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III SEMINÁRIO DE TRADUÇÃO Formação e mercado profissional · Nesta apresentação, exploraremos possibilidades de tratamento de estrangeirismos e referentes culturais em traduções

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III SEMINÁRIO DE TRADUÇÃO

Formação e mercado profissional

27 a 29 de setembro de 2017

Faculdade de Letras – Campus UFJF

Comissão organizadora

Adauto Lucio Caetano Villela

Carol Martins da Rocha

Carolina Alves Magaldi

Charlene Martins Miotti

Enilce do Carmo Albergaria Rocha

Mayra Barbosa Guedes

Patricia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda

Sandra Aparecida Faria de Almeida

Comissão científica

Aline Garcia Rodero Takahira

Carla Couto de Paula Silvério

Carol Martins da Rocha

Charlene Martins Miotti

Enilce do Carmo Albergaria Rocha

Mayra Barbosa Guedes

Patricia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda

Sandra Aparecida Faria de Almeida

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Programação

27/09/17 – quarta-feira

Abertura: 18h às 18h30 – Credenciamento

19h- Conferência de abertura – Tradução e mercado:

onde estamos e onde queremos chegar?

Profª Drª Érica Alves de Lima (UNICAMP)

28/09/17 – quinta-feira

8h às 10h – Apresentação de trabalhos

10h30 às 12h – Conferência: Tradução para dublagem e

mercado profissional

Profª Dilma Machado (PUC-Rio)

14 às 17h – Oficina de dublagem

Coffee break – 17h às 17h30

17h30 às 18h30 – Mostra de tradução audiovisual

19h – Conferência: As Saturnais em Verso: Tradução

dos Epigramas Saturninos de Marcial

Prof. Dr. Alexandre Agnolon (UFOP)

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29/09/17- sexta –feira

8h às 10h – Apresentação de trabalhos

10h30 às 12h – Mesa redonda: Tradução, trabalho e

ensino: perspectivas

Profª Drª Giovana C. Campos de Mello (UFF)

Tibério Couto Novais (JUCEMG/JF)

14h às 17h – Oficinas

Coffee break- 17h às 17h30

17h30 às 19h30 – Mesa redonda – Desafios e

recompensas da tradução editorial

Profª Drª Enilce Albergaria Rocha (UFJF),

Drª Ivone Castilho Benedetti (USP)

Profª Walquiria Cardoso Vale (UFJF/Aliança Francesa)

19h30 – Encerramento

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RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES Estrangeirismos e referentes culturais: marcas linguísticas da estrangeiridade

Prof. Dr. Adauto Lúcio Caetano Villela (UFJF)

Ao lado de proporcionar a superação de barreiras linguísticas, a tradução pode também oferecer acesso a realidades extralinguísticas, culturais e históricas diferentes. Nas traduções de um idioma para o outro, os estrangeirismos e referentes culturais, também conhecidos como culture-bound itens (itens culturalmente marcados) ou realia, são as principais marcas dessa diferença. Entende-se por estrangeirismo, segundo a definição de um dicionário, a palavra ou expressão estrangeira usada num texto em vernáculo, tomada como tal e não incorporada ao léxico da língua receptora. Já os culture-bound itens ou realia são definidos por Aiga Dukate (2009) como palavras de uma língua nacional que denotam objetos, conceitos e fenômenos característicos de uma cultura e/ou período histórico específico e que, portanto, transmitem cores nacionais, locais ou históricas. Contudo, o modo de tratar tais marcas de alteridade pode variar bastante conforme o tipo de tradução, a postura que o tradutor pode assumir diante delas e mesmo a época em que o trabalho tradutório é realizado. Nesta apresentação, exploraremos possibilidades de tratamento de estrangeirismos e referentes culturais em traduções para o português do Brasil, exemplificando – com duas traduções em que o multiculturalismo é característica marcante: um trabalho de localização de site e um conto traduzido em Mar de histórias: antologia do conto mundial – como sua presença nos põe em contato com outras culturas e épocas.

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Tradução comentada do texto de Walter Benjamin “A Tarefa do Tradutor”, tradução de Susana Kampff Lages para a língua brasileira de sinais

Ádila Silva Araújo Marques (UFPI)

Kátia Lucy Pinheiro (UFC)

Thaís Fleury Avelar (UFG)

Este título apresenta uma tradução comentada para a Língua Brasileira de Sinais (Libras), disponibilizada em vídeo, do texto de Walter Benjamin, “A Tarefa do Tradutor, a partir da tradução de Susana Kampff Lages, extraído da série Clássicos da Teoria da Tradução (Antologia bilíngue, alemão-português, 2010), com o objetivo de descrever o processo de tradução a partir das etapas desenvolvidas durante a tradução para Libras, apresentando seus aspectos metodológicos, e comentários sobre tradução, acompanhando de teorias embasadas na área de tradução. O texto foi traduzido por três pessoas, sendo uma ouvinte e duas surdas, fluentes da Libras. Estamos realizando uma tarefa da prática tradutória que envolve um texto de partida em língua portuguesa, que por sua vez é a tradução do alemão do famoso ensaio de Walter Benjamin traduzido para Libras, com uma interação comunicativa, considerando as modalidades diferentes como o caso de língua de sinais e línguas orais. Nossa tradução de acordo com a classificação de Jakobson (1975: 64-5) se enquadra como uma tradução interlingual, visto que trabalha com línguas diferentes, a Língua Portuguesa e a Libras. No entanto, essa tradução se apresenta ainda como uma tradução intermodal, considerando que o par linguístico trabalhado se diferencia quanto a modalidade das línguas envolvidas. O processo tradutório é um constante processo de aprendizagem teórico e cultural, visto que é necessário além do conhecimento das línguas envolvidas conhecer também as culturas e possuir

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competência tradutória para que o tradutor realize de maneira satisfatória seu trabalho sempre aliando teoria a prática, “integrado por um conjunto de conhecimentos e habilidades, que singulariza o tradutor e o diferencia de outros falantes bilíngues não tradutores” (ALVES; MAGALHÃES; PAGANO, 2005, p. 19). Na metodologia, antes de iniciarmos o processo de tradução organizamos um cronograma de atividades para o fazer tradutório, apresentados a seguir: estudo do texto de partida; divisão do texto; definições (sinais, vestimenta, equipamentos e locais de gravação); tradução (registros pessoais); testes; gravação de vídeo; revisão e edição; e elaboração do artigo. Após as decisões e aprovações na língua-alvo cada uma das tradutoras fazia suas transcrições que seriam posteriormente retomadas durante as gravações-testes e versão final. Nas considerações finais, a priori nosso intuito era apenas de produzir materiais (textos) teóricos de grande relevância da área de Estudos da Tradução em Libras, tendo em vista a expansão de pesquisas que envolvem as Línguas de Sinais e a ocupação cada vez maior de estudantes e pesquisadores na referida área. Palavras-chaves: Teoria da Tradução. Tradução comentada. Libras. Tradução, cultura e discurso de ódio

Ana Carolina Gustavo Tavares Maria Ângela da Costa Silva

(Graduandas/UFJF) Orientadora: Profa. Dra. Carolina Alves Magaldi

(UFJF) Questões envolvendo sexualidade, gênero, questões raciais e religiosas tem sido amplamente discutidas nas redes sociais. Entretanto, nem sempre a discussão é produtiva, havendo um grande volume de expressões de discurso de ódio. Por se

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tratar de contatos interculturais expressos por meios verbais, lançamos mão do campo dos Estudos da Tradução para compreender esse fenômeno, enfatizando a “Teoria dos Polissistemas” (EVEN-ZOHAR, 2010), a qual apresenta a ideia de que a cultura é um grande polissistema que, por sua vez, é composto por inúmeros outros polissistemas. Há uma hierarquia e uma interrelação entre todos esses polissistemas, assim como no interior de cada um deles, com a presença de um centro e de uma periferia. O conceito de “epigonia”, também elaborado por Even-Zohar auxiliará na compreensão da intensa difusão do discurso de ódio pelas redes sociais. Neste ambiente virtual, o discurso de ódio aparece como reescritura, em um processo de tradução intralingual, já que postagens com conteúdo agressivo são lidas e reescritas por várias pessoas que vão disseminando o discurso de ódio de diversas formas. Os conceitos de manipulação e patronagem (LEFEVERE, 2007) também encontram-se atrelados às questões de poder e, portanto de hierarquia. Todo texto escrito possui um grau de indução de acordo com as intenções de quem o escreve, que pode ser lido de diferentes formas, pois o leitor, ao entrar em contato com o texto, pode concordar com o que está escrito, discordar, criticar, analisar, replicar ou repudiar. Nas redes sociais ocorre o mesmo: quem escreve o discurso de ódio normalmente quer disseminar uma ideia, um padrão de comportamento. O resultado dessas análises nos permitiu agrupar os tipos de discurso de ódio a partir de seu comportamento no polissistema, bem como sob o prisma da manipulação. Temos, assim, a normalização, os soundbites, o rótulo como argumento, a eliminação da zona de interferência, o outro com ameaça e as falsas equivalências. Palavras-chave: Tradução, cultura, discurso de ódio, redes sociais, polissistemas.

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Diálogos & poesia: relato de uma tradução lusoargentina Anelise de Freitas

(UFJF) A proposta deste trabalho, submetido ao “III Seminário de Tradução da UFJF”, é a de um relato de prática profissional. Enquanto fui aluna do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora (2014-17), durante o mestrado em “Literatura, Identidade e Outras Manifestações Culturais”, pesquisei sobre as cenas contemporâneas de poesia brasileira e argentina. Havia um novo formato de antologias que se baseavam em curadorias de gestão coletiva, na qual um poeta indicava outro de seu círculo afetivo. A partir desse (quase) método de criação e pesquisa, eu encontrei uma poeta jovem, que fazia parte de um pequeno circuito de poesia na região sul da província de Buenos Aires. Eu traduzi alguns de seus poemas e quando eu já tinha traduzido um número considerável dos poemas esparsos publicados pela internet Alfonsina Brión, a poeta, me enviou mais quatro poemas inéditos. Eu começara em 2014 um projeto editorial com Otávio Campos e Fernanda Vivacqua, que logo perceberam que eu havia construído um livro antológico da poeta argentina. Então, a partir daí, começamos a conceber uma coleção chamada “Bajo América”, com o objetivo de trazer ao Brasil nomes da poesia atual feita por poetas da América hispânica. Os poemas a serem traduzidos foram escolhidos por mim e assim que os trabalhos de antologia e tradução foram concluídos o livro foi publicado pelas Edições Macondo. Naquele outubro de 2016, sob o título de “Vista aérea y otros poemas”, no VI Festival Internacional de Poesia de Bahía Blanca, na Argentina, vinha ao mundo o primeiro fruto de um trabalho longo e tenso de convivência com elementos descritores de uma poética que deveria ser traduzida e, consequentemente, criava inúmeros questionamentos sobre o próprio fazer da tradução. Desta forma, essa proposta de intervenção sugere uma revisão desses processos de

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tradução a partir do a) afeto na curadoria e seleção de textos do autor (ou autora) a ser traduzido(a), b) gestão dos processos tradutórios e imbricações linguísticas e c) editoração e publicação de traduções de poesia em um contexto brasileiro. Palavras-chave: tradução; relato profissional; poesia brasileira; poesia argentina; produção editorial. A tradução de música gospel: análises a partir das canções gravadas pelo grupo “Diante do Trono”

Cleverlaine Conceição Santiago (UFJF)

O trabalho em questão analisa um conjunto de cinco canções gospel que foram gravadas pelo Ministério de Louvor Diante do Trono (DT) e traduzidas por Ana Paula Valadão Bessa.Vale destacar que três dessas canções são de autoria dos cantores norte-americanos Shannon Alford & Sion Alford, Kari Jobe e John Mark McMillan e duas de autoria de Ana Paula Valadão, cantora e líder do grupo mencionado. A partir desse corpus de análise, tendo em vista o fato de que a referida cantora exerce o ofício de versionista e autotradutora, no que diz respeito à tradução das canções do grupo DT, a pesquisa visa verificar a postura tradutória adotada por Ana Paula Valadão Bessa relacionando-a as escolhas tradutórias realizadas por ela. Como aporte teórico utiliza-se o conceito de Franzon (2008), que explicita cinco possibilidades tradutórias, que podem ser adotadas por tradutores de canções, e apresenta ideias concernentes à combinação prosódica, poética e semântico-reflexiva (FRANZON, 2008). Dentro dessa perspectiva, a partir de Lefevere (1992), o trabalho expõe a questão da patronagem e da reescrita associado-as à tradução de música, que nesse caso está pautada nas canções do grupo Diante do Trono. Dessa forma, respaldado no fato de que o grupo DT faz parte da igreja evangélica Batista da Lagoinha, verifica-se que o mesmo apresenta a

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patronagem não-diferenciada, na medida em que os componentes ideológico, econômico e de status confluem na figura de uma mesma instituição religiosa. A análise é feita a partir do pareamento da canção original e da versão. Como resultado, observa-se que, de modo geral, a postura tradutória de Ana Paula Valadão Bessa manteve-se, tendo em vista que a combinação semântico-reflexiva, na maioria das vezes, sofreu modificações em favor das combinações prosódica e poética, o que não afetou o nível de cantabilidade das canções (como um todo) e não prejudicou a mensagem religiosa que o grupo busca propagar. Palavras-chaves: Tradução e música gospel. Patronagem. Reescritura. Ministério de Louvor Diante do Trono. Ana Paula Valadão Bessa. 12 traduções de “Hércules”: a trilha sonora da animação da Disney nos contextos brasileiro e português

Giovanna de Castro Moreira Silva (UFJF)

Orientadora: Profa. Dra. Sandra Aparecida Faria de Almeida (UFJF)

A animação Hércules, lançada pelos estúdios Disney em 1997, reconta o mito do herói em um musical, modelo já tradicional da empresa, utilizando uma narrativa apropriada para todos os públicos, modificando aspectos da história como a ascendência de Hércules, o antagonista, que deixa de ser Hera e passa a ser Hades, e a motivação por trás do percurso do herói. Para realizar um paralelo com os coros tradicionais de tragédias e comédias do teatro grego na Antiguidade, o filme conta com a presença de cinco musas, personagens mitológicas que recebem uma nova roupagem, sendo inspiradas nas Supremes e na cultura gospel. Responsáveis por contar rapidamente passagens da história através das canções, as musas recontam a mitologia em músicas inspiradas pela cultura musical afro-americana,

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mesclando o passado longínquo com a atualidade. O trabalho, desta forma, tem por objetivo analisar a inserção da obra em seus respectivos polissistemas literários, original e traduções, levando em consideração as realidades de cada cultura e sua relação com as culturas-fontes – tanto a estadunidense quanto a clássica, utilizando os conceitos de Even-Zohar (1990 [1978]) sobre a teoria dos polissistemas e de Lefevere (1992) sobre manipulação, reescritura e patronagem na construção das narrativas das seis canções do filme em suas versões originais, em inglês, e em suas traduções para o português brasileiro e para o português europeu. Em um enfoque mais específico, o presente trabalho se apoia ainda em di Giovanni (2008), que trata das categorias de tradução de canções de musicais, e em Franzon (2008), que trata dos aspectos prosódicos, poéticos e semântico-reflexivos que permeiam a tradução de canções. A hipótese central do trabalho é de que o polissistema clássico é pressionado por aspectos estéticos e ideológicos da cultura estadunidense, que, por sua vez, influencia em diferentes graus as versões para os mercados brasileiro e português. Estes detêm, eles mesmos, características próprias, evidenciadas nas escolhas dos tradutores. As análises preliminares apontam que existe uma compressão do mito clássico na sua representação cinematográfica por parte do sistema cultural estadunidense justificáveis por sua inserção na cultura contemporânea. Além disso, as versões brasileira e europeia carregam marcas de seus próprios polissistemas, evidenciadas na maneira relativamente distinta com que o herói é retratado em cada uma dessas traduções. Palavras-chave: Tradução de musicais; Teoria dos polissistemas; Reescritura; Mito de Hércules.

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Homero em português no século XXI Prof. Dr. Gustavo Henrique Montes Frade

(UFJF) O início do século XXI parece confirmar o interesse dos leitores pela poesia narrativa de Homero. As traduções publicadas no Brasil — incluindo as novas tentativas de brasileiros ou portugueses e as reedições daquelas dos séculos XIX e XX — dão mostra dessa curiosidade que se renova: a Ilíada circula nas traduções de Haroldo de Campos (2003), de Odorico Mendes (2010, originalmente lançada em 1874), de Frederico Lourenço (2013, em edição brasileira, mas lançada em Portugal em 2003) e de Carlos Alberto Nunes (2015, na reedição mais recente, mas originalmente lançada na primeira metade do século XX); a Odisseia está disponível traduzida por Donaldo Schüler (2007), por Frederico Lourenço (2011, na edição brasileira, mas originalmente de 2005), por Trajano Vieira (2012), por Christian Werner (2014) e por Carlos Alberto Nunes (2015, na reedição mais recente). A proposta dessa comunicação é, brevemente, comparar os projetos e resultados de cada uma dessas traduções (e de seus projetos editorais, seja de publicação pela primeira vez ou republicação) a partir de uma leitura de um pequeno trecho do poema de Homero em paralelo com suas diversas traduções disponíveis para o leitor brasileiro. A partir da avaliação das respostas de cada tradutor a problemas gerais da tradução da poesia em grego antigo, como a grande elasticidade na apresentação da ordem dos elementos da oração, a utilização de palavras compostas pela junção de duas palavras, a presença de palavras que sintetizam conceitos que exigem do tradutor uma escolha entre uma variedade de sentidos possíveis, e as referencias culturais que seriam óbvias para a audiência grega arcaica, mas não necessariamente são para um leitor contemporâneo, é possível não só captar algo da concepção que cada um deles tinha da poesia de Homero e, consequentemente, da tarefa do tradutor de Homero, mas

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também fazer algumas considerações que dizem respeito à prática da tradução literária e poética de modo geral. Palavras-chave: Homero, tradução, poesia grega arcaica. O gosto da tradução: uma análise das traduções da Physiologie du Goût, de Jean Anthelme Brillat-Savarin

Iago Marques Medeiros (UFJF)

A comunicação em questão objetiva a apresentação dos resultados de uma pesquisa realizada em 2016 como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Letras – Francês, pela UFJF, cujo objeto de análise foram as traduções para o português do Brasil da obra que dera origem à gastronomia no século XIX, a Physiologie du Goût, de Jean Anthelme Brillat-Savarin, em um momento chave do desenvolvimento da literatura gastronômica no nosso país, na esteira de todo um processo mercadológico de valorização e reflexão do homem diante daquilo que lhe é mais afim, a alimentação – trata-se, aqui, de um processo de “intelectualização” da comida, ocorrida há cerca de duzentos anos na França e que reverberou para nós a partir do final do século XX também com as traduções dessa obra seminal do pensamento gastronômico francês. Partindo da definição dos perfis tradutórios e contextos de produção, em sintonia com as abordagens teóricas de Itamar Even-Zohar (2004) e André Lefevere (2007), estabeleceu-se um duplo eixo, um partindo da editora em direção ao tradutor, e outro ao inverso, do tradutor em direção à editora; este representado pelo responsável por assinar a edição de 1985, Enrique Rentería, e aquele por Paulo Neves, tradutor pela Companhia das Letras e que realizou a empreitada em 1995. A partir disso, aguçou-se a percepção dos detalhes do texto, objetivando encontrar marcas que fossem representativas daquilo que Lawrence Venuti (1995) nomeou a invisibilidade do tradutor, os títulos dos capítulos e o emprego de terminologias-chave

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do texto permitiram essa apreensão, assim como a presença, ou não, dos diversos paratextos que acompanham as traduções em questão. Finalmente, pôde-se constatar a existência de dois projetos tradutórios distintos, cada qual objetivando um público diferente com anseios próprios, evidenciando a relação de complementaridade existente entre ambas as traduções no interior do polissistema da literatura gastronômica traduzida no Brasil. Palavras-chave: Tradução de gastronomia. Fisiologia do Gosto. Invisibilidade do tradutor. Polissistema. Brillat-Savarin.

O Universo de Tolkien: um sistema dentro do polissistema tradutório

Isabella Leite (UFJF)

A partir de uma pesquisa anterior (Leite, I.A.N. 2016) intitulada “Reescrevendo o imaginário: reflexões sobre a tradução das línguas élficas em Tolkien”, um questionamento foi levantado: será que o tradutor se conscientiza de que a tradução do inglês para o português (partindo do élfico) poderia implicar na tradução reversa, do português para o élfico? Será que essa tradução se manteria a mesma? Com o objetivo de buscar uma possível resposta a tal questão, iremos propor um questionário com perguntas básicas relacionada a J.R.R. Tolkien, às línguas élficas – em específico o Quenya –, às adaptações, ao trabalho do tradutor dentre outras. Além disso, buscamos também avaliar como o trabalho do tradutor tem sido visto perante a sociedade, e por isso também serão feitas perguntas referentes a este tema. Para tanto, o objetivo deste trabalho será discutir sobre o processo de tradução existente no Universo Tolkien – termo este cunhado por nós, pois o mundo criado por Tolkien acaba se tornando, a partir da sua difusão, um “Universo” próprio. Com base na Teoria dos

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Polissistemas de Itamar Even-Zohar (1990) iremos abordar conceitos como sistemas e polissistemas. Mostrando como as línguas élficas são apresentadas dentro do polissistema tradutório. Com isso em mente, será feita a exibição de uma cena do filme “O Senhor dos Anéis: A sociedade do Anel” de duas maneiras, uma com e outra sem a ativação da legenda, procurando-se, também, estabelecer um elo com línguas reais, para que seja considerada a identificação de uma possível tradução reversa, com a apresentação de partes de trechos da obra “O Senhor dos Anéis”. Esperamos que as questões levantadas por nós possam ser respondidas a partir dos dados obtidos com a aplicação do questionário. Palavras-chave: Polissistemas; Tolkien; Even-Zohar

A tradução semiótica em Siken: da pintura para a poesia

Isabella Schiavon Cordeiro (UFJF)

O principal objetivo deste trabalho é propor a tradução de quatro poemas do americano Richard Siken – um poeta, pintor, cineasta, e editor da Spork Press –, autor atual pouco conhecido pela comunidade internacional, e assim apresentar um pouco de sua obra artística ao público brasileiro. O desafio maior das traduções aqui apresentadas encontra-se na complexidade do imaginário poético de Siken que, apesar de não possuir restrições de rima nem de métrica, apresenta elementos de ritmo essenciais à leitura do poema, assim como metáforas particulares do autor e à cultura na qual este está inserido. Os poemas traduzidos estão presentes em seu livro “War of the Foxes”, publicado pela Copper Canyon Press em 2015. As traduções aqui apresentadas têm como base a teoria de transcriação de Haroldo de Campos e Antoine Berman, apresentada principalmente nas obras “Metalinguagem e outras metas: ensaios de teoria e crítica literária” (CAMPOS, 2010) e “A tradução e a letra ou o albergue do longínquo” (BERMAN,

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1991), não pretendendo, portanto, serem traduções definitivas perfeitas, mas apenas propostas tradutórias que mantém certa fidelidade ao texto original em inglês. Além daqueles citados acima, outros textos que serviram de inspiração foram “Poesia, criação e tradução” de Paulo Henriques Britto, que ao longo de seu relato apresenta a teoria de que a tradução de poesia e a criação poética são a mesma coisa; e o artigo “O sentido e o som” de Beatriz Cabral Bastos, no qual a autora analisa as teorias tradutórias de alguns dos profissionais aqui citados dentre outros, focando principalmente na tradução de poesia. Assim sendo, ao longo do processo tradutório o interesse maior foi em manter as características mais marcantes da poética do autor – principalmente a utilização de cenas e cenários na construção de seus poemas, seu interesse na pintura como foco da narrativa poética, a metamorfose constante de seus “objetos de estudo”, por assim dizer, e a multiplicação dos pontos de vista de uma mesma cena/cenário. Palavras-chave: tradução poética; tradução criativa; Richard Siken. Abordagem da construção –ING no par inglês/espanhol: radialidade e subjetificação

Iván de Jesús Davis Ulloa (Mestrado – PPG-Linguística/UFJF)

Orientadora: Profa. Dra. Sandra Aparecida Faria de Almeida (UFJF)

Este trabalho visa a analisar o comportamento das construções -ING no par inglês/espanhol, com base nos pressupostos da Linguística Cognitiva (FAUCONNIER, 1994,1997; FAUCONNIER & SWEETSER, 1996; FAUCONNIER & TURNER, 1996; SWEETSER,1990, 1996; TALMY, 1988; TURNER, 1991; BRUGMAN & LAKOFF, 1988), a partir de uma abordagem construcional (GOLDBERG, 1996, 2005), considerando também as contribuições da Gramática

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Cognitiva (LANGACKER, 1987, 1990, 1991, 2008). Tendo em mente que o uso mais prototípico da construção reside na sua função verbal, principalmente no aspecto progressivo dos verbos, os alunos de inglês, que têm o espanhol como segunda língua, tendem a processar a construção como sendo apenas gerundial, o que, naturalmente, não se aplica a todos os casos. Assim, o presente trabalho, que se baseia em uma metodologia de natureza quantitativo-qualitativa (COOK, T. D.; REICHARDT, C. S., 1979) e utiliza um corpus paralelo comparável e manualmente alinhado, a partir da versão original e traduzida de The Adventures of Sherlock Holmes, da autoria de Arthur Conan Doyle, ambos disponíveis online. O corpus é composto por 2504 –ING construções e 1040 –NDO construções, entre outras. O objetivo geral do trabalho é identificar, analisar e categorizar as construções –ING encontradas e suas respectivas traduções para a língua espanhola, procurando identificar padrões de ocorrência. A hipótese central desta pesquisa é que a construção –ING desempenha comumente uma função verbal, que é mais central à sua rede construcional, e que as demais funções, quais sejam, a nominal, a adjetival e a preposicional, são mais periféricas, exibindo sentidos mais ou menos abstratos, verificando-se aí, também, um processo de subjetificação da construção, na medida em que ela se torna mais e mais ancorada no conceptualizador (LANGACKER, 1990). Além disso, argumentamos que existe uma organização radial (BRUGMAN & LAKOFF, 2006) para as construções –ING a partir de um nível mais concreto e situado (processo “aqui e agora”) até chegar a um nível mais abstrato e menos situado (como “coisa”) (LANGACKER, 2008). Resultados parciais evidenciam que a construção –ING pode, em determinados contextos, apresentar usos mais abstratos e mais subjetificados, ao mesmo tempo em que mantém usos mais ancorados no evento de fala e dessa forma, mais concretos e mais situados.

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Palavras chave: Linguística Cognitiva; Gramática das Construções; construções – ING; Categorias Radiais; Subjetificação. Transposição criativa e diálogo intercultural na tradução do poema Ibis de Ovídio

João Victor Leite Melo (Mestrado – PPG Literatura/UFJF)

Orientadora: Profa. Dra. Charlene Martins Miotti (UFJF) A língua portuguesa ainda não hospedou, em tradução poética, o poema imprecatório Ibis de Ovídio (43 a.C. – 18 d.C.) – extensa invectiva contra alguém que, ao pé do texto, difamava o nome do poeta e se aproveitara de seu exílio para tentar apoderar-se de seus bens. Quando nos propusemos a transpor poeticamente os 644 versos de Ibis, a primeira dificuldade foi escolher o metro e o ritmo mais adequados, em português, para buscar certa paramorfia com o texto latino. Durante a procura por exemplos de textos ovidianos que já foram traduzidos com lavor poético em nossa língua – para que pudéssemos construir algum critério baseado na comparação entre eles – chamou-nos a atenção tanto a exiguidade de títulos disponíveis quanto a variedade de soluções formais, concernentes à poemática, utilizadas pelos tradutores-poetas. Convencidos de que a tradução de poesia é efetivamente praticável, nossa proposta de transposição criativa estabeleceu como parâmetro para o diálogo intercultural entre a língua de partida e a de chegada não só a equivalência presumida dos tratados de versificação consultados por nós – os quais esmiuçaram e catalogaram a variação rítmica somente até a 12ª tônica do verso português, sem se ocupar do metro “bárbaro” com a profundidade teórica que necessitaríamos para atestar, cientificamente, a pertinência de nossa escolha –, mas também algumas letras de músicas do cancioneiro popular, dentro do qual encontramos, pelo menos desde a metade do século XX, o verso de 14 sílabas sendo cantado em língua

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portuguesa, cujas tônicas principais incidem, não raro, exatamente nas mesmas posições com que lapidaremos nossa versão para o hexâmetro do dístico elegíaco. Palavras-chave: Íbis; Ovídio; transposição criativa. HAMILTON: SÍMBOLOS E TRADUÇÕES CULTURAIS

Juliana Bellini Meireles (UFJF)

Em 2015 estreou um fenômeno cultural na Broadway, o espetáculo Hamilton: an American Musical, que foi um dos musicais mais bem-sucedidos produzidos até o momento. Os recordes de bilheteria e de valor único por bilhete são fortes indícios de sua popularidade. Após conhecer a obra, uma série de percepções e questionamentos perpassam a mente. Por isso surgiu a proposta de pesquisa a ser apresentada neste seminário, cujo objetivo é entender o que e como Hamilton significa no cenário atual enquanto manifestação artística e literária, ao englobar adversidades num cenário canônico, considerando fatores que abrangem teorias de tradução intersemiótica. A proposta visa ainda entender como a obra pode contribuir para os estudos de identidade cultural na literatura a partir de simbologias que remetem a questões como imigração, gênero, etnia e nacionalismo. O protagonista da peça, Alexander Hamilton, nasceu no Caribe e emigrou para os Estados Unidos. Utilizando esse fato como base, a obra se propõe a traçar um paralelo entre o personagem e a cultura hip-hop, tratando ainda da formação do país sob a perspectiva de um imigrante. Dessa forma, a trilha que compõe o musical se encaixa majoritariamente nos gêneros hip-hop, rap, R&B e ritmos caribenhos, sem contar a escolha inesperada de elenco, na qual atores de etnias diversas representam figuras históricas sabidamente brancas. Esta proposição se torna ainda mais relevante se nos atentarmos para as ondas de manifestações alimentadas pelo preconceito que o país (e o mundo) tem enfrentado na

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contemporaneidade. Finalmente, essa comunicação apresentará um breve panorama de uma pesquisa que visa averiguar o diálogo entre diferentes linguagens literárias que se mesclam com determinadas estruturas de sentimento do nosso século, revisitando, por meio de simbologias, desde formações culturais residuais até as latentes no que concerne o tema do musical. Tais estudos estão sendo desenvolvidos à luz de estudos teóricos de autores como Julio Plaza, na área da tradução intersemiótica; Michael Pêcheaux e Foucault, tratando sobre discursos; dentre outros.

Palavras-chave: Hamilton, tradução intersemiótica, análise do discurso. Linguística de corpus aplicada à análise de legendas da série Dr. House

Keydmann Santana (UFJF)

O objetivo deste trabalho é mostrar, através do uso da linguística de corpus, os tipos de reduções que as traduções para legendas sofrem devido às limitações técnicas dessa modalidade audiovisual. Serão analisadas as legendas do primeiro, segundo e terceiro episódio da quinta temporada da série Dr. House. O corpus contará com as legendas originais em inglês, a versão profissional realizada pela Netflix e a versão amadora disponível no site <http://universeseries.org>. As legendas amadoras e profissionais serão comparadas a fim de que possa ser explicitado em quais momentos suas traduções deixaram de levar ao usuário algum tipo de informação do original. As características técnicas da legendagem serão apresentadas a partir do modelo proposto por Cintas e Remael (2014), também serão utilizadas suas conceituações para explicar que tipo de redução está ocorrendo em cada legenda.

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Palavras-chave: linguística de corpus; legendagem; legenda profissional; legenda amadora. Tradução de variedades linguísticas: uma análise de Manual Prático do Ódio e Manuel Pratique de la Haine

Letícia Campos de Resende O presente trabalho objetiva apresentar uma análise comparada de trechos selecionados do romance Manual Prático do Ódio (2003), de Ferréz, e de sua tradução para o francês, intitulada Manuel Pratique de la Haine, publicada em 2009 pelas Éditions Anacaona. Como um dos expoentes da literatura marginal ou periférica produzida no Brasil, Ferréz assume, sobretudo em seus romances iniciais, um compromisso de representação quase naturalista da variedade falada por parte dos moradores da periferia de São Paulo. A oralidade reproduzida em sua obra se destaca principalmente nos diálogos dos personagens, já que o narrador – geralmente em terceira pessoa, como é o caso de Manual Prático do Ódio – apresenta um discurso mais monitorado. Em vista disso, propomos a análise de diálogos reveladores de alguns dos procedimentos de tradução mais comumente encontrados na versão francesa. A fim de compreender e descrever alguns dos procedimentos linguísticos e tradutórios usados pela tradutora para recriar, no texto francês, o efeito de oralidade produzido na versão brasileira, nossa análise se deterá nos seguintes aspectos: (i) como é feita a tradução de aspectos socioletais típicos da variedade representada; (ii) que tipo de gíria é usada na tradução – de qual meio sociolinguístico ela se origina; (iii) qual a sistematicidade do uso de gírias na tradução. Partindo do pressuposto de que é impossível a transposição exata de determinada variedade linguística, componente de uma língua-fonte, para outra língua-alvo (CUNHA LACERDA, 2010), as escolhas do(a) tradutor(a) podem se configurar como tendências de estrangeirização ou domesticação (VENUTI, 2002). Em meio a nossa análise, pretendemos

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identificar qual a tendência predominante no texto francês e em que medida as escolhas e posturas tradutórias nos permitem problematizar possíveis sentidos produzidos por um público estrangeiro a partir da leitura do romance em questão. Como desdobramento deste segundo objetivo, nossa análise tratará, em termos breves, do papel de divulgação da cultura e literatura brasileira exercido na França pela editora Anacaona. Palavras-chave: tradução sociolinguística, estrangeirização/domesticação, literatura marginal. Redes implícitas de patronagem na tradução de literatura juvenil distópica: o caso da trilogia Grisha

Letícia Tavares Monteiro (UFJF)

Este trabalho de conclusão de curso de Bacharelado em Letras: Tradução – Inglês, da Universidade Federal de Juiz de Fora, teve como objetivo abordar os aspectos tanto teóricos quanto práticos da literatura traduzida destinada ao público juvenil, bem como a influência exercida por editoras em relação ao trabalho do tradutor, durante o ato tradutório, e dos blogs literários quanto a parcerias. Primeiramente, traçamos o panorama dessa literatura jovem traduzida no contexto do século XXI, a partir da necessidade de uma literatura que seja destinada a esse público, assim como, os subdomínios dessa literatura, criando dessa forma um caminho que seria fundamental para a inserção dessa literatura juvenil no mercado nacional. A partir desse panorama, abordamos o conceito de patronagem (LEFEVERE, 2007[1992]) com base na relação editora – tradutor – blog – leitor para a inserção dessa literatura no sistema literário nacional, levando em consideração o subgênero literário distopia como fio condutor da pesquisa, bem como o papel da manipulação (HERMANS, 1985) e da Teoria dos Polissistemas (EVEN-ZOHAR, 1990 [1978]) para a veiculação dessas obras no nosso cenário literário. Por fim, avaliamos

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trechos retirados dos dois primeiros volumes da trilogia Grisha, da autora Leigh Bardugo, para que pudéssemos analisar algumas escolhas feitas pelo tradutor das obras e o seu papel como profissional da área. Para tais análises, utilizamos as tendências deformadoras da letra proposta por Antoine Berman (2007 [1985]) para a prosa literária. Após essas análises, podemos concluir que (i) a literatura distópica tem atraído leitores de diferentes faixas etárias e gostos; (ii) que as redes sociais de leitura e as editoras estabelecem entre si relações de patronagem, por motivos de troca de bens: seja “doação” de obras, por parte das editoras, ou divulgação dessas obras, por parte dos blogs; (iii) que as escolhas feitas pelo tradutor refletem a atualidade temática, que,consequentemente, refletem o universo juvenil e influenciam o público alvo da trilogia, bem como o cenário historicamente deslocado,que tem como intuito chamar a atenção do publico leitor quanto um cenário recriado para a sua época. Palavras-chave: Literatura juvenil. Teoria dos Polissistemas. Manipulação. Patronagem. Tendências deformadoras da letra. A tradução inter-semiótica como facilitadora na aprendizagem de espanhol instrumental

Lizane Ferreira Abritta (UFJF)

Com base em minha experiência de 17 anos como linguista, docente e tradutora de língua espanhola, pude perceber que os alunos os quais foram expostos a textos escritos e multimodais desde o primeiro dia de aula apresentaram um resultado notoriamente superior aos que não tiveram contato com essa modalidade de ensino. Nesse trabalho, explorarei a experiência vivenciada com meus alunos universitários do Projeto de Universalização de nível básico 1 de língua espanhola. O perfil discente analisado nesse estudo

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é de universitários graduandos e pós-graduandos de diferentes áreas de conhecimento, os quais não tiveram contato prévio com língua espanhola e que têm uma média de exposição a essa abordagem de 10 horas/aula. Para tanto, entendemos que a compreensão lexical impacta positivamente na compreensão da leitura (Patrícia Nora, 2007) e, também, que o conhecimento prévio de vocabulário e/ou linguístico apresentado pelo aluno pode ser utilizado pelo professor desde o primeiro contato, o que permite que as aulas sejam ministradas em língua espanhola desde o início. Neste trabalho, relato minha experiência como docente e tradutora e o emprego que faço de técnicas de tradução como facilitadoras e mediadoras da aprendizagem na leitura de textos em espanhol. Dessa forma, valho-me, não somente do conceito de Jacobson (1959) sobre a tradução inter-semiótica – o qual afirma que a tradução se define como um processo de transformação de um texto construído através de um determinado sistema semiótico em um outro texto, de outro sistema – como, também, do de Umberto Eco (2007) – o qual implica que essa transformação não se dá somente entre as linguagens verbal e não verbal, mas, também, entre signos diferentes. Essa abordagem didática está sendo desenvolvida entre alunos de espanhol instrumental que almejam aprovação em provas de proficiência de leitura e interpretação para ingresso em mestrado ou doutorado. Nesse sentido, acredito que a tradução inter-semiótica e o conceito de equivalência, juntamente com o conhecimento de vocabulário gerado pelo contato com os textos, impactam positivamente na leitura e interpretação desses alunos. Palavras-chave: Leitura, compreensão lexical, tradução inter-semiótica, equivalência

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Exportando literatura brasileira: autores brasileiros traduzidos para países de língua inglesa

Lucas de Paula Medeiros (Licenciado e bacharelando em Letras/UFJF)

Orientadora: Profa. Dra. Carolina Alves Magaldi (UFJF)

O presente trabalho almeja apresentar os resultados iniciais do projeto de iniciação científica “Exportando literatura brasileira”, desenvolvido na Universidade Federal de Juiz de Fora. O objetivo de tal projeto é abordar a recepção de autores brasileiros, traduzidos para a língua inglesa, a partir da análise dos paratextos jornalísticos e editoriais acerca de suas biografias e obras. Um exemplo de tal processo de internacionalização pode ser percebido na produção de Guimarães Rosa. Em 27 de abril de 1967, Guimarães Rosa foi recebido em um evento em sua homenagem no Itamaraty e defendeu a necessidade de tradução de dramaturgos brasileiros para línguas internacionais, em especial o inglês (VIOTTI, 2008). Tal escritor, naquele momento, já era amplamente conhecido no Brasil e traduzido no exterior, devido, em larga medida, a um projeto pessoal de exportação de sua obra literária, o qual envolvia um volume amplo de correspondências com seus tradutores. O plano de Guimarães Rosa era ampliar tal noção para a literatura brasileira como um todo. Cinquenta anos mais tarde, os processos de internacionalização da literatura brasileira continuam intermitentes. Não obstante à falta de um projeto coeso de exportação, vários autores brasileiros conseguiram alcançar status global por meio de traduções, tais como Machado de Assis, Clarice Lispector e Jorge Amado. A recepção desses autores depende de muitos fatores, que vão desde o caráter estrangeirizante ou domesticante das traduções (VENUTI, 2005), a diagramação das capas e a cobertura midiática, entre outros elementos (FAGUNDES, 2011). As consequências dessa recepção irão impactar a construção de um imaginário sobre os autores, sobre a

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literatura brasileira e sobre nosso país. Dessa forma, almejamos estudar a recepção de autores-chave no processo de internacionalização da literatura brasileira a partir de seus paratextos jornalísticos e editoriais (GENETTE, 2009). Para Genette, os paratextos (prefácios, posfácios, orelhas, capas, resenhas etc) não são somente zonas de transição ao texto, se constituindo de fato em zonas de transação, ou seja, de negociações do sentido e da representatividade do texto que anunciam. Tais textos serão, então, analisados a partir do aparato teórico da Análise do Discurso (ORLANDI, 2006). Palavras-chave: Literatura brasileira. Escritores brasileiros. Tradução. Paratextos. Exportação. Spring Awakening: uma peça e múltiplas traduções

Luisa Bergo Allan Lourenço Vânia Miranda

Orientadora: Profa. Dra. Carolina Alves Magaldi (UFJF)

O presente trabalho almeja discutir a peça Spring Awakening a partir da perspectiva da tradução. Originalmente escrita na Alemanha, entre 1890 e 1891, a peça trata de questões relacionadas a dificuldades de comunicação entre jovens e adultos. Essa temática se torna particularmente interessante quando abordamos a relação do texto-fonte com suas traduções. A reescrita em língua inglesa possibilitou a sobrevivência do texto na Alemanha nazista, mas ele não encontrou um público imediato nos Estados Unidos, uma vez que sua temática era considerada polêmica. Desde 1955, a peça ganhou diversas produções, incluindo dois musicais de grande sucesso, produzidos em 2006 e 2015. A versão mais recente foi produzida pela companhia Deaf West, especializada em produções com atores e público surdos. Nesse contexto, temos dois tipos simultâneos de tradução: a

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tradução interlingual da língua inglesa para ASL (American Sign Language) e a tradução intersemiótica quando da inclusão da língua de sinais americana nas coreografias do musical, aproveitando o caráter visual do idioma. Vale ressaltar que, neste experimento artístico, as duas línguas convivem no palco simultaneamente, com trechos em tradução simultânea e outros em diálogo interlingual. Um dos aspectos marcantes dessa estratégia está na sincronicidade das manifestações em ambas as línguas, considerando que o ritmo é ditado pela trilha sonora e alguns dos protagonistas são surdos. A partir dessa discussão, podemos problematizar as conexões com o aparato teórico da tradução, em especial a noção de tradução intersemiótica. Proposta por Roman Jakobson em 1955, ela contemplava, naquele momento, somente os casos de tradução de textos escritos para outros universos semióticos. Já Julio Plaza (2003) expande a definição “como prática crítico-criativa na historicidade dos meios de produção e re-produção, como literatura, como metacriação, como ação sobre estruturas eventos, como diálogo de signos, como síntese e reescritura da história. Quer dizer: como pensamento em signos, como trânsito dos sentidos, como transcrição de formas na historicidade” (PLAZA, 2003, p.14). O autor propõe, ainda, que a tradução intersemiótica é uma viagem ao “miolo da tradução”, elucidando, assim, seus processos de criação. Neste contexto, a análise da tradução intersemiótica na peça Spring Awakening possibilitaria discutir os ganhos da tradução para o polissistema do texto-fonte, em um universo que parece obcecado em detalhar somente possíveis perdas. Palavras-chave: Spring Awakening. Tradução intersemiótica. Línguas de sinais. Polissistema.

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ELEMENTAR, MEU CARO TRADUTOR: uma análise da tradução dos nomes próprios em The Adventure of the Empty House, de Sir Arthur Conan Doyle

Mariana Mello Alves de Souza (UFJF)

O presente trabalho apresenta uma análise da tradução de The Adventure of the Empty House, conto escrito por Sir Arthur Conan Doyle, em 1903, e traduzido para a língua portuguesa por Antonio Carlos Vilela, em 2011, para a Editora Melhoramentos. Esta pesquisa tem como objetivos tratar do papel da tradução de nomes próprios na formação de identidades culturais, apontar as escolhas tradutórias realizadas a partir dos nomes próprios e observar como aspectos da cultura britânica foram trazidos ao Brasil e como se refletem na história a partir da tradução realizada. Para realizar a análise, são considerados os fundamentos de Newmark (1981) e Aguilera (2008) sobre a tradução de nomes próprios e também os fundamentos de Venuti (2002 [1998]) sobre a formação de identidades culturais. A metodologia de pesquisa, de natureza qualitativa, se baseia na análise de ocorrências representativas de nomes de personagens, nomes de lugares e títulos honoríficos. Espera-se, com este trabalho, lançar uma luz sobre as traduções da obra de Sir Arthur Conan Doyle de um ponto de vista ainda não explorado: os nomes próprios e o que eles representam no mundo real e literário. Palavras-chave: Tradução de nomes próprios. Identidade cultural. Sherlock Holmes. Sir Arthur Conan Doyle. O papel da literatura juvenil distópica traduzida no polissistema literário brasileiro

Natália Regina da Silva (UFJF)

Orientadora: Profa. Dra. Sandra Aparecida Faria de Almeida (UFJF)

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O presente trabalho visa a abordar a tradução de literatura juvenil distópica de língua inglesa no Brasil e seu papel dentro do polissistema literário e cultural brasileiros, baseando-se em aspectos da produção e do consumo do gênero distopia no Brasil e no mundo bem como em uma análise da tradução para o português da trilogia “Divergente”, de autoria de Veronica Roth e cuja tradução foi publicada pela editora Rocco. A partir de conceitos como a teoria dos polissistemas (Zohar, 1990), manipulação (Hermans, 1986; Lefévere, 1992b) e patronagem (Lefévere, 1992b), busca-se situar a posição atual do gênero distopia dentro do polissistema literário brasileiro, argumentando-se que (i) o crescimento na produção e no consumo desse gênero literário reflete o contexto sócio-político-ideológico global, que pressiona o polissistema cultural através de mecanismos de manipulação e patronagem; e (ii) as escolhas tradutórias por parte do tradutor estão estritamente ligadas aos demais sistemas que compõem o polissistema cultural brasileiro. A metodologia de análise é de natureza qualitativa e se baseia em entrevistas e depoimentos sobre a temática e a obra bem como em excertos retirados dos três livros que compõem a trilogia, aplicando-se a eles as tendências deformadoras propostas por Berman (1985) para a tradução de prosa. Os resultados mostram que (i) há uma tendência a uma reconfiguração da posição da literatura juvenil dentro do polissistema literário brasileiro em face de aspectos relacionados a formas de consumo e público-alvo do gênero distopia e (ii) as escolhas tradutórias por parte do tradutor refletem processos de deformação da letra (Berman, 1985) co-relacionados aos demais sistemas que exercem pressão sobre o polissistema literário brasileiro. Palavras-chave: literatura juvenil; distopia; teoria dos polissistemas; manipulação; patronagem.

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Entre a Revolução dos Bichos e 1984: uma análise do lugar que ocupam as traduções das obras de George Orwell dentro do polissistema literário brasileiro a luz da patronagem não-diferenciada exercida pelo governo durante a ditadura militar

Paula Vianna de Oliveira (UFJF)

Este estudo visa compreender como aconteceu a recepção das traduções de dois livros de George Orwell, 1984 e A Revolução dos Bichos, durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Para a elaboração da pesquisa, partimos da hipótese de que a patronagem (LEFEVERE, 2007 [1992]) exercida em relação às obras as colocam em maior evidência (no caso de A Revolução dos Bichos) e em menor evidência, quase apagamento (no caso de 1984) dentro do polissistema literário brasileiro de acordo com a Teoria dos Polissistemas (EVEN-ZOHAR, 2000 [1978]). Em um período marcado pela censura, pela propaganda anticomunista e pela formação de uma identidade nacional que apoiasse o projeto de poder dos militares, a tradução se colocava como facilitadora desses objetivos, uma vez que a escolha das obras a serem traduzidas, bem como pelos responsáveis por essas traduções recaía em editoras que estavam recebendo patrocínio dos órgãos governamentais (por sua vez patrocinados pelos Estados Unidos e sua política anticomunismo) para a difusão daqueles livros que atendessem ao projeto político criado para o Brasil (OLIVEIRA, 2006). Assim, no caso de A Revolução dos Bichos, traduzida e publicada em 1964, que tinha um forte apelo anticomunista, o endosso à obra (através dos paratextos) e ainda das críticas e resenhas em jornais demonstram como o livro ganhou visibilidade dentro do Brasil, uma vez que atendia às condições de patronagem não-diferenciada (LEFEVERE, 2007 [1992]), em que a ideologia, o fator econômico e o status do tradutor se coadunaram para referendar sua publicação e veiculação. Porém, é no

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contraste entre o destaque daquele livro com a distópica 1984 que se percebe melhor essa manipulação ideológica. Em 1984, ao mesmo tempo que está produzindo uma crítica à União Soviética e ao regime ditatorial daquele país, também produz críticas a qualquer regime ditatorial, e, portanto, incluindo o brasileiro. Nesse sentido, mesmo a obra tendo sido traduzida para o português brasileiro ainda na década de 1950, e sendo considerada a obra-prima de Orwell, o que se percebe é o apagamento dela, tanto em condições de paratextos, como de críticas e resenhas nos principais jornais do país. Queremos, provar, portanto, que as condições do polissistema político-ideológico brasileiro, marcado pela patronagem associada à ditadura militar, provocou esse desequilíbrio dentro do polissistema literário, perdurando a recepção polarizada das obras no Brasil, em um reflexo que se pode perceber até os dias atuais. Palavras-chave: Teoria dos Polissistemas; patronagem; ditadura militar; a revolução dos bichos; 1984. Tradução intersemiótica em Incendies – do drama à tela

Rafael Apolinário Coutinho (UFJF/UFRJ)

Pensando na peça teatral Incendies (2009), de Wadji Mouawad, segunda parte de sua tetralogia Le Sang des promeses, e sua versão cinematográfica, dirigida pelo canadense Dennis Villeneuve, de 2013, discutiremos os aspectos formais de cada uma das semioses e de que forma estas duas se aproximam e se afastam. A obra evoca uma história de imigração, de uma família libanesa ao Canadá e, principalmente, o retorno às origens libanesas em busca de conhecer a própria história. Entendendo que a forma e os recursos utilizados dentro de cada campo semiótico para retratar ou contar essa história se diferenciam bastante, poderemos justapô-los a fim de entender as dificuldades e os recursos de cada domínio. Segundo Thais Flores Nogueira

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Diniz (1998), “tradução Intersemiótica é definida como a tradução de um sistema de signos para outro sistema semótico” (DINIZ, 1998, P.314), mas se tratando do gênero dramático e o cinema, há diversas interseções que devem ser levadas em consideração. Como drama é um gênero hibrido, que evoca a voz para ser executado, tem muito em comum com o cinema, por trabalhar diversos domínios em comum, sendo eles ligados, principalmente, à execução dos atores (movimentação, figurino, maquiagem, etc.) Mas entendendo esta tradução como uma passagem da palavra à imagem, buscaremos analisar as escolhas formais para a manutenção semântica da obra nas opções imagéticas de Villeneuve e também as expansões criativas da obra em sua versão cinematográfica. Lançaremos mão, em nossa análise, do trabalhos de Júlio Plaza, Tradução Intersemiótica (1987), de Thais Flores Diniz Nogueira, Literatura e cinema: tradução, hipertextualidade, reciclagem (2005) e mesmo de Antoine Berman, A tradução e a letra –o albergue do longínquo (2013), tendo em vista a questão do estrangeiro, tão forte no conteúdo de ambas as obras, o que, certamente, incide em seus aspectos formais. Enfim, buscaremos entender melhor a realização da obra nesses dois campos semióticos que se assemelham, mas também se diferem, fortemente. Palavras-chave: Tradução Intersemiótica; Dramaturgia; Cinema. Poesia, performance e tradução: Ain’t talkin’ de Bob Dylan

Vinícius Moraes Tiago (UFJF)

Orientadora: Profa. Dra. Charlene Martins Miotti (UFJF)

A partir da atribuição do prêmio Nobel de Literatura de 2016 a Bob Dylan, discursos a respeito de uma distinção drástica entre poesia e música ganharam fôlego. De encontro a esse

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posicionamento, treze anos antes da premiação mencionada, Christopher Ricks já defendia em seu livro Dylan's Visions of Sin (2003) uma recepção poética das músicas de Dylan. Nesse sentido, a presente comunicação procura averiguar como as especificidades poética e performativa constituem um elemento significativo na tradução de canções do Bob Dylan. Não obstante, conforme lembra Susam-Sarajeva (2008), pesquisas sobre tradução e música foram negligenciadas durante muito tempo pela área de Estudos da Tradução, sendo emblemática a edição do periódico The Translator de 2008 (v. 14) com uma seção inteiramente dedicada à questão. Portanto, visando colaborar para a discussão dos desafios que se colocam ao tradutor nesse contexto, esta comunicação busca relatar o processo de tradução da canção Ain’t talkin’ (Modern Times, 2006) de Bob Dylan. Vale ressaltar que a escolha dessa canção para tradução, em especial, foi motivada pelo seu caráter intertextual, objeto de estudo do projeto de pesquisa em desenvolvimento Aspectos intertextuais nas canções de Bob Dylan: Tristia e Epistulae Ex Ponto de Ovídio, realizado com o apoio da Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PROPP) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em última análise, constata-se, por meio da prática de tradução de Ain’t Talkin’ (Modern Times, 2006) de Bob Dylan, como os papéis desempenhados pela poesia, música e performance em nossa sociedade influenciam, de maneira expressiva, as próprias posturas e escolhas tradutórias durante a tradução de canções, conforme a Teoria dos Polissistemas de Even-Zohar (1979). De uma forma geral, pretende-se com esta comunicação instigar o debate acerca do papel que a música, em condição de poesia, desempenha em nossa sociedade, assim como estabelecer suas implicações dentro da área de Estudos da Tradução e da Teoria dos Polissistemas. Palavras-chave: Estudos da Tradução; música; poesia; performance; Bob Dylan.

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Uso de unidades de tradução no processo de transposição da língua portuguesa para a língua brasileira de sinais

Welbert Sansão Wanderson Souza

A visão de tradução é tão complexa e fascinante que mereceu um desdobramento especial no campo dos Estudos da Tradução. Conhecer a história da Tradução, bem como a análise sistêmica nos mais diversos idiomas, nos proporciona não apenas a ocasião para adquirimos conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos métodos relacionados com o processo tradutório. Portanto, este estudo objetiva analisar o processo de transposição realizado de língua portuguesa (LP) para Libras (LSB), embasando nas teorias de Unidades de Tradução; identificar quais estratégias de tradução utilizadas tendo em comum o mesmo texto, todavia com processos tradutórios diferentes, a nível frasal ou a nível textual; verificar a coesão e coerência, paridade com o texto fonte; conectividade no corpo do texto em Libras e compreensão do texto de chegada pelos receptores nativos do idioma. Buscamos também analisar como se dão os processos tradutórios da língua de sinais, na perspectiva de relato de experiência do tradutor, do receptor surdo e outros fatores secundários que alteram a transposição de uma LF para uma LA. A pesquisa foi obtida através de experimentos realizados com tradutores experientes e com conhecimentos empíricos na área, partindo de um texto em comum, previamente escolhido, ao qual todos tiveram tempo para estudo, aporte teórico, dicionários, além de apoio técnico de outro profissional. O método tradutório tendo como foco o uso unidades de traduções diferenciou-se em estrutura a nível frasal e textual. Verificamos que houve adequações linguísticas no processo de transposição da LP para a LSB e que a qualidade tradutória, partindo da unidade de tradução a nível textual, é mais coesa e cultural, além disso, nota-se maior paridade com o texto fonte, apresentando maior

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fidelidade de ideias e conectividade no corpo do texto em Libras. Ao serem analisados os resultados das traduções em nível frasal, constatou-se perda de sentido semântico, prosódia, conectividade e, em alguns casos, equívocos de tradução. Assim, propomos elaborar métodos a serem aplicadas nos cursos de formação para tradutores, apresentando formas linguísticas, lexicais e estruturais a fim de propiciar equivalência e qualidade no processo de transposição de LP para LSB. Palavras-chave: unidade de tradução, Libras, transposição