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II Domingo de Páscoa A comunidade cristã, sinal do Cristo Ressuscitado (27.04.2014). At 5,12-16; Sl 118; Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31. Caríssimos irmãos e irmãs, o domingo de hoje conclui o Oitavo de Páscoa, como um único dia feito pelo Senhor”, marcado pelo distintivo da Ressurreição () e da alegria () dos discípulos ao ver ( ) e encontrarem-se com Jesus Ressuscitado. Hoje somos convidados a contemplar o Cristo Ressuscitado e ser testemunhas da sua misericórdia infinita; deixar-nos habitar pela esperança vivacom a alegria indescritível e irradiante (cf 1Pd 1,3.8), que brota do encontro com Jesus. Ele nos ensina que a Divina Misericórdia é o núcleo central da mensagem evangélica, pois nos mostra o Rosto com o qual Deus se revelou na Antiga Aliança e plenamente em Jesus Cristo, Verbo Encarnado do Amor Criador e Redentor. Aliás, “fora da misericórdia de Deus não outra fonte de esperança para os seres humanos”. A esperança e a alegria pascal que Cristo Jesus Ressuscitado concede aos seus discípulos, nada os pode privar. Esta esperança e essa alegria irradiantes respiravam-se na primeira comunidade cristã em Jerusalém (cf. At 2,42-47), e tornou-se para nós, a imagem do mais puro ideal cristão, pois aí se vivia o essencial do Evangelho: o amor, a misericórdia, com simplicidade e fraternidade, em profunda koinonia com Deus (At 1,1-7) e com os irmãos (2,7-11; 3,10-24; Jo 13,24). As pessoas ao presenciar a novidade salvífica de Deus e a verdadeira fraternidade existentes aí, começam a se questionar e aderem a essa novidade de vida, nascida da experiência com o Cristo Ressuscitado. Experiência fecunda rica da misericórdia e da novidade divina é, igualmente contada na página evangélica (Jo 20,19-31). Nela narra-se que Jesus, após sua Ressurreição, visitou os discípulos, entrando pelas portas fechadas do Cenáculo, enquanto eles estavam reunidos “à tarde” (20,19a) no dia do Senhor”, para celebrar a “fração do pão”, porém “com medo”. Contudo, quando veem Jesus Ressuscitado no meio deles, se transformam. Recuperam a paz, seus medos desaparecem, enchem-se de uma alegria desconhecida”, experimentam o sopro de Jesus sobre eles e “abrem as portas”, porque se sentem enviados a viver a mesma missão que Ele havia recebido do Pai. De fato, a visita do Ressuscitado não se limita ao espaço do Cenáculo, mas vai além, para que todos possam receber o dom da paz e da vida com o “Sopro criador”. Jesus disse duas vezes aos discípulos: “A paz esteja convosco!” – , e acrescenta: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio” (20,19b.21b). Dito isto, soprou sobre eles recriando a ação de Deus no ato da Criação dizendo: “Recebei o Espírito Santo. A todos aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e a todos aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos(20,22b-23). É esta a missão da Igreja perenemente assistida pelo Paráclito: levar a todos o alegre anúncio, a jubilosa realidade do Amor misericordioso de Deus, “para que como ensina S. João acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, tenhais a vida em Seu nome(20,31). E oito dias após(20,26a), vemos como se manifesta a Misericórdia de Deus de modo particular, a relação e no diálogo que Jesus mantém com Tomé homem fechado ao mistério por causa da sua dúvida sobre a aparição do Senhor. Ora, como é possível que um discípulo chegue a duvidar? Essa é uma metáfora para o nosso tempo! Porém, Jesus convida ao discípulo hesitante a tocar os sinais de sua Paixão, convidando-o a superar a debilidade, o medo, a desconfiança e a incredulidade e, por conseguinte, nos convida a experimentar a misericórdia de Deus que Se entregou por amor ao ódio e à violência dos homens. Por isso Jesus o convida a aprofundar-se além de suas dúvidas: “Não sejas incrédulo, mas crente” (21,27).

II Domingo de Pascoa a 2

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Homilia

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  • II Domingo de Pscoa A comunidade crist, sinal do Cristo Ressuscitado (27.04.2014).

    At 5,12-16; Sl 118; Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31.

    Carssimos irmos e irms,

    o domingo de hoje conclui o Oitavo de Pscoa, como um nico dia feito pelo Senhor, marcado

    pelo distintivo da Ressurreio () e da alegria () dos discpulos ao ver () e encontrarem-se com Jesus Ressuscitado. Hoje somos convidados a contemplar o Cristo

    Ressuscitado e ser testemunhas da sua misericrdia infinita; deixar-nos habitar pela esperana

    viva com a alegria indescritvel e irradiante (cf 1Pd 1,3.8), que brota do encontro com Jesus. Ele

    nos ensina que a Divina Misericrdia o ncleo central da mensagem evanglica, pois nos

    mostra o Rosto com o qual Deus se revelou na Antiga Aliana e plenamente em Jesus Cristo,

    Verbo Encarnado do Amor Criador e Redentor. Alis, fora da misericrdia de Deus no h outra

    fonte de esperana para os seres humanos.

    A esperana e a alegria pascal que Cristo Jesus Ressuscitado concede aos seus discpulos, nada

    os pode privar. Esta esperana e essa alegria irradiantes respiravam-se na primeira comunidade

    crist em Jerusalm (cf. At 2,42-47), e tornou-se para ns, a imagem do mais puro ideal cristo,

    pois a se vivia o essencial do Evangelho: o amor, a misericrdia, com simplicidade e fraternidade,

    em profunda koinonia com Deus (At 1,1-7) e com os irmos (2,7-11; 3,10-24; Jo 13,24).

    As pessoas ao presenciar a novidade salvfica de Deus e a verdadeira fraternidade existentes a,

    comeam a se questionar e aderem a essa novidade de vida, nascida da experincia com o

    Cristo Ressuscitado.

    Experincia fecunda rica da misericrdia e da novidade divina , igualmente contada na pgina

    evanglica (Jo 20,19-31). Nela narra-se que Jesus, aps sua Ressurreio, visitou os discpulos,

    entrando pelas portas fechadas do Cenculo, enquanto eles estavam reunidos tarde (20,19a) no

    dia do Senhor, para celebrar a frao do po, porm com medo. Contudo, quando veem

    Jesus Ressuscitado no meio deles, se transformam. Recuperam a paz, seus medos desaparecem,

    enchem-se de uma alegria desconhecida, experimentam o sopro de Jesus sobre eles e abrem as

    portas, porque se sentem enviados a viver a mesma misso que Ele havia recebido do Pai.

    De fato, a visita do Ressuscitado no se limita ao espao do Cenculo, mas vai alm, para que

    todos possam receber o dom da paz e da vida com o Sopro criador. Jesus disse duas vezes aos

    discpulos: A paz esteja convosco! , e acrescenta: Assim como o Pai Me enviou, tambm Eu vos envio (20,19b.21b). Dito isto, soprou sobre eles recriando a ao de Deus no

    ato da Criao dizendo: Recebei o Esprito Santo. A todos aqueles a quem perdoardes os

    pecados, ser-lhes-o perdoados, e a todos aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-o retidos

    (20,22b-23).

    esta a misso da Igreja perenemente assistida pelo Parclito: levar a todos o alegre anncio, a

    jubilosa realidade do Amor misericordioso de Deus, para que como ensina S. Joo

    acrediteis que Jesus o Cristo, o Filho de Deus, e para que, tenhais a vida em Seu nome

    (20,31).

    E oito dias aps (20,26a), vemos como se manifesta a Misericrdia de Deus de modo

    particular, a relao e no dilogo que Jesus mantm com Tom homem fechado ao mistrio por

    causa da sua dvida sobre a apario do Senhor. Ora, como possvel que um discpulo chegue

    a duvidar? Essa uma metfora para o nosso tempo! Porm, Jesus convida ao discpulo hesitante a

    tocar os sinais de sua Paixo, convidando-o a superar a debilidade, o medo, a desconfiana e a

    incredulidade e, por conseguinte, nos convida a experimentar a misericrdia de Deus que Se

    entregou por amor ao dio e violncia dos homens. Por isso Jesus o convida a aprofundar-se

    alm de suas dvidas: No sejas incrdulo, mas crente (21,27).

  • O convite a Tom para que toque as feridas da Paixo sinais para a eternidade do amor de Deus

    pelo ser humano tambm um apelo a deixar o passado para trs, a acolher o perdo

    misericordioso de Deus, e olhar para o futuro, para a misso que o espera a partir daquele

    momento.

    Como diz S. Bernardo num Sermo de Domingo de Pscoa ns no veremos a Cristo olhando

    para trs, olhando para o passado e as traies e infidelidades, mas olhando para a frente, para o

    futuro, para as realidades futuras de que a cruz foi a chave de abertura, olhando para a misso de

    que somos responsveis pela experincia de Jesus ressuscitado entre ns.

    Jamais deveramos esquecer que nada, nem ningum pode nos trazer a fora, a alegria e a

    criatividade de que necessitamos para enfrentar uma crise sem precedentes, como pode faz-lo a

    presena de Cristo Ressuscitado.

    Quantos fechados ao mistrio experimentam dvidas para crer? Tom, o discpulo que resiste a

    crer de maneira ingnua vai ensinar-nos a ns que jamais vimos o rosto de Jesus, nem ouvimos

    suas palavras, nem sentimos seus abraos o percurso que devemos fazer para chegar f em

    Cristo ressuscitado.

    - O que teria experimentado Tom ao encontrar-se com Jesus Ressuscitado? O que transformou

    este discpulo, at ento duvidoso e vacilante? Que percurso interior o levou do ceticismo

    confiana? O surpreendente que, segundo o relato, Tom at renuncia a verificar a verdade da

    ressurreio tocando as feridas de Jesus. O que o abre f o prprio Jesus com seu convite.

    - Curiosamente Tom renuncia a fazer a comprovao. J no sente necessidade de provas. S

    experimenta a presena do Mestre que o ama, o atrai e o convida a confiar. Tom, o discpulo

    que fez um percurso mais longo e trabalhoso que ningum at encontrar-se com Jesus, chega

    mais longe que ningum na profundidade de sua f: Meu Senhor e meu Deus!

    (20,28b; cf. Sl 35,23; Ap 4,11). (21,28b). Ningum fez uma confisso como esta a Jesus.

    Hoje, temos que abrir as portas, o medo pode paralisar a evangelizao e bloquear nossas

    melhores energias. Abrir as portas da nossa incredulidade e como Tom deixar-nos ser

    interpelados pelo convite amoroso de Jesus: No sejas incrdulo, mas crente (20,27b). O medo

    nos leva a rejeitar e condenar. Com medo no possvel amar o mundo. Mas, se no o amamos,

    no o olhamos como Deus o olha. E, se no o olhamos com os olhos de Deus, como

    comunicaremos a Boa Notcia?

    - Se vivemos com as portas fechadas, quem deixar o redil para buscar as ovelhas perdidas? Quem

    se atrever a tocar algum leproso excludo? Quem se sentar mesa com pecadores ou prostitutas?

    Quem se aproximar dos esquecidos pela religio? Os que querem buscar o Deus de Jesus nos

    encontraro com as portas fechadas.

    - Deixemos entrar o Ressuscitado atravs de tantas barreiras que levantamos para defender-nos do

    medo. Que Jesus ocupe o centro de nossas igrejas, grupos e comunidades. Que s Ele seja fonte

    de vida, de alegria e de paz. Quem ningum imponha um modo diferente do seu. Mais do que

    nunca, precisamos abrir-nos ao sopro do Ressuscitado para acolher seu Esprito Santo.

    - No devemos assustar-nos ao sentir que brotam em ns dvidas e interrogaes. As dvidas

    vividas de maneira sadia nos resgatam de uma f superficial que se contenta com repetir

    frmulas, sem crescer em confiana e amor. As dvidas nos estimulam a ir at o final em nossa

    confiana no Mistrio de Deus encarnado em Jesus.

    Estimados, a esta novidade divina e da Histria humana devemos acolher e deixar transparecer

    na Igreja, comunidade de homens e mulheres pessoas renovados pelo Batismo e pelo amor

    misericordioso de Deus. Reunidos no dia do Senhor (Ap 1,10a), em seu Nome, peamos a Ele

    que sua Igreja seja comunidade de portas abertas, responsvel pela criao e de um mundo novo,

  • recapitulados em Cristo, e que Ele nos ajude a compreender sua Palavra e viver sob o dom de

    seu Esprito para cooperarmos na Sua misso...

    Irms e irmos: semelhana da primeira comunidade crist, que orava num s corao e numa s

    alma, oremos ns tambm pela Igreja e pelo mundo inteiro, dizendo (ou cantando), numa s voz:

    - Para que todos os cristos alcancem a graa de acreditar sem terem visto e se encontrem no seu

    ntimo com Jesus, oremos ao Senhor.

    Senhor, nosso Deus e nosso Pai, abri o corao dos vossos filhos ao grande dom de Jesus

    ressuscitado e dai-nos a graa de O encontrar, cada domingo, na Palavra proclamada e na fraco

    do Po. Ele que Deus convosco na unidade do Esprito Santo.