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II CONFERÊNCIA DO PROJETO DESAFIO “Fatores, processos facilitadores e obstáculos que contribuem a explicar os sucessos, os fracassos e a possibilidade de replicar as inovações” Discussão fundamentada nos Pacotes de Trabalho: 2.1 - Avaliação Político-Institucional do Modelo SISAR/CE; 3.1 - Estudo etnográfico de uma comunidade que possui o Sistema do SISAR/CE; 4.2 – Estudo de intervenção em abastecimento de água, pelo SISAR, em uma comunidade do Ceará. Sonaly Rezende e Eliano Souza

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II CONFERÊNCIA DO PROJETO DESAFIO

“Fatores, processos facilitadores e obstáculos que contribuem aexplicar os sucessos, os fracassos e a possibilidade de replicar asinovações”

Discussão fundamentada nos Pacotes de Trabalho:

2.1 - Avaliação Político-Institucional do Modelo SISAR/CE;

3.1 - Estudo etnográfico de uma comunidade que possui o Sistema do SISAR/CE;

4.2 – Estudo de intervenção em abastecimento de água, pelo SISAR, em uma comunidade do Ceará.

Sonaly Rezende e Eliano Souza

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Apresentação do SISAR/CE:

- O Sistema Integrado de Saneamento Rural do estado do Ceará (SISAR/CE) foi

criado na década de 1990 por meio do convênio entre o governo do estado do

Ceará, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE) e o Banco de

Reconstrução da Alemanha (KfW).

- Dados 2014: 768 localidades filiadas, com um total de 116.567 ligações para

atender 440.623 pessas (SISAR/CE, 2014 apud SALLES, 2015), divididas em 8 bacias

hidrográficas.

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Figura 01: Áreas de

atuação do SISAR/CE.

Fonte: Castro, Sebastião

Venâncio (2012: 87 apud

SISAR/CE – 2012)

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Objetivos do Pacote 2.1:

a) avaliar fatores positivos/negativos sobre a implementação/desenvolvimento domodelo de saneamento;

b) analisar o modelo de política e de governança do SISAR/CE;

c) refletir sobre as (im)possibilidades de redução das vulnerabilidades dascomunidades inseridas no Programa.

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Metodologia:

a) Revisão bibliográfica sobre temas ligados à temática central do estudo (políticasde saneamento, cooperação internacional, participação popular em políticaspúblicas);

b) Pesquisa documental para análise das dimensões técnicas e operacional, saúde,ecológico-ambiental, econômico-financeira, inovação sóciotécnica e político-institucional;

c) Realização de entrevistas semi-estruturadas com diversos sujeitos ligados aoSISAR/CE.

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Contexto Histórico de Implantação do SISAR/CE:

a) alterações das concepções sobre as políticas de saneamento na América Latina(PARLATORE, 2002; COSTA, 2003; JUSTO, 2004; REZENDE; HELLER, 2008)

b) mudanças das relações teuto-brasileira no desenvolvimento de cooperaçõesinternacionais (MIRANDA, 2004);

c) modificações nas forças políticas no interior do estado do Ceará (NOBRE, 2008);

d) alterações no modelo de saneamento básico no estado do Ceará (ARRETCHE,1998; NETO, 2011).

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Fatores/Processos Facilitadores do Sucesso:

a) Os aspectos da inovação no SISAR/CE:

o caratér inovador nas ações dos técnicos da CAGECE (atuação no saneamento rurale com a co-gestão);

inovação no âmbito do banco KfW (novas etapas de implantação-acompanhamento-avaliação de Programas);

inovação nas formas de participação social e gestão comunitária de Programas(“empoderamento” das comunidades atingidas pelos Programas de CooperaçãoInternacional - associativismo).

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Fatores/Processos Facilitadores do Sucesso:

b) os avanços alcançados:

1) ampliação da prestação dos serviços de saneamento e elevação do acesso a água tratada,

pelas comunidades rurais do Ceará;

2) funcionamento dos sistemas com menor índice de interrupção e adoção de medidas de

controle social e manutenção preventiva e corretiva nos sistemas;

3) avaliação sistemática da qualidade da água disponível para o uso das comunidades;

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Fatores/Processos Facilitadores do Sucesso:

4) redução das taxas de diarréia e mortalidade infantil nas comunidades atendidaspelo Programa;

5) elevação da quantidade de água para diversos usos nas comunidades;

6) reforço da característica redistributiva do SISAR, com a prática do “subsídiocruzado”.

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Elementos que podem ser obstáculos para o sucesso da inovação e suaspossibilidades de replicação:

a) manutenção do acesso, por parte da população, a outras fontes de água paraconsumo próprio: há a necessidade de analisar as causas e apontar soluções para aquestão;

b) desequilíbrio entre as preocupações com a provisão dos serviços e a qualidade daágua disponibilizada: deve ocorrer maior controle de índices bacteriológicos e físico-químicos;

c) as características de parte dos processos de trabalho no interior dos SISARs:(“Flexibilização/Precarização das relações de trabalho” – “Fábrica Flexível & Difusa”);

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Elementos que podem ser obstáculos para o sucesso da inovação e suaspossibilidades de replicação:

d) a desmobilização social após as conquistas alcançadas: é importante desenvolver estudosque apontem estratégias para se evitar esse processo (como avançar da co-gestão para aautogestão? Essa mudança é possível? Quais as implicações dessa mudança para o envolvidos?);

e) a dificuldade de universalização do saneamento básico, por meio da experiência: “Políticade Governo” versus “Política de Estado”;

g) aprofundar/ampliar estudos: há a necessidade de maiores reflexões sobre as especificidadesde cada SISAR, apontando causas de desempenhos modestos, alcance de autonomia financeira,eficiência, eficácia.

Estudos de caso atual e de intervençãoPremissas sobre o SISAR-CE

Modelo descentralizado pautado na gestão compartilhada e considerado exitoso;

A natureza da participação se assenta nas relações de poder que emergem do interesse dos

envolvidos de se consolidar modelos comunitários de serviços de abastecimento de água;

A participação comunitária contribui para a solução de baixo custo para o gerenciamento de

água e envolve uma associação e um operador local;

Aborda-se o Modelo SISAR como uma inovação sociotécnica composta de atores humanos e

de objetos técnicos (usuários, gestores e objetos técnicos introduzidos) na perspectiva de

um modelo de governança da água.

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Explicando os estudos de caso de referência

Análise do funcionamento do SISAR em duas comunidades com sistemas implantados em 2013, identificando-se:

As mudanças na percepção dos atores locais quanto às alterações verificadas;

As mudanças quanto à produção de ferramentas capazes de potencializar o planejamento de futuras inovações relacionadas aos SAA.

* Estudante de Pós Graduação Universidade de Toulouse Jean Jauré / UFMG: Colin Brown.

3.1 - Estudo Etnográfico *

• Análise dos impactos da gestão e operação do sistema de abastecimento de água (SAA) na redução da vulnerabilidade da população em uma localidade que não contava com SAA até janeiro de 2015 e em uma localidade abastecida por um SAA gerido pelo SISAR, desde 2013.

4.2 - Estudo de intervenção**

** Estudantes de Pós Graduação e Graduação da UFMG envolvidos: Bárbara Passos, Bernardo Cruz e Jéssica Silva.

Carroceiros fazendo o transporte de água em Cristais,

antes da implantação do SAAChafariz na comunidade de Cristais

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Implantação do SAA e construção de banheiros em Cristais

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SAA implantado Cristais

SAA do Complexo de Itapeim

Explicando os estudos de caso de referência

Durante sua estadia de seis semanas nas

comunidades pesquisadas o pesquisador realizou

entrevistas semiestruturadas com profissionais e

atores chaves (13); mini entrevistas

semiestruturadas e não estruturadas (em torno de

80); observação participante e relatos

etnográficos acerca das comunidades pesquisadas;

Também participou de uma reunião rotineira

anual do SISAR em uma comunidade e de um

seminário dos provedores SISAR e CENTRAL (15 e

16 de Maio, em Paracuru).

3.1 - Estudo Etnográfico

• Elaboração e aplicação de um questionário ao universo dos domicílios antes da intervenção (235 domicílios com 36 crianças, na localidade sem SAA, e 344 domicílios com 31 crianças, na localidade com o SAA, respectivamente) a fim de abordar aspectos relativos às dimensões técnico-infraestrutural e operacional, econômico-financeira e da saúde;

• Distribuição de calendário de intermitência e análise da qualidade das fontes de água;

• Coleta de dados antropométricos e de prevalência de parasitoses e diarreia e análise da qualidade de água nos reservatórios domiciliares.

4.2 - Estudo de intervenção

METODOLOGIA

Quesitos avaliados Residentes em domicílios (comunidade com SAA)

Residentes em domicílios (comunidade sem SAA)

Consumo superior a 50 L/hab.dia 31% 64%

Presença de E. coli 33% 64%

Tempo de coleta de água superior a 5 minutos

19% 32%

Comprometimento da renda em percentual superior a 3%

24% 40%

Crianças com episódios de diarreia nas 72h anteriores à aplicação do questionário

- 8,3%

Crianças com parasitoses intestinais 3,2% 13,5%

Consumo de água relacionado à higiene 73,0 L/hab.dia 2,75 L/hab.dia

Aspectos facilitadores que ajudam a explicar o sucesso da inovação

A motivação representada pela aquisição do SAA leva ao associativismo e cria perspectivas de empoderamento comunitário. O SISAR define responsabilidades para a associação e seus usuários.

• As redes de atores locais possuem contingências (infraestruturais, sociais, climáticas) que dificultam o entendimento da informação produzida pelos hidrômetros; a ocorrência de fraudes nos hidrômetros podem ser justificadas pela cultura local de acesso a fontes informais;

•A fatura mensal apresenta detalhamento que pressupõe o entendimento dos princípios do modelo SISAR e não favorece o aprendizado do usuário; faltam informações para predizer o preço da sua próxima fatura (tabela tarifária, manual de instrução do hidrômetro).

Aspectos que dificultam o sucesso da inovação

Hidrômetro padrão da CAGECE

Fatura mensal do SISAR

• A estratégia comunicacional com a comunidade é descrita pelo SISAR como reativa, geralmente as reações referem-se à adimplência e à qualidade da água.

• Histórias locais peculiares determinam atividades associativas e relações de poder dinâmicas, resultando em opiniões diversas sobre a aceitabilidade e credibilidade das associações.

• As associações têm dificuldade de atrair o interesse dos usuários e manter reuniões regulares com presença significativa de participantes.

• Na localidade com SAA, em 44% dos domicílios declarou-se a existência de intermitência em dias ou horas no mês e horas no dia;

• Em 16% domicílios estudados, em ambas as localidades, não há banheiros;

• Em 66% dos domicílios estudados, os banheiros estão presentes e são utilizados, mas existe um elevado percentual de domicílios (17%) nos quais os banheiros estão presentes, mas, pelo menos um de seus moradores defeca a céu aberto.

Aspectos que dificultam o sucesso da inovação

• Maior acompanhamento dos atores locais para o entendimento dos problemas que usuários,

operadores e associações estão enfrentando.

• Maiores esforços para o envolvimento dos usuários irão aumentar a probabilidade de que estes

se envolvam com a organização.

• Mais esforços comunicacionais, incluindo a distribuição de material informativo sobre o

funcionamento do hidrômetro, sobre o conteúdo da fatura mensal, sobre o papel da associação

e o funcionamento geral do SISAR.

• Ampliação do contato com as associações visando ao aumento da sua transparência,

monitoramento do cumprimento de suas responsabilidade e sua aceitabilidade pelos usuários

do sistema.

• Introdução de mecanismos de punição de maneira regular e justa a fim de se eliminar o

desrespeito às regras do modelo e de se valorizar a importância da responsabilidade de cada

usuário do sistema.

• Ampliação do uso de instalação intradomiciliar de água e difusão da sua importância.

• Discussão da construção do SAA na perspectiva de ganhos reais na saúde.

Aspectos que auxiliariam na replicação da inovação

Referências

ARRETCHE, Marta T. S. Política nacional de saneamento: a reestruturação das companhias estaduais. In: Infra-estrutura:

perspectivas de reorganização (IPEA). Brasília. 1999. p. 79-106.

CAGECE – Companhia de Águas e Esgoto do Ceará -.Laudo Técnico n. º 043/2007/CAGECE/GESEF - Análise da situação financeira dos

SISAR´S e verificação da tarifa média ideal para obtenção do equilíbrio econômico-financeiro sem a participação da CAGECE

Fortaleza, 12 de Julho de 2007. 7p.

CASTRO, S. V. de. Análise do Serviço Integrado de Saneamento Rural – SISAR, do Ceará, em sua dimensão político-institucional, com

ênfase no empoderamento das comunidades participantes. Belo Horizonte. 2012. 175 p. (Texto para qualificação do doutorado).

COSTA, A. M. Avaliação da Política Nacional de Saneamento, Brasil – 1996/2000. 2003. Tese (Doutorado em Ciências Políticas) –

Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Recife/PE. 2003. 248 f.

MIRANDA, C. L. L. de. Relações Internacionais e desenvolvimento local: uma análise da cooperação Técnica Brasil-Alemanha (1987-

2013). 2004. [TESE]. Brasília. Universidade de Brasilia. Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Relações Internaciona da

Universidade de Brasília. 2004. 211 f.

NETO. V. S. de A. Análise do SISAR como uma alternativa financeiramente sustentável para o saneamento rural no Ceará. 2011.

[Dissertação]. Curso de Pós-graduação em Economia – mestrado profissional – da Universidade Federal do Ceará. 2011. 73 f.

NOBRE, M. C. Q. Modernização do atraso: A hegemonia burguesa do CIC e as alianças eleitorais da “Era Tasso”. Tese de Doutorado

apresentada ao Programa de pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará, 2008.

REZENDE, S. C. e HELLER, L. O saneamento no Brasil: políticas e interfaces. Belo Horizonte. Editora da UFMG, 2008. 387 p. (2ª ed.

Rev e ampliada).

SALLES, P. V. Caracterização do acesso à água nas áreas rurais do Ceará e evidências do impacto da implantação do Sistema

Integrado de Saneamento Rural (SISAR/CE). Belo Horizonte. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental (DESA/UFMG). 2015.

63 P. [Monografia].