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Iluminação artificial e seu impacto no ser humano: uma ferramenta indispensável aos arquitetos e projetistas de interiores. dezembro/2014 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 Iluminação artificial e seu impacto no ser humano: uma ferramenta indispensável aos arquitetos e projetistas de interiores. Cristhian Augusto Furquim do Nascimento - [email protected] Iluminação e Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação IPOG Salvador, BA, 04 de fevereiro de 2014 Resumo A iluminação é uma ferramenta fundamental de apresentação do produto arquitetônico. Sua correta aplicação torna-se um estímulo aos sentidos dos usuários, e isto traz leituras diferenciadas dos objetos observados. Enquanto a luz solar ilumina os espaços durante o dia, equipamentos eletrônicos realizam este papel nos momentos de escuridão. Contudo, será que se deve esperar do arquiteto e projetista de interiores conhecimentos sobre iluminação artificial ou este campo é apenas para profissionais especialistas? De que forma a luz é percebida pelas pessoas? Foi realizada pesquisa visando obter a opinião subjetiva dos participantes a respeito de seu conhecimento acerca das características da luz e quais destas mais lhes são agradáveis. Os resultados demonstraram que a maioria do público-alvo dos arquitetos e projetistas de interiores podem reconhecer as diferentes características técnicas da luz e, como fruto de experiências vividas, passam a demandar construções com tratamento especial desta disciplina. Isto é, o cuidado com a iluminação artificial deve fazer parte das premissas de um projeto arquitetônico a fim de que se atendam tanto os interesses explícitos quanto os implícitos de cada cliente. Palavras-chave: Arquitetura, luz, iluminação, projeto, efeito, interiores. 1. Introdução Há alguns anos, o Brasil era visto apenas como um país com futuro em potencial. Não obstante, vive-se hoje um período de mudanças nas classes sociais, novas demandas são clamadas pela sociedade e, contudo, cresceram também os anseios das pessoas por ambientes e espaços de maior qualidade para viver, trabalhar e entreter-se. Não obstante, os profissionais de arquitetura e interiores tem visto o mercado se expandir com clientes mais exigentes e interessados em contratar profissionais capazes de projetar seus espaços e ambientes de forma diferenciada, principalmente no que tange ao conforto. Segundo o dicionário Aurélio, o termo “conforto” se define como tudo o que constitui o bem-estar material, no entanto, no campo da arquitetura, o seu sentido é mais amplo e pode ser dividido em três grandes áreas: conforto lumínico, conforto acústico e conforto térmico. Estas três vertentes não visam apenas à satisfação de desejos excêntricos de clientes com bom poder aquisitivo, mas buscam sim o prazer fundamentado na evolução da qualidade de vida do ser humano. Em outras palavras, poder-se-ia substituir a expressão conforto ambiental por adequação dos espaços. As ciências que tratam da iluminação, da acústica e da energia térmica dentro da arquitetura têm ocupado lugar de destaque em grandes congressos e seminários, nacionais e internacionais, envolvendo grandes profissionais interessados na evolução da qualidade construtiva no país. Ainda assim, no embalo do mercado imobiliário, nota-se que muitos

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Iluminação artificial e seu impacto no ser humano: uma ferramenta indispensável aos arquitetos e projetistas de

interiores. dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

Iluminação artificial e seu impacto no ser humano: uma ferramenta

indispensável aos arquitetos e projetistas de interiores.

Cristhian Augusto Furquim do Nascimento - [email protected]

Iluminação e Design de Interiores

Instituto de Pós-Graduação – IPOG

Salvador, BA, 04 de fevereiro de 2014

Resumo

A iluminação é uma ferramenta fundamental de apresentação do produto arquitetônico. Sua

correta aplicação torna-se um estímulo aos sentidos dos usuários, e isto traz leituras

diferenciadas dos objetos observados. Enquanto a luz solar ilumina os espaços durante o dia,

equipamentos eletrônicos realizam este papel nos momentos de escuridão. Contudo, será que

se deve esperar do arquiteto e projetista de interiores conhecimentos sobre iluminação

artificial ou este campo é apenas para profissionais especialistas? De que forma a luz é

percebida pelas pessoas? Foi realizada pesquisa visando obter a opinião subjetiva dos

participantes a respeito de seu conhecimento acerca das características da luz e quais destas

mais lhes são agradáveis. Os resultados demonstraram que a maioria do público-alvo dos

arquitetos e projetistas de interiores podem reconhecer as diferentes características técnicas

da luz e, como fruto de experiências vividas, passam a demandar construções com tratamento

especial desta disciplina. Isto é, o cuidado com a iluminação artificial deve fazer parte das

premissas de um projeto arquitetônico a fim de que se atendam tanto os interesses explícitos

quanto os implícitos de cada cliente.

Palavras-chave: Arquitetura, luz, iluminação, projeto, efeito, interiores.

1. Introdução

Há alguns anos, o Brasil era visto apenas como um país com futuro em potencial.

Não obstante, vive-se hoje um período de mudanças nas classes sociais, novas demandas são

clamadas pela sociedade e, contudo, cresceram também os anseios das pessoas por ambientes

e espaços de maior qualidade para viver, trabalhar e entreter-se. Não obstante, os profissionais

de arquitetura e interiores tem visto o mercado se expandir com clientes mais exigentes e

interessados em contratar profissionais capazes de projetar seus espaços e ambientes de forma

diferenciada, principalmente no que tange ao conforto. Segundo o dicionário Aurélio, o termo

“conforto” se define como tudo o que constitui o bem-estar material, no entanto, no campo da

arquitetura, o seu sentido é mais amplo e pode ser dividido em três grandes áreas: conforto

lumínico, conforto acústico e conforto térmico. Estas três vertentes não visam apenas à

satisfação de desejos excêntricos de clientes com bom poder aquisitivo, mas buscam sim o

prazer fundamentado na evolução da qualidade de vida do ser humano. Em outras palavras,

poder-se-ia substituir a expressão conforto ambiental por adequação dos espaços.

As ciências que tratam da iluminação, da acústica e da energia térmica dentro da

arquitetura têm ocupado lugar de destaque em grandes congressos e seminários, nacionais e

internacionais, envolvendo grandes profissionais interessados na evolução da qualidade

construtiva no país. Ainda assim, no embalo do mercado imobiliário, nota-se que muitos

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projetistas têm assumido trabalhos embasados em conceitos vazios destes cuidados, visando

apenas o atendimento às normas de exigência mínimas para que se permita sua construção,

gerando o máximo lucro aos contratantes em detrimento da qualidade de vida dos futuros

ocupantes.

Há algumas décadas, os espaços que oferecem instalações adequadas, com projetos

cuidadosos em relação a todas as disciplinas supracitadas eram restritos às camadas mais altas

economicamente da sociedade. Atualmente, nota-se que grande parte da população tem

possibilidade de visitar estes espaços, por exemplo, durantes suas férias. Esta nova realidade

trouxe a uma grande porção da população o anseio por novos e melhores espaços. O sonho

deixou de ser apenas uma casa própria, mas esta deve vir com novos atributos. Percebeu-se

que algumas pequenas mudanças podem alterar completamente o stimmung do ambiente, ou

seja, é possível modificar a “atmosfera e sensações produzidas por um espaço” através de

detalhes e que isto proporcionará novas experiências a seus ocupantes e transeuntes.

(RABCZYNSKI apud HARADA, 2011).

O impacto da luz na vida humana, como sugerido acima, tem sido um constante

objeto de estudo. Segundo Vargas (2009), “descobriu-se um novo sistema sensório no olho

que detecta os efeitos da luz e age na atividade neurocomportamental humana”, isto é,

comprovou-se cientificamente o poder da luz em afetar o comportamento natural das pessoas.

Acredita-se que o corpo do homem pré-histórico, por exemplo, que ainda não possuía

instrumentos para medir o tempo, respeitava de maneira instintiva determinado ciclo

constituído pela hora de acordar, hora de se alimentar e de hora para encontrar abrigo e

descansar. Isto ocorria através do 3º fotorreceptor supracitado - sendo os olhos os dois

primeiros, mostrando o papel vital da luz na vida humana desde os primórdios da terra. A

partir disso, percebe-se que “a iluminação deve ser projetada para minimizar as interferências

com os ritmos circadianos normais” (VARGAS, 2009).

Além da reação do corpo às condições de iluminação através de sua percepção, há o

aspecto subjetivo da classificação do ambiente, sobre a distribuição dos elementos e a

qualidade do espaço em si, que o torna agradável e atraente ou pode gerar repulsa por algum

desconforto, mesmo que inconsciente. Sobre a percepção da luz, Vargas (2009) discorre

explicando o seguinte:

Ela também permitirá, dependendo de suas características e forma de distribuição,

influenciada pela participação de cada um na experiência, interpretações

diferenciadas de um mesmo espaço ou objeto. Este aspecto subjetivo da percepção

da luz provoca alterações comportamentais e de humor que determinarão avaliações

sobre o espaço físico e a qualidade dos ambientes construídos. (VARGAS, 2009)

Entende-se assim que a distribuição das fontes luminosas estimula a percepção visual

em diferentes aspectos a partir dos níveis de iluminância, contraste, ofuscamento, sombras,

variados ângulos de visão, etc. Segundo Ritter (2012), “essas alterações são percebidas com

rigor na iluminação, antes se comprava lâmpadas, hoje se compra efeitos de luz”. Estas

características precisam ser mais bem apreendidas pelos arquitetos e projetistas para que o

espaço abrigue os sistemas de iluminação com impacto positivo sobre as pessoas, tendo plena

consciência que,

as sensações visuais agem no individuo e, a partir daí, se desenvolve um processo

que agrega significados e valores - objetivos e subjetivos - que implicam tanto nas

questões fisiológicas quanto nos aspectos socioeconômico-culturais da vivencia,

influindo em comportamentos individuais e de grupo, portanto, nas redes de

relacionamentos desenvolvidas ‘com’ ou ‘nos’ ambientes construídos. (VARGAS,

2009)

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Isto traz o elemento subjetivo quando da avaliação positiva ou negativa de um

espaço. Ritter (2012) confirma que “a subjetividade está por trás da objetividade do projeto.

Por vezes, as qualidades não residem propriamente no objeto ou na estrutura da edificação,

mas na percepção do usuário do espaço”. Portanto, é a partir deste momento que deve

despertar a sensibilidade do profissional para com seu cliente a fim de que se escolha a

melhor forma de alcançar os receptores sensoriais visuais dos usuários. E neste caminho, diz-

se o seguinte:

Os espaços são concebidos para atender às necessidades do sujeito, ou é o sujeito

que é reinventado a partir da forma e das regras de comportamento pretendidas por

aquele espaço, em seu discurso disciplinador? O discurso do espaço é uma força que

replica muitas vezes sujeitos expostos ao poder e à persuasão daquele espaço.

(RITTER, 2012).

Esta relação objetiva versus subjetiva, pode ser ilustrada com o seguinte exemplo:

Quando se escolhe uma escultura para um ambiente, transmite-se ao projetista a ideia de que

este objeto deverá ser visto. Logo, ele deverá ser iluminado. Este é o lado objetivo. Contudo,

há uma sensação a ser estimulada. Este ambiente poderá possuir uma iluminação sóbria,

homogênea e de poucos contrastes (figura 01), ou poderá ter a iluminação geral reduzida com

focos bastante iluminados, criando fortes contrastes (figura 03).

Figura 01 - Iluminação perimetral.

Fonte: Silvia Bigoni

Figura 02 - Iluminação indireta com arandelas.

Fonte: Silvia Bigoni

Figura 03 - Iluminação de alto contraste.

Fonte: Silvia Bigoni

Figura 04 - Iluminação com efeito uplight.

Fonte: Silvia Bigoni

A sensação transmitida por cada uma das situações acima é pessoal e está submetida

aos princípios e experiências vividas por cada observador.

A percepção da luz cria as noções de forma, cor, volume, profundidade, distância e

movimento em relação à subjetividade. O que significa dizer que a visão é uma

relação ativa entre sujeito e objeto. A visualidade constitui-se assim de um processo

de relações entre a luz, o mundo observado, os olhos do observador e a capacidade

humana de representar e interpretar aquilo que é visto, através da subjetividade.

(SIMÕES, 2008)

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2. Iluminação artificial como Partido Arquitetônico

A arquitetura se desenvolveu no decorrer dos séculos traduzindo as emoções das

sociedades. Permitir mais ou menos entrada luz no interior das edificações, principalmente

das igrejas, retratava o sentimento vivido pelas civilizações, fosse a momentos de medos,

como na arquitetura românica, em que haviam pequenas janelas, fosse a momentos de êxtase

na fé, como nas igrejas góticas, com seus vitrais e rosácea coloridos permitindo a entrada de

luz, projetando a sensação de visões do paraíso.

No século XX, com a criação da luz elétrica no século anterior, o edifício passou a

ganhar novas formas. A luz natural durante o dia e a luz artificial durante a noite eram

responsáveis por diferentes percepções de um mesmo elemento no meio urbano. BAHAMÓN

(2010, p.7) discorre acerca disto por considerar que as edificações deixaram de receber apenas

iluminação funcional ou elementos pontuais de decoração, ou seja, cumprem as funções

básicas da visão, porém criam efeitos, modificam a atmosfera e oferecem uma nova condição

aos observadores.

VENTURI (1977), em sua obra Learning from Las Vegas, e BAHAMÓN (2010), no

livro Luz Color Sonido, trazem exemplos de obras arquitetônicas que se apresentam como

verdadeiras fontes de luz e efeitos, como a Times Square, de Nova Iorque e a chamada Strip,

de Las Vegas, ambas nos Estados Unidos. Esta última, por exemplo, abriga o Planet

Hollywood, cuja fachada apresenta elementos sobrepostos semiesféricos durante o dia (figura

05). Contudo, durante a noite, estes elementos escondem uma fonte de luz, que age como

backlight. Pela variação de cores aliada ao fato de a face aparente não ser iluminada, a

percepção destes elementos é completamente alterada pela noite (figura 06), podendo ser

interpretada como um painel colorido rompido por vazios circulares.

Figura 05 - Iluminação natural diurna.

Fotografia: Cristhian Nascimento

Figura 06 - Iluminação artificial noturna.

Fotografia: Cristhian Nascimento

Outro exemplo a ser destacado é a Cristal Mesh, em português Malha de Cristal,

construída na capital de Singapura pelo escritório alemão Realities United, no ano de 2009.

Este complexo de edifícios recebeu uma nova fachada após um projeto de iluminação

artificial que o tornou uma referência daquela região. Com o sistema formado de lâmpadas

fluorescentes compactas dentro de módulos (figura 07) controlados por um sistema

computacional capaz de tratar cada componente como um pixel, tal como é feito em um

televisor ou painel eletrônico, o edifício se tornou um grande meio de comunicação e

expressão (figura 08).

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Figura 07 - Módulos independentes

Fonte: ArchDaily, 2014.

Figura 08 - Fachada em movimento

Fonte: ArchDaily, 2014.

Ao final do século XX, observava-se a aplicação da luz artificial com este fim apenas

em edifícios e localidades com grandes investimentos financeiros. Porém, pela possibilidade

de acentuar os elementos estruturais e oferecer identidade noturna às obras arquitetônicas,

BAHAMÓN (2010) afirma que se passou a pensar no dia e na noite desde o inicio do projeto,

com a ideia de que a imagem do edifício a noite é tão importante quando durante o dia.

Segundo Dias et al. (2013), há relatos de que estudos acerca das reações individuais

dos efeitos da luz artificial no ser humano são estudados há mais de 500 anos, incluindo

Leonardo da Vinci como autor de conexões entre os olhos e o cérebro. Em 2004, o simpósio

organizado pelo CIE em Viena, na Áustria, que discutiu a descoberta do novo fotorreceptor,

além da visão, fomentou-se o aprofundamento das questões relacionadas ao assunto, além do

desenvolvimento de técnicas e ferramentas para criar, no ambiente interno, tanto residencial

como profissional, atmosferas propícias ao convívio particular e social, estimulando o prazer

ou a excitação, motivando a descontração ou facilitando a concentração, a depender da

atividade destinada e do desejo do cliente. Ter bastante luz passou a não ser necessariamente

sinônimo de uma iluminação adequada.

Há considerações determinantes intrínsecas a luz para criar um ambiente atrativo

para determinada função, pois o prazer em ocupar um espaço está relacionado ao estímulo

provocado pelo ambiente, que é diretamente afetado por sua iluminação. A partir daí, a

qualidade do sistema, ou melhor, as características da fonte luminosa são postas em primeiro

plano, pois se tornam corresponsáveis pelo impacto gerado no ocupante, sempre em

concordância aos padrões subjetivos do indivíduo. Segundo BORIN, “a luz de um ambiente

representa diretamente o entendimento e sensação que se deseja para determinado lugar,

direcionando o comportamento das pessoas ao oferecer sensações boas ou de desconforto”.

3. Pesquisa

A metodologia de pesquisa a ser realizada foi elaborada a fim de identificar o nível

de conhecimento de potenciais clientes no que se refere a quatro características da luz e

analisar, em caráter exploratório, não descritivo, a opinião dos usuários em relação a

determinados ambientes apresentados. O objetivo principal é verificar se as características

relacionadas a ambientes de maior afeição exigem que o projetista trabalhe técnicas de

iluminação artificial desde a fase de projeto ou não, umas vez que atualmente esta é uma

disciplina muito abordada apenas após o projeto arquitetônico alcançar um estágio avançado.

Utilizou-se das seguintes ferramentas para a pesquisa: catálogo de fotos e formulário

para preenchimento das opiniões individuais.

A pesquisa consistiu na apresentação um catálogo de trinta fotos (Anexo 01), sobre

as quais o participante deveria anotar quais das quatro características da luz tornava aquele

ambiente difereciado, baseado em sua própria opinião, dentre as opções “cores”, “efeitos”,

“intensidade”, “posicionamento” e “outros”, havendo a opção “não”, caso o mesmo não

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considerasse o ambiente diferenciado em relação à iluminação. Após esta etapa, o participante

deveria opinar se o ambiente lhe era agradável, se era indiferente ou se não o agradava.

Todos os participantes foram orientados a não basear a avaliação baseado em

mobiliários ou decoração, apenas quanto à iluminação.

3.1. Características das lâmpadas

O texto da ABNT NBR ISO:CIE 8995-1 (2013), que substituiu a NBR 5413 (1992),

destaca que “uma boa iluminação requer igual atenção para a quantidade e qualidade da

iluminação”, mas a boa iluminação “depende maneira pela qual a luz é fornecida, das

características da cor da fonte de luz e da superfície em conjunto com o nível de ofuscamento

do sistema”.

Enquanto esta norma trata da funcionalidade há ainda, ainda há dezenas de outras

características que devem ser consideradas ao se indicacar um sistema de iluminação. Sabe-se

que não se deve atentar apenas à descrição técnica da lâmpada e da luz como, por exemplo,

qual o seu pacote de luz, seu índice de reprodução de cor, abertura do facho, temperatura de

cor, aparência da cor, etc, uma vez que há outras variantes, como por exemplo:

- Condições físicas: facilidade de instalação, de manutenção, de ajuste;

- Condições técnicas: tensão, potência, tempo de ignição, de apagamento;

- Condições financeiras do cliente: custo inicial, custo operacional, vida útil;

- Aspectos estéticos: aparência ligada e desligada, harmonia o entorno, entre outros.

- Condições ambientais: temperatura, umidade, salinidade, etc.;

Este trabalho agrupou características da luz e da fonte de luz a fim de aproximar a

linguagem técnica do vocabulário do público-alvo. Desta forma, buscou-se agrupar

características semelhantes dentro de uma mesma definição, da seguinte forma:

- Cores: Temperatura de cor, sendo esta definida por “três principais categorias:

Branco quente (menos que 3.300K); Branco frio (entre 3.300 e 5.300K); Branco luz do dia

(acima de 5.300K) (OSRAM, 2013). Inclui-se aqui também lâmpada que utilizam filtros,

onde a luz emitida poderá ser, de fato, colorida.

- Efeitos: Atribuiu-se o conceito de efeito toda iluminação de destaque, de altos

contrastes, com efeito wallwash, uplight e downlight, que cria desenhos nas superficies

iluminadas.

- Intensidade: Predomina-se aqui o conceito de iluminância, que se define pela

“relação entre o fluxo luminoso e a área a ser iluminada”, sendo o primeiro descrito pela “a

quantidade total de luz emitida por uma fonte”. (OSRAM, 2013),

- Posicionamento: Distribuição e posicionamento das fontes luminosas dentro do

ambiente, incluindo a ocorrência ou não de ofuscamento. Considerou-se como padrão a

iluminação geral com o posicionamento da fonte de luz no centro do ambiente ou distribuído

de forma linear ou matricial.

3.2. Análises e resultados

Os dados obtidos foram a ferramenta utilizada para analisar três diferentes aspectos

relacionados ao usuário e sua percepção da iluminação dos ambientes.

Em primeiro momento, buscou-se avaliar a porcentagem dos participantes que

atribuiu aos sistemas de iluminação as características técnicas esperadas. Por exemplo, sobre a

foto 03 do Anexo 01, esperava-se que o fossem identificadas as quatro características

disponibilizadas, ou seja, que se fossem notadas as cores diferenciadas na parede e na cortina,

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o efeito na parte superior da parede localizada atrás da cama, a baixa intensidade luminosa e a

inexistência de uma fonte luminosa central, contrário ao padrão de iluminação artificial em

ambientes residenciais que geralmente traz esta posição de fonte de luz.

Devido à subjetividade desta análise, foram realizados dois levantamentos distintos

nesque quesito. O primeiro distinguiu item por item as respostas oferecidas, dividindo-as em

“Certo”, quando reconhecidos exatamente os itens esperados, “Parcialmente certo”, quando

apenas parte das características corretas eram identificadas, “Certo + Errado”, no caso de

anotação de características corretas e uma ou mais erradas e, por fim, “Errado”, quando as

respostas não corresponderem a qualquer característica esperada (Gráfico 01).

Gráfico 01 - Identificação das características.

O gráfico demonstra equilíbrio entre as respostas mistas e incompletas. Contudo, em

valores absolutos, maior parte das imagens foi analisada corretamente, alcançando quase um

terço das respostas (31%). Por outro lado, o segundo conjunto de maior contingente foi o de

respostas erradas (25%). Com base nisto, pode-se dizer que, embora ainda haja uma

quantidade considerável de pessoas com divergencias na interpretação dos conceitos

luminotécnicos, a maior parte do público-alvo dos arquitetos e projetistas traz consigo algum

discernimento de características distintas da luz.

O segundo levantamento foi desenvolvido a fim de aplicar certa margem de

tolerância, pelo fato de estar se trabalhando com questões subjetivas e com características

redefinidas de cor, efeito, intensidade e posicionamento. Desta forma, as avaliações inseridas

nos grupos “Certo” e “Parcialmente certo” foram agrupadas em um conjunto. Da mesma

forma, as avaliações “Certo + Errado” e “Errado” representam o o conjunto oposto (Gráfico

02).

Certo

Parcialmente certo

Certo + Errado

Errado

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Gráfico 02 - Identificação das características em dois grupos.

Este gráfico traz valores ponderados que evidenciam a afirmação de que as pessoas

têm desenvolvido conhecimento técnico sobre a luz. A diferença de 8% entre os dois grupos

são determinantes para a predominancia dos resultados positivos no que se refere à

classificação da luz entre os quesitos apresentados.

A segunda etapa de análises buscou reconhecer qual das características mais agrada o

gosto dos voluntários. Em cada uma das trinta fotos, após identificar as características

referentes à iluminação dos espaços, o participante deveria declarar se aquele espaço o

“Agradou”, se “Não agradou” ou se o mesmo lhe é “Indiferente”. Isto resultou na elaboração

de uma planilha, conforme segue.

Foto Agradou Indiferente Não agradou

Foto Agradou Indiferente Não agradou

01 0% 50% 50% 16 100% 0% 0%

02 100% 0% 0% 17 71% 14% 14%

03 20% 20% 60% 18 57% 29% 14%

04 100% 0% 0% 19 71% 0% 29%

05 0% 50% 50% 20 43% 14% 43%

06 67% 17% 17% 21 29% 0% 71%

07 57% 14% 29% 22 14% 0% 86%

08 100% 0% 0% 23 14% 57% 29%

09 67% 17% 17% 24 43% 14% 43%

10 14% 29% 57% 25 71% 29% 0%

11 57% 14% 29% 26 86% 0% 14%

12 14% 71% 14% 27 14% 29% 57%

13 29% 43% 29% 28 86% 0% 14%

14 57% 29% 14% 29 14% 57% 29%

15 86% 0% 14% 30 100% 0% 0%

Tabela 01 - Avaliação subjetiva e sensitiva dos ambientes.

Esta tabela demonstra que sete ambientes apresentaram valores iguais ou superiores a

50% de opiniões negativas quanto sua agradabilidade. Dois destes possuem iluminação

diferenciada: a foto 03 (Anexo 1) com a predominância de cores diferenciadas e a foto 21

(Anexo 1) com a fonte de luz posicionada em local distinto da iluminação geral centralizada,

o que gerou determinado efeito. As demais não apresentam qualquer tratamento específico da

Certo / Parcialmente certo

Certo + Errado / Errado

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luz para o ambiente, isto é, havia apenas sistemas de iluminação geral, com distribuição

homogênea das luminárias.

Oito ambientes obtiveram entre 85 e 100% de aprovação. Entre as características

presentes nestes casos, o posicionamento da fonte de luz artificial é um elemento constante,

sendo em grande parte na parede e em um caso na parte inferior do armário. É importante

notar que na maioria dos casos as fontes de luz destes ambientes estão posicionadas atrás do

ocupante principal, seja nos domitórios, na sala ou no escritório. Pode-se atribuir à

possibilidade de apreciação do efeito visual durante o transito ao adentrar-se no ambiente,

porém a não obrigatoriedade de observar esta fonte durante a permanência no ambiente,

evitando qualquer ofuscamento e tornando esta decoração, através da luz, um pano de fundo

para a atividade ali praticada por este usuário. Destaca-se também a iluminação natural,

presente em 25% dos casos. A luz natural e a possibilidade de contato visual com o meio

externo são responsáveis pela sensação de amplitute do espaço, como pode se notar nas fotos

15 e 28 (Anexo 01).

Por fim, dentre os trinta ambientes, considerou-se que doze deles não apresentavam

iluminação artificial diferenciada. São as seguintes imagens: 01, 05, 10, 12, 13, 15, 18, 22, 23,

27, 28, 29, sendo que três destas utilizam apenas a iluminação natural no momento da foto. A

avaliação destas imagens, excluindo estas três últimas, apresentou as seguintes médias:

aprovação 13%, indiferença 43% e desaprovação 44%.

5. Conclusão

A partir das análises realizadas, observa-se a convergencia no que tange à relação da

luz com o corpo humano, a capacidade de percepção de cada indivíduo e a importância de

atentar-se também ao lado subjetivo, por ser este o principal ponto a ser atingido para que o

observador sinta-se emocionado e atraído pelo espaço.

Embora a iluminação artificial não seja uma disciplina lecionada em áreas

pedagógicas diversas, o conhecimento básico das características da luz - sua aparência e

efeitos - faz parte do acervo intelectual de grande parcela do público-alvo de arquitetos e

projetistas de interiores. Pode-se considerar que isso se dá pelo fácil acesso a diversas

informações aliado à viabilidade gerada pelo avanço da economia e da tecnologia, que têm

levado as pessoas a desfrutarem de ambientes mais bem projetados. Este cenário tem

alimentado experiências individuais no campo sensitivo, trazendo consigo um senso crítico

embasado na própria vivência.

Os resultados demonstraram que os ambientes cujos sistemas de iluminação estão

harmoniozamente incorporados ao ambiente agradam um contingente maior do público que

busca um projetista para representar aquilo que é sua expectativa. Contudo, para os espaços

serem equilibrados, notou-se que a iluminação geral mais comum não atende aos anseios

desta população. É necessário que o posicionamento das fontes de luz seja pensado desde o

projeto, a fim de proporcionarem efeitos tais que respeitem o stimmung planejado a partir do

perfil do cliente.

Portanto, esta pesquisa confirmou a hipótese de que o conhecimento técnico dos

sistemas de iluminação, de suas fontes de luz e seus efeitos é algo essencial ao arquiteto e ao

designer de interiores que deseja satisfazer seus clientes através de seus projetos, seja durante

o dia, seja durante a noite, tanto pela magnitude e ousadia de suas estruturas, quanto ao

despertar dos sentidos inerentes a cada momento vivido através da iluminação, suas cores e

efeitos.

Tendo este trabalho sido realizado com pessoas que vivem nos estado de São Paulo e

Bahia, tornou-se limitado aos ambientes vividos nestas regiões. É certo que resultados mais

abrangentes serão alcançados se forem inseridas nesta pesquisa pessoas de diversos estados,

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como o Rio Grande do Sul, Goiás e Pará, isto é, cidades do sul e do norte, além da região

central do país, por serem locais que possuem práticas e costumes peculiares e que são

determinantes para definição de diferenciais de iluminação.

Referências

ABNT NBR ISO/CIE 8995-1. Iluminação de ambientes de trabalho. Parte 1: Interior.

Associação Brasileira de Normas Técnicas, ISO - International Organization for

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AURÉLIO. DICIONÁRIO DO AURÉLIO ONLINE. Disponível em

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Anexo 1

Considera o ambiente diferenciado em relação à iluminação? (marque com "x")

FOTO

SIM ... Por quê?

NÃO NÃO TE

AGRADA É

INDIFERENTE TE

AGRADA Cores Efeitos Intensidade Posicionamento Outro

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