tal

como ele foi construído ao longo dos séculos, e a nova territorialidade da economia.”

A questão do que se pode denominar de “geografia do capital” e que sugere concepções e

organizações de caráter regional e/ou metropolitano é analisada por Smith (1988) ao afirmar

que

[...] O capital herda um mundo geográfico [...] À medida que a

paisagem fica sob o domínio do capital (e se torna cada vez mais

funcional para ele) [...], estes padrões são agrupados em uma

hierarquia cada vez mais sistemática de escalas espaciais. “(apud

VAINER, 2011, p.97)

Especialmente nas regiões metropolitanas e de aglomerados urbanos, bem como em

regiões onde há ocorrência ou tendência à conurbação e questões relativas ao ambiente, ao

transporte, a distribuição de equipamentos de saúde e educação, aos problemas ambientais

e recursos naturais, entre outros, será preciso pensar como poderão ser estabelecidas

formas de gestão que possam abranger a escala regional e até nacional, na medida em que,

pelas próprias diretrizes do Estatuto da Cidade e da criação de um Ministério das Cidades,

percebe-se que não há diretrizes de planejamento em escala nacional e regional, mas sim

num conceito de planejamento que entende a cidade como pólo catalisador dos problemas e

perspectivas para as questões sócio-ambientais existentes, ainda que haja recomendações

para que os municípios se articulem no processo de construção dos planos diretores.

A redemocratização do país na década de 1980 e a conseqüente aprovação da Constituição

Brasileira de 1988 podem ser consideradas um marco referencial para os desdobramentos

que se verificam na contemporaneidade da problemática ambiental urbana e regional e para

a gestão do território.

A organização do Estado brasileiro ao configurar a existência de três entes federativos – a

união, os estado e o município, este último percebido como instância política e de gestão na

qual a dinâmica sócio-territorial é efetivada na compreensão de que “a cidade é o país” ou

“mora-se na cidade“, oportunizou, seja na perspectiva do planejamento e gestão, seja na

implantação do aparato jurídico-normativo, a ocorrência de conflitos de competência, tanto

na esfera legal quanto política, administrativa e de gestão. Ainda que nas diretrizes

constitucionais, na legislação ambiental e nos instrumentos de política urbana verifique-se a

premissa da integração, das ações intersetoriais, a compreensão e abrangência de escala,

na verificação das conseqüências e resultantes de inúmeras ações e práticas de gestão

observam-se descompassos, contradições, sobreposições, omissões e limites à

implementação de políticas e programas.

Ressalta-se, que pela natureza dos marcos citados acima, há uma universalidade de

modelos ou parâmetros pensados para o território nacional que muitas vezes encontram

limites operacionais, políticos e de gestão quando colocados diante das especificidades ou

particularidades regionais e locais. Ressalta-se que as particularidades da cultura política

brasileira no que tange à implementação de políticas públicas cuja aplicabilidade depende

da possibilidade de se firmarem pactos sócio-territoriais-ambientais, encontram nos

desequilíbrios regionais e locais limites e obstáculos muitas vezes de difícil superação

quando se buscam parâmetros e indicadores de desenvolvimento socioeconômico e

ambiental pelos órgãos governamentais. Tal contexto é verificável tanto nos municípios do

eixo Rio de Janeiro - São Paulo, quanto do litoral norte paulista decorrente da desigualdade

socioambiental existente que se revela na produção de assentamentos precários, na

ocupação de área de proteção ambiental ou imprópria para a ocupação, pela ausência de

saneamento, poluição de rios, das praias e do mar.

Deve-se considerar também a dimensão demográfica e populacional, uma vez que há uma

tendência de concentração nas regiões metropolitanas

Segundo Pochmann (2011),

“quase metade da população reside nas chamadas regiões

metropolitanas. Dois terços dos brasileiros que moram em cidades,

residem no espaço metropolitano, sendo que esses espaços

congregam apenas a 10% do total de municípios do país. A cada

ano, um milhão e cem mil novos brasileiros são incorporados nas

regiões metropolitanas. Somente estes números expressam a

relevância da discussão das regiões metropolitanas, seja do ponto de

vista econômico, social e político” (POCHMANN, 2011, p.21)

A questão que se apresenta na contemporaneidade é de como o Estado tem construído

políticas e ações na tentativa de promover uma lógica de sustentabilidade urbana e regional

ao relacionar planejamento, aplicação de instrumentos urbanísticos, habitação e infra-

estrutura. Seja no plano federal quanto no estadual, em São Paulo, ainda se manifestam as

tendências de realizar empreendimentos habitacionais que suscitam perspectivas de

expansão horizontal e periférica.

A macrometrópole paulista e a constituição da metró pole

O Estado de São Paulo era constituído por três regiões metropolitanas até o ano de 2011, a

saber, regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Baixada Santista, criando-se em

2012, a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte.

Esse mosaico metropolitano pode ser observado como um processo que se delineava, há

pelo menos quatro décadas, quando da realização de planos e estudos regionais realizados

pela Secretaria de Economia e Planejamento na década de 1970. Pode-se destacar o

estudo Macro-Eixo Paulista (1975-1978) no qual se procurou analisar e apontar diretrizes de

planejamento e desenvolvimento para a região do Vale do Paraíba (incluindo-se litoral norte

e Serra da Mantiqueira) inserida no contexto da descentralização sugerida no II PND –

Plano Nacional de Desenvolvimento.

A denominação desse macro-eixo que identificava o eixo Rio de Janeiro - São Paulo e o

Vale do Paraíba nele inserido já indicava um caminho de organização do território associado

ao cenário metropolitano. Na década seguinte a realização do MAVALE (1988-1991) –

Macrozoneamento do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira – realizado em

parceria com o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e o CODIVAP – Consórcio

Integrado de desenvolvimento do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira

procurou enunciar parâmetros de planejamento regional fundamentados num conceito de

zoneamento ecológico econômico.

Os estudos recentes inclusive já apontam para a possibilidade de constituição de RUG’s

Regiões Urbanas Globais, nas quais a recém-criada RM Vale, assenta-se no eixo macro-

metropolitano (Rio de Janeiro - São Paulo)

Nesse cenário, a concepção da gestão territorial empreendida pelo atual governo de São

Paulo (2011-2014) é expressa nas palavras do então secretário do Desenvolvimento

Metropolitano Edson Aparecido ao dizer:

“podemos caracterizar aquela que poderia ser a maior megalópole da

América do sul se considerarmos um vértice na cidade de Santos,

outro na cidade de Campinas, um terceiro na cidade de Juiz de Fora

em Minas Gerais, e finalmente Campos, no Rio de Janeiro. Este

quadrilátero representa 1% do território nacional e nele é gerado

cerca de 35% do PIB do país com uma renda per capita bem

superior à da média do país. Portanto, são essas regiões que nos

apresentam os grandes desafios de planejamento, de investimento e

de articulação.” (APARECIDO, E. 2011, p. 64)

Observa-se na imagem apresentada na audiência pública para a apresentação do estudo

sobre a criação da RM Vale a lógica da inserção do território regional no plano escalar

global.

FIGURA 2 Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte e a Localização Estratégica no

Território Nacional

Fonte: Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte – EMPLASA – Audiência Pública –

São José dos Campos – 23 / setembro / 2011

A concepção na esfera do Estado é a institucionalização de regiões metropolitanas e de

outros arranjos regionais entendendo no modelo de desenvolvimento proposto uma diretriz

de regionalização como referencial para a formulação das políticas públicas, associado ao

processo orçamentário no estado. Além disso, o discurso da Secretaria de Desenvolvimento

Metropolitano tem enfatizado que tais arranjos e institucionalizações podem garantir a

efetivação de instrumentos de planejamento necessários ao desenvolvimento.

As imagens seguintes ilustram a tendência enunciada seja nos documentos seja nas

apresentações públicas realizadas na esfera da secretaria e do governo estadual por meio

de seus organismos. As figuras 3 e 4 revelam, respectivamente, por meio da exposição de

uma logística no plano do Estado, a perspectiva de organização do território e seus

desdobramentos e impactos sobre o território especialmente no litoral norte, quando se

somam os investimentos estratégicos do pré-sal e gasoduto, bem como ampliação do porto

de São Sebastião e a duplicação de trecho da Rodovia dos Tamoios que liga o Vale do

Paraíba ao litoral norte do Estado de São Paulo.

FIGURA 3 Macrometrópole: Infra-estrutura Viária e Aeroportuária

Fonte. Secretaria do Desenvolvimento Metropolitano, 2012

FIGURA 4 Corredor de Exportação Infra-Estrutura Logística: Nova Tamoios

Fonte: Secretaria de Logística e Transportes. Departamento de Estradas de Rodagem, 2012.

Nesse novo cenário, o Estado de São Paulo constitui-se de unidades regionais

metropolitanas ou aglomerados urbanos, que congregam 179 municípios e sua área

corresponde a 20,6% do território paulista. É uma região, denominada macrometrópole

paulista que gera mais de 27% do PIB nacional – ou quase 84% do PIB paulista. Abriga

cerca de 31 milhões de pessoas, ou seja, cerca de, 74% da população paulista.

Configura-se pelas regiões metropolitanas da Baixada Santista, de Campinas, de São

Paulo e do Vale do Paraíba e do Litoral Norte – considerado pela Secretaria de

Desenvolvimento Metropolitano “um eixo fundamental de integração de São Paulo com

o Rio de Janeiro”.

A Região Metropolitana: contexto e perspectivas

Analisar o contexto regional que configura os vetores da região é pensar que sua

organização territorial está intimamente ligada historicamente à organização da cadeia

produtiva e aos vetores de ocupação e desenvolvimento propiciados no meio físico, seja ele

natural (bacias hidrográficas, faixa litorânea e relevo), seja ele transformado pela construção

dos eixos rodoviários, de investimentos estatais e privados estratégicos e a conseqüente

configuração do território e dos assentamentos humanos, A região litorânea ao norte do

estado de São Paulo, situada, paralelamente, ao eixo das duas maiores metrópoles

brasileiras, constitui particular situação, uma vez, que os vetores de crescimento

demográfico e econômico e seus desdobramentos causados ao ambiente aproximam e

particularizam municípios por meio dos problemas urbanos e ambientais ao longo de pelo

menos quatro décadas. Outro elemento importante é a política de investimentos públicos e

privados que contribui para a configuração de disparidades regionais e a concentração de

investimentos de capital e formação de pólos catalisadores do crescimento populacional,

com conseqüentes problemas habitacionais urbanos e ambientais.

Acrescenta-se a esse quadro os prováveis futuros impactos socioambientais da implantação

do TAV – Trem de Alta Velocidade, conforme ilustra a figura 5.

FIGURA 5 Traçado previsto para o TAV

Fonte: IPEA, 2012 http://mapas.ipea.gov.br/i3geo/aplicmap/geral.

No dia 4 de novembro de 2011, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin,

encaminhou à Assembléia Legislativa o projeto de Lei que dispunha sobre a criação da

Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. O recente processo que dinamizou

esse projeto insere-se na perspectiva política de São Paulo e outros estados brasileiros de

institucionalizar regiões metropolitanas segundo conceitos e formatos que lhes permitem a

Constituição Federal por meio das constituições estaduais. Nessa esfera estadual estão

sendo reestruturadas ou reorganizadas as regiões metropolitanas de Campinas, Santos e

São Paulo com o propósito anunciado de promover-se uma forma de gestão compartilhada

do Estado frente à problemática dos arranjos sócioespaciais resultantes do processo de

ordenamento do território e das possibilidades de gerar, ao menos no discurso, políticas de

integração regional e intermunicipal atinentes a tal condição de metropolização. Observou-

se, seja nas audiências públicas realizadas, seja na veiculação da mídia, que parecia haver

grande consenso, apesar das preocupações manifestas, de que esse é um caminho

necessário para alavancar o desenvolvimento regional e que o aparato jurídico-institucional

proposto dará sustentação e configurará o modelo de gestão e planejamento pretendido

para alcançar tal objetivo.

FIGURA 6 Capa da Revista Vale Paraibano de maio de 2012.

Fonte: http://www.valeparaibano.com.br/acervo-digital

No dia 9 de janeiro de 2012 foi aprovada a Lei Complementar 1166, criando a Região

Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte.

A problemática regional, a questão da escala e a tendência de tratamento uniformizado

ainda presente nas diretrizes de planejamento contemporâneo ao indicar perspectivas do

zoneamento em escala regional prevendo seu desdobramento na escala municipal sugere

algumas dificuldades na implementação de políticas de uso e ocupação do solo. Tal

contexto se verifica, fundamentalmente quando se analisa a dinâmica sócioespacial da qual

resulta a produção do habitat, que diante do padrão de organização do território no Brasil.

Isso porque, a questão da habitação social e de política fundiária, de tão complexa solução

revela-se uma questão de difícil solução, uma vez que a dinâmica da produção da habitação

insere-se na organização da esfera produtiva e da estrutura urbana e viária estabelecida

para dinamizar o funcionamento do sistema de relações produtivas.

A organização da RM aprovada prevê conforme se verifica na a criação de sub-regiões por

meio das quais se dará a gestão regional.

FIGURA 7 Divisão sub-regional da RM Vale

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano, 2012.

Considera-se ainda que o litoral norte paulista seja uma região estratégica no modelo de

desenvolvimento preconizado na esfera do governo de estado e do governo federal o que

implica em níveis e escalas de decisão e de ação que não se compatibilizam

necessariamente com as diretrizes de planejamento e gestão seja na esfera regional, seja

na esfera local, municipal.

Importante observar que a dinâmica de crescimento populacional no Vale do Paraíba

Paulista e da região de São José dos Campos nas ultimas quatro décadas apresenta

crescimento significativo o que implica em taxas de urbanização elevadas e problemas de

desigualdade sócioespacial que se asseveram a cada dia.

O quadro comparativo organizado com os dados das séries históricas obtidas junto ao

Censo na ultima década, permite observar os níveis de crescimento populacional seja da

mesorregião do Vale do Paraíba (13,5%) quanto da microrregião de São José dos Campos

(14,6%), acima da média brasileira (12,3%) e do Estado de São Paulo (11,3%). A situação

torna-se preocupante quando se observa inicialmente o município de São José dos Campos

com 16,3% de crescimento populacional nos últimos 10 anos e mais ainda quando se

analisa o crescimento dos municípios de São Sebastião e Caraguatatuba, com 27,2%, e,

27,8%, respectivamente.

TABELA 1 Dados populacionais: quadro comparativo

1970 1980 1991 2000 2010 Brasil 93.134.846 119.011.052 146.825.475 169.799.170 190.732.694 Região Sudeste 39.850.764 51.737.148 62.740.401 72.412.411 80.353.724 Estado de São Paulo 17.770.975 25.042.074 31.588.925 37.032.403 41.252.160 Mesorregião do Vale do Paraíba Paulista - SP - - 1.651.594 1.992.110 2.262.723 Microrregião de São José dos Campos - SP - - 1.025.495 1.233.050 1.413.034 Caraguatatuba – SP 15.073 33.802 52.878 78.921 100.899 São José dos Campos – SP 148.332 287.513 442.370 539.313 627.544 São Sebastião – SP 12.016 18.997 33.890 58.038 73.833

Fonte IBGE: Censo 2010

Quando se analisa o crescimento populacional comparando os parâmetros acima, mas

tomando-se como referência o período 1980-2010, o contexto é de crescimento significativo,

pois, enquanto no Brasil o crescimento foi em torno de 60% e na região sudeste 55,3%, no

município de São Jose dos Campos foi de 118%, e, nos municípios de São Sebastião e

Caraguatatuba verifica-se que triplicou a população.

Além disso, considerando-se critérios populacionais a RM Vale se destaca, a partir de sua

criação ao situar-se na décima primeira posição do ranking metropolitano nacional como

ilustra a tabela 2.

TABELA2 Brasil – Regiões Metropolitanas, Regiões Integradas de Desenvolvimento e aglomerações

Urbanas. Evolução da População Residente: 2000-2010

Fonte: EMPLASA. Regiões Metropolitanas do Brasil, 2011.

Outro elemento importante a considerar a despeito dos estudos realizados no âmbito da

EMPLASA, de que se configura um policentrismo regional, as disparidades dos níveis

de desenvolvimento e dinâmica e econômica bem como o Produto Interno Bruto de cada

município, sugere análises mais profundas.

FIGURA 8 Produto Interno Bruto das sedes das sub-regiões da RM Vale

Fonte: Revista Vale Paraibano, maio de 2012.

Desafios, limites e perspectivas

A tendência do cenário global, na perspectiva da metropolização e urbanização tem

encontrado, também no Brasil, um contexto de recente aumento da criação de RMs, cuja

hipótese associa-se a uma percepção de que o Estado (no nível federal e estadual no caso

de São Paulo) identifica nos arranjos territoriais novas possibilidades de desenvolvimento e

a uma geografia do capital em sua lógica mundial.

Segundo dados do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, quase metade da

população brasileira (87,3 milhões de habitantes) mora em 8,6% dos municípios do país, os

quais integram as 48 regiões metropolitanas existentes hoje no Brasil. No entanto, verifica-

se que não existe uma normatização sobre quais os critérios para a criação de uma região

metropolitana. Isto porque, a Constituição Federal de 1988 delegou aos Estados a

prerrogativa de criar Regiões Metropolitanas, que a institua, por meio de decreto, indicando

quais municípios a integram

Cabe destacar como Klink (2010) que a “engenharia institucional” não se torna suficiente

para resolver questões relativas ao arranjo metropolitano e lograr o êxito esperado como

suporte do desenvolvimento regional.

Os debates em torno da institucionalização de regiões metropolitanas no Brasil, seja por

meio de um Estatuto da Metrópole, seja pela identificação de uma autoridade metropolitana

ou novo ente federativo, tem na análise de Ravanelli (2011,) um contraponto.

“A idéia de um governo metropolitano ser uma forte estrutura

administrativa, nunca no mesmo nível dos demais entes da

federação, não acresceria nada ao país. Temos mecanismos

suficientes para promover uma operação entre os três entes, seja ela

de forma mais pragmática como foi apontada aqui, mais pontual, na

gestão de determinados serviços, ou fosse ela mais robusta, por

meio de um governo metropolitano. Mas, reforço, não

necessariamente um ente da federação. O problema da região

metropolitana é a falta de cooperação”. (RAVANELLI, P., 2011, p.70)

Nesse sentido, de acordo com a análise de Somek (2011),

“As regiões metropolitanas no Brasil ainda são tratadas de acordo

com uma visão do governo federal dos anos 70. Embora no governo

Lula o PAC tenha sido implantado, esta política não foi vinculada a

uma política metropolitana. Uma política de desenvolvimento

econômico não está sendo formulada, ancorada no território.”

(SOMEK, 2011, p. 47)

Na reflexão de Maricato (2011) deve-se concentrar o enfoque das análises e das ações, na

percepção da ocorrência de uma crescente crise decorrente da segregação urbana e

ambiental, pois,

A relação legislação/mercado restrito/exclusão talvez se mostre mais

evidente nas regiões metropolitanas. É nas áreas rejeitadas pelo

mercado imobiliário privado e nas áreas públicas, situadas em

regiões desvalorizadas, que a população trabalhadora pobre vai se

instalar: beira de córregos, encostas dos morros, terrenos sujeitos a

enchentes ou outros tipos de riscos, regiões poluídas, ou... áreas de

proteção ambiental (onde a vigência de legislação de proteção e

ausência de fiscalização definem a desvalorização). (MARICATO,

2011, p. 154)

Ressalta-se a necessidade de se refletir sobre aspectos de natureza política e institucional

tais como a ausência de mecanismos claramente definidos de gestão metropolitana, diante

de um cenário no qual se coloca a autonomia dos municípios como entes federativos e da

cultura política brasileira que tende a consolidar um comportamento de prefeitos e

vereadores cuja tendência é pensar nos interesses específicos de seus municípios.

Maricato (2011) ao tratar da questão enuncia que

“O patrimonialismo, a privatização da esfera pública, o clientelismo e

a política do favor, além da herança escravocrata, do desprestígio do

trabalho e da incorporação de avanços sem o abandono das formas

atrasadas, ainda estão na base da metrópole brasileira que passa

por transformações significativas – a partir das mudanças que

levaram o país a se tornar um player de importância internacional –,

mas sem modificar suas características de desigualdade profunda,

como veremos adiante.” (MARICATO, 2011, p.7-8)

Nessa breve tentativa de situar a questão metropolitana, verifica-se a tendência de se

associar planejamento e desenvolvimento, medida recorrente na história da tentativa de se

minimizar desequilíbrios e desigualdades regionais, seja no Brasil seja em outros países,

tanto no ocidente quanto no oriente. E que resultados efetivos se obtiveram? Na maioria dos

países e casos, avanços temporários ou parciais. E quais situações levam e levaram à

dificuldade de se alcançar eficiência, eficácia e efetividade nessas tentativas?

As respostas a essas questões sugerem o aprofundamento de estudos regionais, que se

encontram em processo de desenvolvimento pelo Programa de Mestrado em Planejamento

Urbano e Regional da Universidade do Vale do Paraíba, em parcerias com órgãos estaduais

e municipais de planejamento e gestão.

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