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Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações por gastroenterite aguda em crianças menores de 5 anos em São Paulo SÃO PAULO 2011 MARCO AURÉLIO PALAZZI SÁFADI Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Medicina.

Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

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Page 1: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

Impacto da vacinação universal contra rotavírus

nas hospitalizações por gastroenterite aguda em

crianças menores de 5 anos em São Paulo

SÃO PAULO 2011

MARCO AURÉLIO PALAZZI SÁFADI

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo para obtenção do título de

Doutor em Medicina.

Page 2: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

Impacto da vacinação universal contra rotavírus

nas hospitalizações por gastroenterite aguda em

crianças menores de 5 anos em São Paulo

SÃO PAULO 2011

MARCO AURÉLIO PALAZZI SÁFADI

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo para obtenção do título de

Doutor em Medicina.

Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Prof. Dr. Eitan Naaman Berezin

Page 3: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Sáfadi, Marco Aurélio Palazzi Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações por gastroenterite aguda em crianças menores de 5 anos em São Paulo./ Marco Aurélio Palazzi Sáfadi. São Paulo, 2011.

Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde.

Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Eitan Naaman Berezin 1. Rotavirus 2. Gastroenterite 3. Vacinas contra rotavirus 4.

Vigilância 5. Criança BC-FCMSCSP/87-11

Page 4: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

DEDICATÓRIAS:

Aos meus pais, Neusa e Samir, sempre presentes ao meu lado, em cada

momento de minha vida e a quem devo tudo que sou

A Andréa, grande amor da minha vida e que me deu minhas maiores

alegrias, o Luís Alexandre (in memorian), a Marília e o Pedro.

Page 5: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

AGRADECIMENTOS:

À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e à

Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, a quem devo minha

formação como médico e pediatra e onde tenho orgulho de estar desde 1980,

quando aqui entrei com apenas 17 anos, inicialmente como aluno, depois

médico residente e agora Professor.

Ao Prof. Dr Calil Kairalla Farhat (in memorian), que com seu espírito

agregador, sua inteligência, bom-humor, perspicácia e extrema didática, foi

responsável direto pela formação de várias gerações de Infectologistas

Pediátricos no Brasil, entre os quais me incluo, deixando em todos nós, que

tivemos a honra de ser seu aluno, o legado de continuar o seu trabalho.

Ao Prof. Dr Eitan Naaman Berezin, orientador deste estudo e incansável

incentivador da atividade cientifica no Departamento de Pediatria, tendo

contribuído de maneira decisiva no meu aprimoramento acadêmico com seu

espírito desafiador e inovador.

À Prof. Dra. Maria Lucia B. de O. Rácz e à Prof. Dra. Veridiana Munford,

do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, pela

realização da identificação e caracterização genotípica das cepas de rotavírus

isoladas e pelas importantes contribuições durante a realização deste estudo

Ao Prof. Dr. José Cássio de Moraes, pela competente ajuda na análise

estatística dos nossos dados.

Page 6: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

Ao Dr Luiz Cervone, manifesto aqui meu respeito e imensa gratidão pelo

constante apoio, confiança, ensinamentos e amizade, que desde o início da

minha vida profissional foram determinantes na minha formação, como médico

e pediatra.

Ao Dr Cid Fernando Gonçalves Pinheiro, amigo fiel e sempre presente

em todos os desafios que temos enfrentado juntos na nossa profissão.

Aos colegas do grupo da infectologia pediátrica da Santa Casa, Dra.

Flávia J. Almeida, Dra. Mariana V. Arnoni, Dr. Marcelo J. Mimica e Dr. Rodrigo

J. Sini Almeida, amigos com quem eu tenho o privilégio de conviver.

Aos alunos da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São

Paulo e aos residentes do Departamento de Pediatria, que são nossa fonte de

inspiração e motivadores da nossa busca incessante pelo saber.

Aos médicos, enfermeiras e funcionários do Hospital São Luiz, onde

parte deste estudo foi desenvolvido.

Às Sras. Mirtes Dias de Souza, Sadia Hussein Mustafa e Sonia Regina

Alves, sempre atenciosas e demonstrando extrema competência.

Page 7: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS:

ACIP - Comitê Assessor para a Prática de Imunizações

CDC - Centro de Controle de Doenças

DNA - Ácido desoxirribonucléico

dsRNA – Ácido ribonucléico de fita dupla

DTP – vacina difteria, tétano e coqueluche

DTPa – vacina difteria, tétano e coqueluche com componente acelular

ELISA - Ensaio imunoenzimático

GEA – Gastroenterite aguda

GSK – Laboratório Glaxo Smith Kline

HB – Hepatite B

Hib – Haemophilus influenzae b

HSC – Hospital Central da Santa Casa de São Paulo

HSL – Hospital São Luiz

ICT - Ensaio imunocromatográfico

IgA – Imunoglobulina da classe A

IgG – imunoglobulina da classe G

IPV – Vacina de poliomielite inativada

MSD – Laboratório Merck Sharp Dohme

NSP – Proteínas não estruturais do rotavírus

OMS – Organização Mundial da Saúde

OPV – Vacina de poliomielite oral

PCR – Reação em cadeia da polimerase

PNI – Programa Nacional de Imunizações

Page 8: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

RT – Transcrição reversa

RNA – Ácido ribonucléico

RRV-TV – vacina de rotavirus de reagrupamento, tetravalente, símio-humana

SUS – Sistema Único de Saúde

VP – Proteínas estruturais do rotavírus

α Estatística. Risco alfa, probabilidade para a rejeição da hipótese de

nulidade.

c2 Estatística. Referente à distribuição do quiquadrado.

N Estatística. Número de casos em uma amostra.

p Estatística. Valor p. Probabilidade de um fenômeno ocorrer por acaso.

Page 9: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................1

1.1- Revisão da Literatura.....................................................................2

2. OBJETIVOS........................................................................................20

3. CASUÍSTICA E MÉTODO...................................................................21

4. RESULTADOS ...................................................................................26

5. DISCUSSÂO ......................................................................................32

6. CONCLUSÕES ..................................................................................41

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................43

FONTES CONSULTADAS......................................................................52

RESUMO.................................................................................................53

ABSTRACT.............................................................................................55

LISTAS E APÊNDICES...........................................................................57

Page 10: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

1

1- INTRODUÇÃO:

O rotavírus é o principal agente etiológico causador de gastroenterite aguda

(GEA) grave em lactentes e crianças pequenas no mundo. Estima-se que ocorra,

anualmente, um total de 125 milhões de casos, resultando em cerca de dois milhões

de internações e 600 mil óbitos1,2. Podemos afirmar que virtualmente todas as

crianças se infectam antes de completar cinco anos de idade e, mesmo em locais

desenvolvidos, com boas condições sanitárias e de higiene, o rotavírus permanece

sendo o mais importante patógeno causador de hospitalização por gastroenterite em

crianças pequenas. Em locais com dificuldade de acesso da população aos serviços

médicos, o rotavírus acaba sendo responsável por muitas mortes em crianças,

estimando-se que mais de 85% destes 600.000 óbitos anuais ocorram nos países da

África e Ásia1-5.

No Brasil, com uma coorte de aproximadamente 3 milhões de crianças

nascidas anualmente, estimava-se que, antes da introdução rotineira da vacinação,

a GEA causada pelo rotavírus associava-se à significativa morbidade e mortalidade,

resultando anualmente em aproximadamente 3.525.063 casos de diarréia, 92.453

hospitalizações e 850 mortes em crianças menores de 5 anos6. O Brasil foi o

primeiro país do mundo a incorporar em seu Programa Nacional de Imunizações

(PNI) a vacina de rotavírus oral, monovalente de cepa humana, iniciando em Março

de 2006 a vacinação rotineira de todos os lactentes, em duas doses, aos dois e

quatro meses de idade. Após um ano de sua introdução, em 2007, a taxa de

cobertura com duas doses da vacina, para a população alvo no Brasil, era de

Page 11: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

2

aproximadamente 75%, sendo que no Estado de São Paulo esta cobertura era de

82%7.

Neste contexto, avaliar o impacto da introdução da vacina na incidência de

hospitalizações atribuídas à gastroenterite por rotavírus assume importância

indiscutível. A vigilância ativa de todas as internações por gastroenterite em

crianças, com confirmação laboratorial da presença do rotavírus e a caracterização

da diversidade de cepas circulantes são, em teoria, os métodos ideais de vigilância,

porém tal metodologia é impraticável em nosso meio, pois requer investimentos e

recursos substanciais e indisponíveis. A realização de programas de vigilância das

hospitalizações associadas à GEA causada pelo rotavírus em crianças menores de

5 anos torna-se, portanto, uma ferramenta fundamental para se avaliar o impacto da

introdução da vacina na prevenção de doença grave associada ao rotavírus. Para

este propósito, já foi previamente demonstrado que hospitais onde uma significativa

proporção das crianças menores de 5 anos de idade, hospitalizadas por GEA, são

rotineiramente submetidas à pesquisa da presença de rotavírus em amostras de

fezes coletadas durante a internação, podem ser utilizados como hospitais sentinela,

propiciando uma plataforma exeqüível, confiável e custo-efetiva para a vigilância da

doença grave associada ao rotavírus8.

1.1- REVISÃO DA LITERATURA

1.1.1 - O Vírus:

Os rotavírus pertencem à família Reoviridae, com um único gênero Rotavírus.

As partículas virais medem cerca de 70 nm de diâmetro com simetria icosaédrica e

não envelopadas. O vírus é composto de três camadas protéicas concêntricas

Page 12: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

3

(Fig.1): core viral (camada interna do capsídeo) constituído pelas proteínas

estruturais VP1, VP2 e VP3; capsídeo interno (camada que circunda o core)

constituído pela proteína VP6, a mais representativa proteína estrutural do vírus e

que serve de base para a classificação dos rotavirus em 7 distintos grupos

antigênicos (A-G); capsídeo externo (camada que circunda o capsídeo interno)

constituído por duas proteínas estruturais: a proteína VP4, que corresponde às

espículas da partícula viral, e define os sorotipos e genótipos P e a glicoproteína

VP7, que define os sorotipos e genótipos G9,10. O genoma dos rotavírus é

constituído por 11 segmentos de RNA fita dupla (dsRNA). Cada segmento do

dsRNA codifica para uma proteína, a exceção do segmento 11 que codifica para

duas proteínas (NSP5 e NSP6), sendo seis delas estruturais (VP1 a VP4, VP6 e

VP7) e seis não-estruturais (NSP1 a NSP6) (Fig. 1). As proteínas não estruturais

estão implicadas na replicação (NSP1 a NSP5) e na morfogênese (NSP4). A

proteína NSP4 tem atividade enterotóxica, com papel determinante no processo

diarréico de característica secretora.

Page 13: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

4

Figura 1: Eletroforese em gel de poliacrilamida do dsRNA segmentado dos

rotavírus (esquerda) e as proteínas codificadas por esses genes e suas funções

(centro); partícula de rotavírus representada esquematicamente (direita, superior);

partícula de rotavírus e sua estrutura determinada por eletromicroscopia associada

ao processamento da imagem por computador (direita, inferior); as cores nas

partículas esquematizadas representam as proteínas estruturais VP4 (vermelho,

VP7 (amarelo), VP6 (azul) e VP2 (verde). As projeções internas ao core representam

as proteínas VP1 e VP3, apesar de representadas também pela cor vermelha.

Adaptado de Greenberg & Estes, 200910.

Os vírus do grupo A destacam-se pela sua importância epidemiológica e

respondem pela grande maioria dos casos de gastroenterite por rotavírus no mundo,

Page 14: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

5

sendo que as demais classificações sorológicas em subgrupos e sorotipos aplicam-

se apenas aos vírus deste grupo9,11. Ainda em relação aos vírus do grupo A,

podemos determinar diferentes genogrupos, que correspondem a conjuntos ou

clusters de cepas, cujas sequências de nucleotídeos de regiões específicas de um

segmento genômico apresentam alta similaridade entre si, como por exemplo os

genogrupos Wa-like e DS-1-like, que contêm cepas tipicamente associadas a

infecções em humanos.

As proteínas de superfície são as principais responsáveis pela indução de

anticorpos neutralizantes protetores e são denominadas VP4 e VP7. A nomenclatura

binária classifica os rotavírus em diferentes sorotipos/genótipos de acordo com as

suas especificações antigênicas, tanto de VP7 (sorotipos/genótipos que utilizam a

letra G, de glicoproteína) como de VP4 (sorotipos/genótipos que utilizam a letra P,

por ser uma proteína sensível a proteases). Em decorrência da dificuldade de

classificar todos os tipos P com os métodos sorológicos foi desenvolvido um sistema

adicional de tipagem P em genótipos, utilizando técnicas de biologia molecular. A

designação dos sorotipos G coincide em sua grande maioria com a designação dos

genótipos G. Entretanto, uma nomenclatura dual foi adotada para a classificação

antigênica e genética de VP4. Os sorotipos P são designados por números Arábicos

(às vezes seguidos por uma letra maiúscula), e os genótipos P designados por um

número Arábico, entre colchetes9-12.

Já foram identificados pelo menos 19 diferentes genótipos G e 28 genótipos P

de rotavírus. Diversas espécies de animais (primatas e bovinos, por exemplo) são

susceptíveis à infecção por rotavírus, porém estas cepas de rotavírus de origem

animal são diferentes das cepas que infectam humanos. Em humanos já foram

isoladas cepas de rotavírus de 11 tipos G (G1-G6, G8-G12) e 12 tipos P (P1A[8],

Page 15: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

6

P1B[4], P2A[6], P2C[6], P3[9], P4[10], P5A[3], P6[1], P8[11], P11[14], P12[19],

P[25]), sendo os tipos G1P[8]; G2P[4]; G3P[8]; G4P[8] e G9P[8] os mais

freqüentemente encontrados no mundo9-12.

Quando infecções mistas causadas por distintas cepas de rotavirus

ocorrem na natureza ou em condições programadas em laboratório, os segmentos

genômicos podem se reagrupar independentemente, resultando em novas cepas de

linhagem mista (Fig. 2). Da mesma forma, podem ocorrer reagrupamentos naturais

entre cepas de rotavírus humanas e animais. A diversidade e a evolução dos

rotavírus resultam de rearranjos genômicos, alterações antigênicas decorrentes do

acúmulo de mutações pontuais (genetic drift) durante a replicação do RNA viral e de

desvios antigênicos (genetic shift) por reagrupamento de segmentos RNA

genômicos durante infecção mista em uma única célula13. Os vírus originados por

rearranjo genômico não representam, potencialmente, um significativo risco de

saúde pública, pois estes rearranjos geralmente ocorrem em genes que codificam

proteínas não-estruturais. O acúmulo de mutações pontuais pode resultar em cepas

mutantes com capacidade de originar surtos e epidemias em populações ―naive‖

imunologicamente, assim como as cepas hibridas de rotavírus resultantes de

reagrupamento com proteínas adquiridas de cepas animais e humanas. A

transmissão de rotavírus entre espécies é freqüente e, apesar das cepas animais

replicarem de maneira limitada no hospedeiro humano, elas podem adquirir –

através de rearranjo com uma cepa humana – vantagens de replicação e de

transmissibilidade da cepa humana14.

Page 16: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

7

Figura 2. Exemplo de reagrupamento entre cepa de rotavírus humana

(G2P[4]) e cepa de rotavírus animal (G8P[6]), em que a cepa animal adquire o gene

responsável pela codificação da proteína VP4 (P[4]) do rotavírus humano e o

rotavírus humano adquire o gene que codifica a proteína VP4 (P[6]) da cepa animal.

Em decorrência desta significativa diversidade genética, recentemente foi

proposto um novo sistema de classificação para os rotavírus, baseando-se no

sequenciamento de nucleotídeos dos 11 segmentos de RNA que constituem o

genoma viral, permitindo assim a realização de análises filogenéticas, mais

conclusivas e criteriosas, da evolução dos rotavírus15

Page 17: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

8

1.1.2 - Transmissão e patogenia:

Os rotavírus são considerados de alta contagiosidade e o modo predominante

de transmissão é a via fecal-oral15. O rotavírus está presente em elevados títulos nas

fezes de pacientes infectados, com diarréia, desde pouco tempo antes do início dos

sintomas, podendo persistir por até 10 a 15 dias depois. É possível identificar a

presença de rotavírus em brinquedos e outros objetos em creches e berçários,

indicando que os fômites têm papel importante na transmissão da infecção4,5.

Admite-se, também, que a transmissão respiratória exista, sem que isso signifique

que haja multiplicação viral no trato respiratório. Após sua ingestão o rotavírus

infecta os enterócitos na extremidade das vilosidades do intestino delgado. As

partículas virais replicam no citoplasma da célula e são então disseminadas,

provocando danos na célula e interferindo na absorção de fluidos e nutrientes. As

células secretórias da cripta se proliferam com o objetivo de compensar, provocando

secreção de eletrólitos e fluidos na luz do intestino. A disfunção celular também pode

prevenir a expressão de algumas enzimas digestivas e, em função do aumento da

pressão osmótica resultante do acúmulo de açucares no intestino delgado, pode

exacerbar a perda de fluidos. O excesso de fluidos excretados resulta, portanto, nas

manifestações clínicas da diarréia. Desta maneira, a fisiopatologia da diarréia por

rotavírus é um combinação de mecanismos osmóticos e secretórios17.

Sabe-se hoje que existe viremia associada ao rotavírus, com detecção de

antígenos e RNA viral no sangue. Crianças com antigenemia apresentam formas

mais sintomáticas da doença, não havendo, entretanto, associação de antigenemia

com manifestações extra-intestinais17-21.

Page 18: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

9

1.1.3 - Manifestações clínicas e diagnóstico:

Após um breve período de incubação, de um a quatro dias, a infecção pelo

rotavírus geralmente resulta em diarréia precedida ou acompanhada de vômitos e

febre, que nos casos mais graves pode levar as crianças à desidratação, choque,

distúrbios hidro-eletrolíticos e a morte22-23. Os vômitos e a febre costumam ceder em

48 a 72 horas, enquanto a diarréia persiste por cerca de três a oito dias. A

primoinfecção é freqüentemente a mais grave, sendo as infecções posteriores

progressivamente mais leves e benignas24. Manifestações extra-intestinais, como a

meningoencefalite, podem mais raramente estar associadas à infecção pelo

rotavírus25,26.

Adultos apresentam, de maneira geral, quadros assintomáticos, entretanto,

quando presentes, os sintomas se caracterizam principalmente por diarréia, febre,

mal-estar, dor de cabeça e náuseas27.

Os métodos mais utilizados para o diagnóstico laboratorial da infecção são os

ensaios imunoenzimáticos (ELISA) e imunocromatográficos (ICT), com detecção do

antígeno VP6 dos rotavirus do grupo A nas fezes. Estes testes apresentam elevada

sensibilidade, além de ser de fácil utilização e com rapidez nos resultados. Além do

ELISA e do ICT, são utilizados também testes de aglutinação com látex. Outras

técnicas, como a microscopia eletrônica, eletroforese por RNA, reação em cadeia de

polimerase com transcriptase reversa, análise seqüencial e a cultura, são utilizadas

basicamente em pesquisas cientificas. A demonstração de soroconversão para os

anticorpos séricos da classe IgA e IgG caracteriza infecção recente, sendo esta

também uma metodologia restrita às pesquisas cientificas, sem aplicação prática28.

Page 19: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

10

1.1.4 - Imunidade:

A primeira infecção por rotavírus resulta em rápida resposta imune,

produzindo anticorpos séricos (IgG e IgA) e secretórios, de mucosa. Esta infecção

primária não confere imunidade contra reinfecção, porém protege contra o

desenvolvimento de formas clínicas significativamente sintomáticas na re-infecção. A

história natural da infecção pelo rotavírus foi detalhada no clássico estudo realizado

no México, que acompanhou uma coorte de 200 crianças desde o nascimento até os

2 anos de idade24. Os autores puderam demonstrar que aos 2 anos de idade, 96%

das crianças já tinham apresentado infecção pelo rotavírus. Após a primeira

infecção, 38% das crianças ficam protegidas contra infecções subseqüentes pelo

rotavírus, 77% ficam protegidas contra gastroenterite subseqüente pelo rotavírus e

87% ficam protegidas contra formas graves de gastroenterite pelo rotavírus24. A

primeira infecção gera resposta homotípica, predominantemente sorotipo-específico

e as infecções subseqüentes, mesmo que causadas pelo mesmo sorotipo geram

uma resposta imune mais ampla, heterotípica, com proteção cruzada para outros

sorotipos, conferindo progressivamente maior grau de proteção contra a

gastroenterite pelo rotavírus4,5,24,29.

Apenas recentemente, mais de 15 depois da publicação do clássico estudo de

Velazquez, um estudo realizado com uma coorte de 373 crianças na Índia,

acompanhadas por três anos, mostrou resultados diversos, com proteção de apenas

79% contra gastroenterite moderada ou grave após três infecções por rotavírus, não

tendo sido possível a comprovação da presença de indução de proteção homotípica

após a infecção inicial. Estes resultados, obtidos em um País de condições

peculiares como a Índia, mostrando que a infecção ocorre precocemente (com 6

Page 20: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

11

meses de idade mais de 50% das crianças já tinham evidência de infecção) e que o

grau de proteção contra gastroenterite é menor que aquele sugerido em estudos

prévios, trazem importantes implicações práticas nas futuras estratégias de

prevenção desta doença30.

Considera-se que a proteção imune contra o rotavírus é multifatorial, havendo

participação combinada de anticorpos secretórios, séricos e da imunidade celular.

Apesar de alguns estudos associarem a presença de anticorpos séricos contra VP7

(antígenos G) e VP4 (antígenos P) à proteção, ainda não foram claramente

estabelecidos os correlatos imunes de proteção contra infecção e doença pelo

rotavírus28,29.

Podemos afirmar que virtualmente todas as crianças se infectam até os três

anos de idade, sendo que o pico de incidência ocorre entre os quatro e os 24 meses

de idade. Nos primeiros dois ou três meses de idade as infecções são geralmente

menos sintomáticas, assim como nas crianças mais velhas. O aleitamento materno

não tem capacidade de prevenir a infecção, mas pode estar associado a formas

mais leves de doença5.

1.1.5 – Vacinas contra o rotavírus:

Em virtude da reconhecida importância da imunidade intestinal local para a

proteção contra a doença, o desenvolvimento de vacinas contra o rotavírus se

concentrou nas vacinas administradas por via oral. A primeira geração de vacinas

baseou-se no conceito ―Jenneriano‖, que utilizava cepas de rotavírus animais,

essencialmente de origem bovina ou símia, naturalmente atenuadas para seres

humanos, contemplando em sua composição sorotipos heterotípicos quando

Page 21: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

12

comparados aos mais freqüentes sorotipos humanos de rotavírus circulantes. Os

resultados de eficácia com estas vacinas foram conflitantes, com ausente ou mínima

proteção em países em desenvolvimento, da África e América do Sul. Foram então

desenvolvidas as vacinas ―Jennerianas‖ de segunda geração, em que cepas animais

de rotavírus naturalmente atenuadas eram utilizadas como ―arcabouço‖ nestas

vacinas e genes responsáveis pela codificação dos tipos G mais freqüentes em

cepas humanas substituíam, através de reagrupamento genético em cultura celular,

o correspondente gene de origem animal14,17,26.

Em 1998 foi licenciada a primeira vacina contra rotavírus (RRV-TV,

internacionalmente conhecida por Rotashield®), produzida pelo laboratório Wyeth.

Esta vacina, tetravalente, era constituída de três cepas de vírus vivos atenuados

símio-humanos, com expressão dos tipos G humanos (G1, G2 e G4) e a própria

cepa símia G3 que apresentava elevada similaridade antigênica com o G3 humano.

A vacina se revelou imunogênica nos estudos clínicos, com eficácia de 57% a 90%

para proteção das formas graves de infecção por rotavírus31. Após o seu

licenciamento e uso em larga escala nos Estados Unidos (EUA), com mais de um

milhão de doses aplicadas, o Centro de Controle de Doenças (CDC) identificou um

aumento no risco de intussuscepção nos primeiros 14 dias após a primeira (cerca de

20 vezes) e a segunda dose (cerca de 5 vezes) da vacina32. O risco de

intussuscepção foi estimado em 1 caso para cada 10.000 lactentes vacinados com a

vacina RRV-TV33-35. Este risco, aparentemente, se mostrou substancialmente maior

quando a primeira dose era dada após os três meses de idade35. Em 1999 a vacina

foi então voluntariamente retirada do mercado pelo fabricante. Aparentemente os

casos de intussuscepção relacionados a esta vacina foram desencadeados pelas

características de elevada replicação da cepa símia no intestino delgado, porém

Page 22: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

13

permanece ainda incerto o exato mecanismo responsável pelo desencadeamento de

intussuscepção nos lactentes que receberam a vacina RRV-TV.

Em 2006, foram publicados os resultados dos estudos clínicos principais, de

larga escala, com duas novas vacinas, que demonstraram segurança, ausência de

risco de intussuscepção da mesma magnitude que o observado com a vacina RRV-

TV e comprovada eficácia em prevenir formas graves de infecção por rotavírus,

permitindo que ambas as vacinas (RotaTeq® e Rotarix®) fossem então

licenciadas36,37.

A vacina pentavalente bovino-humana (internacionalmente conhecida por

RotaTeq®), do laboratório MSD, é uma vacina oral, de reagrupamento genético

bovino-humano, contendo 5 cepas (cada uma delas expressa uma diferente proteína

viral de origem humana, VP7 - G1, G2, G3 e G4 ou VP4 - P[8], em um arcabouço da

cepa de origem bovina, naturalmente atenuada, WC3 (G6P7[5]). Estes cinco

sorotipos respondem por, pelo menos, 75% das cepas de rotavírus isoladas em todo

o mundo, embora a prevalência de cada sorotipo possa variar de uma região para

outra. Os estudos clínicos com esta vacina envolveram mais de 70.000 lactentes e

os resultados demonstraram eficácia de 74% (95%IC: 66,8-79,9%) para proteção

contra GEA pelos rotavírus G1-G4 de qualquer gravidade e eficácia de 98% (95%IC:

88,3-100%) para proteger contra formas graves de infecção por rotavírus no

seguimento de um ano36. A vacina reduziu, ainda, o número de consultas médicas

ambulatoriais por GEA causada pelos rotavírus G1-G4 em 86% (95% IC: 73,9-

92,5%).

Não foi observado aumento de risco de intussuscepção nos primeiros 42 dias

após qualquer uma das doses da vacina nos lactentes vacinados (risco relativo [RR]

de 1,6; 95%IC: 0,4-6,4). No seguimento de um ano após cada dose da vacina, foram

Page 23: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

14

observados 12 casos de intussuscepção no grupo que recebeu a vacina e 15 casos

no grupo que recebeu placebo (risco relativo de 0,8; 95%IC: 0,3 – 1,8). Não se

observaram diferenças significativas na incidência de febre e irritabilidade entre os

dois grupos, havendo, porém, um discreto aumento na incidência de diarréia leve e

vômitos no grupo que recebeu a vacina. Eventos adversos considerados graves não

foram associados à qualquer dose da vacina36.

A vacina é administrada por via oral, em preparação líquida, pronta para o

uso, em três doses. De acordo com a bula licenciada no Brasil, a primeira dose da

vacina deve ser administrada entre 6 e 12 semanas de idade, sendo o intervalo

mínimo entre as doses subseqüentes de 4 semanas. A última dose deve ser

administrada até no máximo 32 semanas. Pode ser administrada

concomitantemente às demais vacinas do calendário da infância, inclusive com a

vacina de pólio oral. A propósito, estudo que comparou a imunogenicidade da vacina

pentavalente bovino-humana, quando administrada concomitantemente à vacina de

pólio oral ou com 8 a 10 semanas de intervalo entre elas, observou que a

administração concomitante das vacinas não interferiu na resposta imune aos três

poliovirus, 1, 2 e 3, havendo, entretanto, uma tendência de menores concentrações

de IgA para o rotavírus no grupo que recebeu as vacinas na mesma visita. Apesar

das menores concentrações, observou-se aumento de pelo menos 3 vezes nos

títulos de anticorpos em 93% dos lactentes vacinados, contemplando a definição de

não inferioridade da resposta em relação ao grupo que recebeu as vacinas com

intervalo de 8 a 10 semanas38.

O aleitamento materno não altera a eficácia da vacina, não havendo

restrições em relação ao aleitamento e alimentação dos lactentes vacinados37. A

vacina mostrou ainda adequado perfil de tolerabilidade e eficácia para a redução de

Page 24: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

15

hospitalizações e consultas ao serviço de emergência em lactentes prematuros

vacinados, permitindo, assim que ela seja utilizada em prematuros da mesma

maneira que em lactentes nascidos a termo40.

Essa vacina foi inicialmente licenciada nos EUA e em fevereiro de 2006 o

ACIP (Comitê Assessor para a Prática de Imunizações) passou a recomendá-la

rotineiramente para os lactentes naquele País, em três doses, aos 2, 4 e 6 meses de

idade28.

A vacina monovalente de cepa humana (internacionalmente conhecida por

Rotarix®), do laboratório GSK, é constituída de uma cepa G1P[8] de rotavírus

humano atenuada por passagens em cultivo celular. Apesar de expressar apenas

uma cepa, o compartilhamento de alguns epítopos protetores comuns a outras

cepas propicia a possibilidade de proteção cruzada contra outros sorotipos. Os

resultados do estudo multicêntrico, que envolveu mais de 60.000 lactentes,

demonstraram que a vacina apresentou adequado perfil de reatogenicidade, não se

associou a risco de intussuscepção nos primeiros 30 dias após a administração das

duas doses da vacina (RR: 0,85; 95%IC: 0,30-2,4), propiciando eficácia de 84,7%

(95%IC: 71,7-92,4%) em prevenir formas graves (definidas através de escala de

Vesikari ≥ 11) de infecção por rotavírus durante o primeiro ano de vida nos estudos

feitos na América Latina37. Estudo utilizando os mesmos desfechos clínicos,

realizado na Europa, demonstrou eficácia de 96% (95%IC: 90-99%) em prevenir

formas graves da infecção durante os primeiros 2 anos de vida dos lactentes41. Os

estudos demonstraram também a possibilidade de proteção contra sorotipos

diferentes do sorotipo vacinal. No estudo feito na América Latina, a proteção

observada contra o sorotipo G2P[4], um sorotipo que não compartilha os tipos G ou

P com a cepa contemplada na vacina, foi menor (44%; 95%IC: <0-84%), não

Page 25: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

16

havendo, porém, um número suficiente da casos para que se observasse

significância estatística. Entretanto, análises posteriores, em estudo de eficácia

realizado na Europa e em uma meta-análise integrada, verificaram a presença de

proteção estatisticamente significativa contra GE grave associada ao G2P[4] (86%;

95%IC: 24-99% e 67%; 95%IC: 15-87%, respectivamente)41,42.

A vacina oral, monovalente de cepa humana atenuada de rotavírus

atualmente utilizada no Brasil apresenta 1 mL. de volume e tem formulação

individual, pronta para o uso. A primeira dose da vacina deve ser administrada entre

6 semanas e 14 semanas de idade e a segunda dose entre 14 e 24 semanas de

idade, com um intervalo mínimo de 4 semanas entre as duas doses. Após a primeira

dose já existe um grau parcial de proteção, sendo que a proteção máxima é atingida

após a segunda dose. A vacina pode ser administrada simultaneamente a qualquer

das seguintes vacinas (DTP, DTPa, Hib, hepatite B, pólio oral, pólio inativada, DTPa-

IPV-HB/HIB, DTPa-IPV/Hib, DTP-HB/Hib, meningococo C conjugada e pneumococo

conjugada)43.

Em relação a vacina pólio oral (OPV), os estudos foram feitos com um

intervalo de 15 dias entre a administração da vacina de rotavírus monovalente

humana e da vacina de pólio oral, não havendo interferência nas respostas imunes

contra rotavírus e contra pólio quando utilizadas desta maneira. Em estudo realizado

na África do Sul com aplicação concomitante da vacina de rotavírus monovalente

humana e da OPV demonstrou-se que a resposta imune aos três poliovírus, 1, 2 e 3

não se altera quando comparada com a resposta observada nos lactentes que

recebem as vacinas com 15 dias de intervalo, havendo, porém, uma discreta

diminuição nos títulos de anticorpos contra rotavírus após a primeira dose da vacina.

Page 26: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

17

Na avaliação feita após a segunda dose da vacina esta diferença não se mostrou

relevante44.

Os eventos adversos associados à vacina foram similares aos observados

nos que receberam placebo, sendo os mais freqüentemente relatados: irritabilidade

inapetência, febre, diarréia, vômitos, dor abdominal e flatulência. Na avaliação do

risco de intussuscepção, foram observados seis casos nos primeiros 31 dias após

cada uma das doses, entre os 31.673 lactentes que receberam a vacina, em

comparação a sete casos entre os 31.552 lactentes que receberam placebo (RR:

0,85; 95% CI: 0,30–2,42), comprovando a ausência de risco de intussuscepção

associado à vacinação37.

A vacina está contra-indicada em bula para crianças com: Imunodeficiências

primárias ou secundárias (pela ausência de estudos publicados utilizando a vacina

nestes pacientes); Hipersensibilidade conhecida a componentes da vacina ou à dose

anterior; Doença crônica gastrointestinal. A vacina deve ser adiada nas seguintes

situações: doenças febris agudas e em crianças com vômitos e/ou diarréia grave.

De grande relevância, sob o prisma de saúde pública, foi a magnitude da

redução de internações por gastroenterite de qualquer causa em crianças menores

de um ano. No estudo conduzido na América Latina, pela GSK, a vacina de rotavírus

monovalente humana reduziu em 42% as internações por diarréia aguda em

lactentes menores de um ano, enquanto que no estudo conduzido nos Estados

Unidos e na Finlândia, pela MSD, a vacina pentavalente bovino-humana reduziu em

63% as internações durante o primeiro ano de vida36,37. Estes auspiciosos resultados

de redução significativa de hospitalizações por diarréia de qualquer causa

superaram as mais otimistas previsões em relação à proteção oferecida por estas

Page 27: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

18

vacinas. Entretanto, alguns pontos concernentes à eficácia destas vacinas ainda não

estão suficientemente estudados e, portanto, merecem reflexão.

Apesar de ambas as vacinas terem demonstrado nos estudos pré-

licenciamento capacidade de induzir proteção contra infecção por sorotipos

diferentes dos contidos na vacina, uma análise mais criteriosa dos dados publicados

deixa claro que o número limitado de lactentes envolvidos nestes estudos não nos

permitia prever, com segurança, como seria o comportamento destas vacinas

quando introduzidas em regiões onde prevalecessem sorotipos não contidos na

vacina. O maior desafio, entretanto, parece ser o de demonstrar que, em

populações com elevados índices de desnutrição e doenças infecciosas associadas,

como na Ásia e na África, a proteção oferecida permaneça elevada.

Os estudos de fase III realizados na África do Sul demonstraram que a

proteção, contra GEA grave por rotavírus, oferecida por duas ou três doses da

vacina monovalente humana foi de 72% (95%IC: 40-88%) e 82% (95% IC: 55-94%),

respectivamente, no primeiro ano de seguimento. No Malaui, entretanto, a eficácia

observada com duas doses da vacina, com 10 e 14 semanas, ou três doses, com 6,

10 e 14 semanas, foi similar: 49% (95%IC: 11-72%) e 50% (95% IC: 11-72%),

respectivamente. Apesar da diferença de desempenho da vacina nestes dois países,

considerando que a carga de doença grave por rotavirus no Malaui é

significativamente maior que na África do Sul, a vacina demonstrou capacidade de

prevenir 6,7 episódios de GEA grave para cada 100 crianças vacinadas no Malaui

contra 4,2 episódios para cada 100 crianças vacinadas na África do Sul45.

Resultados similares de eficácia foram observados com a vacina pentavalente

bovino-humana nos estudos realizados no Quênia, Gana, Mali, Bangladesh e

Vietnam46,47. Nestes países africanos e asiáticos a eficácia com três doses da

Page 28: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

19

vacina, com 6, 10 e 14 semanas de vida, contra GEA grave por rotavírus no primeiro

ano de seguimento foi de 64% (95%IC: 40-79%) e 51% (95%IC: 13-73%),

respectivamente.

Estes dados de eficácia de ambas as vacinas em cenários desafiadores,

como os destes países africanos e asiáticos motivaram a OMS a recomendar a

inclusão das vacinas de rotavírus nos programas nacionais de imunização para

todas as crianças no mundo. Nos países em que as mortes por diarréia respondem

por pelo menos 10% da mortalidade em crianças menores de 5 anos a introdução

destas vacinas é fortemente recomendada48.

Page 29: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

20

2.- OBJETIVOS DO ESTUDO:

O objetivo primário do estudo foi o de estabelecer um padrão de

comportamento das hospitalizações por GEA e por GEA causada pelo rotavírus em

crianças menores de 5 anos de idade antes da introdução da vacina no Programa

Nacional de Imunizações e, após a sua implementação, assumindo que as práticas

de coleta e teste rotineiro sejam mantidas nestes hospitais, avaliar o impacto da

introdução da vacina nas hospitalizações por GEA.

O objetivo secundário foi monitorar a distribuição de genótipos de rotavírus

associados à doença grave causada pelo rotavirus após a introdução da vacinação

de rotina nos lactentes. .

Page 30: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

21

3. - CASUÍSTICA E MÉTODOS:

3.1 - População estudada:

3.1.1 - Hospital São Luiz (HSL)

Foram consideradas elegíveis para o estudo todas as crianças menores de 5

anos, internadas por GEA entre 1 de Janeiro de 2004 e 31 de Dezembro de 2008 no

Hospital São Luiz (HSL), um hospital privado que realiza, por ano, aproximadamente

40.000 atendimentos no Pronto-Socorro e 1.400 internações em crianças menores

de 5 anos.

GEA foi definida como a presença de diarréia (3 ou mais evacuações

amolecidas, ou mais amolecidas que o habitual, em um período de 24 h.)

acompanhada ou não de vômitos, com até 14 dias de duração. Após obtenção de

consentimento eram coletados os dados clínicos dos pacientes e inseridos em uma

planilha, com informações sobre o grupo etário (0-11 meses; 12-23 meses e 24 a 59

meses), características e duração dos sintomas e duração da hospitalização. No

período após a introdução da vacina no Programa Nacional de Imunizações,

informação sobre o estado vacinal era também solicitada.

Pelo menos uma amostra de fezes foi coletada, idealmente no primeiro dia

de internação ou em até 48 horas, de cada uma das crianças,

Durante os 5 anos do período do estudo, pudemos realizar a coleta rotineira

de amostras de fezes em praticamente todas as crianças hospitalizadas por GEA no

HSL.

Adicionalmente, analisamos os resultados dos testes de rotavírus realizados

anualmente nas crianças menores de 5 anos avaliadas no Pronto-Socorro do HSL.

Page 31: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

22

3.1.2 - Hospital Central da Santa Casa de São Paulo (HSC):

Com o objetivo de ampliar a avaliação para uma população que fosse

representativa de outra camada sócio-econômica, foi também incluído um hospital

geral (Hospital Central da Santa Casa- HSC) voltado ao atendimento médico-

hospitalar de pacientes carentes e do SUS (Sistema Único de Saúde), cuja

assistência prestada é totalmente gratuita. No HSC, em função da indisponibilidade

do teste para rotavirus durante todo o período do estudo, foram incluídos apenas os

dados de internações de crianças menores de 5 anos de idade por GEA, entre 1 de

Janeiro de 2004 e 31 de Dezembro de 2008, sem especificar a proporção destas

internações atribuída ao rotavírus. Neste Hospital são realizados, anualmente,

aproximadamente 90.000 atendimentos no Pronto-Socorro e 5.200 internações em

crianças menores de 5 anos.

3.2 – Coleta e análise das amostras:

Amostras de fezes de todas as crianças hospitalizadas com GEA durante o

período do estudo, no HSL, foram colhidas em frascos secos, limpos, à prova de

água, sem detergentes, preservativos ou meios de transporte e imediatamente

transportados ao laboratório para pesquisa da presença de rotavírus através de

método de detecção rápida, qualitativo, que utiliza a técnica imuno-cromatográfica,

baseado na associação de anticorpos monoclonais específicos de rotavírus (Vikia®

Rota-Adeno – Bio-Mérieux, Lyon, França).

No HSC, foram colhidas amostras de fezes apenas nos períodos em que o

teste de detecção rápida imuno-cromatográfico estava disponível no laboratório

central.

Page 32: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

23

Os materiais (fezes) com resultados positivos para detecção rápida do

rotavírus nas fezes foram armazenados em freezer a -15C e encaminhados ao

laboratório de vírus entéricos do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade

de São Paulo para identificação e caracterização genotípica, por transcrição reversa

seguida de reação em cadeia de polimerase (RT-PCR).

1. Preparo das suspensões de fezes:

A partir das amostras de fezes foram preparadas suspensões de fezes a 20%

em tampão Tris/Cálcio (0,1M Tris-HCl; 1,5mM CaCl2, pH7.3). Após 30 minutos de

incubação à temperatura ambiente com agitações periódicas, as suspensões foram

centrifugadas a 5900g (centrífuga Eppendorf modelo 5415-C) por 15 minutos. O

sobrenadante foi estocado a -20ºC49.

2. Transcrição reversa seguida de reação em cadeia de polimerase (RT-

PCR)48:

Para a caracterização molecular, o dsRNA viral foi extraído a partir da

suspensão de fezes a 20% usando TRIZOL® (Invitrogen cat. N. 155596) seguindo

as orientações do fabricante. O RNA extraído foi estocado a –20ºC51.

Para a determinação dos genótipos G e P de rotavírus foi utilizada a técnica

de transcrição reversa seguida de seminested multiplex PCR52-56. Todas as reações

de RT-PCR foram realizadas com uma amostra padrão como controle positivo e

água como controle negativo. Quatro salas separadas foram utilizadas, uma para a

extração do RNA, outra para o preparo da 1ª amplificação, outra para a 2ª

amplificação e uma última onde foram preparados os geis de agarose. Estes

cuidados foram adotados para evitar contaminações cruzadas entre as amostras.

Page 33: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

24

Resumidamente, o dsRNA extraído da suspensão das amostras de fezes, foi

denaturado e submetido, em uma só reação, à transcrição reversa (RT), usando

transcriptase reversa (SuperScript II, Invitrogen), seguida de PCR, utilizando primers

com sequências comuns a todos os rotavírus, para amplificação da VP7 (genótipos

G) com os primers 9con1 e 9con252 ou Beg, End, EndUk e EndCRW8; e de parte da

VP4 (genótipos P) com os primers Con2 e Con3. O material amplificado nesta

primeira reação foi submetido a uma reação do tipo seminested PCR, utilizando um

conjunto de primers genótipo-específicos, capazes de amplificar segmentos

genômicos de tamanhos diferentes, correspondentes a cada genótipo. Para a

caracterização dos genótipos G foram utilizados os primers (9T1-1, 9T1-2, 9T-3P,

9T4 e 9T-9b)52 ou (ET10, BT11, FT5, DT6) 55. Para a caracterização dos genótipos P

foram utilizados os primers (1T1, 2T1, 3T1, 4T1, e 5T1) 51 e (pNCDV, pUk, pB223,

pGott e pOSU) 56.

As amostras negativas foram testadas para genótipos G e P animais55,56 e,

com 3 primers adicionais para tipagem P[8] (nac10, nac13, nac25), descrito por

Cunliffe57. Todos os genótipos mistos identificados com o pool de primers foram

testados com primers individuais. O material amplificado foi submetido a eletroforese

em gel de agarose 1,5%, utilizando, no mesmo gel, um padrão de peso molecular

(100 bp DNA ladder, Invitrogen) para a determinação direta do peso molecular do

segmento obtido, correspondente a cada genótipo.

3. Amostras de vírus padrão:

As amostras padrão de rotavírus utilizadas durante este trabalho foram

mantidas em culturas celulares MA-104 e estocadas à –20ºC. As amostras HuRV-

A/DS1, HuRV-A/ST3, SiRV-A/SA11, BoRV-A/NCDV BoRV-A/Uk, BoRV-A/B223,

PoRV-A/YM e PoRV-A/OSU foram cedidas pelo Dr. David Snodgrass, do Moredun

Page 34: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

25

Research Institute, Edinburgh, Escócia. A amostra padrão RV-A/RV4 foi cedida pelo

Dr. Enzo Palombo, do World Health Organization Collaborating Center for Research

on Human Rotaviruses, do Royal Children’s Hospital, Melbourne, Austrália.

3.3 - Análise Estatística:

Comparamos a proporção de hospitalizações por GEA que eram confirmadas

laboratorialmente como sendo causadas pelo rotavírus durante o período pré-vacinal

(2004-2005) e pós-vacinal (2007-2008) e calculamos a redução da taxa de

positividade dos testes de rotavírus no período pós-vacinal, com intervalos de

confiança de 95%, usando o teste do qui-quadrado para independência. Um valor de

p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Esta análise foi realizada

tanto para as internações, como para as consultas no Pronto-Socorro, de crianças

menores de 5 anos com GEA.

Nós também comparamos a mediana da idade dos pacientes durante os

períodos pré e pós-vacinal usando o teste de t student.

Não consideramos na análise as internações por GEA ocorridas no ano de

2006, pois a introdução da vacina coincidiu com o início da estação de rotavírus em

São Paulo, sendo a cobertura com duas doses da vacina, naquele momento, ainda

muito baixa para a população de crianças menores de 5 anos.

O estudo foi aprovado nos Comitês de Ética do HSL, HSC e do Instituto de

Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

Page 35: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

26

4. - RESULTADOS:

Durante o período de 5 anos de vigilância do estudo (Janeiro de 2004 a

Dezembro de 2008) foram admitidas no HSL 664 crianças menores de 5 anos de

idade com GEA. Deste total, 655 (98,8%) tiveram uma amostra de fezes coletada e

foram, portanto, incluídas no estudo.

Rotavírus foi detectado, com a prova imunocromatográfica, em 169 crianças

(25,8%). Durante o período pré-vacinal, de 2004 a 2005, o número de crianças

menores de 5 anos hospitalizadas com GEA e GEA causada por rotavírus foi,

respectivamente, 288 e 88, sendo a taxa de positividade para rotavírus de 30,6%.

No período pós-vacinal, de 2007 a 2008, 204 e 36 crianças menores de 5 anos

foram hospitalizadas com GEA e GEA por rotavírus, respectivamente, com uma taxa

de positividade para o rotavírus de 17,6% (Tab. 1). Estes dados representam uma

redução de 29% no número de hospitalizações por GEA de todas as causas e uma

redução de 59% no número de hospitalizações por GEA causada por rotavírus em

crianças menores de 5 anos de idade no período pós-vacinal em comparação ao

período pré-vacinal (Tab. 1). Observamos, ainda, uma redução de 42,2% (95% IC:

18,6%-59,0%; p = 0,001) na taxa de positividade para os testes de rotavírus no

período pós-vacinal.

Page 36: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

27

Tabela 1 – Impacto da introdução da imunização de rotina nas hospitalizações por

GE causada pelo rotavírus e nas taxas de positividade dos testes de rotavírus em

crianças menores de 5 anos internadas no HSL, de acordo com o grupo etário.

2004-2008.

Pré-vacina (2004-2005) Pós-vacina (2007-2008)

Grupo etário

(meses)

No. de casos

de GEA

No. (%) de casos de GEA

por RV

No. de casos

de GEA

No. (%) de casos de GEA

por RV

Redução de casos de

GEA por RV %

Redução na taxa de positividade %

(95% IC)

Valor de P*

0 – 11 100 28 (28,0) 58 5 (8,6) 82,1 69,2 (24,7 – 84,7) 0,004

12 – 23 91 26 (28,6) 56 7 (12,5) 73,0 56,3 (5,9 - 79,6) 0,02

24 – 59 97 34 (35,0) 50 24 (26,6) 29,4 23,9 (-17,7 – 50,8) 0,2 (NS)

Todos (0 -59)

288 88 (30,6) 204 36 (17,6) 59,0 42,2 (18,6 – 59,0) 0,001

*Valores de P foram calculados com o teste de qui-quadrado. NS indica não significante GEA indica gastroenterite aguda

A distribuição dos casos de acordo com o grupo etário mostrou que no

período pós-vacinal, houve redução no número de hospitalizações devidas ao

rotavírus em todos os grupos etários, com a maior redução observada no grupo de

lactentes (82,1%), seguido pelo grupo de crianças de 12 a 23 meses de idade

(73,0%) e crianças de 24 a 59 meses (29,4%).

As taxas de positividade para rotavirus em crianças menores de 5 anos de

idade hospitalizadas com GEA no HSL também diminuíram em todos os grupos

etários no período pós-vacinal (Tab. 1), mais uma vez com as maiores reduções

observadas no grupo de lactentes, menores de 1 ano (69,2%; 95% IC: 24,7%-

87,4%; p = 0,004), seguido pelo grupo de crianças de 12 a 23 meses (56,3%; 95%

CI, 5,9%–79,6%; P = 0,02) e crianças de 24 a 59 meses de idade (23,9%; 95% CI: -

17,7% a 50,8%; P= 0,2).

Page 37: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

28

A mediana de idade dos pacientes aumentou de 19,5 meses para 28,1 meses

no período pós–vacinal em comparação aos anos anteriores (p < 0,001).

Nos anos que precederam a introdução da vacina o início da atividade do

rotavírus geralmente ocorria em Abril, com o pico do número de casos e o pico de

proporção de positividade entre Maio e Junho (Fig. 1). Nos anos subseqüentes à

introdução da vacina, em 2007 e 2008, observamos um atraso de 2 a 3 meses no

início da atividade do rotavírus, com aparecimento de casos a partir de Julho com o

pico de atividade entre Agosto e Setembro.

Figura 3. Hospitalizações mensais por GEA de todas as causas (linha

amarela) e GEA por rotavírus (linha vermelha) no HSL. Janeiro de 2004 a Dezembro

de 2008. (N = 655 ).

No HSC, foram incluídos apenas os dados de vigilância de hospitalizações

por GEA, em razão da indisponibilidade do teste de rotavírus em diversos períodos

Page 38: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

29

do estudo. Foram admitidas, no total, 615 crianças menores de 5 anos de idade com

diagnóstico de GEA. Durante o período pré-vacinal, de 2004 a 2005, foram

hospitalizadas 284 crianças menores de 5 anos com GEA e no período pós-vacinal,

de 2007 a 2008, 183 crianças, representando uma redução de 35,5% no número de

hospitalizações por GEA de todas as causas (Tab. 2).

A distribuição dos casos de acordo com o grupo etário mostrou que, no

período pós-vacinal, houve redução no número de hospitalizações por GEA em

todos os grupos etários, com a maior redução observada no grupo de lactentes

(55,9%), seguido pelo grupo de crianças de 12 a 23 meses de idade (21,9%) e

crianças de 24 a 59 meses (11,7%).

Tabela 2 – Impacto da introdução da imunização de rotina nas hospitalizações por

GEA de todas as causas em crianças menores de 5 anos internadas no HSC, de

acordo com o grupo etário. 2004 – 2008.

Pré-vacina (2004-2005)

Pós-vacina (2007-2008)

Grupo etário (meses)

No. de casos de GEA

No. de casos de GEA

Redução do No. de casos de GEA %

0 – 11 134 59 55,9

12 – 23 82 64 21,9

24 – 59 68 60 11,7

Todos (0 -59)

284 183 35,5

GEA indica gastroenterite aguda

Um total de 4615 crianças menores de 5 anos de idade com GEA foram

avaliadas no Pronto-Socorro do HSL durante o período pré-vacinal, das quais 1170

(25,3%) tiveram coletada uma amostra de fezes para pesquisa de rotavírus, sendo

Page 39: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

30

que 362 (30,9%) foram positivas. No período pós-vacinal um total de 4016 crianças

menores de 5 anos com GEA foi avaliada no Pronto-Socorro, das quais 934 (23,2%)

tiveram uma amostra de fezes colhida para pesquisa de rotavírus, com 98 delas

(10,4%) positivas, o que representou uma redução de 66,3% na taxa de positividade

(p< 0,001) (Fig. 4).

Figura 4- Resultados dos testes de rotavírus, antes e após a introdução da

imunização de rotina, em crianças menores de 5 anos atendidas no Pronto-Socorro

do HSL.

A determinação dos tipos G e P, através da realização de transcrição reversa

seguida de reação em cadeia de polimerase, foi realizada em 70 (86,4%) das 81

amostras que foram positivas para rotavírus no período de 2006 a 2008 no HSL.

Três genótipos G (G1, G2 e G9) e três genótipos P (P[4], P[6] e P[8]) foram

identificados (Tab. 3). Em 2006, ano em que a vacina foi introduzida, as

combinações de genótipos G/P mais frequentemente detectadas foram G9P[8]

(41,2%), G9P[4] (23,5%) e G2P[4] (8,8%). O genótipo G2P[4] tornou-se prevalente

Page 40: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

31

durante o período do estudo, aumentando sua taxa de detecção para 58,8% em

2007 e 73,7% em 2008. Entre as cepas de rotavirus identificadas em 2008, o G2 foi

o único genótipo G encontrado.

Tabela 3 – Frequência das combinações G e P de rotavírus identificadas em

crianças hospitalizadas (HSL, 2006-2008).

Combinações G e P 2006 2007 2008

N % N % N %

G1 P[8] 1 2,9

G2 P[4] 3 8,8 10 58,8 14 73,7

G9 P[8] G9 P[4] G2 P[8] G2 P[6] G2 N G2 P[4] + P[6] G9 P[4] + P[6] G9 N N P[4] N P[8] Total

14 8 2

1 1 1 1 2

34

41,2 23,5 5,9

2,9 2,9 2,9 2,9 5,9

100,0

5

1

1

17

29,4

5,9

5,9

100,0

2 3

19

10,5 15,8

100,0

N = Não tipável

Page 41: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

32

5. - DISCUSSÃO:

Este estudo prospectivo, de vigilância, foi conduzido em condições ideais, de

acordo com o protocolo genérico da Organização Mundial da Saúde (OMS)58, com

monitoramento da presença de rotavírus em virtualmente todas as crianças menores

de 5 anos de idade, internadas com GEA em um hospital sentinela (HSL), por um

período de 5 anos consecutivos a partir de Janeiro de 2004. Quando a vacina de

rotavírus foi incorporada no Programa Nacional de Imunizações, em Março de 2006,

nós mantivemos as mesmas práticas, pesquisando a presença do rotavírus em

virtualmente todas as crianças menores de 5 anos internadas com GEA durante o

período de vigilância do estudo, reduzindo, desta maneira, a possibilidade de um

potencial viés e propiciando uma oportunidade única de avaliar o impacto da

vacinação em nosso meio8.

Este é o primeiro estudo, de que tenhamos conhecimento, a fornecer dados

do impacto da introdução da vacinação universal para rotavírus na doença grave por

rotavírus na cidade de São Paulo.

Observamos uma redução substancial das hospitalizações por gastroenterite

causada pelo rotavírus após a introdução da vacinação universal. Levando em conta

a cobertura com duas doses da vacina, na população alvo do programa de

imunização de rotina na cidade de São Paulo, nos anos de 2007 e 2008 (78% e 81%

respectivamente)7, a magnitude de redução no número anual de hospitalizações por

GEA causadas pelo rotavírus, demonstrada em nosso estudo no período pós-

vacinal, reproduziu de maneira consistente na prática clínica os resultados do

principal estudo de Fase III realizado na América Latina37, que mostrou 85% de

Page 42: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

33

eficácia contra hospitalização por GEA causada pelo rotavírus em crianças menores

de 5 anos vacinadas com duas doses da vacina monovalente humana atenuada.

A mesma magnitude de redução nas internações por GEA de qualquer causa

em crianças menores de 5 anos foi observada nos dois hospitais, HSL (29%) e HSC

(35%), mostrando que a vacinação proporcionou benefício similar em duas

populações de classes sócio-econômicas distintas. Esse dado reforça a importância

e a representatividade dos resultados obtidos em nosso estudo. Salientamos, ainda,

que a redução observada nos dois Hospitais estudados foi também de magnitude

similar aos achados dos estudos que precederam o licenciamento da vacina35,

antecipando o significativo benefício potencial de um programa de imunização de

rotina com a vacina em países de condições similares às do Brasil.

Conforme esperávamos, as maiores reduções nas taxas de positividade dos

testes de rotavírus em crianças hospitalizadas com GEA foram demonstradas nos

grupos etários alvo da vacinação. Apesar de também termos observado uma

tendência de redução nas crianças de 24 a 59 meses de idade, à época um grupo

de idade muito avançada para ter recebido a vacina, ela não atingiu significância

estatística.

Nos Estados Unidos, Europa, Austrália e América Latina, os resultados de

estudos de vigilância, para avaliar o impacto e a efetividade da vacinação,

mostraram significativa redução na incidência de GEA causada por rotavírus,

redução na atividade do vírus em exames laboratoriais, redução nas hospitalizações,

nas consultas em Pronto-Socorros e nas consultas ambulatoriais relacionadas à

GEA grave causada pelo rotavírus, após a introdução da vacinação rotineira nestes

países59-81.

Page 43: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

34

Nos Estados Unidos os estudos que avaliaram a efetividade da vacina

pentavalente bovino-humana, após o seu uso rotineiro, mostraram resultados

consistentes com os observados no principal estudo de eficácia com esta vacina. As

estimativas de efetividade, nos estudos caso-controle64,72, variaram de 79% a 89%

para prevenção de hospitalização e visitas em Pronto-Socorro e de 85% a 100%

para prevenção de hospitalização relacionada à GEA causada por rotavírus, nos

estudos de coorte62,63. Nos estudos de vigilância baseados em resultados dos testes

de laboratório para rotavírus67,68, observou-se redução de 42% a 60% na magnitude

dos picos de atividade do rotavírus nas primeiras duas estações após a introdução

da vacinação e atraso no início da sazonalidade de 6 a 15 semanas.

Recentemente foram publicados resultados de estudos que mostram que o

impacto dos programas de vacinação na redução de atividade do rotavírus se

manteve sustentado por pelo menos três estações consecutivas nos EUA69. A

redução observada na atividade do rotavírus excedeu, inclusive, o que seria

esperado de acordo com as coberturas vacinais estimadas, sugerindo a presença de

efeitos indiretos da vacinação beneficiando grupos etários não vacinados60,69,72,80,82.

Em um destes estudos estimou-se que 15% das 66.000 hospitalizações evitadas e

20% dos 204 milhões de dólares de gastos médicos diretos economizados com o

programa de imunização nos EUA foram devidos à redução de doença em crianças,

adolescentes e adultos de 5 a 24 anos de idade, destacando não só a carga de

doença, até então subestimada, nestes grupos etários acima de 5 anos, como a

importância dos lactentes e crianças pequenas na transmissão do vírus na

comunidade82.

Resultados de vigilância de atividade na Austrália, onde alguns territórios do

País introduziram a vacina pentavalente e outros a vacina monovalente, mostraram

Page 44: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

35

redução significativa na proporção de testes positivos, nas hospitalizações

relacionadas à GEA causada por rotavírus e à GEA por todas as causas, também

aqui observando-se redução inclusive em crianças de grupos etários que não

poderiam ter recebido as vacinas, confirmando a presença de benefícios indiretos da

vacinação em todo o País71,73.

Na Áustria, os resultados dos estudos de impacto do programa de imunização

com as vacinas pentavalente e monovalente também mostraram redução de

hospitalização associada à GEA causada por rotavírus, mais uma vez com

evidências de redução em grupos etários não vacinados81. Um atraso na

sazonalidade de um a dois meses, além do declínio no pico de atividade da doença

e nas hospitalizações, foi observado na Bélgica, após a introdução da vacinação

rotineira61,74.

Na América Latina, os primeiros resultados de avaliação dos programas de

imunização com as vacinas de rotavírus também corroboram os resultados obtidos

nos principais estudos de eficácia nesta região, com redução significativa de

hospitalização por GEA de todas as causas e GEA causada pelo rotavírus em vários

destes países, como El Salvador, Panamá, México, Nicarágua e Brasil75-79.

Evidências de proteção indireta, com redução de doença em grupos etários não

vacinados, também foram observadas nestes países.

A presença de proteção indireta já nos primeiros anos após o uso das vacinas

de rotavírus, quando apenas os lactentes haviam sido vacinados, salienta a

importância deste grupo etário como o principal responsável na cadeia de

transmissão deste vírus na comunidade. Outro aspecto relevante em relação à

proteção indireta é que seus benefícios devem, em princípio, ser de maior

importância, do ponto de vista de saúde pública, nos países em desenvolvimento,

Page 45: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

36

onde tem-se observado consistentemente uma tendência de menor eficácia destas

vacinas. Um achado reproduzido por estes estudos foi que a redução de doença

grave observada sugere que a proporção de casos de GEA atribuída ao rotavírus

mostrou-se maior que a esperada baseando-se nos dados de vigilância anteriores à

introdução destas vacinas, salientando a importância deste agente como uma das

mais freqüentes causas de infecção imuno-prevenível83.

Em nosso estudo, além da diminuição no número e na proporção de

hospitalizações por GEA que eram confirmadas como positivas para rotavirus,

também observamos uma significativa redução (66,3%; p< 0,001) nas taxas de

positividade para rotavírus entre as crianças menores de 5 anos de idade atendidas

no Pronto-Socorro do HSL com quadro de GEA. Importante aqui salientar que a

análise dos dados provenientes dos atendimentos no Pronto-Socorro tem algumas

limitações. O fato de não termos, como rotina obrigatoriamente estabelecida, a

pesquisa de rotavírus nos casos de GEA atendidos no Pronto-Socorro faz com que

estes dados não tenham a mesma consistência e confiabilidade que os dados de

hospitalizações para o monitoramento do impacto da vacinação na doença grave

pelo rotavírus.

Entretanto, é improvável que a significativa redução que observamos no

Pronto-Socorro seja explicada por variações temporais ou mudança nas práticas de

pesquisa de rotavírus. Além disso, a magnitude de redução observada no Pronto-

Socorro correlaciona-se perfeitamente com os nossos achados de redução em

hospitalizações e coincide com a implementação do programa de vacinação rotineira

universal dos lactentes.

Nossos resultados de vigilância indicaram que o início da atividade de

rotavirus nas estações de 2007 e 2008 foi atrasado por aproximadamente 2 a 3

Page 46: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

37

meses quando comparamos com os anos anteriores à introdução da vacina (2004-

2005). Este fenômeno foi inicialmente observado na estação de 2007, coincidente

com o aumento na cobertura vacinal na cidade de São Paulo. Nós interpretamos

estes resultados como sugestivos da presença de imunidade de rebanho,

significando que quando o vírus começa a circular na comunidade ele encontra uma

população menos susceptível, levando assim mais tempo para sua disseminação,

sugerindo que as elevadas taxas de cobertura vacinal entre os lactentes

contribuíram para a redução da transmissão do vírus na comunidade. Exatamente o

mesmo fenômeno, com atraso no início da atividade do rotavírus em 2 a 4 meses

comparando com anos anteriores, foi observado entre as estações de 2007 e 2008

nos Estados Unidos, coincidente com o aumento nas taxas de cobertura com a

vacina pentavalente bovino-humana naquele País67,84 e também na Bélgica após a

introdução da vacina monovalente61. Este achado de nosso estudo, em

conformidade com o observado em outros países, tem no nosso entendimento

potencial relevância para o planejamento dos estudos de vigilância após a

incorporação dos programas de imunização contra o rotavirus, uma vez que indica a

necessidade de estender o período de vigilância por alguns meses além do que

habitualmente se realizava anteriormente, para uma compreensão mais fiel e correta

do comportamento da atividade deste vírus na comunidade.

Nosso estudo é o primeiro a reportar a distribuição de genótipos de rotavírus

em São Paulo após a implementação da vacinação rotineira. Em 2006, no momento

da introdução da vacina, o genótipo G9P[8] era o predominante, confirmando os

resultados de outros estudos realizados em São Paulo naquele período85. Nos anos

subseqüentes à introdução da vacina observamos uma elevada predominância do

G2P[4]. Estudos que investigaram a distribuição de genótipos de rotavírus, após a

Page 47: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

38

introdução da vacina, realizados em outras regiões do país também verificaram este

mesmo padrão de predominância do G2P[4]86-89. Uma das possíveis interpretações

para este fenômeno foi atribuí-lo à menor efetividade da vacina contra este genótipo,

em função desta cepa não compartilhar os tipos G ou P com a cepa G1P[8]

contemplada na vacina, criando desta maneira condições nas quais cepas com o

genótipo G2P[4] têm vantagem seletiva sobre outras cepas que compartilham tipos

G ou P com a cepa vacinal. Mais recentemente, uma seleção de linhagem,

resultante da pressão exercida pela vacina, foi sugerida como possível explicação

para a predominância deste genótipo90.

Apesar de tão elevada predominância de uma cepa em nosso meio ser

inesperada, já observávamos uma tendência de incremento do G2P[4] antes da

introdução da vacina e a sua predominância foi também verificada em outros Países

da América Latina que não haviam introduzido a vacina91,92. A predominância de

G2P[4] foi ainda reportada recentemente na Nicarágua, que em 2006 introduziu em

seu Programa Nacional de Imunizações a vacina pentavalente bovino-humana, cuja

composição contempla o antígeno G2. Durante o período do estudo na Nicarágua,

88% das amostras identificadas eram do genótipo G2P[4] e a efetividade da vacina

pentavalente bovino-humana contra GEA grave (escore de Vesikari maior ou igual a

11) e muito grave (escore de Vesikari maior ou igual a 15) causada pelo rotavírus foi

de 65% e 82%, respectivamente70.

Se, de um lado, todas estas evidências reforçam a possibilidade de uma re-

emergência natural deste genótipo, que tende a acontecer em ciclos de 10 em 10

anos, ao invés de um efeito exclusivo da vacinação, a recente publicação dos dados

de vigilância de circulação de genótipos após a incorporação da vacina oral

monovalente humana na Bélgica e nos territórios da Austrália que incorporaram esta

Page 48: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

39

vacina, mostra que o mesmo fenômeno observado em nosso estudo, de elevada

predominância do genótipo G2P[4], foi também constatado nestes locais93,94. Na

Austrália, nos dois anos seguintes à introdução da vacina monovalente, observou-se

uma predominância do genótipo G2P[4] de 47% e 60%, respectivamente93. Esta

predominância só ocorreu nos territórios em que a vacina monovalente foi

introduzida. Na Bélgica também se observou aumento da prevalência do genótipo

G2 após a incorporação da vacinação de rotina, com manutenção da maior

prevalência (30% a 40%) nos anos seguintes94.

Entretanto, faz-se importante destacar que em dois estudos caso-controle,

realizados no Brasil, em Recife e em Belém, a vacina monovalente demonstrou

efetividade contra GEA grave causada pelo genótipo G2P[4]. No estudo realizado na

cidade do Recife observou-se efetividade de 77% contra GEA grave causada pelo

genótipo G2P[4] em crianças de 6 a 11 meses, não havendo proteção significativa

para os maiores de 12 meses95. No estudo realizado em Belém, observou-se

proteção contra GEA grave pelo G2P[4] não só em crianças de 3 a 11 meses, mas

também, apesar de em menor magnitude, para as crianças acima de 12 meses96.

Desta maneira, enfatizamos que a despeito dos achados de predominância

de G2P[4] após a introdução da vacina monovalente observado em nosso estudo e

em outros locais onde a vacina monovalente humana foi introduzida, pudemos

constatar uma redução significativa na incidência de doença grave associada ao

rotavirus, a exemplo do que foi também observado nestes outros países, sendo

estes achados, em nossa opinião, seguramente os de maior relevância quando se

tem como objetivo avaliar o impacto da introdução de uma vacina na carga da

doença atribuída a um determinado agente.

Page 49: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

40

A manutenção da vigilância nos próximos anos, para determinar se esta

predominância do G2P[4] é persistente, será definitiva para elucidar com evidências

mais concretas se este fenômeno é reflexo da circulação cíclica e natural do

rotavírus ou se existe pressão seletiva da vacina e principalmente, se este fenômeno

tem alguma implicação no impacto proporcionado pela vacina na redução da carga

da GEA grave atribuída ao rotavírus em nossa população.

Em resumo, nossos dados indicam que a introdução da vacina de rotavírus,

monovalente, humana no Programa Nacional de Imunizações propiciou uma

redução rápida e marcante nas hospitalizações associadas com a GEA causada

pelo rotavírus, confirmando na prática a eficácia da vacina, previamente

demonstrada nos grandes estudos clínicos que envolveram milhares de lactentes na

América Latina. A recente divulgação dos resultados do impacto da vacinação no

Brasil79,97 e no México77,98, com redução de milhares de mortes e centenas de

milhares de hospitalizações relacionadas à diarréia em crianças menores de 5 anos

nos primeiros anos após a implementação dos programas de imunização no Brasil e

no México, confirmam estas expectativas.

Page 50: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

41

6. - CONCLUSÕES:

Observamos uma significativa redução nas hospitalizações devidas à

gastroenterite aguda causada pelo rotavírus em crianças menores de 5

anos após a incorporação no Programa Nacional de Imunizações da

vacina oral de rotavírus, monovalente humana.

O maior impacto, com redução significativa nas taxas de positividade

dos testes de rotavírus em crianças hospitalizadas com gastroenterite

aguda e redução no número de hospitalizações por gastroenterite

aguda, foi demonstrado nos grupos etários alvo da vacinação. Apesar

de também termos observado uma tendência de redução nas crianças

de 24 a 59 meses de idade, à época um grupo de idade muito

avançada para ter recebido a vacina, ela não atingiu significância

estatística.

A mesma magnitude de redução nas hospitalizações por gastroenterite

aguda de qualquer causa em crianças menores de 5 anos foi

observada em dois hospitais que atendem populações de diferentes

classes sócio-econômicas, reforçando a importância e a

representatividade dos resultados obtidos em nosso estudo e

antecipando, sob o prisma de saúde pública, o significativo benefício

potencial de um programa de imunização de rotina com esta vacina em

nosso País.

Nossos resultados de vigilância indicaram que o início da atividade de

rotavírus nas estações de 2007 e 2008 foi atrasado por

Page 51: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

42

aproximadamente 2 a 3 meses quando comparamos com os anos

anteriores à introdução da vacina (2004-2005).

Elevada predominância do genótipo G2P[4] foi demonstrada nos dois

primeiros anos após a introdução da vacina de rotavírus monovalente

humana, havendo necessidade da manutenção da vigilância, em longo

prazo, para melhor elucidação das razões deste fenômeno.

Page 52: Impacto da vacinação universal contra rotavírus nas hospitalizações

43

7. – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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RESUMO:

Introdução: o Brasil incorporou, em 2006, a imunização de rotina com a

vacina oral monovalente humana contra o rotavírus, atingindo já em 2008 coberturas

de 81% para duas doses na cidade de São Paulo. O objetivo deste estudo foi o de

avaliar o impacto do programa de imunização na incidência de gastroenterite aguda

(GEA) grave associada ao rotavírus.

Métodos: Foi realizado um estudo de vigilância, prospectivo, baseado em dois

hospitais sentinela (HSL e HSC) em São Paulo, com pesquisa rotineira de rotavírus

em todas as crianças menores de 5 anos hospitalizadas com GEA. As amostras

positivas foram submetidas à genotipagem por transcrição reversa seguida de

reação em cadeia de polimerase (RT-PCR).

Resultados: Durante o estudo, no HSL, 655 crianças menores de 5 anos,

internadas com GEA, foram incluídas; destas 169 (25,8%) apresentaram teste

positivo para rotavírus. No período pós-vacinal observamos uma redução de 59% no

número de hospitalizações por GEA causada por rotavírus e redução de 42,2%

(95% intervalo de confiança: IC: 18,6%–59,0%; P=0,001) na proporção de resultados

positivos para rotavirus entre as crianças menores de 5 anos, com as maiores

reduções observadas em lactentes (69,2%; 95% CI, 24,7%–87,4%; P = 0,004).

Verificou-se, ainda, uma redução de 29% no número de hospitalizações em crianças

menores de 5 anos por GEA de todas as causas.

No HSC, observamos uma redução de 35% no número de hospitalizações por

GEA de todas as causas, sendo, mais uma vez, o maior impacto verificado no grupo

de lactentes.

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O início e o pico de incidência de GEA por rotavírus ocorreu 2 a 3 meses mais

tarde em 2007 e 2008, comparados aos anos anteriores.

O genótipo G2 foi responsável por 15%, 70% e 100% de todos os casos

identificados, respectivamente em 2006, 2007 e 2008.

Conclusões: Após a implementação da vacina demonstramos uma

significativa redução nas hospitalizações por GEA em crianças menores de 5 anos,

com as maiores taxas de redução nos grupos etários alvo da vacinação. A

predominância do genótipo G2P[4] enfatiza a necessidade de continuarmos a

realização de estudos de vigilância pós-licenciamento.

Palavras chave: rotavírus, gastroenterite, vacina rotavírus, vigilância, crianças

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ABSTRACT:

Background: Brazil implemented routine immunization with the human

monovalent rotavirus vaccine, Rotarix®, in 2006 and vaccination coverage reached

81% in 2008 in São Paulo. The aim of this study was to assess the impact of

immunization on the incidence of severe rotavirus acute gastroenteritis (AGE).

Methods: We performed a 5-year (2004 –2008) prospective surveillance at

two sentinel hospitals (HSL and HSC) in São Paulo, with routine testing for rotavirus

in all children less than 5 years of age hospitalized with AGE. Genotypes of positive

samples were determined by reverse transcription polymerase chain reaction.

Results: During the study, in HSL, 655 children hospitalized with AGE were

enrolled; of whom 169 (25.8%) were positive for rotavirus. In the post-vaccine period,

a 59% reduction in the number of hospitalizations of rotavirus AGE and a 42.2%

(95% confidence interval [CI], 18.6%–59.0%; P = 0.001) reduction in the proportion of

rotavirus-positive results among children younger than 5 years were observed, with

the greatest decline among infants (69.2%; 95% CI, 24.7%–87.4%; P = 0.004).

Furthermore, the number of all-cause hospitalizations for AGE was reduced by 29%

among children aged < 5 years.

In HSC a 35% reduction in the number of all cause hospitalizations was

demonstrated, once again, with the greatest reduction among infants.

The onset and peak incidences of rotavirus AGE occurred 2 to 3 months later

in the 2007 and 2008 seasons compared with previous years.

Genotype G2 accounted for 15%, 70%, and 100% of all cases identified,

respectively, in 2006, 2007, and 2008.

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Conclusions: After vaccine implementation, a marked decline in rotavirus

AGE hospitalizations was demonstrated among children younger than 5 years of

age, with the greatest reduction in the age groups targeted for vaccination. The

predominance of genotype G2P[4] highlights the need of continued post-licensure

surveillance studies.

Key Words: rotavirus, gastroenteritis, rotavirus vaccine, surveillance, children

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