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Iluminismo Francisco José Calazans Falcon

Iluminismo

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Iluminismo

Francisco José Calazans Falcon

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Introduçao:

Neste livro, o autor tenta compreender o iluminismo como culminação de um processo ou como um começo. Enquanto “chegada”, aparece como o clímax do Renascimento amparando a revolução científica do século XVII. Enquanto ponto de partida, passa a constituir o primeiro momento de uma aventura intelectual que é também a nossa.

Por que o Iluminismo ?

Iluminismo e Despotismo Esclarecido, são temas que se relacionam e que remetem a um mesmo espaço tempo, o século XVIII europeu. Porém segundo o autor o Iluminismo permanece atual enquanto o Despotismo Esclarecido é apenas passado, um tema cristalizado.

A atualidade do Iluminismo não se limita apenas por ser obrigatório em assuntos compêndios e programas de História Moderna. Para o mundo de hoje o Iluminismo é algo bastante presente, tanto que é capaz de produzir debates e tomadas de posição dos mais variados tipos.

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Podemos compreender o Iluminismo como culminação de um processo, ou como um começo:

- Enquanto ponto de chegada, o Iluminismo aparece como clímax de uma trajetória cujos começos se identificam com o Renascimento, mas que só se concretiza com a revolução cientifica do século XVII. - Considerando como um ponto de partida, o Iluminismo passa a constituir o primeiro momento de uma aventura intelectual.

“ Somos hoje, de uma forma ou de outra herdeiros do Iluminismo, nós que substituímos a visão iluminista pela nossa visão retrospectiva. “ (Falcon)

No plano político :

-Herdamos principalmente a vertente autoritária do Iluminismo, sempre distante e hostil ä participação popular, tão elitista quanto no surgimento do pensamento Iluminista, lideres carismáticos e partidos políticos que se proclamam dono da verdade.

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No plano intelectual:

- O Iluminismo converteu-se em um modelo paradigmático da verdade única e indiscutível, ou seja, ciência. A racionalidade científica representa com certeza a mais solida e quase imbatível aquisição do Iluminismo contemporâneo.

Iluminismo ou Ilustração

Segundo o autor não há diferença entre Iluminismo ou Ilustração, basta-nos compreender:1. Tendência à sinonímia, entre Iluminismo / Ilustração2. Referencia comum a um movimento filosófico do século XVIII3. Indicação de que a palavra refere também a um certa “mística” ou “doutrina”

Iluminismo, uma polissemia, denotando Luzes, conotação racional ou razão, identificando ou opondo conforme o caso à “seita religiosa” ou doutrina filosófica”

O Iluminismo encerra com três ordens de questões muito ligadas entre si:

- A questão das palavras- A questão dos sentidos ou significados- A metáfora das “Luzes”

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Bases sociais do movimento iluminista

- Ideologia da burguesia em ascensão. Ataque na luta contra a sobrevivência do mundo feudal, senhorial, e medieval.

- Para Dorn,o marco inicial do iluminismo se tratava de um movimento de classe média.A guarda avançada da transformação cultural foram os setores educados da burguesia(Ex: Voltaire, Rousseau),eram homens oriundos da classe média.

- Para Gusdorf, apenas a classe cultural conseguia entender o iluminismo, uma pequena parte da população,o resto da população não conseguia compreender, o que colocava essa classe cultural em um isolamento.Os burgueses constituíam não só a maioria dos produtores, mas também dos consumidores da cultura.

- Para Venturi, a teoria da relação entre as força burguesas e o movimento iluminista não é um dado de fatoe um pressuposto histórico. Segundo ele, "não saberá como explicar o significado do Iluminismo de gruposcomo o do conde Verri, ou do marquês Longo".

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-Havia idéias e intelectuais burgueses no movimento iluminista. Mas eram todos burgueses? Aí se situam as discrepâncias dos historiadores.Sabemos que os agentes sociais do Iluminismo eram todos "homens de letras". Ex: Médicos, advogados, professores, etc.Os "oficiais", ou funcionários do Estado absolutista, os "clérigos" dediversos matizes ou categorias, os artistas, os "diletantes" dos tipos mais variados - nobres ou comerciantes.Estas pessoas se encontravam em salões e academias, formando sociedades secretas, debatendo as idéias do Iluminismo.

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 Secularização e racionalismo

Secularização = nova forma de liberdade e autonomia, que determinará o mundo e o modo de ser no mundo do homem moderno. Por esta definição temos que o iluminismo é, por essência, uma leitura de secularização.

A secularização juntamente com os desenvolvimentos do individualismo e do racionalismo e ainda mais amplamente às transformações que se verificaram, durante toda a Idade Moderna, em diferentes planos: o político, o econômico e o ideológico oferecem uma concepção pautada pela visão dicotômica que tende a opor, de forma radical, razão e religião.

As idéias de “progresso” e “civilização” esta presente nas sucessivas mudanças que então se operam quanto à maneira de definir as relações entre o homem e a natureza, que em contrapartida tem a luta da Igreja Católica contra os avanços de um “novo espírito científico”.

A afirmação acima, típica do racionalismo moderno, privilegiando a dialética homem-natureza, colocou em evidência o paradigma naturalista, fazendo da idéia de uma natureza auto-regulada, detentora de sua própria legalidade, a premissa necessária de todo conhecimento científico. Este racionalismo naturalista constituiria, no século XVIII, um dos pressupostos básicos do Iluminismo.

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A visão tradicional, visão imposta pelo Igreja Católica, de natureza finaliza e teológica,era típica de um universo mental marcado pela Revelação. Pouco a pouco esta visão foi perdendo força devido ao avanço da visão Imanentista, naturalista e antropocêntrica. Ao longo deste processo produziu-se uma nova concepção do mundo e de homem, essencialmente terrena e humana, pautada pela racionalidade e da relação homem-natureza como realidade essencial. Desenvolveu-se também as críticas às crenças e práticas religiosas, em nome da razão e da liberdade de pensamento.

O processo de secularização não foi um processo linear e nem homogêneo. Não houve uma, mas várias secularizações, cada qual ao seu ritmo, formando um conjunto diacrôno e desigual e não raramente contraditório.

Não se pode no entanto estabelecer uma completa oposição entre secularização e cristianismo pois nas raízes do iluminismo há uma profunda mudança histórica nascida sob influência direta do cristianismo.

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Dilemas da Razão Iluminista

- A razão iluminista não era imune a alguns dilemas e ambigüidades Dilemas resultantes da relação entre razão e sentimento; Ambigüidades que traduzem as perplexidades da razão iluministas quando colocadas diante de sua própria historicidade.

O Lugar do Sentimento – a Sensibilidade

O período do setecentos foi o mais atingido pela influencia do sentimentalismo romântico. Porém as manifestações eram meros fenômenos “pré-românticos”.A questão do sentimento no contexto das formas de ser e de pensar do setecentos deve ser analisada em função de três tipos de considerações:

1º) os verdadeiros limites de penetração e aceitação do racionalismo iluminista nas diversas camadas sócias.

2º) o emergir de uma atitude humanitária cujos pressupostos contradizem em muitos pontos as concepções dos filósofos iluministas.

3º) a convergência parcial desse humanitarismo racionalista e do humanitarismo sentimental, este último, tendencialmente hostil pode ser considerado um “precursor” do romantismo.

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A Natureza das Concepções Racionalistas

Compreende-se: o otimismo,os valores sociais e estéticos, o ceticismo moral e religioso,o cosmopolitismo.“A razão é o único meio pelo qual os homens podem buscar a felicidade”(Burlamaqui)

[Otimismo] - Somente o progresso (da própria razão) trará o fim dos males existentes.É preciso, afirmava-se, compreender que “este é o melhor dos mundos (racionalmente) possíveis e que a lógica que o rege,apesar de ainda não ser plenamente conhecida em muitos pormenores, é seguramente racional. Fazendo assim com que haja um equilíbrio “os males de alguns se transformem no bem ou felicidade de muitos”

[Valores sócias] - Socialmente, o racionalismo atendia às atitudes mentais e formas de comportamento das elites dominantes.Suas propostas de uma nova moralidade social e de uma sociabilidade ajustada ao ambiente das cortes e dos salões adequava-se à minoria dos “bem-pensantes” e “bem-nascidos”

[Valores estéticos] - O racionalismo das “Luzes”, na literatura e nas artes plásticas, assume uma perspectiva mais e mais inclinada ao classicismo, ou seja, à busca de princípios e regras de validade eterna e universal.

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[Ceticismo moral e religioso] – O racionalismo oferecia muito mais dúvidas que certezas em relação a moral e a religiosidade.O ceticismo filosófico apenas constata a existência do mal e é incapaz de acreditar na bondade inata do homem. Para muitos filósofos a conclusão lógica é uma concepção materialista do mundo do homem, embora a maioria deles reserve ainda lugar para um Deus, os deístas. Porém, no fundo, é algo muito distante e , o que é pior, indiferente aos problemas da existência humana. Não há, portanto, o que esperar em termos de uma intervenção ou ajuda divina.

[Cosmopolitismo] – O cosmopolitismo expressa a visão otimista das “Luzes” quanto à superação das fronteiras políticas e culturais, relega a uma posição inferior e desprezível as criações culturais nacionais, encarando-as como sobrevivências de tradições vindas das idades obscurantistas. “O homem verdadeiro não tem pátria, é um cidadão do mundo”

As Reações do Público Receptor

As frases fortes e claras dos filósofos para demonstrar a ordem e a regularidade do mundo soavam falsas aos ouvidos daqueles que conviviam no dia-a-dia com a pobreza, com a doença e com a fome dos seus semelhantes. Não se tratava propriamente, ainda, de uma revolta contra a razão. Era uma forma de pensamento, divergente e capaz de polarizar tendências e anseios que, mais do que pensados, eram sentidos. Derivou-se daí o humanitarismo.

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O grande público preferia acreditar na bondade inata do homem. Os refinamentos filosóficos, com suas dúvidas e reticências, eram estranhos a esse público em geral. Era bem mais fácil e gratificante acreditar na bondade humana com suas formas variadas de expressão.Era muito pobre, de fato, para o número cada vez maior de indivíduos que ansiavam por uma literatura, um teatro, uma pintura, mais fiéis as que se sente e não apenas àquilo que se pensa.Desejava-se um homem real, feito de sentimentos, paixões, instintos e virtudes.Humanitarismo racionalista: Tal humanitarismo propõe uma atitude ativa e pragmática, destinada a buscar a extirpação dos sofrimentos do homem na terra, fundamentando sua utopia nas grandes esperanças despertadas no público em geral pelas notícias dos grandes avanços já obtidos pelas ciências e técnicas.Humanitarismo sentimental: Alega que é preciso aliviar os sofrimentos dos pobres e dos oprimidos, eliminar a crueldade, difundir a felicidade pública, sobretudo em favor dos pobres e miseráveis.Ambos os dois tipos de humanitarismo se converge na maioria de seus idéias, bem diferente da fria indiferença da razão iluminista pelas misérias e à sua tácita aceitação do mal.A longo prazo tais atitudes mentais coletivas distanciam-se mais e mais do Iluminismo e tenderão ao fim e ao cabo por contestá-lo, criticando vários de seus aspectos.

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A consciência da Historicidade

- Natureza e característica da histografia iluminista

O problema da historicidade esta presente em obras de vários autores, o mais importantes são Montesquieu, Voltaire, Diderot, D’Alembert, Hume e Lessing na Alemanha.Montesquieu, em O espírito das Leis, utiliza os dados empíricos para estabelecer leis e princípios gerais sobre as sociedades humanas. Montesquieu é o primeiro pensador a utilizar o tipo ideal histórico, produzindo uma tipologia política e sociológica.Sua principal característica é a analise sincrônica, daí a critica que se faz a ele quanto às suas formas “estáticas” que não dão conta do processo. Voltaire ergue a história acima do âmbito do demasiado humano, acidental e puramente individual. O que importa é a marcha da cultura, expressão de um natureza humana sempre igual a si mesma, forma através do qual se revela a história. Para Voltaire, a história é o estudo racional do desenvolvimento da cultura.

Hume destoa do contexto iluminista também pelas suas idéias sobre a História. Anti-substancialista, interessa-se pelo processo histórico, pela mudança incessante.Mas não crê num desenvolvimento continuo, não vê racionalidade inerente à História.Os enciclopedistas deram destaque à História como demonstração empírica de suas próprias idéias a respeito do homem, da razão do progresso e do próprio otimismo.

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- As valorações da historiografia iluminista

Boa parte daquilo que em geral se admite como válido acerca do caráter a-histórico do século XVIII foi produzido pelo Romantismo, o qual, tendo sido tão rico quanto ao sentido da perspectiva histórica, falhou exatamente quando tratou de colocar o setecentos nessa mesma perspectiva.O mundo histórico utilizado pelos românticos contra os iluministas foi descoberto graças à eficácia dos pressupostos intelectuais do Iluminismo.Foi este quem colocou a autentica questão filosófica da História.

- A visão iluminista da historicidade e seus problemas

O verdadeiro cerne da “nova História” proposta pelos iluministas estava na fé que depositavam no progresso. A História deveria ser, assim, “uma filosofia que ensina pelo exemplo”, pois a História é a própria experiência confirmando as verdades eternas da razão.As análises de Cassirer e Gusdorf demonstram o que foi no século XVIII, “ a conquista do mundo histórico”. Mas tal conquista não esteve jamais isenta de dificuldades, dada a oposição, tida como insuperável, entra filosofia – cujo objeto são as verdades racionais e eternas – e a história – esfera do contingente individual. Daí as distancias entre a filosofia e a História assumidas pelo racionalismo cartesiano e o empirismo inglês.

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As bases do pensamento Iluminista

Principais bases:

- Pensamento crítico- Primado da razão- Antropologia-Pedagogia

A antropologia das luzes

Principal objetivo: estudo positivo do homem, como espécie natural, criador coletivo da civilização, segundo Gusdorf.Diversas vertentes criadas:-historia natural, independente da medicina, tendendo a uma filosofia da natureza-filosofia da cultura-teoria do conhecimento, associada a uma analise psicológica

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Essa pluralidade de pensamentos poderia provocar uma fragmentação do saber. Para evitar tal risco, houveram dois movimentos:

•Elevação da antropologia como ciência de todos os saberes, deslocando esse papel da teologia

•Organização e consolidação dos pensamentos. Dai surge a Enciclopédia.

Há duas das diversas tendências iluministas que mais nos interessam aqui: 1. Crença no homem como ser solidário, baseada na historia natural e na medicina

2.Crença no domínio humano sobre a natureza, dada a capacidade do homem de ser o criador do seu próprio universo - o da cultura.

A primeira origina o materialismo do século XVIII, que é vitalista e biológico, diferente do materialismo do sec. XVII, com caráter mecanicista.

A segunda privilegia a idéia de civilização como forma de emancipação do mundo da cultura,isto é, do proprio homem, enriquecida pelo sentido do progresso.

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Antropologia- temas e valores

Premissas gerais : razão e natureza humanaDesenvolvimento dos temas: Humanidade, civilização, e progresso

Humanidade Qualidade inerente ao ser humano, ideal de cultura que torna o homem verdadeiramente humano, comunidade dos homens, valor de importância jurídica, moral e pedagógica. Homem- objeto de ciência e pesquisa - antropocentrismo das luzes

-rejeição da doutrina no pecado original e redefinição das relações entre o homem e Deus- afirmação da importância da ciência do homem e da investigação segundo princípios da experiência.  

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Civilização e cultura conotação dupla- qualidade inerente ao homem em sociedade (estado natural), e tomada de consciência da dimensão horizontal do homem (evolução).

“ conceito que designa o movimento coletivo da realidade humana na sua passagem do estado da natureza ao estado da cultura.” (Gusdorf, G.)

A ideia de civilização se torna ambígua , com o pressuposto de uma civilização unitária e a verificação empírica de civilizações diferentes entre si. Em lugar de civilização, existem na realidade civilizações.

Progresso-fruto da tomada de consciência ao perceber o movimento e a diferença, assim como o sentido da mudança presente no homem.-renascimento: progresso inicialmente como ideia de ruptura-objeto de fé para os iluministas-progresso: linear e ilimitado- a sociedade caminha sempre da barbárie à civilização, da animalidade à humanidade. -certeza do progresso - futuro otimista-novas ambigüidades: caráter mutável do homem a partir de evidencias empiricas

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A pedagogia dos “filósofos”

-único caminho racionalmente possível no sentido da igualdade do conhecimento.

Duas indagações:

1. Questão da natureza do processo educativoHelvetius – homem como produto da educação X Rosseau – homem- bom por natureza, desenvolvimento da personalidade da criança antes da educação.

2. Questão da reforma e difusão das instituições educacionais-opinião favorável dos filósofos sobre o controle da educação pelo Estado.Rosseau: defesa da educação publica em ” O contrato social “ - Realizações pedagógicas diversas conforme o pais : modestas na França, importantes na Inglaterra, intensas nos países do despotismo esclarecido.

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A enciclopédia

Aparecimento anterior ao iluminismo, associada ao renascimento Ideia: reunir e condensar o conjunto de todo saber existente num dado momento histórico - humanismo renascentista: temor da perda de visão de conjunto sobre o conhecimento do homem -iluminismo: objetivo duplo- sistematização inteligível do saber ligada à máxima exatidão empírica possível - Didero’t e D’alembert – principais organizadores- verdadeira profissão de fé, síntese da autoconsciência iluminista-organização interna: recenseamento critico dos conhecimentos segundo uma ordem capaz de oferecer, simultaneamente, a visão do conjunto e tais linhas-mestras, com relações e diferenças.- também é um guia ilustrado, capaz de servir a diversas praticas-antes de mais nada um dicionário, exposição racional dos conhecimentos - sucesso editorial: linguagem, exaltação da ciência e da técnica, valorização do mundo da produção, condenada pela Igreja.-apesar de todas as proibições, condenações e perseguições, a Enciclopédia circulou por toda a europa e chegou ao continente americano. 

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O Pragmatismo das “Luzes”

Pragmatismo: doutrina segundo a qual a verdade de uma proposição é uma relação interior à existência humana,

sendo o conhecimento um instrumento a serviço da ação. O pensamento é

finalístisco: a verdade de uma proposição consiste na sua utilidade

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• Para os iluministas, as ideias em si mesmas, apenas enquanto ideias, desvinculadas de uma prática transformadora não tem importância.

• Para eles, as ideias apenas tem razão de ser quando objetivam ações que modifiquem a realidade existente. É este o pragmatismo do movimento ilustrado

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As propostas e práticas iluministas podem ser agrupadas em três tópicos:

• A Tolerância;• O Humanitarismo; e

• O Utilitarismo

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A Tolerância

Até então, o reconhecimento da Tolerância Religiosa tratava-se de uma questão de conveniência política, devido as dificuldades resultantes das dissidências e conflitos religiosos.Era vista como concessão do príncipe, ficando restrita a liberdade de consciência à esfera do indivíduo enquanto entidade privada, pois, na esfera pública submetida ao Estado, prevalecia a religião do soberano.

O Iluminismo fez da Tolerância um princípio de ordem geral, imposto pela razão, inerente à razão humana, um dever moral e não mais uma concessão outorgada pelo Estado.

A difusão do deísmo, a religião natural, crença em um Ser Supremo ajudou o avanço da tolerância religiosa, pois foi minimizando as diferenças entre as religiões. Afinal, o importante era a consciência do bem e do mal, do valor da vida virtuosa, e a confiança numa vida futura na qual o “supremo arquiteto do universo” recompensará os justos.

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Com o deísmo como alicerce, a tolerância teve trajetos diferentes nos países católicos e protestantes.

Entretanto, há outros aspectos envolvendo a tolerância religiosa. Para boa parte da burguesia, e para certos princípes, o deísmo e a tolerância religiosa eram apenas armas contra a riqueza, os privilégios e a influência da Igreja Católica, pois seus interesses econômicos e políticos eram mais importantes que as questões propriamente religiosas.

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O Humanitarismo• Otimismo JurídicoÉ a confiança no sistema das leis e no poder do legislador como

capazes de assegurar a virtude e a felicidade dos homens. Se as leis forem racionais, serão justas, podendo promover o bem-estar geral . O primado do coletivo sobre o individual.

Raynal: ‘Todo povo é aquilo que a natureza de seu governo o faz; tudo é possível a um legislador hábil e sábio pois, perante esse legislador, o indivíduo é uma tabula rasa.’

Rousseu: ‘Substituir o homem pela lei’Bentham: ‘A influência do governo se estende praticamente a

tudo, com exceção do temperamento, da raça e do clima’

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Cabe a legislação transformar em realidade o racionalmente possível. Ela que deverá tornar os homens mais felizes, unindo e harmonizando todas as atividades humanas.

Prioridades: a reforma do códigos, dos tribunais e das prisões. Humanizar os processos e sanções, assegurar uma organização judiciária independente de manipulações arbitrárias, codificar a legislação para que se torne conhecida de todos, fazer da prisão um lugar mais voltado para a educação do que para a punição.

As práticas político-jurídicas dos déspostas esclarecidos estão permeadas das concepções do otimismo jurídico iluminista.

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• FilantropiaTermo posto em uso por Fénelon, com sentido de

expressar as atitudes e sentimentos que demonstram “a disposição e bondade naturais de amar todos os homens”

Possui raízes na perspectiva de uma generalização humanitária da caridade cristã, porém dela difere por se basear nas premissas do racionalismo iluminista que fazem da razão o denominador comum dos homens de boa vontade.

O objetivo da filantropia, sob o ponto de vista dos iluministas, deveria ser sempre contribuir para “ampliar a quantidade de humanidade existente no mundo”.

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Vislumbrando esse objetivo, os filósofos incluíram entre os tópicos das atitudes filantrópicas as preocupações concernentes a fenômenos como:

Servidão e Escravidão A servidão como tema específico, é tema pouco

frequente no discurso iluminista. Seja pelo fato de que a Europa Ocidental já vivia livre da instituição da servidão; seja pelas boas relações entre os filósofos com os déspotas esclarecidos onde reinava a servidão (Prússia, Rússia e Áustria); por seu término estar implícito nas ideais de Rousseu, com sua sociedade democrática, politicamente igualitária; ou ainda fazendo uma leitura do intenso antiescravismo do iluministas como uma espécie de derivação ou artifício capaz de produzir em suas entrelinhas a crítica implícita da servidão.

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A escravidão, entretanto, foi tema muito abordado e objetivo de críticas quase unânimes.

Crítica ao sistema colonial, forma impiedosa de exploração do homem pelo próprio homem; ao tráfico negreiro e o trabalho escravo, por “destituírem milhões de homens de sua humanidade”

Raynal: “A colonização é nefasta, desumana e antieconômica. Destituída de qualquer valor civilizatório, a colonização corrompe colonizados e colonizadores”

Consequências deste discurso: ações práticas contra o tráfico negreiro e em prol do abolicionismo, além do reconhecimento do direito das colônias à autodeterminação (Inglaterra).

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Doença e fome, pobreza e desemprego

Os iluministas propõe atitudes de compreensão e simpatia, que significam as diversas tomadas de consciência possíveis a respeito da doença, fome, pobreza e desemprego, enquanto expressões de uma mesma injustiça social.

Esta consciência de injustiça social ganhou força entre os componentes da burguesia, traduzindo-se num crescente sentimento do dever dos ricos para com os necessitados e como forma de compensação pelas suas próprias riquezas.

Dr. John More: “(...) os ricos, segundo Priestley, estão obrigados, pelas leis naturais da economia e pelos ditames morais de sua natureza, a difundir sua riqueza pelas camadas mais baixas da sociedade.”

Houve também o surgimento de uma atitude de responsabilidade individual em relação às mazelas sociais e humanas. O Iluminismo tende a promover o valor intrínseco da filantropia laica, exaltando o papel do indivíduo em favor de seus semelhantes como um valor moral racional.

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Guerra e PatriotismoVivendo em um mundo onde as guerras se faziam presente, a razão

iluminista incorpora os projetos utópicos de uma paz universal que lhe são anteriores e os redimensiona a partir de seus próprios ideais. Tudo era uma questão de tempo, a difusão das “Luzes” convenceria a todos do caráter estúpido e fútil da guerra em si.

Há uma redefinição da ideia de patriotismo, em Voltaire e na Enciclopédia: A ideia de pátria é tida como expressando uma realidade antiga e necessária, destituída de intuitos agressivos. O amor pela pátria é algo que só tem sentido entre homens livres.

Segundo Rousseu, o patriotismo mal compreendido leva ao militarismo e à guerra. Contra esses perigos os filósofos acenam com a ideia do cidadão do mundo: o cosmopolitismo.

Fougeret de Monbron: “O bom patriotismo é uma forma de solidariedade humana, e como tal deve conduzir àquela solidariedade mais ampla e completa que é a do cosmopolitismo, segundo a qual a pátria da humanidade é o mundo todo”

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• Beneficência

Neologismo posto em uso pelo abade Saint-Pierre. Beneficência significa fazer bem aos outros. É um dever dos favorecidos por Deus contribuir para aliviar a miséria dos desfavorecidos. “Uma virtude que nos leva a fazer bem aos outros”.

Acabar com o sofrimento da humanidade aqui mesmo na terra, em lugar de sua aceitação como direito virtual às recompensas extreterrenas, seria possível, pois tudo estava ao alcance da razão humama (Otimismo, progessos científicos e técnicos)

A Assistência aos pobres e doentes torna-se uma responsabilidade pública, não mais atribuição das igrejas (Inglaterra se destaca).

Diferença entre as preocupações preventivas e repressivas, que visavam proteger a sociedade e a ordem contra os individuos “socialmente perigosos”; e a beneficência das “Luzes”, que busca substituir essas preocupações pela intenção filantrópica, não isolando os infelizes, mas assistindo-os e educando-os, através de associações voluntárias.

Distinção entre as instituições voltadas para os doente, hospitais e asilos, e as voltadas para a detenção dos criminosos, as prisões. Os doentes mentais deixam de ser tratados como criminosos e passam a ser tratados como doentes, a palavra psiquiatria surgem em 1800.

Surgimento também de uma política médica.Assistência também aos desempregados.

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Iluminismo e Revolução• Como analisar a Revolução do ponto de vista das proposta

iluministas?Diversas interpretações, de inúmeros historiadores, cientistas

políticos e filósofos.Hoje em dia já não é possível optar simplesmente, em termos de

ruptura ou continuidade, quando examinamos as relações entre o Iluminismo e a Revolução. Na verdade, trata-se de ambas as coisas: continuidade e ruptura.

Segundo Gusdorf e Arendt, a revolução foi algo inteiramente novo para seus contemporâneos, a começar pela palavra Revolução adquirida então. Esse algo novo, foi uma ruptura produzida exclusivamente pela ação humama. Entretanto, essa consciência de ruptura é também uma afirmação de continuidade em relação aos ideias iluministas.

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A Ideia de Revolução já está presente entre os iluministas, nos escritos de Voltaire e Rousseau. Porém, era inerente ao pensamento iluminista que, ao admitir mudanças importantes e necessárias, supor que tudo se faria racionalmente, sem violência.A Revolução levou às últimas consequências alguns dos princípios iluministas e, acima de todos, certamente, a ideia de Liberdade. A partir desse ponto, a violência e a guerra tornaram-se inevitáveis, contrariando as esperanças pacifistas e cosmopolitas dos iluministas, seu otimismo jurídico, seu humanitarismo filantrópico.Resultou daí, a ambivalência dos comtemporâneos quando confrontados com o Terror revolucionário e o despotismo da liberdade proclamado por Robespierre.

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Questões Sobre Iluminismo.

1)Identifique e comente sobre as bases sociais do movimento iluminista.

Há uma notável correlação entre a desintegração do antigo sistema intelectual e religioso e o esfacelamento do antigo sistema social feudal com o contexto social do Iluminismo. Este trata-se de um movimento de classe média, pois nem a velha nobreza, nem o clero obscurantista teriam sido capazes de liderar a nova sociedade em gestão. A guarda avançada da transformação cultural foram os setores educados da burguesia. O século XVIII é o século do aburguesamento da cultura. A aristocracia subvenciona e protege os pensadores, mas ao fazê-lo, ela adere aos valores da nova classe dominante. Quanto aos agentes sociais do Iluminismo, eram “homens de letra”, ou seja, membros das profissões liberais (médicos, advogados, professores, etc), funcionários do Estado absolutista, oficiais, ”clérigos”,artistas e “diletantes” (nobres ou comerciantes).

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2)Comente sobre os principais temas do movimento iluminista:

2.1 - A noção de pensamento crítico e do primado da razão, secularização do pensamento, razão iluminista, pensar socialmente

A secularização foi uma nova forma de liberdade e autonomia no Iluminismo. A visão tradicional de natureza teológica perdeu terreno diante do avanço da visão imanentista, naturalista e antropocêntrica. Um de seus mais conhecidos aspectos foi o desenvolvimento da critica às crenças e práticas religiosas, em nome da razão. Esta, para os iluministas, é uma aquisição possível; uma força intelectual original cuja função é guiar o intelecto no caminho que o leva à verdade. A razão iluminista é concebida como energia ou força intelectual e é perceptível e compreensível através da prática. É trabalho do intelecto, cujas ferramentas são a observação e a experimentação. Pensar racionalmente, para os Iluministas, trata-se de criticar, duvidar e, se necessário, demolir. Não há mais espaços proibidos à razão.

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2.2 - A sensibilidade das “luzes”

A questão da sensibilidade das Luzes deve ser analisada em função de: os verdadeiros limites de penetração e aceitação do racionalismo iluminista nas diversas camadas sócias; o emergir, dentro do próprio racionalismo, de uma atitude humanitária; a convergência parcial desse humanitarismo racionalista e do humanitarismo sentimental. Devido a própria origem burguesa, a sensibilidade é mais retraída e o foco das ações é pensado de forma racional e econômica, não tendo espaço o sentimentalismo no mundo dos negócios. A sensibilidade é vista como uma característica das pessoas menos instruídas. O humanitarismo racionalista é aquele que ajuda, mas procura dar condições para que haja um desenvolvimento e a saída do estado de miséria. Já o humanitarismo sentimental apenas ajuda, não proporcionando condições para que o ciclo de miséria e ignorância termine.

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2.3 - A antropologia e as noções de humanidade, civilização e cultura e progresso

As várias antropologias do século XVIII tem em comum o objetivo de realizar o estudo positivo do homem. Daí resultam as diversas perspectivas que ela assume: uma história natural associada a idéia de filosofia da natureza; uma filosofia da cultura, produto do desenvolvimento histórico; uma teoria do conhecimento que conduz a uma antropologia filosófica. Essa pluralidade de perspectivas abria caminho à fragmentação do saber em função da especialização crescente das diversas disciplinas, cujo objeto comum era o homem. A humanidade é a qualidade inerente ao ser humano, ideal de cultura que torna o homem verdadeiramente humano, comunidade dos homens, valor de importância jurídica, moral e pedagógica. Tal idéia rejeita a doutrina do pecado original, redefine as relações entre o homem e Deus e afirma a importância das ciências e de seu principio de experimentação. Para os iluministas, civilização é uma realidade e um ideal, algo como a variável temporal da idéia de humanidade, tendo como seu substrato a noção de progresso. Ela afirmou-se como o conceito que designa o movimento coletivo da realidade humana na sua passagem do estado da natureza ao estado da cultura. O progresso é fruto duma tomada de consciência capaz de perceber o movimento e a diferença, assim como o sentido de mudanças que têm no homem o seu sujeito. Expressa-se numa hierarquização da humanidade no tempo e no espaço, sustentada pela tese da perfectibilidade infinita da espécie humana. A certeza do progresso permite encarar o futuro com otimismo.

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2.4 - A pedagogia das luzes e as noções de igualdade, processo educativo e a difusão dos estabelecimentos educacionais e a construção da cidadania A pedagogia era para os iluministas o único caminho racionalmente possível no sentido da igualdade. Só ela propiciaria a eliminação do abismo entre os espíritos bem-pensantes, moralmente bem-formados e socialmente bem-educados da plebe ignorante, supersticiosa, inclinada aos maus-costumes e mal-educada. Já o processo educativo causava divergências. Alguns filósofos defendiam a idéia de que a pedagogia era uma ciência tão exata quanto a geometria e era ela que tornaria possível produzir bons cidadãos, ou seja, pessoas capazes de subordinarem seus interesses particulares ao bem público. Outros filósofos defendiam a idéia de que em lugar de ensinar a virtude ou a verdade, a educação é um conjunto de preceitos negativos que visam a preservação do “espírito” e do “coração” ameaçadas pelo “erro” e pelo “vicio”, defendendo os impulsos primitivos da criança da contaminação pela sociedade e pelos intelectuais. A difusão dos estabelecimentos educacionais era defendida pelos filósofos como exigência pública e dever do Estado. Era da cidadania que se tratava. Esta só poderia ser construída com seus alicerces plantados na herança cultural particular de cada nação.

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Membros:• Leandro Lopes R.A. : 130972-2• Marcelo Varella R.A. : 130982-0• Rafael Rossi Pereira R.A. : 130938-2• Jaqueline Bonny R.A. : 130965-0• Vinicius Gomes R.A. : 130940-4 • Beatriz Araújo R.A. : 130983-8