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Iconografia e Iconologia Uma introdução ao estudo da Arte da Renascença Iconografia Do grego, eikôn, imagem, retrato, escrita. Implica um método de proceder puramente descritivo, ou até mesmo estatístico. É a descrição e classificação das imagens, um estudo limitado, que nos informa quando e onde temas específicos foram visualizados por motivos específicos. [1] Iconologia Termo usado por Platão com o significado de linguagem figurada. É o estudo de ícones ou de simbolismos em representação visual, ou seja a interpretação de um tema, através do estudo abrangente do contexto cultural e histórico do objecto de estudo. É parte integral do estudo da arte, em vez de ficar limitada ao papel do exame estatístico. [1] Enquanto a Iconografia (cujo sufixo “grafia” vem do verbo grego graphein “escrever”) é o procedimento descritivo, a Iconologia (cujo sufixo “logia”, deriva do grego logos “pensamento”) é o processo interpretativo, caracterizado pela intuição sintética. No entanto esta intuição não é totalmente fiável, devido às tendências do ser humano sob determinadas condições histórico-culturais. Erwin Panofsky considerou que a análise de uma obra de arte constitui-se em três fases: A primeira fase é portanto o significado primário ou natural, subdividido em factual e expressional. Esta fase decorre em situações em que a identificação de um aspecto ou de um pormenor, observado numa obra de arte, é óbvia para nós. Quando a nossa experiência quotidiana nos diz automaticamente o significado de uma expressão, de um gesto ou de uma representação de uma figura ou motivo numa obra de arte. Logo por isso, pela nossa experiência social e cultural, podemos identificar expressões ou factos naturalmente, mas só no caso de as ditas expressões ou factos nos dizerem algo que tenha familiaridade com a nossa cultura ou civilização. Essa familiaridade aplica-se tanto nas situações convencionais como nas práticas, assim, estas

Iconografia e Iconologia Uma introdução ao estudo da Arte da Renascença 

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Iconografia e Iconologia Uma introdução ao estudo da Arte da Renascença 

Iconografia Do grego, eikôn, imagem, retrato, escrita. Implica um método de proceder puramente descritivo, ou até mesmo estatístico. É a descrição e classificação das imagens, um estudo limitado, que nos informa quando e onde temas específicos foram visualizados por motivos específicos. [1] Iconologia Termo usado por Platão com o significado de linguagem figurada. É o estudo de ícones ou de simbolismos em representação visual, ou seja a interpretação de um tema, através do estudo abrangente do contexto cultural e histórico do objecto de estudo. É parte integral do estudo da arte, em vez de ficar limitada ao papel do exame estatístico. [1] Enquanto a Iconografia (cujo sufixo “grafia” vem do verbo grego graphein “escrever”) é o procedimento descritivo, a Iconologia (cujo sufixo “logia”, deriva do grego logos “pensamento”) é o processo interpretativo, caracterizado pela intuição sintética. No entanto esta intuição não é totalmente fiável, devido às tendências do ser humano sob determinadas condições histórico-culturais. 

Erwin Panofsky considerou que a análise de uma obra de arte constitui-se em três fases: A primeira fase é portanto o significado primário ou natural, subdividido em factual e expressional. Esta fase decorre em situações em que a identificação de um aspecto ou de um pormenor, observado numa obra de arte, é óbvia para nós. Quando a nossa experiência quotidiana nos diz automaticamente o significado de uma expressão, de um gesto ou de uma representação de uma figura ou motivo numa obra de arte. Logo por isso, pela nossa experiência social e cultural, podemos identificar expressões ou factos naturalmente, mas só no caso de as ditas expressões ou factos nos dizerem algo que tenha familiaridade com a nossa cultura ou civilização. Essa familiaridade aplica-se tanto nas situações convencionais como nas práticas, assim, estas reflexões sobre as imagens de uma obra de arte podem-se inserir numa descrição pré-iconográfica. 

A segunda fase é o significado secundário ou convencional, ou análise iconográfica. A análise iconográfica é já um campo mais profundo. Esta fase exige mais do que a nossa experiência quotidiana ou cultural (significado primário ou natural), neste caso é necessário o nosso conhecimento adquirido de leituras dos Evangelhos, da mitologia ou de História. Leituras essas, dirigidas aos temas e conceitos das imagens, histórias ou alegorias que analisamos numa obra de arte. Uma observação iconográfica está sujeita a uma interpretação e identificação minuciosa das imagens ou outros motivos expostos na obra que é examinada, proporcionando um correcto estabelecimento de datação e muitas vezes a autenticidade da obra de arte. 

Portanto, a correcta utilização da iconografia obriga-nos a possuir um conhecimento dos conceitos e temas que o autor da obra de arte dominava quando a executou. Porém, a análise iconográfica baseada nas informações adquiridas através das fontes literárias, não nos assegura sempre uma

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interpretação correcta do tema que estamos a investigar. Nesse caso, além das fontes literárias será necessário que se utilize o nosso conhecimento da história dos estilos, isto é, comparando as várias maneiras de como o motivo foi representado ao longo da história por outros artistas. Quando estamos a analisar uma obra de arte e, temos dúvidas em relação à sua iconografia, devemos então verificar se mais algum artista, numa época anterior, teria tratado do mesmo assunto, se sim de que maneira o fez e vendo se sofreu influências dogmáticas ou políticas diferentes do artista posterior. 

E por último, vem a terceira fase, o significado intrínseco ou conteúdo, ou análise Iconológica. Ao contrário da Iconografia, a Iconologia não se limita à descrição do está visível na obra de arte, procura o significado, isto é, desvenda o significado simbólico do tema exposto na obra de arte. Através dos seus signos o historiador recorrendo ao estudo da história da época e dos homens do seu tempo, desenvolve uma análise iconológica. 

Apesar destas três fases de análise serem apresentadas numa forma separada, não quer dizer que sejam aplicadas separadamente, se não houver uma correcta identificação iconográfica dos motivos, a interpretação iconológica fica irremediavelmente comprometida, assim como uma incorrecta percepção do significado primário ou pré iconografia, também prejudicaria as análises seguintes. Panofsky no entanto aponta o cuidado que se deve ter na aplicação da análise iconológica num estudo de uma obra de arte. Sendo a etapa da procura do significado e da interpretação de conceitos simbólicos, poder-se-á cair em explicações especulativas ou místicas, principalmente quando essas explicações não tenham sido baseadas em conhecimentos sólidos da História da cultura. 

Por isso, o historiador terá que ter sempre o cuidado de comparar as suas conclusões com factos, fenómenos políticos ou religiosos que tenham a ver com época da obra que está a ser analisada. De facto, a chamada de atenção para este perigo que Panofsky faz leva a concluir que, a procura de um significado iconológico numa obra de arte é a fase de análise mais complicada, em que podemos cair em conjecturas nada científicas. Panofsky menciona a necessidade de o investigador precisar de ter uma “sexto sentido” – intuição sintética, uma capacidade de observação sucinta do conteúdo da obra de arte, evidenciando que ao mesmo tempo o estudo iconológico depende de um apoio iconográfico baseado em conhecimentos ou documentos que confirmem as conclusões a que o investigador chegou. 

Logo, apesar da iconografia e a iconologia serem em certos aspectos diferenciadas, funcionam como um todo numa análise, permanecendo sempre a questão de saber quando é que o historiador sabe ao certo até aonde pode ir com a sua “intuição sintética”, sem correr o risco de controvérsias iconológicas. 

A principal problemática do século XX que esta sistematização apresenta é a dificuldade ou até mesmo a impossibilidade de poder ser aplicada em todas as obras, como por exemplo as abstractas, visto as formas, histórias e alegorias pouco implícitas nas mesmas não serem as mais apropriadas para

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este tipo de esquema de estudo. 

[1] http://www.kirjasto.sci.fi/panof.htm

http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Iconografia-e-Iconologia-Uma-Introdu%C3%A7%C3%A3o-Ao/240939.html