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Identidade Xavante - O livro oficial do centenário do Grêmio Esportivo Brasil

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Livro documental, que narra a história centenária do clube de futebol gaúcho Grêmio Esportivo Brasil, e ainda tem convidados como Aldyr Garcia Schlee, Clayton Rocha e João Garcia, mais artigos de Ruy Carlos Ostermann, Paulo Sant’Ana e Douglas Ceconello.

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LIVRO OFICIAL DO CENTENÁRIO DO GRÊMIO ESPORTIVO BRASILLIVRO OFICIAL DO CENTENÁRIO DO GRÊMIO ESPORTIVO BRASILLIVRO OFICIAL DO CENTENÁRIO DO GRÊMIO ESPORTIVO BRASILLIVRO OFICIAL DO CENTENÁRIO DO GRÊMIO ESPORTIVO BRASILLIVRO OFICIAL DO CENTENÁRIO DO GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

1911 . 2011

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CCCCClaudio Milton Cassal de Andrealaudio Milton Cassal de Andrealaudio Milton Cassal de Andrealaudio Milton Cassal de Andrealaudio Milton Cassal de AndreaOrganizador

EDITORA TEXTOS

Pelotas, 2011

Colaboradores

Izan Müller da Silva, Marcelo Gomes Barboza, Antonio Luiz Munhoso,

Juliano Baldez de Freitas, Thiago Perceu Gauterio, Carlos Insaurriaga,

Everton Luis Souza Lautenschlager, Adriano de León Soares

Participações especiais

Aldyr Garcia Schlee, André Macedo, Cássio Luíz Ferrari,

Clayton Rocha, Douglas Ceconello, Fernando Duval, João Garcia,

Joaquim Luís Duval, Paulo Sant’Ana, Renato Canini, Renato Marsiglia,

Rogério Moreira, Ruy Carlos Ostermann, Wagner Villela Marroni

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7GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

E m suas mãos, o livro oficial do Centenário do Grêmio Esportivo

Brasil. Ao ser convidado para organizá-lo senti-me imensamente

feliz e, confesso, aceitei o convite sem hesitar. Minha passagem

por todos os departamentos do Xavante, desde a década de 1950, foi, sem

dúvida, o passaporte para realizar esta honrosa tarefa.

Um projeto idealizado, há tempos, pela Editora Textos de Pelotas-RS, que se

colocou, inteiramente, disponível para elaborar um livro que mostrasse a

trajetória perseverante (por vezes, irreverente) de paixão, que sempre

caracterizou o Clube e a torcida Xavante. Sua contribuição está aqui, espontânea,

desprovida de custos, responsável pelo projeto gráfico, diagramação, editoração

e revisão textual. Perdi a conta das vezes em que esta Editora me cobrou a

organização da história do G. E. Brasil. Culturalmente, vive-se numa sociedade

em que muitas coisas são deixadas para a última hora, onde se costuma trabalhar

no limite e, agora, não foi diferente. Formada uma comissão de torcedores

fanáticos pela história do Clube, o projeto foi traçado, as redes foram lançadas

e uma equipe extraordinária entrou em campo, atrás de documentos e imagens

que testemunhassem esta trajetória centenária. Democraticamente, a equipe

decidiu que o conteúdo do livro deveria conter mais ilustrações de

acontecimentos significativos que marcaram estes cem anos do que artigos ou

relatos, nem sempre elucidativos dos fatos, senão na memória dos autores. O

Grêmio Esportivo Brasil, desde sua origem, foi um clube popular. É quase

inimaginável que, em 7 de setembro de 1911, seus fundadores destinaram ao

povo pelotense um clube que, anos após, se transformou num fenômeno de

paixão e fidelidade por este país afora. Jogadores e torcedores do G. E. Brasil

já foram conhecidos como os Negrinhos da Estação, na época em que o estádio

localizava-se nas imediações da Viação Férrea, mais tarde passaram a ser

chamados de Negrinhos da Baixada e, depois, Xavantes. Sediado em um bairro

pobre de Pelotas, este Clube serpenteou o estado do Rio Grande do Sul, outros

estados do país, ultrapassou fronteiras e, como uma águia, alçou voo sobre os

Andes, em sua memorável excursão às Américas, no ano de 1956. Em 1985,

ao se colocar como a terceira força do Campeonato Brasileiro, o Brasil de Pelotas,

assim reconhecido, deixou altivamente registrado na história do país do futebol o

nome de nossa cidade. Parafraseando parte do refrão do Hino Rio-Grandense:

sirvam nossas façanhas de modelo a toda a Terra!

Ao desejar-lhes uma boa leitura, manifesto o meu reconhecimento ao empenho

dos incansáveis colaboradores: Etiene Villela Marroni (Editora Textos), Izan Müller

da Silva, Marcelo Gomes Barboza, Antonio Luiz Munhoso, Juliano Baldez de Freitas,

Thiago Perceu Gauterio, Carlos Inssauriaga, Everton Luis Souza Lautenschlager e Adriano

de León Soares, membros da comissão e companheiros de toda a hora, que não

mediram esforços para que este livro correspondesse à grandeza de um dos

Clubes mais queridos do Brasil e que, sem falsa modéstia, ostenta o seu nome,

pois nasceu sob o rufar dos tambores, sob a cadência das marchas, sob os

aplausos do povo, que relembrava, na data, uma conquista bastante significativa

para todos nós: a liberdade política da Nação Brasileira.

Claudio Milton Cassal de Andrea

Organizador do livro e presidente do

G. E. Brasil em 1977

Identidade Xavante

Livro Oficial do Centenário

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16 GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

O Grêmio Esportivo Brasil surgiu graças à instalação, em Pelotas, da

Cervejaria Sul-Rio-Grandense, de propriedade de Leopoldo

Haertel, estabelecimento popularmente conhecido como

Cervejaria Haertel, fato ocorrido no ano de 1889.

Nesta época, os funcionários das fábricas de Pelotas costumavam formar

grupos para jogar bola nas folgas ou em finais de semana, ou foot-ball, como

falavam, já tentando imitar uma prática desportiva originária da Inglaterra.

Esta prática, a cada ano, ganhava mais adeptos e a primeira exibição pública

de um time oficial, em nossa cidade, ocorreu em 6 de outubro de 1901, quando

aqui se apresentou o Sport Club Rio Grande.

Segundo registros históricos, os funcionários da Cervejaria Haertel mantinham

uma agremiação denominada Sport Club Cruzeiro do Sul, cuja sede social e campo

localizavam-se em amplo terreno ao lado da fábrica, provavelmente na rua

Conde de Porto Alegre, número 44. Esta agremiação era independente da

Liga Pelotense de Amadores de Desportos (LPAD), criada em 1907, que

posteriormente, no ano de 1923, passou a chamar-se Liga Pelotense de

Futebol (LPF).

Por motivo de divergências surgidas entre integrantes do Sport Club Cruzeiro

do Sul, Breno Corrêa da Silva e Salustiano Louzada de Britto decidiram fundar

um novo clube de futebol em Pelotas. Um grupo reuniu-se, então, na residência

de José Moreira Britto, pai de Salustiano, para tratar dessa ideia. A casa situava-

se à rua Santa Cruz, número 56 ou 58 (há dúvidas quanto ao número exato).[ Salustiano Louzada de Britto, um dos fundadores do Grêmio Sportivo Brasil. ]

E assim surgiu o

MANTO RUBRO-NEGRO

Origem do

Grêmio Esportivo Brasil

e de suas cores 1911

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17GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

Em alguma das reuniões que se sucederam formou-se a primeira

diretoria, assim constituída: presidente – Dario Feijó; vice-

presidente – Sílvio Corrêa da Silva; secretário – Walter da Rocha

Pereira; tesoureiro Raymundo Pinto do Rego; adjunto – Breno

Corrêa da Silva; diretores: Manoel Joaquim Machado, Ulysses Dias

Carneiro, Manoel Ribeiro de Souza, Nicolau Nunes, Paulino Dias

de Castro e Mário Reis.

Conselho Fiscal: Miguel Fontes, Luis Cyntrão e Antônio Freitas;

capitão geral: Manoel Ayres Júnior; vice-capitão geral: Gregório

Moreira Mattos; guarda esporte: Salustiano Britto; vice-guarda

esporte: Francisco Louzada.

Fundado no dia 7 de setembro de 1911, data cívica comemorativa

da Independência do Brasil, o novo clube recebeu o nome de Brasil

e, consequentemente, adotou as principais cores da Bandeira

Brasileira para representá-lo: o verde e o amarelo. Mais tarde,

ocasião em que novos dirigentes saíram às ruas com o livro de

ouro, tendo por finalidade arrecadar fundos para a compra dos

uniformes, foram, logo, ao encontro de um companheiro,

comerciante português chamado Manoel Ayres Júnior. Conhecido

por Maneca, este senhor, em 1911, havia integrado a primeira

diretoria do Grêmio Sportivo Brasil, exercendo a função de capitão

geral e, no ano seguinte, em 1912, foi eleito seu presidente.

Manoel Ayres Júnior, segundo consta, mantinha, também, estreito

vínculo com um clube social de Pelotas, o Clube Carnavalesco

Diamantinos e, por isso, estabeleceu uma condição para arcar com

o custo total do fardamento: as cores representativas da agremiação

desportiva deveriam ser trocadas para vermelho e preto, tal como

as cores diamantinas. Ora, o verde e o amarelo eram cores

que simbolizavam um outro clube social da cidade, o Clube

Carnavalesco Brilhante, dissidente e rival do Diamantinos, o que

desgostava Maneca.

Atingido o principal objetivo do grupo, que era o de conseguir

recursos para uniformizar o time, foi firmado um acordo entre as

partes e as cores oficiais do Grêmio Sportivo Brasil passaram a

ser rubro-negras.

Desta forma, de um capricho de Manoel Ayres Júnior e da

necessidade de respaldo financeiro para prosseguir seu destino, o

Grêmio Sportivo Brasil alterou os rumos de sua história, dando origem

ao Manto Rubro-Negro que, como bem expressa a letra do Hino,

são cores representativas do nosso sangue e da nossa raça.

Vida longa e muitas glórias ao centenário e apaixonante Grêmio

Esportivo Brasil!

[ Dario Feijó, primeiro presidente do Grêmio Sportivo Brasil. ]

“... o Grêmio Sportivo Brasil

alterou os rumos de sua história,

dando origem ao Manto

Rubro-Negro que, como bem

expressa a letra do Hino, são

cores representativas do nosso

sangue e da nossa raça.”

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52 GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

[ Desenho do índio “Xavante”, mascote

oficial do Clube, eleito pelos internautas

em campanha promovida pelo G. E. Brasil,

2011. Criador: Leonardo Azevedo. ]

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53GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

assumido a condição de líder de campo, posto, até

então, exercido por Chico Fuleiro. Juvenal foi um

dos mais valorosos atletas do elenco rubro-negro

que, inclusive, participou da Copa do Mundo, em 1950.

Com um número inferior de jogadores, o Grêmio

Esportivo Brasil conseguiu reverter o escore da

partida, passando de “dominado a dominador”. No

momento do apito final, o resultado do jogo era de

5 x 3 para o G. E. Brasil. Os rubro-negros, mesmo

desfalcados, conseguiram a façanha de marcar 4 gols

num período de 28 minutos e venceram, sem sombra

de dúvidas, este inesquecível clássico Bra-Pel. Ao

término do jogo, a torcida do Clube da Baixada,

num ato de vandalismo incontido, derrubou o

parapeito de proteção ao campo e invadiu o

gramado. Tal atitude parecia justificar-se pela

penalidade sofrida e, naquele momento, pela

oportunidade de extravasar o que havia sido

reprimido: a sensação de impotência frente à

arbitrariedade, a inacreditável vitória, a alegria

exacerbada e a paixão “cega” pelo clube.

O Presidente do Esporte Clube Pelotas, na ocasião,

inconformado com a derrota que representava a

perda do Campeonato Citadino e, mais ainda, com

a atitude irreverente dos torcedores rubro-negros,

exclamou:

“Eles foram uns bárbaros!”.

Por coincidência, na época, um cinema local exibia

o filme intitulado “Invasão dos Xavantes”. Ora,

estabelecendo uma comparação com os “selvagens”

protagonizados no filme, os torcedores áureo-

cerúleos começaram a chamar os rubro-negros de

“Xavantes”. Tratando-se de rivalidade, os novos

“Xavantes” nem se importaram com isso. Ao

contrário, acataram o apelido porque o povo

Xavante é guerreiro e jamais esmorece em combate.

E foram além: para consolidar este

“reconhecimento”, passaram a adotar a simpática

e querida imagem de um índio Xavante como

símbolo do Grêmio Esportivo Brasil.

O apelido “Xavante”, dado ao Grêmio

Esportivo Brasil, teve uma origem

curiosa, tal como a história deste clube,

tão amado por sua fiel torcida. Tudo começou num

Domingo, dia 28 de julho de 1946,

na disputa de um clássico Bra-Pel, jogo válido pelo

2º Turno do Campeonato Citadino Pelotense. A

disputa realizou-se no campo do adversário, que

buscava, ferrenhamente, o tricampeonato, título que

não possuía. No segundo tempo desta partida

decisiva, quando o cronômetro marcava 6 minutos

da fase complementar, o árbitro argentino, Carlos

Sacco, expulsou o capitão e jogador do G. E. Brasil

Chico Fuleiro. Fuleiro era considerado um dos mais

importantes jogadores da época, reconhecido pela

sua irreverência, de tal forma que, na ocasião,

discordou e reclamou da falta marcada, além de

questionar a decisão tomada pelo árbitro.

Em decorrência de sua atitude, houve interrupção

da partida por vários minutos, tempo suficiente para

que o campo fosse invadido pela diretoria do G. E.

Brasil, presidida por João José Bainy, e pelo técnico

do Clube, major José Francisco Duarte Júnior,

conhecido como “Teté”. Todos discordavam da

decisão do juiz em expulsar Chico Fuleiro. Neste

momento, o Esporte Clube Pelotas vencia o clássico

pelo placar de 3 x 1. Acalmados os ânimos, houve

condições de reiniciar o jogo, tendo Juvenal

Origem do

apelido Xavante

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74 GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

Retomando o ciclo das conquistas de 1952,

1953, 1954, e 1955, cujos presidentes

foram, respectivamente, José Francisco

Dias da Costa, Rafael Iório Brandi, Clóvis Gotuzzo

Russomano e Frederico Zambrano Siqueira,

novamente o G. E. Brasil chegou ao terceiro

tricampeonato, tornando-se, desta forma,

“Tetracampeão Citadino de Futebol”.

Sem qualquer dúvida, foi esta longa jornada de

vitórias que despertou a atenção de um empresário

chamado Cesar Mantilla Fernandini, ao ponto de

se propor a mostrar o futebol jogado no GEB em

outros lugares, para além das fronteiras do país.

Realmente, foi uma proposta sedutora para um

Clube do interior do Brasil, pois se descortinava a

possibilidade de exibir seu futebol em vários países

das Américas, numa longa excursão.

De imediato, foram iniciadas as providências para

a viagem, como demoradas tratativas e

intermináveis reuniões, sempre realizadas com a

presença do corpo jurídico do Clube, representado

pelo ilustre advogado Ápio Cláudio de Lima

Antunes. Planejar com cautela e pensar sobre todos

os aspectos que envolveriam esta excursão era

preciso, pois a proposta previa uma viagem de três

meses pelas Américas, o que aumentava, em muito,

a responsabilidade dos dirigentes do Clube.

Finalmente, em 12 de julho de 1956, o Grêmio

Esportivo Brasil deixou a cidade de Pelotas rumo

às Américas, com uma extensa agenda a ser

cumprida. Por ocasião do jantar oficial

comemorativo ao Cinquentenário do G. E. Brasil

(1961), num dado momento de seu discurso, o

presidente Rubro-Negro, Antônio Carapeto

Fernandes, retomou alguns detalhes marcantes desta

vitoriosa excursão da seguinte forma:

O Grêmio Esportivo Brasil leva uma bagagem

repleta de esperanças e deixa a certeza de que tudo

fará para bem cumprir o seu dever. Vai ao Paraguai,

a terra das guarânias e do lago azul de Ypacaray.

Sobe a Cordilheira e, na Bolívia, vai conhecer os

Cholos e o Hillimani, a montanha de cartão postal

e plano de fundo da cidade de La Paz. Atravessa o

lago Titicaca e vai ao Santuário de Copacabana ver

a Santa famosa e de beleza indescritível, esculpida

pelo índio Iupanco. Vai ao Peru. À Porta do Sol

conta os albores do Império Inca. Atravessa o

território peruano de sul a norte e, no Equador, ao

fundo do Golfo belíssimo de Guayaquil, vai ver no

colosso de bronze, imortalizado, o encontro

famoso: Bolívar e San Martin num aperto de mãos.

Na Colômbia, presta ajuda aos danificados da

catástrofe de Cali. Vê o Vale do Cauca, conhece

Antioquia e a porta de ouro das Antilhas. No

Panamá, posa para a posteridade, junto ao canal

famoso no mundo inteiro. Vai à Costa Rica, a joia

encravada na América Central, a Capital do Centro-

América. Em Honduras, o belo parque Municipal

de Tegucigalpa. Chega a El Salvador, a terra das

marimbas, a terra de Cuscatlan, um departamento

de El Salvador, Atecozol, o Parque Nacional e o

Izalco: o vulcão mais original do mundo que, há

séculos, cospe fogo a cada 12 minutos,

ininterruptamente. Na volta, conhece Letícia e o

Solimões banhando três países. Atravessa a selva

indevassável da Amazônia. Volta coberto de glórias,

com a bagagem carregada de vitórias. Vitórias

esportivas. Vitórias de bravura. Vitórias da

disciplina. “Xavantes saúdam seus heróis”. “As

Américas sentiram o nosso valor.” “Saiu grande e

voltou maior”. Em toda a parte passeou o seu bom

futebol. Em toda a parte, escreveu com letras de

ouro a sua passagem. Dizia a que vinha e como

ele era. Como é o G. E. Brasil. 28 jogos – 16

vitórias – 6 empates e 6 derrotas; 75 gols contra 50

dos adversários, somando um apreciável saldo de

25 gols pró.

Os integrantes da lendária Missão Xavante foram

os seguintes: o médico Antônio Carapeto

Fernandes, presidente do G. E. Brasil; Manoel

Tavares, chefe da delegação; Gastão Leal, diretor-

técnico; Francisco Caldeira, massagista; Jaime

Ribeiro, roupeiro; mais Ubirajara Timm, e um

empresário responsável pela contratação e

agendamento dos jogos, transporte e estadia da

delegação. Formavam o plantel Rubro-Negro: Sully

Cabral Machado (Sully), Rovani Fernandes (Rovani),

Osvaldo Barbosa (Osvaldo), Jorge Spilmann

(Spilmann), Antônio Vizeu Candiota (Candiota),

O Grêmio Esportivo

Brasil pelas Américas

Somente as águias

galgaram os Andes

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75GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

Izidro Osório (Cascudo), Alcibíades Brizolara (Tibirica), Cláudio

Hugo Oliveira (Gago), Álvaro Seara (Seara), Odi Figueiró (Odi),

João da Silva Borges, Orlando Rodrigues Chanças (Negrito),

Manoel P. Nunes (Gitinha), Zilmar Conceição (Caizé), Joaquim

Gilberto Silva (Joaquinzinho), José Casanova (Paquito), Ari

Valente (Galeguinho), José Francisco Oliveira (Zé Francisco) e

Darcy Lopes da Cunha (Mortosa).

O jornal pelotense denominado “A Opinião Pública”, em sua

edição de 25 de julho de 1956, assim registrou o retorno da

delegação do G. E. Brasil:

Torcedores, familiares e desportistas estiveram aguardando,

ansiosos, até as 17 horas e 30 minutos, o retorno de seus

parentes, amigos e ídolos, depois de 104 dias de ausência.

Milhares de pessoas aplaudiram, gritaram e choraram de

emoção diante dos craques que regressavam – Impressionante

manifestação de carinho popular.

Como bem expressa o texto, a população pelotense saiu às ruas

para demonstrar o seu orgulho e admiração pela “ousadia” dos

Rubro-Negros, pois “somente as águias galgaram os Andes”.

[ Da esquerda para a direita, no interior do do ônibus: Gitinha, Candiota,

Paquito e Caizé. Na frente: Osvaldo, João Borges, Antônio Carapeto

Fernandes (presidente), Léo Tavares (chefe da delegação), Mortosa e Rovani. ]

[ Fotografias da delegação

Rubro-Negra em excursão pelas

Américas. ]

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134 GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

Vou com o Brasil a

Tóquio

Atenção diretoria da RBS: prepare a minha passagem, eu

quero voltar a Tóquio com o Brasil de Pelotas. Fiz uma

namoradinha em Tóquio – e vocês sabem como é fiel e

piedosa a japonesa. Está me esperando. O Brasil vai me levar

a Tóquio. Porque, a partir de ontem, aquilo que joguei como

uma piada no Jornal do Almoço está tomando contornos de

realidade: o Brasil jogar o Gauchão com time misto contra

Grêmio e Internacional com titulares – o Xavante disputando

a Libertadores neste meio tempo.

Fora de brincadeira, a façanha do Brasil, guardadas as

proporções, é igual à conquista de uma Libertadores da

América. Se o Brasil passar à finalíssima, ainda em termos

proporcionais que guardam a distância entre um clube da

capital e do interior, terá como que vencido em Tóquio. O

desfecho de ontem, para os dois gaúchos, significou uma

assombração: quando é que se pensou, por aqui, na hipótese

de Grêmio e Internacional fora das semifinais, e o Brasil

vivo, como um vulcão despejando lava? Quando? Nunca

alguém pensou nisso. Talvez só tenha passado na mente do

mais apaixonado e tresloucado torcedor rubro-negro de

qualquer bairro, em Pelotas. Estamos diante de um milagre,

que nos põem, todos, tontos. O responsável se chama Brasil,

de Pelotas – e é proprietário eterno da torcida mais fiel e

explosiva do país.

Paulo Sant’Ana

Escritor e Jornalista

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135GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

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GRÊMIO ESPORTIVO BRASIL

15 de janeiro de

2009

O ano de 2009 chegou trazendo muitas esperanças à torcida

Xavante, pois no ano anterior o clube Rubro-Negro fizera

uma campanha irregular no Campeonato Gaúcho,

superando-se no segundo semestre, quando da disputa do Campeonato

Brasileiro Série C. Naquela ocasião, por um empate, o G. E Brasil ficou

fora da Série B do Campeonato Nacional, em jogo realizado no Estado do

Acre contra o Rio Branco Football Club. Embora não tenha conseguido o

acesso em 2008, a boa campanha garantiu-lhe participação na Série C de

2009, colocando-o entre os 60 melhores times do país.

Sob a liderança do presidente Hélder Lopes, algumas contratações para o

Campeonato Gaúcho de 2009 deixaram os torcedores rubro-negros muito

esperançosos. O atacante e ídolo da torcida, Claudio Milar, havia renovado

seu contrato com o GEB, recusando convites de clubes do exterior, como

o do Peñarol, Uruguai, decidido a permanecer junto aos Xavantes.

O Clube contratou, também, o ex-goleiro e ídolo do Grêmio Foot-Ball

Porto Alegrense, Danrlei de Deus, considerado, à época, um grande reforço

para o time. A torcida vibrava, aguardando, confiante, o início da

competição.

Em 15 de janeiro de 2009, uma quinta-feira, o Grêmio Esportivo Brasil

viajou a Santa Cruz do Sul para jogar com o Futebol Clube Santa Cruz o

penúltimo amistoso, tendo em vista o Gauchão 2009. O jogo foi disputado

em Vale do Sol, próximo à cidade sede, no centro do estado, com início às

17 horas. Ao final da partida, o placar foi positivo para o time Xavante:

2 x 1. Os gols do G. E. Brasil foram marcados por Claudio Milar, em

cobrança de pênalti aos 39 minutos do primeiro tempo e, no segundo

tempo, por Kelson, aos 23 minutos. Aos 31 minutos, Eraldo descontou

para o F. C. Santa Cruz. Liderado pelo técnico Armando Severo Desessards,

o Rubro-Negro jogou com Danrlei (Luciano); Adriano Sella, Carlão, Régis,

Alex Martins e Alemão; Edu (Xuxa), Edenilson e Cléber; Claudio Milar e

Kélson (Uendel).

O traumático acidente de 2009 não foi o primeiro que ocorreu,

envolvendo pessoas estreitamente vinculadas ao G. E. Brasil.

Em 1962, na cidade de Bagé, realizou-se um jogo pelo

Campeonato Estadual – Divisão Especial, quando o GEB

enfrentou o Guarany Futebol Clube, no Estádio Estrela D’alva.

Infelizmente, no retorno à cidade de Pelotas, a delegação rubro-

negra sofreu seu primeiro acidente rodoviário.

Após trinta minutos de viagem, na volta para casa, o ônibus

que conduzia os Xavantes capotou e vários atletas ficaram

feridos, como Valdoma, Edi, Osvaldo, Pintinho e Luizinho. No

entanto, os casos mais graves atingiram o técnico Jorge

Thomaz, que perdeu os dentes da sua arcada inferior, os de

Canário e Toquinho, levados às pressas à Beneficência

Portuguesa, onde foram atendidos e internados, devido às

lesões sofridas.

O PRIMEIRO ACIDENTE DO G. E. BRASIL

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[ Homenagem aos nossos três grandes

guerreiros: Giovani, Milar e Régis. ]