16
1 II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial Convites à Leitura: uma análise dos elementos intermediários que compõem as obras de Antonio Alvarez Parada Larissa Frossard 1 Docente da FeMASS - Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos Resumo Este estudo pretende fazer uma análise dos elementos intermediários que compõem as obras de um educador que colaborou para a construção da memória de Macaé: Antonio Alvarez Parada. Conhecido como Professor Tonito, lecionou química, física, espanhol e matemática no Ginásio Macaense, no Colégio Estadual Luiz Reid e no SENAI, onde também foi diretor. Membro Fundador da Academia Macaense de Letras, teve um papel importante no que se refere às pesquisas históricas. Publicou as seguintes obras: Coisas e Gente da Velha Macaé (1958), ABC de Macaé (1963), Histórias da Velha Macaé (1980), Imagem da Macaé Antiga (1982) e Meu nome, crianças, é Macaé (1983). Foram quatro os livros póstumos, Histórias Curtas e Antigas de Macaé (1995), em dois volumes, Cartas da Província (2006) e Antonio Alvarez Parada: o fio de uma história (2007). Para tanto, busca-se examinar, com base nos estudos de Pierre Nora, Roger Chartier, Monique de Le Moing e Maria Teresa Santos Cunha, as capas e os textos que entremeiam suas obras e entender as relações entre quem ilustra, quem apresenta e a quem se dedica cada livro publicado. Este trabalho pretende contribuir para os estudos sobre o livro e a leitura na medida em que traz análises das cerimônias de apropriação das obras de um escritor. Palavras-chave: Livro; memória; história; Macaé. 1 Mestre em Educação (UERJ). Especialista em Docência do Ensino Superior (UFRJ) e Psicomotriciadade Sistêmica (CEC). Graduada em Pedagogia (FAFIMA). Coordenadora Pedagógica e Acadêmica e Professora de Metodologia de Pesquisa nos cursos de Engenharia de Produção, de Administração e de Sistema de Informação da FeMASS – Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos, faculdade municipal mantida pela FUNEMAC – Fundação Educacional de Macaé; e de Metodologia de Pesquisa e Pesquisa em Educação no curso Normal Superior da Universidade Cândido Mendes. Atuou como pesquisadora do Centro de Memória Antonio Alvarez Parada onde organizou três publicações relacionadas à memória e a história de Macaé. Atualmente, além das atribuições já citadas, é coordenadora do projeto de extensão da FeMAss com o seguinte título: APROXIMANDO UNIVERSIDADE E ESCOLAS: roteiros de questionários para as Políticas Públicas em Educação Básica. [email protected] .

II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

1

II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial

Convites à Leitura: uma análise dos elementos intermediários que compõem as obras de Antonio Alvarez Parada Larissa Frossard1 Docente da FeMASS - Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos Resumo Este estudo pretende fazer uma análise dos elementos intermediários que compõem as obras de um educador que colaborou para a construção da memória de Macaé: Antonio Alvarez Parada. Conhecido como Professor Tonito, lecionou química, física, espanhol e matemática no Ginásio Macaense, no Colégio Estadual Luiz Reid e no SENAI, onde também foi diretor. Membro Fundador da Academia Macaense de Letras, teve um papel importante no que se refere às pesquisas históricas. Publicou as seguintes obras: Coisas e Gente da Velha Macaé (1958), ABC de Macaé (1963), Histórias da Velha Macaé (1980), Imagem da Macaé Antiga (1982) e Meu nome, crianças, é Macaé (1983). Foram quatro os livros póstumos, Histórias Curtas e Antigas de Macaé (1995), em dois volumes, Cartas da Província (2006) e Antonio Alvarez Parada: o fio de uma história (2007). Para tanto, busca-se examinar, com base nos estudos de Pierre Nora, Roger Chartier, Monique de Le Moing e Maria Teresa Santos Cunha, as capas e os textos que entremeiam suas obras e entender as relações entre quem ilustra, quem apresenta e a quem se dedica cada livro publicado. Este trabalho pretende contribuir para os estudos sobre o livro e a leitura na medida em que traz análises das cerimônias de apropriação das obras de um escritor. Palavras-chave:

Livro; memória; história; Macaé.

1 Mestre em Educação (UERJ). Especialista em Docência do Ensino Superior (UFRJ) e Psicomotriciadade Sistêmica (CEC). Graduada em Pedagogia (FAFIMA). Coordenadora Pedagógica e Acadêmica e Professora de Metodologia de Pesquisa nos cursos de Engenharia de Produção, de Administração e de Sistema de Informação da FeMASS – Faculdade Professor Miguel Ângelo da Silva Santos, faculdade municipal mantida pela FUNEMAC – Fundação Educacional de Macaé; e de Metodologia de Pesquisa e Pesquisa em Educação no curso Normal Superior da Universidade Cândido Mendes. Atuou como pesquisadora do Centro de Memória Antonio Alvarez Parada onde organizou três publicações relacionadas à memória e a história de Macaé. Atualmente, além das atribuições já citadas, é coordenadora do projeto de extensão da FeMAss com o seguinte título: APROXIMANDO UNIVERSIDADE E ESCOLAS: roteiros de questionários para as Políticas Públicas em Educação Básica. [email protected] .

Page 2: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

2

Tonito: um autor localista

Antonio Alvarez Parada era conhecido carinhosamente por todos como professor

Tonito. Macaense, nasceu em 27 de dezembro de 1925. Recebeu a medalha do Mérito

Municipal de Macaé e título de Benemérito do Estado do Rio de Janeiro. Primogênito de

imigrantes espanhóis que se instalaram na cidade através de atividade comercial e se

integraram à sociedade macaense, teve um papel importante no que se refere às pesquisas

históricas de Macaé. É pois, na atividade de pesquisador que tem início a publicação da

maior parte de suas obras, já que apenas um de seus seis livros publicados em vida não faz

referência à cidade.2 Que relações podem ser estabelecidas entre as capas, os títulos e os

textos de suas obras? Quem ilustra e apresenta seus livros? Que relações têm com o

escritor? Quem são os colaboradores e suas fontes de pesquisas? Responder a estas

questões contribui para os estudos sobre o livro e a leitura na medida em que traz análises

de elementos que compõem as obras de um escritor.

Tonito tem sido considerado por pesquisadores como um dos mais importantes

escritores da cidade: “No campo da literatura, o município de Macaé tem produzido

escritores de renome – Godofredo Tinoco, Antônio Parada, Alberto Figueiredo Pimentel,

entre outros (KNAUSS & GABRIEL, 2002, p.117)”. A dissertação3 referente à trajetória

de Antonio Alvarez Parada traz em suas considerações finais a seguinte afirmação:

Ao refletir sobre sua trajetória, a partir do arquivo, pude perceber que, por traz de uma humildade muitas vezes anunciada, na escrita e no discurso, estava um homem que queria ser reconhecido, que não queria ser esquecido, que pretendia deixar marcado o seu nome e, como herança aos macaenses, o seu infindável gosto pela pesquisa sobre a sua terra. Tonito produziu e guardou os registros que servissem de suporte para revelar sua maneira de constituir-se, que por mim foi desenhada como um mosaico, apresentando as dimensões de sua trajetória: o professor, o escritor, o historiador. Esboçou, em meio aos papéis acumulados, um projeto autobiográfico, permitindo que, a partir destes vestígios, sua biografia pudesse ser escrita, na medida em que eles possibilitam interpretar seus espaços de formação, de atuação e, conseqüentemente suas redes de sociabilidade. Deixou marcada a sua erudição. Ao mesmo tempo em que compôs uma memória de si, também o fez em relação à Macaé. Ao escrever artigos para jornais e revistas, publicar livros, fazer conferências, organizar cursos, produziu obras que hoje são utilizadas como fonte bibliográfica para diversos trabalhos desenvolvidos sobre questões relativas à sua cidade e região (FROSSARD, 2006, p.140-141).

2 O livro Pesquisa de Anions e Cátions (1968), editado pela Livraria Nobel S/A – SP, foi organizado por Antonio Alvarez Parada para que tivesse um material que atendesse as suas necessidades enquanto professor e que, em contrapartida tivesse relação com o que considerava importantes para o currículo de seus alunos. 3 FROSSARD, L. MOSAICO DE UMA VIDA: estratégias de preservação da memória no arquivo pessoal de Antonio Alvarez Parada. Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ. Dissertação de Mestrado, 2006.

Page 3: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

3

O livro pode ser considerado, de acordo com Pierre Nora (1977), como um lugar

de memória. Assim são compreendidos os livros de Antonio Alvarez Parada, pois

desempenham a função explícita de apresentar aos leitores uma dada noção do que foi a

história de Macaé, representando a cultura, a geografia, a economia, enfim a história da

cidade, contribuindo no espaço intelectual para a produção de uma memória local.

Em discurso proferido na Assembléia Legislativa, em decorrência da homenagem

de Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, em 25 de março de 1985 e

posteriormente publicado no jornal O Debate, Tonito fala sobre os vieses que nortearam

sua trajetória pessoal e profissional:

O primeiro amor é a sala de aula. Onde ganhei e ganho a vida. Amando como somente pode ser amado quem nos ama ainda mais. (...) O segundo amor é Macaé. Amor sem freios, sem medidas. Amor de admiração. Amor de filho. Amor de gratidão (...) O terceiro amor, os que me conhecem sabem quem é. Amor primeiro e único. Amor, amor. Não necessito citá-lo. Ele está em mim e isso me basta.

Fazendo uma análise da trilogia amorosa de Tonito encontramos em primeiro lugar

a sala de aula, espaço destinado a sua principal atividade profissional: professor, iniciada

em 1950 quando descobriu, ao aceitar um convite do professor Miguel Ângelo, do antigo

Ginásio Macaense, para lecionar química e física, que esta seria a carreira que desejaria

seguir. Macaé segue a ordem sendo o motor que fará com que desenvolva outras dimensões

de sua trajetória: de pesquisador, escritor, jornalista e historiador. A dedicação à escrita e,

conseqüentemente a produção de suas obras é resultado desta admiração pela cidade. Maria

Bernadete Almeida Castro Alvarez, a Detinha, completa a trilogia, como amor primeiro e

único, sendo sua companheira durante, aproximadamente, 40 anos de convivência. Hoje ela

é a guardiã de seu arquivo pessoal: o seu escritório.

Antonio Castillo Gómez (2001) considera o livro enquanto uma produção cultural,

por aquilo que pretende enunciar: “Cada producción cultural, um cuadro o um libro,

enuncia también una determinada imagem de aquello que representa, la cual se constituye

em la medida que existe um sujeto receptor de la misma, ya sea el espectador de um cuadro

o el lector de um texto cualquiera” (p.113). Os significados e atribuições de sentidos dados

por Antonio Alvarez Parada em suas obras resultam num processo de conhecimento tecido

nas esferas cotidianas, a partir das pesquisas e dos contatos com as pessoas que

participavam de sua atividade enquanto escritor e jornalista, e pressupõem um poder que

Page 4: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

4

exercita na medida em que trazem em seu bojo, os discursos que orientam as significações

dos textos produzidos e transformados em livros.

Capa: primeiro convite à leitura

A capa de um livro sugere um sentido prévio à leitura de um texto. Em sua

maioria, é composta pelo título e nome do autor, podendo ter outros elementos, como

subtítulos, ilustrações, nome da editora, data de publicação, edição, entre outros. Maria

Teresa Santos Cunha (1999), em estudo sobre a leitura de formação, analisou as linguagens

expressas pelas capas, títulos e disposições tipográficas, apresentando questões importantes

para serem levantadas na análise do objeto livro:

As imagens que estampam as capas dos livros podem ser decifradas como um conjunto de signos, como um suporte para representações ideológicas; a linguagem dos títulos aguça a imaginação e faz pensar em seu conteúdo, e a linguagem das disposições tipográficas pode dar uma organização mais ou menos clara à leitura. Isso nunca escapa aos leitores... (p. 51).

A partir de sua pesquisa e da entrevista informal realizada com o editor/livreiro, a

autora concluiu que as capas e os títulos tinham o objetivo de seduzir o público, ressaltando

uma correspondência com a obra publicada. O texto só pode ser lido através de seu suporte

e sua compreensão estará influenciada pelas formas escolhidas para atingir o leitor. A

imagem que tem o livro desencadeará os sentimentos de recusa ou de atração que ele

exerce desde o primeiro contato, ou seja, as capas e conseqüentemente seus títulos reforçam

a significação do texto. Dos nove livros analisados neste estudo, três têm as capas simples,

trazendo como informações apenas o título e o nome do autor:

Capa – Histórias da Capa – Histórias Curtas e Antigas Capa – Histórias Curtas e Antigas Velha Macaé (1980) de Macaé (1995) – Volume I de Macaé (1995) – Volume II

Page 5: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

5

As outras seis obras têm capas que não seguem ao mesmo padrão, mas possuem

respectivamente relação direta com o conteúdo temático dos livros.

Coisas e Gente da Velha Macaé4 (1958) tem como autor de capa João Paulo

Cantuária que utilizou as cores preta e vermelha, no fundo branco, para brincar com as

letras, traçar retas e desenhar em torno do título. As imagens são diversas e representam

personagens como escravos e heróis da história, jornais, igreja, entre outros. O próprio

desenho do jornal, com o nome O Século nos remete a uma das fontes que o autor utilizou.

Além deste, outros jornais dos séculos XVIII e XIX são referenciados, como, O

Autonomista, O Constitucional, O Telegrapho, O Monitor Macaense, além de obras de

referência como de Antão Vasconcellos, Jean de Léry e Alberto Lamego, entre outras.

As crônicas têm temas diversos que falam da cultura local, como a Lenda de Sant’

Ana, o Teatro Santa Isabel, O carnaval de 1866, Anúncios Curiosos em Velhos Jornais,

Inauguração do Telégrafo, Os Leilões em Macaé, etc; de personagens que ultrapassam a

história da cidade, como Jean de Léry, Gondomar, Saint-Hilaire, D. Pedro II, Princesa

Isabel, Conde D’ Eu, entre outros, e de gente da cidade, como Bellegarde, Motta Coqueiro,

Chico do Padre, Agenor Caldas, Dona Irene e tantos outros personagens da velha Macaé.

Capa – Coisas e Gente Capa – ABC de Macaé (1963) Bandeira de Macaé da Velha Macaé (1958)

ABC de Macaé5 (1963), guia informativo e turístico, editado cinco anos após o

primeiro livro, foi lançado em comemoração ao sesquicentenário da cidade. Podemos supor

4 PARADA, Antonio Alvarez. Coisas e Gente da Velha Macaé: crônicas históricas. Edição do autor. São Paulo: EDIGRAF, 1958. (esgotado). 5 PARADA, Antonio Alvarez. A B C de Macaé: guia informativo e turístico. Edição do autor. Niterói: Gráfica Falcão Ltda, 1963. (esgotado).

Page 6: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

6

que, por esse motivo, o autor da capa, Denildo Ribeiro de Siqueira, companheiro da rede

ferroviária, utilizou as cores e os símbolos da bandeira da cidade para desenhar a capa. No

centro, vê-se a palmeira macaba apoiada nos desenhos do rio e do mar.

Imagem da Macaé Antiga6 (1982), além do título, tem uma foto da cidade,

convidando o leitor a admirar e conhecer outras imagens da Macaé antiga. A fotografia da

capa traz a principal rua da cidade em 1908, com o Bonde da Cia de Ferro Carril, na

Avenida Rui Barbosa. No interior do livro existem mais vinte e cinco fotografias, todas

acompanhadas de um texto explicativo: A Alfândega, O Cais do Rio, A Praça Washington

Luis, O Solar Monte Elíseo, O Teatro Santa Isabel, O Carnaval de Rua, entre outros. Na

própria capa está exposto que o texto e o arquivo fotográfico pertencem ao autor.

Capa – Imagem da Macaé Antiga (1982) Capa – Meu nome, crianças é Macaé (1983)

Meu nome, crianças, é Macaé7 (1983), última obra publicada em vida, destinada às

crianças, como já indica o próprio título, não traz informações explícitas sobre quem

desenhou a capa. Porém, no canto inferior direito da capa, verticalmente, pode-se ler uma

assinatura que tudo indica ser de José Cláudio. É uma capa bastante colorida onde no

centro, um desenho que sugere a imagem de Macaé associada aos elementos naturais,

rodeado por imagens que caracterizam momentos distintos da história. A representação,

através de desenhos, de figuras diversas em volta de uma natureza paradisíaca parece estar

ligada a uma necessidade de apresentar muitas das mudanças importantes pelas quais a

cidade passou. O porta-retrato no centro, com a imagem colorida sobreposta a um fundo

6 PARADA, Antonio Alvarez. Imagem da Macaé Antiga: texto e arquivo fotográfico. Edição do autor. Rio de Janeiro: Cia Brasileira de Artes Gráficas, 1982. 7 PARADA, Antonio Alvarez. Meu nome, crianças, é Macaé. Apoio Cultural da Petróleo Brasileiro S. A. PETROBRAS, 1983.

Page 7: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

7

acinzentado, reforça a intenção de apresentar a cidade de forma nostálgica. Em volta dele,

imagens tricolores que trazem a história (bustos, trem a vapor, caravela, padre, carta, etc).

De certa forma, supomos que os títulos foram escolhidos em função do que o autor

gostaria de evidenciar, sintetizando, em palavras simples, a necessidade de exprimir, de

maneira clara e objetiva, os conteúdos temáticos. Curioso que, de certa forma ele traça,

através dos títulos, a perspectiva de que não existe uma história única, existem histórias.

Cartas de Província8 (2006) e TONITO – Antonio Alvarez Parada: o fio de uma

história9 (2007) foram publicações resultantes de um projeto10 desenvolvido pela Prefeitura

de Macaé. A primeira já se encontrava pronta para publicação, encadernada, com prefácio e

posfácio escrito pelo próprio Tonito. O lançamento da obra comemorou os oitenta anos do

professor Antonio Alvarez Parada, idade que teria em dezembro de 2005, se estivesse vivo.

A obra seguinte foi resultado do interesse de dois pesquisadores em disponibilizar artigos

escritos por Tonito que lançam pistas sobre participações diversas do autor, em épocas

distintas que caracterizam aspectos relevantes da escrita de Antonio Alvarez Parada. Um

deles era, segundo os autores, a de escrever para comemorar:

Para Tonito, comemorar era uma tarefa muito importante. Segundo a historiadora Margarida de Souza Neves, comemorar é sempre construir uma memória comum, vale dizer, uma identidade coletiva e um projeto de futuro, ou seja, por meio das comemorações é possível identificar os acontecimentos que marcam uma época e, seus registros permitem que não sejam relegados ao esquecimento (FROSSARD & GAVINHO, 2007, p. 17).

Cartas de Província (2006) tem capa de autoria de Gianini Coelho, onde o mesmo

utiliza uma imagem da Imbetiba, na década de 1970, do fotógrafo Luiz Bispo. Esta é a

região onde foi instalada a Petrobrás. O livro é composto por sessenta e sete crônicas,

assinadas por Alvaro Antonio, pseudônimo escolhido pelo autor, para assinar as missivas e,

de certa forma, estabelecer um maior grau de intimidade com o leitor. O destinatário era um

hipotético João – macaense ausente, que receberia notícias de sua cidade, sempre às sextas-

feiras. Tonito procurava dar conta do cotidiano de sua cidade assim como socializar os

acontecimentos que rondavam a sua Macaé da década de 1970. O selo e o carimbo do

8 PARADA, Antonio Alvarez. Cartas da Província. Macaé: Editora Macaé Offshore, 2006. 9 FROSSARD, Larissa; GAVINHO, Vilcson (orgs). TONITO – Antonio Alvarez Parada: o fio de uma história. Macaé: Prefeitura de Macaé, 2007. 10 Em 2005, fui cedida da Secretaria de Educação para a Secretaria de Acervo e Patrimônio Histórico de Macaé, onde apresentei e desenvolvi o projeto Antonio Alvarez Parada: entre as memórias e as histórias, que contemplava a publicação de novas obras do autor e a reedição das anteriores.

Page 8: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

8

correio presentes na capa reafirmam a data da última crônica epistolar. A máquina de

escrever sinaliza o instrumento mais utilizado por Tonito para produzir seus textos.

A capa de TONITO – Antonio Alvarez Parada: o fio de uma história (2007) é do

mesmo autor da anterior e, desta vez ele utiliza uma aquarela produzida pelo próprio

Tonito, em 1956, para ilustrá-la. Observando este trabalho artístico, uma pesquisadora que

integra a equipe do Centro de Memória Antonio Alvarez Parada, Jane Marinho11, chamou a

atenção para o fato de que, na época da revitalização da Praça Veríssimo de Mello, quando

o Coreto foi um dos patrimônios edificados que foram restaurados, a equipe que pesquisava

o projeto original desconhecia alguns aspectos da arquitetura do mesmo, como os

lambrequins e ponteiras, retratadas nesta aquarela pintada por Tonito.

Capa - Cartas da Província (2006) Capa – TONITO - Antonio Alvarez Parada: o fio de uma história (2007)

A intenção dos organizadores da obra foi mostrar que “Antonio Alvarez Parada

não se limitou a escrever sobre a cidade e seu passado, valendo-se também de suas

habilidades para pintura, faceta pouco conhecida pelos macaenses” (FROSSARD &

GAVINHO, 2007, p.19). Podemos concluir que todas as capas dos livros póstumos

cumpriram a tarefa de convidar para a leitura, já que se preocuparam em enaltecer o nome

do autor e, por meio dos títulos, as temáticas relativas à Macaé.

Apresentando os livros aos leitores

Vários são os textos que têm a função de apresentar o livro aos leitores: os

prefácios; as orelhas, contracapas ou badanas; frontispícios ou introduções; prólogos; 11 Entrevista realizada com Jane Marinho em 14 de junho de 2006.

Page 9: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

9

posfácios; notas, apêndices ou anexos; informações bibliográficas ou quaisquer outros

sinais que mantenham relação com o livro. Suas funções são múltiplas e podem influenciar

a recepção do texto, ou seja, são mediadores entre o leitor e o livro. Chartier (apud

CUNHA, 1999, p. 57) afirma que “qualquer compreensão de um texto, não importa de que

tipo, depende das formas com as quais se apresenta à leitura”. O que nos interessa, neste

sentido, é entender como as obras de Antonio Alvarez Parada são apresentadas aos leitores.

Monique Le Moing (1996) ao descobrir, na Casa de Rui Barbosa, os arquivos do

memorialista Pedro Nava, interessou-se por seus escritos aliados ao mistério que envolvia a

sua morte. Esses fatos motivaram a defesa de sua tese sobre as memórias deste importante

literário brasileiro, levando a reconstruir, a partir dos seus escritos, seu percurso pessoal. Na

segunda parte do livro, originado deste estudo, a pesquisadora analisa sua escrita traçando o

seu caminho, seu modo de escrita, priorizando a criação de sua obra, interessando-se ao

mesmo tempo pelo fundo e pela forma do processo de escrever. Assim, constrói uma

viagem através das obras de Pedro Nava trabalhando sobre a citação, os adágios, os

exergos, as epígrafes, a perigrafia, ou seja, as notas, os títulos, as ilustrações (p. 103),

dimensões interessantes que norteiam a análise destes elementos nas obras de Tonito.

Em apenas dois livros Antonio Alvarez Parada faz uso de epígrafes nas folhas

anteriores ao texto do livro propriamente dito: “Todos cantam sua terra, também quero

cantar a minha”12 (1958, p. 9) e “ Esquecer a própria história é perder a consciência de si

mesmo”13 (1980, p. 7). Ambas nos ajudam a compreender duas características marcantes

deste escritor: o bairrismo e sua abordagem histórica, respectivamente.

O bairrismo refere-se à defesa dos interesses de sua terra e sua concepção histórica

está ligada ao estudo dos objetos do ponto de vista da origem e de desenvolvimento,

vinculando-os às condições concretas que o acompanham. Tonito amava a sua terra,

defendia e fazia questão de enaltecer as características interessantes e marcantes de Macaé.

Todas as obras têm textos de apresentação, que consideramos prefácios. Tonito

não utiliza a palavra prefácio, mas intitula os textos introdutórios14. Os que foram

publicados por ele são de sua autoria: Uma explicação, Duas palavras, Ponto Parágrafo,

Palavras e Esclarecendo. Apenas um entre estes cinco livros tem um texto com o título

12 Sem indicação de autor. 13 Oliveira Rocha. 14 Os textos estão respectivamente em: (1958, p. 9), (1963, p. 5), (1980, p. 9), (1982, p. 9-10) e (1983, p. 5 ).

Page 10: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

10

Prefácio e é escrito por Herivelto Ferreira do Couto: Histórias da Velha Macaé15 (1980).

Nos livros póstumos de 199516 temos quatro textos introdutórios17: Mensagem da

Petrobrás – Em Respeito À Memória; Valorizando o merecimento, por Gilson Corrêa; Nota

explicativa, escrita pelos revisores; e Histórias Curtas e Antigas de Macaé – Apresentação,

escrita pelo ex-aluno, Nelson Mussi Rocha. Em Cartas da Provícia (2007), Escritos

Macaenses: à guisa de apresentação, escrito por Larissa Frossard e o prefácio feito por

Tonito antes de falecer, intitulado de Como a coisa começou. Em TONITO – Antonio

Alvarez Parada: o fio de uma história (2007), a apresentação tem o mesmo nome da obra.

A primeira epígrafe citada neste estudo faz parte do texto Uma explicação, onde o

autor deixa clara sua intenção ao escrever sobre a cidade, é seguida por um poema de

Alcindo Brito escrito para Macaé e tem como título Minha Terra:

Não é um livro definitivo (...). É mais a conseqüência de um desejo irresistível e incontrolável, qual seja o de levar para o papel, em letras impressas, (...) a respeito do passado de sua terra (...). É finalmente, uma obra modesta com a qual pretende o autor iniciar um ciclo de livros sôbre as coisas macaenses, sempre com um único objetivo: o “conhece-te a ti mesmo” (1958, p.10).

Duas Palavras obedece ao mesmo espírito que presidiu o anterior: “revelar aos

macaenses, mais ainda, a sua terra, sempre em busca do ‘conhece-te a ti mesmo’. Desta

feita, porém pretendo servir também àqueles que nos visitam, de quando em vez, fazendo

dêste livro um pretenso guia informativo e turístico” (1963, p.5). Ponto Parágrafo inicia

justificando que “cansativo e inútil seria enumerar as causas de tão longo hiato. Que

espero que não se repita para o restante do muito com que ainda pretendo contar” (1980,

p. 9), já que dezessete anos se passaram depois da segunda obra. O texto segue com o

prefácio de Herivelto Ferreira onde, poeticamente desenha a atividade intelectual de Tonito:

O vasto conhecimento histórico de Macaé, acumulado em decênios de pesquisa metódica (...) confere a Antônio Alvarez Parada não só uma agigantada autoridade, mas uma erudição especializada ímpar, colossalmente sólida, variada e profunda, povoada e comprovada em obras que antecedem, em copiosa colaboração jornalística, conferências e cursos tão apreciados em toda Macaé contemporânea. Diante deste verdadeiro enciclopedista de Macaé (...) ao invés de construir (...) um vasto e monumental painel histórico (...) o autor tenha preferido concentrar-se pacientemente, como um miniaturista, nos detalhes desta história, compondo um

15 PARADA, Antonio Alvarez. Histórias da Velha Macaé: crônicas históricas. Edição do autor. Rio de Janeiro: Cia Brasileira de Artes Gráficas, 1980. 16 PARADA, Antonio Alvarez. Histórias Curtas e Antigas de Macaé. Rio de Janeiro: Artes Gráficas, 1995. Obra Póstuma. Volume I e II. 17 Os textos estão respectivamente em: (1995, p. 3-4; p. 5-7; p. 8; p. 9-10).

Page 11: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

11

mosaico (...). A única idealização que não logrou escapar é a que está implícita e evidente em cada crônica, em cada página: o seu espírito localista, o amor a Macaé, causa primeira e final de seu fecundo trabalho (1980, p. 11-12).

E Herivelto termina o prefácio deixando claro que os macaenses são devedores por

mais esta contribuição cultural e que, os leitores, poderão aproveitar o estilo do autor que

temperam “agradavelmente um possível sabor de viagem entre ruínas” (1980, p.13).

Palavras segue o ritmo dos outros textos que apresentam seus livros, com tom

simples e esclarecedor: “Passado por mim há muitos anos sendo vasculhado,

permanentemente envolvido pela irresistível atração de conhecer detalhes, investigar

pormenores, esclarecer fatos, eliminar dúvidas, enfim, tentar compor um painel dos anos

pregressos da vida macaense” (1982, p. 9); e onde também deixa claro seus dois objetivos:

“resta-me desejar possa este trabalho atingir o duplo objetivo orientador de sua

elaboração: ser agradável aos que vierem conhecê-lo e não deixar perder-se, mesmo

parcialmente, a memória visual de Macaé” ( 1982, p.10).

Os livros que possuem outros textos além das apresentações do autor e dos

prefácios são os que Antonio Alvarez Parada teve algum apoio financeiro, ou seja, só a

partir da sua quarta publicação. Em Histórias da Velha Macaé (1980) ele agradece a

Prefeitura, na figura do então prefeito Carlos Emir Mussi, no texto de apresentação escrito

por ele. Na obra seguinte, Imagem da Macaé Antiga (1982) a prefeitura o apóia novamente

e, o prefeito escreve antecedendo a apresentação da obra, deixando impressa a importância

de Antonio Alvarez Parada para a sociedade macaense:

(...) Imagem da Macaé Antiga, o seu mais recente trabalho, traz à luz os tempos e imagens perdidas em nossa memória, memória viva, forte e representativa da nossa infância. (...). A legenda explicativa em cada foto, detalhando os aspectos históricos, revela a preocupação maior desse homem-professor, pedagogo nato, consciente de seu tempo, da sua atuação como cidadão que participa e faz a história de Macaé (p. 7).

Em Meu nome, crianças, é Macaé (1983), na apresentação, Antonio Alvarez

Parada afirma a participação de uma empresa no financiamento da edição da obra:

Ele, o livro, surgiu pelo desejo da Petrobrás participar, cada vez mais, da vida de Macaé. É uma forma encontrada por ela – a mais nova macaense – de integrar-se a essa condição. Que esse desejo, e agradeço à Petrobrás fazer-me seu instrumento, possa atingir seu objetivo (p. 5).

Page 12: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

12

Interessante observar que na época da instalação desta empresa o autor foi

combativo na imprensa, colocando-se contra a sua instalação. Alguns dos textos foram

republicados em Cartas da Província (2006) e, à época, na imprensa niteroiense. Na década

de 1980 sua resistência é vencida, pois a Petrobrás, reconhecendo nele a importância como

pesquisador da história de Macaé, encomenda esta obra, direcionada para o público infantil.

As Histórias Curtas e Antigas de Macaé (1995), também tiveram o apoio da

Petrobrás. Os quatro textos introdutórios enaltecem, a todo tempo, a figura do historiador

macaense. Na mensagem da Petrobrás, intitulada Em Respeito À Memória, a Assessoria de

Comunicação da empresa inicia o texto:

Quando um cidadão, por iniciativa própria, resolve dedicar seu trabalho, seu tempo, seus conhecimentos, enfim, sua vida, ao registro dos fatos, acontecimentos e dados históricos, culturais e sociais de sua cidade, este homem apenas por esta dedicação, merece todo respeito de seus concidadãos (1995, p. 3).

E desenvolve o restante da mensagem descrevendo a atuação do escritor, professor

e historiador; da satisfação da empresa em estar apoiando mais este trabalho; do empenho

da viúva Maria Bernadete, dos ex-alunos, colegas e admiradores de Tonito em não

pouparem esforços para tornar concreto o desejo de publicar mais obras; e finaliza

homenageando-o com a primeira estrofe do Hino Oficial de Macaé, da autoria dele.

Gilson Corrêa da Silva desenvolve sua escrita traçando a trajetória de Antonio

Alvarez Parada em palavras emocionantes:

(...) via o Tonito passar do outro lado da rua, me assomava a convicção de que ali caminhava uma pessoa meio eqüidistante do que se possa imaginar ser um simples e vulgar mortal (...). Professor, que sempre se soube ser aqui de nomeada, suas aulas não representavam sinonímia de enfado e aborrecimento, (...). No Senai, extinta escola cuja finalidade era fornecer profissionais para a Estrada de Ferro da Leopoldina, quiseram os fados que ele, de formação clássica pudesse integrar-se perfeitamente ao seu corpo docente (...). Fazia questão de enquadrar-se como simples ferroviário (...). Tonito pertencia a essa aristocracia freqüentadora de um fechadíssimo Tênis Clube e que socialmente só se entrosava entre si. Depois de haver, com brilhantismo, cursado o primário no colégio das irmãs Meirelles, (...), foi terminar o ginásio no Salesiano, em Niterói. O Instituto Lafaiete o acolheu em seguida, transferindo-se, com seu fechamento, para o Santo Inácio, (...) Todos aqui em Macaé sabíamos disso; disso dele ser aluno brilhante, especial, atrevendo-lhe um futuro promissor a honrar lá fora a conterraneidade de todos nós. E então aconteceu: Uma estafa intermitente o acometeu, obrigando-o finalmente a voltar aos pagos, (...). De repente, comecei a divisar Tonito metido num macacão azul, vendendo combustível num posto de gasolina. (...). E foi daí que o olho clínico do professor Miguel Ângelo entrou no cenário de sua vida, convidando-o para lecionar no antigo Ginásio Macaense. (...) Mas também não há como descartar as possibilidades bastante óbvias de haver consumado suas diretrizes básicas, (...) nas

Page 13: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

13

extensivas virtudes de Detinha, fiel e dedicada companheira (...). Quem há de negar que o carinho, a dedicação, a harmonia ensejada entre os dois não tiveram incisiva participação no ânimo e nas metas alcançadas pelo saudoso professor, conferencista e homem de letras? (...) (1995, p. 5-7).

Os revisores em seguida escrevem Nota Explicativa sobre algumas das

dificuldades encontradas nas transcrições das crônicas e, logo na página seguinte, um ex-

aluno, Nelson Mussi Rocha, faz a apresentação da obra com o próprio título do livro,

descrevendo pessoas, coisas e fatos abordadas nas crônicas escritas e segue escrevendo:

A História de Macaé e Antônio Alvarez Parada, o nosso inesquecível Tonito, se entrelaçam, se condensam, são sinônimos. E podemos afirmar isto, sem sombras de dúvidas, ao conhecer as obras já editadas por este autor, outros trabalhos inéditos, ainda não editados, somam-se na certeza desta afirmação. Nas sua obras, Antônio Alvarez Parada deu aos leitores, e aos macaenses em especial, o privilégio de conhecer a História de Macaé na visão de quem ama realmente a sua terra natal. (...). A cada história curta e antiga, o leitor irá trilhando um caminho de informação histórica, popular, em prosa ou verso, criativo e versátil, de linguagem e estilo simples e com clareza, e mais ainda, mil vezes acrescido pela dedicação, pelo amor, pelo bom humor e pela saga de um verdadeiro macaense contador de histórias macaenses (1995, p 9-10).

Em Escritos Macaenses: à guisa de apresentação, a pesquisadora esclarece aos

leitores os caminhos que a fizeram encontrar com a obra preparada pelo próprio autor:

Antes de encontrar o volume de Cartas da Província no arquivo, conheci algumas crônicas. Em uma análise do jornal O Fluminense, que possui um setor dedicado à pesquisa, tive acesso a elas, que resultaram num trabalho (...). Estava certa de que era necessário organizar e editar esta publicação para que a sociedade macaense tivesse acesso a esse material de alto valor histórico e cultural, contendo informações e testemunhos que ajudam a conhecer a história da cidade (FROSSARD, 2006, p. 11).

A obra organizada por Tonito já tinha prefácio: Como a coisa começou. Nele o

autor conta aos leitores com passou a escrever na imprensa niteroiense:

Minha colaboração de um ano e meio , semana após semana, ao jornal de Niterói, “O Fluminense”, teve início em 1º de julho de 1977. Meu irmão Cesáreo, nesta data, iniciou a feitura de uma coluna informativa sobre Macaé nas páginas daquele periódico e solicitou meu auxílio na coleta e remessa de notícias em Macaé, além de qualquer outra ajuda que lhe pudesse prestar. Esta última consubstanciou-se na produção semanal de uma crônica, em forma epistolar a um hipotético João – macaense ausente – e a qual resolvi intitular “CARTAS DA PROVÍNCIA”. Assim tudo começou (PARADA, 2006, p. 19).

Além do prefácio ele deixou pronto também um posfácio, com o intuito de

explicar aos leitores porque parou de escrever naquela coluna. Em entrevista publicada no

jornal O Século, afirma que sua última crônica não foi publicada pelo jornal O Fluminense:

Page 14: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

14

“E nem se dignaram, depois, publicar minha carta de despedida ao João (O Século, 1979,

p. 10)”. Decidiu não colaborar mais. No final do livro é possível observar também um texto

escrito por Ricardo Meirelles, à época Secretário de Acervo e Patrimônio Histórico, onde o

professor faz alusão ao então projeto já mencionado neste trabalho.

TONITO – Antonio Alvarez Parada: o fio de uma história é um ensaio que traz

diversos fios da história do autor, enaltecendo a grande contribuição deste historiador para a

construção da memória local. Os textos intermediários que compõem as obras póstumas

constroem uma certa apologia a Tonito. Um homem perfeito. Adorado. Professor exemplar.

Guardião da história e da memória de Macaé.

AGRADECENDO E DEDICANDO...

As dedicatórias também têm relação estreita com os temas abordados nos livros e

se destinaram a pessoas diferentes e, ao que parecem, escolhidas com muito cuidado. Todas

as obras têm dedicatórias impressas. O primeiro livro, o escritor homenageia a memória de

seu pai e de sua irmã Pilar. Logo abaixo, a dedicatória é extensiva à sua mãe Artêmia

Parada Alvarez e à sua esposa, Maria Bernadete Almeida Castro Alvarez.

ABC de Macaé é dedicado à Macaé, supostamente porque foi lançado no mês de

aniversário, julho de 1963: “À minha terra pelo seu 150º aniversário” e “aos macaenses,

na pessoa de meu sobrinho e afilhado Cesáreo Alvarez Parada Junior (1963, p. 3).

Histórias da Velha Macaé é dedicado exclusivamente à sua esposa: “Para

Detinha, com o amor de toda uma vida” (1980, p. 5). Maria Bernadete utiliza esta mesma

dedicatória em Histórias Curtas e Antigas de Macaé, que foram organizadas por ela a partir

dos documentos deixados em seu arquivo pessoal, e repete: “Meu Tonito, a glória é sua.

Dos Macaenses. Estou feliz. Como você mesmo escreveu em “Histórias da Velha Macaé”:

Com o amor de toda uma vida” (1995, p. 11).

Imagem da Macaé Antiga traz na dedicatória a importância que ele dá à fotografia

enquanto documento histórico: “Aos fotógrafos macaenses de ontem, que fixaram a

imagem da Macaé do passado. E aos de hoje que a estão gravando para o futuro” (1982,

p. 5). Antônio Viñao Frago (2001) faz observações e reflexões importantes sobre a cultura

escrita e descreve na fotografia “o seu caráter de vestígio fossilizado de um espaço e de um

tempo da realidade” (p. 26), apresentando que ela não é um simples reflexo da realidade,

Page 15: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

15

mas uma interpretação dela. A fotografia, neste sentido é tratada por este autor como uma

das modalidades da linguagem, “uma modalidade que exerce o seu império face a outras

pela sua capacidade de fossilizar, no espaço e no tempo, sob forma de vestígio, como a

fotografia, a realidade à qual sempre remete” (2001, p.28).

Em Meu nome, Crianças é Macaé não podia ser diferente: as dedicatórias são

destinadas “às crianças de hoje e de amanhã” e faz alusão aos seus sobrinhos “macaenses

de berço” e “macaenses de adoção” (1983, p. 6 ).

Em Cartas de Província (2006) o agradecimento é assinado por mim, onde

agradeço a todos que colaboraram para que a sociedade macaense tivesse acesso a mais

uma obra deste historiador macaense.

Detinha assina o agradecimento de TONITO – Antonio Alvarez Parada: o fio de

uma história (2007) com o título Céu sem nuvens:

Meu Tonito, aqui está mais uma homenagem (...). Nestes 20 anos de sua presente ausência, fiz o possível para preservar e difundir seu legado. (...) Tenho estado aqui a disposição de todos que ainda procuram seu acervo, sejam leigos, estudantes ou profissionais (...). Acho que disse tudo. Continuarei, enquanto deus assim desejar, acreditando sempre no nosso “céu sem nuvens”. Detinha de Tonito (2007, p. 13).

Palavras Finais

Palavras Finais é o título do posfácio presente em ABC de Macaé (1963), que é

direta ao leitor e foi escolhido para orientar as considerações finais deste trabalho:

SE DEPOIS DE TUDO O QUE LEU, VOCÊ SE PERGUNTAR: “– MAS O QUE ÊSSE MOÇO VIU PARA ELOGIAR TANTO A SUA CIDADE? O QUE É, AFINAL, QUE MACAÉ TEM, ASSIM DE ESPECIALMENTE BOM?” A RESPOSTA É UMA SÓ: “ – TEM O MACAENSE”. ÊLE É QUE LHE DÁ GRANDEZA E VALOR, MEU INCOMPREENSÍVEL AMIGO.

Neste sentido, podemos afirmar que ser macaense motivava Antonio Alvarez

Parada para a atividade da escrita. Escrita esta que o condecora como um importante

intelectual na construção e preservação da memória e da identidade da cidade. As

dedicatórias impressas de suas obras, em sua maioria, são dirigidas às pessoas que

marcaram a sua trajetória pessoal. As capas sugerem sentidos prévios à leitura dos textos e

apresentam uma certa intenção em deixar inscrita a sua forma de pesquisar, correspondendo

à significação das obras. Os prefácios, além dos outros textos que compuseram suas obras,

evidenciam a sua importância para a sociedade macaense e deixam claras as intenções do

autor em fazer, com sutileza, convites à leitura.

Page 16: II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial · ... lecionou química, física, espanhol e matemática no ... em contrapartida tivesse relação com o que considerava

16

Esta é uma das últimas imagens, fixada no tempo, de Antonio Alvarez Parada:

Antonio Alvarez Parada na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. 25/03/1985. Arquivo Pessoal Antonio Alvarez Parada.

Para os macaenses, o mérito de Antonio Alvarez Parada, e que levou a cidade a

homenageá-lo das mais diversas formas, nomeando espaços públicos, publicando obras

inéditas, reeditando livros, é inegável. Deve-se a ele grande parte dos registros da história

do município e, por isso, sua memória tem sido cuidadosamente lembrada.

Referências bibliográficas CASTILLO GÓMEZ, Antonio. Historia da cultura escrita. Ideas para el debate. In: Revista Brasileira de História da Educação. Editora Autores Associados / SBHE, jan-jul. 2003, n. 5, pp. 93-125.

CUNHA, Maria Teresa Santos. Armadilhas da sedução: os romances de M. Delly. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

KNAUSS, Paulo; GABRIEL, Carmen. Macaé: História e Memória. Macaé: Prefeitura de Macaé, 2002.

LE MOING, Monique. A Solidão Povoada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996.

NORA, Pierre. A História nova. Lisboa: Edições 70, 1977.

VIÑAO FRAGO, Antonio. Del periódico a Internet. Leer y escribir en los siglos XIX y XX. In: CASTILLO GÓMEZ, Antonio (coord.). Historia de la cultura escrita: de próximo Oriente antiguo a la sociedad informatizada. Gijón, 2001, pp. 317-384.