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JULIANA RUMI SHIKASHO LIIDER IDENTIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS MILITARES ESTADUAIS NOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES CURITIBA 2013

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JULIANA RUMI SHIKASHO LIIDER 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 IDENTIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS MILITARES ESTADUAIS

NOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 CURITIBA 

2013 

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JULIANA RUMI SHIKASHO LIIDER 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 IDENTIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS MILITARES ESTADUAIS

NOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES 

 Artigo científico apresentado à disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu – Especialização em Direito Militar Contemporâneo do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná   Orientador: Prof. Msc Jefferson Augusto de Paula.

 

 

 

 

 

 

 

 

 CURITIBA 

2013 

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RESUMO   O presente trabalho tem por objetivo analisar a efetiva observância dos direitos e garantias individuais dos policiais militares nos Processos Administrativos Disciplinares, haja vista as peculiaridades do Direito Militar. Necessário tal estudo, considerando que não existe a exigência de formação específica dos responsáveis em instaurar e adotar as devidas providências em tal procedimento administrativo, o que faz com que possa ocorrer a violação dos preceitos constitucionais indispensáveis para o correto processamento dos indiciados. Com isso, foi analisado o Processo Administrativo Disciplinar e as diferenças existentes com o Processo Administrativo Disciplinar Militar, as suas peculiaridades, os direitos fundamentais a serem observados e a forma como esses procedimentos podem ser realizados da maneira que melhor atenda ao contido na Constituição Federal de 1988.  

Palavras-chave: Processo Administrativo Disciplinar. Direitos Fundamentais. Direito Militar. Polícia Militar do Estado do Paraná.  

 

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ABSTRACT  

This study aims to analyze the effective observance of individual rights and guarantees of the military police in Administrative Disciplinary Proceedings, given the peculiarities of the Military Law. Need such a study, considering that there is no requirement for specific training of those responsible to establish and adopt the necessary measures in such administrative procedure, which means there may be a violation of constitutional principles essential for correct processing of defendants. With this, we analyzed the Administrative Disciplinary Process and differences with the Administrative Procedure Military Discipline, its peculiarities, the fundamental rights to be observed and how these procedures can be performed in the way that best meets contained in the Constitution of 1988.  Keywords : Administrative Disciplinary Process. Fundamental Rights. Military Law. Military Police of Paraná State. 

 

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, pois sempre fez parte de minha vida e me acompanha em todos os momentos.

Agradeço aos meus pais, pois são os responsáveis pelos mais valiosos ensinamentos de vida, pelo meu caráter e amor pela vida.

Agradeço também ao meu marido e minha filha pelos momentos de aprendizagem e companheirismo constantes.

Ainda, agradeço ao meu orientador, Jefferson Augusto de Paula, e aos professores do Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná pela atenção e troca de conhecimentos tão importantes para o meu aperfeiçoamento profissional e intelectual.

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SUMÁRIO 

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7

2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................. 9

2.1 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ................................................ 9

2.2 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR ............................... 10

2.3 REQUISITOS DO ATO DISCIPLINAR ............................................................. 12

2.3.1 Competência .............................................................................................. 12

2.3.2 Formalidade ............................................................................................... 13

2.3.3 Legalidade ................................................................................................. 13

2.3.4 Finalidade .................................................................................................. 15

2.3.5 Motivo ........................................................................................................ 16

2.3.6 Objeto ........................................................................................................ 17

2.4 ESPÉCIES DE PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR ...... 17

2.4.1 Ordinário .................................................................................................... 17

2.4.2 Extraordinário ............................................................................................ 18

3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE NORTEIAM O PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ............................................................................ 20

3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ......................................................................... 20

3.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE ................................................................ 22

3.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE ........................................................................ 23

3.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE ........................................................................ 23

3.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA ............................................................................ 24

3.6 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO ............................ 25

3.6.1 Direito à defesa técnica ............................................................................. 26

3.7 PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE ....................................................................... 27

3.8 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL ................................................ 27

4 METODOLOGIA ................................................................................................... 30

5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 34

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IDENTIFICAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS MILITARES ESTADUAIS NOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES 

 

Juliana Rumi Shikasho Liider1 

 1 INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho teve por finalidade estudar as peculiaridades do Processo

Administrativo Disciplinar no âmbito da Polícia Militar do Estado do Paraná e a

efetiva observância dos direitos fundamentais dos policiais militares insculpidos na

Constituição Federal frente a tais procedimentos.  

Assim, a pesquisa apresentou os seguintes objetivos:  

a. Analisar o Processo Administrativo Disciplinar Militar, suas fases,

espécies e os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal

de 1988; 

b. Verificar se há a observância de tais direitos e garantias fundamentais

nos procedimentos administrativos realizados no âmbito da Polícia

Militar do Estado do Paraná; 

c. Analisar as possíveis soluções quanto às supostas irregularidades que

se referem aos direitos dos policiais militares, de acordo com a

Constituição Federal de 1988, que ocorrem nos procedimentos

administrativos disciplinares;  

Portanto, e para melhor explanação dos objetivos da presente pesquisa,

necessário explicar o conceito do Processo Administrativo Disciplinar realizado face

aos policiais militares do Estado do Paraná, por meio da análise de doutrina e

jurisprudência. 

Tal análise se faz muito importante, pois os direitos dos policiais militares

devem ser assegurados, mesmo em se tratando de um ramo especializado do

direito, qual seja, o direito militar.

                                                            1 Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Pós-graduada em Direito Administrativo pelo Instituto de Direito Romeu Felipe Bacellar, Pós-graduanda em Direito Militar Contemporâneo pelo Núcleo de Pesquisa em Segurança Pública e Privada da Universidade Tuiuti do Paraná. Advogada.

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Assim, não se pode tomar como premissa e justificativa a situação de ramo

diferenciado, pois mesmo sendo policiais militares, ainda se tratam de sujeitos de

direitos e deveres, devendo, inclusive, ser observado o contido na Constituição

Federal de 1988.

Diante disso, os Processos Administrativos Disciplinares devem ser

orientados pelos mandamentos constitucionais, assim como, pelo que determina as

normas infraconstitucionais.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

 

2.1 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

 

O processo administrativo disciplinar é aquele que utiliza o poder disciplinar

conferido à Administração Pública, que o utiliza por meio de seus agentes,

possibilitando a aplicação de sanções administrativas aos possíveis transgressores.

E para tanto, deve observar os princípios dispostos no artigo 37 da Constituição

Federal, que se aplicam a todas as normas administrativas.

Nos ensinamentos de Romeu Felipe BACELLAR FILHO (2003, p. 62): O processo administrativo – enquanto garantia constitucional – possibilita a regulação do exercício de competência (garantia geral de estrutura do ordenamento jurídico) e age como instrumento de proteção do indivíduo perante a ação daquela competência. Na relação entre administração e cidadão, técnicas processuais tutelam competências para aquela e direitos e liberdades para estes.

Assim, a Administração Pública tem a sua competência disciplinar

materializada mediante o exercício do processo administrativo disciplinar, o qual

deve observar as garantias constitucionais, como também a legislação

infraconstitucional. 

O processo administrativo disciplinar busca esclarecer os fatos que são, em

tese, evidenciados pela prática de conduta que importe em transgressão às normas

disciplinares, e assim, exige seja devidamente apurado e caso se entenda pela sua

ocorrência, seja prescrita a competente sanção disciplinar. 

O servidor que, a partir de uma atuação funcional irregular, não cumprir com

seus deveres ou não observar as vedações impostas, responde administrativa,

penal e civilmente. E pela irregular prática de ato comissivo ou omissivo no exercício

do cargo ou função, o servidor responde administrativamente.  

Portanto, o processo administrativo disciplinar tem por objetivo apurar a

responsabilidade pelo suposto cometimento de transgressão disciplinar, praticada

mediante ação ou omissão, por servidor público, nesse caso policial militar,

enquanto no exercício de seu cargo ou função. 

 

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2.2 PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR

 

Com relação ao Processo Administrativo Disciplinar Militar, importante

analisar o Direito Administrativo Disciplinar Militar, e de acordo com Jorge Cesar de

ASSIS (2008, p. 67) “é a manifestação do Estado na delimitação de conduta dos

integrantes das instituições militares, visando uma melhor prestação de serviço na

consecução das missões constitucionalmente fixadas para as Forças Armadas e

Auxiliares”. 

No Processo Disciplinar da Polícia Militar do Estado do Paraná utiliza-se a Lei

nº 16.544/2010, e esta dispõe que: 

 Art. 3º O processo disciplinar é o instrumento destinado a apurar responsabilidade de militar estadual, por infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha repercussão ético-moral que afete a honra pessoal, o decoro da classe ou o pundonor militar, incompatibilizando-o a permanecer no estado efetivo da PMPR.

 Feitas tais considerações, importante destacar que existem os procedimentos

inquisitórios, que são: a Sindicância e o Inquérito Policial Militar – IPM; e

acusatórios, que são: o Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar –

FATD, Processo Administrativo Disciplinar, Conselho de Disciplina - CD e Conselho

de Justificação - CJ. 

No procedimento inquisitório não há contraditório e ampla defesa, pois não há

acusado, e sim uma investigação, em que serão analisados os fatos ocorridos. E,

neste procedimento, tudo que for elemento informativo é irrepetível, como por

exemplo, o laudo de local. Entretanto, mesmo sendo irrepetível pode ser contestado,

tendo força de prova, ainda que não seja considerada como tal. 

E no procedimento acusatório são produzidas as provas, que são elementos

informativos colhidos sob o crivo do contraditório e ampla defesa, ou seja, é

garantido ao acusado produzir todos os meios de prova que entender pertinentes,

desde que devidamente justificado.

O processo administrativo disciplinar tem por objetivo analisar a conduta do

militar, seja ele federal ou estadual, considerando a acusação, em tese, da prática

de uma transgressão disciplinar prevista no regulamento disciplinar. 

No que se refere à transgressão militar, Eliezer Pereira MARTINS (1996, p.

86), observa que: 

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Em outras palavras, impõe a Constituição Federal que a transgressão e o crime propriamente militar, estejam definidos, ou seja, capitulados em lei, para ensejarem a decretação da medida restritiva da liberdade individual. […] Pode-se cometer o equívoco de entender-se que quando o legislador constitucional pede uma lei para integrar a eficácia da norma contida na Constituição, está na realidade referindo-se à lei lato sensu (medidas provisórias, decretos, portarias, etc). Tal interpretação contudo, em sendo feita de modo genérico, como mostraremos, é rematado erro hermenêutico, já que no universo das disposições restritivas da liberdade individual, a lei a que se refere o legislador é sempre o ato que tenha obedecido o processo legislativo como elemento de garantia do princípio da legalidade e mais exatamente da reserva legal.

 

Assim, a forma do Estado manifestar a limitação da conduta do agente

supostamente transgressor é por intermédio do processo administrativo disciplinar

militar, que se caracteriza como sendo um ato disciplinar.  

Conforme nos ensina José Armando da COSTA (1981, p. 72), o ato disciplinar

pode ser definido como:  

[...] comportamento interno da Administração, no sentido formal e material, que, com a observância da forma, objeto e motivo previstos em lei, é concretizado pela autoridade competente, para aplicar uma sanção disciplinar ao subordinado faltoso, a fim de velar pela regularidade e aperfeiçoamento do Serviço Público.

Entretanto, e mesmo sendo um ato discricionário, o ato administrativo

disciplinar militar é regulado pela Constituição Federal por meio dos dispositivos que

tratam de tal procedimento, ficando asseguradas as garantias como as do devido

processo legal, contraditório, ampla defesa, legalidade, entre outras, além das

demais disposições contidas a partir do artigo 142 do mesmo diploma. 

No que se refere às normas infraconstitucionais, o processo administrativo

disciplinar militar está previsto, no âmbito estadual, pelos Regulamentos

Disciplinares de cada Estado e do Distrito Federal, e no federal, pelo Estatuto dos

Militares (Lei 6.880/80) e pelos Regulamentos Disciplinares de cada Força Armada. 

Com relação à Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito

da Administração Pública Federal, de acordo com Jorge Cesar de ASSIS (2008, p.

332), não deve ser aplicada na esfera disciplinar militar, pois tal lei se refere apenas

ao “administrado (indivíduo que não faz parte da Administração) e não ao servidor

público – que a própria lei considera como ‘autoridade’ com poder de decisão nos

termos do inc. III, do § 2º, de seu art. 1º”.  

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Entretanto, com relação aos procedimentos a serem adotados, necessária a

observância subsidiária da referida Lei para que sejam garantidos todos os meios de

defesa também aos policiais militares, vez que são sujeitos de direitos assim como

os civis. 

Diante de tais considerações, necessário destacar que o ato disciplinar deve

obedecer aos requisitos necessários para sua validade. Portanto, passamos a

discorrer sobre cada um deles.

 

2.3 REQUISITOS DO ATO DISCIPLINAR

Considerando que no Processo Administrativo Disciplinar são realizados atos

disciplinares, importante destacar que para serem considerados válidos, devem

obedecer aos requisitos comuns a todos os atos administrativos. 

O conceito de ato administrativo ensinado por Hely Lopes MEIRELLES (2001,

p. 141) estabelece que este tem a mesma essência do conceito de ato jurídico,

determinado pelo artigo 82 do Código Civil. Assim, seria ato administrativo: 

 

[...] toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato, adquirir, resguardar, transferir modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria. 

 Portanto, o ato administrativo é aquele emanado pela Administração Pública,

mas observados os seguintes requisitos: autoridade competente, conteúdo, forma,

motivo e finalidade.  

 

2.3.1 Competência

 

Segundo este requisito, deve ser emanado o ato pela autoridade que possui a

competência para tanto. Assim, nenhum ato disciplinar poderá ser considerado

válido, se praticado por agente incompetente. 

De acordo com o artigo 10 do RDE (Regulamento Disciplinar do Exército),

aplicado à Polícia Militar do Estado do Paraná, “a competência para aplicar as

punições disciplinares é conferida ao cargo e não ao grau hierárquico”. 

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Entretanto, existem posicionamentos no sentido de que a competência

disciplinar para a aplicação de punições disciplinares, no Estado do Paraná, é

estabelecida pelo RISG (Regulamento Interno dos Serviços Gerais) e não pelo RDE. 

Todavia, este não é um posicionamento pacífico, pois o RISG não contempla

todas as funções previstas nos atuais quadros administrativos. E de acordo com

essa regulamentação (RISG), na PMPR, somente as autoridades elencadas pelo

artigo 485, em regra, teriam competência disciplinar e, portanto, poder para

aplicação de punição disciplinar, vez que declara expressamente a competência do

Comandante de Unidade. 

 

2.3.2 Formalidade

 

É o elemento por meio do qual exterioriza o ato disciplinar, ou seja, é a forma

pela qual é dado conhecimento aos interessados ou destinatários do ato disciplinar.

A formalidade constitui requisito vinculado e necessário do ato disciplinar. 

Segundo o § 4º, do art. 34 do RDE: “A publicação em BI é o ato administrativo

que formaliza a aplicação das punições disciplinares, exceto para o caso de

advertência, que é formalizada pela admoestação verbal ao transgressor”. 

Assim, a formalidade é, também, requisito essencial para a validade do ato

administrativo, e nesse caso, disciplinar militar. 

 

2.3.3 Legalidade

 

O princípio da legalidade é matéria constitucional expressa no artigo 5º, inciso

II, nos seguintes termos: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma

coisa senão em virtude de lei”. Também é princípio que deve ser observado pela

Administração Pública, conforme determina o “caput” do artigo 37 do texto

constitucional. 

Esse princípio tem como pressuposto a obediência ao disposto na Lei,

devendo o Administrador Público aplicá-la; e o ato disciplinar também deve se

subordinar à lei, haja vista que na Administração Pública, o agente público pode

atuar de forma discricionária, mas sempre dentro dos limites impostos pela Lei. 

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Oportuno destacar que o artigo 5º, inciso LXI, da CF, também estabelece que

para a imposição de sanção disciplinar, será considerada transgressão disciplinar

apenas o que estiver definido na Lei.  

E o RDE, acerca do tema, em seu artigo 35 determina que: 

Art. 35. […] a aplicação da punição deve ser feita com justiça, serenidade e imparcialidade, para que o punido fique consciente e convicto de que a mesma se inspira no cumprimento exclusivo do dever, na preservação da disciplina e que tem em vista o benefício educativo do punido e da coletividade.

Assim, o ato disciplinar tem como objetivo jamais ser efetivado para atender

anseios particulares, devendo sempre ter como objetivo final o sentimento de justiça,

a reeducação do punido, o resgate da dignidade do militar estadual. 

Ainda, de acordo com o artigo 37 do mesmo diploma legal, a aplicação da

punição disciplinar deverá ser feita de acordo com as seguintes normas: 

Art. 37. [...] I – a punição deve ser proporcional à gravidade da transgressão, dentro dos seguintes limites: a) para a transgressão leve, de advertência até dez dias de impedimento disciplinar, inclusive; b) para a transgressão média, de repreensão até detenção disciplinar, inclusive; c) para a transgressão grave, de prisão disciplinar até o licenciamento ou exclusão a bem da disciplina; II – A punição não pode atingir o máximo previsto no item anterior, quando ocorrerem apenas circunstâncias atenuantes; III – Por uma única transgressão não deve ser aplicada mais de uma punição. IV – A punição disciplinar não exime o punido da responsabilidade civil que lhe couber. V – Na ocorrência de mais de uma transgressão, sem conexão entre si, a cada uma deve ser imposta a punição correspondente. VI – Havendo conexão, as de menor gravidade serão consideradas como circunstâncias agravantes da transgressão principal.

Diante disso, a punição disciplinar aplicada fora desses normativos fere o

princípio da legalidade.  

Sobre o tema, leciona Eliezer Pereira Martins, citado por Manoel e Arduin,

(2004, p. 24): 

Não se concebe que os quartéis sejam um “mundo a parte”, mesmo porque à vida moderna impõe cada vez mais a participação da comunidade nas instituições e uma transparência absoluta em tudo que diga respeito à coisa

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pública. [...] a condicionante legal se expressa na imposição de que o sistema disciplinar militar seja absolutamente afinado com o direito positivo vigente no país. [...] assim, as normas disciplinares militares são condicionadas por todo o edifício jurídico e devem procurar harmonizar-se com todo o conjunto legal vigente. Os militares tendem a crer na existência de uma ordem jurídica paralela, própria e específica de sua categoria, o que não ocorre, já que as especificidades da legislação militar não são de tal ordem que justifiquem incompatibilidade com toda a ordem e hierarquia das normas nos termos estipulados na Constituição Federal. Deste modo cumpre advertir que a constituição não “... vige só do quartel para fora...” como já tivemos ocasião de ouvir de um desempregado Comandante, vige, e com mais exigências de cumprimento dentro dos quartéis, onde reside a última trincheira da legalidade. [...] as normas disciplinares-militares têm conteúdo de disposições restritivas de liberdade individual e portanto devem buscar seus fundamentos nas disposições relativas aos direitos e garantias fundamentais estatuídos na Carta Magna.

Portanto, e em respeito ao princípio da legalidade, além do cumprimento do

previsto no RISG e no RDE, deve haver também com relação ao contido na

Constituição Federal de 1988, pois nela estão previstos os fundamentos das

disposições relativas aos direitos e garantias fundamentais de todos os cidadãos,

inclusive os policiais militares. 

 

2.3.4 Finalidade

 

Este é um elemento vinculado de todo ato administrativo, haja vista que não

há a possibilidade da prática de qualquer ato pela Administração Pública sem

finalidade, ou seja, sem interesse público.

Conforme nos ensina Diógenes GASPARINI (2007, p. 64): É o requisito que impõe seja o ato administrativo praticado unicamente para um fim de interesse público, isto é, no interesse da coletividade. Não há ato administrativo sem um fim público a sustentá-lo. O ato administrativo desinformado de um fim público e, por certo, informado por um fim de interesse privado é nulo por desvio de finalidade (passa-se de uma finalidade de interesse público para uma finalidade de interesse privado, a exemplo do ato de desapropriação praticado para prejudicar o proprietário). É o que se chama de desvio de finalidade genérico.

A finalidade pode ser vista como elemento mais significante do ato disciplinar,

pois deve atender aos fins descritos na norma, bem como ao interesse da

coletividade.  

No que se refere aos militares, a finalidade deve sempre ter como objetivo

controlar sua conduta, preservar a hierarquia e disciplina e prestação de serviços à

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coletividade. Portanto, os fins da sanção disciplinar, de acordo com os artigos 23 e

35 do RDE, se inspiram no cumprimento exclusivo do dever e visa à preservação da

disciplina e a reeducação do punido, e assim determinam: 

Art. 23 – A punição disciplinar objetiva a preservação da disciplina e deve ter em vista o benefício educativo ao punido e à coletividade a que ele pertence. Art. 35 – A aplicação da punição deve ser feita com justiça, serenidade e imparcialidade, para que o punido fique consciente e convicto de que a mesma se inspira no cumprimento exclusivo do dever, na preservação da disciplina e que tem em vista o benefício educativo do punido e da coletividade.

Portanto, a doutrina majoritária defende que não pode a punição disciplinar

desviar-se desta finalidade, sendo aplicada meramente como castigo ou para

satisfação de interesse pessoal. Logo, deve ser aplicada com imparcialidade, justiça

e serenidade, visando à reeducação e o resgate do punido. 

 

2.3.5 Motivo

 

O motivo do ato punitivo são as razões que possibilitam e embasam a

aplicação da punição disciplinar, ou seja, é o enquadramento legal da falta cometida

pelo policial militar, de acordo com a norma regulamentadora.

E a doutrina defende que: [...] é a circunstância de fato ou de direito que autoriza ou impõe ao agente público a prática do ato administrativo. Consubstancia situações do mundo real que devem ser levadas em consideração para o agir da Administração Pública competente. São ações ou omissões dos agentes públicos ou dos administrados ou, ainda, necessidades do próprio Poder Público que impelem a Administração Pública à expedição do ato administrativo (GASPARINI, 2007, p. 66).

Importante salientar que, ao ser imposta pena disciplinar e ao classificar a

transgressão do policial militar, a autoridade competente deverá expor os motivos e

fundamentos que a levaram a optar por tal pena, bem como pela classificação da

transgressão imputada, para que o suposto transgressor tome conhecimento dos

fatos, fundamentos e motivos da pena disciplinar recebida, para que, em sendo o

caso, possa recorrer apropriadamente de tal decisão. 

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2.3.6 Objeto

 

O objeto do ato disciplinar é a pena disciplinar, discricionária, mas de acordo

com a sua motivação, dentro dos limites já mencionados. O objeto está identificado

com o conteúdo do ato disciplinar, através do qual a Administração impõe a sua

vontade.

Segundo Odete MEDAUAR (2000, p. 150), a doutrina considera como

sinônimos o objeto e o conteúdo, e conceitua o objeto como sendo:

 

[...] o efeito prático pretendido com a edição do ato administrativo ou a modificação por ele trazida ao ordenamento jurídico. [...] o objeto há de ser lícito, isto é, o resultado pretendido deve ser aceito pelo ordenamento, porque pautado na lei; moral – conforme a princípios éticos e a todas as regras de conduta extraídas da disciplina geral da Administração; possível – referente a algo realizável de fato e de direito.

Portanto, o conteúdo ou o objeto do ato administrativo deve ser lícito, possível

e de acordo com o ordenamento jurídico para que possa ser realizável e produzir

seus devidos efeitos.

 

2.4 ESPÉCIES DE PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR

 

O Processo Disciplinar está dividido em ordinário e extraordinário, passamos,

então, a expor brevemente cada um deles.

 

2.4.1 Ordinário

Este tipo de Processo também é chamado de reeducativo, pois apenas

sanciona o policial, mas sem excluí-lo da corporação. Existem dois tipos: o

Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar - FATD e o Sistema Disciplinar

Especial – SDE. 

O FATD, de acordo com a Portaria nº 339/2006, é efetuado quando:   Art. 1º A autoridade competente, ao presenciar ou tomar conhecimento da ocorrência de transgressão disciplinar resultante de apuração em sindicância, ou comunicada por intermédio de parte disciplinar ou outro expediente, a exemplo de informação, representação ou requerimento, deverá pessoalmente expedir ou determinar a um Oficial ou Aspirante-a-

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Oficial que expeça, ao militar estadual apontado como autor do fato, Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD).

 E a diferença com o SDE, é a que este é realizado quando o militar está em

momento de formação, em que errar faz parte do aprendizado, ou seja, as faltas são

consideradas de cunho pedagógico. 

Portanto, no processo ordinário ou reeducativo, derivado da prática de

transgressão disciplinar de natureza leve ou média, sua apuração é realizada,

geralmente, através do procedimento disciplinar da sindicância.  

E importante frisar que a sindicância, conforme nos ensina Romeu Felipe

BACELLAR FILHO (2003, p. 105), deve ser entendida como um procedimento com

rigor formal atenuado, em comparação com as formalidades exigidas pelo processo

disciplinar, todavia, essa menor exigência formal não deve prejudicar a observância

das peculiaridades fundamentais à concretização das garantias do processo.  

2.4.2 Extraordinário

 

O processo extraordinário também é chamado de expulsório, e existem três

tipos: a Apuração Disciplinar de Licenciamento – ADL, procedimento sumário, em

que é efetuado o licenciamento a bem da disciplina do policial que não possui a

estabilidade; o Conselho de Disciplina – CD, realizado nos casos de praças estáveis;

e o Conselho de Justificação – CJ, realizado nos casos de oficiais.  

E tudo em conformidade com o estabelecido na Lei nº 16.544/2010:  Art. 4º. O processo disciplinar compreende: I - Apuração Disciplinar de Licenciamento, destinada a julgar a capacidade de praça ativa ou inativa, com menos de 10 (dez) anos de serviço prestados à Corporação, na data do fato, para permanecer, nas fileiras da PMPR, na condição em que se encontra; II - Conselho de Disciplina, destinado a julgar a capacidade de praça especial ou de praça, ativa ou inativa, com mais de 10 (dez) anos de serviço prestados à Corporação para permanecer, nas fileiras da PMPR, na condição em que se encontra; III - Conselho de Justificação, destinado a julgar a capacidade de oficial, ativo ou inativo, para permanecer, nas fileiras da PMPR, na condição em que se encontra.

 Os processos administrativos disciplinares que visam julgar a capacidade do

militar de permanecer na Força a que pertence, tendo em vista a prática de uma

transgressão de natureza grave, têm como objetivo julgar a capacidade de

permanecer na ativa ou na situação de inatividade em que se encontram as praças

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especiais e as praças estáveis – Conselho de Disciplina, e os oficiais – Conselho de

Justificação. 

Referidas as espécies de processos administrativos disciplinares militares de

que fazem uso as Forças Armadas, passamos à análise da conformidade de tais

processos com relação às garantias da legalidade, do devido processo legal, do

contraditório e da ampla defesa e demais princípios constitucionais.

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3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE NORTEIAM O PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

 

Os princípios são uma forma de limitar a atuação da Administração Pública,

ou seja, limitar a atuação discricionária, não permitindo atos que vão de encontro

com as normativas legais e os direitos constitucionais dos administrados. 

Existem princípios básicos que norteiam o Processo Administrativo Disciplinar

e que devem ser observados também na esfera militar, conforme determina a Lei nº

16.544/2010 em seu artigo 1º, parágrafo único, que estabelece que o processo

disciplinar se orientará pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência.  

Assim, passamos a discorrer sobre eles e outros que são aplicáveis, também,

ao processo disciplinar militar.  

 

3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

 

O princípio da legalidade, conforme Edimur Ferreira FARIA (2011, p. 70), teve

como base inspiradora o artigo 4º da Declaração dos Direitos do Homem e do

Cidadão, de 1789, e o referido artigo assim dispõe: 

 Artigo 4º- A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão os que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela Lei.  

 Portanto, há a necessidade de aplicação da norma visando a concretização

do interesse público, ou seja, a Administração Pública deve se adequar ao

ordenamento jurídico vigente, de maneira que os atos praticados por ela estejam de

acordo com as normas relativas ao ato.

Sobre o tema, Hely Lopes MEIRELLES (2001, p. 91) enfatiza que: 

 [...] a legalidade, como princípio de administração (CF, art. 37, caput), significa que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso.  

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Diante disso, verifica-se que o agente público está sujeito aos mandamentos

da lei, não podendo desviar seus atos, sob pena de prática de ato irregular. Por esta

razão, os atos da Administração Pública devem estar em consonância com o que o

sistema normativo autoriza. 

Para Alexandre de MORAES (2001, p. 300), o princípio da legalidade: 

 [...] coaduna-se com a própria função administrativa, de executor do direito, que atua sem finalidade própria, mas sim em respeito à finalidade imposta pela lei, e com a necessidade de preservar-se a ordem jurídica. 

 No que se refere ao Processo Administrativo Disciplinar, todavia, existem

normatizações que dependem de análises subjetivas por parte do responsável pelo

procedimento, conforme pode se observar no próprio conceito de transgressão

disciplinar previsto no artigo 14 do Regulamento Disciplinar do Exército: 

 Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar contrária aos preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à ética, aos deveres e às obrigações militares, mesmo na sua manifestação elementar e simples, ou, ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro de classe. 

 Ainda, segundo o artigo 21 do Regulamento Disciplinar do Exército, a

transgressão disciplinar militar deve ser classificada em leve, média ou grave, sendo

que o parágrafo único dispõe que: “a competência para classificar é da autoridade a

qual couber sua aplicação”.

Portanto, à autoridade a quem é atribuída a competência para definir a

gravidade da infração disciplinar, é permitida a aplicação de forma subjetiva o que

deve ser enquadrado como transgressão disciplinar, situação que pode se configurar

em flagrante violação ao princípio constitucional da legalidade. 

De acordo com Marçal JUSTEN FILHO (2000, p. 621-622), quando houver a

imposição de sanções de forma discricionária, e garantindo poderes não

delimitados, fere valores protegidos pela Constituição, e consequentemente,

constitui clara violação ao Estado Democrático de Direito. 

E parte da doutrina militar e das autoridades administrativas militares

considera que a discricionariedade é necessária para a preservação da organização

militar. Todavia, em que pese todas as peculiaridades da regulamentação da vida

desses servidores, tais valores não são capazes de ser considerados superiores ou

mais importantes que os direitos fundamentais assegurados pela Constituição de

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1988, ainda mais diante de uma punição que pode culminar com o cerceamento de

liberdade do militar. 

 

3.2 PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE

 

No entendimento de Diógenes GASPARINI (2007, p. 23), o princípio da

impessoalidade determina que “a atividade administrativa deve ser destinada a

todos os administrados, dirigida ao cidadão em geral, sem determinação de pessoas

ou discriminação de qualquer natureza”. Portanto, mesmo em se tratando de policial

militar, em que há um tratamento diferenciado, o princípio da impessoalidade deve

estar presente em todos os atos praticados. 

Partilhando deste entendimento, Celso Antônio BANDEIRA DE MELLO

(2007, p. 68) nos ensina que: 

 No princípio da impessoalidade se traduz a idéia de que a Administração tem que tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismo nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa e muito menos interesses sectários, de facções ou grupos de qualquer espécie. O princípio em causa é senão o próprio princípio da igualdade ou isonomia.

Ainda, vem corroborar José dos Santos CARVALHO FILHO (2008, p. 17): O princípio (impessoalidade) objetiva a igualdade de tratamento que a Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica. Nesse ponto, representa uma faceta do principio da isonomia. Por outro lado, para que haja verdadeira impessoalidade, deve a Administração voltar-se exclusivamente para o interesse público, e não para o privado, vendando-se, em conseqüência, sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros e prejudicados alguns para favorecimento de outros (grifo do autor).

 Desta forma, este princípio visa coibir tratamentos diferenciados aos

administrados, seja para beneficiá-los, seja para prejudicá-los, o que deve ocorrer

também nos Processos Administrativos Disciplinares no âmbito da Polícia Militar do

Estado do Paraná.

 

 

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3.3 PRINCÍPIO DA MORALIDADE

 

Este princípio determina que, além de obedecer ao estrito cumprimento da

lei, o administrador público deve adequar seus atos à moralidade administrativa, isto

é, aos padrões éticos de conduta que fundamentam suas ações. 

Para o Professor Romeu Felipe BACELLAR FILHO (2005, p. 47) “a

moralidade administrativa, ao revés da moral comum, não é alterada com o tempo,

pois impõe comportamentos vislumbrados das regras da própria atuação dos

servidores”.

E José dos Santos CARVALHO FILHO (2008, p. 18) enfatiza que:  O principio da moralidade impõe que o administrador público não dispensa os preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta. Deve não só averiguar os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas também distinguir o que é honesto do que é desonesto. Acrescentamos que tal forma de conduta deve existir não somente nas relações entre a Administração e os administrados em geral, como também internamente, ou seja, na relação entre a Administração e os agentes públicos que a integram. [...] O art. 37 da Constituição Federal também a ele se referiu expressamente, e pode-se dizer, sem receio de errar, que foi bem aceito no seio da coletividade, já sufocada pela obrigação de ter assistido aos desmandos de maus administradores, frequentemente na busca de seus interesses ou de interesses inconfessáveis, relegando para último plano os preceitos morais de que não deveriam se afastar.

Portanto, o princípio da moralidade também acarreta, caso haja seu

descumprimento, à imoralidade e até mesmo à improbidade administrativa,

dependendo do caso. 

Diante disso, nos Processos Administrativos Disciplinares deve haver a

moralidade dos atos, ou seja, a proporcionalidade entre o fato e a sanção a ser

aplicada no caso de verificação de transgressão disciplinar, assim como a gravidade

da conduta e a reeducação do agente público. 

 

3.4 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

 

O princípio da publicidade diz respeito a atuação da Administração Pública

de forma democrática alinhando à Constituição Federal de 1988. Assim, este

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princípio deve fazer parte de todos os setores e departamentos pertencentes à

Administração. 

Este princípio tem como pressuposto possibilitar que a sociedade tenha

conhecimento dos atos praticados pela Administração Pública, e assim, haja maior

transparência em suas decisões. 

Diante disso, Hely Lopes MEIRELLES (2007, p. 91) frisa como sendo

necessária sua aplicação no Processo Administrativo Disciplinar Militar, para que

possa haver, também, a correta contagem dos prazos para impugnação

administrativa ou anulação judicial. 

 

3.5 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

 

Este princípio determina que os agentes públicos cumpram seus deveres

sem burocracia e de forma eficaz, com rapidez e prontidão, tanto de forma

quantitativa como qualitativa. 

Conforme Emerson GABARDO (2002, p. 16-17), o princípio da eficiência

assume posição de "instrumento jurídico a serviço do regime administrativo

consagrado constitucionalmente”. 

Este princípio se constitui como elemento indispensável à Administração

Pública, vez que é a responsável pela prestação de bens e serviços públicos

fornecidos à sociedade. 

E Maria Sylvia Zanella DI PIETRO (2012, p. 84-85) assim esclarece: 

 

O princípio da eficiência apresenta, na realidade, dois aspectos: pode ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do serviço público. [...] Vale dizer que a eficiência é princípio que se soma aos demais princípios impostos à Administração, não podendo sobrepor-se a nenhum deles, especialmente ao da legalidade, sob pena de sérios riscos à segurança jurídica e ao próprio Estado de Direito. 

 

Para José Afonso da SILVA (2005, p. 655) o termo tem a seguinte

conotação:  [...] eficiência administrativa se consegue através do melhor emprego de recursos e meios (humanos, materiais e institucionais), para satisfazer da

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melhor forma as necessidades coletivas em um regime de igualdade dos usuários. 

 

O professor Romeu Felipe BACELLAR FILHO (2005, p. 195-196) enfatiza

que o princípio da eficiência está presente na Constituição Federal na matéria que

trata da profissionalização do servidor público, pois “o preparo técnico para o

desempenho do cargo, emprego ou função pública é característica indispensável do

servidor público eficiente”.

Ainda, além de tais princípios, existem outros que são considerados

essenciais no Processo Disciplinar, os quais passamos a analisar.

3.6 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO

O princípio da ampla defesa e do contraditório não comporta exceções, pois

está prevista tal garantia pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, incisos

LV e LXI.

Este princípio é inerente a todos os tipos de processos, não sendo diferente

com o Processo Administrativo Disciplinar, por ser este um procedimento

essencialmente acusatório.

E a própria Lei nº 16.544/2010, que regulamenta o Processo Disciplinar no

âmbito da Polícia Militar do Estado do Paraná, enfatiza em seu artigo 6º que: “No

processo disciplinar serão assegurados a ampla defesa e o contraditório, com os

meios e recursos a eles inerentes.”

O objetivo da ampla defesa e do contraditório é oportunizar ao agente público

apresentar seus argumentos com relação às alegações acusatórias em cada fase do

Processo Administrativo Disciplinar, e, principalmente, de solicitar a produção de

provas que entender pertinentes para sua defesa.

E Guilherme NUCCI (2007, p. 34) sobre o tema destaca que: Considerado, no processo, parte hipossuficiente por natureza, uma vez que o Estado é sempre mais forte, agindo por órgãos constituídos e preparados, valendo-se de informações e dados de todas as fontes às quais tem acesso, merece o réu um tratamento diferenciado e justo, razão pela qual a ampla possibilidade de defesa se lhe afigura a compensação devida pela força estatal.

 

Jorge César de ASSIS (2010, p. 208) nos ensina da seguinte forma:

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A doutrina é unânime quanto a aplicação deste importante princípio no processo administrativo, mesmo porque decorrente de um direito constitucional, dentre aqueles definidores dos direitos e garantias fundamentais que tem aplicação imediata, desde a edição da Magna Carta, a teor do § 1º de seu importante art. 5º. Por contraditório e ampla defesa deve-se entender, além da observância da pela Administração Pública do rito adequado, a cientificação do processo ao acusado, a oportunidade de contestar a acusação, produzindo as provas que entender necessárias e que sejam admitidas em Direito, o acompanhamento dos atos da instrução e a utilização dos recursos cabíveis.

Mas, infelizmente, no Processo Administrativo Disciplinar Militar este princípio

é, por diversas vezes, mal interpretado pelos agentes públicos que realizam os

procedimentos, considerando que não é garantido o amplo acompanhamento dos

atos pelo militar supostamente faltoso.

Portanto, se pode concluir que o convencimento do superior hierárquico

estará, muitas vezes, prejudicado, sem a produção de todas as provas possíveis e

que podem confirmar a inocência ou não do militar.

3.6.1 Direito à defesa técnica

A defesa técnica nos processos administrativos disciplinares já foi um tema

muito debatido pela doutrina e jurisprudência. Diante disso, o Supremo Tribunal

Federal se posicionou por meio da Súmula Vinculante nº 5.

A referida Súmula Vinculante dispõe que não é obrigatória a defesa técnica

por advogado no processo administrativo disciplinar. Entretanto, e com a devida

vênia, este posicionamento se caracteriza como um retrocesso jurídico, tendo em

vista a atual situação de desenvolvimento atingido pelos direitos constitucional e

administrativo. Isto se justifica, pois atenta flagrantemente contra a garantia

constitucional da ampla defesa, ou seja, tal posicionamento vai de encontro com

toda a evolução verificada no âmbito do direito administrativo.

Não se pode considerar que a defesa de um agente público sem o

conhecimento da legislação pertinente a seu caso, ou seja, sem a defesa técnica,

não fica clara a observância do princípio da ampla defesa, pois esta pode, muitas

vezes, ser feita de forma equivocada e pode prejudicar até mesmo a carreira do

policial militar, inclusive com o cerceamento de sua liberdade.

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Assim, considerando tratar-se de um processo que pode resultar na prisão

disciplinar do militar acusado, não se pode permitir que a defesa seja executada sem

o auxílio de um advogado.

Tal afirmativa pode ser justificada, primeiramente, pelo fato da realização da

defesa do militar acusado por transgressão disciplinar ser essencial para que sejam

evitados os prejuízos que o desconhecimento técnico pode causar. Em seguida, a

defesa técnica pode superar os problemas ocasionados por um processo que se

desenvolve no âmbito em que impera a disciplina e a hierarquia, impedindo, até

mesmo, o confronto com o superior hierárquico.

Dessa feita, a defesa técnica é essencial para garantir a ampla defesa do

acusado, possibilitar o contraditório e, dessa forma, concretizar o devido processo

legal no âmbito disciplinar militar.

3.7 PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE

Este é princípio que faz parte da Administração Pública, independentemente

de previsão em lei.

Assim, no Processo Administrativo Disciplinar o princípio da oficialidade está

presente para que seja formada a opinião do superior hierárquico responsável pelo

procedimento, adotando as devidas providências por meio de diligências e atos que

melhor elucidem os fatos e possibilitem sua convicção sobre a responsabilização ou

não do militar.

3.8 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

A Constituição Federal nos incisos LIV e LV, do artigo 5º, prevê a proteção do

devido processo legal também na esfera processual administrativa.

Este princípio enfatiza a necessidade de um processo justo, detentor de

regras processuais razoáveis, vinculando-se aos requisitos legais dispostos para o

efetivo exercício do contraditório e da ampla defesa com os recursos e meios a eles

inerentes.

Relativamente ao processo administrativo disciplinar militar, o Regulamento

Disciplinar do Exército, em seu artigo 35, § 1º, relata as garantias do contraditório e

da ampla defesa, dizendo que “nenhuma punição disciplinar será imposta sem que

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ao transgressor sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, inclusive o

direito de ser ouvido pela autoridade competente para aplicá-la, e sem estarem os

fatos devidamente apurados”. Ainda, o § 2º dispõe sobre os meios de concretizá-

las, como o direito do militar acusado de ser ouvido, de produzir provas e de ter

conhecimento e acompanhar a realização de todos os atos do processo.

E sobre o princípio do devido processo legal, José dos Santos CARVALHO

FILHO (2008, p. 867) enfatiza que: Em relação ao processo administrativo, o principio do devido processo legal tem sentido claro: em todo processo administrativo devem ser respeitadas as normas legais que o regulam. A regra, aliás, vale para todo e qualquer tipo de processo, e no caso do processo administrativo incide sempre, seja qual for o objeto a que se destine. Embora se costume invocá-lo nos processos litigiosos, porque se assemelham aos processos judiciais, a verdade é que a exigência do postulado atinge até mesmo os processos não-litigiosos, no sentido de que nestes também deve o Estado respeitar as normas que sobre eles incidam.

Contudo, no cotidiano da aplicação das sanções disciplinares militares,

verifica-se que, infelizmente, nem sempre a garantia do devido processo legal e

consequentemente o contraditório e a ampla defesa são efetivamente respeitados.

Portanto, e da análise dos princípios acima elencados, observa-se que em

muitos casos, não há a efetiva observância dos direitos e garantias dos policiais

militares que respondem ao Processo Administrativo Disciplinar.

E Alexandre de MORAES (2008, p. 105) defende que seja no processo

judicial ou administrativo: O devido processo legal tem como corolários a ampla defesa e o contraditório, que deverão ser assegurados aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, conforme o texto constitucional expresso (art. 5°, LV). Assim, embora no campo administrativo, não exista necessidade de tipificação estrita que subsuma rigorosamente a conduta à norma, a capitulação do ilícito administrativo não pode ser tão aberta a ponto de impossibilitar o direito de defesa, pois nenhuma penalidade poderá ser imposta, tanto no campo judicial, quanto nos campos administrativos ou disciplinares, sem a necessária amplitude de defesa.

Assim, seria de grande valia a realização de um estudo sobre a possibilidade

de ser instituído no âmbito da Polícia Militar do Estado do Paraná, Comissões

Permanentes de Processos Administrativos Disciplinares formadas por membros

devidamente instruídos e com o conhecimento técnico necessário para a adoção

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dos devidos procedimentos. Entretanto, primeiramente, deve ser observada a

viabilidade de tal considerando a peculiaridade de cada Batalhão e pela constante

movimentação, ou seja, a transferência dos Oficiais da Corporação.

Entretanto, poderia, ainda, ser designado Oficial com o estudo e

conhecimento necessários para a designação como responsáveis pelo Processo

Administrativo Disciplinar, para que, em tese, seja realizado o procedimento de

acordo com as determinações legais e possibilite a verificação do cumprimento do

disposto na Constituição Federal de 1988.

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4 METODOLOGIA

 

O presente trabalho teve como focos fundamentais identificar os direitos e

garantias fundamentais dos policiais militares do Estado do Paraná nos Processos

Disciplinares e sua efetiva observância. 

Portanto, a pesquisa utilizou o método indutivo, que para Pasold (2005, p.

238), é a “base lógica da dinâmica da Pesquisa Científica que consiste em pesquisar

e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma

percepção ou conclusão geral”. 

Ainda, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, que segundo Marconi e

Lakatos (2006, p. 185), “não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre

certo assunto, mas propícia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem,

chegando a conclusões inovadoras”.

Importante também destacar Pasold (2005, p. 239), que considera a pesquisa

bibliográfica como uma “técnica de investigação em livros, repertórios

jurisprudenciais e coletâneas legais”. 

E também foi consultada a legislação pertinente ao assunto, o que constitui

uma pesquisa documental, que segundo Marconi e Lakatos (2006, p. 176), “é que a

fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o

que se denomina de fontes primárias”. 

Portanto, e após a pesquisa realizada, foi realizada a análise e interpretação,

para que fosse efetuada a construção da fundamentação teórica da presente

pesquisa. 

E a análise, para Marconi e Lakatos (2006, p.169), “é a tentativa de evidenciar

as relações existentes entre o fenômeno estudado e outros fatores”. Já Pasold

(2005, p. 228) conceitua a análise como: 

 [...] apreciação fundamentada sobre o conteúdo examinado, tendo como desiderato uma crítica cientificamente responsável, ou seja, logicamente coerente com a fundamentação do exame efetuado; a crítica pode, obviamente, ser positiva e/ou negativa, e incidir sobre o todo ou partes do conteúdo em questão.   

Portanto, a pesquisa foi realizada com o intuito de identificar os direitos e

garantias fundamentais dos policiais militares nos Processos Administrativos

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Disciplinares, e após os estudos, foram apontados todos os direitos a eles inerentes

e as peculiaridades dos processos disciplinares militares.

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5 CONCLUSÃO

 

Após a pesquisa efetuada, observou-se que o processo disciplinar militar é

diferenciado e com diversas peculiaridades. Todavia, não se pode aceitar que tais

peculiaridades possibilitem uma atuação administrativa fundada em arbitrariedades

ou até mesmo em violações de direitos e garantias constitucionalmente previstos. 

Portanto, importante destacar que todo e qualquer ramo do direito deve se

submeter à Constituição de 1988, o que não é diferente com o Direito Militar, mesmo

sendo o direito administrativo disciplinar militar um ramo específico dentro do direito

administrativo.

Assim, as instituições militares não podem mais ser consideradas como uma

exceção dentro do ordenamento jurídico, no que se refere aos direitos e garantias

dos militares.  

Diante disso, a presente pesquisa relatou quais os princípios constitucionais

que norteiam o Processo Administrativo Disciplinar Militar, no âmbito do Estado do

Paraná, e sua observância por parte da autoridade competente para sua instauração

e nos procedimentos cabíveis. 

Ficou claro que a autoridade que procederá ao Processo Administrativo

Disciplinar face aos policiais militares deve atentar para os princípios descritos na

Constituição Federal e permitir que os agentes que respondem ao Processo tenham

suas garantias asseguradas, e possam, principalmente, exercer seu direito

constitucionalmente garantido da ampla defesa e do contraditório. 

Entretanto, a realidade que deixa transparecer, é de que, muitas vezes, não

há o devido processo legal e a oportunidade de ampla defesa e contraditório por

parte do policial militar, pois ainda existe um forte sentimento de subordinação no

processo, haja vista que a autoridade encarregada pelo processo sempre será

hierarquicamente superior ao militar supostamente transgressor.

Ainda, importante destacar que na instituição militar, existe o forte sentimento

de obediência à hierarquia e à disciplina, fazendo com que o militar não afronte o

superior hierárquico como uma forma de estar infringindo o disposto no

Regulamento Disciplinar. 

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Portanto, infelizmente, ainda há a necessidade de avanços na instauração

dos Processos Administrativos Disciplinares, tanto no sentido técnico quanto no

sentido de melhor atender aos ditames constitucionais.

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