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1 II Seminário de Produção em Linguística Caderno de Resumos 02 a 04 de Outubro de 2013 Site do evento: http://www.ufscar.br/bureau/wordpress/?page_id=246

II Seminário de Produção em Linguística · Mattoso Câmara: pioneirismo na divulgação científica da linguística no Brasil ... Anotação de opiniões em um corpus de comentários

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II Seminário de Produção em Linguística

Caderno de Resumos

02 a 04 de Outubro de 2013

Site do evento: http://www.ufscar.br/bureau/wordpress/?page_id=246

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COMISSÃO ORGANIZADORA

Prof. Dr. Dirceu Cleber Conde Profª. Drª Luciana Salazar Salgado Profª. Drª. Maria Isabel de Moura

Bure@u do Texto

EQUIPE DO PROJETO BURE@U DO TEXTO: Profª. Drª. Luciana Salazar Salgado

Prof. Dr. Dirceu Cleber Conde

ALUNOS: Daniela Martins Fernandes

Henrique Claro Vanessa de Mello Ferreira

EDIÇÃO E REVISÃO Prof. Dr. Dirceu Cleber Conde

Vanessa de Mello Ferreira

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Sumário 1. Resumos dos trabalhos de conclusão de curso .................................................................. 5

Ethos - Análise de uma construção tridimensional instável: estudo sobre a criação instantânea e/ou duradoura de uma imagem empresarial em informes publicitários ............ 5

O papel da mulher nas obras de J. R. R. Tolkien ..................................................................... 6

Polaridade das expressões cristalizadas adjetivais do português do Brasil ............................. 6

Processos comunicacionais e publicidade: os suportes como atualizadores de gêneros textuais ................................................................................................................................. 7

Delineamento conceitual de corpus via indexação léxico-conceitual: primeiros resultados ... 8

Mattoso Câmara: pioneirismo na divulgação científica da linguística no Brasil....................... 9

Cenografia e ethos discursivo: a construção de identidade nos editoriais experimentais do jornal "O Lampião da Esquina" (1979-1981). ....................................................................... 10

A terminologia de pragas de cana-de-açúcar ....................................................................... 11

Trabalho análogo à escravidão: a emergência de uma fórmula? .......................................... 12

O modal dever: proposta de desambiguação....................................................................... 13

"Crônicas para jovens": análises de representação do leitor inscritas em coleções contemporâneas ................................................................................................................. 14

"A carta da comunidade indígena guarani-kaiowá sob o viés bakhtiniano" .......................... 15

Análise etimológica dos termos da Fauna e Flora no contexto da Agroecologia ................... 16

Discurso e humor: Construções e subversões da identidade feminina em Rê Bordosa ......... 17

Anotação de opiniões em um corpus de comentários ......................................................... 17

Proposta de um modelo de dicionário analógico-onomasiológico eletrônico ....................... 18

“Linguagem , paratopia e transmidiação em ‘Feliz Ano Velho’” ........................................... 19

Ritos genéticos editoriais: as circunscrições do revisor de textos em manuais de normalização ...................................................................................................................... 19

Análise de um dispositivo político comunicacional voltado à construção de uma identidade LGBT ................................................................................................................................... 20

Os discursos midiáticos e as representações da identidade transgênero ............................. 21

O Acordo Ortográfico e suas consequências para a morfologia no PLN ................................ 21

"Eu não disse isso": uma análise do funcionamento da autoria nas mensagens compartilhadas de Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector no Facebook ........................... 23

A recepção do Curso de Linguística Geral no Brasil: um olhar através da Análise do Discurso ........................................................................................................................................... 24

O sintagma "Exclusividade" no discurso publicitário: uma Fórmula? .................................... 24

Ethos discursivo e humor: a construção de uma “imagem de ator”. .................................... 25

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A configuração do humor negro dentro do paradigma pragmático ...................................... 26

2. Painéis de Pesquisa ......................................................................................................... 27

A paratopia criadora de Jane Austen: uma autora feminista? .............................................. 27

Uma análise discursiva do MinistérioDaCultura @CulturaGovBr .......................................... 27

As Orações Relativas Apositivas e Restritivas no PB: análises estruturais e investigação de uma possível relação com a prosódia .................................................................................. 28

“Crônicas para jovens”: análises de representação do leitor inscritas em coleções contemporâneas ................................................................................................................. 29

Recursos Educacionais Abertos - Formulação e Efeitos ........................................................ 30

A fórmula "liberdade de expressão": relações de poder e opinião no discurso midiático ..... 31

Sentenças dêiticas genéricas entre interpretações desviantes ............................................. 32

Os (inter)discursos e os poderes nos comentários de uma notícia sobre internet aberta em um blog ............................................................................................................................... 33

Linguagem e Exclusão: uma análise semiótica de O Enigma de Kaspar Hauser e A Maçã...... 34

Ritos genéticos editoriais - do impresso ao audiolivro: as circunscrições da coenunciação editorial .............................................................................................................................. 35

Os mecanismos semântico-pragmáticos de expressões semifixas da língua portuguesa ...... 35

As várias funções dos diminutivos em português: uma análise sob a perspectiva da semântica formal ................................................................................................................ 36

Descrição e formalização da palavra 'isso' ........................................................................... 37

Discurso, Política e Poética: os discursos sobre o poeta e a poesia no Ministério da Cultura 38

Análise do Discurso (AD) e teoria da argumentação (ta): um diálogo possível na análise de televangelhos ...................................................................................................................... 38

Transcrição de fala em ruído: um exercício em fonética forense.......................................... 39

A importância da blogosfera literária no percurso de constituição de uma escritora independente ..................................................................................................................... 40

Cenografia, ethos e comunicação: a contemporaneidade construída no marketing viral do banco Itaú ........................................................................................................................... 41

Análise de questões de língua espanhola do ENEM: Algumas abordagens sobre língua e cultura ................................................................................................................................ 41

Funcionamento discursivo do Clube de Autores .................................................................. 42

A diferença entre a Ironia e Sarcasmo: análise e formalização semântico-pragmáticas ........ 43

Autoria e plágio – Sentidos em circulação na mídia ............................................................. 43

3. Grupos De Pesquisa e Projetos ........................................................................................ 44

Comunica - reflexões linguísticas sobre comunicação .......................................................... 44

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1. Resumos dos trabalhos de conclusão de curso Ethos - Análise de uma construção tridimensional instável: estudo sobre

a criação instantânea e/ou duradoura de uma imagem empresarial em informes publicitários

Autor Alexandre Montesso Bonomi

E-mail [email protected] Orientador Profa. Dra. Maria Sílvia Cintra Martins Debatedor Ma. Paula Camila Mesti Resumo Tendo em vista o cenário contemporâneo da sociedade do consumo criado por um capitalismo avançado, as criações publicitárias têm, hoje, uma responsabilidade muito maior como nunca antes tiveram. Uma vez publicada, uma campanha publicitária carrega consigo toda a imagem de uma empresa, seja para o sucesso ou para o esquecimento. Esta imagem, criada instantaneamente, pode acarretar ainda em um estereótipo a ser lembrado por gerações. Um pequeno deslize em qualquer ponto de uma campanha, segundo a concepção tridimensional da linguagem (texto, práticas discursivas e práticas sociais) de acordo com a teorização do linguís ta inglês Norman Fairclough (1990, 1995, 2001, 2003), pode ser o suficiente para a criação, jocosa ou não, de um estereótipo negativo para uma empresa, diminuindo suas vendas do produto anunciado ou ainda de todos os produtos a ela vinculados. Este trabalho visa, portanto, encontrar as problemáticas da publicidade atual quanto aos aspectos da abordagem tridimensional da linguagem de Fairclough e quais seus efeitos sobre as novas produções que a seguem (sejam de uma mesma marca ou de suas concorrentes). Além disso, procura-se a identificação e análise da problemática inerente ao ethos prévio e ao ethos discursivo ao longo das campanhas de uma mesma marca e quais suas influências nos consumos destas mesmas campanhas vinculadas à ela. Por fim, focamos ainda na tentativa de percepção se de algum modo (e de que modo) os consumidores utilizam-se dos informes publicitários para a construção de sua própria identidade. Para isso, utilizamos produções publicitárias da marca "Toddy" de slogan "Toddy, o sabor da verdade", devido à evidenciação prévia de ao menos uma campanha publicitária que nos pareceu problemática em, no mínimo, um dos três pontos da abordagem tridimensional da linguagem. O trabalho ocorre em duas vias de pesquisa: uma histórico-comparativa e outra individual e analítica - ambas de viés qualitativo. O trabalho individual se dará pela necessidade de procura de quais elementos, dos diversos que compõem o texto (sejam eles linguísticos ou extralinguísticos), apresentam-se como problemáticos em relação à proposta da empresa. O trabalho histórico por sua vez, tem como finalidade a evidenciação de uma "continuidade do Ethos", seja ela voluntária ou involuntária; boa ou ruim. É na pesquisa semi-estruturada de caráter qualitativo com alunos do ensino médio, superior e profissionais da área que testaremos nossas hipóteses, visando perceber se os deslizes evidenciados como problemáticos são notados pelos entrevistados e se isso afeta de alguma forma suas maneiras de consumo.

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O papel da mulher nas obras de J. R. R. Tolkien Autor Alline Duarte Rufo E-mail [email protected] Orientador Valdemir Miotello Debatedor Rosangela Ferreira De Carvalho Borges Resumo O objetivo dessa pesquisa é analisar o papel que as mulheres desempenham nas obras do autor de fantasia J. R. R. Tolkien. O intuito é verificar como que em uma obra, considerada uma arquitetônica acabada, ou seja, que possui um excedente de visão, esse segmento da sociedade é representado. Para isso são analisadas três personagens de cronotópicos distintos, Lúthien do conto Beren e Lúthien na obra O Silmarillion, na primeira era de Arda; Galadriel do conto A história de Galadriel e Celeborn e de Amroth, Rei de Lórien, Capítulo IV da obra Contos Inacabados – De Númenor e da Terra-média na segunda parte do livro que corresponde a segunda era de Arda; e Eowyn, A Senhora de Roham na obra O Senhor do Anéis, mais especificamente o Capítulo VI, A Batalha dos Campos do Pelennor, no Livro IV, O Retorno do Rei no volume único, que corresponde a terceira era de Arda. Tendo como base teórica os estudos desenvolvidos por Mikhail Bakhtin no que dizem respeito a constituição do discurso a respeito das mulheres na sociedade, juntamente com textos de cunho feministas.

Polaridade das expressões cristalizadas adjetivais do português do Brasil

Autor Amanda dos Santos Carneiro E-mail [email protected] Orientador Oto Araújo Vale Debatedor Amanda Rassi Resumo A finalidade do presente projeto é estudar a polaridade de um tipo especial de expressões multipalavras, a saber, as expressões adjetivais do português brasileiro. Trata-se das expressões que, tomadas como uma palavra composta, exercem a função de adjetivo na oração. As expressões escolhidas aqui são aquelas que se encaixam na definição que Vale (2001) dá de expressão cristalizada, a saber, uma expressão cujo significado global não pode ser calculado a partir das partes que a compõem. Tal estudo mostra-se

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importante para um monitoramento de opiniões públicas, as quais exercem forte influência sobre a tomada de decisões das pessoas e podem ser uma boa base para a descoberta de pontos de vista sobre um determinado assunto. Assim, o presente projeto pode servir de subsídio à área conhecida como “análise de sentimentos”. Adotaremos aqui o conceito de polaridade como sendo “a relação entre oposições semânticas entre significados ou expressões que denotam significados, os quais são fundamentalmente incompatíveis um com o outro” (ISRAEL. 2004, p.1). Ou seja, objetivamos identificar quais das expressões do tipo supracitadas podem ser classificadas como positivas, negativas ou neutras. Além disso, procuramos identificar se tal polaridade está associada a polaridade de um dos elementos da expressão ou se ocorre apenas na combinação dos mesmos. Para isso, usaremos algumas das expressões levantadas em Carneiro (2013). A priori, classificaremos as expressões em positivas, negativas ou neutras adotando a perspectiva teórico-metodológica do Léxico-Gramática associada à linguística de corpus. O léxico-gramática inspira-se nas ciências experimentais e dá enfoque a coleta de fatos e, consequentemente, à conferição com a realidade dos usos da língua, do ponto de vista quantitativo e qualitativo. Também prevê uma formalização especifica em que os resultados devem ser formais o suficiente para que possam ser utilizados no processamento automático das línguas. Adota-se assim, o modelo de matrizes binárias, que cruzam os itens lexicais com as propriedades sintático-semânticas. Essa primeira classificação será feita com base na introspecção. Em seguida, as expressões serão analisadas em contexto com o auxílio do WebCorp, uma plataforma online que possibilita buscas de palavras e expressões na Internet. A Rede torna-se, assim, um grande corpus no qual pode-se buscar livremente pelas unidades pesquisadas. Espera-se com este trabalho obter-se uma lista de expressões adjetivais com suas respectivas polaridades. A partir disso, espera-se poder enriquecer a descrição das expressões cristalizadas do português do Brasil, pois essa questão pode ser tratada como um importante traço semântico a ser considerado. Além disso, espera-se poder integrar as expressões levantadas a outros trabalhos, como, por exemplo, a listagem de adjetivos de polaridade positiva ou negativa (SCOPIM, 2011) ou ao estudo de sinonímia e antonímia dos adjetivos com vistas à integração a sistemas de Processamento de Linguagem Natural.

Processos comunicacionais e publicidade: os suportes como atualizadores de gêneros textuais

Autor André Luis Miller de Moraes Oliveira E-mail [email protected] Orientador Maria Isabel de Moura Resumo

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O objetivo desta pesquisa é verificar em que medida os diferentes suportes interferem na constituição/atualização do gênero textual anúncio publicitário - gênero provindo da esfera comunicacional da publicidade, reconhecida pela apropriação e mesmo criação de inúmeros suportes -, e, consequentemente, em seu propósito comunicacional. Para tanto, mobilizaremos conceitos teóricos de Távora (2008), para tratar da questão do suporte, e de Bakhtin (2003), para refletir acerca do conceito de gênero textual.

Delineamento conceitual de corpus via indexação léxico-conceitual: primeiros resultados

Autor Andressa Caroline Inácio Zacarias E-mail [email protected] Orientador Ariani Di Felippo Debatedor Jackson Wilke da Cruz Souza Resumo Na Sumarização Automática Multidocumento (SAM), produzem-se sumários a partir de coleções de textos que tratam de um mesmo assunto. Uma das estratégias utilizadas para produzir esses sumários consiste na seleção das sentenças que contêm os conceitos lexicalizados mais relevantes da coleção. Para tanto, as unidades lexicais dos textos-fonte são mapeadas aos conceitos de uma ontologia de domínio construída de forma manual e, diante da identificação dos conceitos mais representativos, as sentenças que os contêm são selecionadas para o sumário. Visto que a construção de ontologias é uma tarefa cara, investigou-se o delineamento conceitual de corpora multidocumento pela indexação de suas unidades lexicais a uma ontologia construída previamente. Para tanto, selecionou-se a coleção C1 do corpus multidocumento em português CSTNews. A C1 é composta por 3 notícias da seção “mundo” que relatam a “queda de um avião no Congo”. Dessa coleção, 38 palavras da classe dos nomes foram selecionadas para a indexação, pois os nomes veiculam o conteúdo principal dos textos. As palavras foram manualmente indexadas à WordNet de Princenton (WN.Pr), ontologia construída para o inglês. Especificamente, a indexação de uma palavra x englobou as seguintes tarefas: (i) tradução de x para o inglês, (ii) seleção do conceito da WN.Pr correspondente a x; (iii) associação da frequência de ocorrência de x na coleção C1 ao conceito selecionado em (ii), (iv) herança dos hipônimos e hiperônimos do conceito selecionado em (ii), e (v) propagação da frequência de x aos hiperônimos e hipônimos. Após a indexação das 38 palavras, obteve-se uma hierarquia conceitual, cujos conceitos foram pontuados em função da frequência de ocorrência em C1 das palavras que os expressaram linguisticamente. Diante da hierarquia, investigaram-se estratégias de poda que permitissem delimitar a região da hierarquia que englobava os conceitos mais representativos de C1. Para identificar os

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conceitos mais representativos e podar os de menor importância, adotou-se um dos critérios de Raimer e Hah, a saber: frequência relativa do conceito na ontologia. Para tanto, optou-se pela estratégia de poda no sentido top-down, com base na qual se partiu dos conceitos mais genéricos em direção aos conceitos mais específicos. A poda especificamente consistiu em: (i) identificar a média das frequências dos conceitos do nível em questão; (ii) identificar uma porcentagem da média; (iii) podar os conceitos que apresentavam frequência menor que a obtida em (ii). Na etapa (ii), testaram-se 5 diferentes porcentagens sobre a média da frequência (30%, 40%, 50%, 60% e 70%), o que gerou 5 subontologias distintas. Tendo em vista que os sumários multidocumento do CSTNews são informativos, verificou-se manualmente qual a menor das subontologias geradas pelas diferentes estatísticas que englobava o maior número de conceitos nominais presentes no sumário humano multidocumento da coleção C1. Acredita-se que uma medida estatística pertinente para a delimitação da região da ontologia que engloba os conceitos mais representativos da coleção esteja em torno de 30% da média da frequência dos conceitos. Como trabalho futuro, pretende-se indexar outras coleções do CSTNews à WN.Pr para verificar se as estatísticas se confirmam.

Mattoso Câmara: pioneirismo na divulgação científica da linguística no Brasil

Autor Camila Cristina Boschilia E-mail [email protected] Orientador Roberto Leiser Baronas Debatedor Paula Mesti Resumo Podemos considerar a década de 40 como o momento de irrupção da Linguística Brasileira. Embora houvesse antes desse período inúmeros trabalhos que buscavam compreender o português americano, é com a publicação do livro “Princípios de Linguística de Geral” de Mattoso Câmara Jr., em 1941, que efetivamente irrompe a ciência linguística no Brasil. Se olharmos para a história da linguística brasileira, verificaremos que, desde os seus primórdios, a ciência linguística brasileira irrompeu com a preocupação de não apenas fazer avançar a teoria linguística e os estudos linguísticos relacionados à descrição do português brasileiro, mas também com o objetivo não menos nobre de divulgar cientificamente tais avanços. No entanto, toda a vasta produção científica de Joaquim Mattoso Câmara Jr. continua praticamente inacessível para a grande maioria dos estudiosos brasileiros. O presente projeto visa então minimizar essa lacuna colocando à disposição do público a obra sobre divulgação científica deste grande pensador brasileiro. Assim,

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objetivamos com o projeto de Iniciação Científica divulgar por meio de site do Instituto Mattoso Câmara de Estudos Interdisciplinares de Linguagem - IMC - toda a obra do pesquisador Mattoso Câmara Jr. sobre divulgação cientifica em linguística. Para tanto estabelecemos como objetivos específicos: levantar minuciosamente toda a densa e extensa obra de Mattoso Câmara Jr.; digitalizar a produção bibliográfica de Mattoso sobre divulgação científica em linguística, publicada em jornais e revistas brasileiras desde a década de 40 até a de 70; redigir um pequeno texto crítico acerca de cada uma das produções de Mattoso Câmara; disponibilizar no site do IMC. Desse modo, faremos inicialmente todo um levantamento minucioso da produção acadêmica de Joaquim Mattoso Câmara Jr. - Parte dessa publicação encontra-se arquivada no Centro de Estudos Linguísticos Mattoso Câmara que funciona na Biblioteca Central da Universidade Católica de Petrópolis – RJ. O restante da produção acadêmica de Mattoso Câmara será coletada em jornais e revistas da época em arquivos públicos de São Paulo, do Rio de Janeiro e na biblioteca particular do autor em Petrópolis. Finalizada esta primeira etapa, daremos continuidade às seguintes. Como uma das principais contribuições deste projeto é dar a conhecer, sobretudo, para as gerações mais novas de estudiosos da linguagem e demais interessados, as contribuições de Mattoso Câmara para a irrupção e legitimação das Ciências da Linguagem no Brasil. Tornar claro que o pensamento de Mattoso Câmara funda não só uma Linguística no Brasil, mas, sobretudo dá início a uma Linguística do Brasil. Cenografia e ethos discursivo: a construção de identidade nos editoriais

experimentais do jornal "O Lampião da Esquina" (1979-1981). Autor Camila Passucci E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado Debatedor Luciana Rugoni Resumo O ‘acesso’ ao jornal ‘O Lampião’ aconteceu numa conversa com um amigo, estudante de Ciências Sociais, sobre a imagem do homossexual e outras identidades como a mulher, o negro, o índio, no Brasil, e como essas imagens têm se construído durante períodos da história do país. O jornal está restaurado e disponível digitalizado no site do grupo que realizou os processos – o Grupo Dignidade da Bahia. Como analista do discurso notei a época em que o jornal ‘O Lampião’ foi criado. Era Março de 1978 quando foi publicada a Edição Zero, no Rio de Janeiro. Ano em que o Brasil Ditadura estava sob comando do Presidente João Figueiredo e ano que o Ato Institucional nº 5 foi revogado. A censura imposta a todos os brasileiros de expressar-se teve fim, porém este não ocorreu de fato, as perseguições e o controle do regime ainda continuaram até meados de 1990. O fim do AI-5 abriu espaço à Imprensa Alternativa, que se consolidou como uma forma de expressão e auxiliou

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fortemente o processo de oposição ao regime. Essas imprensas alternativas buscavam a necessidade de discutir a sociedade e fortalecer a participação de todos os indivíduos nesse meio. A imprensa alternativa ficou nas mãos das esquerdas (que visavam uma sociedade igualitária) e jornalistas e intelectuais que buscavam a expansão das informações e direito de expressar-se, estabelecendo contrapontos econômicos, políticos, sociais e ideológicos em relação ao regime. O objetivo do jornal ‘O Lampião’ era desconstruir a imagem do homossexual e desmascarar o sistema de párias (a palavra vem do sistema de castas do hinduísmo: os intocáveis, os degenerados). ‘Nós pretendemos, também, ir mais longe, dando voz a todos os grupos injustamente discriminados - dos negros, índios, mulheres, às minorias étnicas do Curdistão: abaixo os quetos e o sistema (disfarçado) de párias.’ ‘O LAMPIÃO’, 1978.Edição Zero. O ponto chave serão as identidades apagadas que o jornal traz à tona – em seus editoriais experimentais – grupos que não tinham voz e eram injustamente discriminados. A construção da análise será feita a partir da noção de ethos, por meio da qual um enunciador ativa em seus destinatários uma representação de si mesmo, inspira confiança no que diz e o que diz corresponde com o que é. A fim de construir uma identidade para o jornal abordando a maneira como esse discurso é produzido pela noção de fiador e a partir desse fiador, refletir sobre o processo de adesão dos sujeitos a esse discurso. Assim, a partir de todo conteúdo disponível nos editoriais experimentais da publicação do Lampião da Esquina, toda a construção discursiva será avaliada e colocada em observação a fim da construção da identidade dos “regenerados” (Lampião, Edição 00, 1978); os enunciados se articulam com as construções gráficas e com os objetivos diversos de atração à informação.

A terminologia de pragas de cana-de-açúcar Autor Carolina Cardoso de Oliveira E-mail [email protected] Orientador Gladis Maria de Barcellos Almeida Debatedor Dayse Simon Landim Kamikawachi Resumo A cana-de-açúcar é cultivada no Brasil desde o período colonial e, no decorrer desses cinco séculos, acabou se tornando umas das principais culturas da economia brasileira. Segundo o Ministério da Agricultura, “o Brasil não é apenas o maior produtor de cana, é também o primeiro do mundo na produção de açúcar e etanol e conquista, cada vez mais, o mercado externo com o uso do biocombustível como alternativa energética.” Com toda essa pujante produção, um problema que ainda acomete o setor sucroenergético nacional são as pragas. De acordo com a EMBRAPA, “mundialmente, a cana-de-açúcar contabiliza perdas de aproximadamente 20% ao ano, considerando somente o ataque de pragas.” Assim, é necessário que o Brasil domine, em todos os

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sentidos, o conhecimento sobre cana-de-açúcar, e as pragas estão incluídas nesse conhecimento. Como o acesso ao conhecimento se faz necessariamente por meio dos termos, sistematizar a terminologia que constitui o universo das pragas da cana-de-açúcar passa a ser fundamental. É nesse contexto, pois, que surge este Trabalho de Conclusão de Curso, que vem sendo desenvolvido no âmbito da parceria entre o Grupo de Estudos e Pesquisas em Terminologia (GETerm) e a EMBRAPA Informática Agropecuária. A pesquisa que ora apresentamos pretende identificar a terminologia das pragas da cana-de-açúcar e organizá-la numa estrutura conceitual, ou seja, agrupando os termos em campos semânticos. Fundamentando-se na Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), que valoriza o aspecto comunicativo das linguagens especializadas, propondo uma abordagem descritiva e de viés linguístico, esse trabalho tem como objetivo geral a sistematização dos termos do domínio de pragas da cultura da cana-de-açúcar a partir de seus reais contextos de uso. Para a realização deste trabalho, foi compilado um corpus com cerca de 800 mil palavras dos gêneros científico e científico de divulgação. Os textos que compuseram o corpus desse trabalho seguiram os seguintes critérios: modalidade escrita; domínio especializado, relativo às pragas e doenças da cana-de-açúcar; monolíngue, no caso, língua portuguesa; recorte temporal de 20 anos, ou seja, textos produzidos entre 1992 a 2012; e, finalmente, disponíveis na web. A partir da compilação do corpus, todas as etapas metodológicas subsequentes estão sendo desenvolvidas no e-Termos, (http://www.etermos.cnptia.embrapa.br), um ambiente colaborativo que auxilia o trabalho terminológico. Essas etapas dizem respeito à extração automática de termos; à limpeza semiautomática das listas extraídas; à validação dessas listas pelo especialista do domínio; à criação do mapa conceitual; à elaboração das fichas terminológicas e à edição do verbete. Como resultados parciais, nesta ocasião apresentaremos detalhadamente a fase em que se encontra o projeto, a qual corresponde à compilação e limpeza do corpus e à extração semiautomática dos candidatos a termos.

Trabalho análogo à escravidão: a emergência de uma fórmula?

Autor Élica dos Santos Souza E-mail [email protected] Orientador Roberto Leiser Baronas Debatedor Paula Camila Mesti Resumo Nos últimos dez anos, sobretudo, a partir da implantação de políticas públicas governamentais sobre os direitos humanos, o tema trabalho escravo ganhou bastante notoriedade nos mais diversos campos: judiciário; político; midiático, entre outros. Pouquíssimos temas tiveram no cenário brasileiro uma

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repercussão semelhante. Esse fato por um lado evidencia que se trata de um fenômeno relevante para os estudos da linguagem e, por outro, que os enunciadores foram instados a se manifestar sobre esse tema. Este projeto tem como objetivo analisar discursivamente como a mídia deu/dá em narrativa os deslizamentos de sentido do sintagma trabalho análogo à escravidão. Trabalhamos mais especificamente com textos veiculados em dois jornais de grande circulação nacional: Folha de S. Paulo (Folha) e O Estado de S. Paulo (Estadão), com recorte temporal, entre o período compreendido de 2002 a 2012. Buscamos compreender também no período histórico delimitado, em que medida a sequência verbal trabalho escravo ao se transformar em trabalho análogo à escravidão e/ou trabalho semelhante à escravidão pode ser compreendida como uma fórmula. Para dar conta desses objetivos, apoiamos, dado o caráter heurístico de suas pesquisas, em Krieg-Planque (2003 e 2010). A analista francesa do discurso, que estabelece como critérios para que uma sequência linguística possa ser considerada uma fórmula os seguintes funcionamentos linguístico-discursivos: a) se caracteriza por uma cristalização; b) se inscreve numa dimensão discursiva; c) funciona como um referente social e d) comporta um aspecto polêmico. Apoiou-se nesses critérios para verificar a emergência ou não da fórmula trabalho análogo à escravidão e/ou trabalho semelhante à escravidão.

O modal dever: proposta de desambiguação

Autor Fabiana Pirotta Camargo Lourenço E-mail [email protected] Orientador Flávia de Menezes Hirata-Vale Debatedor Amanda Rassi Resumo Como se sabe, a modalização pode ser caracterizada como o processo pelo qual o significado de uma frase é qualificado de forma a refletir o julgamento do falante sobre a probabilidade de ser verdadeira a proposição por ele expressa. Há diferentes tipos de modalidade, sendo que as mais básicas são a epistêmica e a deôntica. A modalidade epistêmica situa-se no eixo do conhecimento e expressa o grau de certeza/evidência/precisão do falante em relação ao enunciado, ou seja, expressa valores como probabilidade e possibilidade. Já a modalidade deôntica insere-se no eixo da conduta, e expressa valores de obrigação, permissão ou volição. Nesse sentido, em pesquisa empreendida anteriormente, foram analisados três diferentes gêneros dos jornais, editoriais, notícias e artigos de opinião, no que diz respeito ao uso de expedientes de modalização, buscando caracterizar esses gêneros em relação à expressão da modalidade, ou seja, aos graus de (des)comprometimento do falante/escritor com o seu texto, e ao processo inerentemente subjetivo que se instaura quando expedientes de expressão

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modal são usados nos textos.Os verbos modais (principalmente poder e dever) são considerados os principais elementos responsáveis pela modalização dos enunciados, e, no trabalho citado, observou-se que tais verbos podem trazer ao enunciado tanto uma interpretação deôntica, como uma interpretação epistêmica. Pensando-se nisso, e adotando-se o verbo dever como objeto de análise, nota-se que as duas possibilidades de leitura (deôntica e epistêmica) podem ser problemáticas para o processamento automático de línguas naturais (para tradução e sumarização, por exemplo), podendo gerar erros de interpretação, devido ao significado ambíguo do modal. Tendo isso em vista, acredita-se que a proposta de desambiguação dos modais de Ferdinand de Haan, na qual o autor, a partir de parâmetros gramaticais (como por exemplo, tipo de construção verbal ou tipo de sujeito) e contextuais analisa o verbo modal must do inglês, de tal modo que consiga determinar as construções modais com valor epistêmico e aquelas com valor deôntico pode ser aplicada ao português. Neste trabalho de conclusão de curso, propõe-se, então uma tentativa de aplicação desses parâmetros ao corpus já coletado (gêneros dos jornais), de modo a verificar os contextos de ocorrência do verbo dever em seus usos epistêmico e deôntico, e como eles contribuem para desambiguar as ocorrências do corpus. Com essa pesquisa, espera-se que em um futuro próximo, essas estratégias de desambiguação possam ser implementadas computacionalmente para solucionar possíveis problemas de interpretação no português. "Crônicas para jovens": análises de representação do leitor inscritas em

coleções contemporâneas

Autor Flávia Cristina Gomes Morais E-mail [email protected] Orientador Luzmara Curcino Ferreira Debatedor Débora Cristina Ferreira Garcia Resumo Cada vez mais o mercado livreiro nos apresenta adaptações e seleções de textos clássicos, especialmente para o público infanto-juvenil, valendo-se do status, ou seja, do valor simbólico adquirido por algumas obras ao longo da história, e que por essa razão compõem o repertório de textos adaptados/selecionados. Este trabalho tem por objetivo traçar um perfil desse público leitor, partindo do princípio de descrição de algumas representações discursivas do leitor jovem empregadas na construção de seleções de crônicas de autores brasileiros consagrados. Nosso objetivo é analisar a que mutações formais os textos são submetidos e quais são os critérios de seleção de textos que, inicialmente, não foram produzidos necessariamente para o público jovem, mas são organizados em obras voltadas para esse público. O levantamento, descrição e análise dessas estratégias nos permitirão refletir em que medida essas escolhas podem sinalizar uma projeção do leitor jovem.

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Assim, analisaremos três coletâneas de “Crônicas para jovens”, de obras de autores brasileiros conhecidos e já consagrados, a saber, Clarice Lispector, Ferreira Gullar e Affonso Romano Sant’Anna, em cuja análise procederemos por comparação, cotejando tanto os temas abordados nos textos quanto aspectos mais formais, relativos ao tamanho dessas crônicas, ou às mutações que elas eventualmente sofrem para se adaptarem ao público visado. Levantaremos as ocorrências de estratégias de escrita mais frequentes, ou seja, as mais comuns a esse processo de adaptação do texto original para outro público alvo, a fim de apreendermos algumas projeções de práticas de leitura e de competências leitoras pressupostas no processo de adaptação dos textos. Para a análise a que nos propomos, apoiaremo-nos especialmente na Análise de Discurso, no que concerne à compreensão dos efeitos de sentido produzidos pelo emprego de certas estratégias de escrita (escolhas lexicais, de estruturas frasais, etc.), e em alguns princípios da História Cultural, especialmente nos trabalhos de historiadores que vem se ocupando da história da leitura a partir da análise dos objetos culturais que portam textos.

"A carta da comunidade indígena guarani-kaiowá sob o viés bakhtiniano" Autor Francimeire Leme Coelho E-mail [email protected] Orientador Valdemir Miotello Debatedor Rosangela Ferreira Borges Resumo O Trabalho de Conclusão do Curso de Linguística propõe uma investigação Linguística sob a perspectiva de Mikhail M. Bakhtin, filósofo da linguagem, tomando como dado a materialidade linguística representada pela carta da comunidade indígena Guarani-Kaiowá, a qual expressa um recorte de mundo, dialogando com diversos discursos. A carta proposta enquanto dado foi retirada do site chamado Avaaz, site de petições on-line, sendo divulgada massivamente durante o mês de outubro de 2012, expressando a voz e o desespero da comunidade indígena Guarani-Kaiowá. Sendo assim, analisaremos a carta observando os conceitos de dialogia, identidade e alteridade.

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Análise etimológica dos termos da Fauna e Flora no contexto da Agroecologia

Autor Gabriela Aniceto E-mail [email protected] Orientador Gladis Maria Barcellos Almeida Debatedor Dayse Simon Landim Kamikawachi Resumo Agroecologia constitui um “campo de conhecimentos de caráter multidisciplinar que apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias que possibilitam analisar e atuar sobre a atividade produtiva, seja ela agrária/agrícola, extrativa vegetal ou animal, sob uma perspectiva ecológica.” Em outras palavras, a Agroecologia defende um tipo de “agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável.” De forma a armazenar toda a informação disponível em Agroecologia, a EMBRAPA Informática Agropecuária vem desenvolvendo uma base de conhecimento sobre esse campo do saber. Como o acesso ao conhecimento se faz necessariamente por meio dos termos, sistematizar a terminologia que constitui esse universo passa a ser fundamental. Assim, passou-se a elaboração dessa terminologia e, uma das necessidades encontradas, foi a de investigar a origem desses termos ou de determinados étimos que os constituem. É nesse contexto, pois, que surge este Trabalho de Conclusão de Curso, que vem sendo desenvolvido no âmbito da parceria entre o Grupo de Estudos e Pesquisas em Terminologia (GETerm) e a EMBRAPA Informática Agropecuária. A pesquisa que ora apresentamos pretende analisar etimologicamente 857 termos da fauna e flora no contexto da Agroecologia. Esses termos foram cedidos pela EMBRAPA Informática Agropecuária e correspondem apenas a unigramas. Esta pesquisa, inserida nos estudos de Terminologia descritiva e de viés linguístico, será embasada teórico-metodologicamente na obra recentemente publicada (2011) de Mário Eduardo Viaro, intitulada Etimologia. Segundo o autor, “confunde-se, com frequência, étimo com derivação morfológica. No étimo, (...) a mesma palavra sofre mudanças fonéticas e semânticas sem nenhum aumento ou decréscimo de elementos de formação (como prefixos ou sufixos); já na derivação, trata-se visivelmente de palavras distintas.” Nesse sentido, o autor propõe a seguinte definição de étimo: “forma equivalente da mesma palavra, imediatamente anterior numa sincronia pretérita qualquer.” Isso significa dizer que toda a nossa análise terá necessariamente uma abordagem diacrônica. Do ponto de vista metodológico, serão feitas delimitações nesse inventário de 857 termos, de modo que a análise seja exequível para um TCC. Como resultados futuros, esperamos contribuir com o conhecimento em Agroecologia por meio do estudo diacrônico de seus termos e/ou étimos.

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Discurso e humor: Construções e subversões da identidade feminina em Rê Bordosa

Autor Gabriela Tessarim E-mail [email protected] Orientador Carlos Piovezani Debatedor Jocenilson Ribeiro Resumo A Análise do Discurso é uma disciplina cujo surgimento se deu na segunda metade da década de sessenta, na França. Seu propósito era aliar materialismo histórico, linguística e psicanálise e a partir dessa ferramenta de interpretação descobrir as ideologias inerentes aos discursos políticos dessa época conturbada. Foram analisadas tirinhas de Rê Bordosa, a partir da Análise do discurso francesa, derivada dos trabalhos de Michel Pêcheux e seu grupo, focalizando a construção discursiva da identidade feminina. O corpus se constitui por algumas as tirinhas da Rê Bordosa, que circularam entre os anos de 1984 e 1987 em vários jornais brasileiros e que foram reunidas no livro Rê Bordosa do começo ao fim. O objetivo da pesquisa foi investigar como recursos lingüísticos e imagéticos que compunham os textos sincréticos das tirinhas e como foram empregados na produção de uma “nova” identidade feminina e de uma série de efeitos de humor no discurso. Essa identidade e esses efeitos pareceram inicialmente decorrer do embate entre duas formações discursivas, uma progressista, na qual se insere a Rê Borbosa, e a conservadora, à qual pertencem os demais personagens contra os quais a protagonista posiciona-se, pondo em xeque os tradicionais valores da autoridade e das prerrogativas masculinas da ideologia patriarcal. As análises focaram predominantemente os temas do papel da mulher na sociedade, sexualidade, religião, relacionamento e casamento.

Anotação de opiniões em um corpus de comentários Autor Gabriela Wick Pedro E-mail [email protected] Orientador Oto Araújo Vale Debatedor Claudia Dias de Barros Resumo Com a popularização dos computadores e com a grande facilidade de acesso à internet, a utilização de jornais eletrônicos é cada vez mais comum em nosso cotidiano e diversas formas de expressões são encontradas em sites, fórum de jornais eletrônicos, blogs, etc. Desta forma, o estudo das opiniões pode, por muitas vezes, determinar o sucesso do produto de uma empresa ou então identificar a popularidade de um candidato político. Nesse contexto, há um crescente interesse de pesquisadores da linguagem em saber as opiniões

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encontradas na web. Deste modo, deparamo-nos com um campo emergente chamado de Análise de Sentimentos, que traduz as emoções humanas em forma de dados, isto é, o tratamento computacional das opiniões extraídas em textos na web e a sua interpretação manual ou através de ferramentas computacionais. Sendo assim, a Análise de Sentimentos junto a Linguística Computacional, buscam identificar nesses textos opinativos os sentimentos expostos através da subjetividade na língua. Procura-se neste projeto classificar e anotar as opiniões a partir da extração de informações dentro de um corpus composto por comentários do jornal Folha de São Paulo. A coleção é formada por 3.236 comentários (por volta 142.700 palavras), os quais foram manualmente anotados. Composto por uma linguagem não padronizada e avaliativa, procuramos aqui uma identificar expressões que indicam opinião. Busca-se classificar também as opiniões de acordo com a polaridade dos sentimentos, ou seja, através da subjetividade das expressões, podendo classificá-las como positivas ou negativas. Assim, o objetivo da pesquisa é criar através dos resultados obtidos bases para futuros trabalhos na área e futuramente contribuir para a criação de um léxico multipalavras capaz de exprimir opinião.

Proposta de um modelo de dicionário analógico-onomasiológico eletrônico

Autor Henrique Claro E-mail [email protected] Orientador Gladis Maria de Barcellos Almeida Debatedor Dayse Simon Landim Kamikawachi Resumo Entendida aqui a onomasiologia como, grosso modo, um sistema lexical e cognitivo que se organiza orientado do significado para a palavra, propõe-se com este trabalho a elaboração de um dicionário, tal qual descrito no título, cujo método de consulta – parcialmente inspirado nos dicionários físicos conhecidos e também em determinados mecanismos de processamento de linguagem natural e em jogos online de adivinhação por inteligência artificial, aliando-se a isso conceitos metodológicos lexicográficos e computacionais como os explorados por Babini (2006) e Fellbaum (1998) – seja relativamente mais prático, intuitivo e ao mesmo tempo lúdico, sem com isso perder a essência de um thesaurus da língua. Construído com base num esquema decrescente de ramificações e filtragem semânticas, pretende-se que o referido dicionário encaminhe o consulente, através de uma sequência finita de perguntas fundamentais e, dentro do possível, acessíveis do ponto de vista do conhecimento médio geral, até os possíveis termos que representem o conceito em questão numa sessão de consulta.

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“Linguagem , paratopia e transmidiação em ‘Feliz Ano Velho’” Autor Kelly Cristina Nepomucena E-mail [email protected] Orientador Profa. Dra. Luciana Salazar Salgado Debatedor Prof. Dr. Eduardo Lopes Piris Resumo “Linguagem , paratopia e transmidiação em ‘Feliz Ano Velho’”é um trabalho que analisa sob a óptica lingüístico-discursiva, de base bakhtiniana e também com algumas discussões propostas por Dominique Maingueneau, como a produção literária dos anos 1980 teve uma contribuição direta para o tipo de linguagem literária que observamos na atualidade. Com a ascensão dos blogs, Twitter e outras redes sociais, é normal se observarem muitos gêneros literários que são entendidos como novos, mas todo discurso, por mais que se renove é carregado de memória. Logo, é um trabalho que pretende entender não uma origem, mas um como, ou seja, como essa fase literária contribuiu para essa atual linguagem. Para isso, delimita-se como corpus o livro “Feliz Ano Velho”, obra que ficou popularizada na década referida e que tornou conhecido o escritor Marcelo Rubens Paiva. Analisaremos as transmidiações da obra e à luz da noção de paratopia proposta por Dominique Maingueneau (2012), que prevê o entrelaçamento complexo entre três instâncias – pessoa, escritor e inscritor – que se põem em funcionamento na constituição de uma autoria, dando a ver que o autor é parte fundamental de uma rede ou de redes que o instituem como tal.

Ritos genéticos editoriais: as circunscrições do revisor de textos em manuais de normalização

Autor Letícia Moreira Clares E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado Debatedor Luciana Rugoni Sousa Resumo Nesse Trabalho de Conclusão de Curso buscamos investigar, considerando o lugar discursivo do revisor de textos delimitado no projeto de iniciação científica intitulado "A interface material impresso e audiolivro: o lugar do revisor de textos nos processos editoriais envolvidos", qual é o imaginário desse leitor profissional pressuposto em manuais de normalização. Com base nos resultados alcançados na referida pesquisa, os quais indicam a instabilidade tanto dos processos editoriais abordados como do próprio lugar de inserção do revisor de textos na correlação leitura e autoria, tomaremos como objeto de análise um conjunto de manuais de casas editoras e instituições de ensino superior, procurando entender como as manobras

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linguístico-discursivas dos processos de tratamento editorial de textos estão previstas nesse tipo de material instrucional e, assim, como contribuem para a formação de um imaginário sobre o revisor. Para tanto, ancoradas no método descritivo-interpretativo característico da Análise do Discurso de linha francesa (Cf. Pêcheux, 2008), mobilizaremos os conceitos de ritos genéticos editoriais (Cf. Salgado, 2011), regimes de genericidade e ethos (Cf. Maingueneau, 2004; 2008). Procuramos, inicialmente, traçar um breve panorama dos elementos conjunturais do universo discursivo editorial e explicitar algumas das questões relacionadas à produção e à seleção dos manuais de normalização organizados no corpus, para, então, discutir o lugar do revisor de textos na análise dos dados.

Análise de um dispositivo político comunicacional voltado à construção de uma identidade LGBT

Autor Marcela Luisa Moreti E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado Debatedor Marcelo Giovannetti Ferreira Luz Resumo Partindo do viés teórico da Análise do Discurso de linha francesa, mobilizando alguns conceitos de teóricos como Dominique Maingueneau, Alice Krieg-Planque e Patrick Charaudeau, este trabalho se propõe a analisar o Manual de Comunicação LGBT (2010) elaborado pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Se propondo a normatizar o modo de dizer sobre esta comunidade, o objeto de análise se volta à área da comunicação, por ele bem demarcada e especificada como “Jornalistas, Radialistas, Publicitários, Relações Públicas, Bibliotecários, entre outras pessoas”. Entendemos o objeto analisado enquanto dispositivo político pois ele funciona no sentido de afirmar um modo "correto" de dizer sobre uma certa comunidade. Tanto os modos de dizer quanto a própria afirmação de identidade desse coletivo social, denominado no manual como LGBT, funcionam afirmados por uma institucionalidade, a ABGLT, que se coloca como representante desta comunidade. Tendo isto em vista, para concretizar esta análise, mobilizaremos os conceitos da área supracitada, demonstrando algumas estratégias linguísticas utilizadas para compor essa luta política e social.

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Os discursos midiáticos e as representações da identidade transgênero

Autor Monique Amaral de Freitas E-mail [email protected] Orientador Valdemir Miotello Debatedor Marina Haber de Figueiredo Resumo Neste trabalho pretendemos desenvolver um estudo a respeito das divergências discursivas que constituem um embate entre estabilidade e instabilidade nas representações da identidade transgênero. Para tanto, tentaremos auscultar os discursos contra-hegemônicos (discursos do cotidiano) que definem transgenero enquanto extrapolamento da noção binária de gênero feminino e masculino, e os discursos hegemônicos (discurso oficial) que tentam controlar e normatizar as identidades dentro desses padrões já estabelecidos. Nos preocupa também entender como eles se apropriam e são apropriados um pelo outro, dialogicamente. O estudo dos dados será embasado nas obras de M. Bakhtin e do Círculo. Além de autoras dos estudos feministas e de gênero, bem como Joan Scott e Judith Butler, que nos ajudarão a pensar as problemáticas que envolvem essas representações. Considerando que tudo o que se materializa em cultura é fruto da relação eu e o outro, procuraremos compreender como os discursos constituem as relações de disputa e crise entre a identidade e alteridade na concretude dos enunciados produzidos na mídia. Sendo assim, nossos dados de análise e reflexão são textos jornalísticos da Folha de S. Paulo, Revistas Cult, Veja e Rolling Stones, Portais Terra e Uol, o discurso proferido por Lana Wachowski, cineasta transgênero, na premiação do Human Rights Campaign Visibility Award e textos do portal da ABRAT - Associação Brasileira de Transgêneros. Tratando de públicos e interesses distintos, tendo em vista que esses dados são produzidos por sujeitos sociais e históricos, portanto, jamais imparciais. Desta forma, tentaremos propor uma leitura, uma compreensão da luta ideológica que se trava nas arenas signícas deste cenário de crise.

O Acordo Ortográfico e suas consequências para a morfologia no PLN Autor Nathalia Perussi Calcia E-mail [email protected] Orientador Oto Araújo Vale Debatedor Amanda Pontes Rassi Resumo O Acordo Ortográfico de 1990 teve a intenção de trazer benefícios para todos os países que possuem a língua portuguesa como idioma oficial. Dentre seus

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objetivos destaca-se a difusão da Língua Portuguesa, classificando-a como patrimônio de todos os falantes e um importante meio de divulgação da cultura, pois oficialmente, não havia uma política linguística que a privilegiasse, pelo fato de coexistir, sobretudo, duas vertentes, uma brasileira e outra lusitana. Apesar disso, o Acordo Ortográfico causou e ainda causa muita polêmica por vários motivos. Um dos motivos é o fato de algumas regras excederem os limites da ortografia e resultarem em intervenções na descrição de aspectos gramaticais do campo morfológico. Um exemplo são as novas regras de hifenização, que acabam interferindo no processo de formação das palavras. O texto oficial, ainda, se equivoca ao confundir alguns conceitos sobre o processo de formação de palavras, como a composição e a derivação por sufixação. Diante disso, neste trabalho, pretendemos explorar as consequências que essa reforma provoca no processamento de linguagem natural e como isso deve ser tratado pelos softwares. Para tanto, escolhemos o software Unitex para abordar esse assunto. O Unitex é um processador de corpora que possui entre outras funcionalidades, dicionários incorporados. Esses dicionários são gerados a partir de regras de flexão, permitindo a busca pela categoria gramatical ou pelo lema das entradas lexicais. Muniz (2004) adaptou o léxico do NILC para o Unitex, estabelecendo modelos de flexão para os substantivos e adjetivos do português do Brasil. Nesses modelos, que são representados por meio de grafos, constam as formas flexionadas em gênero e número, podendo haver também as variações de aumentativo e diminutivo, quando essas formas se aplicam. Nesse sentido, foram identificadas as principais mudanças ortográficas usadas no Brasil, com o objetivo de adequar os grafos de flexão nominal e adjetival do Unitex, levantando a regularidades e irregularidades identificadas nessa revisão. Além de, levantar os problemas de flexão nominal ocasionados pela adequação dessas entradas e adequar o dicionário de formas compostas do Unitex à nova ortografia. O dicionário de formas compostas parece ser o mais afetado pelas mudanças ortográficas. Para isso, foi realizada uma leitura minuciosa do Novo Acordo Ortográfico e das apresentações do VOP (Vocabulário Ortográfico do Português) que está disponível no Portal da Língua Portuguesa e do VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) disponibilizado pela Academia Brasileira de Letras, ambos apresentam o vocabulário ortográfico após a reforma. Esperamos com este trabalho gerar um dicionário atualizado de formas flexionadas e um novo dicionário de formas compostas para incorporação às próximas versões do software Unitex , visando sua reutilização por novos pesquisadores .Pretendemos também contribuir com a implementação do novo Acordo Ortográfico, que ainda não entrou em vigor, disponibilizando e analisando todas as regras impostas por ele. Além de, fazer uma analise do texto, mostrando passagens em que as mudanças provocam consequências no campo morfológico da Língua Portuguesa, sobretudo para o PLN.

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"Eu não disse isso": uma análise do funcionamento da autoria nas mensagens compartilhadas de Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector

no Facebook

Autor Pâmela da Silva Rosin E-mail [email protected] Orientador Luzmara Curcino Debatedor Débora Cristina Ferreira Garcia Resumo Neste trabalho de conclusão de curso, objetivamos descrever e analisar de forma mais sistemática as indagações que surgiram a partir do projeto de iniciação científica "Práticas de escrita e de leitura na rede: uma análise das mensagens compartilhadas e dos procedimentos de sua formulação linguístico-discursivas", desenvolvido durante nossa graduação, no qual, analisamos um tipo de texto bastante peculiar e atual e que se apresenta como “frases”, algumas retiradas de obras literárias, que passam a circular autonomamente em páginas de redes sociais, em especial, no Facebook, cujo funcionamento (produção, circulação e recepção) implica certas mutações nas práticas de escrita e de leitura na atualidade. Tendo em vista este seu funcionamento autônomo e particular e suas características, as classificamos como "mensagens compartilhadas". Tratam-se de enunciados destacados, em especial de obras literárias, que são selecionados, destacados, adaptados, acrescidos de imagens, o que tem como consequência a alteração em alguma medida do “sentido” desses enunciados. Essas mensagens são postadas pelos próprios usuários em suas páginas pessoais ou em murais de amigos e até mesmo em comunidades ou páginas. Para realização da seleção dessas mensagens utilizamos a página "O Mundo de Caio Fernando Abreu e Clarice Lispector" que funciona como um repositório de mensagens compartilhadas desses dois autores contemporâneos. No decorrer de nossa análise na iniciação científica, uma das mutações com a qual nos deparamos, e sobre a qual nos dedicamos neste trabalho de conclusão de curso, é a relativa ao funcionamento da autoria na composição dessas mensagens. São vários os procedimentos de atribuição de autoria que vemos serem empregados nestas mensagens compartilhadas, tais como a atribuição equivocada de autoria, o emprego de frases de textos que na origem não necessariamente fariam parte da “obra” de um autor (entrevistas e cartas), a atribuição de autoria ao conjunto da mensagem e não apenas à frase retirada da obra de um autor etc. Para identificarmos esse funcionamento específico da autoria, para nossa análise adotamos como fonte de pesquisa não apenas as mensagens compartilhadas, mas também o levantamento de comentários de leitores que reconhecem a autoria, criticam a atribuição equivocada, avaliam o texto segundo outro regime de recepção (não como obra literária, mas como autoajuda), leem o texto na sua completude atribuindo a autoria àquele que produziu a mensagem. Para nossa análise, nos apoiamos em princípios teóricos da Análise de Discurso e

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da História Cultural da leitura, com base no que ambas as teorias discutem acerca das mutações nas formas de produção e circulação de textos. Com nosso trabalho esperamos contribuir com as pesquisas sobre as práticas de escrita e de leitura da atualidade, de modo a levantarmos alguns indícios desse "novo" leitor/autor que emerge com as novas tecnologias digitais.

A recepção do Curso de Linguística Geral no Brasil: um olhar através da Análise do Discurso

Autor Silvério Guazzelli Donatti E-mail [email protected] Orientador Roberto Leiser Baronas Debatedor Paula Camila Mesti Resumo O presente trabalho, inscrito no bojo teórico da Análise do Discurso, pretende analisar o conteúdo dos paratextos do Curso de Linguística Geral em suas edições: francesa, italiana e brasileira a fim de apreender, por meio das análises realizadas, as diferenças produzidas na autoria da obra em cada edição e que possivelmente influenciaram na recepção desta obra fundamental para a constituição da linguística enquanto disciplina.

O sintagma "Exclusividade" no discurso publicitário: uma Fórmula? Autor Thailini Juliana Agostinho de Ázara E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado Debatedor Lígia Menossi Araújo Resumo

Sabe-se que, atualmente, as peças publicitárias vêm cheias de marcas que se tornam a cada vez mais recorrentes no discurso publicitário, ou seja, cristalizam-se de forma crescente neste meio. Sintagmas como “lançamento”, “promoção”, “só hoje”, “exclusivo” e “exclusividade” ganham a cada anúncio lançado um espaço ainda maior, talvez no intuito de chamar maior atenção do público alvo ou simplesmente vender aquilo que está sendo anunciado. Pretende-se neste trabalho de conclusão de curso trabalhar com fórmulas discursivas. Para tanto, através de pesquisas acerca de alguns termos, resolveu-se que o objeto de trabalho serão os sintagmas “exclusivo” e “exclusividade”. No entanto, não é certo se são realmente fórmulas discursivas, e será esse o objetivo durante o percurso no decorrer deste. Portanto, “exclusivo” e “exclusividade” são fórmulas? Ou somente “exclusividade” é uma fórmula, tendo “exclusivo” como uma variante de fórmula? Eis o que se pretende responder. Estas candidatas a fórmula serão analisadas em diversas

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peças publicitárias de inúmeros estabelecimentos comerciais. Com buscas feitas através de buscadores da internet, imagens, vídeos propaganda e panfletos serão peças publicitárias que integrarão o corpus de análise. Já o embasamento teórico se sustentará nas perspectivas do livro A noção de fórmula em Análise do Discurso: Quadro teórico e metodológico, da analista do discurso francesa Alice Krieg Planque. Por fim, o objetivo principal desta análise será entender o funcionamento desses sintagmas e candidatos a fórmula e qual o impacto discursivo que estes estabelecem no interlocutor no momento em que a publicidade é lida. Deste modo, também se tentará descobrir se os candidatos a fórmulas “exclusivo” e “exclusividade” são utilizados apenas como um mero recurso para convencer o interlocutor de que ele é “um cliente especial”, por isso é exclusivo ou o produto está em exclusividade para ele; ou se são “jogadas políticas”, mas que também não deixam de ser táticas de convencimento para que o interlocutor adquira determinado produto.

Ethos discursivo e humor: a construção de uma “imagem de ator”.

Autor Thayara Patricia Galterio E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado Debatedor Lígia Menossi Araújo Resumo A partir das reflexões sobre ethos discursivo com base na teoria das cenas da enunciação proposta por Dominique Maingueneau (2006; 2008; 2012), em conjunção com os estudos de Sírio Possenti sobre humor (2010) que foram desenvolvidas no Projeto de Iniciação Científica “Ethos, humor e publicidade: estratégias do discurso humorístico na construção e difusão de uma imagem corporativa” (FAPESP, Processo n.2012/06864-4), apresentaremos a formulação inicial do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC 1). Assim, considerando a relação ethos e humor, propomos a análise de dois vídeos postados na plataforma YouTube, ambos de uma mesma série de viés humorístico: “Fritada - Alexandre Frota” e “Fritada - Rita Cadilac”, em que os convidados sofrem uma “humorização”, isto é, replicam questões de ordem pessoal, colocadas de forma humorística por famosos comediantes de stand-up. Analisar o efeito de humor nessas “entrevistas” nos permitirá compreender como os sentidos produzidos podem construir uma boa imagem ou denegrir a imagem do convidado, o que põe em questão o próprio processo de construção de uma “imagem de ator”.

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A configuração do humor negro dentro do paradigma pragmático

Autor Vanessa de Mello Ferreira E-mail [email protected] Orientador Dirceu Cleber Conde Debatedor Marcelo Giovannetti Resumo O objetivo deste trabalho é buscar entender o conceito intuitivo de humor negro, que é caracterizado como um humor preconceituoso e que busca fatos do cotidiano considerados trágicos tentando transformá-los em riso. A partir de um corpus formado com chistes e comentários humorísticos, iremos analisar o como se configura esse tipo de humor dentro de um paradigma pragmático, visando analisá-las segundo as máximas conversacionais propostas por Grice, relacionando-as à significação e o sentido, buscando compreender como esse tipo de humor é capaz de gerar riso. Para isso, realizaremos uma pesquisa com testes de sentenças em contextos específicos para perceber se os entrevistados conseguem perceber a diferença entre “humor negro” e “humor”. Para tanto, iremos realizar um teste inicial com um grupo de 20 informantes que façam a classificação, em seguida realizaremos um questionário indutivo como mais 20 informantes para averiguarmos se a intuição será a mesma com a classificação metalinguística e sem ela.

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2. Painéis de Pesquisa A paratopia criadora de Jane Austen: uma autora feminista?

Autor Amanda Aparecida Chieregatti E-mail [email protected] Orientador Profa. Dra. Luciana Salazar Salgado Financiador Fapesp Resumo Partindo da Análise do Discurso de tradição francesa, com base na noção de paratopia criadora formulada por Maingueneau (2006, 2012), estudamos os traços do que é referido como discurso feminista presente na obra da escritora inglesa, Jane Austen. Focalizaremos três títulos:“Razão e Sensibilidade”(1811), “Orgulho e Preconceito”(1813) e “Persuasão”(1818). Para tanto, será necessário ter em vista o contexto social da Inglaterra do século XIX, que abrange a chamada primeira onda feminista, que lidou prioritariamente com o direito de voto das mulheres e os direitos trabalhistas e educacionais que se delineavam como uma necessidade durante a Revolução Industrial. Nessa conjuntura emerge a obra de Austen, que procuramos abordar na perspectiva de um discurso literário considerado feminista e, mais além, crítico à sociedade do período em que se insere. A autora, que publicou sob pseudônimo, é aclamada ainda hoje pela descrição que faz da sociedade rural inglesa e pela força de sua narrativa, destacando o que podemos chamar de “identidade feminina” por meio da criação de personalidades obstinadas, independentes e ousadas. Interessa-nos, aqui, entender o funcionamento das três instâncias apontadas por Dominique Maingueneau como constitutivas da autoria: escritor, inscritor e pessoa.

Uma análise discursiva do MinistérioDaCultura @CulturaGovBr Autor Camila Martins de Oliveira E-mail [email protected] Orientador Ana Sílvia Couto de Abreu Financiador CNPq Resumo Em uma perspectiva inscrita na filiação teórica da Análise de Discurso francesa e brasileira, buscamos compreender posicionamentos que circulam em relação a uma política pública de autoria, pela análise do funcionamento discursivo do Twitter do Ministério da Cultura do Brasil (MinC). Tomamos como categorias centrais: condições de produção, posição sujeito e formação discursiva, sendo que entendemos os modos de formulação dessa mídia social como gestos políticos, a partir de uma compreensão de técnica enquanto política. Tratamos os textos-documentos como discursos que são partes de

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processos discursivos mais abrangentes, em que funcionam injunções de natureza ideológica. Enquanto resultados iniciais, analisando os tweets publicados no Twitter do MinC, compreendemos diferentes posições discursivas que se estabelecem no embate entre proteção ao autor e direito do cidadão de acesso aos bens culturais, estabelecendo, assim, uma rede, na qual os sentidos funcionam em direções diversas, marcando que as formações discursivas não são homogêneas, que as posições mudam, dadas diferentes condições de produção. Diferentemente da pragmática, para a Análise de Discurso o que importa são as posições discursivas dos sujeitos historicamente constituídas. No caso dos tweets analisados, há um predomínio de sentidos favoráveis a uma ênfase nos direitos de acesso aberto, indiciando uma posição marcada nas gestões do MinC no período de 2006 a 2010, bem como embates à posição discursiva assumida pelo MinC entre 2011 e 2012. A própria criação do Twitter no Ministério da Cultura, em 2009, marca uma posição que potencializa a circulação de dizeres no campo da cultura, de forma concisa e rápida, permitindo a replicagem das postagens, sendo que aí reside uma eficácia discursiva na criação de redes de posicionamentos. As Orações Relativas Apositivas e Restritivas no PB: análises estruturais

e investigação de uma possível relação com a prosódia

Autor Felipe dos Santos E-mail [email protected] Orientador Renato Miguel Basso / Pablo Arantes Resumo Este projeto de pesquisa se propõe a analisar possíveis diferenças prosódicas nos sintagmas nominais do Português Brasileiro (PB), sublinhados abaixo, possivelmente motivadas por diferenças estruturais entre as orações relativas apositivas e restritivas em testes de leituras de sentenças: (1) O homem que estava de camisa branca saiu da sala. (2) O homem, que estava de camisa branca, saiu da sala. Em (1), o sintagma nominal (SN) contém uma oração relativa restritiva, que veicula, grosso modo, a informação de que “o homem que estava usando camisa branca saiu da sala”. Em (2), o SN contém uma oração relativa apositiva, e a informação, grosso modo, é que “o homem saiu da sala, e ele estava usando uma camisa branca”. Temos, então, diferentes interpretações possíveis para as sentenças (1) e (2), que são determinadas pela forma na qual a oração relativa foi sintaticamente encaixada ao núcleo nominal, i.e., ‘homem’. A própria intuição dos falantes parece apontar para o fato de que tais diferenças estruturais acarretariam em diferentes interpretações, havendo um reflexo na prosódia, que é provavelmente indicado na escrita pelo uso de vírgulas apenas quando se trata de uma interpretação apositiva. O presente

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trabalho tem como objetivo observar a prosódia das orações relativas apositivas e restritivas em sua relação com a estrutura sintático-semântica do PB, investigando a ocorrência de possíveis diferenças em parâmetros acústicos, tais como o comportamento da curva de frequência fundamental, a medida da taxa de elocução e a duração das pausas. Além do tipo de oração relativa (apositiva e restritiva), outra variável a ser controlada e investigada é o determinante (artigo definido e demonstrativo): (3) O homem que estava de camisa branca saiu da sala (4) Esse homem que estava de camisa branca saiu da sala. O corpus do estudo será um conjunto de sentenças, como as dos exemplos acima, formuladas de modo a controlar as variáveis independentes de interesse: o tipo de oração relativa e o tipo de determinante. Com esse corpus, será feita a medição das variáveis dependentes, para que sejam observados os parâmetros acústicos das leituras das orações. Assim, espera-se analisar como as possíveis realizações prosódicas das orações relativas poderiam ajudar na delimitação de interpretações diferentes de sintagmas nominais do PB combinados com certos tipos de oração relativa, de modo a testar a formulação teórica de uma sintaxe multi-enraizada, na qual as sentenças com SNs que contêm orações relativas apositivas expressariam duas proposições (tratando-se, assim, de duas informações diferentes). A análise sintática das estruturas das orações relativas apositivas e restritivas e o comportamento dos determinantes do PB motivam a hipótese dessa pesquisa: da confirmação da intuição dos falantes no que diz respeito a alterações prosódicas relacionadas às diferentes interpretações e motivadas nas diferenças estruturais das orações investigadas.

“Crônicas para jovens”: análises de representação do leitor inscritas em

coleções contemporâneas Autor Flávia Cristina Gomes Morais E-mail [email protected] Orientador Luzmara Curcino Ferreira Financiador CNPq Resumo Cada vez mais o mercado livreiro nos apresenta adaptações de textos clássicos, especialmente para o público infanto-juvenil, valendo-se do status, ou seja, do valor simbólico adquirido por algumas obras ao longo da história, e que por essa razão compõem o repertório de textos adaptados. O presente projeto tem por objetivo traçar um perfil desse público leitor, partindo do princípio de descrição de algumas representações discursivas do leitor jovem empregadas na construção de adaptações de crônicas de autores brasileiros consagrados. Nosso objetivo é analisar a que mutações formais os textos são submetidos e quais são os critérios de seleção de textos que, inicialmente, não

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foram produzidos necessariamente para o público jovem, mas são organizados em obras voltadas para esse público. O levantamento, descrição e análise dessas estratégias nos permitirão refletir em que medida essas escolhas podem sinalizar uma projeção do leitor jovem. Assim, analisaremos três coletâneas de “Crônicas para jovens”, de obras de autores brasileiros conhecidos e já consagrados, a saber, Clarice Lispector, Ferreira Gullar e Affonso Romano Sant’Anna, em cuja análise procederemos por comparação, cotejando tanto os temas abordados nos textos quanto aspectos mais formais, relativos ao tamanho dessas crônicas, ou às mutações que elas eventualmente sofrem para se adaptarem ao público visado. Levantaremos as ocorrências de estratégias de escrita mais frequentes, ou seja, as mais comuns a esse processo de adaptação do texto original para outro público alvo, a fim de apreendermos algumas projeções de práticas de leitura e de competências leitoras pressupostas no processo de adaptação dos textos. Para a análise a que nos propomos, apoiaremo-nos especialmente na Análise de Discurso, no que concerne à compreensão dos efeitos de sentido produzidos pelo emprego de certas estratégias de escrita (escolhas lexicais, de estruturas frasais, inserção de imagens etc.), e em alguns princípios da História Cultural, especialmente nos trabalhos de historiadores que vem se ocupando da história da leitura a partir da análise dos objetos culturais que portam textos.

Recursos Educacionais Abertos - Formulação e Efeitos Autor Iasmyn da Costa Brecciani E-mail [email protected] Orientador Ana Silva Couto Abreu Financiador FAPESP Resumo Sob a perspectiva da Análise do Discurso francesa, foram analisados os discursos que circulam em repositórios brasileiros com Recursos Educacionais Abertos. Quais os princípios que sustentam a criação de recursos educacionais abertos? Os recursos educacionais, disponibilizados nos repositórios que constituem nosso corpus, apresentam uma perspectiva disciplinar ou interdisciplinar e quais as consequências para o processo de construção de saberes? Foram algumas das questões norteadoras.

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A fórmula "liberdade de expressão": relações de poder e opinião no discurso midiático

Autor Jaqueline Roberta Ribas E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado Financiador FAPESP Resumo Com base no quadro teórico da Análise do Discurso de orientação francesa e mobilizando o conceito de fórmula discursiva proposto por Alice Krieg-Planque (notadamente 2009, 2010), observaremos a circulação do sintagma “liberdade de expressão” no discurso midiático, tomando como referência os debates atuais sobre o Marco Regulatório da Comunicação no Brasil, em processo de votação iminente. Segundo os desenvolvimentos teóricos de Krieg-Planque, uma fórmula discursiva se define por: ter um caráter cristalizado; se inscrever numa dimensão discursiva; funcionar como referente social e comportar um aspecto polêmico. Com base nessas propriedades, consideraremos a expressão reiterada nos debates sobre a regulação da comunicação no Brasil, fazendo a hipótese de que se trata de uma fórmula: um território de aparente consenso que abriga confrontos históricos. Em linhas gerais, podemos dizer que o sintagma “liberdade de expressão” circula na tessitura interdiscursiva, fazendo e refazendo nós de uma polêmica instituída há décadas, remontando ao texto da Constituição de 1988 – e decerto com a intervenção de uma memória discursiva anterior ao regime civil-militar que instaurou uma mordaça generalizada. Atualmente, a proposta de adoção de medidas reguladoras sobre o sistema de comunicação é posta como democratizante para aqueles que entendem que a regulamentação permite equanimidade no acesso e na produção de conteúdos comunicacionais, e é posta como censura para os que entendem que regulamentar é um passo para coibir. Desse modo, o sintagma “liberdade de expressão” pode ser enunciado como “necessidade de regulação” ou como “nenhuma regulação”. A partir de um corpus constituído por meio dos portais das revistas semanais Veja e Carta Capital e de manifestações na blogosfera, pretende-se identificar como esse sintagma circula, ganhando dimensão midiática e explicitando “relações de poder e opinião” (Krieg-Planque, 2009:8).

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Sentenças dêiticas genéricas entre interpretações desviantes Autor Jonathan Silva Torres E-mail [email protected] Orientador Renato Miguel Basso Resumo Neste trabalho, proporemos um estudo semântico-formal sobre sentenças dêiticas com interpretações genéricas; analisaremos o contraste entre sintagmas definidas e demonstrativos genéricos usados deiticamente. Considere as sentenças a seguir, pronunciadas junto com um apontamento a um labrador caramelo: (1) a. O labrador é raro. b. Esse labrador é raro. Em (1a) e (1b), temos um predicado de espécie que não se aplica a, por exemplo, ‘João’ ou um cachorro em particular, mas aplica-se a “espécies” e, em geral, resulta em interpretações genéricas. Em (1a), com o sintagma definido ‘o labrador’, nossa intuição nos leva a dizer que a sentença se refere a espécie “labrador”, o artigo definido considera o ‘labrador’, e a interpretação que resulta da combinação desse material com o predicado de espécie ‘(é) raro’ é aquela na qual a espécie labrador é rara. Contudo, em (1b), na qual há o uso do demonstrativos genéricos ‘esse labrador’, nossa interpretação não mais considera a espécie, mas sim uma subespécie (i.e, labrador caramelo), e assim uma boa paráfrase para (1b) seria “A espécie labrador caramelo é raro” e não “A espécie labrador é rara”. Sentenças dêiticas genéricas com sintagmas demonstrativas se referem a uma subespécie com relação à sua contraparte com sintagmas definidos, e assim (1a) se refere a espécie labrador e (1b) se refere a uma subespécie de labradores.

Nosso objetivo é analisar como o uso de demonstrativos genéricos nos leva por meio de apontamentos que nem sempre se referem ao que está sendo dito, à interpretação de uma subespécie; um uso que pode ser considerado, segundo a literatura, um demonstrativo desviado, uma transferência de significado ou ainda interpretações desviadas. Nosso intuito é delimitar qual desses processos pode dar conta da interpretação sugerida para (1b). Vejamos esses casos na sequência.

O demonstrativo desviado acontece quando nos referimos a um determinado objeto mas sem colocá-lo na sentença, a partir de algo que o referencie indiretamente; imagine que esteja tocando uma sinfonia de Beethoven e alguém diz: (2) Esse é um grande compositor. É possível ver que o falante de (2) se refere a Beethoven, mesmo que seu nome não tenha sido dito.

A interpretação desviada acontece quando há um apontamento direto e não deixa subjetiva a ideia de um contexto extralinguístico, sem uso para uma análise linguística, essa afirmação se comprova nos exemplos abaixo:

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(3) a. João comprou um doce para mim. b. (apontando para um doce) João comprou isso para mim.

Para entender o que o dêitico ‘isso’, em (3b) quer dizer, é necessário que se saiba o que é um doce, mas não fundamental, posto que há apontamento.

A transferência de significado necessita de uma relação entre propriedades do apontamento e do objeto explicitado na sentença e requer um apontamento material e uma relação das propriedades desse objetos, como em:

(4) (apontando para um molho de chaves) Eu estou estacionado nos fundos.

Em (4), podemos perceber que nem o destinador e nem que o seu molho de chaves estão estacionados, mas muito provavelmente o veículo que aquelas chaves abrem as portas. Em suma, neste estudo, aplicaremos esses conceitos à interpretação vista para (1b), com o objetivo de entender o fenômeno por trás dessa interpretação.

Os (inter)discursos e os poderes nos comentários de uma notícia sobre internet aberta em um blog

Autor José Cláudio Vasconcelos da Silva E-mail [email protected] Orientador Ana Silvia Couto de Abreu Resumo Os sites da internet agregam um conjunto de textos noticiosos e opinativos que após serem publicados e expostos no ambiente virtual, estão sujeitos às avaliações e aos comentários dos leitores, promovendo então uma interação discursiva entre os leitores e editores. Estes comentários de notícias de internet são caracterizados pela dinamicidade da escrita e de seus discursos que são construídos historicamente. Os discursos estão verbalizados, materializados e constituídos nos comentários que segundo Eni Orlandi, é na formulação que a língua gem ganha vida, que a memória se atualiza, que os sentidos se decidem, que o sujeito se mostram e se esconde. Na análise desse trabalho o sujeito em estudo é constitutivo porque ele se apresenta neste dizer. Assim, sob o viés da Análise do Discurso a presente comunicação tem a finalidade de analisar os discursos expressos pelos distintos interlocutores e sujeitos histórico-sociais que publicaram seus textos após a notícia, Ato contra o AI-5 digital, encontrada no blog do Sérgio Amadeu. Pretendemos também entender porque os discursos emergem no seio das problemáticas selecionadas pelos leitores e verificar quais interdiscursos emergem no intradiscurso em questão e

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analisar o porquê deles conjurarem poderes. A união do nosso arquivo de comentários juntamente com as proposições ideológicas a quem nos firmamos neste trabalho será capaz de nos dar a possibilidade de entender as condições de produção desses leitores-autores para então entender os discursos que por eles circulam e que influenciam outros comentários com a ideologia e características discursivas semelhantes.

Linguagem e Exclusão: uma análise semiótica de O Enigma de Kaspar Hauser e A Maçã

Autor Letícia Faria Conde E-mail [email protected] Orientador Mônica Baltazar Diniz Signori Financiador CNPq Resumo O trabalho propõe descrever e interpretar os elementos textuais presentes nos filmes A Maçã, de Samira Makhmalbaf (1998), e O Enigma de Kaspar Hauser, de Werner Herzog (1975), focalizando, sobretudo, a necessidade da liberdade, do social, do cultural, do natural e, pirncipalmente, da linguagem para a constituição de uma identidade. Com vistas a empreender a análise, o subsídio teórico e metodológico advém da Semiótica Greimasiana, derivada dos trabalhos de Algirdas Julien Greimas e seu grupo, campo de saber para o qual o texto é seu objeto de estudo, examinando o procedimento de organização textual e os mecanismos enunciativos de produção e recepção do texto, havendo a necessidade de se estabelecer o percurso gerativo do sentido. A partir desse pressuposto, foram analisados os enunciados sincréticos dos textos fílmicos, buscando depreender a correlação entre exclusão → liberdade → linguagem → identidade. Utilizando a justaposição dos filmes como parte da metodologia para melhor compreensão, pode-se concluir que, apesar de ambos os filmes serem opostos na colocação do quão mais simples ou mais dificultosa que pode ser a inserção de um indivíduo na sociedade (sendo uma frustração para Kaspar e uma libertação para as meninas), ainda assim, seguem uma mesma linha de raciocínio: o desenvolvimento de um ser humano somente se dá se ele está consciente de si, e para tal consciência é necessário o contato com outros serem humanos, em sociedade, para desenvolvimento da alteridade e subjetividade, na imbricação do cultural e do natural.

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Ritos genéticos editoriais - do impresso ao audiolivro: as circunscrições da coenunciação editorial

Autor Letícia Moreira Clares E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado Resumo Nesse trabalho de Iniciação Científica buscamos pensar, a partir do lugar do revisor de textos, os processos editoriais adotados pela Secretaria Geral de Educação a Distância da Universidade Federal de São Carlos (SEaD-UFSCar). Tomamos como objeto de análise as versões impressa, roteiro de adaptação textual e audiolivro do material didático "Reflexões sobre o fazer docente", nas quais nos propomos a investigar como se dão as manobras linguístico-discursivas específicas de cada um dos processos de tratamento dos textos, focalizando, sobretudo, o modo como as circunscrições do revisor de textos enquanto coenunciador editorial o situam na dicotomia leitura e autoria. Para tanto, ancoradas no método descritivo interpretativo da Análise do Discurso de linha francesa, mobilizamos os conceitos de regimes de genericidade e mídium, propostos por Dominique Maingueneau, e, ainda, de ritos genéticos editoriais, pensados por Luciana Salazar Salgado. Procuramos inicialmente fazer um breve panorama dos elementos conjunturais imersos no universo discursivo editorial e explicitar as etapas de produção de cada versão do material em estudo, para, assim, partirmos para as discussões acerca do lugar do revisor de textos e prosseguirmos com as análises dos dados selecionados no corpus. Nossos resultados indicam a instabilidade tanto dos processos editoriais abordados quanto do próprio lugar de inserção do revisor de textos, ambos mergulhados em um ambiente de práticas movediço e sujeito a constantes (e indispensáveis) mudanças de direção.

Os mecanismos semântico-pragmáticos de expressões semifixas da língua portuguesa

Autor Lucas Bueno Bergantin E-mail [email protected] Orientador Prof. Dr. Dirceu Cleber Conde Financiador CNPq Resumo Este projeto de pesquisa, vinculado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – CNPq, tem por objetivo tentar compreender a estruturação e funcionamento de determinadas expressões formulaicas do português brasileiro que têm comportamento semifixo, ou seja, são compostas parte por sintagmas rígidos e parte por elementos permutáveis – a exemplo de “veja se eu tenho cara de x”, “x é tudo igual”, “x que é x não p”, entre outras.

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Buscamos elementos que possibilitem dimensionar e conceitualizar este tipo de ocorrência por meio da compreensão de seu mecanismo semântico-pragmático. Para tanto, a pesquisa tem se desenvolvido por meio de análise e de teste de sentenças correntes que satisfaçam o critério desenvolvido, bem como de discussão teórica dos dados obtidos, de forma que possamos alcançar descrições formais para as expressões semifixas estudadas. Valemo-nos, pois, de teorias semântico-formais e de princípios pragmáticos com vista a formular hipóteses para o processamento linguístico deste tipo de expressão formulaica.

As várias funções dos diminutivos em português: uma análise sob a perspectiva da semântica formal

Autor Manolo Abe Funcia E-mail [email protected] Orientador Renato Miguel Basso Financiador Fapesp Resumo O diminutivo, comumente classificado como um indicador de dimensão diminuta, pode ter outros usos que vão além de fazer referência a um objeto (animado ou inanimado) com proporções reduzidas de tamanho físico. Se por um lado temos que ‘portinha’ é uma porta pequena, por outro, ‘amarelinha’ não é uma “amarela pequena”, mas sim um vocábulo de significado autônomo sem relação com grau de diminuição de tamanho. Podemos fazer uso do diminutivo também para veicular intensidade, como em “Este tranquilizante vai te deixar calminho”, onde ‘calminho’ é, em algum sentido a ser explicitado neste projeto, ‘mais que calmo’; e o diminutivo ainda pode indicar afetividade, seja para atitudes positivas/apreciativas, como em “Meu filhinho está acima do peso, está com 120 kg”, ou para atitudes negativas/pejorativas como em “Aquela mulherzinha veio reclamar do som da festa de novo”. Este último uso está fortemente ligado ao falante que o emprega, pois carrega, segundo a hipótese a que investigaremos, a subjetividade de quem o enuncia; sendo assim, os usos do diminutivo como intensificador (caso de ‘calminho’) e expressivos (afetivos, ‘filhinho’, e pejorativos, ‘mulherzinha’) podem ser analisados como implicaturas convencionais conforme definidas por Potts (2005). Em resumo, nosso objetivo aqui é desenvolver para o diminutivo do português uma análise semântico-formal nos moldes daquela desenvolvida por Potts (2005, 2007) para o inglês e por Fortin (2011) para o espanhol, argumentando que o “significado expressivo” se encontra numa dimensão (cf. Potts, 2005) de significado diferente daquele que traz somente o significado proposicional.

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Descrição e formalização da palavra 'isso'

Autor Matheus Bittencourt Cipolli E-mail [email protected] Orientador Renato Miguel Basso Resumo Apesar de ser usada frequente e cotidianamente, em diversos contextos linguísticos, definir semanticamente a palavra 'isso' é algo profundamente complexo. 'isso' pode ser usado deiticamente (i.e., acompanhado de um apontamento) e também anaforicamente. Contudo, 'isso', em princípio, não possui traços de gênero, o que por si já torna interessante entender os mecanismos que esse anafórico lança mão para retomar algo. Quando usado deiticamente, apresenta um comportamento similarmente complicado uma vez que pode se referir a entidades de ambos os gêneros (como, por exemplo: 'isso é uma cadeira' ou 'isso é um poste'). Em vista desses problemas, propomos uma estratégia para descrever a palavra 'isso' baseada na ausência de gênero de tal item, ou seja, o comportamento de 'isso' pode ser explicado por seus traços-phi. Mais especificamente, propomos que a palavra 'isso' não carrega traços-phi e portanto não impõe nenhum restrição no domínio de indivíduos (entendendo os traços-phi de gêneros como funções parciais de identidade que tem como domínio o domínio de indivíduos). Assim, deiticamente, esse item 'pode' se referir a qualquer coisa entidade (presente no contexto, pois se trata de um uso dado via apontamento). Por esse raciocínio, deveríamos esperar que, anaforicamente, 'isso' tivesse como antecedente qualquer indivíduo do domínio, mas não é esse o caso como mostram os exemplos: 'João comprou [um livro]. ?[Isso] custou caro'; 'João ganhou [uma caneta]. ?[Isso] era linda'. A ausência de traços-phi de gênero em 'isso' funcionam como um mecanismo de concordância de modo que, anaforicamente, 'isso' só pode retomar constituintes que não projetem traços-phi (i.e., constituintes que sejam encabeçados por um DP); essa ideia pode explicar, por exemplo, a aceitabilidade de sentenças como: 'João foi demitido. Isso aconteceu ontem', 'João caiu da escada e isso deixou Maria irritada', nas quais os antecedentes de 'isso' são eventos veiculados por estruturas diferentes de DPs.

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Discurso, Política e Poética: os discursos sobre o poeta e a poesia no Ministério da Cultura

Autor Pedro Alberto Ribeiro Pinto E-mail [email protected] Orientador Prof. Dr. Carlos Piovezani Financiador Fapesp Resumo Nossa pesquisa, atualmente em suas etapas iniciais de desenvolvimento, visa à análise dos dizeres acerca da temática “poetas” e “poesia” em circulação no site do Ministério da Cultura (MinC) a partir da Análise do Discurso francesa, derivada dos trabalhos de Michel Pêcheux e seu grupo, tendo por objetivo maior depreender (i) o que a política diz sobre a poesia e o papel do poeta na sociedade brasileira contemporânea; (ii) os discursos manifestados e/ou silenciados pela política exercida durante as gestões presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, e (iii) as maneiras pelas quais estes discursos se configuram tendo em vista sua materialidade linguística e histórica. Nesse sentido, interessa-nos descrever e interpretar onde tais dizeres se manifestam (em que páginas, sessões, gêneros discursivos), o que falam propriamente (quais já-ditos retomam, em quais cadeias parafrásticas se inserem) e como estes falares se constroem (os recursos linguísticos, enunciativos e textuais empregados para produzir seus efeitos de sentido), buscando, assim, realizar uma abordagem simultaneamente descritiva, explicativa e crítica dos fenômenos analisados.

Análise do Discurso (AD) e teoria da argumentação (ta): um diálogo possível na análise de televangelhos

Autor Sarah Menoya Ferraz E-mail [email protected] Orientador Roberto Leiser Baronas Financiador CAPES Resumo Os estudos apresentados aqui são resultados de uma dissertação de mestrado em andamento que tem como finalidade o desenvolvimento de uma pesquisa filiada aos pressupostos da Análise do Discurso francesa e que conta com algumas contribuições teóricas da Teoria da Argumentação tendo em vista seus pontos de contato. O objeto escolhido para análise é composto por dois modelos de televangelhos, comunicação religiosa veiculada na mídia televisiva que visa propagar o evangelho. Os programas contam com a gravação de uma cerimônia presencial. Observam-se um modelo do discurso evangélico e um modelo do discurso católico. A articulação das duas teorias que embasam a pesquisa se faz ante o conhecimento de que tratamos de um discurso que se

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constitui graças o quadro cenográfico que sua enunciação implica. O objetivo principal é refletir sobre a necessidade de justapor duas epistemologias para análise do corpus, visto que o corpus escolhido para análise justifica, por si só, o uso das diferentes teorias. Isso acontece porque o objeto de análise é multifacetado e se constitui pelas práticas argumentativa e discursiva. Entende-se, portanto, que o carrefour teórico viabilizado se faz necessário para a descrição da cenografia implicada no discurso dos televangelhos. Em outras palavras, o televangelho é uma comunicação que permite a construção de uma cenografia aliada a recursos argumentativos.

Transcrição de fala em ruído: um exercício em fonética forense

Autor Siméia Rafaela Nunes Casati E-mail [email protected] Orientador Pablo Arantes Resumo O trabalho consiste em uma análise aprofundada de vinte e dois trabalhos que foram realizados no “Laboratório 1 - Materialidade Linguística: aspectos fonológicos”, por alunos de graduação em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos. O exercício foi precedido por duas aulas teóricas sobre fonética forense, onde se discutiu os problemas linguísticos relacionados à transcrição de fala em situação de ruído, cenário comum em análises forenses. Estes trabalhos são transcrições ortográficas de duas gravações de áudio em que um falante de português brasileiro narra duas histórias. A partir das gravações, foram geradas versões em que a fala foi encoberta por ruídos de dois tipos: tráfego de trânsito e um programa de televisão em língua sueca. Os ruídos de tráfego de trânsito e de televisão possuíam quatro e cinco níveis diferentes de intensidade respectivamente. O nível zero não continha ruídos sendo, portanto, a versão original das gravações. Estas foram transcritas partindo do nível com maior intensidade de ruídos para o menor, até chegar à gravação original. O software utilizado para as análises foi o PRAAT na versão 5.3.52 (www.praat.org). Este software permite a análise e síntese da fala. A análise do desempenho dos transcritores consistiu no cálculo de dois índices para cada gravação: para cada nível de ruído determinou-se a porcentagem de palavras transcritas e a porcentagem de duração dos tempos transcritos. Nos dois casos, as porcentagens foram calculadas tomando como referência o total de palavras e de tempo transcritos (descontando os trechos de silêncio) na gravação sem ruídos. Ao fazer a análise desses trabalhos, foi possível perceber que os alunos tiveram maior dificuldade ao fazer a transcrição do áudio com ruídos de tráfego de trânsito, principalmente na condição de nível mais ruidoso. Nosso objetivo é entender o porquê, apesar do ruído de televisão conter falas sobrepostas, prejudicou menos a transcrição que o ruído de tráfego. Pois as frequências das vozes da televisão e do locutor possuem

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frequências próximas e difíceis de serem distinguidas. Essa situação pode ter ocorrido devido ao fato das diferenças na distribuição da intensidade das vogais, pois na gravação que recebeu o ruído de tráfego parte das vogais tinha valores de intensidade menores, o que pode ter prejudicado a audibilidade da fala. Analisando os trabalhos foi possível perceber que o comportamento dos alunos ao transcreverem as duas faixas de áudio foi mais variável, em relação ao ruído, na faixa que continha ruídos de televisão. Foi possível perceber também que a porcentagem mediana de transcrição tanto de palavras como de tempo são bem próximas. No entanto, conforme o nível ia diminuindo na faixa com ruídos de tráfego, a melhora das transcrições ocorria de forma mais rápida do que na faixa com ruídos de tevê. Houve também erros linguísticos. Um erro que chamou a atenção foi o da palavra _“sueca”_ que foi confundida com palavras como _“festa”_, _“cueca”_ e _“véspera”_. Todas essas palavras possuem a mesma vogal aberta E. Através disto é possível dizer que os falantes confundem todas as consoantes ao redor, menos a vogal. Ela se manteve em todas as possíveis palavras entendidas pelos alunos.

A importância da blogosfera literária no percurso de constituição de uma

escritora independente

Autor Talita Maria de Souza E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado Resumo A ampla expansão da Internet trouxe consigo uma série de possibilidades, entre elas a possibilidade de qualquer pessoa dar visibilidade ao seu trabalho. Com isso, temos acompanhado uma série de profissionais saindo do anonimato, destacamos aqui os escritores independentes. Eles sempre existiram, mas o espaço possibilitado pela Internet e o apoio das redes sociais e dos blogs literários, que são relativamente recentes, têm sido fundamentais para a potencialização da divulgação de seus trabalhos sem o apoio da mídia tradicional. Esta pesquisa focalizou a divulgação do trabalho de uma escritora independente brasileira, do gênero Chick-Lit, por meio da observação da circulação e recepção de um de seus livros na esfera digital através do rastreamento de blogs literários que comentam a sua obra. O ambiente digital foi escolhido por ser o principal meio de divulgação e de diálogo entre a escritora e os leitores. Além disso, justifica-se a opção por este ambiente devido ao fato de os blogs serem construídos espontaneamente, por leitores que se sentem impelidos a dividir suas experiências de leitura através de resenhas, criando, assim, um espaço interessante e inovador de discussão e análise dos gestos de leitura dos trabalhos dos escritores independentes. Para tanto, serão mobilizadas nas análises algumas das discussões de Michel

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Foucault a respeito dos jogos de poder e a noção de Semântica Global desenvolvida por Dominique Maingueneau.

Cenografia, ethos e comunicação: a contemporaneidade construída no marketing viral do banco Itaú

Autor Thayara Patricia Galterio E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado Financiador Fapesp Resumo Em face do que se propôs no Projeto “Ethos, humor e publicidade: estratégias do discurso humorístico na construção e difusão de uma imagem corporativa” (FAPESP, Processo n.2012/06864-4), apresentaremos o projeto desenvolvido nos quatro meses de estágio no Céditec - Centre d’étude des discours, images, textes, écrits, communication, sob supervisão da Profa. Dra. Alice Krieg-Planque. Trata-se de prosseguir nas reflexões sobre ethos discursivo com base na teoria das cenas da enunciação proposta por Dominique Maingueneau (2006; 2008; 2012) seguindo na análise do funcionamento do marketing viral produzido para o Banco Itaú. Nosso corpus reúne dados estatísticos e peças publicitárias em que a imagem corporativa aparece contundentemente, ao construir uma noção de contemporaneidade constituída pela confluência de discursos típicos do período técnico-científico-informacional, tal como o refere Milton Santos (1996; 2011). Para examinar a potência dessas peças publicitárias, entenderemos a comunicação como um conjunto de saberes e habilidades que antecipam, nos enunciados, suas formas de retomada, conforme conceituação de Alice Krieg-Planque (2009; 2010).

Análise de questões de língua espanhola do ENEM: Algumas abordagens sobre língua e cultura

Autor Vânia Cristina de Oliveira E-mail [email protected] Orientador Isadora V. Gregolin Resumo Neste trabalho, apresentamos os resultados iniciais de pesquisa de Iniciação Científica que vem sendo desenvolvida com objetivo de compreender o tipo de abordagem sobre cultura presente nas questões de língua espanhola do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). As análises buscam investigar de que forma as questões presentes no exame, entre os anos de 2010 e 2012, se relacionam com as habilidades exigidas e previstas na Matriz de Referência

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(INEP, 2010), confrontando-as com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 2000) e com as Orientações Curriculares Nacionais (OCNs) (BRASIL, 2006). A pesquisa objetiva, com as análises, averiguar de que forma os textos-base das questões de língua espanhola do ENEM são explorados, se apenas servem como pretexto para verificação de conhecimentos lexicais e gramaticais, quais são as fontes dos textos utilizados, qual(is) cultura(s) é (são) privilegiada(s) etc. A fundamentação teórica que serve de base para a pesquisa baseia-se na discussão sobre as noções de cultura e interculturalidade (VIANA, 2003) e (KAWASHI, 2011) e sobre a Teoria das Competências e Habilidades (PERRENOUD, 1999). As análises iniciais evidenciam como resultados que há diferentes concepções de cultura presentes nos textos-base das questões de língua espanhola do ENEM e que há predominância de textos e aspectos relacionados à cultura latina. Com o refinamento das análises e a finalização da pesquisa, esperamos cooperar para a reflexão sobre o ensino-aprendizagem de língua espanhola no Brasil, na medida em que as questões presentes no ENEM podem evidenciar aspectos a serem trabalhados em sala de aula.

Funcionamento discursivo do Clube de Autores

Autor Vitória Ferreira Doretto E-mail [email protected] Orientado Ana Silvia Abreu Financiador CNPq Resumo Na sociedade contemporânea, a internet marca sua presença no mercado de trabalho e na vida pessoal dos indivíduos. Com isso, o mercado editorial tem se adaptado à tecnologia e uma nova plataforma de edição de livros surgiu no ambiente virtual e vem criando concorrência com as editoras tradicionais: o site brasileiro Clube de Autores (www.clubedeautores.com.br), que revoluciona o meio editorial e publica gratuitamente obras de autores nacionais. Esse projeto de pesquisa visa compreender o funcionamento discursivo do site, analisar seu jogo parafrástico, de deslizamento dos sentidos de autor, direito autoral, obra, edição de obra, mediação no processo de circulação; compreender a contribuição do site para fortalecer o campo da criação, circulação e gestão de bens culturais e analisar a frequência de determinados gêneros publicados pelo Clube, tomando como base as teorias de Análise de Discurso de Michel Pechêux e Eni Orlandi. Em uma análise inicial do site, na perspectiva discursiva, verificamos o uso recorrente de termos como “autor”, nesse caso, produzindo diversos sentidos que ultrapassam a esfera de autoria de texto ao acumular diferentes funções no processo de publicação, como editor, revisor e autor.

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A diferença entre a Ironia e Sarcasmo: análise e formalização semântico-pragmáticas

Autor Yan Masetto Nicolai E-mail [email protected] Orientador Dirceu Cleber Conde Resumo O objetivo desta pesquisa é desenvolver uma descrição formal semântico-pragmática para contribuir com o entendimento de mecanismos de produção e de Implicaturas Conversacionais, de forma extrapolativa, que levam aos efeitos de Ironia e Sarcasmo. Essas duas formas exploração das Máximas Conversacionais se diferenciam: a primeira sendo a negação proposicional e a segunda carregando um conteúdo extra do que é exposto pela sentença enunciada. Intuitivamente são formas distintas pelo senso comum, mas pouco exploradas metodologicamente. Através do estudo descritivo formalizado, pretende-se que os procedimentos de produção de Ironia e Sarcasmo sem melhor compreendidos em sua distinção.

Autoria e plágio – Sentidos em circulação na mídia Autor Wilson Ricardo Barbosa dos Santos E-mail [email protected] Orientador Ana Silvia Couto de Abreu Financiador CNPq Resumo Na mídia, divulgam-se casos de docentes de universidades públicas e particulares que são submetidos a processos de retratação, por conta de terem assumido a posição de plagiários. Com as novas possibilidades da Internet, este gesto parece ganhar contornos peculiares, acontecimento este que julgamos ser importante problematizar. Tomamos como objeto a Revista Nova Escola, em sua versão digital (http://revistaescola.abril.com.br), e notícias de casos de supostos plágios selecionadas dos jornais O Estado de S. Paulo (www.estadao.com.br) e Folha de S. Paulo (www.folha.com.br), no período de 2000 a 2010. Quais sentidos de autoria e plágio circulam nesses espaços digitais? Qual a posição atribuída ao professor nas reportagens sobre “copiar e colar”? Que imaginário acaba por se estabilizar sobre autoria e ética, como efeito da circulação de casos de plágio na mídia? O que a mídia entende como relevante para se tornar notícia e, em que medida, essa notícia ganha corpo histórico, no sentido de o leitor poder acompanhar o desenrolar do suposto caso de plágio? Essas questões que nos mobilizam surgem no contexto de filiação à Análise de Discurso de linha francesa, para a qual há que se analisar a materialidade da língua constituída por condições determinadas de produção,

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para se compreender o funcionamento discursivo de um corpus. Em relação à revista Nova Escola, pudemos observar que sua autoria se pauta em uma relação tensa com o discurso pedagógico, o que juntamente ao corpo do sítio forneceu-nos pistas para compreender aspectos de sua estruturação discursiva: fazendo largo uso do conceito de formações imaginárias pecheuxtiano, observamos que o trabalho docente é tomado como precipuamente falho, representando indícios de um imaginário cunhado a partir de um vazio historicamente presente na profissão, do mesmo modo como se concebe a prática do professor que o acessa, impossibilitado este de colocar-se na posição de autoria; o sítio, assim, vale-se desta memória para concretizar sua formulação, transplantando sentidos do pedagógico para seu corpo. Nos jornais, exploramos primeiramente como o nome das instituições midiáticas funcionam de modo a dar fidedignidade aos conteúdos, funcionando, assim, como um nome de autor; no curso dos casos de plágios acadêmicos veiculados nas reportagens, notamos como a questão ganha um intenso corpo político, despertando um grande interesse institucional em normatizar sentidos que circulam acerca do plágio em suas circunscrições, gerando um movimento circular: o plágio, uma censura do autor original, seria assim o ponto incoativo de uma censura institucional a determinados efeitos gerados; em uma via contrária, os pesquisadores que se mostram contra o plágio se valem de sentidos de resistência face à prática, que buscamos também evidenciar. 3. Grupos De Pesquisa e Projetos

Comunica - reflexões linguísticas sobre comunicação

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Autor Luciana Salazar Salgado E-mail [email protected] Orientador Luciana Salazar Salgado/Luiz André Neves de Brito Co-autores: Prof. Dr. Luiz André Neves de Brito Amanda Chieregatti André Miller Camila Passucci Helena Maria Boschi da Silva Jaqueline Ribas Kelly Christi Letícia Moreira Clares Lorena Gobbi Ismael Luciana Rugoni Souza Marcela Luisa Moreti Talita Maria de Souza Thayara Galterio Resumo O grupo de linguistas se reúne em torno de textos que pautam reflexões sobre a comunicação no mundo contemporâneo. Não necessariamente textos de comunicação, não exatamente teorias de um campo específico. A amplitude desse território parece pertinente na medida em que, estribado nas questões fundamentais da linguística, permite tratar fenômenos de língua e linguagem na sua relação com elementos extralinguísticos, investigando práticas novas, retomando conhecimentos fundadores, abordando problemáticas que se põem como cruciais não só aos pesquisadores e profissionais da linguagem, como a qualquer cidadão que assuma sua condição de partícipe na construção social e política das comunidades em que vive, isto é, sua condição irredutível de interlocutor. A partir de setembro de 2012, o grupo de estudos deu origem a um núcleo que configura o Grupo de Pesquisa Comunica, que reúne integrantes do grupo de estudos engajados formalmente em algum projeto de pesquisa individual.