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ILHA DIANA ILHA DIANA ILHA DIANA ILHA DIANA ILHA DIANA ILHA DIANA ILHA DIANA ILHA DIANA ILHA DIANA ILHA DIANA Suplemento Especial - Ano 1 - Edição 1 - novembro/2005 Navegar é preciso . . . O cotidiano e as dificuldades de um dos últimos vilarejos caiçaras da cidade de Santos

ILHA DIANA - juicysantos.com.br · A Ilha Diana sofre com problemas de infra-estrutura e carece de uma política de educação e preservação ambiental. Para os visitantes é um

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ILHA DIANAILHA DIANAILHA DIANAILHA DIANAILHA DIANAILHA DIANAILHA DIANAILHA DIANAILHA DIANAILHA DIANASuplemento Especial - Ano 1 - Edição 1 - novembro/2005

Navegar é preciso . . .O cotidiano e as dificuldades de um dosúltimos vilarejos caiçaras da cidade de Santos

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Transporte ........................ 4-5Saneamento Básico.......... 6-7Energia Elétrica................ 8-9

INFRA-ESTRUTURAINFRA-ESTRUTURAINFRA-ESTRUTURAINFRA-ESTRUTURAINFRA-ESTRUTURA

Grupo Coimex .............. 10-13EMBRAPOREMBRAPOREMBRAPOREMBRAPOREMBRAPORTTTTT

Ensaio Fotográfico ....... 14-15RETRARETRARETRARETRARETRATOS DA ILHATOS DA ILHATOS DA ILHATOS DA ILHATOS DA ILHA

Trabalho e Pesca .......... 20-21TRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHO

Futebol .............................. 22Bares .................................. 23

LAZERLAZERLAZERLAZERLAZER

Festa do Bom Jesus ...... 24-25RELIGIÃORELIGIÃORELIGIÃORELIGIÃORELIGIÃO

Dona Dina .................... 26-27PERSONAGEMPERSONAGEMPERSONAGEMPERSONAGEMPERSONAGEM

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UNIVERSIDADE SANTACECÍLIA - UNISANTA

Faculdade de Artes e Comunicação

(FaAC)

Trabalho de Conclusão de Curso

(TCC)

Ilha Diana - Suplemento Especial

Jornalismo - 2005

Diretor da FaAC:

Prof. Humberto Iafullo Challoub

Coordenador de Jornalismo:

Prof. Robson Bastos da Silva

Orientador do TCC:

Prof. Francisco La Scala Jr.

Editor:

Marcelino Silva

Repórteres:

Marcelino Silva

Renato Barros

Projeto Gráfico:

Marcelino Silva

Renato Barros

Márcia Molnar

Foto / capa:

Marcelino Silva

Lixo ............................... 18-19MEIO-AMBIENTEMEIO-AMBIENTEMEIO-AMBIENTEMEIO-AMBIENTEMEIO-AMBIENTE

Educação ........................... 16Saúde ................................. 17

SAÚDE/EDUCAÇÃOSAÚDE/EDUCAÇÃOSAÚDE/EDUCAÇÃOSAÚDE/EDUCAÇÃOSAÚDE/EDUCAÇÃO

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Localizada entre o canal de Bertioga e o rio que lhe empresta o nome, a IlhaDiana é um pedaço de terra parcialmente isolado do mundo urbano, mesmoestando bem próxima do maior complexo portuário da América Latina. O lu-gar começou a ser habitado na década de 40 depois da desapropriação da Vilada Bocaina, em Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá. No local onde oshabitantes da ilha moravam foi construída a pista de pouso da Base Aérea deSantos.

A comunidade é uma das últimas colônias de pescadores da Baixada Santista.Nela vivem 174 pessoas, distribuídas em 47 famílias (68 homens, 64 mulherese 42 crianças e adolescentes). Seus moradores se conhecem por apelidos e con-servam tradições como a pesca artesanal e a fé religiosa em Bom Jesus de IlhaDiana. É comum terem os mesmos sobrenomes, pois a maioria da população édescendente das famílias Gomes, Hipólito, Quirino e Souza. Elas foram as pri-meiras a deixar a Bocaina e a povoar o vilarejo.

Poucos santistas sabem que o bairro existe e que pertence ao município. Éum lugar especial que fica na Área Continental, a 20 minutos do centro dacidade. A Ilha Diana sofre com problemas de infra-estrutura e carece de umapolítica de educação e preservação ambiental. Para os visitantes é um recantoexótico. Já os moradores, a consideram um paraíso.

Este suplemento especial sobre a Ilha Diana nasceu acreditando no traba-lho de fôlego e criterioso da grande-reportagem e com o objetivo de fazer umraio-X em uma comunidade isenta da correria e violência comuns nos centrosurbanos. Foram dez visitas ao lugar, algumas noite a dentro. No decorrer dareportagem observamos que as autoridades públicas e o empresariado queremajudar a comunidade, mas o esforço feito tem sido pouco para atender as neces-sidades e demandas.

Temos a expectativa de que com a publicação deste trabalho jornalístico,poderemos contribuir para a melhoria da qualidade de vida e para a divulgaçãodaquela comunidade pouco conhecida. Só não temos certeza se depois da cons-trução de um terminal portuário nas proximidades, a ilha continuará sendo umrefúgio calmo ou se ela fará parte do mundo moderno, agitado e desenvolvido.

O povo é o melhor cartão postal do lugar. São caiçaras simples que tratama todos muito bem e com o máximo de respeito. Não se negam em oferecer umprato de comida para aqueles que os visitam ou até mesmo uma cama paradormir se o último barco já partiu.

Assim, sejam bem-vindos à Ilha Diana!

A ilha que os santistasnão conhecem

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A viagem começa no atracadouroque está localizado no cais atrás do pré-dio da Alfândega, no centro de San-tos. Ao chegar é possível perceber agrande movimentação do sistema detravessia marítima entre Santos e o dis-trito de Vicente de Carvalho, em Gua-rujá. O terminal, que opera 24 horaspor dia e transporta acima de 500 pas-sageiros em cada embarcação, não temnada a ver com as poucas pessoas queprecisam chegar à Ilha Diana.

Os visitantes precisam ficar aten-tos pois boa parte das pessoas que pas-sam ali não sabe responder como se fazpara chegar e nem onde fica a tal ilha.À direita do terminal, caminhando al-guns metros pelo velho cais de parale-lepípedos, é possível avistar o local cor-reto de atracação, próximo aos aban-donados guindastes da antiga Compa-nhia Docas de Santos.

O atracadouro fica debaixo deuma passarela de pedestres onde oshorários de embarque estão pintadosà mão em uma de suas pilastras. Éneste abrigo que as pessoas aguar-dam, num banco improvisado demadeira, a chegada da barca que oslevará para ilha. A paciência é umaboa dica, pois os horários não sãoconstantes e a chuva pode alterar ohumor dos passageiros. Aos poucos,o ambiente fica descontraído com obate-papo dos moradores.

Este transporte é gerenciado pelaCompanhia de Engenharia de Tráfego

(CET-Santos), mas está sendo opera-do por um barco privado, já que aembarcação municipal, a barca "Dia-na", está parada desde o final de 2004(veja a seguir). Três marinheiros deconvés da companhia trabalham emturno de revezamento nas 20 viagensdiárias. Atualmente, eles fazem a co-brança e a fiscalização do serviço. Acapacidade do barco é de 25 pessoas ea tarifa custa R$ 0,25. Crianças, estu-dantes e idosos não pagam passagem.

No balanço do mar

Os marinheiros da CET auxiliamno embarque e desembarque dos pas-sageiros. Alcides Pereira de Carvalho,Edival Manuel Gomes e Marcos Fari-as dos Santos são responsáveis pela se-gurança da embarcação. "Às vezes,enfrentamos fortes ventos e marolasagitadas. Neste caso, o barco balançamuito. Temos que acalmar os mais as-sustados. Felizmente é raro isso acon-tecer", conta Gomes. Ele é o único dostrês que mora na ilha.

A viagem à Ilha Diana dura cercade 20 minutos. Para chegar nela é ne-cessário atravessar o canal do estuáriode Santos e seguir na direção da con-fluência com o rio Diana. A travessiaé contemplada com uma bela vista doPorto de Santos e do Monte Serrate.No meio do caminho, uma parada éfeita no píer da Base Aérea. Soldadosda Aeronáutica desembarcam e mora-dores que foram às compras em Vicen-

"Se a canoanão virar..."

Os barcos e ascondições do mar

fazem parte dodia-a-dia dosmoradores e

visitantes da IlhaDiana. O

transportemarítimo é o

único meio dechegar e sair dovilarejo isolado

pela naturezate de Carvalho aproveitam para voltarpara casa. Eles são autorizados a usar oquartel como meio de passagem.

No trecho de entrada do Rio Dia-na, em meio aos manguezais, é possívelver peixes, como o Parati, saltando parafora d'água e pescadores artesanais ca-çando mariscos nos bancos de areia. Omarinheiro Santos diz que já presencioumomentos emocionantes no trajeto."Em dia de maré mansa e sol forte, eutive o prazer de ver vários botos nadan-do perto do barco".

Ao contornar a primeira curva dorio já é possível ver as diversas casas davila. A barca atraca em frente à EscolaRural da Ilha Diana.

Santos não secansa das váriasviagens do dia.

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Marcelino Silva

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"Chatinha" nossa de cada dia

Não existem carros na Ilha Dia-na. No lugar dos convencionais auto-móveis, estacionados nas garagens, osmoradores têm suas "chatinhas" atra-cadas em frente às casas. A pequenaembarcação tem esse nome porque ofundo do casco é reto (chato). Pode serfabricada em alumínio ou madeira.Aquelas que não têm motor são utili-zadas a remo. Elas são usadas para pes-car, passear e transportes em geral.

A dona de casa Luiza AparecidoHipólito Alves explica que seu maridonão é pescador e mesmo assim a "cha-tinha" é indispensável no dia-a-dia."Ele trabalha no comércio em Santos.Quando está de folga, usamos o barcose precisarmos sair de casa. Podemosfazer compras ou levar os filhos na es-cola. Também carregamos lixo, gás decozinha e materiais de construção. As-sim, não dependemos dos horários dabarca da CET".

Triste fim de Diana

Uma das principais conquistas dacomunidade em todos os tempos, a

barca "Diana" está abandonada há qua-se um ano no atracadouro da ilha.Inaugurada em novembro de 1992 eoperada na época pela CompanhiaSantista de Transportes Coletivos(CSTC), o equipamento atendeu auma antiga reivindicação dos morado-res: possibilitou a integração da IlhaDiana com o município-sede.

O presidente da Sociedade deMelhoramentos, Edvaldo Domingosde Lima, o Cabedelo, protesta em ra-zão da situação. "O motor da barca foiretirado em dezembro de 2004 pelaCET. Levado para manutenção, nun-ca mais voltou. O aluguel da embarca-ção atual daria para comprar váriosmotores novos. O barco particular nãofica à nossa disposição. Tínhamos achave da "Diana" e podíamos usá-lanuma emergência. Do jeito que estáhoje, a barca vai apodrecer e não serámais aproveitada".

Segundo ele, a Prefeitura paga R$9 mil pelo aluguel do barco que per-tence a um empresário da praia doGóes, em Guarujá. A assessora de co-municação da CET, Cleide Quintas,em entrevista concedida no mês deagosto, não soube dizer quando a em-barcação voltará a operar. Segundoela, os moradores não estão sendoprejudicados porque a empresa man-tém um barco para fazer o transpor-te. Cleide não revelou o valor que épago pela locação.

Também no mês de agosto, umacomissão de moradores foi recebidapelo prefeito João Paulo Tavares Papa."Entregamos um relatório de amplia-ção dos horários. Ele prometeu con-sertar a barca e contratar dois morado-res para cuidar e fazer a operação doequipamento", conta Elisa Maria daSilva, diretora da sociedade.

Perder o barcosignifica esperar

muito.

So ó nome é de princesa . . .

Embarque em Santos

Cais atrás da Alfândega

Encalhada pelo tempo

Transporte de pedra e areia

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Um dos motivos de orgulho dedona Antônia Bittencourt de Souza, amoradora mais antiga da ilha, é a águalimpa que sai de sua torneira. “Essaágua é ótima. É da Sabesp”, oferececom as mãos calejadas da vida de tra-balho e a pele enrugada pelo tempo ecastigada pelo sol. O abastecimentod’água é um dos poucos serviços pú-blicos que funcionam de forma regu-lar no bairro.

O orgulho da anciã de 86 anosteve origem no início dos anos 80,quando a empresa levou a água do RioJurubatuba, em Guarujá, para a IlhaDiana. Essa captação é tida como deprimeira qualidade, conforme a reso-lução nº 20, do Conselho Nacional doMeio Ambiente.

Mas se por um lado a água é boa,o saneamento básico é inexistente. Eesse é o terceiro maior problema daIlha Diana, conforme explica o líderda comunidade, Edvaldo Domingosde Lima, conhecido como Cabedelo.“Na ilha, das 47 casas, apenas o Cen-tro Comunitário possui fossa para es-goto. No mesmo local funcionam oposto de saúde e a escola”. As demaisresidências derramam os efluentes do-mésticos diretamente no rio Diana,onde os próprios moradores pescampara se alimentar e vender.

Riscos à saúde

O biólogo Fernando Santiago dosSantos diz que os efluentes despejadosno rio são focos de problemas de saú-de. “Apesar de ser facilmente depura-do no ambiente, quando produzidoem pequena quantidade, o esgoto or-gânico gerado pelas fezes humanas ofe-rece muitos riscos,”. Segundo Santos,o perigo está no contato das pessoascom esse material, seja pela falta de

A água édez,mas o esgoto...

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O Rio Diana écontinuamentecontaminado peloesgoto doméstico

Renato Barros

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higiene ou pelo consumo de alimen-tos contaminados. “Moluscos e crus-táceos são animais filtradores. Isso nãofaz mal para eles, mas é prejudicial aoshumanos. Comer mariscos, carangue-jos e camarões, contaminados porcoliformes fecais, pode ocasionar do-enças como diarréia, entre outras. Issoé preocupante numa comunidade iso-lada”, expilca.

Providências públicas

A Sabesp fez um anteprojeto paracoletar e tratar o esgoto de toda a ilha.Segundo o superintendente da empre-sa, Paulo Roberto de Queiroz, a nãorealização da obra se deve ao fato de ailha estar em área de preservação per-manente. “Temos o interesse em tra-tar o esgoto daquele santuário ecoló-gico. Mas não dá para resolver nadasem a legalização fundiária do local. Énecessário um Termo de Ajustamentode Conduta entre a Sabesp, a Prefei-tura e os órgãos ambientais competen-tes. Depois que regularizar a terra, po-deremos implantar a rede coletora”,enfatiza.

A Prefeitura de Santos informaque a obrigação formal de construira rede de esgoto é da Sabesp. “A em-presa tem a concessão estadual paraexplorar e fornecer estes serviços”,afirma o secretário de Governo,Márcio Lara. Ele diz que o atual pro-jeto, feito pela empresa, foi um pe-dido direto do prefeito João PauloTavares Papa. O custo aproximado

da obra fica em R$ 180 mil.Lara revela que a Prefeitura está

negociando com a Sabesp, a possi-bilidade da Empresa Brasileira deTerminais Portuários (Embraport)contribuir na realização do projeto.A empresa está em fase delicenciamento ambiental e pretendese instalar próximo da Ilha Diana.“Os interesses são convergentes, masas visões não são as mesmas. Esta-mos conversando constantemente.Esperamos que eles possam ajudarnesse problema”.

Segundo o secretário, diversas me-didas estão em andamento para facili-tar o desenvolvimento da ilha. “A re-gularização fundiária é uma das prio-ridades. Queremos que as pessoas te-nham registrado em cartório a possede seus imóveis. Assim, o bairro po-derá ser incluído e regularizado urba-nisticamente, facilitando os serviços eas intervenções públicas”.

O representante da comunida-de parece desanimado. Cabedelo dizque a Prefeitura abandonou os mo-radores da ilha e que a comunidadejá cogitou a idéia de tentar se ane-xar ao município de Guarujá. Segun-do ele, os moradores desejam ter aescritura de posse de seus imóveis eque estariam dispostos a pagar to-dos os impostos necessários. “Seriamelhor que cada um tivesse a suasituação regularizada. Quem sabeseria mais fácil exigir as melhorias aque temos direito”, avalia.

Quarenta e sete casas produzemesgoto diariamente na ilha. Apesardisso, somente um imóvel trata osefluentes por meio de fossa séptica

Os canos saem direto das casas

O cheiro é forte nas proximidades

Os caranguejos convivem na sujeira

O solo é diretamente afetado

A ligação d´água passa pelo esgoto

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PopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulaçãoPopulação

Apontado comoprincipal problema

do bairro,as constantes

quedas de energiatiram o conforto, o

sono e a luz dosmoradores da ilha

sofre há anoscom apagões

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Cabedelo diz que apopulação tem medo deacidentes elétricos nacabine

Renato Barros

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“Um rabicho da Codesp”. A frase é for-te, mas a ex-secretária municipal deMeio Ambiente Débora Blanco BastosDias – que ocupava o cargo quando daconcessão da entrevista - está correta aodisparar esse comentário. Afinal, a faltade energia elétrica é o principal proble-ma que a comunidade da Ilha Dianaenfrenta há vários anos. E a que existe secompara mesmo a um rabicho puxadoda energia proveniente da estatal.

A energia elétrica chegou ao lugarhá 22 anos. Mas na época, 20 famíliasforam contempladas. De lá para cá a ilhacresceu, mas os investimentos em ener-gia elétrica não. Hoje, 47 residênciassofrem com constantes apagões e varia-ções de correntes. Problemas que se agra-vam no crepúsculo. Os moradores jáperderam as contas de quantos eletro-domésticos já queimaram. “Gente ve-lha adora assistir televisão. Minha mãejá perdeu três aparelhos”, diz EugênioBittencourt de Souza, o Jabuca, filho damoradora mais antiga.

A insuficiência de energia preju-dica o desenvolvimento. Tanto quepara viabilizar o anteprojeto de sanea-mento básico da Ilha Diana, a Sabespoptou pelo sistema de fossa filtro aoinvés de uma estação de tratamentoconvencional. O sistema escolhido re-tira 70% do material orgânico daságuas servidas, o que é “adequado parao local”, segundo o superintendenteda empresa Paulo Roberto de Queiroz.

Os moradores vão driblando comopodem o problema. Embora a cervejade Manoel Pedro Alves, o Pezão, estejasempre gelada, ele, assim como os ou-tros pescadores, retira o alimento do rioapenas na hora de ir à panela. Os maris-cos, por exemplo, são conservados embaldes com água do mar. Providênciascomo essas deixam o pescado e frutosdo mar frescos, já que a geladeira podequeimar a qualquer momento.

Elizabeth Alves, esposa de Pezão,reclama dos prejuízos e dos transtor-

nos enfrentados pelo casal: “Já perde-mos uma geladeira e vários aparelhosde som. No inverno, o banho quenteé impossível após às 18 horas. No ve-rão, sofremos demais com o calor, osventiladores não funcionam com asconstantes quedas de energia. À noi-te, as ruas não têm iluminação. É di-fícil sair de casa na escuridão”.

Obrigação de fornecimentoPara atender a Ilha Diana, a Codesp

cede parte da energia que abastece suasatividades portuárias na Ilha Barnabé.O cabo que leva energia aos moradorespassa por dentro do manguezal e atra-vessa o Rio Diana por debaixo d’água.Os técnicos afirmam que o fato docabo estar danificado pelo tempo echeio de emendas é a principal causadas oscilações na rede. A empresa dizque a obrigação do abastecimento éda concessionária pública que forne-ce energia elétrica para o municípiode Santos e que por isso cobra umataxa simbólica da coletividade.

O líder comunitário, EdvaldoDomingos de Lima, o Cabedelo, dizque os moradores não se incomodamem ter que pagar a conta de luz comoo restante da população da cidadepaga, desde que o fornecimento sejafeito com qualidade. Para ele, aCodesp não tem obrigação de prestaro serviço. “A empresa presta um favorpara nós. Seus técnicos vieram numareunião e disseram que se for mexer,arrancam de vez o abastecimento. Éruim com eles, pior será sem eles”.

Outro problema que atinge a ilhaé o desbarrancamento das margens.Com isso, há postes de luz caindo.Cansados de esperar por reformas,moradores se uniram para fazer con-sertos provisórios. “Uma empresa daregião nos cedeu uma boa quantidadede cabo. Vamos trocar o trecho docabeamento danificado, antes que acabine onde fica a chave geral pegue

fogo novamente. Quem sabe o pro-blema diminui”, desabafa Cabedelo.

Segundo o secretário de Governo deSantos, Márcio Lara, que é responsávelpela Área Continental, os estudos feitoscom a concessionária CPFL apontamum investimento de R$ 400 mil para aconstrução de uma rede adequada dedistribuição. Ele diz que todos os es-forços estão sendo feitos no sentido dese resolver a questão da forma maisrápida. “Enquanto o problema não éresolvido e a obra não começa, o valorreferente ao consumo da comunidadecontinuará sendo subsidiado pela Pre-feitura Municipal”, explica.

Chave geral de todas as casas

Cabos doados por uma empresa

Postes ameaçam cair

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EMBRAPORT

Visualizar o futuro das exportaçõesbrasileiras, buscar um diferencial nassuas atividades e fazer a própria ope-ração portuária. Foi com esses obje-tivos que o Grupo Coimex adquiriuo terreno conhecido com Sítio Sandi,localizado na Área Continental deSantos, entre os rios Sandi e Diana.O imóvel foi comprado da Compa-nhia Docas do Estado de São Pauloe está fora da área de concessão doporto organizado. Com valoresatualizados, a área negociada, em1996, custou U$$ 12 milhões (R$28 milhões).

No local, o grupo pretendeconstruir o primeiro terminal mul-tiuso da América Latina. Para isso,criou a Empresa Brasileira de Termi-nais (Embraport). Projetado especi-

VIZINHO VIZINHO VIZINHO VIZINHO VIZINHO de grande portealmente para o Porto de Santos, oterminal será edificado na margemesquerda do canal do estuário, bempróximo da comunidade da I lha Di-ana. A relação será semelhante àque-la, onde o vizinho mora do outrolado da rua. Neste caso, do outrolado do rio.

Segundo o diretor-superinten-dente da Embraport, Mozart Miran-da Mendes, o novo terminal vai ope-rar mercadorias diversas e irá ampli-ar em 15% a capacidade do porto.“A projeção anual é de escoar ummilhão de contêineres e 1,5 milhõesde metros cúbicos de álcool, além demovimentar produtos agropecuári-os (carne congelada) e automóveis”.

A área construída ocupará so-mente 650 mil metros quadrados do

terreno. Privilegiando a parte sul, fron-tal ao estuário, ficará o cais e o pátiode manobra. Na parte norte serão ins-talados tanques para armazenamentode granéis líquidos. O cais terá 1.200metros e poderá receber simultanea-mente até oito navios. Serão dois píe-res com capacidade para quatro navi-os graneleiros e outros quatro berçospara carga geral.

O acesso ao terminal tambémpoderá ser feito pelo ramal ferroviá-rio de Conceiçãozinha e pelo siste-ma Anchieta-Imigrantes, por meioda rodovia Cônego Domenico Ran-goni (antiga Piaçaguera-Guarujá).“A estrutura viária e as opções detransporte foram importantes naconcepção final do projeto”, dizMendes.

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Área Atual

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O futuro terminal ficará ao lado da Ilha Diana

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EMBRAPORT

Grupo Coimexpretende construiro maior terminalportuário privativodo País. Ao custode U$$ 320milhões, oempreendimentoocupará uma áreade um milhão demetros quadradosao lado daIlha Diana

Início das obras

O projeto deve ser totalmenteimplantado em sete anos. O inícioda obras está previsto para o come-ço do ano de 2006. A primeira partedeverá ser entregue em dois anos epermitirá o funcionamento de 600metros de cais. “Vamos empregar de300 a 500 operários na obra. Depoisde concluído, o Embraport vai gerar800 postos de trabalho fixos na ope-ração. Ao final de dois anos, atraca-remos o primeiro navio”, revela odiretor da empresa.

Serão investidos, na obra civile no aparelhamento do terminal,aproximadamente U$$ 320 milhões

(cerca de R$ 736 milhões). Depoisde erguido, o terminal vai ocupar oespaço entre a Ilha Barnabé e a BaseAérea de Santos. Onde hoje existeuma vegetação de mangue, cercadapor bancos de sedimentos, no futu-ro será fácil de identificar o novocomplexo portuário.

Ele explica que os impactoscausados ao meio ambiente foi umadas principais preocupações do gru-po. “Estamos em fase f inal delicenciamento ambiental. O nossoprojeto está desenvolvido para ser oestandarte em termos de instalaçãoportuária, mas com o cuidado im-pecável na parte ecológica. O nossoEIA-Rima (Estudo e Relatório deImpacto Ambiental), com mais de10 mil páginas, é prova disso. Aocusto muito alto, estamos buscandoas melhores soluções de engenhariae de preservação ambiental”.

Diversos fatores foram analisa-dos para que o município fosse esco-lhido como sede do empreendimen-to. “Além de ser o porto mais impor-tante do Brasil, é por onde a Coimexescoa a maioria das suas exportações.A cidade se destacou pelas facilida-des de acesso viário, pelo tipo de es-tuário e pelas empresas que já ope-ram nela. Com tudo isso, o pagamen-to do nosso investimento deve vir em12 anos. Inegavelmente, Santos nãotem competidor na economia brasi-leira”, assinala Mendes.

� Fundado em 1949, emVitória, Espírito Santo;

� Iniciou suas atividades naexportação de café;

� 100% controlado por capitalnacional;

� Negócios administradospela holding Coimexpar

� Presente em quase todos osestados brasileiros e maissete países;

� É um dos maioresconglomeradosempresariais no setor decomérciointernacional;

� Atua nas áreas deimportação, exportação,logística, agropecuária,energia elétrica, serviçosfinanceiros, concessão derodovias, operaçãoportuária, consórcio ecomércio de automóveis.

O Grupo Coimex

Mangue no local da obra O terminal poderá ser visto de Santos Sede da empresa em São Paulo

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EMBRAPORT

Empresa prepara medidascompensatórias

Além das medidas condicionantes doIbama, a Embraport pretende profissio-nalizar os moradores da ilha. Apoiar oturismo ecológico e fazer a capacitaçãoprofissional são os objetivos

Desde 2002 representantes da Em-braport estão fazendo o levantamentosocioeconômico dos habitantes da IlhaDiana. A medida visa conhecer as con-dições de vida da comunidade, excluirdúvidas sobre o processo de implanta-ção do terminal portuário e identificaras vocações profissionais de seus mora-dores. O censo faz parte do licenciamen-to ambiental analisado pelo Ibama econtém todas as informações sobre asfamílias do lugar.

Segundo o diretor-superintenden-te da empresa, Mozart Miranda Men-des, uma das principais medidas con-dicionantes, impostas pelo Ibama, foià elaboração de um Programa deApoio à Pesca. Ele diz que estudosmostram uma decadência na pesca ar-tesanal na região, causada por diver-sos motivos.

O diretor explica que a Embraportnão vai substituir o poder público, masque vai colaborar com vários projetos.“Em longo prazo vamos criar recifesartificiais. Se possível, vamos aumen-tar a quantidade de peixes do lugar.Esperamos que o nosso projeto sejauma alavanca para aqueles que sobre-vivem da pesca artesanal”.

Em curto prazo, a empresa querinvestir na capacitação dos profissio-nais que são vítimas da pesca decaden-te. Um dos programas de inserção so-cial visa o desenvolvimento do turis-mo ecológico. Os pescadores, interes-sados no projeto, seriam treinados parareceber e acompanhar os turistas empasseios pelos manguezais da ÁreaContinental de Santos. Mendes lem-bra que, para isso, é preciso melhorar

a infra-estrutura de saneamento e detransporte da ilha.

Oportunidade de trabalho

Outro programa de reciclagemprofissional, proposto pela Embra-port, pretende treinar os jovens dailha para que sejam aptos a trabalharnas operações do novo terminal. Es-tudos feitos pela empresa apontamque os mais novos possuem um con-tato direto com o mundo moderno,por isso não despertam um maiorinteresse pela prática da pesca arte-sanal. “Queremos identificar as vo-cações que cada um tem para ingres-sar na nossa empresa. Seja para tra-balhar como motorista, como ope-rador de empilhadeira ou nas demaisfunções”, promete Mendes.

A complexidade do terminal e aoperação de seus equipamentos vãorequerer um preparo adequado. Atémesmo na parte operacional será exi-gido o ensino médio completo. Segun-do Mendes, os interessados vão rece-ber oportunidades e incentivos paratrabalhar. “Vamos dar uma ajuda decusto aos que precisam completar osestudos ou querem praticar um cursotécnico. Eles terão dois anos para fa-zer isso. Só depende deles”.

A Fundação Otacílio Coser, quecuida do investimento social doGrupo Coimex, seria responsável emadministrar os projetos de educaçãoe desenvolvimento humano destina-dos à população. Para isso, envolve-rá seus profissionais em ações volun-tárias para a comunidade. “O pes-soal da nossa fundação entende dis-so. Não vamos jogar dinheiro fora.Pretendemos oferecer 50 vagas aosmoradores. Com estes postos de tra-balho se resolve boa parte dos pro-blemas do lugar. Será uma mudançaexpressiva no modo de vida. Nãovamos adotar a Ilha Diana. Eles nãoprecisam disso. Ao invés de dar opeixe, ensinaremos a pescar” garanteMendes.

Comunidade dividida

Diversas dúvidas estão deixandoos moradores indecisos sobre a chega-da da Embraport nas vizinhanças daIlha Diana. Alguns que sobrevivem dapesca artesanal acham que não pode-rão navegar nas proximidades do ter-minal . Os mais antigos não queremque a região fique movimentada eatraia intrusos para comunidade. Osmais novos acreditam que as oportu-nidades de trabalho irão surgir ao lon-

“Não vamosadotar aIlha Diana”

Mendes acredita noinvestimento social

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EMBRAPORT

go do processo. Outros temem que oproblema de inundação da ilha au-mente com o aterro que será feito nolocal do empreendimento.

Edvaldo Domingos de Lima en-tende que a empresa só vai utilizar amão-de-obra dos moradores no co-meço da obra. “Faremos o desmata-mento do terreno. Depois, ninguémserá aproveitado”, diz o líder comu-nitário. Já o morador Milton Gomesacredita que a população pode se be-neficiar com o projeto. “Do mesmomodo que eu faço, outras pessoaspodem trabalhar fora”, compara. Go-mes trabalha numa empresa de nave-gação em Vicente de Carvalho.

Outras medidas

O Ibama avaliou as perdas ambi-entais e colocou as condições para queo projeto pudesse concorrer nas eta-pas do licenciamento. A principalmitigação (compensação) determinaque 60% do terreno de um milhãode metros quadrados não sejam utili-zados na obra. Este compromisso seráaverbado em cartório, conforme asexigências do Ibama. Outra medidade peso prevê que meio percentual,do valor total do empreendimento,seja investido numa área de preserva-ção permanente. Neste caso, a Em-braport teria que aplicar algo acimade R$ 1 milhão, aproximadamente.

Os estudos foram realizadoscom base na legislação ambiental euma equipe de 15 técnicos, todosna sua área de especialidade, estáanalisando todos os critérios. Partedeste trabalho possibilitou que oórgão emitisse a Licencia Prévia doempreendimento. A expectativa daEmbraport é de conseguir, ainda em2005, a Licença de Instalação. As-sim, poderá iniciar as obras no co-meço de 2006, de acordo com aprevisão.

O secretário de Governo de San-tos, Márcio Lara, está otimistacom a instalação do terminalEmbraport na Área Continental.Ele diz que o momento é de ex-trair os benefícios que o empre-endimento irá proporcionar paraa região.

Diversas conversas vêm ocor-rendo, todas no sentido de adequar

as propostas da empresa em relação às necessidades do município. “A cida-de vai ganhar com a geração de empregos, com o aumento da movimenta-ção no porto e com o recolhimento de impostos”, explica o secretário.

Lara ressalta que a empresa chega no momento importante, em que vá-rias secretarias estão concentradas em formatar o plano de Desenvolvimen-to da Área Continental. Ele explica que a comunidade da I lha Diana podeser beneficiada diretamente. “Temos nos esforçado, em nossos entendimen-tos, para incluir entre as medidas mitigatórias da Embraport os problemasde infra-estrutura do bairro. O saneamento básico e abastecimento de energiaelétrica são as prioridades”.

O diretor-superintendente da Embaport, Mozart Miranda Mendes, apon-ta uma estratégia para a solução dos problemas referentes à energia elétrica.Segundo levantamentos superficiais, a necessidade de consumo elétrico doterminal será alta. Quando todos os equipamentos estiverem funcionandoa capacidade solicitada pode chegar a 30 megawats.

Isso vai exigir um grande investimento de rede por parte da concessioná-ria pública. “Essa potencialidade aumenta nosso poder como cliente. Va-mos nos reunir com o prefeito para reivindicar junto a CPFL. Já que elesvão trazer energia elétrica até o nosso terminal, mais 300 metros depois dorio conseguem levar o abastecimento de qualidade até a Ilha Diana”.

No caso do saneamento básico, a Prefeitura já manteve reuniões com aSabesp e com a Embraport, no sentido de um acordo. A empresa se colocoua disposição para ajudar na construção da rede coletora. “Como o proble-ma envolve a saúde, o esgoto é a situação mais urgente. Resolvendo a ques-tão do saneamento é possível investir no turismo e demais áreas. Durante aobra, podemos colaborar com nossos equipamentos. É o começo das solu-ções dos problemas da ilha.”, diz o diretor. (MS)

Prefeitura queraproveitar o momento

Parceria com a Embraport visa solucionarproblemas da Ilha Diana.

Por outro lado, o município pretendedesenvolver a economia local

Lara (à dir.) debate com Álvaro Pereira,coordenador da Área Continental

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Fotos: Marcelino Silva

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EDUCAÇÃO

Estudantesda Ilhatêmdificuldades

Ensino fraco ebaixa freqüênciasão os principais

problemasenfrentados pela

direção

Problemas estruturais, falhas noensino fundamental de 1a à 4 a séries,falta de incentivo e, também, em mui-tos casos, de cultura dos pais. Esses sãoalguns dos problemas que os alunos daIlha Diana têm que superar no dia adia do aprendizado.

Essa avaliação é da professora Tâ-nia Donizete Vassão, vice-diretora daEscola Estadual Marechal do ArEduardo Gomes, que fica no distritode Vicente de Carvalho, e atende es-tudantes de Guarujá e também, a par-tir da 5a série, os que vêm da IlhaDiana.

Ela observa que os alunos da ilhachegam com defasagem no aprendiza-do. "Eles chegam aqui com uma difi-

culdade grande e recebem um atendi-mento muito especial de cada profes-sor até na parte de alfabetização".

Na ilha, as dificuldades são mui-tas, desde o transporte da professoraque é feito por embarcação até proble-mas de equipamentos como ausênciade computadores, televisão e, princi-palmente, livros.

Para equiparar o nível de ensinodesses alunos com os demais doGuarujá, a escola oferece aulas de re-forço que são pouco assistidas pelosalunos da Ilha Diana. "Essas aulas com-plementares são depois do horário e osalunos dificilmente assistem, pois per-dem a barca para ir embora", disse aprofessora que aponta falhas no trans-

porte marítimo que depende das con-dições climáticas para funcionar, o quedificulta a freqüência dos alunos naescola da Base Aérea a poucos metrosde distância.

Acompanhamento do pais

Tânia disse que os pais da IlhaDiana sempre comparecem às reuni-ões, mas que a falta de estudo delesreflete nos filhos. "Os pais não têmconhecimento nem cultura para aju-dar os filhos a sanar as dificuldades",disse a professora que ainda informouque o aprendizado é lento. No entan-to, ela garante que 80% chegam aonível normal de aprendizado até o fi-nal do ensino médio.

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Renato Barros

Tania acredita na recuperação dos alunos

Sala do Ensino Fundamental

No Eduardo Gomes,as crianças da Ilhaconvivem com alunosde outros bairros

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SAÚDE

A falta de médicos e enfermeiros, ofuncionamento inconstante e o núme-ro controlado de consultas diárias sãoos principais problemas da Unidade deSaúde de Ilha Diana. Usuários dizemque quando precisam se tratar são obri-gados a procurar os hospitais de San-tos ou de Vicente de Carvalho. Emcaso de emergência, o socorro é pres-tado pelos militares da Base Aérea.

Segundo moradores, o médico de-veria vir duas vezes por semana, masnem sempre isso acontece. E quandoas consultas são realizadas, o númeromáximo de atendimentos é de oitopessoas. Eles consideram a assistênciainsuficiente para uma comunidadecom quase 200 habitantes.

A comerciante Shirley Hipólito deSouza conta que o antigo médico, co-nhecido como doutor Marcos, atendiabem a comunidade e era muito aten-cioso. Agora, ela diz que a situação nãoestá boa. "Aqui nunca tem médico.Tenho que ir à Santa Casa, em Santos.Lá sou bem atendida. No posto da ilhanão é possível tratar o diabetes. Se foresperar, acabo morrendo. O doutorMarcos era um ótimo profissional. Fi-cava aqui até o último paciente seratendido. Sempre que uma pessoa boase interessa por nós acaba indo embo-ra", lamenta.

No caso da dona de casa Silvia Hele-na de Souza Lima, o problema foi maisgrave e ela precisou ser socorrida de bar-co. "Tive um mal-estar muito forte. Mi-nha pressão abaixou bastante, senti do-res de cabeça e vomitei várias vezes. Osvizinhos ajudaram o meu marido a melevar de chatinha para a Base Aérea. Não

MoradorMoradorMoradorMoradorMoradoresesesesesreclamam dafalta de médicos

A comunidadetem um posto desaúde exclusivo,

mas, segundousuários, o

equipamento nãoatende as

necessidades

quero passar por isso novamente", lem-bra. Neste dia, uma ambulância militarlevou Silvia até o pronto-socorro deVicente de Carvalho.

Segundo a líder comunitária ElisaMaria da Silva, durante o primeiro se-mestre de 2005, o médico atendia duasvezes por semana e a enfermeira com-parecia em todos os dias úteis no pos-to de saúde. "O doutor Marcos nos vi-sitava na segunda e sexta feiras. Ago-ra, temos um novo médico, já é o quar-to só este ano. Parece ser legal, mas temque atender no mínimo duas vezes porsemana, senão de nada vai adiantar",reivindica a diretora da Sociedade deMelhoramentos de Ilha Diana.

Outro lado

A coordenadora de saúde coletivada Secretaria de Saúde de Santos, Re-gina Bernardino, é responsável pelosprojetos que envolvem a Área Conti-nental, que inclui a Ilha Diana. Ela dizque o bairro está inserido no Progra-ma de Saúde da Família e passa peloprocesso de adequação do programa.

Regina explica que o projeto é di-vidido em equipes comunitárias quesão compostas por um médico da fa-mília, um enfermeiro padrão, um au-xiliar de enfermagem e um agente co-munitário que obrigatoriamente devemorar na comunidade. "A Ilha Dianatem seu próprio agente comunitáriode saúde que pode ajudar todos os mo-radores".

Segundo a coordenadora, o núme-ro de atendimentos é feito dentro dasregras do Ministério da Saúde. É res-peitada a carga horária de cada um.

Quanto à ausência de médicos e en-fermeiros, Regina justifica. "A enfer-meira local está de férias e a que ficouno lugar atende outros bairros simul-taneamente, mas não deixa de aten-der. É ordem da secretaria. O médicoque a população gostava pediu exone-ração do quadro da Prefeitura. Deslo-camos médicos de outras regiões. Sópoderemos contratar outro profissio-nal quando o processo de concursopúblico for concluído. Isso logo seráresolvido", conclui.

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Posto fechado: quarta-feira 13/10/2005

Horários na parede do posto

Marcelino Silva

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A falta de infra-estrutura aliada apouca consciência dos moradores empreservar o meio ambiente prejudicama qualidade da pesca e o desenvolvi-mento turístico da Ilha Diana.

Como se não bastasse a poluiçãoproveniente do esgoto que desembo-ca no atracadouro da ilha (único pon-to de embarque e desembarque de vi-sitantes), o lixo caseiro e entulho sãodepositados e atirados sem qualquerpreocupação com o ecossistema.

O professor Fernando SantiagoSantos acompanha há cinco anos a re-lação da comunidade com o meioonde vive. E não está satisfeito: “logoque chegamos ao atracadouro pode-mos notar que o manguezal está alta-mente impactado com dejetos, lixodoméstico e esgoto. Isso indica que osmoradores não têm a visão de preser-var o meio ambiente”.

Doutor em Biologia, Santos fazvisitas semestrais, de barco, com seusalunos. Ele aponta a parte de trás dailha como degradada. Ali, o cheiro ca-racterístico do esgoto é mais concen-trado, pois os efluentes ficam barradosna vegetação, assim como pedaços degeladeira e garrafas plásticas. “Lixovem de diversos lugares, mas a maio-ria é da própria ilha”, analisa.

Mas o que mais preocupa o pro-fessor é o lixo que contém materiaistóxicos e metal pesado, como pilhas ebaterias de celulares, pois “boa partedos animais que vivem nos mangue-zais absorvem o material químico. Porisso, o morador corre risco de conta-minação ao consumir um peixe nes-sas condições”, alerta.

Apesar dessa a avaliação, o pro-motor de Justiça de Meio Ambiente,Dauri de Paula, com base em um pré-levantamento de controle do estuário,constatou que o mesmo vem apresen-tando degradação na vegetação e de-posição inadequada de resíduos sóli-

Lixo é umaameaça

A falta deconsciênciaambiental departe dosmoradoresprejudica asatividadeseconômicas

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Renato Barros

O lixo é dEixado noslugares escondidos

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dos, “o índice de contaminação na ilhanão é elevado”.

Centro de referência

A ex-secretária municipal de MeioAmbiente e atual secretária de Planeja-mento Débora Blanco Dias garante queos moradores conhecem a importânciada preservação ambiental e que a Pre-feitura estimula essa conscientização.

Com o objetivo de transformar aIlha Diana em um “centro de referên-cia em desenvolvimento e qualidadede vida”, Débora aposta que a ilha tempotencial para se tornar um exemploem preservação ambiental e desenvol-vimento sustentável. Mas ela deixaclaro que a Prefeitura não tem poderpara realizar a tarefa sozinha. “AEmbraport pode somar na construçãode uma nova possibilidade à IlhaDiana”, cogita.

Enquanto isso não acontece, osmoradores dizem que são obrigados apescar cada vez mais longe. “A pescaestá ruim”, resume, com simplicida-de e poucas palavras, o carpinteiro epescador Armando de Souza, de 58anos – 40 desses morando na ilha.

O promotor de Justiça do Meio Ambien-te, Dauri de Paula, disse que o empreendi-mento que a Embraport está executando naÁrea Continental de Santos “é imoral e abso-lutamente contra a lei”.

Essa afirmação resulta da disposição doServiço de Patrimônio da União, de não co-brar pela área a ser ocupada pela empresa, sobo argumento de que trará desenvolvimento eaumento das exportações. “É preciso cumprira lei que determina a licitação para a conces-são da área”, afirma o promotor que encami-nhou o caso ao Ministério Público Federal.Segundo Dauri, o Estado deveria verificar a melhor área para a instalaçãodo empreendimento e promover uma licitação.

Impacto negativo

Para o promotor, o empreendimento trará impactos negativos para acomunidade na questão sócio-ambiental, alterando o ritmo de vida das pes-soas. “O Instituto de Pesca já aponta para a necessidade de requalificaçãodos pescadores porque quanto mais empreendimentos se instalando no lo-cal, maior a contaminação ambiental”.

Ele acrescenta que o Ministério Público (MP) tem levantado dados parao controle ambiental adequado do estuário e quer saber qual é o comporta-mento dos moradores na questão ambiental, se contribui ou não para apreservação.

Segundo o representante do MP, a região apresenta degradação de vege-tação e deposição inadequada de resíduos sólidos. “Apesar disso, a regiãoainda é razoavelmente preservada e os índices de contaminação no local nãosão tão elevados. A pesca é boa, mas o pescador tem que ir cada vez maislonge para exercer sua atividade”, assinala.(RB)

“Empreendimento é contra a lei”,diz promotor

Entulho não é retirado

Lixo doméstico não é retirado

Falta de conhecimento em alguns pontosO lixo precisa ser retirado de barco

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TRABALHO E PESCA

Nascido na Vila da Bocaina, a rela-ção de Mauri Martins da Silva com omar vem desde criança. O avô foi tripu-lante de navio grego e o pai era tenenteda Marinha de Guerra. Mas, a principalinfluência no gosto pela profissão veiodo tio pescador. “Meu pai sumiu depoisque minha mãe morreu, o irmão delafoi quem me criou. Aprendi com ele, fi-quei moço e gostei da coisa. Fui regis-trado na Capitania dos Portos em 1951.Sou marítimo-pescador de carteirinha”,explica com orgulho.

Casado há 44 anos com a filha deitalianos, Iolanda Biscari da Silva, Mauriestá na I lha Diana desde 1970, quandoele e a esposa deixaram o Sítio Sândi,que fica na outra margem do rio Diana.Juntos tiveram oito filhos, sendo seishomens e duas mulheres. Um meninofaleceu ainda recém-nascido. Hoje, eletem vários netos. “Nunca abandoneininguém. Graças a Deus criei toda aminha família com o sustento da pes-ca”, lembra com emoção.

Solitário, Mauri sai diariamentecom sua “chatinha” de madeira, equi-pada com motor de centro e movida àgasolina. Nos dias mais calmos, esban-

A situação dapesca artesanal,

que é a únicafonte de renda de

parte dosmoradores da

ilha, e a históriado pescador

Mauri, que aos 70anos de idade tira

da natureza osustento da vida

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Mauri a relaçãocoma natureza

faz parte da vida

O velhoO velhoO velhoO velhoO velhoe o mare o mare o mare o mare o mar

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ja vitalidade e prefere usar um simplesbarco a remo. “Muitos jovens não fa-zem o que eu faço”. Somente o nevo-eiro ou a forte chuva é capaz de impe-dir sua luta cotidiana. A pele denun-cia as picadas recebidas pelo corpo. Éo fruto da ação dos pólvoras e dosborrachudos, espécies de mosquitosque vivem nos mangues e nas encos-tas da Serra do Mar.

A arte de pescar

O objetivo de Mauri é diferente acada dia, dependendo da época e dascondições da natureza. “Na marécheia, os peixes sobem o rio, é bompara pescar Robalos, Tainhas e Paratis.Na vazante é fácil pegar ostras e ma-riscos. Com a mudança de lua, os ca-ranguejos são os preferidos. Já os ca-marões precisam estar no tamanhoideal”. Ele pesca de tudo um pouco epara isso é necessária uma variedadede artefatos. Utiliza redes, tarrafas,ganchos e puçás (cestos), mas sua pre-ferência é a pesca de cerco fixo.

O pescador é considerado mestre natécnica de fabricar cercos. Montado comraspas de bambus e tecido com aramegalvanizado, a armadilha tem aproxima-damente 15 metros de diâmetro e éfincada no fundo do rio. Ele já teve seiscercos espalhados pela região, mas des-de que ficou um ano parado, por pro-blemas cardíacos, a licença de explora-ção venceu. Durante esse tempo, os pi-ratas destruíram os cativeiros. Eles cos-tumam invadir os cercos com lanchas eroubar todos os peixes.

Segundo Mauri, a técnica é umaajuda fora de série, pois já pegou milquilos de peixes num único cerco.Outra vantagem é que várias espéciessão capturadas ao mesmo tempo. Eletem esperanças de que o Ibama con-ceda uma nova licença. “Enquantodescanso, o cerco está pescando pormim. É uma ciência que só o pesca-

dor conhece. Tem que entender o cor-te que a correnteza faz. Nunca monteium cerco onde os peixes conseguissemfugir. Tenho fé em Deus, que vou cons-truí-los novamente”.

Para Mauri, a pesca artesanal pre-cisa de uma cooperativa que faça oproduto chegar aos mercados de dis-tribuição. Ele diz que no passado che-gou a lucrar entre R$ 1 mil e R$ 2 milmensais. Atualmente, ele vende o pes-cado para comerciantes de Vicente deCarvalho e não consegue ganhar maisque R$ 500 por mês. Apesar das difi-culdades, ele não desanima. “Já falei evou repetir. Amo tudo o que faço. Apesca é minha vida”.

Decadência da pescaartesanal

Estudos feitos pelo Instituto dePesca de Santos mostram que, ao lon-go dos anos, os manguezais vêm so-frendo diversos impactos que têm con-tribuído para a degradação da vidamarinha. Além das conseqüênciasambientais, os impactos interferemdiretamente na reprodução dos orga-nismos aquáticos, afetando o potenci-al da pesca e, conseqüentemente, opescador artesanal que tira o sustentodo mangue.

Segundo pesquisa do instituto,realizada pela equipe do professorAlberto Ferreira de Amorim, a IlhaDiana já representou 1,8% da pescaartesanal na Baixada Santista, comaproximadamente 50 pescadores ca-dastrados. Hoje, este número não passade 0,7%, o que representa somente 15trabalhadores registrados. Os demaispraticam a pesca por falta de opção eestão anônimos em relação aocadastramento.

Os dados apontam, segundo odepoimento dos próprios pescadores,uma dificuldade cada vez maior em

conseguir o pescado. Seus descenden-tes em sua maioria estão se dedicandoa outras atividades, perdendo a tradi-ção da pesca artesanal. Com essa ame-aça, a uma das profissões mais antigasda humanidade corre o risco de desa-parecer da região.

O trabalho do professor Amorimpretende levantar a situaçãosocioeconômica dos pescadoresartesanais da Baixada, visando forne-cer subsídios que auxiliem as entida-des públicas e privadas nas tomadas dedecisões.

Dona Iolanda faz parte da vida de Mauri

Rede adequada para a pesca do dia

A caminho do sustento da vida

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FUTEBOL-LAZER

Caranguejo é bom de bolaCom poucas opções de lazer, os

moradores da comunidade não deixamde praticar o esporte que é a paixão na-cional. Faltam redes de esgoto e energiaelétrica própria no bairro, só não podefaltar o campinho de várzea. O maiscurioso é a relação do homem com anatureza para que as “peladas” possamser realizadas. Já imaginou a VilaBelmiro alagada pela maré-alta, cheia deburacos e pequenos caranguejos passe-ando pelo gramado? É isso mesmo. NaIlha Diana, o futebol é praticado nessascondições. Localizado no lado norte dailha, parte do campo fica próximo à áreade mangue que ainda está preservada.

Carlos Alberto Hipólito, o Carlão, éum dos moradores que joga pelo time lo-cal, o Esporte Clube Diana. “É só baterbola dentro de campo que em pouco tem-po os caranguejos fogem para o mangueou se escondem em suas casas. Conforme

Além de peixes,mariscos e

camarões, ofutebol também

enche as redesdos pescadores

da Ilha Diana

vamos jogando, os buracos das tocas sãotapados pelos nossos pés”, explica.

A linha de fundo é demarcada poruma barreira de pneus. É uma tentativade impedir o avanço da maré e a conse-qüente erosão do campo de jogo. Mas,nem sempre isso é possível. “Quando amaré sobe acima de 1,40 metros, nãotem jeito. Temos que cancelar as parti-das e esperar a água abaixar”, diz Carlão.

Como já é tradição, quem está defora é convidado a apitar o jogo. E oque é pior, sem o auxílio de bandeiri-nhas. Outra particularidade é o númerode participantes. Devido às dimensõesdo campo, cada equipe joga somentecom oito jogadores. O papel de gandulafica por conta dos mais novos. Eles sãoencarregados de buscar as bolas chuta-das para dentro do mangue. No final, acerveja gelada é servida pelo bar que ficaà beira do campo.

FestivalNo mês de agosto, durante a Festa

do Bom Jesus, aconteceu o 25º Festivaldo E.C. Diana. Além do time da casa,foram convidadas as equipes do Espor-te Clube Vitória, do morro São Bento,em Santos, Ases do Leme e Unidos daSaideira, ambas de Vicente de Carvalho,em Guarujá. O Ases do Leme venceu oVitória por 5 a 2. Já o Diana derrotou oUnidos da Saideira por 2 a 1. As equi-pes vencedoras receberam troféus decampeãs do torneio.

O diretor do E.C. Diana, Ricardode Sousa, diz que o sucesso dos jogostem atraído o interesse das mulheres. “Aintenção é realizar um torneio femini-no”, revela. Segundo ele, cerca de 30pessoas praticam o futebol na ilha. ParaSousa é importante a participação dosvisitantes. “O futebol é o principal lazerna ilha. Sem os times de fora, não seriapossível realizar os festivais. Eles semprevoltam e todos acabam ficando amigos”.

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Maré alta

Ases do Leme

Carlão e Jabuca

Diana 2 X 1 UnidosMaré BaixaCombate Erosão

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LAZER-BARES

Botecos pra dar e venderDepois do futebol, o principal passatempo dos moradores e visitantes da Ilha

Diana é beber, petiscar e jogar conversa fora num dos oito bares do lugar. Compa-rando com outros bairros da cidade e levando em conta o tamanho da comunida-de, o número de estabelecimentos é considerado alto.

Um dos mais estruturados é o Bar, Lanchonete e Mercearia da Ilha. Dirigi-do por Hélio França, no bar é fácil encontrar produtos variados como os dehigiene, artesanatos e biscoitos. Possui amplo salão coberto com mesas e cadei-ras. Nas paredes, uma exposição fotográfica conta a história dos habitantes dailha. Dona Tereza, esposa de França, serve uma das especialidades da casa, opeixe azul-marinho. A receita leva banana verde e risoto de camarão. Os pratosvariam de R$ 6,00 a R$ 20,00. A cerveja custa R$ 3,00.

Para aqueles que gostam de cachaça artesanal, a indicação é o quintal dopescador Manuel Pedro Alves, o Pezão. Geralmente, nos fins de semana, sãopreparados marisco lambe-lambe com arroz e peixes assados na brasa. A comi-da não é cobrada dos clientes mais chegados. “Estou estruturando o local. Omeu forte é a venda de cerveja”. Os clientes são servidos a céu aberto compoucos lugares para sentar. A dose da aguardente vale R$ 1,00 e a cerveja saipor R$ 2,50. Pezão busca de barco as caixas de bebidas no centro, em Santos.

Segundo o vice-presidente da Sociedade de Melhoramentos da Ilha Diana,Vanderley Gomes, o orçamento doméstico é o principal motivo da existência devários botecos. “Para aumentar a renda, as pessoas acabam vendendo bebidas eoutras guloseimas. Qualquer quintal vazio pode virar bar de uma hora para outra”.

Cerveja gelada,cachaça artesanale petiscos daculinária caiçarasão os principaisatrativos dosvários bares dailha

Bar da Keka Cerveja vem de Santos Bar do P ezão Pezão

Bar da Ilha

Bar do Campo

Bar do Tilico

Bar da Ilha é o maior de todos

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FESTA DE BOM JESUS

A féA féA féA féA féem dose dupla

Completando 51anos e comemoradosempre no dia 6 deagosto, umimprevisto fez comque os festejos doBom Jesus de IlhaDiana fossemrealizados por duasvezes em 2005

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Procissão terrestreacontece todos os anos

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FESTA DE BOM JESUS

Foi demonstrando os ensina-mentos da fé e da oração, que o 1o te-nente capelão da Base Aérea de San-tos, Ronaldo Eustáquio dos Santosamenizou o ressentimento da popula-ção da Ilha Diana em relação ao con-tratempo ocorrido neste ano. Seu sen-timento religioso foi expresso no dia6 de agosto após a celebração da missaanual em devoção ao padroeiro da co-munidade.

Padre Ronaldo, como é conheci-do, elogiou a crença dos moradores emrealizar a Festa do Bom Jesus na dataem que ela tradicionalmente aconte-ce. “Enquanto padre, eu não poderiame furtar a essa missão. Se eles que-rem, vim rezar com o povo conformeDeus deseja. Rezamos, também, paraque as crianças sejam preservadas nasua saúde. O senhor Bom Jesus temos meios e a fé está acima de tudo. Queesse surto de catapora desapareça”.

Foi justamente o surto de vari-cela, surgido no mês de julho, queobrigou a Prefeitura Municipal deSantos, por meio da Secretaria deSaúde, a cancelar os festejos na dataque ele ocorre por tradição. Segun-do a coordenadora de saúde coletivado município, Regina Bernardino, apreservação da saúde pública foi oprincipal objetivo da decisão.

“Durante a festa, um grande nú-mero de pessoas visitam a ilha. Nãopoderíamos correr o risco de transpor-tar a doença para outros bairros da ci-dade. Tínhamos que aguardar o con-trole da situação”, explica Regina.Mesmo assim, os moradores resolve-ram manter a tradição e promover afesta de forma independente. “A datacerta do padroeiro é 6 de agosto. É nes-se dia que devemos comemorar o nos-so Bom Jesus”, diz Adriano da SilvaAlves, morador da ilha há 40 anos.

Com o problema de saúde resol-vido, a Prefeitura apoiou a realizaçãode uma nova festa dentro das come-morações oficiais do município. Des-ta vez, o dia escolhido foi 17 de se-tembro. O coordenador de assuntoscomunitários da Área Continental deSantos, Álvaro Pereira Pinto Júnior,ressaltou a importância do evento. “Afesta faz parte do calendário religiosoda cidade. A comunidade ganha e omunicípio também. Jamais deixaría-mos de ajudar. Apenas esperamos omomento certo”.

Em ambas as datas, a programa-ção da festa foi bem variada. O cam-peonato de pesca e o torneio de fu-tebol de várzea foram as atrações es-portivas. Os mais religiosos puderamacompanhar as missas e as procissõesmarítima e terrestre. Enquanto isso,a garotada podia se divertir na Ruado Lazer e saborear o enorme boloda tradicional Festa das Crianças.Durante a noite, com música e mui-ta dança, o Baile da Saudade fez aalegria dos mais velhos.

Não podia faltar o Festiva lGastronômico, com comidas típicasda culinária caiçara, além de bebidase salgados diversos. Com preços quevariavam de R$ 1,00 a R$ 12,00 erapossível provar deliciosos pratos comoo risoto de camarão, o marisco àvinagrete, o siri ao molho e a famosatainha assada com farofa.

Entusiasmado, o presidente daSociedade de Melhoramentos,Edvaldo Domingos de Lima, agrade-ceu o padroeiro e revelou onde serãoaplicados os recursos. “Duas festas ar-recadam mais que uma. Cuidaremosdo Centro Comunitário e da amplia-ção da Capela do Bom Jesus. Há ma-les que vêm para o bem. Valeu a penarezar em dobro”.

”Quem reza, seus males espanta”.

História: A ilha tem como padroeiroBom Jesus de Iguape devido aosprimeiros moradores seremnaturais de Iguape. A imagem foiadquirida em Portugal por umsenhor pernambucano. Na voltapara o Brasil, sua embarcação foiafundada por piratas, sendoencontra na Praia do Una. Conta aversão popular que a imagemadquiriu um peso anormal. Índioscolocaram-na virada para Iguape eseu peso diminuiu. Pescadoresconduziram-na em uma rede até aBarra do Ribeira e posteriormentepara Iguape.

Fonte: Setur/Santos

Missa anual

Benção nas crianças

Porção de Parati frito

Abençoando o território

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PERSONAGENSA história daIlha Diana se

confunde coma vida de

dona Dina, amoradora

mais antigado lugar

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Chalé de Madeira:dona Dina faz questãode receber osvisitantes em casa

"Só saio daqui"Só saio daqui"Só saio daqui"Só saio daqui"Só saio daquiquando morquando morquando morquando morquando morrrrrrer"er"er"er"er"

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PERSONAGENS

Na companhia inseparável de Negri-nho, o cachorro de estimação, com ospés descalços no chão úmido e demons-trando muita lucidez nas recordações.É assim que Antônia Bittencourt deSouza, a dona Dina, 85 anos, conta umpouco da história de quem vive há 65anos na I lha Diana. Nascida no Sacodo Embira (ou Bocaina), em Vicentede Carvalho, dona Dina casou-se aos16 anos com o pescador catarinenseNorberto de Souza.

Ela, o esposo, a mãe e o padrastoforam os primeiros a chegar novilarejo, no início dos anos 40. Foramobrigados a sair do Embira por causada ampliação da Base Aérea de San-tos. Na ilha, construíram uma casanum terreno cercado pelo mangue.Norberto era feitor em fazendas debanana da região, depois começou atrabalhar na pesca.

Dona Antônia tem nas mãos asmarcas do esforço que fazia para in-centivar o marido. Ela ajudava a lim-par o pescado e a tecer os arames doscercos de pesca. Quando lembradele, a lágrima escorre no rosto en-rugado pelos anos de vida. "Nem mefale. Ele morreu há 25 anos.Norberto era tudo para mim. Foimarido, amigo, pai e irmão ao mes-mo tempo. Não deixava faltar nadaem casa. Criamos seis filhos juntos,todos adotivos".

Norberto teve um infarto fulmi-nante numa viagem de barco pelo ca-nal de Bertioga. Morreu nos braços dafilha Celina Ayres, quando foram vi-sitar parentes no Largo do Candinho.No dia em que o marido faleceu, donaDina diz ter sentido que algo iria acon-tecer com ele. "Logo cedo lhe dei umabraço e falei chorando que o amava.Disse a ele que estava sentindo umaperto no peito. Depois de 47 anos decasados, eu sabia que ele iria partir".Ela ainda guarda o porta-retrato com

a foto de casamento.Dos seis filhos que criou, ape-

nas dois vivem com ela. Além deCelina, Eugênio Gomes Filho, oJabuca, reside junto. A casa de donaDina é a mesma dos velhos tempos.Um chalé de madeira no estilo dasmoradias caiçaras. O solo tem bura-cos feitos pelos caranguejos e o ter-reno é dividido por um cercado debambu. Na acanhada cozinha, aspanelas brilham de tão limpas. "Mi-nha casa é simples, mas é tudo arru-mado. Gosto de cuidar do lar e acor-dar cedo para varrer o quintal".

Dona Dina sustenta a casa coma pensão de um salário mínimo querecebe por mês. Não costuma ficardoente, mas, se precisar, só se tratacom remédio caseiro. Devota deBom Jesus de Ilha Diana, ela fazquestão de exercitar a fé. Mantémsobre o móvel da sala, a foto do Papa,e na parede, um quadro de NossaSenhora Aparecida. Deixar a ilha éalgo que não passa no seu pensamen-to. "Só saio daqui quando morrer".

Caçula da ilha

Perto de completar cinco mesesde vida, a mais nova moradora daIlha Diana. Natasha Lima Quirinonasceu em 18 de junho de 2005, às13h30, na Santa Casa de Misericór-dia de Santos. Veio ao mundo pormeio de parto normal e pesando3,25 Kg.

Filha do pescador RicardoQuirino de Souza e da dona de casaAngela Souza Lima, Natasha nasceua tempo de ser abençoada duranteas comemorações da 51ª Festa doBom Jesus de Ilha Diana. A mãe deNatasha fez questão que o padreRonaldo Estáquio dos Santos rezas-se pela saúde da filha.

Negrinho não desgruda da dona Dina

Arquitetura típica de pescador

Natasha é a atual xodó da ilha

A casa está sempre arrumada

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