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“ILHA”: Desafios e Impactos da Transformação de uma Paisagem
LAGRIMANTE, WARLEY R. (1); CORDEIRO, ANA PAULA M. (2); TORRES, CÁSSIO D. V. (3); GUEDES, MARIANA P. (4); STOPPA, OTAVIO A. S. (5)
CAMPELLO, MAURO S. (6); MACHADO, ERNANI S.
1. Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Rua José Lourenço Kelmer, s/n - campus universitário São Pedro 36036330 - Juiz de Fora, MG [email protected]
2. Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Rua José Lourenço Kelmer, s/n - campus universitário São Pedro 36036330 - Juiz de Fora, MG
[email protected] 3. Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Rua José Lourenço Kelmer, s/n - campus universitário São Pedro 36036330 - Juiz de Fora, MG [email protected]
4. Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Rua José Lourenço Kelmer, s/n - campus universitário São Pedro 36036330 - Juiz de Fora, MG
[email protected] 5. Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Rua José Lourenço Kelmer, s/n - campus universitário São Pedro 36036330 - Juiz de Fora, MG [email protected]
6. Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Rua José Lourenço Kelmer, s/n - campus universitário São Pedro 36036330 - Juiz de Fora, MG
[email protected] 7. Universidade Federal de Juiz de Fora. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Rua José Lourenço Kelmer, s/n - campus universitário São Pedro 36036330 - Juiz de Fora, MG [email protected]
RESUMO No contexto da disciplina de Projeto de Arquitetura e Urbanismo VI da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, cuja ementa é a implantação de um grande equipamento urbano na cidade de Juiz de Fora-MG, o presente artigo tem por objetivo apresentar o exercício projetual que consiste na inserção de um objeto arquitetônico vertical e disserta sobre a análise urbana no que se refere ao desafio e impactos da inserção de uma edificação desse porte no território central. Através de análises fundamentadas em Cullen (1983), Rossi (1995) e Lynch (1997), encontrou-se áreas em potencial para intervenção e entre elas optou-se por uma que configura o entendimento de “ilha”, a partir da compreensão do lócus e dos elementos primários que entendemos como delimitadores do espaço, tais como o Rio Paraibuna e a Linha Férrea, pois acarretam em uma organização focal e noções de limites (ROSSI, 1995 e LYNCH, 1997). Para isto, o desenvolvimento desse estudo parte da elaboração e análises de desenhos, maquetes físicas e virtuais no qual se percebe que a inserção do grande equipamento e das intervenções urbanas transformará a imageabilidade daquele espaço, com o intuito de que as intervenções proporcionem uma nova
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identidade para a região, fortalecendo a vitalidade e a legibilidade. Com base nas análises realizadas, chega-se na conclusão de que intervir apenas no terreno não traria eficácia ao projeto no que diz respeito às relações da edificação com o entorno, apropriação e uso do local, uma vez que o conceito principal abordará a requalificação da área, relacionando diretamente a paisagem do espaço público à sua volta proporcionando uma melhor ambiência e qualidade para a população. Assim, a finalidade foi intervir na atual legislação com a proposição de uma Zona Especial e de diretrizes que tem os princípios de requalificar, reabilitar, valorizar e otimizar os espaços, priorizando a harmonia entre os usuários e tornando o local referência para as demais áreas que demandam das mesmas necessidades. A construção dessa nova paisagem dá-se pelo desenvolvimento de um “masterplan” que deriva do edifício âncora e traz para a área em questão a defesa de suas políticas com intervenções que insere à paisagem local diferentes visadas e sensações propiciadas por elevações e suavidades, reconhecendo aspectos macro e micro, interna e externamente à “ilha”. As proposições volumétricas adjuntas dos espaços e traçados originados pelos novos fluxos contribuirão para dirigir o olhar a cuidadosas perspectivas e expectativas, corroborando para o surgimento de ambiências diferenciadas e novas percepções da paisagem.
Palavras-chave: Paisagem Urbana; Requalificação; Ambiente.
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Introdução
O presente artigo tem por objetivo apresentar o projeto desenvolvido para a disciplina Projeto
de Arquitetura e Urbanismo VI da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Juiz de Fora, o qual contempla o desafio da implantação de um grande
equipamento urbano de caráter multiuso e o estudo de seus impactos na região central de
Juiz de Fora/MG. Os aspectos metodológicos para desenvolvimento do trabalho na área
envolvem a análise da paisagem urbana por meio do entendimento da sua morfologia e da
compreensão do significado desses espaços no cotidiano da cidade, onde a elaboração de
desenhos, maquetes físicas e virtuais tornou possível a identificação de um cenário que
reflete ambiências e sensações de insegurança e desatenção, permitindo estabelecer uma
transformação nessa paisagem a partir da proposta de intervenção urbana e da inserção de
políticas culturais e sociais associadas às características do uso privado. O texto acompanha
um estudo de impacto que mostra o reflexo destas transformações ao longo do
desenvolvimento do projeto, numa correlação com a paisagem urbana consolidada e o
embate da modificação deste cenário que reflete a identidade da população.
Histórico
A cidade de Juiz de Fora começou a se formar no final do século XVII com a criação do
Caminho Novo, que visava o escoamento mais seguro do ouro até o porto colonial através do
povoamento de seu trajeto que acompanhava o Rio Barro (Rio Paraibuna), onde aos poucos
foram sendo construídos os primeiros ranchos e fazendas para abastecer e cobrar os
impostos dos viajantes. No século XIX, foi construída a Estrada Nova, em um trecho que
desviava pela margem direita do Rio Barro ligando Vila Rica com a divisa do Rio de Janeiro de
forma a comunicar melhor as regiões.
Na mesma época, a cidade tornou-se um polo de atração da população que estava envolvida
com a produção cafeeira na região, fator que impulsionou a criação da Estrada União e
Indústria, que cortava a cidade ligando-a à Petrópolis. A ferrovia D. Pedro II chegou no final do
século XIX, com a promessa de transporte em grande velocidade até o porto do Rio de
Janeiro, trouxe para a cidade ainda mais prestígio, principalmente ao triângulo central, devido
a instalação da Estação Ferroviária em sua proximidade de modo a impulsionar o
desenvolvimento espacial do centro expandindo-o. A interseção da Rua Direita (atual Avenida
Rio Branco), de parte da estrada União e Indústria (atual Getúlio Vargas) e da Avenida
Independência (atual Avenida Itamar Franco):
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Formam em conjunto o que é considerado o coração vivo da cidade de Juiz
de Fora, não apenas o lugar central do nascimento da cidade, isto é, este é o
lugar onde a vida urbana ocorre e é possível observar o cidadão local, o
cotidiano urbano, a cultura da cidade, a sociedade, os debates e problemas
regionais, enfim, é o lugar onde a cidade expõe as suas próprias coisas.
(ABDALLA, 2000, p.10 apud BRAIDA, 2011, p.83).
Aos poucos a cidade de Juiz de Fora foi crescendo e seu comércio foi intensificado até
tornar-se o principal centro urbano e comercial da Zona da Mata. Devido a isso, o triângulo
central contempla várias edificações de cunho cultural e comercial, em sua maioria
patrimônios imóveis e guardam a história da Manchester Mineira.
Metodologia de Projeto
A distribuição espacial disposta sobre a cidade de Juiz de Fora, segundo a Lei de uso e
Ocupação do Solo nº6909/86, indica uma divisão territorial que segue critérios de zoneamento
urbano a partir da determinação dos tipos de uso e parcelamento do solo que podem ser
aplicadas a diferentes áreas do município. Primeiramente é necessário conhecer que
proveniente do histórico de formação da cidade, o desenvolvimento urbano local é norteado
por dois elementos principais: o Rio Paraibuna e a linha férrea, que ao longo de suas
extensões possibilitaram a composição de diversas regiões e serviram como instrumentos de
divisão espacial, como conectores de áreas e como barreiras urbanas. Na base destes
conceitos encontra-se a localização da área trabalhada perifericamente ao centro urbano da
cidade, inserindo-se no que é classificado como Zona Comercial 5 dentro da Unidade
Territorial I. Verificou-se que a conformação entre os elementos primários, Rio Paraibuna e a
Linha férrea, que configuram também como lócus dessa região, agem como barreiras e
delimitadores do espaço, assim conformam para toda área o entendimento próprio de "ilha"
(ROSSI, 1995 e LYNCH, 1997) e indica o conceito principal do projeto, onde se buscou o
rompimento destas barreiras presumidas e a reintegração total de sua paisagem com o
cotidiano central.
O entendimento da área a ser qualificada foi obtido a partir da metodologia de projeto
desenvolvida na disciplina Projeto de Arquitetura e Urbanismo VI e embasado pelas
bibliografias: Paisagem Urbana (CULLEN, Gordon. 1983), A Imagem da Cidade ( LYNCH,
Kevin. 1997), A Arquitetura da Cidade (ROSSI, Aldo. 1995), sugeridas para estudo urbano e
de sua respectiva paisagem. A sistemática aconteceu inicialmente através de análises
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territoriais macro elaboradas por meio de mapas, fotografias, visitas e maquetes físicas e
virtuais sobre a região central de Juiz de Fora e mostrou o estado atual do centro da cidade.
Conhecido como triângulo central, a região identificada como consolidada encontra-se
saturada, onde nos vazios existentes não é favorável a implantação de um grande
equipamento urbano, dessa forma foi reconhecido a necessidade de buscar por possíveis
áreas em potencial para sua inserção. Subsequente, foram apontadas três novas regiões que
se encaixam perifericamente ao denominado triângulo central e que, devido a sua formação e
do uso comercial específico, quebram a leitura da paisagem e rompem com a noção de
"centro". Do processo de apuração originado na etapa anterior surgiram avaliações
características de cada região pautadas em itens como a qualidade e a demanda de serviços
oferecidos, tráfego e transporte público, visando que no futuro o empreendimento não
sobrecarregue a região.
Na fase seguinte, a definição da área de maior potencial foi estabelecida a partir da verificação
da sua relação com o centro, da posição perante a nova área administrativa de Juiz de Fora e
do seu vigente desenvolvimento, onde a sua estruturação é as margens das Avenidas Brasil e
Francisco Bernardino sendo interceptada pela Rua Benjamin Constant. A formação territorial
do local é uma área voltada para o desenvolvimento industrial sendo composta por diferentes
galpões e edifícios manufatureiros, suas ruas dividem espaços com residências e fábricas,
apresentando uma série de elementos que ajudam na construção de uma imagem urbana a
ser designada como espaço comercial. Atualmente, a região possui como referência
equipamentos urbanos consolidados como clubes, instituição de ensino e de serviços
públicos, além de abrigar poucos imóveis residenciais, o albergue Núcleo Cidadão de Rua
Herbert de Souza para desabrigados e vazios urbanos favoráveis a implantação do desafio
proposto. Assim, as atividades possuem uma rotina que não pode ser considerada dinâmica,
estagnando a área em uma conformação desprezada com inatividade noturna (imagem 1).
Para reconhecimento e interpretação da paisagem foi elaborado um percurso onde utilizou-se
dos princípios da visão serial de Gordon Cullen em seu livro Paisagem Urbana (1983),
incitando sensações e sentimentos transmitidos pelo conjunto urbano e arquitetônico
(imagem 2). O trajeto que se dá por seis visadas elencadas pelas visões externas, das
barreiras, e internas da área contribui para a compreensão dos fluxos locais e as ambiências
transmitidas, além de capacitar a visão das intenções futuras da cidade sobre o lugar; como o
objetivo das trincheiras que irão elevar a capacidade diária de deslocamento e suspender os
empecilhos causados pela passagem do veículo ferroviário sendo implantadas na rua
Benjamin Constant (Trincheira Benjamin Constant) e no desdobramento entre a Avenida
Francisco Bernardino e a rua Leopoldo Schmdit (Trincheira Praça dos Poderes).
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Outros resultados da região estudada tornaram possível identificar a condição dos
componentes arquitetônicos da área e da ambiência desses espaços, indicando uma
crescente degradação do ambiente, causada pela desatenção dos setores públicos e
propriamente pela sua posição em relação ao centro da cidade e pelos elementos que
funcionam como barreira delimitadora do espaço, configurando a área apenas como zona de
passagem e de ligação entre o centro e os bairros de seu entorno. Tais peculiaridades,
intensificadas pela presença dos usuários do albergue que ocupam ao longo do dia
parcialmente as calçadas e ruas, provocam impactos no espaço urbano, na vida cotidiana e
apresentam uma vinculação com uma imagem negativa local.
Em sua resolução final, as análises convergem para uma percepção da paisagem que se
desconecta do cenário reconhecido como centro. Onde a alteração de aspectos anteriores, ou
seja, desapropriações, mudanças de tráfego e usos, introduziu essa região à transformações
na recente etapa de desenvolvimento urbano e, no conjunto desse avanço, o local comporta
atualmente a nova área administrativa da cidade e torna-se alvo de especulação.
Diretrizes de Projeto
Elaborada a análise urbana verificou-se a necessidade de estratégias para implantação de um
grande equipamento e notou-se o potencial da área para expansão econômica e
administrativa central, assim como se configura atualmente com a locação da nova sede
administrativa municipal. A idealização dessa área é algo recorrente quando se vê projetos de
grande escala a serem implantados, como as duas trincheiras na linha férrea que aproximarão
outras regiões da área central, porém, não se torna adequado quando se pensa que a área
esta degradada, sem infraestruturas necessárias e com parâmetros urbanos que não
correspondem à realidade de um centro. Dada proposta de implantar uma referência nessa
área conclui a necessidade de se pensar na escala da “ilha”, assim elaborou-se um
Masterplan, um plano urbano local, com quatro diretrizes: reabilitar, requalificar, zona especial
e referência, que condirá com a transformação da paisagem urbana.
Com a ocupação atual por usos comerciais, industriais e institucionais, o uso residencial
acaba sendo atípico e torna a área insegura e sem vida em alguns períodos do dia. Dessa
forma elaborou-se uma categorização que modificará os usos permitidos na legislação urbana
de Juiz de Fora, com usos misto, residencial com o primeiro pavimento de comércio
conformando a configuração já existente, cultural, institucional, edificações de usos
consolidados, comercial e espaços públicos, a fim de fortalecer a permanência de pessoas e
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de vitalidade em todos os horários. As linhas de ações, além da categorização, prevê um
estudo de qualidade das edificações onde definirá quais serão demolidas ou reabilitadas.
Reconheceu-se a necessidade de intervenções nas vias e no parcelamento do solo, um
estudo de mobilidade urbana ativa, construções de espaços de convívio e equipamentos
culturais, soluções para o albergue instalado na região e primícias da sustentabilidade, essas
sendo questões chaves da segunda diretriz. As linhas de ações de requalificação, acerca da
determinação de eixos de fluxos, formam ambiências a partir de pontos chaves determinados
pelos usos atuais e propostos e dessa forma valorizam o transeunte e favorece a mobilidade
local. A partir desses eixos desenvolvem em suas ligações parques e praças que fortalecem a
relação de convívio coletivo com o espaço público, esses novos lugares serão dotados pela
apropriação cultural da sociedade e receberão a implantação de mobiliários urbanos
tornando-os não só espaço de passagem como de permanência temporária. A classificação
das vias em de bairro, local e principal são determinadas de acordo com os fluxos, sendo alto,
médio e baixo respectivamente, adota-se às vias de bairro como Traffic Calm, vias de
pedestres de até trinta quilômetros por hora e vias de acesso a garagens, de forma a priorizar
os transeuntes.
As diretrizes, também, estabelecem a adequação das trincheiras já planejadas, na qual se
retira os fluxos de pedestres do subterrâneo e o traz para o nível das ruas. Determina a
criação de sinalização vertical e horizontal e a criação de uma travessia de pedestres, que
trará a melhoria das áreas adjacentes à linha do trem e estabelecerá relação com a paisagem
urbana quanto elemento arquitetônico. A proposição de equipamentos culturais nos espaços
públicos, como biblioteca, teatro, cinema, pavilhão de exposição e escola de Arte
Contemporânea, fortalece a ideia do histórico cultural da cidade e os tornam lugares
dinâmicos com exposições temporárias e de apropriação de pessoas. Elaborou-se um centro
de qualificação de pessoas e moradias temporárias na antiga sede do albergue e nas
edificações vizinhas reabilitadas que serão ligados aos espaços públicos em justificativa de
manter a identidade local e proporcionar a essas pessoas uma qualificação e ingresso no
mercado de trabalho.
Propõe-se o conceito de sustentabilidade com a elaboração de projetos de iluminação
sustentável e com fiação subterrânea e determina que as novas edificações derivadas do
novo parcelamento deverão implantar estação de subtratamento de esgoto doméstico a fim
de proteger o meio hídrico na proximidade. Planejou-se, também, a criação de um parque
linear no percurso do Rio Paraibuna no qual suas primícias são a canalização do esgoto
despejado, tratamento e recuperação do curso d’água, criação de espaços de convívios e de
mobilidade, e a integração da feira já consolidada na cidade.
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Com área de intervenção alocada na Zona Comercial 5 concluiu-se que os parâmetros
urbanos não atendem a área devido aos usos permitidos, como o industrial, criou-se uma
Zona Especial para região. Essa ZE compreenderá um novo parcelamento do solo,
sintetização dos usos, como já descrito, e a partir de um estudo de massa suas taxas de
ocupação, coeficiente de aproveitamento e gabaritos de acordo com os fluxos das vias
(imagem 3). O estudo de massa foi elaborado a partir de maquetes físicas, no primeiro
momento, onde se verificou as relações de ocupação do solo, adensamento e as alturas do
entorno, no segundo momento elaborou-se maquetes virtuais e físicas de volumes que
atendem aos novos parâmetros urbanos e a criação da nova paisagem com as sensações e
ambiências ilustradas por Cullen (1983). Os elementos inseridos nessa nova paisagem foram
sujeitados a um processo de comunicação através da exploração geométrica de modo a
apresentar ideologia e estética em uma base comum capaz de estabelecer uma nova
linguagem arquitetônica.
Como resultado da análise da transformação da paisagem urbana e da mobilidade ativa dos
usuários, os passeios laterais em vias locais e de bairros passaram a ter a largura mínima de
três metros e os afastamentos frontais deverão ser permeáveis e com vegetações com
preferências para espécies nativas mineiras.
Na última diretriz defendeu-se o desafio de implantação de um complexo multiuso que será
referência do Masterplan, assim propicia a sua efetivação e assegurando os seus princípios.
As suas linhas de ação acerca da criação de um grande equipamento urbano que defenda a
permanência de pessoas durante o período do dia e da noite, sendo um objeto que valorize a
paisagem urbana por meio da imageabilidade e da singularidade das formas escultóricas e
valorize os espaços coletivos e públicos.
Para inserção do empreendimento utilizou-se de um grande vazio urbano, uma área
resultante da demolição de várias edificações em estado de deterioração, dessa forma cria-se
o sítio em sua forma definitiva. Dispondo de uma área de aproximadamente 16.700 metros
quadrados, o espaço localizado no cruzamento das ruas Benjamin Constant e José Calil
Ahouagi corresponde aos parâmetros urbanísticos organizados na Legislação Lei de Uso e
Ocupação do Solo nº6909/86 e e Anexo à Lei nº6910/86. O complexo traz em seu programa a
inserção de dois volumes, um correspondente a edificação do setor corporativo e um do setor
de hotelaria, interligados entre si através de um volume comercial locado nos três primeiros
pavimentos. Em sua concepção, o projeto busca a promoção de conforto, segurança aos
usuários e economia de custo, no qual corresponde ao sistema de construções
automatizáveis tornando-se capaz de receber tecnologias futuras, eficiência energética e
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nutrindo-se de conceitos que tendem a uma infraestrutura que permita uma maior
preservação do meio ambiente ao apresentar uma implantação sustentável.
A estratégia de locação do complexo multiuso foi consequência das táticas provenientes do
processo de conceituação de projeto no qual é descrito meios de valorização histórica do
triângulo central, junto de sua referência para a região, assim como meios de correspondência
às necessidades do empreendimento. O principal objetivo foi gerar uma abertura central com
o propósito de formar um espaço público que não apenas componha o ambiente comercial do
térreo, mas que também interaja com as pessoas e conceda a oportunidade de apropriação,
encaixando-se como uma extensão do masterplan. Em sua organização, o desenho de
implantação setorizou os edifícios às margens do terreno reservando a fração direita do lote
para a locação da torre do hotel de oitenta metros de altura, a esquerda para a locação da
torre do corporativo de cento e trinta metros de altura que pela configuração de seu porte e
altura, contribui para o cenário urbano ao não se posicionar como barreira visual perante ao
Morro do Imperador, marco referencial da cidade de Juiz de Fora. Os seus espaços definem
uma relação entre o interior do empreendimento e o espaço público circundante, identificando
o elo público-privado ao oferecer em suas dependências infraestrutura urbana de caráter
público coletivo. Os espaços resultantes entre os programas públicos e privados já expostos
consistem em superfícies secundárias que originam uma rota pública contínua que liga os
espaços em torno do complexo, por meio de morrotes, tornando o edifício uma aventura
arquitetônica. Com cunho contemplativo, os morrotes inserem ao projeto espaços públicos
para práticas externas e criam a possibilidade de utilização do edifício com uma outra
perspectiva, dando abertura para apropriação e realização de atividades simultâneas à rotina
do complexo (imagem 4).
A evolução do projeto referente as torres incide nos desafios urbanos relativos à
transformação da paisagem local, dado sua proporção em sua inserção. Neste caso, o
desenvolvimento vertical dos prédios surgiu em resposta a incitação de atingir ao coeficiente
de aproveitamento máximo, uma vez que a finalidade do empreendimento é tornar-se um
marco positivo na paisagem da cidade por meio de políticas que exercerão a função de
informar, atrair e orientar. A estratégia adotada para a efetivação dessa concepção foi criar a
imagem do complexo através da manipulação da forma e de seus planos, desenvolvendo a
inter-relação entre os planos horizontais, verticais e transversais de forma a equilibrar os
elementos de sua composição no momento em que a arquitetura impõe sua fisicalidade e que
legitima suas formas escultóricas.
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Dispostas as proposições do masterplan, elaborou-se o cenário da nova paisagem que
transformará o espaço urbano degradado em um lugar qualitativo, retoma-se a visão serial
com diferentes visadas e sensações propiciadas por elevações e suavidades, reconhecendo
aspectos macro e micro, interna e externamente à “ilha”. Os novos eixos de fluxos dados
pelas ligações diretas estabelecidas entre as áreas de maior deslocamento de pessoas, que
culminou no desenho das vias do masterplan e do seu conjunto como um todo (imagem 5),
proporcionará vida às ruas através de apropriações por movimento, viscosidade das
proposições volumétricas e dos usos culturais, além de retomar a identidade da cidade,
transformando-a, também, em coração vivo. As sugestões volumétricas adjuntas dos espaços
e traçados originados pelos novos fluxos contribuirão para dirigir o olhar a cuidadosas
perspectivas e expectativas, corroborando para o surgimento de ambiências diferenciadas e
novas percepções da paisagem que aproximarão as pessoas ao local.
As barreiras permanecem, mas não serão mais vistas como limitações, pois as estratégias de
implantar a travessia como elemento arquitetônico integrado a composição da nova paisagem
trará o privilegio dos usuários de atravessar os limites de forma contemplativa e assim
permanece o conceito de “ilha”.
Os cuidadosos olhares para as barreiras, que às transformarão em lugares de apropriação
cultural e de sustentabilidade, são reforçados através da implantação do parque linear que
contará com a permanência da feira que acontece tradicionalmente na Avenida Brasil aos
domingos, de forma a solucionar o questionamento de sua transposição por meio da
preservação de sua identidade.
O fortalecimento dos usos do centro urbano se estabelece com a reabilitação e requalificação,
onde o caráter comercial e residencial é adotado e juntamente é implantado a referência e
equipamentos culturais que proporcionará as ligações público e privado tornando-os espaços
coletivos e identitários.
Estudo de Impacto
Para entender a região requalificada foi produzido uma série de análises em torno dos
aspectos morfológicos da cidade fazendo uso da leitura de mapas históricos que exibem as
primeiras ações de progresso urbano e de construção da paisagem na área central de Juiz de
Fora. Desta forma, foi possível perceber e compreender os atributos físicos do local
anteriormente de qualquer ação humana, como suas características naturais de solo, de
relevo e meios hídricos induzindo-nos ao que pudemos observar como um dos primeiros
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motivos que caracterizam o locus elucidado por Aldo Rossi (1995). Do convívio entre os
elementos, considerando os traços biológicos necessários para exploração e definição do
território, resulta a combinação de seus atributos e introduz características antrópicas ao
mostrar a instituição de intervenções urbanas no contexto do progresso citadino como a
criação da Estrada União e Indústria, da ferrovia e as seguintes mudanças do curso original do
Rio Paraibuna, além dos primeiro registros de manifestação cultural na cidade. Esses
atributos, ao conformarem uma relação entre o histórico já apresentado com o perfil atual da
cidade, expõem a assimilação da personalidade da população e como os aspectos descritos e
suas derivações contribuíram para o fortalecimento identitário e do apreço dos habitantes pela
cidade e principalmente pela região central e seus componentes.
Identificar o ambiente efetivo, suas necessidades e a personalidade da população
convergiram na proposição do masterplan, das atividades destinadas à rotina do mesmo e
nos espaços que exprimem o que Lynch (1997) classifica como adequação, uma vez que a
capacidade dos espaços e equipamentos corresponderá ao padrão e a quantidade de ações
em que as pessoas normalmente se envolvem. Corroborando assim no consentimento e
aceitação por parte dos usuários sob os ambientes propostos e no elo que este constitui
espacialmente com a região consolidada do centro. De forma associada a esses critérios, foi
conferido ainda ao projeto o uso de política cultural como elemento de regeneração urbana,
ao modo que estão presentes equipamentos culturais com valores públicos para a prática
recreativa e convite social, organizando toda a área como uma ligação entre a cidade e sua
população, reconciliando o coletivo e o cultural de forma a inibir a segregação social, espacial
e cultural. Aspectos da formação da paisagem, como a identidade arquitetônica da região,
auxiliam como paralelo entre o antigo e o novo. Ana Rita Sá Carneiro, em seu texto “Plano de
Gestão da Conservação Urbana: Conceitos e Métodos, 2012”, explicita elementos de
percepção (cor, forma, textura) no projeto locado que contribuem para a comunicação com o
usuário e que, nesse sentido, “os processos de compreensão do espaço podem ser de ordem
estética, emocional ou informativa” (Ana RITA, 2012; p.150). Ou seja, traz a composição do
cenário criado como resposta a expectativa social, através da identificação e do aprendizado
possibilitando a continuidade morfológica da área, uma vez que os espaços transmitem a
influência histórica, fazendo da nova paisagem uma contínua leitura dos aspectos positivos
nos elementos constituintes da paisagem central.
Em contraste ao seu contexto, a implantação do complexo atrai a atenção por meio da
composição visual da paisagem: “Se um marco for identificável de perto e de longe, enquanto
se desloca rápida ou lentamente, de dia e à noite, tornar-se-á uma referência estável para a
percepção do meio urbano” (CARNEIRO, Ana; SILVA, Aline, 2012; p.154). Todavia, a
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integração do complexo ao cenário local garante também o arranjo da transformação urbana
no contexto de desenvolvimento da cidade e agrega em si o atributo de referência, não só
como um marco viável, mas como modelo a ser seguido atuando como agente transformador
de regiões carentes de atenção. O modo de exploração do desafio compete ao
empreendimento privado convicções de apropriação pública, devolvendo à cidade frutos de
sua inserção em forma de consumo cultural, deixando para toda a cidade um conceito de
contemporaneidade, de uso sustentável e ao mesmo tempo respeitando as características
físicas, biológicas e antrópicas da cidade.
Conclusão
Considerando a metodologia de projeto, a possibilidade de analisar a cidade através da sua
paisagem e da sua formação viabilizou a compreensão da identidade a população assim
como auxiliou na identificação do seu cotidiano e suas necessidades. O projeto que promoveu
a requalificação para a área apresentada, ainda que de origem privada, trouxe em seu
contexto a valorização dos espaços urbanos e a regeneração da paisagem de uma área da
cidade de Juiz de Fora, antes vista com desatenção pelas entidades públicas e pela própria
população. A transformação da paisagem se amplia por dimensões ambientais, sociais,
culturais, políticas sociais e econômicas estabelecendo a relação público-privado, onde essas
políticas coexistam ao ambiente particular. A imposição de limitações a partir da criação de
uma Zona Especial garante a permanência da paisagem e funciona como didática ao ponto
em que se prevê um equilíbrio com a especulação que surgirá com a qualificação da área e as
futuras extensões que a terão como referência. O estudo realizado assegura também a
valorização do quadro histórico da paisagem no convívio que se dará as novas perspectivas,
ao vincular a ligação entre as duas percepções do centro da cidade, mantendo a continuidade
visual e os aspectos que conferem a associação entre o “antigo” e o “novo”.
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Imagens
Imagem 1: Esquema com a análise macro-micro, exemplificando as áreas escolhidas, desde a Unidade territorial 1, seguido das áreas potenciais até a escolha da micro área definida como ilha e suas barreiras (Rio Paraibuna e a Linha Férrea).
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Imagem 2: Ilustrações resultantes da visão serial do Cullen na área de estudo.
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Imagens 3 e 4: Demonstração das ações propostas através das diretrizes na ZE criada, onde nota-se as diferenças de gabarito e usos de acordo com as vias.
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Imagens 5 e 6: Representação virtual do projeto desenvolvido onde é possível notar a presença dos morrotes em diferentes perspectivas e as respectivas impressões causadas por ele na paisagem dos edifícios com o entorno.
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Imagens 7 e 8: Demonstração dos traços iniciais determinantes dos principais fluxos de passagem que atravessam a área escolhida, de forma a influenciar diretamente no traçado intervenção paisagística realizada.
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BIBLIOGRAFIA
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