Impactos Ambientais Da Mineração No Estado de São Paulo

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Impactos causados pela mineração no Estado de São Paulo

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    s mesmos processos geolgicos que do origem aos depsitos minerais condicionam a sua localizao na crosta terrestre. a abundncia ou escas-sez dos elementos que compem essa crosta determina a frequncia de

    ocorrncia dos diversos tipos de depsitos minerais. a essas peculiaridades associa-se o termo rigidez locacional, que expressa a restrio na seleo de reas que possam gerar menores impactos ambientais na implantao de empreendimentos minerrios. Muitas vezes, os locais de ocorrncia so ambientalmente sensveis e importantes para a preservao da biodiversidade, dos recursos hdricos, da paisa-gem ou de demais recursos naturais com funo ambiental de grande importncia. Por esses aspectos, alm da necessidade frequente de escavaes vultosas para a retirada do bem mineral, que resultam em grandes volumes de rejeito, que se vincula a minerao a impactos negativos significativos para o meio ambiente.

    Praticamente, toda atividade de minerao implica supresso de vegetao ou impedimento de sua regenerao. em muitas situaes, o solo superficial de maior fertilidade tambm removido, e os solos remanescentes ficam expostos aos processos erosivos que podem acarretar em assoreamento dos corpos dgua do entorno. a qualidade das guas dos rios e reservatrios da mesma bacia, a jusante do empreendimento, pode ser prejudicada em razo da turbidez provo-cada pelos sedimentos finos em suspenso, assim como pela poluio causada por substncias lixiviadas e carreadas ou contidas nos efluentes das reas de minerao, tais como leos, graxa, metais pesados. estes ltimos podem tambm atingir as guas subterrneas. o regime hidrolgico dos cursos dgua e dos aquferos pode ser alterado quando se faz uso desses recursos na lavra (desmonte hidrulico) e no beneficiamento, alm de causar o rebaixamento do lenol fretico. o rebaixamen-to de calha de rios com a lavra de seus leitos pode provocar a instabilidade de suas margens, causando a supresso das matas ciliares, alm de possibilitar o descala-mento de pontes com eventuais rupturas. Com frequncia, a minerao provoca a poluio do ar por particulados suspensos pela atividade de lavra, beneficiamento e transporte, ou por gases emitidos da queima de combustvel. outros impactos ao meio ambiente esto associados a rudos, sobrepresso acstica e vibraes no solo associados operao de equipamentos e exploses.

    todos os impactos anteriormente referidos podem ter efeitos danosos no

    Impactos ambientaisda minerao no estadode so Paulo

    oAndrA Mechi e djAlMA luiz SAncheS

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    equilbrio dos ecossistemas, tais como a reduo ou destruio de hbitat, afugen-tamento da fauna, morte de espcimes da fauna e da flora terrestres e aquticas, incluindo eventuais espcies em extino, interrupo de corredores de fluxos gnicos e de movimentao da biota, entre outros. em relao ao meio antrpico, a minerao pode causar no apenas o desconforto ambiental, mas tambm im-pactos sade causados pela poluio sonora, do ar, da gua e do solo. a desfigu-rao da paisagem outro aspecto gerado pela minerao cujo impacto depende do volume de escavao e da visibilidade em razo de sua localizao.

    a foto abaixo ilustra a degradao ambiental gerada pela minerao na re-gio de Guararema/sP.

    degradao ambiental gerada pela minerao na regio de Guararema(SP).

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    A minerao no Estado de So Pauloapesar de as primeiras descobertas de recursos minerais brasileiros no final

    do sculo XvI terem ocorrido em territrio paulista, a economia paulista notabi-lizou-se inicialmente pela atividade agrcola, seguida do desenvolvimento indus-trial e da acelerao do crescimento urbano. essas caractersticas, associadas s potencialidades dos terrenos geolgicos, determinaram, definitivamente, o perfil atual da indstria mineral paulista, voltado notoriamente ao consumo interno para atender s indstrias dos setores cermico, siderrgico, cimenteiro, vidreiro, entre outros, de insumos para agricultura e, de forma vigorosa, da construo civil.

    tabela 1 substncias minerais produzidas no estado de so Paulo ano-base 2005

    Fonte: Cabral Junior et al. (2008).

    Substncia mineral Valor anual R$ x 103

    %

    Quantidade t x 10

    Areia 846.293,0 40,81 75.420,4Rocha britada 548.317,4 26,44 49.286,9gua mineral 262.593,8 12,66 2.108,0Calcrio 151.542,4 7,31 9.755,4Areia industrial 105.821,8 5,10 3.604,3Fosfato 71.252,8 3,44 200,5Caulim 21.965,6 1,06 139,4Argilas comuns 15.946,1 0,77 4.661,5Filito 12.251,3 0,59 243,7Feldspato 6.534,6 0,32 33,6Argilas plsticas 6.506,7 0,31 125,8Bentonita e argilas descorantes 6.394,7 0,31 45,2

    Dolomito 5.900,0 0,28 198,5Rocha ornamental 5.686,5 0,27 269,1Bauxita metalrgica 1.851,2 0,09 131,8Talco 1.515,6 0,07 56,3Quartzito industrial 834,4 0,04 21,9Argilas refratrias 761,6 0,04 65,5Bauxita refratria 574,3 0,03 18,8Ferro 572,9 0,03 74,7Turfa 527,4 0,03 9,4Cobre 14,5 0,01 0,183Mangans 11,6 - 0,118Calcita 4,7 - 0,686Total 2.073.807,4 100,00 146.472,7

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    a grande maioria dos municpios de so Paulo conta com alguma produo mineral, legalizada ou no, e as caractersticas geolgicas do territrio paulista, as-sociadas s demandas decorrentes do crescimento urbano e industrial, tm propi-ciado a nucleao da atividade de minerao em zonas especficas, promovendo a formao de polos produtores regionais com o adensamento de reas impactadas pela extrao mineral, tais como a Regio Metropolitana de so Paulo (RMsP), o cinturo sorocaba-Itu-Campinas, o vale do Paraba, o vale do Ribeira e munic-pios adjacentes de Itapeva, apia e Capo Bonito.

    de acordo com Cabral Junior et al. (2008), em determinadas regies as aglomeraes de empresas de minerao chegam a constituir arranjos produtivos locais de base mineral, tais como as inmeras aglomeraes minerocermicas que integram a produo de argilas e a fabricao de produtos de cermica vermelha e revestimentos. um desses aglomerados acompanha a depresso Perifrica Pau-lista, constituindo uma faixa contnua que se estende da regio de Itapeva at so Joo da Boa vista. outra aglomerao se situa no oeste paulista, associada s faixas lindeiras dos rios Paran, tiet e Paranapanema.

    Com raras excees, a indstria mineral paulista apresenta deficincias tec-nolgicas, especialmente quando se trata da pequena empresa que corresponde grande maioria do setor produtivo no estado. Grande parte das mineraes ressente-se de investimentos na pesquisa geolgica das jazidas e na caracterizao tecnolgica dos minrios, no planejamento das operaes de lavra, beneficiamen-to e recuperao ambiental, entre outros fatores.

    a falta de aes de planejamento por parte dos poderes pblicos e a carn-cias aqui referidas tm gerado conflitos da atividade com outras formas de uso do solo, em muitos casos com desconforto e riscos s comunidades circunvizinhas. alm disso, a falta de controle e a no recuperao ambiental satisfatria das reas mineradas tm causado uma srie de outros impactos indesejveis ao meio am-biente.

    Como agravante dessa situao, a ilegalidade no setor ainda significativa. segundo a declarao do chefe do 2 distrito so Paulo do departamento na-cional de Produo Mineral, enzo Lus nico Jnior, na edio de 12.7.2005 do jornal Folha de S.Paulo, existiam na ocasio cerca de 2.500 lavras autorizadas no estado de so Paulo e havia indicao da existncia de cerca de trs mil minera-doras clandestinas.

    Preveno e mitigao dos impactos Como instrumento previsto na Poltica nacional de Meio ambiente, a pre-

    veno e a mitigao dos impactos da minerao sobre o meio ambiente no esta-do de so Paulo vm se fazendo por meio do licenciamento ambiental, com base no planejamento do empreendimento consubstanciado nos documentos deno-minados Relatrio de Controle ambiental (RCa), Plano de Controle ambien-tal (PCa), Relatrio ambiental Preliminar (RaP), estudo de Impacto ambiental (eIa) e Relatrio de Impacto ambiental (Rima), a serem apresentados conforme

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    os critrios estabelecidos na Resoluo n.51, de 12 de dezembro de 2006, da se-cretaria do Meio ambiente.

    a exigncia de RaP ou eIa/Rima aplica-se aos empreendimentos novos sempre que o rgo ambiental considerar que haver impacto ambiental signi-ficativo ou quando a rea de extrao for superior a 20 ha ou o volume total de material a ser extrado, incluindo minrio e estril, ultrapassar 5.000.000 m. tambm haver essa exigncia quando for prevista supresso de vegetao nativa acima de 5 ha, houver interveno em nascentes ou cursos dgua inseridos em mananciais de abastecimento pblico, a rea estiver inserida em Zona de amor-tecimento de unidades de Conservao de Proteo Integral, nos termos da Lei Federal n.9.985/00 ou e se houver extrao de rochas carbonticas em regies com evidncias de fenmenos crsticos.

    Para as mineraes existentes na data da publicao do Regulamento da Lei n.997/76, a Resoluo sMa n.51/06 prev a obrigao de o empreendedor solicitar a Licena de operao, apresentando um Plano de Recuperao de rea degradada (Prad). J nos casos de empreendimentos desativados, que no foram objeto de licenciamento ambiental, o responsvel foi compelido a apresentar o projeto de revegetao para aprovao do dePRn (atual Cetesb) e providenciar a recuperao da rea degradada.

    outro instrumento da Poltica nacional de Meio ambiente empregado pelo estado de so Paulo refere-se ao Programa de Recursos Minerais e Meio ambiente que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Geolgico (IG), vinculado secretaria do Meio ambiente, visando definio de zoneamentos ambientais minerrios e elaborao de planos diretores regionais de minerao.

    o primeiro trabalho concludo pelo IG em 1997 foi direcionado ao vale do Paraba com o Projeto Paraba do sul Potencialidade de areia, entre Ja-care e Roseira. o objetivo do projeto foi subsidiar o estabelecimento de normas tcnicas e procedimentos de licenciamento ambiental e o zoneamento ambiental da minerao de areia, por meio da definio de reas prprias para explorao mineral. nesse estudo, foi realizada uma sntese dos trabalhos anteriores relativos explorao mineral e ao planejamento integrado em razo do desenvolvimento econmico e ambiental da regio, complementado com uma coletnea das legis-laes municipais relativas atividade de explorao dos recursos minerais e de uso do solo. a definio e a delimitao da zona de potencial de areia basearam-se no estabelecimento dos limites das construes eminentemente arenosas ou do cinturo mendrico, pertencentes ao sistema Fluvial Meandrante Holocnico do Rio Paraba do sul.

    Com base nesse estudo do IG, a secretaria do Meio ambiente estabeleceu o zoneamento ambiental para minerao de areia na vrzea do Rio Paraba do sul, no subtrecho inserido nos municpios de Jacare, so Jos dos Campos, Caapa-va, taubat, trememb e Pindamonhangaba, conforme disposto na Resoluo sMa n.28/99. nesse subtrecho, os novos empreendimentos foram dispensados

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    de eIa/Rima para seu licenciamento, de acordo com a Resoluo sMa n.03/99, podendo-se extrair areia dentro dos limites da zona de minerao, respeitando-se as zonas de proteo, que visam resguardar o ecossistema formado pelo Rio Pa-raba do sul, a vegetao remanescente preservada e, especialmente, as associadas aos meandros abandonados, assim como as zonas de conservao da vrzea, que visam proteger e conservar a plancie aluvionar, dessa forma garantindo a perme-abilidade dos solos e a no contaminao das guas, mediante usos compatveis com sua funo ecolgica. a zona de recuperao aplica-se aos empreendimentos em atividade ou exauridas, compreendendo as reas definidas como prioritrias recuperao ambiental, objetivando compatibiliz-las com os usos urbano, agro-pecurio ou de preservao, segundo sua localizao especfica.

    de acordo com Reis et al. (2006), em trabalho elaborado com o propsito de investigar as consequncias da extrao de areia em larga escala no balano hdrico climatolgico do vale do Paraba, no trecho paulista a rea de lagos artifi-ciais originados pela extrao de areia evoluiu de 591,4 ha em 1993 para 1.726,5 ha em 2003. neste ano, registrou-se uma perda de gua para a atmosfera pela evaporao das cavas de 19.157.022 m/ano, que seria suficiente para abastecer uma cidade com 326.318 habitantes. outro aspecto observado por Reis (2009) refere-se constatao do avano da lavra para alm dos limites da zona de mine-rao no municpio de trememb.

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    Minerao de areia na vrzea do rio Paraba do Sul (SP).

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    em trabalho de avaliao da recuperao ambiental da minerao de areia na vrzea do Paraba do sul, no trecho entre Jacare e Pindamonhangaba, a secre-taria do Meio ambiente concluiu que a recuperao vegetal foi qualificada como ruim ou regular na maioria dos empreendimentos (so Paulo, 2008). as questes relacionadas qualidade das guas e dos sedimentos das cavas, os processos de eutrofizao e as possibilidades de usos futuros no foram avaliados.

    segundo a Resoluo sMa n.42/96, que disciplina o licenciamento am-biental dos empreendimentos minerrios de extrao de areia na Bacia Hidrogr-fica do Rio Paraba do sul, as medidas de recuperao da rea degradada se atm estabilizao do meio fsico e revegetao das margens das cavas, e as reas no consideradas pela legislao vigente como de preservao permanente, depen-dendo da inteno de usos futuros do solo, podero ser utilizados para plantio homogneo de espcies exticas e nativas, ou outras alternativas, mediante apro-vao do projeto pela sMa, desde que cumpram a funo de proteo do solo e dos recursos hdricos.

    na avaliao da recuperao de reas degradas por minerao na Regio Metropolitana de so Paulo, Bitar et al. (2000) concluram que h uma evidente dissociao entre as medidas praticadas e aquelas preconizadas nos planos de re-cuperao elaborados pelas empresas de minerao. a maior parte dos trabalhos de recuperao de reas degradadas praticados em minas ativas na RMsP tinha carter incipiente, baseando-se especialmente na execuo de medidas restritas de revegetao, visando, em especial, atenuar o impacto visual gerado. as minas desativadas favoreceram a ocupao desordenada, e cavas remanescentes, total ou parcialmente inundadas, encontravam-se permanentemente sujeitas deposio desordenada de resduos, que podem gerar a contaminao do solo e das guas superficiais ou subterrneas e colocar em risco a sade da populao do entor-no.

    outros passivos ambientais associados poluio do solo e das guas super-ficiais ou subterrneas por substncias perigosas sade humana foram estudados por Bernardino et al. (2004), que constataram que, embora as atividades de mi-nerao e metalurgia tenham cessado em 1996, as populaes do alto vale do Ribeira ainda convivem com vrias fontes de contaminao ambiental, em especial de chumbo e arsnio, tipicamente originadas da atividade de extrao, benefi-ciamento e refino mineral. as emisses de metais para atmosfera e subsequente deposio dos particulados foram responsveis pela contaminao dos solos em reas habitadas por essas populaes. Processos de lixiviao levaram tambm es-ses contaminantes aos sedimentos dos rios da regio, que chegaram ao esturio do Rio Ribeira de Iguape.

    Perspectivasse considerarmos o histrico da minerao no estado de so Paulo e as

    aes do poder pblico no sentido de estancar e reverter o quadro de degradao gerado por essa atividade, no se vislumbra, em curto prazo, o desenvolvimento

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    dessa atividade de forma a assegurar o suprimento futuro de matrias-primas mi-nerais e garantir a qualidade das condies ambientais.

    em que pese a contribuio representada por foras de mercado e algumas iniciativas voluntrias das empresas, foram as demandas impostas pela legislao aquelas que realmente fizeram avanar a gesto ambiental (Centro de tecnologia Mineral, 2007). Mesmo assim, h um grande caminho a percorrer que passa neces-sariamente pela promoo de aes e projetos setoriais dirigidos ao planejamento, ordenamento e aprimoramento tecnolgico da atividade de minerao no estado, alm do aprimoramento dos instrumentos de licenciamento e fiscalizao.

    Com elevada frequncia, a minerao vem sendo desenvolvida em locais sensveis ambientalmente e importantes para a preservao da biodiversidade, dos recursos hdricos, da paisagem ou de demais recursos naturais, que mostram equ-vocos tcnicos de se considerar previamente essa atividade como sendo de baixo impacto ambiental. Cabe ressaltar que, em caso de explorao mineral em rea de preservao permanente, o enquadramento como atividade de baixo impacto ambiental est fora de cogitao.

    a extrao de areia em leito de rio, de areia e de argila em reas de vrzea ou nas margens de cursos dgua ou lagos, de rochas variadas usadas na construo civil em topos de morro ou encostas ngremes atingindo nascentes, cursos dgua e a vegetao nativa so comuns no estado de so Paulo, e a grande maioria dos empreendimentos obteve licena de funcionamento sem ter apresentado o eIa/Rima. a extrao de areia por meio de jateamento de gua no solo (desmonte hidrulico) tambm comum, e, da mesma forma, a maior parte dos empreendi-mentos no tem eIa/Rima.

    os Planos de Recuperao de reas degradadas (Prad), apesar de exigidos desde 1989, so relativamente recentes nos empreendimentos e h uma evidente dissociao entre as medidas praticadas e aquelas preconizadas nesses planos. a maior parte dos trabalhos de recuperao de reas degradadas pela minerao que se tem registrado no estado de so Paulo tem carter incipiente e se baseia especialmente na execuo de medidas restritas de revegetao, visando atenuar o impacto visual gerado.

    o planejamento da lavra e o emprego de equipamentos podem reduzir os impactos durante a operao da atividade, porm no possibilitam a recuperao das condies originais da rea, restringindo o uso futuro da rea e alterando suas funes ambientais primitivas. esses fatos se devem especialmente ao dficit de volume de materiais no comercializados ou rejeitos que podem ser empregados para preencher as cavas resultantes das escavaes e recompor a topografia do terreno.

    a maioria das cavas de minerao abertas em vrzeas para extrao de areia ou argila resulta em lagoas que, apesar de destinadas ao uso de piscicultura ou pesque-pague na maioria dos planos de recuperao, acabam com frequncia abandonadas e em processo de eutrofizao. Geralmente, essas situaes se repe-

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    tem ao longo da mesma vrzea, criando um adensamento de lagoas e alterando significativamente o ambiente original em razo dos impactos cumulativos.

    J a extrao de areia em calha de rio tem causado o rebaixamento de seu lei-to e desequilbrio do meio, provocando o solapamento e a eroso das margens. as intervenes necessrias para promover artificialmente a conteno desses proces-sos so impactantes e onerosas de tal forma que, em geral, essas reas ficam aban-donadas merc de sucesses naturais at que estabelea um novo equilbrio.

    Grandes cavas de pedreiras ou de extrao de areia por desmonte hidrulico, prximas a centros urbanos, tm sido reaterradas com resduos inertes prove-nientes de entulho da construo civil, cuja adequao tem sido contestada em razo da total falta de controle da qualidade desses resduos, que podem conter substncias no inertes e, eventualmente, perigosas, que podem poluir as guas superficiais ou subterrneas e colocar em risco a sade humana.

    em muitas situaes, as frentes de escavao para a extrao de minrio avanam demasiadamente, dando origem s cavas limitadas por taludes ngremes e elevados, cujo abatimento da inclinao se torna problemtico ou invivel, uma vez que essa medida implica escavao adicional vultosa, ampliando a rea de-gradada e, eventualmente, atingindo reas florestadas ou terrenos alm do limite permitido para a lavra.

    tais situaes podem ter origem na deficincia do plano de recuperao ou de fiscalizao sistemtica para a verificao do cumprimento dos cronogra-mas estabelecidos nos projetos. a postergao de implementao de medidas de recuperao para a fase final de lavra, prxima sua exausto, implica aumento significativo de custos justamente numa fase de reduo de receita, estimulando o abandono ou o cumprimento parcial das obrigaes.

    Como comentado anteriormente, as caractersticas geolgicas do territrio paulista associadas s demandas decorrentes do crescimento urbano e industrial tm propiciado a nucleao da atividade de minerao em zonas especficas, pro-movendo a formao de polos produtores regionais com o adensamento de reas impactadas pela extrao mineral. na tentativa de dar conta dessa questo, o Ins-tituto Geolgico vem desenvolvendo o Programa de Recursos Minerais e Meio ambiente visando definio de zoneamentos ambientais minerrios e elabora-o de planos diretores regionais de minerao e compatibilizar essa atividade com o desenvolvimento sustentvel.

    os exemplos de zoneamentos aprovados pela secretria do Meio ambien-te, como aquele da Bacia do Rio Paraba do sul, onde o licenciamento de no-vos empreendimentos dispensado de eIa/Rima, com base na Resoluo sMa n.03/99, tm, porm, gerado apreenso quanto aos efeitos sobre o meio ambien-te do adensamento de cavas de minerao ao longo da vrzea desse curso dgua, que ainda no foram devidamente avaliados.

    da forma como os trabalhos foram desenvolvidos, verifica-se que os proble-mas relacionados extrao de areia no vale do Paraba do sul esto relacionados

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    ausncia de estudos efetivos sobre as caractersticas dos ecossistemas (composi-o, estrutura, dinmica), seus aspectos funcionais e fragilidades, que pudessem fundamentar realmente uma avaliao procedente das consequncias da atividade minerria sobre os ambientes atingidos.

    diante desse contexto, o zoneamento ambiental para minerao de areia da Bacia do Rio Paraba do sul no pode ser equiparado ao eIa/Rima, tendo em vista a abrangncia e o detalhamento dos estudos e levantamentos realizados, que, como j citado, no diagnosticou adequadamente os ecossistemas, no avaliou o passivo ambiental e os impactos no meio ambiente dos empreendimentos atuais e futuros.

    Pelas razes citadas, pode-se concluir que o licenciamento da atividade de minerao, da forma como vem sendo conduzido no estado de so Paulo, no est atingindo satisfatoriamente os objetivos da Poltica nacional do Meio ambiente. da mesma forma, a ordem imposta pela Constituio Federal de que aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com soluo tcnica exigida pelo rgo pblico competente, no vem sendo atendida a contento.

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    resumo de modo geral, a minerao causa impacto significativo ao meio ambiente, pois quase sempre o desenvolvimento dessa atividade implica supresso de vegetao, exposio do solo aos processos erosivos com alteraes na quantidade e qualidade dos recursos hdricos superficiais e subterrneos, alm de causar poluio do ar, entre outros aspectos negativos. a preveno e a mitigao desses impactos no estado de so Paulo se fazem por meio do licenciamento ambiental. outra forma de gesto ambiental do estado refere-se aos programas que visam definio de zoneamentos ambientais mi-nerrios e elaborao de planos diretores regionais de minerao. H, porm, evidente dissociao entre as aes praticadas e aquelas preconizadas nos projetos, restringindo a recuperao da rea degradada a medidas que apenas atenuam o impacto visual. este artigo apresenta consideraes sobre o tema e o desafio de o setor se adequar Consti-tuio Federal e Poltica nacional de Meio ambiente.

    palavras-chave: Minerao, Impacto ambiental, Gesto, Recuperao de rea degra-dada.

    abstract Generally, mining causes significant impact over the environment, since this activity often involves suppression of vegetation, soil exposure and erosion resulting in important changes in the quantity and quality of surface and ground-waters and in air pollution, among other negative effects. the prevention and mitigation of these im-pacts in the state of sao Paulo are made through the environmental licensing. another way of environmental management includes programs like mining and environmental zoning and regional mining director plans. But there is clear dissociation between the actions effectively taken and those recommended in the projects, limiting the recovery

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    of degraded areas to measures that only attenuate the visual impact. this paper presents considerations on the subject and challenges of the industry to adapt to the Federal Constitution and the national Policy on environment.

    keywords: Mining, environmental impact, Management, Rehabilitation of degraded areas.

    Andra Mechi geloga pela universidade estadual Paulista (unesp), especialista em engenharia ambiental pela universidade Federal do Rio de Janeiro (uFRJ) e mestre em Gesto ambiental pela universidade estadual de Campinas (unicamp). trabalha desde 1998 como assistente tcnico do Ministrio Pblico do estado de so Paulo.@ [email protected]

    djalma luiz Sanches gelogo pela universidade de so Paulo (usP) e especialista em Gesto ambiental pela universidade estadual de Campinas (unicamp). trabalha desde 1998 como assistente tcnico do Ministrio Pblico do estado de so Paulo.@ [email protected]

    Recebido em 24.2.2010 e aceito em 4.3.2010.