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Deitavam-se du;is pessoas cm cada cama. E era muito desa- gradável. Por exemplo, se um homem morria, não era retirado senão depois de vinte e quarro horas, pois o grupo evidente- mente desejava obter a ração de.pão e sopa destin;.ida a essa pes- soa. Por isso, a morte era vinte e quatro horas depois, de forma que sua não fosse suprimid:1. E por isso a gente precisava fic:1r iodo esse tempo na mesma cama com a pessoa mona42.. Estávumos no nível intermediário. E era uma situaçüo terrí- vel, principalmente ;t noite. Em primeiro lugar, os mortos csta- y;;m descarnados e ti11h<1m uma aparência horrível. Quase todos se sujavam no momento da morre e isso não era um aconteci- . mento muito estético. J\.foito freqüenlemcn'te vi esses casos n(l acampamento, nas barracas das pessoas doentes. As pessoas que: morriam de feridas flcimosas e supuradas, com as camas' cheias de pus, estavam juntas com alguém cuja doença era ialvcz mais benigna, que t;.ilvez tivesse uma pcqu(:na ferida e que ficaria infeccionada4J. A contaminação de ficar deitado perto do moribundo foi Uunbém citada cm relatórios sobre hospitais para doen- tes mcntais 14 , e a contaminação cirúrgica tem sido citada cm documentos de prisão: No quarto de vestir, :is ;itadttras e os instrumentos c1rnr- cos ficam expostos ao ar e :io pó, George, que procurara um assistente para tratamento de furúnculo no pescoço, foi com urâ. bi,tur[ csado, um momento :rntcs, no de um homem, e que depois disso rriio fora estcrilizado-15, Finalmente, ern algumas instituições totais o internado 6 obrigado a medicamentos orais c•u inlr:wcnosos, de- sejados ou oão, e a comer ü alimento, por menos agrntlável que este seja. Quando um internado se recusa a a!imentrrr- -sc, pode haver contaminação imposta de .su;.is entranhas por "alimentação forçada". nigeri que o internado sofre mortificação de sc:H cu por esposição r:ontaminadora de tipo fr;ico, mas isso deve ser ampliado: quando a agência de contaminação é outro ser humano, o internado é ainda contaminado por contato interpessoal imposto e, conseqüentemente, uma rela- ção social imposta. (De forma semelhante, quando o inter- nado deixa de ter controle quanto a quem o observa em (42) BODí:R, David P. f [)id Not lntÚi·iew tire Deinl. Urban:t. Uni- vcrsity of Illinois Prcss, 1949, p. 50. (43) lbid., p. SO, (44) e Ooons, op. c;t., p. J(i. (45) OENORICKSON e THOMAS, op. cir., j). 122. 34 sua desgraça, ou conhece o seu passado, está sendo conUt- minado por unn relação obrigatória com essas pessoas -- pois é de t<iis e conhecimento que se exprimem as relações.) Em noss<L sociedade, o modelo de coni_aminação intcr- pcsso;.il é talvez a violação; embora haja "perseguição" se- xual nas instituições totais, estas apresentam muitos outros exemplos menos dramáticos. No momento da admissão, o·; de uma pessoa s;io retirados e indicados por um fun- cionário 4uc D> enumera e prepara para ;1 nnazcnamento. ü pode ser revistado até o ponto - muitas vezes descrito na !iterawra - de um ex.ame rc!al 1 ª. Postcrior-- mcnie, durante stta cstad1, poc!c s-cr obrigado a sofrer exa- mes cm swt pessoa e cm seu dormitório, seja de forma roti- neira, seja qu:indo -algum prob!cma. Em todos casos, tanto o qt1anto o exame a inti- do i1;dividuo e violam o território de seu cu. Se- gundo a sugestão de Lawrence, mesmo os exames rotinei- ros podem ter esse ekito: os soldados precisavam tirnr :•s botas e as meias, c ap.-esenlar os pés par:t o exame de um ofici2.L Quem abaixasse para olhar, recebia um pontapé na boca. {-favia tam- bém a rotin:t dos banhos, um certificado de seu suboficial de que você ti11!10. wm:ido um banhD durante a semana. Um banhe,; E com os exames ele equipamento, de qu;1r10 e de utensílios, tockis ª' dcsculp<1s p;1ra que os oficiais mais rigoroso, dirigissem ofens:is aris e os' intrometidos se ver'datk, é precio ter muito tato pa1a interfc.rir P:t pc:;-;oa de u:n pobre h•Jmem e n:io ufendê-io-:7_ AlÉm disso, e hábito de:, em pnsm:s e hospit;:is para doentes mentais, misturar grupos etários, étr.icos e raciais, ·pode fazer com que o internado sinta que está sendo con- taminado por coma to com companheiros indcscJ<iveis. U rn com formação ginasial, ao descrever suz e11ti-ada na prisão, exemplo disso: Outro gu:nda Jpareceu com um pai- de algemas e me li- gou o pequeno juden, que se lamentava em ... De repente, tive o pensamento horrível de que podai<\ ser obrigado a compartiihar uma cela com o pequeno judw fiquei (46) Por excniplo, Lowcu NAEVE. A Fic-ld of Broken Stunes, Glen Gardner. New Jersey, Libertarian Fress? 1950, p. 17; KOGOr-:, op. <:it., p. 67; IíOLLEY C.r\NTl;"IF e DACHINE R.UNER, Prison Etiquerte, Bearsv1lle, New York, Rctort Press, 1950, p. 46. (47) LAWRENCc, º"· cit-., p. !96. (4'8) HECKSHLL-SWTH,• op, cit., p. 14·. 35

Image Compression Tool...Deitavam-se du;is pessoas cm cada cama. E era muito desa gradável. Por exemplo, se um homem morria, não era retirado senão depois de vinte e quarro horas,

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  • Deitavam-se du;is pessoas cm cada cama. E era muito desa-gradável. Por exemplo, se um homem morria, não era retirado senão depois de vinte e quarro horas, pois o grupo evidente-mente desejava obter a ração de.pão e sopa destin;.ida a essa pes-soa. Por isso, a morte só era dcc!;~radn vinte e quatro horas depois, de forma que sua raç~o não fosse suprimid:1. E por isso a gente precisava fic:1r iodo esse tempo na mesma cama com a pessoa mona42..

    Estávumos no nível intermediário. E era uma situaçüo terrí-vel, principalmente ;t noite. Em primeiro lugar, os mortos csta-y;;m descarnados e ti11h

  • wmado pelo pfinico. Esse pensamento me obcecava e eliminava todo o resto49•

    Evidentemente, a vida cm. grupo exige contato mútuo e exposição entre os internados. No caso extremo, tal como ocorre nas celas de prisioneiros político:; da China, o con-tato mútuo pode se"!· muito grande:

    Em certo estágio de sua prisão, o preso pode esperar ser colocado numa cela cem aproximad;1mente outros oito pn:sos. Se inicialmente estive isolado e era interrogado, isso pode ocor-rer logo depois de sua primeira "confissão" ser aceita; no en-tanto, muitos presos são, desde o início, ·colocados cm celas coletivas. A cela é usualmente nua, e mal contém o grupo que aí· é color:ado. Pode haver uma plataforma para dormir, mas todos os presos dormem no chão; quando todos se deitam, todas as polegadas do chão podem estar ocupadas. A atmogfcra é de extrema prO'lliscuidade. A vida "reservada'' é impc.ssível50 .

    Lmvrence dá um exemplo miíitar disso ao discLJtir suas dificuld;ides para entender-se com seus companheiros da força aérea nas barracas do acampamento:

    Como se vê, n:io posso brincar com nada e com ninguém; e um ;1c;:nhamento namral me afasta de sua simpatia instintiva de ............ e "caçac!as", beliscões, emprést:mos e nomes feios; e isso, :ipes;ir de minha simpatia pela liberdade franca a que se .abandonam. Jncvitavelmentc, cm nossas acomoàaçôes apertadas, orecisamos ~xpor esses recatos físicos que a vida edu-cada impõe. ;\ alividade sexual é uma fanfar.ronad,1 ingênua, e qtlaisq11er- ;1nornwlida

  • Uma versão mais completa desse tipo de exposição contaminadora ocorre, como já foi sugerido, cm confissões institucionalmente organizadas. Quando um outro signifi-cativo precisa ser denunciado e sobretudo quando esse outro está fisicamente presente, a confissão, a estranhos, d;t relação pode significar uma int

    39

  • Um judeu de !3rcslau, chamado Silherm:1nn, precisou ficar imóvel, enquanto o sargent

  • N:I·º· preci-;a e'1:1r con'>icntido com o gorro n.1 miio, a:é que o Oficial, rj Vbilantç OU O guard:1 se ar;!S!:iSSCnJºº,

    E num campo de conccn1r:1ç~co: Nas banacas, os prisionl'iros a:!m dominado,; por impres-

    sões novl!s e confus;1s. O momento d·~ ;i;-rnrnar as camas l~ra t,ma fonte especial para :1s m:·iJdadt'S dos SS. O:; colchiíe:; de palha disformes deviam fic:1r retos corno tiíbu:;s, o desenho dos lençóis devia ficar parafcio :l bcir;;d;t da cam:1, os tra muito engr;ixaüos --- o q::e i:1di-cav:i que o prisioneiro tinha dcscuiúado de outras obrig:1.çõe.;; o L:to de. n:-10 fazer a s:•t•daç:lo, a cil:1mad:1 "rostu,-.1 rcl:1xad-a .. ; ( ... ) o menor desvio n;i organí;'.açiio de coiun:1s e fiieira:;, ou coloca,·ão dos prísíopciros por ordc111 de· t:im:mho, ou q11:1iqucc ín•:linação, tosse ou espirro -- qualquer unP. dess:is coi-:a,; :.m-dcri:t prol'Oe:io selvagem dos SS7°.

    Entre os 111ilil;1rc, c11cun11·:1rn,)s um e\c1nplo d:1~: e:;pe-c1:ic·a

  • Urna_ ex ~freira conta que precisou aprender a ficar· cem as mãos irnóvcis'

    Já sugcri que a autoridade nas instituições lotais se dirinc vara um Qr:rndc- número de itens de conduta - rou-pa, "co;nportamc~nto, nrnrieiras - que ocorrem comtarile-rncnle e qu:; constantemente devem o;er julgados. O inter-nado não ·pode fugir facilmente da pressão de julgamentos oficiais .e da rede envolvente de coerção. Uma instituição total assemelha-se a uma escola de bo

  • Em primeiro lugar, as instituições totais perturbam ou profanam exatamente as ações que na gociedade civil têm o papel de atestar, ao ator e aos que estão em sua presença, que tem certa autonomia no ~cu mundo -- que é uma pes-soa com decisões "adultas··, autonomia e liberdade de ação. A impossibilidade

  • con°ccmplativo: tudo isso. serve. para. nos lembrai· quem somes, e quem é Ócm. que podemos ficar doentes quando nos vemos, e podemos no,; voltar para Ele; que, no fim, descobriremos que Ele está em nús, cm nossas naturezas purificaá:1s que se torna-ram o espelho de Sua extraordinátia bondade e de Seu infinito amor. ( ... )~"

    Os int·~rnados, bem como os diretores, ativ;1mcnte bus-cam essas reduções do tituição total e, a partir de então, podem lament~.r a perda da possi~ilidade de tomar decisões importantes. Em outros casos, prmc1pa!-mentc entre os religiosos, os internados podem partir de um desejo voluntário de perder a decisão _p-:!ssoal, e man_te_r esse desejo. As instituições totais são fatais para o eu e!V!l do internado, embora a lignção do internado com esse eu civil possa variar consideravelmente.

    (86) MERTO>I, op. cit., r. 372.

    48

    -· , Os proce,sos de mortifica1ão que considerei· até a_qu . -:::~

    "' referem às conscqliências, para o eu, q11c pessoas ôn~_n . · ~ :5; idas para determinado idioma cKpressivo poderiar:~ , tira ·-

  • ' ' } pojamenlo da instituição, é em grande parte o sistema de privi!Çgios que dá Ll!11 esquema para"ª reorganização pes-

    soal. '~É possível mcncionu três elerr;entos bi!sicos do sis-tema?

    Em primeiro iugar, existem as "regras ela casa'', um conjunto relativamente explícito e formal de prescrições e proibições quG cxp&: as princip;1is exigências quanto à con-duta do intern;1do. Tais regras especificam a aüstcra rotina diária do internado. Os processos de admissão, que tir;:rn do novato os seus ;1poio-; «ntcriorc:;, podem ser vistos como a forma ck ;: instituição prepará-!o para comcç;1r a viver de acordo com as regras da casa.

    Em segundo lugar, cm contraste com esse ambiente rígido, aprcscuta-sc um pequeno nC1mcro de prémios ou pi·i-vilégios clararnenk definidos, obtidos em troca de obediên-cia, ein ação e espírito, à equipe dirigcnt(:. f' importante ver que muitas dessas satisfações potenciais são p;irtc da corrente de apoio que, ar1tcs, .o internado ;1ccirnva éomo in-discutível. No mundo externo, por exemplo, o internado provavelmente pouia decidir, sem pensar muito a respeito, como descjav~. o seu café, se acenderia ou não um cigarro, quando falaria ou não; na instituiçiío, tais dirciios· podern tornar-se problemáticos. Apresentadas ao inicrnac!o como possibilidades, essas poucas reconquistas parecem tc1· um efeito reintegrador, pois restabelecem as relações -::om todo o mundo perdido e s"L;avizam os sintomas de afastamento com rdação a ele e com relação ao cu perdido pelo indi-víduo. Principalmenle no início, a atenção do ir.tcrn1;do passa a fixar-~c nesses recursos e a ficar obse::ida por eics. Pc;de passar o dia, como um faná:ico .. cm pensamentos c·0i:-c.cntrndos n respeito d

  • k\ a a conv~qüências dcsvantajo:;a,; indiretas, e não :1 qual-quer c:.istign imediato-~ c•:pecífico"º E, dc·.c-"-' ,,c.;ntu'''" os pnvilégios na instituiçãu total não :;ão iguais a prerrogati-vas, favores ou valores, mas apcn:1s a ausênci'a de priva-ções que comumentc a pessoa não espera sofrer. As noções de castigos e privilégios não são retiradas do padrão da vida civil.

    Em segundo lugar, o problema da liba.:c' peilo e delicadeza pessoal. . . _ _ . ~ -.-:

    Os castigos que podem ser aplicados pe10 auxiliar da .en- __ krmaria são: suspensão de tudos os privilégios, maus tra~os -.-J usicológicos - por exemplo, ridicularizaçfo, c::içoadas, castigo .;.,f! J , d 1 ' ' h o físico leve e às vezes severo, ou Um paralelo a isso pode ser encontrado na> prisõ~s britànic2.s, cm aue se emprega o "sistema de

  • bord.ipação. homo-;scxu:ilidadc. liccnç~ não-aulorizada, par-lic1p;fção em revoltas cok11vas. Embqbt 1ais infrilçõcs sejam gt.!rafmcnte alribuídas a COrrUpção, maldade Oll "doenç

  • que. apareniementc, º'· yuc apr•~sentavam "probL.:rnas de .. i tigo injusto ou excessivo, bem como :t tratamento mais degr:~dante do que o prescrito pela lei, passa a justificai o seu ato - o c;uf! nfo podia fazer qu

    Sob muitos aspcc1.us, o sislcma social do internado ;iode ser .;onsidcrado como capaz de dar uma forma de vida que permite ao internacJo evitar os efeitos psicológicos destrutivos do i.nter: ,1amcnto e converter ;1 rejeição social crn itU!o-rcjcição. Na rca-iidade, permite que 0 internado rejeite aqueles que o rejr:it:iram, cm vez de rejeitar a si mcsmolO·l.

    Evidentemente, aqui encontramos uma ironia de um programa um poucc terapêutico e pcrm;ssi,-o' - •J intcr-n::ido se torna menos capaz de proteger o seu ego ao dirigir a hostilidad,: contra alvos cxternos 10 ~.

    Exi;tc um ajustamento sccundá1io que reflete muito clar~mente o proces:;o de confrntcrnização e a rejeiçfio da equipe dirigente - a "gozação" colc~iva. Emborn o ;istcrna de castigo-prêmio p(bsa lidar com '.nfraçõcs individuais que são identificáveis quanto à s1ia fonte, :1 solidariedade. dos internados pode ser suficientemente forte paru apoiar ge:stos passageiros de desafio anônimo ou colet~vo. Entre os ex:crn-plos disso podem ser citados: gritar estribilhos'º', vaias'º', batidas em bandejas, rejeição coletiva do ,-t!imento, e p.:quc-n~s sabotagcns108 . ·:ais ações tendem a apresentar-se sob a forma de "rcbciiõcs": um enfermeiro, um guarda ou um assistente - ou mesmo a equipe dirigente corno urn todo - - são "1~ozacios". ridicularizados ou recebem 01Jtr2.s formas de agrcs•;ão, até que perdem parte dê. seu autocontrole e mJnit'estam uma :cação ineficiente.

    Além d;i confraternização entre os intern;-idos, tende a haver a :armação de liames de um tipo r,1ais diferenciado. Às vezes, alguma solidariedade especial c011gt«~ga Uiln re-giiío fisicamente próxima - por exemplo, uma enfermaria OL~ casa, cujos moradores se consideram como unidade ad-ministrativa :o·ingular, e por isso têm um sentimento intenso de deshno comum. Lawrence dá um cxemDlo de ""rupos administrativos" da força aérea: ' " -

    Há uma atmosfera. dourada de riso - ainda que de riso tolo - erTJ nossa barraca. Reúna mais de cinqüenta camaradas, totalmente estranhos, numa pequena sala, durante vint.~ dias;

    ( t04) McCORKLE, Uoyd W. & KORN Richard. R.eso'ciatiz

  • submeta-o:' a uma di5ciplina nova e arbitrári;1; submeta-o:; a tarefas sujas, sem .> díacks e 1r\alks podem esconder segre-dos das ~1t1toridadcs, mas qualquer cois:\ que todos º' pa-ciente' de wna cr,fcrmaria saib;1m tende a chegar ao ouvido do auY.iliar. ( Evidcn!cmentc, n:1s píisõc>, a organiz-l.\N, Buchci:\'-ald and _\1ncil.'.fn Prisc:m.í-L)f-War Delention Polioy, Social Forces, x,-.;xvrr ( 1959;, pp. 289-9".

    (!15) Para um estudo já antigo, ver P. NJTS 1..:r>3_ e K \V:d.M-\NNS, The Jiistorv oi Prison PsJchosis, Ncn•ous and i\.fcn!~l D1scasc ?\1(Jnograph, s~rics n. 13 (1912).

    ( f 16) RicH.\RDSO~. op. cir .. p. t-12.

    59

  • lar um rn icrnaJc dessa posi~ã b atu?lmentc limitados para faz~-1~' . c'.11.~0:110 os rec~rs_os muitas vL:zcs é cl ·t -

    alguma cutra tsívcl, uma l:omu-nidade livre para si mesmo, ao usar os limitados recursos disponíveis, o convertido accit« urna tátic:a mais discipli-nada, moralista e monocromática, apresentando-se como al-guém cujo entusiasmo pela instituição esêá sempre à dispo-sição da equipe dirig1!ntc. Nos campos chineses

  • par;t Joenks mentais, navios mercantes, sanatórios para tuberculo>os. campos de "lavagem de cérebro'' -- dão ao internado uma oportunidade parn aceitar um moJdo ele conduta que é, ao mesmo tempo, idc;d e aceito pela equipe dmgcntc, um modelo que setrs dcknsores admitem ser 0 n:_clhor p_ara as pessoas i\s quais é apli'cado; outras institui-çoc

  • tórü'', uma tátic::, um conto triste - um tipo de lamt:r:ta-ção '~defesa - e que corda consü••1tmente a s,~L'S cornv' nhci: u:,, como dilJa forma de explicar a sua baixa posição prescnt.:. Em con1eqliê11c!a, o cu do internado pode tornar--se, mais do que no mundo ex.terno, foco de sua conversa e de seu interesse, o que leva a excesso de piedade per si mesmo 127. Embora a equipe diretora comtantemente dcs-mint· tende a ser mais ddicada, e suprime pelo meno~ par!e da descrença e do tt'.dio criados por tais descrições. Um ex-prisioneiro escreve:

    Ainda mais notável é a delicade;:a quase universal no que se refere a pergunta' sobre os erros de outro, bem como o fato de o iC'lernado se i:c:cusar a determinar sua rcl~ção c:orn outro prisioneiro a partir daquílo que este -fez antes de vir parn ~t prisãol 2k.

    De forma :;emc!han te, em hospitais públicos nor~c-ameri,~anos para doentes mcn tais, a etiqueta permite c;u'~ um paciente pergunte a outro em que enfermaria e cm qu

  • e gcngibrc 130 ._ Oficialmente patrocinadas OLt não, semore que css de reorganização p:uecem ter um efeito dura-douro t38, em parte por causa de ajustamentos secundários, da presença de costumes contrários à instituição, bem como por causa da tendência dos i11ter:1Jdos para combinar todas as estratégias na "viração".

    Evideritemente, logo depois da liberaç·ãu, o Ícnternado tende a ficar maravilhado diank das liberdades e dos pra-zeres de .~·tatus civil que 05 civis usualmente não percebem como "acontecimentos" -- o o:for nítido dG ar fresco, falc.r quando se deseja, usar um fósforo inteiro para acender um cigarro, fa;:er um lanche solitário numa mesa arrumada para apenas quatro pessoas139. t,:ma doeme mental, ao vol-tar para o hospital depois de passar o fim de semana. em casa, descreve sua experiência para um círculo de ouvintes muito atentos:

    Eu me !Gvant~1 de manhã, foi para a sozinha e preparei o café; estava urna maravilha. À tarc;e tomei umas cervejas, saí e comi chili~; estava uma coisa do;da, uma vcrdadeir-d delícia. Nem um rnmuto esqueci de que ectava livre 140.

    ( 138) Provas imf)ortautes disso são dadas por nosso conhecimento do reajustan~nto de 11risinneiros repatriados que t:nham p~sado pc~a "lavagem de cérebro" da guerra_ Ver HlNKLE e WoLFP, op. clt., p. 17 ·

    ( 139) LAWRENCE. op. cil., p. 48. (") Espécie de pimenta malagueta. (N. do T.) (140) Nelas de campo do autor ..

    67

  • Apesar d;sso, par·~cc que logo depois da liberação o ·~X-i

  • dades oficialmente confessadas e aprov.1das. J;) se sugeriu também que um freqiienlc objetivo oficial é a reforma Jos internados na direção de algum paJrão ideal. EsiDentro desse conk:x.to, talvez a primeira cois

  • ! :

    j;

    . · .. :·-·

    Padrões ;1gr;1tlú veis ou com dois tows li ses, dcco!c em V ou íc-chado no pescoço. Nilo precisa passarl·l!.

    Assim como os bens- pessoais pod:.:m interferir no con-trole suave de uma instituiÇão, e por. isso são afastados, também algumas partes do corpo podem entrar cm conflito com a direção eficiente e o conflito pode ser resolvido cm favor da eficiência. Para que as cabeças dos internados sejam mantidas limpas,_ e para que o seu possuidor seja facilmente classificaclo, é eficiente raspar seus cabelos, ape-sar do dano que isso causa â sua aparência. Com funda--mcntos semelhantes, alguns hospitais para doentes mentais verificaram que é útil extrair os dentes dos "mordedore~:", fazer histerectomias cm mulheres com tendências para a promiscuidade sex:uai, e realizar lobotomias em briguentos crônicos. A prática da flagelação como forma de cw;tigo para homens de guerra exprimia o mesmo dilema entre interesses da organização e os interesses humanitilrios:

    Um dos argumentos dos oficiais d.a Marinha cm favor do cnstigo físico é o seguinte: pode ser aplicado num momento; não consome um tempo precioso; quando se coloca a carnis::1 do prisioneiro, encerra-se o assunto. Ao contrário, se houvesse 11m castigo diferente, este provavelmente provocaria uma grar:de perda de tempo e grandes problemas, além de dar ao mJrinbeiro uma falsa idéia de sua importftncia 1~5.

    J~ sugerí que o trabalho com pessoas difere de outros tipos éle trabalho por causa do conflito

  • porkm scntir"se ma:·tiíicadas, l :_,:nilh;d;,, e d'.:safo,u.1s quar,-do o internado não reage_ corretamente. ·

    A capacidade dos internados para tornar-se objetos de interesse afetuoso ela equipe dirigente está ligada ao que poderia ser denominado um ciclo de participação, às vezes registrado nas instituições totais_ A partir de uma distância social com rclaçiio aos internados, um ponto cm que a maciça privação e :1 perturbas·ão institucional não podem ser vistas facilmente, a pessoa da equipe dirigente descobre que não tem razão para imrcdir a formação de uma rcla-c;ão afetuosa com alguns irli;:rn;1dos. Essa rdação. no en-tanto, !cv

    (l47) CRE5SE't, D. A.chievcment of an Unstatcd 01·ganiz:aticm2\ Goab .An Observ~Jtion on Prisons, Paciíic Sociological Reri~w, 1 (195'3), p. 43'.

    77

  • na cadeia deve ser um delinqüente; um homem num hos-pital para doentes m-::ntais deve estar doente. Se não fosse traidor, delinqüente ou doente, por que estaria aí?

    Essa identificação automática do internado não é ape-nas uma forma de dar nomes; está no, centro de um meio básico de controle social. Um exemplo disso é dado por um estudo comunitário inicial de Ltm hospital para doentes mentais:

    O objetivo principal dessa cultura do pessoal auxiliar é con-seguir o controle dos pacientes - um controle ouc deve ser mantido, independentemente do bem-estar ào pacie~le. Esse ob-jetivo fica muito claro com relação aos desejos ou pedidos apre-sentados pelos pacientes. Todos esses desejos e pedidos, por mais razoáveis que sejam, por mais calmamente que sejam apresen-tados, ou por mais educadamente que sejam formulados, são considerados como prova de doença mental. A normalidade nun-oa é reconhecida pelo auxiliar que trabalha num ambiente. em que a anormalidade é a expectativa normal. Embora quase todas essas manifestações comporlamentais sejam dcscrítas aos mc-dicos, estes, na maioria dos casos, apenas confirmam 03 juíga-mentos dos auxiliares. Dessa forma, os médicos tendem a p~rpetuar a noçiio de que o aspecto fundamental do tratamento dos doentes mentais é o seu controle143.

    Quando os internados podem ter contato face a face com a equipe dirigente, o contato freqücrrtcmente se apre-senta co.mo pedidos, por parte do doente, e justificativa do tratamento de restrição, por parte da equipe dirigente; essa é, por exemplo, a estrutura gcr:il da i11tcri1ção eguipc diri-gcnk-paciente nos hospitais para doentes· mentais. Como precisa controlar os internados e defender a instituição em nome de seus objcti•1os confessados, a equipe dirigente vale--se do tipo de ideritificação global dos internados que per-mita fazer isso. Aqui, o problema da equipe dirigente é encontrar um crime que se ajuste ao castigo.

    Além disso, os privilégios e castigos distribuídos pela equipe dirigente são freqüentemente . apresentados numa linguagem que reflete os objetivos legitimos d?" instituição-- por cx:emplo, quando o confinamento em prisões é dei>o-minado "meditação construtiva". Os internados ou o pes-soal de nível inferior têm a tarefa específica de t~aduzir tais frases ideológicas para a linguagem simples do sistema de privilégio e vice-versa. Um exemplo disso é dado pela dis-cussão de Belknap do que ocorre quando um doente mental infringe uma regra e é castigado:

    ( 148) BAITN!AN, J. & DUNHAM, H. Thc Stale Mental Hosoitat as a Spedrilized Cornmunity Experiencc. American lournal oi Psychiatn·, CV (\948-1949), p. 44ó.

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    No caso usual desse tipo, algumas coisas - por exemplo, insolência, dcsobediencía e excessiva familiaridade - são tradu-zidas p;!ra termos mais ou menos profissionais, por exemplei, "excitado" ou "perturbado", e apresentadas ao médico, pelo au-xiliar, como um ;ciatório médico. Nesse caso, o médico precisa oficialmente revogar ou modificar os privilégios do paciente na enfcrrnaria, ou t:ansfcri-io para outra, onde o Jocnte precisa começar de nm·o a partir de um grupo inferior.

    Na cullura do~ auxili&rcs, um "bom" médico é aquele que não Liz muit:is pe•·gunt1s a respeilo desses conceitos médicos traduzidosl4Ll_

    J\. perspectiva institucional é também aplicada a ações que nem ciara e nem usualmente estão submetidas à disci-plina. Ozwell diz que em seu internato urinar na cama era um sinal de "'sujei:·a" ou maldacic 150, e que uma perspectiva semelhante se aplicava 3. perturbaçõ-~s ainda nrnis nitida-rnen te físicas. ·

    Eu tinha brônquios doentes e uma lesãó num dos pulmõe, mas isso só foi descoberto muito depois. Por isso, não apenas tinha uma tosse crônica, mas as corridas eram um tormenw para mim. Nessa época, no entanto, umh respiração difícil c.ra diag-nostic::da como im 1ginação ou considerada como uma pertur-baç:io fundamentalmente mora!, provocada por cxcc>so de ali-mento. ''Você chia como uma concertina" -- era o qu-:: costu-mava dizer Sim [o diretor], ~entado atrás de minha cadeira -"e isso acontece porque você come àemais" 151·.

    Diz-se que os campos chineses C:e "refomrn do pensa-mente" levaram U

  • titucional contém uma rnoralicJade pe-,,o;il, e cm cada insti-tuição total podemos ver, cm miniatun, o des·:i:v:ilvimci;lc de algo próximo de uma versão funcionalista da vida moral.

    A tradllçâo do comportamento do internado' para ler-mos moralistas-, adequados à perspectiva oficial da institui-ção, necessariamente conterá algumas pressuposições am-plas quanto ao caráter dos seres humanos. Dados os internos que tem a seu cargo, e o processamento que a ele~ deve ser imposto, a equipe dirigente tende a criar o ouc se poderia considerar uma teoria da natureza humana. Como uma parte implícita da perspectiva institucíonal, essa teoria racionaliza a atividade, dá meios sutis para manter a di:;-tância social com relação aos internados e uma interpreta-ção estcrcotipr.da ddes, bem corno para justificar o ! raia. mento que lhes é imposto 1":1• Geralmente, a teoria abrange as possibilidades "bÕas" e "más" de conduta do internado, as formas apresentadas pela indisciplina, o valor institucio-nal de privilégios e castigos, bem como a diferença "essen-cial" entre a equipe dirigente .e os internados. Nos exércitos, os oficiais têm urna teoria a respeito da relação entre dis-ciplina e a obediêricia de homeris cm combate, das quali-dades adequadas ao soidado, do seu "ponto de ruptura", bem como das diferenças entre doença mental e simulaçâo. E serão instruídos de acordo com uma concepção específica de suas naturezas pessoais, como o sugere um ex-oficial ao enumerar as qualidades morais esperadas de oficiais:

    Embon grande parte da instrução fosse inevitavelmente destinada a desenvolver a aptidão física, havia a crençn muito arraigada de que um oficial. apto ou não, deveria ter tanto or-gulho (ou "fibra') que nUI;ca admitiria inadequação física, a não ser que caisse rnorto ou incomciente. Esta crença, muito significativa, era mística, tanto em sua natureza quanto em sua intensidade. Durante um exercício violerito no fim do wrso. dois ou trb oficiais se queixaram dt:. bolhas ou outras pequenas indis-posições. O instrutor-chefe, um homem pessoalmente educado e tolerante, os de11unciou em termos grosseiros. Dizia ele que um oficial simplesmente não se entrega e não pode entregar-se. Se não tivesse outra coisa, deveria agüentar-se com sua forca de vontade. Tt!do era uma questão de fibra. Havi·a a sup.osiçã~ im-plícita de que, como os soldados de outros níveis "afrouxavam"

    .. ( 153) Derivo isso da rcsec.h

  • aos pe:rigos ele qualquer fraqueza. levaram alguns prisionei-ros a, Liq1ois de uma aceitaçiio menor, não t:>-

    chiatry in Prison, Psychiatry, XIV ( 1951 )._ pr. 73-86, t \\ALDO \\ · ,·3 ~i~: cH,'.!U:>, Role Conflicts of l\1ilitary Chaplams, Amencan Soe 10/vi.;1cc1i · ,·iea', XIX (1954), pp, 528-35.

    83

  • Evidentemente, os cspecia!istas não cor.stituem o único grupo.de direção qw: t;;cn refa~ãu uni pouco difícil Clilll os objetivos oficiais do estabelecirr.ento. As pessoas da direção que estão em contato direto c.om os· internados podem pen-sar que também elas estão diante de uma tarefa contrnditó-ria, pois precisam impor obediência aos internados e, ao mesmo tempo, dar a impressão de que os padrões humani-tários estão sendo mantidos e os objetivos racion;iis da ins-tituição estão sendo realizados.

    CERIMONIAS ~NSTITUCIONAIS

    Já descrevi a instituição total do ponto de vista do ·'pe~-soais" ilícitas ou discutíveis que cruzam a linha equipe dirigente-internados, ocorre um outro tipo de contato irregular en trc a ;idministi-ação e os infer-nados. O pe~;soal da equipe dirigente, ao contrário do que ocorre com os internados, conserva alguns aspectos de suas vidas separados da instituição - emborà possam· morar no local ou perto deste. Ao mesmo tempo, admite-se que o tempo de trabalho dos internados tem pouco· valor para eles e está sujeito às ordens da administração. Sob tais condições, parece difícil manter a segregação de papéis, e. os internados acabam po:- realizar serviços inferiores para a administração -- por exemplo, jardinagem, pintura de casas, limpeza, tomar conta de crianças. Como tais serviços não fazem parte do esquema oficid.da instituição, a equipe dirigente é obrigada a ter certa consideração com os empre-gados e se torna incapaz de manter a distância usual com relação a eles. As restrições comuns de vida institucional

    (163) Ver E. GoFFMt .. K, The Presenwtion oj Sei/ in Everyday Li/e, Nev- York, Anchor Books, 1959, pp. 20G-4; McCoone e KORN, op. cit., pp. 93-94. Aqui, o estudo pioneiro é de ALFRED H. SHNTON e MoRRlS S·. S"CRWARTZ, The Mané:lgement of a Type oi Institulionnl Partic1 pa(ion in Mental lllness, Psyc/1ia1ry, XII ( ! 949). pp. 12-26.

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    Liz-:111 com que:. g·crJ,11cnk. íiq11crn mui;o contc1!l 1~s ao romper, dessa forma. ~is. clisti'incias entre ~lês e a eqwpe uirigente. Lawr~nce dCi um exemplo militar disso:

    O sargento ajud;rnte deu um exemplo de: abuso, qt1rindo kvou para c:ts:i o lihimo dos praç;1s de limpcz;,, rncarrcs