15
 IGREJA E INDÍGENAS DO ALTO RIO NEGRO: DOS INTERNATOS À ESCOLA BILÍNGUE Valéria Augusta Weigel 1  RESUMO Os missionários salesianos, no início do século XX, aquiesceram à solicitação do Estado brasileiro, interessado em controlar política e economicamente a região, fundando, com apoio e respaldo do poder público, internatos para os índios e empreendendo um vasto trabalho missionário na área. Depois de quase um século, os missionários salesianos continuam na região, à frente de cinco grandes escolas, quatro das quais reconhecidas como escolas indígenas bilíngües, porque incluem uma língua indígena no currículo. Este texto aborda a trajetória e as transformações operadas no pensamento educacional dos missionários, as suas relações com os indígenas, bem como as estratégias sociopolíticas e pedagógicas engendradas pelo controle das escolas, ora em disputa com as lideranças indígenas politizadas. Discute, nas situações de diferentes contextos históricos, o significado e as implicações dessa educação salesiana, buscando apreender as formas como os missionários e os indígenas estão inseridos nestas situações, considerando as características próprias de situações interculturais. Palavras-chave: Internato para indígenas; igreja e educação no Alto Rio Negro; educação salesiana para índios. Introdução Depois de quase um século de atividades educacionais na região conhecida como Alto Rio Negro, a noroeste do estado do Amazonas, os missionários salesianos continuam à frente de cinco grandes escolas, quatro das quais reconhecidas como escolas indígenas bilíngües, porque estão em área indígena e incluem uma língua indígena no currículo. Este texto aborda a trajetória e as transformações operadas no pensamento educacional dos missionários, as suas relações com os indígenas, bem como as estratégias sociopolíticas e pedagógicas engendradas pelo controle das escolas, ora em disputa com as lideranças indígenas politizadas. Nas interpretações sobre a presença missionária católica na região, tem sido enfatizado em suas ações educacionais o caráter de instrumento de imposição da cultura ocidental, mediando pela força das idéias e da pedagogia, a destruição da 1  Doutorado em Antropologia. Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas/UFAM

IGREJA E INDÍGENAS DO ALTO RIO NEGRO: DOS INTERNATOS À ESCOLA BILÍNGUE

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Os missionários salesianos, no início do século XX, aquiesceram à solicitaçãodo Estado brasileiro, interessado em controlar política e economicamente a região,fundando, com apoio e respaldo do poder público, internatos para os índios eempreendendo um vasto trabalho missionário na área. Depois de quase um século,os missionários salesianos continuam na região, à frente de cinco grandes escolas,quatro das quais reconhecidas como escolas indígenas bilíngües, porque incluemuma língua indígena no currículo. Este texto aborda a trajetória e as transformaçõesoperadas no pensamento educacional dos missionários, as suas relações com osindígenas, bem como as estratégias sociopolíticas e pedagógicas engendradas pelocontrole das escolas, ora em disputa com as lideranças indígenas politizadas.Discute, nas situações de diferentes contextos históricos, o significado e asimplicações dessa educação salesiana, buscando apreender as formas como osmissionários e os indígenas estão inseridos nestas situações, considerando ascaracterísticas próprias de situações interculturais.

Citation preview

  • IGREJA E INDGENAS DO ALTO RIO NEGRO: DOS INTERNATOS ESCOLA BILNGUE

    Valria Augusta Weigel1

    RESUMO

    Os missionrios salesianos, no incio do sculo XX, aquiesceram solicitao do Estado brasileiro, interessado em controlar poltica e economicamente a regio, fundando, com apoio e respaldo do poder pblico, internatos para os ndios e empreendendo um vasto trabalho missionrio na rea. Depois de quase um sculo, os missionrios salesianos continuam na regio, frente de cinco grandes escolas, quatro das quais reconhecidas como escolas indgenas bilnges, porque incluem uma lngua indgena no currculo. Este texto aborda a trajetria e as transformaes operadas no pensamento educacional dos missionrios, as suas relaes com os indgenas, bem como as estratgias sociopolticas e pedaggicas engendradas pelo controle das escolas, ora em disputa com as lideranas indgenas politizadas. Discute, nas situaes de diferentes contextos histricos, o significado e as implicaes dessa educao salesiana, buscando apreender as formas como os missionrios e os indgenas esto inseridos nestas situaes, considerando as caractersticas prprias de situaes interculturais.

    Palavras-chave: Internato para indgenas; igreja e educao no Alto Rio Negro; educao salesiana para ndios.

    Introduo

    Depois de quase um sculo de atividades educacionais na regio conhecida como Alto Rio Negro, a noroeste do estado do Amazonas, os missionrios salesianos continuam frente de cinco grandes escolas, quatro das quais reconhecidas como escolas indgenas bilnges, porque esto em rea indgena e incluem uma lngua indgena no currculo. Este texto aborda a trajetria e as transformaes operadas no pensamento educacional dos missionrios, as suas relaes com os indgenas, bem como as estratgias sociopolticas e pedaggicas engendradas pelo controle das escolas, ora em disputa com as lideranas indgenas politizadas.

    Nas interpretaes sobre a presena missionria catlica na regio, tem sido enfatizado em suas aes educacionais o carter de instrumento de imposio da cultura ocidental, mediando pela fora das idias e da pedagogia, a destruio da

    1 Doutorado em Antropologia. Professora da Faculdade de Educao da Universidade Federal do

    Amazonas/UFAM

  • 2

    identidade tnica e a assimilao dos indgenas sociedade nacional. Este texto pretende discutir, nas situaes de diferentes contextos histricos, o significado e as implicaes dessa educao salesiana, buscando apreender as formas como os missionrios e os indgenas esto inseridos nestas situaes, considerando as caractersticas prprias de situaes interculturais.

    A anlise da experincia educacional salesiana no Alto Rio Negro parte da perspectiva terica que toma a escola como espao de confronto e conflito cultural e poltico, possibilitando aos atores sociais envolvidos uma constante negociao pela definio de projetos e pelo seu controle. A discusso construda baseia-se em pesquisa, na qual foram utilizados fontes documentais e procedimentos de histria oral, em que foram ouvidos velhos, mulheres e professores indgenas; bem como foram realizadas observaes de eventos e entrevistas com missionrios salesianos que trabalham na rea.

    Os antigos internatos: a dialtica do processo civilizatrio

    Em 1908, Dom Frederico Costa, bispo de Manaus, percorreu todo o vale do rio Negro, desde sua foz no rio Amazonas at a fronteira do Brasil com a Venezuela, avaliando o tamanho da populao indgena e cabocla, a carncia de prelados e a ausncia de um trabalho catequtico mais sistemtico. A Igreja Catlica vivia, naquele momento, as idias propugnadas, em 1893, pelo Papa Leo XIII, na encclica Rerum Novarum. O receio da propagao do comunismo nascente no final do sculo XIX desencadeou a reao da Igreja que, nesta encclica, pontifica sobre o trabalho, as classes e as questes sociais, no sentido de estabelecer um iderio, capaz de contrapor-se ao humanismo embutido nas idias comunistas. Concomitantemente, a Igreja Catlica estabeleceu uma poltica de propagao da sua doutrina, dirigindo seus esforos, principalmente, para as populaes pobres da Amrica, frica e Oceania, onde promoveu grandes investidas de evangelizao, aes civilizatrias e trabalhos pastorais, destinadas a ampliar seu quadro de adeptos no mundo, sendo este o motivo da viagem de D. Frederico Costa. Para efetivar a cruzada missionria na regio do Alto Rio Negro, foram escalados os religiosos salesianos que, atravs do Decreto da Sagrada Congregao da Propaganda Fide, de 18 de julho de 1914, receberam do Papa Pio X a prefeitura apostlica do Rio Negro (criada em 1904), com a incumbncia de

  • 3

    iniciar uma misso duradoura que viesse implantar firmemente o reino de Jesus Christo naquella vasta regio, reedificando um novo e sumptuoso monumento sobre as runas do passado (Soares dAzevedo, 1933, p. 42). Os salesianos haviam chegado ao Brasil em 1883 e j desenvolviam trabalho junto aos ndios Bororo, no Mato Grosso. Essa experincia com os indgenas veio para o Alto Rio Negro com o padre Joo Balzola que, em 1915, acompanhou Monsenhor Loureno Giordano, quando ambos desembarcaram em So Gabriel da Cachoeira, iniciando os primeiros procedimentos da misso. Monsenhor Giordano recebera a direo da nova Prefeitura Apostlica. Aps duas dcadas, os salesianos tinham erguido quatro centros missionrios no Alto Rio Negro - So Gabriel, Taracu, Yauaret e Barcelos - provocando o aumento do nmero de povoados, a construo de estradas e o envolvimento da populao indgena2 nos trabalhos das misses. Ao todo, at o incio da dcada de 50, foram instaladas sete grandes sedes de misso3: So Gabriel (1915), Barcelos (1924) e Santa Izabel (1942), no rio Negro; Taracu (1924) e Yauaret (1929), no rio Uaups; Pari-Cachoeira (1938) no rio Tiqui, afluente do Uaups; e Assuno (1953) no rio Iana. As misses se encheram de indgenas. A aquiescncia convocao dos padres era uma questo de sobrevivncia. Significava mais um passo para a adaptao compulsria e inevitvel sociedade envolvente dos civilizados que comeara sculos atrs. Desse modo, a transformao cultural processada nas sociedades indgenas da regio tem precipuamente um forte sentido poltico e secundariamente cultural. Naquele momento os missionrios salesianos estavam convencidos do atraso cultural dos povos indgenas do Alto Rio Negro. Por isso, aquiesceram solicitao do Estado brasileiro, interessado em controlar poltica e economicamente a regio, fundando, com apoio e respaldo do poder pblico, internatos para os ndios junto aos centros missionrios, com vistas a civilizar os indgenas. Estavam convictos de que o progresso dos ndios deveria se dar pela imposio de modelos sociais e culturais prprios da sociedade italiana, de onde se irradiava a Congregao

    2 Na obra Rio Mar, de 1933, o salesiano Soares dAzevedo faz uma apresentao da obra missionria da

    Congregao de D. Bosco no rio Negro, em que apresenta dados demogrficos da regio - 3.546 ndios aldeados, em nmero maior que os no-aldeados, 2779 - como um dos resultados conseguidos pelos religiosos (p. 54). 3 Depois foram criadas as misses de Maturac, por D. Pedro Massa, em 1958, e a de Maraui, por D. Miguel

    Alangna, em 1968.

  • 4

    Salesiana. Seus esforos, ento, foram por criar no ndio um trabalhador cristo, citadino e patriota (Weigel e Ramos, 1991). E aqui residem, para o etngrafo Curt Nimuendaju, os pontos contra a Misso salesiana, em seus primeiros momentos no Alto Rio Negro: a comprovada incapacidade de compreender e fazer justia a uma cultura que no seja a presente cultura crist (1982, p.188). Tanto a intolerncia, quanto o desconhecimento e o desprezo pela cultura intelectual do ndio, segundo Nimuendaju, foram causa do fracasso da converso deste. Na interpretao deste etngrafo, no se podia dizer que os ndios haviam se tornado cristos de fato, se no compreendessem o significado dos smbolos do cristianismo. O catolicismo tapuia, fruto do sincretismo operado pelos indgenas, tolerado pelos religiosos, era o atestado de que o sucesso do cristianismo era apenas aparente. Em relao ao fato das Misses terem se estabelecido para valer, aumentando e arregimentando um grande nmero de indgenas, Curt Nimuendaju entende que esse xito deveu-se mais sua superioridade social e a preponderncia econmica do que mesmo ao convencimento pela doutrina. De fato, tanto o Estado concedia apoio logstico e financeiro, quanto se empenhavam os prprios Prefeitos Apostlicos em arrecadar fundos, mesmo fora do pas, que era possvel aos salesianos propiciar aos indgenas, gratuitamente, cuidados hospitalares, remdios, escolaridade, fardamento escolar e alimentao aos alunos internos, como lembra um ex-aluno baniwa do internato de Assuno do Iana:

    No se pagava nada, nem caderno, nem livro, nem fardamento, nem sapato e, quando iam de frias, ganhavam bnus em relao ao nvel de comportamento dos alunos, que eram trocados por mercadorias [levadas para a famlia] (E. B., stio So Tom, rio Iana).

    Essa estratgia de conquista do indgena atravs da distribuio de donativos materiais e de servios funcionou bem naquele momento (e os missionrios sofrem reflexos dessa postura paternalista, antes possvel, nas suas relaes atuais com os indgenas que cobram as mesmas ddivas), pela inexistncia de instituies assistenciais e abastecedoras, para atender a populao cabocla e a indgena j, ento, completamente dependente dos meios de vida e trabalho dos brancos. Do ponto de vista dos salesianos, o apoio recebido do governo brasileiro, principalmente atravs da Fora Area Brasileira, era um capital simblico facilmente

  • 5

    transformado em poder sobre os Baniwa e outros povos da regio, at meados da dcada de 60. Sem mesmo dominar a lngua portuguesa (muito menos, as lnguas indgenas), irmos e irms salesianos estavam dispostos a suportar as distncias, as adversidades geogrficas, as diferenas climticas, os piuns e outros desconfortos, para efetivar com os indgenas o projeto educacional de Dom Bosco: constituir o bom cristo e o bom cidado. Para isso, instituram em seus internatos um sistema educacional (baseado naquele desenvolvido em Turim, para os filhos de lavradores), ministrando o curso primrio (at a 5 srie), ensino religioso e formao para o trabalho. Dependendo da oficina existente na Misso, os jovens ndios poderiam desenvolver atividades ligadas a carpintaria, marcenaria, olearia e alfaiataria, para meninos; bordado, artesanato, corte e costura, para meninas. Alm disso, todos os alunos e alunas envolviam-se com agricultura, trabalhando nas roas da Misso, na faina necessria produo agrcola destinada ao consumo, assim como as alunas ndias eram responsveis pelo empreendimento das atividades de cozinha, limpeza e lavagem de roupa do alunado. De incio foi preciso subir os rios e convencer os chefes e os pais a permitir que algumas crianas e jovens viessem estudar nas escolas das Misses. Depois, os prprios pais vinham, aos poucos, se estabelecer nas proximidades dos Centros Missionrios. Como educadores experientes, os salesianos apostavam na formao das crianas e jovens, por estarem convencidos de que adultos e idosos no mais deixariam velhos costumes e no responderiam positivamente aos seus ensinamentos civilizatrios. Estavam, na verdade, seguindo a orientao de Dom Bosco, para quem a conquista do adulto seria feita, se primeiro se conquistassem as suas crianas. No entendimento dos salesianos, era necessrio que o jovem ndio ficasse totalmente recluso, no regime de internato, afastado de sua gente e de seu modo de vida, para que seus educadores pudessem ter controle sobre a formao de cada aspecto da personalidade desse novo brasileiro cristo. Suas aes educativas fundamentavam-se tanto no ideal religioso, quanto na teoria pedaggica formulada por Dom Bosco, cujos princpios constituam o denominado Sistema Preventivo de Educao (Modesti, 1975) que, segundo seu autor, tinha como eixos a caridade, a dedicao e o amor aos educandos. Voltados para a educao da juventude, os

  • 6

    seguidores de Dom Bosco pregavam a quebra do distanciamento tradicional entre mestres e discpulos e uma educao prtica, que cultivasse, alm da arte e dos esportes, os ofcios exigidos pela vida moderna; da a preocupao com o ensino profissional nos internatos do Alto Rio Negro. O processo para formar o bom cidado neste contexto rionegrino inclua a imposio da lngua portuguesa. Mesmo que alguns padres tivessem que ter aprendido a lngua indgena da regio onde atuavam, para poderem fazer-se entender, na escola estudava-se exclusivamente o idioma nacional, sendo este de uso obrigatrio nas comunicaes dentro do internato. Alm disso, a lngua configurava-se como uma instituio fundamental das identidades tribais, sendo, por isso, incompatvel com o modelo de cidado que era objetivo formar. Neste sentido, as lnguas indgenas foram reprimidas veementemente, para que todos (inclusive os religiosos estrangeiros) ficassem obrigados a comunicar-se somente em portugus. Os princpios basilares dessa pedagogia eram retirados da moralidade crist e os dispositivos da organizao dos estabelecimentos escolares fundavam-se em modelos tradicionais de colgios religiosos - remontados ao sculo XV, poca em que surgiram as instituies educacionais na forma de internatos (Aris, 1981). Desse modo, os educadores salesianos buscavam impingir no aluno ndio uma norma religiosa e social, um sentimento de submisso a essa norma e uma conseqente obedincia s designaes dos que representavam essa norma, ou seja, as autoridades eclesiais e polticas. E os castigos fsicos e morais faziam parte do dispositivo pedaggico daquele momento, como um mtodo para reafirmar na alma ndia o esprito da civilizao. O uso da dor fsica e moral era entendida como uma forma de tatuar na memria as regras que no podiam ser transgredidas. O bom cidado era aquele que obedecia s normas estabelecidas, enquadrando-se na ordem vigente. Como nessa ordem social, econmica e cultural vigente no cabia a atividade econmica tribal, por ser considerada empecilho ao progresso, a educao missionria voltou-se para a formao do trabalhador disciplinado e obediente, assalariado ou no, mas ligado e dependente do mercado econmico. Para isso estavam direcionados os contedos instrucionais da escola, o modo de organizao do trabalho nas misses e todas as relaes estabelecidas entre missionrios e ndios, de modo que se constitusse um imaginrio e uma prtica favorveis a essa ordem social, cultural e econmica.

  • 7

    A partir da dcada de 70 a histria da humanidade marcada por um desenvolvimento tecnolgico que comeou a transformar as foras produtivas e as relaes de produo, chamando a ateno para o futuro agravamento da excluso social. Passam a ocorrer presses por polticas favorveis aos excludos em todo o planeta - inclusive os grupos indgenas brasileiros. Por outro lado, representantes dos grupos Tukano (um dos dezenove povos da regio) foram ao Tribunal de Rotterdam, em novembro de 1980, denunciar os mtodos e as prticas salesianas em seus internatos, acusando-os de destruidores das culturas indgenas do Alto Rio Negro. Neste momento, a Igreja Catlica assume o discurso da descolonizao, da ajuda ao desenvolvimento dos povos do terceiro mundo, da evangelizao atravs dos elementos da cultura dos povos indgenas e do respeito s culturas, depois da efetivao de eventos catlicos importantes para o redirecionamento da prtica missionria - as reunies de Puebla e de Medelin. Por seu turno, o Estado j no precisa mais da mediao da Igreja e retira seu apoio ao empreendimento missionrio no Alto Rio Negro. Sem esse apoio, os missionrios tm que procurar seus prprios meios para sustentar os altos custos dos internatos e estes passam a ser inviveis. Embora houvesse alguns alunos no-ndios que pagavam mensalidades - em geral, filhos de comerciantes abastados4 - a maioria indgena no poderia pagar em moeda e, provavelmente, nem iria aceitar faz-lo. Ento, os internatos foram, definitivamente, terminados e transformados em escolas comuns. E assim, como h quatrocentos anos faziam os jesutas, os missionrios salesianos usaram os espaos educativos dos grandes internatos como arena, onde a fora dos novos mitos do seu imaginrio ocidental enfrenta os mitos da cultura indgena. claro que foi uma luta desigual, por todo o poder simblico de que os missionrios eram imbudos, devido ao capital simblico acumulado: as formas de saber, os mecanismos e instrumentais tecnolgicos, a prpria configurao corprea, a fora econmica e at mesmo blica, porque os salesianos, por exemplo, contavam com o apoio e a colaborao dos militares. Nesses espaos escolares confrontavam-se interesses, como referia o velho hohodene (um dos grupos baniwa) de Apu-cachoeira: o padre tinha interesse, os

    4 Na Misso de Barcelos, o livro de matrcula das Escolas So Jos registra mensalistas: 14 alunos, em 1927,

    pagavam 30$ no se deve aceitar mais, p. 51.

  • 8

    Hohodene tambm tinham interesse [na escola]. Os interesses, mostra Wagley, so construdos com critrios e valores culturais - o que constitui interesse determinado pelos valores de sua cultura particular (1988, p. 41). Mas no apenas o critrio cultural; tambm condies histricas e sociais constroem os interesses. Se o interesse dos missionrios salesianos era a conquista das almas para o grmio do cristianismo e o mundo cultural ocidental, para os indgenas os interesses estavam ligados ao processo de construo de suas identidades e de manuteno dos povos. No caso dos Baniwa, chefes, velhos, professores e lderes das associaes estavam convictos de que era preciso saber aquilo dos brancos, saber o que o branco sabe (Weigel, 2000). Em outras palavras, transitar nos mesmos campos simblicos que os brancos. E nisso a instituio trazida pelos missionrios - a escola - por seu carter em aberto, pde transformar-se num instrumento de consecuo.

    As escolas bilnges: espaos de conflito cultural e poltico

    No Alto Rio Negro, a conjuntura histrica atual outra, bem diferente daquela vivida no tempo dos internatos. Na correlao de foras estabelecida no momento, a hegemonia dos setores dominantes no precisa ser mediada pelo trabalho da Igreja. Desse modo, no estabelecimento de um consenso, as aes do sistema poltico partidrio e das instituies governamentais conseguem melhor responder aos interesses das elites regionais e do Estado, porque, resguardadas sob aparente neutralidade, superam as divises religiosas e culturais que tm marcado os indgenas em sua histria recente. Alm disso, esses espaos polticos e institucionais podem ser mais bem agenciados por representantes dessas foras sociais hegemnicas, do que os espaos da Igreja Catlica. Assim, embora ainda contem com o respeito e a preferncia das instituies do Estado, o prestgio dos missionrios catlicos no mais o mesmo. J no h recursos abundantes para a manuteno dos grandes colgios, nem os antigos benefcios dos tempos em que os militares e o governo brasileiro os tratavam como aliados diretos. Naquela poca, os avies militares faziam regularmente a perna5 para as misses, carregando mantimentos e transportando passageiros, de acordo com os interesses e solicitaes dos missionrios. Hoje, quando no mais fazem

    5 De So Gabriel, os avies militares deslocam-se para pontos fronteirios, onde esto situadas guarnies do

    Exrcito, indo e voltando no mesmo dia; cada um desses trajetos e popularmente chamado perna.

  • 9

    parte do roteiro de pernas dos avies militares, possvel visualizar os sinais desta situao de escassez tatuados na materialidade das Misses. das irms salesianas a responsabilidade pela administrao e organizao das escolas que, legalmente pertencem esfera do estado. As irms dizem sentirem-se sobrecarregadas com o trabalho de assistncia aos ndios, por no receberem maiores recursos pblicos das instituies que tm competncia para atuar na rea de educao indgena, como a prpria Prefeitura Municipal de So Gabriel. O que, num primeiro momento, pode ser uma transferncia de responsabilidades que os rgos pblicos fazem para os missionrios, no mbito das relaes sociais entre estes e os indgenas, o monoplio dessas atividades assistenciais significa mais poder, tanto poltico quanto simblico, convertido para os missionrios, nas lutas simblicas travadas nessas relaes branco versus ndio, a propsito de construir uma comunicao e uma representao do mundo social. claro que os missionrios, nas suas relaes com os indgenas, buscam legitimidade e adeso para suas formas de perceber a realidade, apropriar-se dela e avali-la; formas essas pautadas em categorias de percepo, cdigos e sistemas classificatrios, social e culturalmente diferenciados daqueles produzidos nas culturas indgenas. Produz-se assim, na escola, uma luta simblica (Bourdieu,1990) entre religiosos e ndios, na busca de construir-se um senso comum sobre a realidade social No mbito da escola, algumas medidas sinalizam uma postura de interesse e compreenso pelas culturas indgenas, por parte dos salesianos. Postura essa que tem se mostrado uma abordagem diametralmente oposta que se dava nos internatos de antigamente: as crianas so incentivadas a falar a lngua indgena que foi includa no currculo escolar (embora tenha sido na condio de lngua estrangeira, em substituio ao ingls ou francs, constante nos currculos das escolas urbanas), quando, no passado, eram terminantemente proibidas, por se valorizar unicamente a lngua portuguesa. Alm disso, h o esforo de trazer para a sala de aula os saberes sobre a natureza e a histria oral dos indgenas, as danas e os instrumentos tradicionais, demonstrando uma atitude que pode ser interpretada como legitimao e valorizao da cultura indgena. preciso ir buscar no processo histrico de constituio do discurso e das prticas da Igreja os elementos que deram nova

  • 10

    colorao e nova coerncia s aes missionrias no Alto Rio Negro e no resto do mundo catlico. No sculo XX, destaco o Conclio Vaticano II como o cerne irradiador das mudanas no pensamento e na postura da Igreja Catlica. Tais mudanas tm como horizonte a sua adaptao s novas situaes, s novas circunstncias histricas, decorrentes de transformaes na ordem econmica e social por que passou a humanidade, nos ltimos dois sculos. No discurso de abertura do Conclio6, em 11 de outubro de 1962, o Papa Joo XXIII proclama a nova face da Igreja, o novo revestimento para a substncia da antiga doutrina do depositum fidei:

    Sempre a Igreja se ops aos erros; muitas vezes at os condenou com a maior severidade. Nos nossos dias, porm, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remdio da misericrdia que o da severidade: julga satisfazer melhor s necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que condenando erros... A Igreja Catlica, levantando por meio deste Conclio o facho da vaidade religiosa, deseja mostrar-se me amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericrdia e bondosa com os filhos dela separados.

    Para construir essa nova orientao do discurso e das prticas catlicos, em que se pudesse substituir a condenao/severidade por pacincia/misericrdia, O Conclio Vaticano II promulgou dezesseis documentos (Vier, 1979). Entre eles, dois, promulgados em 7 de dezembro de 1965, dizem respeito diretamente ao trabalho missionrio e s questes enfrentadas pelos agentes, em sua tarefa de divulgao da f catlica. O primeiro a Constituio Pastoral Gaudium et Spes que apresenta o posicionamento e a orientao doutrinal da Igreja, quanto s situaes e problemas do mundo moderno, tomando como base a realidade das grandes sociedades industriais e o desenvolvimento da cultura ocidental. Questes ticas e morais atinentes s relaes entre a doutrina catlica, a cincia e a cultura humana so tratadas neste documento. O segundo, o Decreto Ad Gentes, formulado para direcionar as atividades missionrias, exprime o posicionamento da Igreja sobre a formao do missionrio e a diversidade cultural, definindo misses como

    6 Este trecho do discurso do Papa Joo XXIII reproduzido por Frei Boaventura Kloppenburg, na introduo

    que faz obra Compndio do Vaticano II, 1979, p. 8.

  • 11

    as iniciativas especiais dos arautos do Evangelho que, enviados pela Igreja, vo pelo mundo todo realizando o mnus de pregar o Evangelho... entre os povos... que ainda no crem em Cristo (Decreto Ad Gentes, Vier, 1979, p. 357).

    O que deve mudar substancialmente na atuao dos arautos do Evangelho, segundo a orientao do Conclio, consiste no modo de conceber e abordar a cultura do outro, exigindo-se do missionrio um preparo que inclui o domnio dos conhecimentos religiosos e doutrinrios, mas, tambm, os conhecimentos cientficos e tcnicos. A estima pela cultura do povo a ser evangelizado significa mudar o foco e a natureza do interesse em conhec-la: no mais pelo seu exotismo, como no passado, em que se procurava ressaltar o quanto estranhos eram hbitos, valores e instituies culturais; mas, pelo fato de que preciso conhecer a cultura do outro, enquanto manifestao das coisas com as quais o homem aperfeioa e desenvolve as variadas qualidades da alma e do corpo (Gaudium et Spes, Vier, 1979, p.205). Na dcada seguinte, a III Conferncia Geral do Episcopado Latino-Americano, realizado em Puebla/Mxico, explicitou, ampliou e consolidou os postulados emitidos no Conclio, configurando, com mais elementos, essa nova concepo sobre o homem e sobre o mundo, emergente dos quadros intelectuais da Igreja Catlica. O documento final dessa Conferncia registra o reconhecimento da pluralidade cultural da Amrica Latina e prope, para os agentes da difuso do catolicismo, a tarefa de evangelizao da cultura7. Compreender em que consiste esta evangelizao pode nos dar a extenso e o limite das mudanas ocorridas no discurso, nas prticas catequistas e educacionais dos missionrios salesianos. Comecemos pelo enunciado conceitual de cultura. O fundamental neste conceito consiste em tomar cultura como um

    conjunto de valores que animam [um povo] e dos desvalores que o enfraquecem [...]. O essencial da cultura constitudo pela atitude com

    7 As idias e as citaes nos pargrafos seguintes so extradas do documento final da Conferncia de Puebla,

    publicado pela CNBB (ver Libnio, A evangelizao no presente e no futuro da Amrica Latina, 1979, p. 174 - 178).

  • 12

    que um povo afirma ou nega sua vinculao religiosa com Deus, pelos valores ou desvalores religiosos. [...] a religio ou irreligio so inspiradoras de todas as restantes ordens culturais - famlia, economia, poltica, artstica, etc. - enquanto as libera para a ordem do transcendente ou as encerra em seu prprio contido imanente. [...] A cultura uma realidade histrica e social (grifos meus).

    Dois pontos destacam-se neste enunciado. O primeiro diz respeito incorporao de categorias trabalhadas pelas cincias sociais nos estudos sobre o homem, ao considerar a cultura como sendo histrica e social, ou seja, atribui-lhe o carter de produo coletiva, no tempo e no espao. O segundo, consiste no vis moral, introduzido no momento em que se avalia o que seja desvalor numa determinada cultura, ou quando se qualifica como irreligio certas manifestaes do sagrado. Este segundo ponto mostra-se como uma clara limitao das aes missionrias, no que concerne ao trato das culturas indgenas, por constituir um vetor de etnocentrismo e de preconceito. Naturalmente, para interpretar se determinado padro cultural desvalor ou irreligio, sero considerados parmetros formulados a partir da moral crist e da doutrina catlica. O modo como foi construda a concepo de evangelizao da cultura garante uma coerncia s aes missionrias e deixa os agentes mais vontade, diante das crticas imposio do catolicismo feita aos grupos indgenas. preciso lembrar que o desenvolvimento dos estudos antropolgicos, sociolgicos e histricos, no sculo XX, havia desmontado as bases tericas do evolucionismo que, no passado, respaldara, do ponto de vista social e moral, as motivaes missionrias de cristianizao. Neste sentido, a lgica do discurso missionrio segue os seguintes argumentos: a) a cultura, em seu processo histrico e na experincia com as outras culturas, vive momentos em que se defronta com novos valores ou desvalores, sendo por eles desafiada; b) h, ento, a necessidade de realizar novas snteses vitais; e c) pela evangelizao, a Igreja quer estar presente nos momentos em que as culturas constituem as novas snteses, deixando morrer as velhas formas culturais e cuidando das novas formas logo que nascem. Alm disso, recomenda a Igreja a seus agentes missionrios, que busquem descobrir na cultura (indgena, no caso) aqueles valores que se constituem nos

  • 13

    germes do Verbo, a fim de consolid-los e fortalec-los, ao mesmo tempo em que pela fora do Evangelho devem pretender alcanar e transformar os desvalores. Todavia, para que seus agentes levem a cabo a tarefa de evangelizar a cultura, preciso que a Igreja se esmere por adaptar-se, realizando o esforo de transvasamento da mensagem evanglica para a linguagem antropolgica e para os smbolos da cultura em que se insere (Libnio, 1979, p. 177). Esse trabalho j vem sendo feito pelos religiosos salesianos nas suas escolas do Alto Rio Negro, em que se esforam por construir uma linguagem simblica com signos das culturas indgenas.

    guisa de concluso

    Quando os missionrios salesianos implantaram a escola no Alto Rio Negro tinham bem delineado um projeto educacional de cristianizao e nacionalizao dos indgenas - o projeto do bom cristo e do bom cidado. No encadeamento do processo histrico, porm, o projeto salesiano foi se desfigurando e os ndios que tm assumido a luta pela escola foram impondo seus interesses e um outro direcionamento educao escolar. Procuram comprometer a escola com outros objetivos e finalidades, esboando um outro projeto poltico, voltado para a construo das identidades e as lutas pela sobrevivncia.

    Do ponto de vista de cada um dos plos dessa relao que fundamentou e processou as escolas indgenas - salesianos e ndios - um balano histrico, mesmo superficial, pode contabilizar xitos e fracassos para ambos os lados, evidenciando, com ntidos contornos, o carter ambivalente e ambguo da escola.

    Os salesianos, do ngulo de seu projeto educacional para os ndios, podem atribuir, como resultado positivo de seu trabalho pedaggico, o fato de haverem possibilitado a um grupo de crianas indgenas o domnio da lngua portuguesa, falada e escrita, e de habilidades mentais correlacionadas capacidade de elaborao de uma comunicao nesta lngua (produo e interpretao de diferentes tipos de mensagens). Tambm se atribuem como xito o fato de que conseguiram produzir, entre seus alunos, um grupo que se profissionalizou (funcionrios de instituies pblicas, comercirios), depois de mudarem-se para a cidade de So Gabriel da Cachoeira - um tipo de descidos modernos.

    Mas, dentro de sua tica, tambm registram fracassos, como o de no conseguirem alterar formas tradicionais de cultivo da terra, por mais que insistissem nisso junto aos alunos indgenas, incluindo agricultura no currculo escolar. Alm disso, no conseguiram introduzir nas comunidades indgenas, como os Baniwa, o uso da casinha (sanitrios sobre fossas negras). A recusa dos Baniwa, segundo os salesianos, deve-se ao fato de que naquele buraco, junta muito carapan (mosquito) e eles preferem continuar com seus

  • 14

    hbitos tradicionais de usar o mato. Sem dvida, so formas de resistncia relacionadas a um espao de intimidade dos indivduos, resguardado como smbolo de uma independncia no mbito privado, que os salesianos no conseguiram enxergar.

    Do ponto de vista dos ndios, a escolaridade tambm referida em termos de perdas e ganhos. Os ex-alunos, em sua maioria, lamentam o sofrimento a que foram submetidos pela dura disciplina do internato e pelos fortes castigos impingidos aos pequenos erros de criana. Alguns pajs lastimam que as crianas apreenderam a histria dos brancos e esto esquecendo a nossa histria, a histria indgena.

    Entretanto, os pais dos alunos ou de ex-alunos das escolinhas, os professores e aqueles que esto frente as associaes indgenas referem-se a capacidade de comunicao em lngua portuguesa como o grande saldo positivo deixado pelo trabalho das escolas, nestes anos de funcionamento.

    Certamente, se no incio a escola-internato foi uma imposio aos ndios, estes transformaram a escola em reivindicao. Dito em outras palavras, o significado daquela escola primeira, implantada pelos salesianos, era um, definido pelo projeto educacional que os missionrios queriam construir, fundado na formao do catlico e na preparao dos ndios para o mundo do trabalho da sociedade capitalista (em sua conformao regional).

    O significado da escola para os ndios outro, produzido pelo projeto poltico de vida melhor que est circunscrito: na busca de superao das dificuldades econmicas; na necessidade de criarem estratgias para viverem as influncias poltico-culturais dos diferentes brancos com quem se relacionam; e na necessidade de serem reconhecidos como homens de cultura diferente.

    De posse de elementos da cultura escolar, os indgenas, hoje, querem assumir a administrao e a organizao das escolas bilnges. As irms salesianas permitem que os professores indgenas participem ativamente de todas as definies pedaggicas, mas no abrem mo da direo nem do controle poltico das escolas.

    Referncias bibliogrficas

    ARIS, Phillipe. Histria social da criana e da famlia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.

    BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. So Paulo: Brasiliense, 1990.

    CURT NIMUENDAJU. Textos indigenistas. So Paulo: Loyola, 1982.

    KLOPPENBURG, Fr. Boaventura. Introduo geral aos documentos do Conclio. In: VIER, Fr. Frederico (coord.). Compndio Vaticano II: constituies decretos, declaraes. Petrpolis: Vozes, 1979, p. 5-36.

  • 15

    LIBNIO, Pe. J. B. (apres.). A evangelizao no presente e no futuro. III Conferncia Geral do Episcopado Latino-Americano. Concluses: Puebla, 7 ed. So Paulo: Loyola, 1979.

    MODESTI, Joo. Uma pedagogia perene. So Paulo: Editorial D. Bosco, 1975.

    SOARES dAZEVEDO. Pelo Rio Mar. Rio de Janeiro, Estabelecimento de Artes Grficas C. Mendes Jnior: 1933.

    VIER, Fr. Frederico (coord.). Compndio Vaticano II: constituies decretos, declaraes. Petrpolis: Vozes, 1979.

    WAGLEY, Charles. Uma comunidade Amaznica. So Paulo/ Belo Horizonte, EDUSP/Itatiaia, 1988.

    WEIGEL, Valria Augusta. Escolas de branco em maloka de ndio. Manaus: EDUA, 2000.

    WEIGEL, Valria e RAMOS, Ademir. O processo educativo dos internatos para os ndios do Alto Rio Negro. In: Bulletin of the International Commite on Urgent Anthopological and Ethnological Research, 32-33, 1991.