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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS NA AMAZÔNIA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS Programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO DA TERRA NA RECICLAGEM DE PRECIPITAÇÃO NA BACIA AMAZÔNICA: UM ESTUDO DE MODELAGEM NUMÉRICA. LUIZ GUSTAVO TEIXEIRA DA SILVEIRA Manaus, Amazonas Novembro, 2015

IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

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Page 1: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS NA AMAZÔNIA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

Programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente

IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO DA

TERRA NA RECICLAGEM DE PRECIPITAÇÃO NA BACIA

AMAZÔNICA: UM ESTUDO DE MODELAGEM NUMÉRICA.

LUIZ GUSTAVO TEIXEIRA DA SILVEIRA

Manaus, Amazonas

Novembro, 2015

Page 2: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

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LUIZ GUSTAVO TEIXEIRA DA SILVEIRA

IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO DA

TERRA NA RECICLAGEM DE PRECIPITAÇÃO NA BACIA

AMAZÔNICA: UM ESTUDO DE MODELAGEM NUMÉRICA

LUIZ GUSTAVO TEIXEIRA DA SILVEIRA

Orientador: Dr. Francis Wagner Silva Correia

Manaus, Amazonas

Novembro, 2015

Dissertação de mestrado

apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Clima e

Ambiente do INPA/UEA como

parte dos requisitos para

obtenção do título de Mestre

em Clima e Ambiente, área de

concentração Interações Clima-

Biosfera da Amazônia.

Page 3: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

3

Dedico aos meus pais, por serem exemplos

de superação e comprometimento em todos

os momentos de suas vidas.

Page 4: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

4

Agradecimentos

Primeiramente a DEUS por ter me dado o dom da vida e ter me ensinado a nunca desistir dos

meus objetivos e sonhos.

Ao professor Dr. Francis Wagner Silva Correia pela orientação, dedicação, atenção e

perseverança, principalmente nos momentos mais difíceis em que o projeto sofria grandes

problemas. Obrigado.

Aos meus pais Luiz Celso e Socorro Silveira, pela força, apoio, compreensão e

principalmente por sempre estarem ao meu lado nos momentos em que mais precisei.

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e a Universidade do Estado do Amazonas

que me proporcionaram a oportunidade de adentrar em um curso de mestrado e ainda me

deram toda a infraestrutura para a conclusão do mesmo.

A todo o corpo docente da Pós Graduação em Clima e Ambiente, pelos ensinamentos e

experiências repassadas.

A Lene Santos e a Jéssica Santos, que foram pessoas que passaram em minha vida e tiveram

grande importância, me dando forças e acima de tudo compreensão, carinho e amor.

Aos meus amigos/irmãos Marcos Vinícius, Niniv Mendonça, João Carlos, Eloy Barreto,

Amarílis Donald, Jessica Figueiredo, João Paulo, por todos os momentos de alegria, diversão

e ajuda na minha construção acadêmica e profissional.

Aos amigos que conquistei durante o tempo de curso, Vinicius Rocha, Leonardo Vergasta,

Weslley Brito, Aline Correa, Adriano Pedrosa e Rildo Moura, pelas trocas de informações,

conhecimentos, risos e companheirismo.

E ainda aos meus alunos do Colégio da Polícia Militar do Amazonas, Beatriz Fonseca,

Kamilla Mariah, Deborah Dourado, Ingrid Chaves, Thaís Shaianne, por confiarem nos meus

ensinamentos e ainda por todo o respeito e carinho como professor.

Page 5: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

5

RESUMO

O modelo regional ETA do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos

(CPTEC/INPE) foi utilizado a fim de avaliar os impactos decorrentes das mudanças na

cobertura vegetal e uso da terra (desflorestamento) nos componentes do balanço de água e

Reciclagem de Precipitação na Amazônia. De forma geral, a distribuição espacial e sazonal

dos componentes do balanço de água e reciclagem de precipitação sobre o continente foi bem

representada pelo modelo regional ETA nas estações úmida e seca. Entretanto, o modelo

subestimou a precipitação em grande parte do país na estação úmida, principalmente nas

porções central-leste da Amazonia e Nordeste do Brasil, e superestimou no extremo noroeste

do continente e sobre a Cordilheira dos Andes. Em relação aos impactos decorrentes das

mudanças nos usos da terra na Amazônia na temperatura do ar, nos componentes de balanço

de água e na reciclagem de precipitação, não se observou mudança significativa para o

desflorestamento do ano base de 2010. Entretanto, as mudanças mais siginificativas

ocorreram nos cenários de desflorestamento de 2050 e 2100. Na média, a temperatura do ar

apresentou aumento de 1,5oC, 3,0

oC e 4,5

oC para os cenários 2010, 2050 e 2100. A

precipitação sofreu reduções de até 13% para o cenário 2050 e de 35% em 2100. A

evapotranspiração e a convergência de umidade tiveram impactos de -13,3% e +7%

respectivamente, para o cenário 2050, e ainda de -36,7% e +14% para o cenário 2100,

respectivamente. Em ambos os casos predominou-se o mecanismo de retroalimentação

negativo no qual, a redução relativa na evapotranspiração na média foi maior que a redução

na precipitação (aumento na convergência de umidade), o que representa um melhor cenário

se comparado com mecanismo positivo, pois o mecanismo de retroalimentação negativo tem

o papel de restaurar a degradação gerada na cobertura vegetal se a degradação antropogênica

for eliminada. Com relação à reciclagem de precipitação, observaram-se reduções de 9% e

29%, respectivamente, para os cenários 2050 e 2100. Na estação úmida a reciclagem foi

reduzida de 7,8% e 22%, respectivamente; e na estação seca as reduções foram de 12% e 33%

para os mesmos cenários, mostrando que os maiores impactos na reciclagem de precipitação

ocorreram na estação seca da bacia. A intensa redução na reciclagem de precipitação na

estação seca é um resultado preocupante, pois as mudanças na taxa de precipitação produzida

localmente podem estar associadas a um período seco mais longo.

Page 6: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

6

ABSTRACT

The regional model ETA for Weather Prediction and Climate Studies Center

(CPTEC/INPE) was used to assess the impacts of changes in vegetal cover and land use

(deforestation) in the components of the water balance and precipitation recycling in the

Amazon. In general, the spatial and seasonal distribution of the components of the water

balance and recycling of precipitation over the continent was well represented by ETA model

in wet and dry seasons. However, the model underestimated precipitation in much of the

country during the wet season, especially in the central-eastern portion of the Amazon and

Northeast regions of Brazil, and overestimated in the extreme northwest of the continent and

over the Andes Mountains. Regarding the impacts of changes in land use in the Amazon in air

temperature, the water balance components and recycling of rainfall, there was no significant

change to the base year of the deforestation of 2010. However, the most significant changes

occurred in deforestation scenarios 2050 and 2100. On average, the air temperature increased

by 1,5°C, 3,0°C and 4.5 °C for scenarios in 2010, 2050 and 2100. Precipitation suffered up to

13% reductions for the scene in 2050 and 35% in 2100. The evapotranspiration and moisture

convergence had impacts of -13.3% and + 7% respectively for the scene in 2050, and still -

36.7% and + 14% for scenario 2100, respectively. In both cases it predominated the negative

feedback mechanism in which the relative decrease in evaporation on average was greater

than the reduction in precipitation (increase in moisture convergence), which represents a best

case scenario compared with a positive mechanism for the negative feedback mechanism

plays a role in restoring the degradation generated in vegetation cover to anthropogenic

degradation is eliminated. Regarding the recycling of precipitation, 9% reductions were

observed and 29% respectively for scenarios in 2050 and 2100. In the wet season the

recycling was reduced from 7.8% and 22%, respectively; and in the dry season the reductions

were 12% and 33% for the same scenarios, showing that the greatest impacts on rainfall

recycling occurred in the dry season of the basin. The intense decrease in rainfall recycling in

the dry season is a troubling result because the changes in locally produced precipitation rate

may be associated with a longer dry period.

Page 7: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

7

Sumário

LISTA DE FIGURAS.................................................................................................................9

LISTA DE TABELAS..............................................................................................................14

LISTA DE QUADROS.............................................................................................................15

CAPÍTULO 1............................................................................................................................16

INTRODUÇÃO............................................................................................................16

1.1 Hipótese.......................................................................................................20

1.2 Objetivo.......................................................................................................21

1.2.1 Objetivos específicos....................................................................21

CAPÍTULO 2............................................................................................................................23

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................23

2.1 Características do clima amazônico............................................................23

2.2 Mecanismos de retroalimentação de umidade.............................................25

2.3 Reciclagem de precipitação: estudos observacionais e numéricos..............26

2.4 Desflorestamento: estudos observacionais e numéricos..............................31

CAPÍTULO 3............................................................................................................................36

MATERIAS E MÉTODOS...........................................................................................36

3.1 Área de estudo.............................................................................................36

3.2 Método utilizado para quantificar a reciclagem de precipitação.................37

3.2.1 Método proposto por Trenberth....................................................38

3.3 Modelo regional Eta....................................................................................40

3.3.1 Coordenada vertical......................................................................40

3.3.2 Grade horizontal...........................................................................41

3.3.3 Dinâmica.......................................................................................42

3.3.4 Processos físicos...........................................................................42

Page 8: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

8

3.4 Cenários de mudanças nos usos da terra.....................................................43

3.5 Estratégia de integração numérica...............................................................45

3.6 Validação do modelo regional.....................................................................47

CAPÍTULO 4............................................................................................................................49

VALIDAÇÃO...............................................................................................................49

4.1 Precipitação.................................................................................................49

4.2 Evapotranspiração.......................................................................................56

4.3 Fluxo e Convergência de umidade..............................................................57

4.4 Balanço de umidade....................................................................................61

CAPÍTULO 5............................................................................................................................64

IMPACTOS REGIONAIS............................................................................................64

5.1 Temperatura do ar........................................................................................64

5.2 Evapotranspiração.......................................................................................66

5.3 Convergência e Fluxo de umidade..............................................................69

5.4 Precipitação.................................................................................................75

5.5 Mudanças Sazonais no Balanço de água.....................................................77

5.5.1 Bacia Amazônica..........................................................................78

5.5.2 Amazônia Sul................................................................................80

5.5.3 Amazônia Norte............................................................................83

5.6 Reciclagem de Precipitação.........................................................................85

5.7 Balanço de Umidade....................................................................................90

5.8 Impactos Remotos.......................................................................................96

CAPÍTULO 6..........................................................................................................................106

CONCLUSÕES...........................................................................................................106

6.1 Sugestões para Trabalhos Futuros.............................................................110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................111

Page 9: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1– Taxa média do desflorestamento na Amazônia (km2ano

-1) para o período de 1988

a 2014........................................................................................................................................17

Figura 1.2 - Modelo conceitual de reciclagem de precipitação. Os termos Pm e Pa referem-se

às taxas de precipitação provenientes da evapotranspiração e do vapor d‟água advectados para

a região, respectivamente; Fine Fout são os fluxos de vapor d´água que entra e sai da região

considerada, respectivamente; E é a taxa de evapotranspiração e W é o armazenamento de

água na atmosfera (água precipitável)......................................................................................20

Figura 2.1 - Distribuição espacial e temporal da precipitaçãona região amazônica.................25

Figura 2.2 - Regiões onde foi calculada a reciclagem de precipitação apresentada na tabela

2.1. R é a reciclagem de precipitaçãp e CF é a fração continental de

precipitação...............................................................................................................................27

Figura 3.1 - O bioma amazônico de acordo com área de abrangência do respectivo estudo....37

Figura 3.2 - Modelo conceitual de reciclagem de precipitação. Os termos Pm e Pa referem-se

às taxas de precipitação provenientes da evapotranspiração e do vapor d‟água advectados para

a região, respectivamente; Fin e Fout são os fluxos de vapor d´água que entra e sai da região

considerada, respectivamente;E é a taxa de evapotranspiração e W é o armazenamento de

água na atmosfera (água precipitável)......................................................................................38

Figura 3.3 - Coordenada vertical eta (utilizada no modelo de área limitada ETA. Destaca-

se também na figura a coordenada vertical sigma (e a variação das coordenadas verticais

em relação a topografia.............................................................................................................41

Figura 3.4 - Grade E de Arakawa, H representa as variáveis de massa e V representa as

variáveis de vento......................................................................................................................41

Figura 3.5 - Cenários de cobertura vegetal a serem utilizados nas simulações com o modelo

regional ETA (a) Mapa de vegetação elaborado pelo Projeto ProVeg com áreas desflorestadas

Page 10: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

10

(ano base 2000); (b) Cenário projetado para o ano de 2050 e c) Cenário projetado para o ano

de 2100. Ambos cenários futuros elaborados pelo modelo DINÂMICA. Resolução: 1x1 km.

Cores: Verde (floresta), Amarelo (Cerrado), Azul (Água) e Vermelho (Pastagem

degradada).................................................................................................................................44

Figura 4.1- Distribuição da precipitação (mm dia-1

) para o período de fevereiro-abril (FMA):

(a) Simulada pelo modelo regional ETA; (b) GPCP, (c) GPCC, (d) MERGE, (e) CMAP, (f)

(CRU). Bias (mm dia-1

): (g) GPCP-ETA, (h) GPCC-ETA, (i) MERGE-ETA, (j) CMAP-ETA,

(k) CRU-ETA; REMQ (mm dia-1

): (l) GPCP-ETA, (m) GPCC-ETA, (n), MERGE-ETA, (o)

CMAP-ETA, (p) CRU-ETA.Coeficiente de correlação: (q) GPCP-ETA, (r) GPCC-ETA, (s)

MERGE-ETA, (t) CMAP-ETA e (u) CRU-ETA......................................................................51

Figura 4.2- Distribuição da precipitação (mm dia-1

) para o período de fevereiro-abril (JAS):

(a) Simulada pelo modelo regional ETA;(b) GPCP, (c) GPCC, (d) MERGE, (e) CMAP, (f)

(CRU). Bias (mm dia-1

): (g) GPCP-ETA, (h) GPCC-ETA, (i) MERGE-ETA, (j) CMAP-ETA,

(k) CRU-ETA; REMQ (mm dia-1

): (l) GPCP-ETA, (m) GPCC-ETA, (n), MERGE-ETA, (o)

CMAP-ETA, (p) CRU-ETA. Coeficiente de correlação: (q) GPCP-ETA, (r) GPCC-ETA, (s)

MERGE-ETA, (t) CMAP-ETA e (u) CRU-ETA......................................................................53

Figura 4.3- Regiões utilizadas para avaliação da variação sazonal da precipitação. Toda a

bacia amazônica (rosa), porção norte da bacia amazônica (verde) e porção sul da bacia

amazônica (preto)......................................................................................................................54

Figura 4.4– Variação sazonal da precipitação (mm dia-1

) simulada pelo modelo ETA e

proveniente das diferentes fontes: GPCP, GPCC, MERGE, CMAP e CRU. (a) bacia

amazônica, (b) porção norte da bacia amazônica e (c) porção sul da bacia

amazônica..................................................................................................................................55

Figura 4.5- Distribuição da evapotranspiração (mm dia-1

) para o período de fevereiro-abril

(FMA): (a) Simulado pelo modelo regional ETA, (a) NCEP/NCAR; (c) bias (mm dia-1

); (d)

REMQ (mm dia-1

); (e) coeficiente de correlação. Distribuição da evapotranspiração (mm dia-

1) para o período de julho-setembro (JAS): (f) Simulado pelo modelo regional ETA, (g)

NCEP/NCAR; (h) bias (mm dia-1

); (i) REMQ e (j) coeficiente de

correlação..................................................................................................................................57

Figura 4.6- Média sazonal do fluxo de vapor d‟água integrado verticalmente (kg m-1

s-1

) para

a estação úmida (FMA): (a) simulada pelo modelo regional ETA, (b) reanálises do

NCEP/NCAR (c) bias (kg m-1

s-1

). Estação seca (JAS): (d) simulada pelo modelo regional

ETA, (e) reanálises do NCEP/NCAR, (f) bias (kg m-1

s-1

).......................................................60

Page 11: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

11

Figura 4.7- Média sazonal da convergência do fluxo de umidade (mm dia-1

) para o a estação

úmida (FMA): (a) simulada pelo modelo regional ETA, (b) reanálises do NCEP/NCAR (c)

bias (mm dia-1

). Estação seca (JAS): (d) simulada pelo modelo regional ETA, (e) reanálises

do NCEP/NCAR, (f) bias (kg m-1

s-1

)........................................................................................61

Figura 5.1 – Impactos na temperatura do ar (°C) decorrentes dos cenários de mudanças nos

usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição da temperaturapara o

cenário CNTRL; (B) Impactos na temperatura decorrentes do cenário 2010 em relação ao

CNTRL; (C) Impactos na temperatura decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL;

(D) Impactos na temperatura decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL. Inverno:

(E) Distribuição da temperatura para o cenário CNTRL; (F) Impactos na temperatura

decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (G) Impactos na temperatura decorrentes

do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (H) Impactos na temperatura decorrentes do cenário

2100 em relação ao CNTRL.....................................................................................................66

Figura 5.2 - Impactos na evapotranspiração (mm dia-1

) decorrentes dos cenários de mudanças

nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição de evapotranspiração

para o cenário CNTRL; (B) Impactos na evapotranspiração decorrentes do cenário 2010 em

relação ao CNTRL; (C) Impactos na evapotranspiração decorrentes do cenário 2050 em

relação ao CNTRL; (D) Impactos na evapotranspiração decorrentes do cenário 2100 em

relação ao CNTRL. Inverno: (E) Distribuição de evapotranspiração para o cenário CNTRL;

(F) Impactos na evapotranspiração decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (G)

Impactos na evapotranspiração decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (H)

Impactos na evapotranspiração decorrentes do cenário 2100 em relação ao

CNTRL......................................................................................................................................69

Figura 5.3 - Impactos na convergência de umidade (mm dia-1

) decorrentes dos cenários de

mudanças nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição de

convergência de umidade para o cenário CNTRL; (B) Impactos na convergência de umidade

decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (C) Impactos na convergência de

umidade decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (D) Impactos na convergência

de umidade decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL. Inverno: (E) Distribuição de

convergência de umidade para o cenário CNTRL; (F) Impactos na convergência de umidade

decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (G) Impactos na convergência de

umidade decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (H) Impactos na convergência

de umidade decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL.............................................71

Figura 5.4 - Impactos no fluxo de umidade (kg m-1

.s-1

) decorrentes dos cenários de mudanças

nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição do fluxo de umidade

para o cenário CNTRL; (B) Impactos no fluxo de umidade decorrente do cenário 2010 em

relação ao CNTRL; (C) Impactos no fluxo de umidade decorrente do cenário 2050 em relação

ao CNTRL; (D) Impactos no fluxo de umidade decorrentes do cenário 2100 em relação ao

CNTRL. Inverno: (E) Distribuição do fluxo de umidade para o cenário CNTRL; (F) Impactos

no fluxo de umidade decorrente do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (G) Impactos no

Page 12: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

12

fluxo de umidade decorrente do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (H) Impactos no fluxo

de umidade decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL.............................................74

Figura 5.5– Impactos na precipitação (mm dia-1

) decorrentes dos cenários de mudanças nos

usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição da precipitação para o

cenário CNTRL; (B) Impactos na precipitação decorrentes do cenário 2010 em relação ao

CNTRL; (C) Impactos na precipitação decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL;

(D) Impactos na precipitação decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL. Inverno:

(E) Distribuição de precipitação para o cenário CNTRL; (F) Impactos na precipitação

decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (G) Impactos na precipitação decorrentes

do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (H) Impactos na precipitação decorrentes do cenário

2100 em relação ao CNTRL.....................................................................................................77

Figura 5.6 – Ciclo anual das variáveis do balanço de umidade para toda a região Amazônica

para o cenário CNTRL e os três cenários de mudanças no uso da terra 2010, 2050 e 2100: (A)

Precipitação (mm dia-1

); (B) Evapotranspiração (mm dia-1

); (C) Convergência de umidade

(mm dia-1

); (D) Fluxo de umidade (kg m-1

s-1

); (E) Escoamento superficial (mm dia-1

)..........79

Figura 5.7 – Ciclo anual das variáveis do balanço de umidade para a porção Sul da região

Amazônica para o cenário CNTRL e os três cenários de mudanças no uso da terra 2010, 2050

e 2100: (A) Precipitação (mm dia-1

); (B) Evapotranspiração (mm dia-1

); (C) Convergência de

umidade (mm dia-1

); (D) Fluxo de umidade (kg m-1

s-1

); (E) Escoamento superficial (mm dia-

1)................................................................................................................................................82

Figura 5.8 – Ciclo anual das variáveis do balanço de umidade para a porção Norte da região

Amazônica para o cenário CNTRL e os três cenários de mudanças no uso da terra 2010, 2050

e 2100: (A) Precipitação (mm dia-1

); (B) Evapotranspiração (mm dia-1

); (C) Convergência de

umidade (mm dia-1

); (D) Fluxo de umidade (kg m-1

.s-1

); (E) Escoamento superficial (mm dia-

1)................................................................................................................................................84

Figura 5.9 – Distribuição mensal da reciclagem de precipitação (%) para o Cenário CNTRL:

(A) Janeiro; (B) Fevereiro; (C) Março; (D) Abril; (E) Maio; (F) Junho; (G) Julho; (H) Agosto;

(I) Setembro; (J) Outubro; (K) Novembro; (L) Dezembro.......................................................87

Figura 5.10 - Distribuição sazonal da reciclagem de precipitação (%) para o cenário CNTRL;

(A) Trimestre Fevereiro-março-abril; (B) Trimestre Maio-Junho-Julho; (C) Trimestre Julho-

Agosto-Setembro; (D) Trimestre Outubro-Novembro-Dezembro...........................................88

Page 13: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

13

Figura 5.11 - Impactos na reciclagem de precipitação (%) decorrentes dos cenários de

mudanças nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição da

reciclagem de precipitação para o cenário CNTRL; (B) Impactos na reciclagem de

precipitação decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (C) Impactos na reciclagem

de precipitação decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (D) Impactos na

reciclagem de precipitação decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL. Inverno: (E)

Distribuição da reciclagem de precipitação para o cenário CNTRL; (F) Impactos na

reciclagem de precipitação decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (G) Impactos

na reciclagem de precipitação decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (H)

Impactos na reciclagem de precipitação decorrentes do cenário 2100 em relação ao

CNTRL......................................................................................................................................90

Figura 5.12 – Regiões selecionadas para avaliação dos impactos das mudanças nos usos da terra na

precipitação total, precipitação advectada e local. Rosa - região Amazônica; Preto – Nordeste

brasileiro; Amarelo – Sudeste brasileiro; Verde – Sul do Brasil; Vermelho – Bacia do Prata..............96

Figura 5.13 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e advectada

(mm.dia-1

) para a região Amazônica, nos quatro cenários simulados pelo modelo regional

ETA. (A) Precipitação total, (B) Precipitação local e (C) Precipitação advectada.................101

Figura 5.14 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e advectada

(mm.dia-1

) para a região Nordeste, nos quatro cenários simulados pelo modelo regional ETA.

(A) Precipitação total, (B) Precipitação local e (C) Precipitação advectada...........................102

Figura 5.15 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e advectada

(mm.dia-1

) para a região Sudeste, nos quatro cenários simulados pelo modelo regional ETA.

(A) Precipitação total, (B) Precipitação local e (C) Precipitação advectada...........................103

Figura 5.16 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e advectada

(mm.dia-1

) para a região Sul, nos quatro cenários simulados pelo modelo regional ETA. (A)

Precipitação total, (B) Precipitação local e (C) Precipitação advectada.................................104

Figura 5.17 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e advectada

(mm.dia-1

) para a bacia do Prata, nos quatro cenários simulados pelo modelo regional ETA.

(A) Precipitação total, (B) Precipitação local e (C) Precipitação advectada...........................105

Page 14: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

14

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 - Taxa de desflorestamento anual (km²/ano) em todos os estados da Amazônia

brasileira....................................................................................................................................18

Tabela 2.1 - Média anual da reciclagem de precipitação para diferentes regiões.....................28

Tabela 2.2 - Comparação de resultados de alguns experimentos de desflorestamento

utilizando modelos de circulação geral da atmosfera (MCGA) e modelos regionais

(MR)..........................................................................................................................................35

Tabela 3.1– Parâmetros biofísicos dos modelos de biosfera utilizados de acordo com o tipo de

vegetação...................................................................................................................................45

Tabela 3.2– Características das integrações numéricas para cada experimento utilizando o

modelo regional ETA-CPTEC..................................................................................................46

Tabela 4.1 – Componentes do balanço de umidade (mm.dia-1

) simulados pelo modelo regional

ETA e estimativas de precipitação (MERGE) e reanálises do NCEP/NCAR: para a média

anual, estações úmida e seca, e também para toda a bacia, porções norte e porção sul. P –

precipitação; E – evapotranspiração; R – escoamento superficial; C – convergência de

umidade; incremento de análise e medida relativo do

balanço......................................................................................................................................63

Tabela 5.1 – Componentes do balanço de umidade simulados pelo modelo regional ETA para

os quatros cenários de mudanças do uso da terra CNTRL, 2010, 2050 e 2100: para a média

anual, período úmido e período seco para as regiões Amazônica, porção Norte e Sul da bacia

Amazônica. P – precipitação (mm.dia-1

); E - evapotranspiração (mm.dia-1

); C – convergência

de umidade (mm.dia-1

); F - fluxo de umidade (kg m-1

.s-1

); R – escoamento superficial

(mm.dia-1

); REC – reciclagem de precipitação (%)..................................................................95

Page 15: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

15

Tabela 5.2 – Partição da precipitação segundo o modelo proposto por Trenberth simulados

pelo modelo regional ETA para os quatros cenários de mudanças do uso da terra CNTRL,

2010, 2050 e 2100 para a média anual, período úmido e período seco para as regiões

mostradas na figura 5.12. P – precipitação Total (mm.dia-1

); Pl - precipitação proveniente da

evapotrasnpiração local (mm.dia-1

); Pa – precipitação proveniente de outras regiões

(advectada) (mm.dia-1

)............................................................................................................100

LISTA DE QUADROS

Quadro 3.1 – Parametrizações incluídas no modelo regional ETA-CPTEC............................43

Page 16: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

16

CAPÍTULO 1

1. Introdução

A Amazônia possui a maior floresta tropical úmida do mundo com uma área total de

aproximadamente 6,3 milhões de km2, com cerca de 5 milhões em território brasileiro, o que

representa 56% das florestas tropicais da Terra. A Amazônia está posicionada nos trópicos,

onde as trocas de energia, umidade e massa entre a superfície continental e a atmosfera são

bastante intensas, fornecendo uma série de serviços ambientais fundamentais, tais como:

manutenção da biodiversidade, o armazenamento e absorção do excesso de carbono da

atmosfera e o transporte de gases traço, aerossóis e vapor d‟água para outras regiões do país e,

principalmente, a reciclagem de precipitação, e dessa forma, contribuindo para manutenção

do clima em escalas regional e global (Fearnside, 2003 e 2005; Rocha et al., 2004).

Devido a sua grande extensão, a floresta amazônica desempenha papel importante nos

balanços globais de carbono e água entre a superfície e a atmosfera (Grace et al., 1996; Malhi

et al., 1998; Cox et al., 2004; Marengo, 2006a,b). Recentes medidas realizadas durante o

Experimento de Grande Escala da Biosfera Atmosfera na Amazônia – LBA (Avissar e Nobre,

2002) indicam forte tendência de que as florestas não perturbadas da Amazônia funcionam

como pequenos sumidouros do excesso de dióxido de carbono da atmosfera (Phillips et al.,

2008). Com relação ao balanço de água, a Amazônica atua como uma das fontes

indispensáveis de calor para a atmosfera global por meio de sua intensa evapotranspiração e

liberação de calor latente de condensação na média e alta troposfera em nuvens convectivas

tropicais, contribuindo para a geração e manutenção da circulação atmosférica em escalas

regional e global (Artaxo et al., 2005; Fearnside, 2005; Marengo, 2006; Malhi et al., 2008;

Nobre et al., 2009a,b; Satyamurty et al., 2013). No presente, a bacia amazônica comporta-se

como um sumidouro de umidade da atmosfera, recebendo vapor d‟água tanto da floresta

tropical por meio da intensa reciclagem de precipitação (Trenberth, 1999), quanto do

transporte de umidade proveniente do Oceano Atlântico tropical (Marengo, 2005 e 2006b).

No contexto da circulação regional, a floresta amazônica constitui-se uma importante fonte de

umidade para o Centro, Sudeste e Sul do Brasil, assim como para o norte da Argentina,

incluindo a bacia do Prata, contribuindo para a ocorrência de precipitação nessas regiões

(Vera et al., 2006; Correia et al., 2007; Satyamurty et al., 2013).

Entretanto, a floresta amazônica é sensível às variabilidades e mudanças no sistema

climático, devido tanto às variações naturais, inerentes ao próprio sistema (interações não

Page 17: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

17

lineares), quanto às antropogênicas, tais como: o aumento na concentração dos gases do efeito

estufa (GEE) na atmosfera e as mudanças no uso da terra, por exemplo: desflorestamento,

atividades agrícolas e urbanização (Costa e Yanagi, 2006; Correia et al., 2007; Foley et al.,

2007; D‟Almeida et al., 2007; Betts et al., 2008; Malhi et al., 2008).

Segundo levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), a taxa

de desflorestamento na Amazônia foi aproximadamente 5.500 km² no período de 2014 a

2015, com um aumento de 14% em relação ao período anterior (2013-2014), sendo a região

do Estado do Mato Grosso a área mais afetada (Tabela 1.1). Considerando a série histórica do

monitoramento mostrado na Figura 1.1, o desflorestamento total na Amazônia foi de

aproximadamente 413506 km², aproximadamente 15% do total da floresta amazônica

brasileira, com uma média anual de 14.800 km² entre os anos de 1988 a 2015 (INPE, 2015). A

forma mais detectável de mudanças no uso da terra na Amazônia tem sido a conversão de

florestas de dosséis fechados em campos de pastagens e de cultivos (Correia, 2005). Outras

formas de mudanças no uso da terra, em geral não incluídas nos levantamentos, são os cortes

seletivos de árvores para exploração madeireira e a conversão de áreas de cerrado e floresta

em campos para cultivos (Fearnside, 2003).

FIGURA 1.1 – Taxa média do desflorestamento na Amazônia (km2ano

-1) para o período de

1988 a 2015. Fonte: PRODES (2015)

Page 18: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

18

Tabela 1.1 - Taxa de desflorestamento anual (km²/ano) em todos os estados da Amazônia

brasileira.

Estado/ano 2004-2010

(km²)

2011

(km²)

2012

(km²)

2013

(km²)

2014

(km²)

2015

(km²)

Acre 2.582 280 305 221 309 279

Amazonas 5.009 502 523 583 500 769

Amapá 344 66 27 23 31 13

Maranhão 5.793 396 269 403 257 217

Mato Grosso 31148 1120 757 1139 1075 1508

Pará 39612 3008 1741 2346 1887 1881

Rondônia 12815 865 773 932 684 963

Roraima 1935 141 124 170 219 148

Tocantins 833 40 52 74 50 53

Amazônia Legal 100098 6418 4571 5891 5012 5831

A avaliação dos impactos do desflorestamento no clima, utilizando tanto dados

observados quanto modelos numéricos do sistema climático, têm sido realizados em

diferentes estudos propostos na literatura como: Voldoire e Royer, 2004; Correia et al., 2006;

Sampaio et al., 2007; Foley et al., 2007; D‟Almeida et al., 2007; Betts et al., 2008; Nobre et

al., 2009, Rocha e Correia, 2010). Von Randow et al. (2004) avaliaram o microclima de áreas

de floresta tropical (Rebio Jaru, Rondônia) e de pastagem (Fazenda Nossa Senhora,

Rondônia) na Amazônia utilizando medidas micrometeorológicas e de fluxos de radiação, de

energia e de CO2 no escopo do projeto LBA. Os autores observaram que na estação chuvosa a

fração de evaporação na pastagem é 17% menor do que na floresta, com esta diferença

aumentando para 24% na estação seca; a temperatura superficial apresenta pouca variação

durante o ano; a umidade específica e a precipitação são muito reduzidas durante a estação

seca nos dois sítios em comparação com a estação chuvosa; comparando os dois sítios há

grandes diferenças na precipitação, umidade específica e déficit de umidade específica.

Page 19: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

19

Modelos numéricos de circulação geral da atmosfera (MCGA) e modelos regionais

(MR) têm sido aperfeiçoados e empregados, cada vez mais, em estudos que envolvam trocas

de energia, água e momentum entre a superfície e a atmosfera, bem como para avaliar as

consequências climáticas decorrentes do desflorestamento parcial e de grande escala na

Amazônia. De forma geral, os diferentes estudos de modelagem numérica mostram que o

desflorestamento de grande escala na Amazônia conduz a impactos significativos nos

balanços de radiação, de energia e de água, com aumento na temperatura da superfície (1-

3oC), redução na evapotranspiração (- 40%) e redução na precipitação total da ordem de 30%

(Nobre et al., 1991; Manzi e Planton, 1996; Voldoire e Royer, 2004, Correia et al., 2007). Um

resultado importante no cenário de desflorestamento de grande escala é a maior redução na

precipitação sobre a Amazônia em relação à correspondente redução na evapotranspiração,

significando que a convergência do fluxo de umidade pode diminuir como resultado do

desmatamento, conduzindo assim, a um período seco maior na região. Entretanto, o

desflorestamento na Amazônia pode produzir efeitos climáticos contrastantes dependendo da

escala espacial associada às mudanças na cobertura vegetal, com aumento na precipitação em

cenários de desflorestamento de pequena escala e redução na precipitação em cenários de

grande escala, conforme também observado em diferentes estudos com modelos de circulação

global e regional (Baidya Roy e Avissar, 2002; Correia et al., 2007; D‟Almeida et al., 2007,

Rocha e Correia, 2010).

Embora os diferentes estudos sobre as mudanças nos usos da terra na Amazônia

tenham produzido novos conhecimentos acerca da interação entre os processos de superfície e

o ciclo hidrológico na região, os efeitos dos desflorestamentos no mecanismo de reciclagem

de precipitação na Amazônia ainda não são completamente compreendidos. O conceito de

reciclagem de precipitação refere-se ao mecanismo de retroalimentação “feedback” entre o

sistema superfície-atmosfera onde a evapotranspiração local contribui, significativamente, na

precipitação total sobre uma região (Figura 2.1). Em outras palavras, a reciclagem de

precipitação pode ser definida como a quantidade de água que evapotranspirada da superfície

terrestre em uma determinada região retorna na forma de precipitação sobre a mesma região

(Brubaker et al., 1993; Eltahir e Bras, 1994; Trenberth, 1999).

Page 20: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

20

Figura 1.2 – Modelo conceitual de reciclagem de precipitação. Os termos Pm e Pa referem-se

às taxas de precipitação provenientes da evapotranspiração e do vapor d‟água advectados para

a região, respectivamente; Fine Fout são os fluxos de vapor d´água que entra e sai da região

considerada, respectivamente; E é a taxa de evapotranspiração e W é o armazenamento de

água na atmosfera (água precipitável). Fonte: Adaptado de Brubaker et al. (1993).

A grande maioria dos estudos sobre reciclagem de precipitação tem demonstrado que a

quantificação desse mecanismo (reciclagem de precipitação) é um forte indicador da

importância dos processos de superfície e do clima no ciclo hidrológico, assim como um

indicador da sensibilidade climática relacionada às alterações nesses processos (Silva, 2009;

Van der Ent et al., 2010; Satyamurty et al., 2013). Além disso, esses e outros estudos também

têm demonstrado que esse mecanismo é fortemente influenciado pela precipitação total, pela

evapotranspiração da superfície e pelo transporte de vapor d‟água sobre a região (Nóbrega et

al., 2005; Trenberth, 1999; Brubaker et al., 1993).

Diante dos possíveis impactos regionais decorrentes das alterações nos usos da terra

(desflorestamento) no clima, uma questão importante que se destaca na comunidade cientifica

é: “De que maneira o desflorestamento pode modificar o balanço de água e,

consequentemente, a Reciclagem de Precipitação na Amazônia?” Visando responder a

pergunta acima, foi realizado um estudo de sensibilidade do clima decorrente das mudanças

nos usos da terra na Amazônia. Como ferramentas utilizou-se o modelo regional ETA do

Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC-INPE) e cenários de mudanças

nos usos da terra na Amazônia.

1.1 Hipótese

Com base nos trabalhos citados anteriormente, a hipótese considerada nesse estudo é:

As mudanças na cobertura vegetal e uso da terra, decorrente de ações antropogênicas, alteram

Page 21: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

21

de forma significativa os componentes do balanço de água, e consequentemente, a reciclagem

de precipitação na Amazônia.

1.2 Objetivos

Para verificar essa hipótese, o objetivo deste trabalho é realizar um estudo de

modelagem numérica a fim de avaliar os impactos decorrentes das mudanças na cobertura

vegetal e uso da terra (desflorestamento) na Reciclagem de Precipitação na Amazônia. Para o

cálculo da reciclagem de precipitação será utilizado um método fundamentado no balanço de

umidade na atmosfera. Nas simulações numéricas será utilizado o modelo climático de área

limitada ETA do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE) e

também cenários de mudanças nos usos da terra (desflorestamento) na Amazônia referentes

ao estado atual e projeções para cenários futuros.

1.2.1 Objetivos específicos:

a) Determinar o papel da variabilidade natural do clima no mecanismo de reciclagem de

precipitação na Amazônia;

b) Determinar a variabilidade espaço-temporal dos componentes do balanço de água

referentes ao estado atual e cenários futuros de desflorestamento na Amazônia;

c) Determinar a variabilidade espaço-temporal da reciclagem de precipitação referentes

ao estado atual e cenários futuros de desflorestamento na Amazônia;

d) Determinar o papel dos mecanismos físicos responsáveis no processo de reciclagem de

precipitação referentes ao estado atual e cenários futuros de desflorestamento na

Amazônia;

Este trabalho está estruturado da seguinte maneira: no Capítulo 2, é discutido o estado

da arte sobre o tema fazendo uma revisão do clima amazônico e os mecanismos de

retroalimentação envolvidos no processo de reciclagem de precipitação; revisão dos estudos

observacionais e de modelagem numérica realizados com o objetivo de quantificar a

reciclagem de precipitação em diferentes regiões do planeta e os estudos de modelagem

numérica dos impactos no clima decorrentes do desflorestamento parcial e de grande escala

na Amazônia. No Capítulo 3, apresentam-se as principais características da área de estudo; os

métodos selecionados para quantificar a reciclagem de precipitação na bacia amazônica e as

bases de dados que serão utilizadas na etapa observacional e no processo de validação do

modelo regional. Na etapa de modelagem, são descritos o modelo climático regional ETA, do

Page 22: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

22

Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC/INPE*. Finalmente são

apresentadas a estratégia de simulação numérica e a metodologia de avaliação estatística que

será empregada no processo de validação do desempenho do modelo ETA-CPTEC. No

capítulo 4, apresentam-se a validação do modelo regional ETA. E finalmente no capítulo 5, os

impactos referetens às mudanças no uso da terra nos componentes do balanço de água e na

reciclagem de precipitação. Neste capítulo ainda se faz um estudo de como a ação

antropogênica na cobertura do solo impacta regiões remotas no regime de precipitação local e

advectada.

*INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. 2008. Monitoring the Brazilian Amazon forest by

satellite: 2006-2007. São José dos Campos.

Page 23: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

23

CAPÍTULO 2

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo são discutidas as principais características do clima da Amazônia, os

mecanismos de retroalimentação envolvidos no processo de reciclagem de precipitação; os

estudos observacionais e de modelagem numérica realizados para quantificar e avaliar a

reciclagem de precipitação em diferentes regiões, e finalmente, uma descrição geral dos

estudos observacionais e de modelagem numérica dos impactos no clima decorrentes do

desflorestamento parcial e de grande escala na Amazônia.

2.1 Características do clima amazônico

O clima atual da região Amazônica é uma combinação de vários fatores, sendo que o

mais importante é a disponibilidade de energia solar por meio do balanço de energia. A

Amazônia brasileira, situada na região entre 5oN e 10ºS recebe no topo da atmosfera um valor

máximo de radiação solar de 36,7 MJ.m-2

.dia-1

em dezembro-janeiro e um valor mínimo de

30,7 MJ.m-2

.dia-1

em junho-julho (Salati e Marques, 1984). Na Amazônia Central os maiores

valores de radiação que alcançam a superfície ocorrem nos meses de setembro-outubro com

os mínimos nos meses de dezembro a fevereiro, sendo controlada pela distribuição de

nebulosidade advinda da migração SE/NW da convecção (Fisch et al., 1998).

Na Amazônia a temperatura do ar a superfície apresenta uma pequena variação ao

longo do ano, decorrente dos altos valores de energia solar que incidem na superfície, com

exceção da parte mais ao sul da bacia (Rondônia, Mato Grosso e Acre), na qual sofre ação dos

sistemas frontais, denominados localmente de “friagens” comuns entre maio e setembro

(Fisch et al., 1998). As médias anuais mostram temperaturas variando entre 26 e 28°C na

região central equatorial e uma amplitude térmica sazonal é de 1-2°C (Marengo e Nobre,

2009). Na bacia, os climas predominantes são equatorial quente e úmido (Tipo Af) e clima de

monção (Tipo Am) de acordo com a classificação climática de Köppen (Alvares et al., 2014).

A precipitação média anual é de 2.300 mm apresentando intensa variabilidade espacial e

Page 24: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

24

temporal sobre a bacia. O regime de precipitação é influenciado por sistemas meteorológicos

de diferentes escalas, que interagem entre si, sendo eles (Rocha, 2001):

a) Sistemas de grande escala: zonas de convergências ligadas a circulações térmicas

diretas (ramo ascendente da circulação de Hadley-Walker), que migram sazonalmente

de noroeste para sudeste provocando, por exemplo, o aquecimento diabático no verão

do Hemisfério Sul responsável pela formação da Alta da Bolívia (AB);

b) Sistemas de escala sinótica (cerca de 1000 km): formação de aglomerados convectivos

associados à Zona de Convergência do Atlântico Sul no oeste, sudeste e sul da

Amazônia;

c) Sistemas sub-sinóticos (menores que 500 km): aglomerados de cumulonimbus (Cb)

associados às linhas de instabilidade (LI), tipicamente surgindo na costa Atlântica

forçadas pela circulação da brisa marítima e propagando-se para sudoeste Amazônia

adentro;

d) Sistemas de mesoescala e pequena escala: aglomerados de Cb (aproximadamente 100

km) e célula isolada de Cb (de 10 a 20 km).

Na região amazônica os maiores picos de precipitação estão localizados na fronteira entre

Brasil, Colômbia e Venezuela; na região costeira (litoral do Pará ao Amapá); e na região

Central da Amazônia (próximo a 5º S). Na fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela o

total anual é de 3500 mm/ano. Nessa região não há período de seca. Segundo Fisch (1998) o

alto valor de precipitação nessa região é devido à ascensão orográfica, pela Cordilheira dos

Andes, da umidade transportada pelos ventos alísios de leste da Zona de Convergência Inter-

Tropical (ZCIT). Na região costeira, a precipitação é alta e sem período de seca definido,

devido à influência das linhas de instabilidade que se formam ao longo da costa litorânea

durante o período da tarde e que são forçadas pela brisa marítima. O máximo de chuva que

ocorre na região central da Amazônia está associado com a penetração de sistemas frontais

advindo da região Sul, contribuindo assim para maior nebulosidade e precipitação (Figura

2.1).

Page 25: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

25

Figura 2.1 - Distribuição espacial e temporal da precipitaçãona região amazônica.

Fonte: Adaptado de Fisch et al. (1998).

2.2 Mecanismos de retroalimentação de umidade

A umidade que origina a precipitação sobre regiões continentais é proveniente de duas

fontes: (i) advecção de vapor d‟água oriundo de outras regiões por meio de movimentos de

massas de ar e (ii) o vapor d‟água local por meio da evapotranspiração da superfície da região.

A reciclagem de precipitação é definida como a água que evapora da superfície continental

dentro de um volume de controle e precipita no mesmo volume (Brubaker et al., 1993), ou

como o índice da razão da precipitação reciclada em relação à precipitação total.

A reciclagem de precipitação tem por característica uma relação não linear entre a

evapotranspiração, o transporte de umidade e a precipitação em uma região. A

evapotranspiração, por sua vez, depende da disponibilidade de umidade na área ou abaixo da

superfície (zona insaturada), que é evaporada diretamente ou através da transpiração da

vegetação. O transporte de umidade para a região depende da dinâmica atmosférica e das

fontes de origem da umidade. Consequentemente, qualquer alteração no uso e cobertura da

terra e também no clima que modifiquem esses processos pode afetar a quantidade de

precipitação sobre a região e também sua reciclagem.

Page 26: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

26

Por meio de estudos observacionais e de experimentos numéricos sabe-se que a

evapotranspiração da superfície tem dois efeitos:

1. A evapotranspiração aumenta a umidade atmosférica, o que favorece mais

precipitação. Dados observacionais sobre a Amazônia e em outras regiões (Eltahir e

Bras, 1994; Trenberth, 1999) mostram uma contribuição significativa da

evapotranspiração local para a umidade atmosférica. A importância relativa depende

da quantidade de umidade advectada para a região, isto é, a evapotranspiração terá

efeito pronunciado quando a umidade advectada for pequena. Bosilovich e Schubert

(2001) calcularam uma taxa de reciclagem de precipitação 20% menor sobre a região

central dos Estados Unidos durante a inundação de 1993, quando uma grande

quantidade de umidade foi advectada para a região. Esta taxa é maior que 60% durante

o mesmo mês no ano seco de 1988, associada com menores quantidades de umidade

advectada;

2. A evapotranspiração altera a termodinâmica da coluna vertical de água, favorecendo

precipitações futuras. Maior evapotranspiração (associada com solos úmidos) reduz

tanto o albedo da superfície quanto a razão de Bowen (Brutsaert, 1982). Isto resulta

em maior saldo de radiação à superfície e aumento na transferência de calor para a

atmosfera, o que implica em aumento na energia estática úmida da camada limite. A

energia estática úmida desempenha um importante papel na dinâmica das tempestades

convectivas locais, o que fortalece a circulação de monção em grande escala (Schar et

al., 1999; Eltahir, 1998).

2.3 Reciclagem de precipitação: estudos observacionais e numéricos

Vários estudos observacionais e de modelagem numérica têm sido realizados com o

objetivo de quantificar e avaliar a reciclagem de precipitação em diferentes regiões do

planeta, como por exemplo os de: Budyko (1974), Molion (1975), Brubaker et al. (1993),

Elthair e Bras (1994 e 1996), Savenije (1995), Trenberth (1999), Bosilovich e Schubert

(2001), Nóbrega et al. (2005), Van der Ent et al. (2010) e Satyamurty et al. (2013).

Diversos trabalhos realizados estimaram diferentes taxas de reciclagem de

precipitação sobre uma mesma região. Isto ocorre, dentre outros fatores, devido ao método

Page 27: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

27

utilizado para quantificar a reciclagem de precipitação, a fonte de dados utilizados e também o

período do ano considerado no estudo. Bosilovich e Schubert (2001), utilizando as reanálises

do National Aeronautics and Space Adrministration Goddard Earth Observing System

(GEOS-1), estimaram as taxas de reciclagem de precipitação sobre a região central dos

Estados Unidos em dois diferentes episódios de verão com dois métodos distintos: método

proposto por Brubaker et al. (1993) e o método proposto por Elthair e Bras (1996). Os autores

encontraram valores médios de reciclagem de precipitação da ordem de 25% e 36% para

ambos os períodos. A Tabela 2.1 apresenta os diferentes trabalhos propostos na literatura que

quantificam a reciclagem de precipitação média anual para algumas regiões. Os valores

médios encontrados nesses estudos podem ser também observados na Figura 2.2.

Figura 2.2 - Regiões onde foi calculada a reciclagem de precipitação apresentada na tabela

2.1. R é a reciclagem de precipitaçãp e CF é a fração continental de precipitação. Fonte:

Marengo (2006).

Budyko (1974) desenvolveu um modelo unidimensional para o cálculo da reciclagem

de precipitação a partir de dados de evapotranspiração e de umidade advectada para grandes

regiões. Neste estudo, o autor definiu a reciclagem de precipitação β como sendo a razão entre

Page 28: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

28

a precipitação gerada localmente e a precipitação total. Budyko (1974) estimou um valor

médio de reciclagem de precipitação sobre a Eurásia de aproximadamente 11%.

Tabela 2.1 - Média anual da reciclagem de precipitação sobre diferentes regiões.

Bacia Amazônica Mississipi Oesta da

África

Eurasia Métodos e dados

Budyko

(1974)

11% Método unidimensional

de Budyko, e dados

observados de várias

fontes.

Molion

(1975)

Marques et al.

(1977)

56%

50%

Baseado na taxa total

de evaporação e

precipitação na

Amazônia.

Brubakeret al.

(1993)

24% 24% 31% 11% Método bi-dimensional

de Budyko, e dados

observados.

Eltahir e Bras

(1994)

25%

35%

Modelo numérico bi-

dimensional e duas

fontes de dados:

ECMWF e GFDL

Trenberth

(1999)

34% 21% Modelo de Brubakeret

al. (1993) com base na

escala de comprimento

L. Dados do CMAP,

NVAP e NCEP

Costa e Foley

(1999)

30% Modelo de Eltahir e

Bras (1994a) e

reanálises do

NCEP/NCAR (1976 -

1996)

Nóbrega et al.

(2005)

24% Modelo de Trenberth

(1999) e dados de

reanálises do

NCEP/NCAR (1978-

1998)

Silva (2009)

27% Modelo de Brubackeret

al. (1993) e as

reanálises do

NCEP/NCAR (1979-

2007)

Van der Ent et

al. (2010)

28% 27% 45% 28% Reanálises do ECMWF

(ERA-Interim, 1999-

2008)

Satyamurty et

al. (2013)

30% Reanálises do

NCEP/NCAR (1978-

2010)

Page 29: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

29

Os estudos sobre o balanço de umidade na região amazônica foram inicialmente

realizados com observações de precipitação, vazões dos rios e dados de algumas poucas

estações de radiossondagem. Esses estudos mostraram que, em média, 50% da precipitação é

reciclada e volta à atmosfera por meio da evapotranspiração (Molion, 1975; Marques et al.,

1977). Outrossim, as pesquisas pioneiras consideraram que toda a evapotranspiração na bacia

era transformada em precipitação na própria região. No entanto, com base no estudo do

balanço dos isótopos de O18

do vapor d‟água que entra na região e nas águas do Rio

Amazonas, Salati et al. (1979) estimaram que grande parte do vapor que entra na região pelos

ventos alísios é transportado para fora da bacia e contribui para a geração de precipitação em

outras regiões. De acordo com os autores, esse fluxo de umidade é da ordem de

3 a 5 1012

m3 ano

-1 e parte desse vapor d‟água dirige-separa a região Centro-Sul do

continente sul-americano.

Brubaker et al. (1993) adaptaram o modelo desenvolvido por Budiko (1974) em duas

dimensões, com fluxos de umidade entrando e saindo em um volume de controle. Utilizando

dez anos de dados de vento e umidade observados, os autores determinaram a convergência

de vapor d‟água atmosférico e a fração da precipitação que tem origem local, sobre quatro

regiões continentais: Eurásia, África, América do Norte e Amazônia. De acordo com os

resultados obtidos, os autores verificaram que a contribuição da evapotranspiração para a

precipitação local varia sazonal e localmente. A reciclagem média anual determinada para as

quatro regiões foram: Eurásia – 11%; América do Norte – 24% e África Ocidental– 31%. Na

Amazônia, os valores máximo (32%) e mínimo (14%) foram estimados nos meses de

dezembro e junho, respectivamente.

Eltahir e Bras (1994) desenvolveram um modelo numérico bi-dimensional com dados

usados a partir de reanálises do ECMWF (European Centre for Medium-range Weather

Forecasts) e GDFL (Geophysical Fluid Dynamics Laboratory) para avaliar a reciclagem de

precipitação na Amazônia. Os autores encontraram que a contribuição da evapotranspiração

na precipitação local (média anual) para a Amazônia foi de 25% com dados do ECMWF e

35% com dados do GDFL. A diferença entre as duas estimativas fornece uma medida de erro

em torno das estimativas sobre a proporção da reciclagem, esses erros são na ordem de 10%

da precipitação total. O máximo de reciclagem de precipitação ocorreu no sudoeste da bacia

Amazônica com taxa de até 50%.

Page 30: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

30

Trenberth (1999) utilizou o modelo proposto por Brubacker et al. (1993) e os dados do

CMAP (Climate Prediction Center Merged Analysis of Precipitation), NVAP (National

Aeronautics and Space Water Vapor Project) e dados de reanálise do NCEP/NCAR (National

Centers for Enviromental Prediction - National Center for Atmospheric Research), no

período de 1979-1995, para avaliar a distribuição espacial e sazonal da reciclagem de

precipitação em escala global. Os resultados encontrados mostraram que a reciclagem de

precipitação é dependente do parâmetro de escala de comprimento L. A reciclagem de

precipitação obtida para a região Amazônica neste estudo foi da ordem de 34%, enquanto que

no Mississipi foi em torno de 21%. Os autores descrevem que as maiores taxas de reciclagem

ocorrem nas regiões subtropicais, pois a evapotranspiração é alta nessas regiões e a

convergência de umidade é relativamente baixa. No entanto, sobre a bacia Amazônica a forte

advecção de umidade domina o fornecimento do vapor d'água sobre grande parte da região,

porém, a parte sul da bacia tem maior contribuição da evapotranspiração na reciclagem de

precipitação.

Costa e Foley (1999) avaliaram a variabilidade dos componentes do balanço de

umidade na bacia Amazônica no período de 1976-1996. Os autores utilizaram dados de

reanálise do NCEP/NCAR e verificaram que existe uma tendência de diminuição do

transporte de umidade, tanto de entrada como de saída para a região. Esta tendência está

relacionada a um enfraquecimento dos ventos alísios de sudeste, um enfraquecimento do

gradiente de pressão leste-oeste e um aumento da temperatura da superfície do mar (TSM) na

região equatorial do Atlântico Sul. Apesar disso, os autores mostraram (através do método

derivado de modelo de Eltahir e Bras (1994)) que, apesar de haver uma diminuição no

transporte de umidade para a região, há um aumento na reciclagem de precipitação interna.

Essa reciclagem de precipitação na região Amazônica foi estimada em 30% por Costa e Foley

(1999).

Nóbrega et al. (2005) utilizando dados de reanálises do NCEP/NCAR, referente ao

período de 1978 a 1998, analisaram os campos de fluxo de vapor d'água, evapotranspiração e

precipitação afim de estudar a variabilidade sazonal e interanual da reciclagem de

precipitação sobre a América do Sul. Os resultados mostraram valores de reciclagem de

precipitação relativamente pequenos sobre a Amazônia e Nordeste do Brasil, sendo maiores

na parte Central da América do Sul, com núcleos de até 50% durante o verão. Os aspectos

climatológicos da reciclagem de precipitação sobre a América do Sul indicam que a

contribuição da advecção de umidade é mais importante para a precipitação sobre a Amazônia

Page 31: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

31

e Nordeste do Brasil, diferente das regiões Central e Sudeste, onde a evapotranspiração tem

um papel mais importante na precipitação. Nesse estudo a reciclagem média anual para a

bacia amazônica foi estimada em 24%.

Van der Ent et al. (2010) avaliaram a importância da circulação geral da atmosfera,

topografia e uso da terra nos padrões de reciclagem de precipitação sobre os continentes e na

distribuição mundial dos recursos hídricos. Através das reanálises do ECMWF (Era-Interim,

no período de 1998-2008), os autores quantificaram os índices globais de precipitação. Os

autores encontraram os seguintes resultados: na média 40% da precipitação sobre os

continentes têm origem na evapotranspiração da superfície terrestre; 57% de toda a

evapotranspiração da superfície retornam como precipitação sobre os continentes. Na

América do Sul, 70% dos recursos hídricos na bacia do Prata dependem da evapotranspiração

da floresta amazônica. Ainda na América do Sul o valor médio da reciclagem de precipitação

foi de 36%, sendo que na Amazônia obtiveram um valor de 28%.

Satyamurty et al. (2013) estimaram a reciclagem de precipitação para a região

Amazônica utilizando dados de reanálises do NCEP/NCAR para o período de 1978-2010. Os

autores avaliaram que cerca de 70% da umidade proveniente da evapotranspiração da região

Amazônica é advectada para outras regiões. Desse modo os 30% restantes são devolvidos

para a superfície na forma de precipitação. Os autores também observaram que as fontes de

umidade para a bacia Amazônia estão localizadas no Oceano Atlântico Tropical Norte e Sul e

que o transporte de umidade que alimenta a bacia ocorre de leste para oeste durante todas as

estações do ano.

2.4 Desflorestamento: estudos observacionais e numéricos

Von Randow et al. (2004) avaliaram o microclima de área e floresta e pastagem na

Amazônia utilizando dados micrometeorológicos e de fluxos de radiação, de energia e de CO2

Os autores observaram maiores quantidades de precipitação na floresta em relação a pastagem

durante o período de medidas. Na estação chuvosa a fração de evaporação na pastagem foi

17% menor do que na floresta, aumentando para 24% na estação seca. A temperatura da

superfície apresentou pouca variação durante o ano variando de 22°C a 27°C na área de

floresta e de pastagem. A umidade específica e a precipitação foram reduzidas de forma

significativa na estação seca, para ambos os sítios, em relação à estação chuvosa; entretanto,

Page 32: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

32

observou-se grandes diferenças na precipitação, na umidade específica e no déficit de

umidade específica entre os sítios.

Nobre et al. (1991) utilizando do modelo de circulação geral da atmosfera (MCGA)

avaliaram o efeito do desflorestamento de grande da Amazônia no clima regional e global. Os

autores observaram que a substituição da floresta tropical por pastagem degradada conduz a

um aumento da temperatura da superfície em torno de 2,5ºC, assim como uma redução de

30% na evapotranspiração, de 25% na precipitação e de 20% no escoamento superfície na

região.

Dickinson e Kennedy (1992) utilizaram o modelo de circulação geral do NCAR

Community Climate Model para realizar simulações numéricas a fim de avaliar a resposta no

clima decorrente do desflorestamento em grande escala na Amazônia. Segundo os autores, a

precipitação reduziu aproximadamente 25% (1,4 mm dia-1

), enquanto que a evapotranspiração

e o escoamento superficial foram ambos reduzidos de 0,7 mm dia-1

.

Costa e Foley (2000) utilizaram o Modelo de Circulação Geral da Atmosfera

GENESIS acoplado ao Simulador Integrado da Biosfera (IBIS), para determinar os efeitos

combinados de desflorestamento em larga escala e o aumento da concentração de CO2 no clima

Amazônico. Os resultados mostraram que o desflorestamento conduz a uma redução de 0,73 mmdia-

1, como consequência da redução do movimento vertical acima da área desmatada. O efeito da

duplicação da concentração de CO2 na Amazônia implicou em um aumento de 0,28 mm dia-1

para a bacia. O efeito combinado do desflorestamento e aumento no CO2 é uma redução na

precipitação média da bacia da ordem de 0,42 mm dia-1

. Além disso, o efeito combinado do

desflorestamento com aumento da concentração de CO2 faz com que se tenha um aumento na

temperatura da superfície na bacia da ordem de 3,5 ºC.

Voldoire e Royer (2004) utilizaram o modelo ARPEGE-Climat GCM3 para avaliar os

impactos do desflorestamento na região amazônica com dois cenários de desflorestamento:

um cenário com cobertura vegetal atual e um cenário onde a floresta tropical foi substituída

por pastagem. Os autores observaram que há um intenso aumento na temperatura máxima e

uma diminuição na temperatura mínima durante a estação seca quando o estresse de água

domina. Valores diários de precipitação também indicam um enfraquecimento da atividade

convectiva. As condições termodinâmicas que favorecem a convecção é menos frequente, em

particular, na porção sul da Amazônia. Os resultados obtidos mostraram também que houve

Page 33: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

33

uma moderada redução na evapotranspiração e uma redução na precipitação tendo assim um

impacto na reciclagem de precipitação, com maior impacto no nordeste da bacia Amazônica.

Gandu et al. (2004) utilizando o modelo regional RAMS (Regional Atmospheric

Modelling System) versão 4.4 forçado com reanálises do NCEP, avaliaram os impactos das

mudanças no uso da terra no balanço hidrológico na Amazônia. O estudo mostrou que houve

redução em 16% na precipitação nas áreas costeiras (do Amapá até o leste da ilha do Marajó)

decorrente da redução de convergência de umidade; assim como, uma redução de 10% na

precipitação na região central da bacia.

Correia et al. (2006) utilizaram o Modelo de Circulação Geral da Atmosfera do Centro

de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) acoplado ao esquema de superfície

Simplified Simple Biosphere Model (SSiB) para avaliar as consequências climáticas

decorrentes de modificações na cobertura vegetal na bacia Amazônica em três cenários

diferentes de desflorestamento: cenário atual, cenário de desmatamento para o ano de 2033 e

desflorestamento de grande escala na Amazônia. Em todos os cenários, um mecanismo de

retroalimentação negativo foi observado, pois o aumento na convergência de umidade agiu no

sentido de minimizar os efeitos da redução da evapotranspiração sobre as áreas desflorestadas.

Segundo os autores, isso é um melhor cenário se comparado ao mecanismo de

retroalimentação positivo. Quando a redução na precipitação é maior que a redução da

evapotranspiração (redução na convergência de umidade) a biosfera exerce um mecanismo

positivo na precipitação, fazendo com que haja novas degradações. No cenário atual, o

aumento na convergência de umidade sobrepujou a redução na evapotranspiração, conduzindo

um aumento na precipitação. Nos demais cenários, embora houvesse um aumento na

convergência de umidade, a redução na evapotranspiração foi mais significativa, conduzindo

um déficit de precipitação na região, principalmente na estação seca.

Sampaio et al. (2007), que utilizaram o Modelo Geral de Circulação da Atmosfera

(MCGA - CPTEC/INPE) e mapas de cobertura vegetal elaborados a partir do modelo de

vegetação dinâmica (Soares-Filho et al.,2006), as mudanças no uso da terra na Amazônia

fazem com que haja um aumento no albedo, aumento na temperatura da superfície e

diminuição da precipitação. Na Amazônia Oriental, onde as mudanças na cobertura do solo

deverão ser maiores, um aumento na temperatura da superfície e diminuição da

evapotranspiração e da precipitação serão observados, principalmente na estação seca. A

relação entre precipitação e desflorestamento mostra uma aceleração na diminuição da

Page 34: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

34

precipitação devido ao desflorestamento em qualquer tipo de mudança no uso da terra. Houve

também uma diminuição da evapotranspiração decorrente da diminuição da rugosidade

aerodinâmica, ao índice de área foliar e a redução da profundidade das raízes.

Correia et al. (2007) avaliaram os impactos das mudanças na cobertura terrestre no

clima da Amazônia por meio do modelo de área limitada ETA acoplado com o Modelo

Simplificado de Biosfera Simples (SSiB) em quatro cenários de desflorestamento: a) nenhum

desmatamento; b) condições atuais; c) desflorestamento para o ano de 2033; d)

desflorestamento em grande escala. Em todos os cenários houve aumento na temperatura da

superfície com valores máximos da ordem de 2,8 ºC. Em todos os cenários foi observado um

mecanismo de retroalimentação negativo no ciclo hídrico, com maior quantidade de umidade

sendo transportada para as áreas desflorestadas. O aumento na convergência de umidade nos

dois últimos foi maior do que a redução na evapotranspiração, ocasionando um aumento na

precipitação. No entanto, no cenário de desflorestamento de grande escala houve um aumento

na convergência de umidade, mas não tão significativa quanto à redução na

evapotranspiração, ocasionando assim uma redução na precipitação. Os autores concluíram

que um desflorestamento parcial na Amazônia pode ocasionar um aumento na precipitação

local. Em contrapartida, um desflorestamento em grande escala pode fazer com que a situação

se torne insustentável levando a condições mais secas e, consequentemente, a redução na

precipitação.

A Tabela 2.2 mostra alguns resultados de estudos de desflorestamento na Amazônia

utilizando modelagem climática. Em geral, os diferentes estudos mostram redução na

precipitação, assim como redução na evapotranspiração. No entanto, não apresentam

nenhuma tendência na convergência de umidade, pois alguns trabalhos mostram aumento na

convergência de umidade e outros uma redução.

Page 35: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

35

Tabela 2.2 - Comparação de resultados de alguns experimentos de desflorestamento utilizando modelos de circulação geral da atmosfera

(MCGA) e modelos regionais (MR).

Nobre

et al.

(1991)

Sudet al.

(1996a)

Sudetal.

(1996b)

Zhang e

Henderson-

Sellers

(1996)

Lean e

Rowntree

(1997)

Hahmann

e

Dickinson

(1997)

Costa e

Foley

(2000)

Voldoire

e Royer

(2004)

Gandu et

al.

(2004)

Correia et

al. (2006)

Sampaio

et al.

(2007

Nobre et

al. (2009)

NMC GLA GLA CCM1 UKMO CCM2 GENESIS ARPEGE BRAMS CPTEC CPTEC CGCM

Resolução(lat

x long)

2,5°

× 3,75°

4° × 5° 4° × 5° 4,5° × 7,4° 2,5°

× 3,75°

2,8°

× 2,8°

4,5°

× 7,5°

2,8°

× 2,8°

2,5°

× 2,5°

2° × 2° 2° × 2° 2,75°

× 3,75°

Esquema de

superfície

SSiB SSiB BATs Warrilowet

al. (1986)

BATs IBIS ISBA LEAF SSiB SSiB SSiB

Comprimento

da simulação

1 ano 3 anos 5 anos 25 anos 10 anos 10 anos 15 anos 29 anos 13 meses 3 anos 7 anos 90 anos

Comprimento

rugosidade(m)

2,65/0,08 2,65/0,85 2,00/0,20 2,10/0,026 2,00/0,05 1,51/0,05 2,8/1,0 2,35/0,05 2,55/0,020 2,55/0,020 2,55/0,020

Albedo 0,092/,014 - 0,12/0,19 0,13/0,18 0,12/0,19 0,135/0,17 0,13/0,17 0,13/0,18 0,13/0,18 0,13/0,19 0,13/0,18

∆P (mm/dia) -1,76 -1,5 -0,3 -1,1 -0,4 -1,0 -0,70 -0,4 -10 a

16%

-0,7 -2,4 -3,3

∆E (mm/dia) -1,36 -1,2 -1,2 -0,6 -0,8 -0,4 -0,60 -0,4 +6,0 -1,3 -0,8 -

∆R (mm/dia) -0,40 -0,3 +0,8 -0,5 +0,4 -0,6 -0,10 -0,01 - +0,6 -

∆T (ºC) +2,5 +2,0 +2,6 +0,3 +2,4 +1,0 +1,4 -0,1 +1 +2,2 +0,1 +2,0

∆ C (mm/dia) Redução Aumento Redução Aumento Redução Redução Redução Redução Aumento Redução Redução

Page 36: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

36

CAPÍTULO 3

MATERIAIS E MÉTODOS

Uma vez que o seguinte trabalho envolve modelagem climática, apresentam-se

neste capítulo as principais características da área de estudo; o método selecionado para

quantificar a reciclagem de precipitação na bacia amazônica, fundamentado no balanço

de umidade na atmosfera, o modelo regional climático ETA do Centro de Previsão de

Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC/INPE, os cenários de mudanças nos usos da

terra (desflorestamento) na Amazônia, e finalmente a estratégica de simulação numérica

e a metodologia de avaliação estatística empregada no processo de validação do

desempenho do modelo regional ETA.

3.1 Área de estudo

A bacia amazônica possui uma área de 6,3 milhões de km2, sendo que

aproximadamente 5 milhões estão em território brasileiro e o restante distribuída entre

os países da Venezuela, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Suriname e Guiana

Francesa. O Brasil abrange cerca de três quartos dessa área, denominada de Amazônia

Legal, da qual fazem parte os estados do Pará (PA), Amazonas (AM), Rondônia (RO),

Roraima (RR), Acre (AC) e Amapá (AP) e parte dos territórios do Maranhão (MA),

Tocantins (TO) e Mato Grosso (MT) (Figura 3.1). No cinturão de máxima diversidade

biológica do planeta (aproximadamente um quarto das espécies animais e vegetais) a

Amazônia se destaca pela extraordinária continuidade de suas florestas, pela ordem de

grandeza de sua principal rede hidrográfica (a descarga média do rio Amazonas no

oceano Atlântico é cerca de 220.000 m3 s

-1, o que corresponde a 20% da descarga total

de água doce nos oceanos do mundo) e pelas sutis variações de seus ecossistemas, em

nível regional e de altitude (Ab‟Sáber, 2003 e 2008; Marengo e Nobre, 2009; Ross,

2011).

Page 37: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

37

Figura 3.1: O Bioma Amazônia de acordo com área de abrangência do respectivo

estudo. Fonte: Sistema de Informações Geográficas (shapes) oriundos da plataforma

IBGE (2010) - estados, países e região, e plataforma ORE-HYBAM (2003) - rede

hidrográfica e bacia Amazônica. Elaborado por Donald e Silveira (neste trabalho).

3.2 Método utilizado para quantificar a reciclagem de precipitação

O mecanismo de reciclagem de precipitação (β) é definido na literatura com sendo a

razão entre a precipitação gerada localmente (Pl) pela precipitação total (P) em uma

determinada área, ou seja: β=Pl/P. Contudo, diferentes abordagens são utilizadas para

formular métodos a fim quantificar a reciclagem de precipitação: método do balanço de

umidade e método das moléculas de água. O método do balanço de umidade da

atmosfera (Budyko, 1974; Brubaker et al., 1993; Eltahir e Bras, 1994; Savenije, 1995;

Schar et al., 1999; Trenberth, 1999) faz uso de dados de estações meteorológicas,

reanálises ou simulações de modelos atmosféricos. Por outro lado, o segundo método

avalia a trajetória de moléculas de água na atmosfera desde sua fonte de origem até a

ocorrência de precipitação (Koster et al., 1986; Dirmeyer e Brubaker, 1999). Neste

estudo, o método selecionado para quantificar a reciclagem de precipitação na

Amazônia é fundamentado no balanço de umidade na atmosfera conforme descrito a

seguir.

Page 38: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

38

3.2.1 Método proposto por Trenberth

O método descrito por Budyko (1974) e, posteriormente, reformulado por

Brubaker et al. (1993) e Trenberth (1999), define que, considerando a escala de

comprimento L(m), a evapotranspiração E (mm dia-1

) e a precipitação total P (mm dia-1

)

em uma determinada região, os fluxos de vapor d‟água que entra (Fin) e sai (Fout) nessa

região (Figura 3.2) podem ser determinados pela Equação 3.1:

Figura 3.2 – Modelo conceitual de reciclagem de precipitação. Os termos Pm e Pa

referem-se às taxas de precipitaçãoprovenientes da evapotranspiração e do vapor d‟água

advectados para a região, respectivamente; Fin e Fout são os fluxos de vapor d´água que

entra e sai da região considerada, respectivamente;E é a taxa de evapotranspiração e W é

o armazenamento de água na atmosfera (água precipitável). Fonte: Trenberth (1999).

LPEFF inout (3.1)

no qual o fluxo horizontal médio de vapor d‟água na área é definido como:

LPEFFFF inoutin 5,05,0 (3.2)

No método proposto por Trenberth (1999), a precipitação total (P) na região é

particionada em precipitação de origem local (Pl) e precipitação de origem advectiva

(Pa), ou seja:

al PPP (3.3)

Dessa forma, o fluxo horizontal médio proveniente da umidade advectada para a

região é dado por:

Page 39: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

39

LPF ain 5,0 (3.4)

E o fluxo horizontal médio oriundo da evapotranspiração local é dado por:

LPE l5,0 (3.5)

Assumindo que a atmosfera é bem misturada, de maneira que a razão da

precipitação proveniente da advecção versus àquela decorrente da evapotranspiração é

proporcional à razão entre o fluxo de umidade advectado e o evapotranspirado, então,

tem-se a seguinte expressão:

LPE

LPF

P

P

l

ain

l

a

5,0

5,0

(3.6)

Logo, a reciclagem de umidade (β) pode ser determinada por:

in

l

FEL

EL

P

P

2

(3.7)

Utilizando a Equação 3.2, a reciclagem de umidade (β) pode ser reescrita da

seguinte forma:

FPL

EL

2

(3.8)

Portanto, o pressuposto básico deste método é que a atmosfera é bem misturada

e a mudança no armazenamento de umidade na atmosfera é desprezível em comparação

aos outros termos. Os resultados da reciclagem, obviamente, dependem do comprimento

do domínio (L) o que, de certo modo, pode dificultar a definição da extensão da área da

região. Trenberth (1999) e Brubaker et al. (1993) recomendam que seja utilizada para a

bacia amazônica a escala de comprimento L = 2.750 km no cálculo da reciclagem de

precipitação.

Page 40: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

40

3.3 Modelo climático regional ETA

O ETA é um modelo atmosférico de área limitada (regional) que foi

desenvolvido pela Universidade de Belgrado e aprimorado ao longo dos anos por

pesquisadores do o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – Instituto

Nacional de Pesquisas Espaciais Climáticos (CPTEC/INPE) (Mesinger et al., 1988;

Black, 1994; Janjic, 1994; Chou et al., 2005 e 2012). O modelo ETA é designado para

pesquisa ou uso operacional em meteorologia, seu nome deriva da letra grega (, que

denota a coordenada vertical (Mesinger 1984), uma das características do modelo. O

modelo de área limitada se propõe a complementar e a aumentar o detalhamento do

modelo global sobre uma área de interesse. A maior resolução espacial permite prever

com maiores detalhes fenômenos associados a frentes, orografia, brisa marítima,

tempestades severas, etc., enfim, sistemas organizados em mesoescala.

3.3.1 Coordenada Vertical

O ETA é um modelo regional em ponto de grade baseado na coordenada vertical

(Mesinger, 1984), que é definida pela Equação 3.9:

tref

tsfcref

tsfc

t

pp

pZp

pp

pp

0

(3.9)

onde p é a pressão atmosférica e Z é a altitude. Os índices t e sfc referem-se ao topo da

atmosfera e à superfície, respectivamente. Do mesmo modo, o índice ref indica o valor

da pressão de uma atmosfera de referência. Portanto, a topografia é resolvida na forma

de degraus discretos, visto que a coordenada baseia-se em pressão, o que a torna

aproximadamente horizontal (Figura 3.3). Tal característica reduz consideravelmente os

problemas nos cálculos das derivadas horizontais próximas de regiões montanhosas,

como a Cordilheira dos Andes na América do Sul, e consequentemente o termo

importante da força do gradiente horizontal de pressão.

Page 41: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

41

Figura 3.3– Coordenada vertical eta (utilizada no modelo de área limitada ETA.

Destaca-se também na figura a coordenada vertical sigma (e a variação das

coordenadas verticais em relação a topografia.

3.3.2 Grade horizontal

As equações do modelo ETA são discretizadas para a grade E de Arakawa. A

distância entre dois pontos adjacentes de massa ou de vento definem a resolução da

grade. A Figura 3.4 apresenta a distribuição dos pontos na grade E. A variável H

representa a posição das variáveis de massa e V representa a posição das componentes

horizontais do vento. Esta grade é regular em coordenadas esféricas, tendo o ponto de

interseção entre o equador e o meridiano de 0o transladado para o centro do domínio.

Figura 3.4 - Grade E de Arakawa, H representa as variáveis de massa e V representa as

variáveis de vento.

Page 42: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

42

3.3.3 Dinâmica

As variáveis prognósticas são: temperatura do ar, componentes zonais e

meridionais do vento, umidade específica, pressão à superfície, energia cinética

turbulenta e água líquida ou gelo das nuvens, que são distribuídas sobre a grade E de

Arakawa. A integração no tempo utiliza a técnica de particionamento explícito “split-

explicit” (Gadd, 1978), onde os termos devido ao ajuste pelas ondas de gravidade

inerciais são integrados separadamente dos termos devido à advecção. Um esquema

“forward-backward” trata dos termos responsáveis por esse ajuste (Janjic, 1979),

enquanto o esquema “Euler-backward” modificado trata dos termos de advecção

horizontal e vertical. O esquema de diferenças finitas no espaço emprega o método de

Janjic (1984) que controla o falso escoamento de energia para as ondas mais curtas. A

desratização espacial é na forma de volume finito nas 3 dimensões e todas variáveis.

3.3.4 Processos Físicos

As parametrizações incluídas no modelo (Quadro 3.1) são: esquema de difusão

turbulenta na Camada Limite Planetária (CLP) descrito por Mellor-Yamada2.5 (Mellor

e Yamada, 1974); esquema de radiação de ondas curta e longa segundo Fels e

Schwarztkopf (1975) e Lacis e Hansen (1974), respectivamente; a precipitação no

modelo é produzida pelos esquemas de parametrização de cúmulos, proposto por Betts-

Miller-Janjic (Janjic, 1994), e microfísica de nuvem, descrito em Zhao et al. (1997); os

processos de superfície são parametrizados de acordo com o esquema NOAH (Ek et al.,

2003), que contém 4 camadas de solo (da superfície à camada mais profunda, os níveis

são: 10, 30, 60 e 100 cm) para a temperatura e umidade, assim como distingue 12 tipos

de vegetação e 7 tipos de textura de solo. O mapa de vegetação inclui as alterações

decorrentes da acentuada ação antropogênica que vem ocorrendo no bioma amazônico

nos últimos anos (Sestini et al., 2002).

No intuito de representar as mudanças no clima mais realísticas, algumas

modificações foram introduzidas no modelo regional. O modelo ETA foi adaptado para

utilizar a temperatura da superfície do mar (TSM) derivada das médias mensais do

modelo global ou de reanálises. Nesse sentido, o modelo atualiza diariamente a TSM

através de uma interpolação linear. A inclusão de CO2 no modelo ETA deve-se ao

Page 43: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

43

trabalho de Schwarzkopf (2005), que desenvolveu novos perfis verticais de temperatura

compatíveis com concentrações 2CO2 e 4CO2. As alterações no código original do

modelo ETA foram realizadas para que a concentração de CO2 pudesse variar conforme

o modelo global ou as reanálises; então, a cada década uma interpolação linear é

realizada para os valores anuais de CO2 que foram gerados.

Quadro 3.1 – Parametrizações incluídas no modelo regional ETA-CPTEC.

Difusão turbulenta na CLP Mellor e Yamada (1974)

Radiação de onda curta Fels e Schwarztkopf (1975)

Radiação de onda longa Lacis e Hansen (1974)

Parametrização de cumulus Betts-Miller-Janjic (Janjic, 1994)

Microfísica de nuvem Zhao et al. (1997)

Esquema de superfície NOAH (Ek et al., 2003)

Mapa de vegetação Sestini et al. (2002)

3.4 – Cenários de mudanças nos usos da terra

Nesse item são descritos os cenários de mudanças nos usos da terra

(desflorestamento) na Amazônia referente ao estado atual e projeções para situações

futuras. No presente estudo foram utilizados 3 (três) cenários de desflorestamento da

Amazônia: a) mapa de cobertura vegetal referente ao ano de 2010, b) cenário projetado

para o ano de 2050 e c) cenário projetado para o ano de 2100 (Figura 3.5). No cenário

atual de desflorestamento considerou-se o mapa de vegetação elaborado pelo Projeto

ProVeg (Sestini et al., 2002). Esse mapa foi gerado a partir de dados do Projeto

RADAMBRASIL, que inclui 26 cartas na escala 1:1.000.000 e, ainda, do mapa de

vegetação para todo o Brasil na escala de 1:5.000.000 gerado pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística, disponíveis em formato digital. Ressalta-se, que os mapas de

vegetação do IBGE e do RADAM, contêm áreas mapeadas como “contatos”. Estas são

áreas de tensões ecológicas, representadas por polígonos onde ocorre a combinação de

dois ou três biomas. Dados do Projeto de Estimativa do Desflorestamento Bruto da

Amazônia - PRODES-DIGITAL (INPE, 2008) foram utilizados para incluir as

alterações decorrentes da ação antropogênica que vem ocorrendo na região amazônica.

Nesse estudo, a cobertura vegetal pastagem degradada representa o desflorestamento na

Page 44: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

44

Amazônia Legal. Para esse cenário, o mapeamento do desflorestamento foi realizado

considerando dados do ano base de 2010.

Os cenários futuros referentes aos anos de 2050 e 2100 foram elaborados a partir

do modelo de dinâmica da paisagem (Soares-Filho et al., 2004). O “DINAMICA” é um

modelo de simulação espacial do tipo autômato celular concebido para simular a

dinâmica das mudanças nos usos da terra na bacia amazônica, principalmente em áreas

ocupadas por pequenas fazendas. O modelo incorpora processos de decisão baseados

em práticas de uso do solo adotadas por colonos amazônicos e é parametrizado a partir

da assimilação maciça de dados obtidos de sensoriamento remoto. Após cada interação

o modelo DINAMICA produz um novo mapa de paisagem, mapas de probabilidades de

transição e mapas de variáveis dinâmicas. Seu modelo de transição pode ser acoplado a

um modelo construtor de estradas, que passa ao programa DINAMICA mapas

dinâmicos da rede viária, e a um gerador de mudanças que produz matrizes de transição

dinâmicas e as transfere ao programa DINAMICA, usando-se de sua ligação com o

software de modelagem (http://www.csr.ufmg.br/simamazonia/). As propriedades

físicas e fisiológicas da vegetação e solo para os principais biomas na Amazônia Legal

são apresentados na Tabela 3.1.

FIGURA 3.5– Cenários de cobertura vegetal a serem utilizados nas simulações com o

modelo regional ETA. (a) Mapa de vegetação elaborado pelo Projeto

ProVeg com áreas desflorestadas (ano base 2010); (b) Cenário projetado

para o ano de 2050 e c) Cenário projetado para o ano de 2100. Ambos

cenários elaborados pelo modelo DINÂMICA. Resolução: 1x1 km.

Cores: Verde (floresta), Amarelo (Cerrado), Azul (Agua) e Vermelho

(Pastagem degradada).

Page 45: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

45

TABELA 3.1– Parâmetros biofísicos utilizados de acordo com o tipo de vegetação

Parâmetros Floresta Pastagem Cerrado

Albedo 0,13(1)

0,18(1)

0,18(2)

Emissividade 0,95 0,96 0,97

Índice de área foliar (IAF) 5,2(1)

2,7(1)

1,0(2)

Fração de cobertura vegetal (Vfrac) 0,98(3)

0,85(3)

0,50

Variação sazonal do Vfrac 0,05 0,10 0,30

Comprimento de rugosidade (m) 2,35(1)

0,05(1)

1,20(2)

Deslocamento do plano zero (m) 28,4(1)

0,3(1)

10,0(2)

Profundidade das raízes (m) 4,0(1)

1,0 2,0

Condutância estomática (mm s-1

) 0,0035(4)

0,0010(4)

0,0020(4)

Os índices referem-se aos seguintes estudos: (1) Wright et al. (1996); (2) Miranda et al.

(1996); (3) Silva Dias e Regnier (1996); (4) Freitas (1999). FONTE: Extraído de Gandu

et al. (2004).

3.5 Estratégiade integração numérica

Neste estudo foram realizados 4 (quatro) experimentos, denominados: CNTRL,

2010, 2050, 2100. No experimento CNTRL utilizou-se o mapa no qual a cobertura

vegetal da Amazônia está intacta, ou seja, sem desflorestamento. No experimento 2010

utilizou-se a representação da vegetação na região da Amazônia Legal elaborada pelo

projeto ProVeg (Sestini et al., 2002) considerando dados de desflorestamento para o ano

base de 2010. Nos experimentos 2050 e 2100, utilizou-se os cenários de

desflorestamento da Amazônia Legal projetados para o ano de 2050 e 2100,

respectivamente; ambos elaborados pelo modelo de dinâmica de vegetação DINAMICA

(Soares-Filho et al., 2004). Cada experimento consistirá de uma integração contínua de

20 anos, inicializada às 00h (TMG - Tempo Médio de Greenwith) de 01 de novembro

de 1989, com tempo de spin-up de um ano.

As condições iniciais e de contorno da atmosfera serão provenientes das

reanálises do ERA-Interim, a mais recente base de dados produzida pelo European

Centre for Medium-Range Weather Forecasts – ECMWF (Dee et al., 2011). As

Page 46: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

46

reanálises na resolução de 1,0°1,0° para o domínio de 57°S – 79,5°N; -180W – 180E,

que abrange todos os continentes, exceto a Antártica, estão disponíveis para acesso em:

http://apps.ecmwf.int/datasets/. O modelo assimilará as reanálises a cada 6 horas de

integração, através do processo de downscaling dinâmico. Os valores da temperatura da

superfície do mar (TSM) serão fornecidos a partir das médias mensais das reanálises do

ECMWF, sendo atualizada diariamente através de uma interpolação linear. A condição

inicial da umidade do solo e o albedo da superfície são obtidos a partir da climatologia

referente ao primeiro mês de integração e da climatologia sazonal, respectivamente.

Para esse estudo, o modelo ETA será configurado com uma resolução horizontal de

40 km, 38 camadas verticais, passo de tempo de 90 segundos e domínio espacial de

15N-50S e 25W-90W. Durante as integrações numéricas, a concentração de CO2 no

modelo ETA-CPTEC será a mesma e se manterá constante no valor médio de

369 ppmv. Informações específicas a respeito das integrações numéricas encontram-se

resumidas na Tabela 3.2, a seguir.

TABELA 3.2 – Características das integrações para cada experimento utilizando o

modelo regional ETA-CPTEC.

Experimentos Integração Downscaling

Dinâmico

Cenários

Desflorestamento

TSM

CNTRL 240 Meses Era-Interim

ECMWF

Amazônia Intacta Média mensal

ECMWF

2010 240 Meses Era-Interim

ECMWF

2010 - Proveg Média mensal

ECMWF

2050 240 Meses Era-Interim

ECMWF

2050 - Dinâmica Média mensal

ECMWF

2100 240 Meses Era-Interim

ECMWF

2100 – Dinâmica Média mensal

ECMWF

Page 47: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

47

TABELA 3.2 – continuação.

Experimentos Concentração

de CO2

Resolução

Espacial

Camadas

Vertical

CNTRL 369 ppmv*

40 km 38

2010 369 ppmv 40 km 38

2050 369 ppmv 40 km 38

2100 369 ppmv 40 km 38

*ppmv = Parte por milhão

3.4 Validação do modelo regional

Para avaliar o desempenho do modelo ETA na representação da precipitação na

bacia amazônica serão utilizadas as estimativas de precipitação do CRU – Climate

Research Unit (New et al., 2000), CMAP - CPC Merged Analysis of Precipitaion (Xie e

Arkin, 1997) e GPCP – Global Precipitation Climatology Project (Xie et al., 2003),

ambas as bases de dados para o período de 1990-2010. Para a validação do modelo

regional nesse período serão avaliados a distribuição espacial e o ciclo anual da taxa de

precipitação sobre a bacia amazônica. Para a avaliação quantitativa desses ciclos, serão

empregadas as seguintes métricas estatísticas: coeficiente de correlação, erro médio

quadrático e viés. Para o cálculo dos coeficientes de correlação entre as simulações „x‟ e

os dados observados e de reanálises „y‟ será utilizado o método de correlação linear de

Pearson, que é dado pela razão entre a covariância e o produto dos desvios padrão das

duas variáveis, como segue:

n

i

i

n

i

i

n

i

ii

yyxx

yyxx

r

1

2

1

2

1

)()(

))((

(3.10)

O método do erro médio quadrático (EMQ) também será utilizado para aferir a

precisão das simulações, no qual altos valores de EMQ indicam altos níveis de

discrepância entreas simulações ϕ e os dados observados e de reanálises ψ. A fórmula

do EMQ é dada por:

Page 48: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

48

21

1

2)(1

N

i

iiN

EQM

(3.11)

O viés mostra a tendência sistemática das simulações, ou seja, se o viés for

maior que zero, na média, as previsões estão sendo superestimadas enquanto que se for

menor do que zero as previsões são subestimadas.

N

i

iiN

b1

)(1

(3.12)

Page 49: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

49

CAPÍTULO 4

VALIDAÇÃO DO MODELO REGIONAL ETA

Neste capítulo é avaliado o desempenho do modelo regional ETA na representação

dos componentes do balanço de água na bacia amazônica utilizando dados de reanálise

e estimativas de precipitação para o período de janeiro de 1990 a dezembro de 2010.

Para a avaliação dos componentes: precipitação, evapotranspiração, fluxo e

convergência de umidade foram utilizados reanálises do National Center for

Environmental Prediction/National Center for Atmospheric Research - NCEP/NCAR

(Kalnay et al., 1996) e as estimativas de precipitação do CRU – Climate Research Unit

(New et al., 2000), CMAP – Merged Analysis of Precipitaion (Xie e Arkin, 1997),

GPCP - Global Precipitation Climatology Project (Xie et al., 2003), GPCC - (Beck et

al., 2005; Rudolf e Rubel, 2005) e MERGE (Vila et al., 2009). A avaliação

doscomponentes do balanço de água na Amazônia faz-se necessário uma vez que a

reciclagem de precipitação está diretamente associada a esses componentes e suas

variações espaço-temporal.

4.1- Precipitação

O território brasileiro por se de grande extensão proporciona diferentes regimes de

precipitação durante o decorrer do ano. Na região Sul do Brasil os sistemas

responsáveis pela quantidade de chuva são os sistemas frontais que estão diretamente

relacionados ao posicionamento e intensidade do jato subtropical na América do Sul e

os sistemas convectivos de mesoescala (Oliveira, 1986). As regiões Sudeste e Centro-

Oeste são caracterizadas pela atuação de sistemas que associam características de

sistemas tropicais com sistemas típicos de latitudes médias. Durante os meses de maior

atividade convectiva, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é um dos

principais fenômenos que influenciam no regime de chuvas dessas regiões. A região

Nordeste têm a influência dos Anticiclones Subtropicais do Atlântico Sul (ASAS) e do

Atlântico Norte (ASAN) e do cavado equatorial, cujas variações sazonais de intensidade

e posicionamento determinam o regime de precipitação na região. Na região Norte o

regime de precipitação é influenciado por sistemas de diferentes escalas, tais como:

zonas de convergências ligadas a circulações térmicas diretas, formação de aglomerados

Page 50: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

50

convectivos associados à Zona de Convergência do Atlântico Sul, aglomerados de

cumulusnimbus associados as linhas de instabilidades e a convecção local relacionado

ao aquecimento diurno (Rocha, 2001).

Para a validação do modelo regional ETA utilizaram-se as médias de 20 anos

(1990-2010) para os periodos de fevereiro-março-abril (FMA) e julho-agosto-setembro

(JAS) representando as estações úmida e seca da região amazônica, respectivamente. A

distribuição de precipitação nas duas estaçoes é bem representada pelo modelo, que

apresentou maiores valores durante o trimestre FMA, estando associado,

principalmente, a atuação do sistema de escala sinótica denominado Zona de

Convergência do Atlântico Sul - ZCAS (Figura 4.1); e tambem a valores baixos de

precipitação na região central e Sudeste do Brasil durante o trimestre JAS.No período

úmido a banda de precipitação que se estende desde o extremo norte do continente até a

região sudeste foi observada tanto nas estimativas de precipitação quanto nos valores

simulados. Essa linha de máxima precipitação deve-se ZCAS, que esta associada à

convergência de umidade em baixos níveis, sendo intensificado pelos sistemas frontais

que se deslocam em direção ao equador. Nesse período, há grande aquecimento das

porções tropicais e subtropicais do território brasileiro, gerando uma zona de baixa

pressão à superfície, havendo assim um ramo ascendente da circulação, tornando-se

condições favoráveis à formação de nuvens e precipitação, formando-se assim uma

banda contínua de precipitação orientada no sentido noroeste-sudeste.

Apesar do modelo representar bem a distribuição de precipitação sobre o

continente, observou-se que o modelo substima a precipitação em grande parte do país

na estação úmida, principalmente nas porções central-leste da Amazônia e Nordeste do

Brasil (3 a 4 mm dia-1

), e superestima no extremo noroeste do continente e sobre a

Cordilheira dos Andes (5 a 7 mm dia-1

). Observa-se ainda a presença de erros

sistemáticos na precipitação sobre os Andes, sobretudo na porção norte, devido ao efeito

topográfico. Isso mostra que o modelo apresenta dificuldade em simular a precipitação

em regiões ingrímes, tais como a Cordilheira dos Andes.O posicionamento da Zona de

Convergência Intertropical (ZCIT) e da banda de nebulosidade no Oceano Atlântico foi

bem representada pelo modelo; entretanto, apresentou valores inferiores em relação as

estimativas de precipitação do GPCC, MERGE e CRU, mostrando assim, que o modelo

substima a precipitação sobre a ZCIT.

Page 51: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

51

Figura 4.1- Distribuição da precipitação (mm dia-1

) para o período de fevereiro-abril

(FMA): (a) Simulada pelo modelo regional ETA; (b) GPCP, (c) GPCC, (d) MERGE, (e)

CMAP, (f) (CRU). Bias (mm dia-1

): (g) GPCP-ETA, (h) GPCC-ETA, (i) MERGE-ETA,

(j) CMAP-ETA, (k) CRU-ETA; REMQ (mm dia-1

): (l) GPCP-ETA, (m) GPCC-ETA,

(n), MERGE-ETA, (o) CMAP-ETA, (p) CRU-ETA.Coeficiente de correlação: (q)

GPCP-ETA, (r) GPCC-ETA, (s) MERGE-ETA, (t) CMAP-ETA e (u) CRU-ETA.

No trimestre JAS (estação seca), a maior quantidade de precipitação sobre o

continente ocorre na porção norte da América do Sul, litoral leste do Nordeste e sul do

Brasil, como observado em todas as estimativas de precipitação (Figura 4.2). Esse

máximo de precipitação é ocasionado por diferentes fenômenos e escalas. Na porção

norte, a chuva é decorrente da convecção tropical e interações entre o aquecimento

continental e a convergência de grande escala. Na parte sul, a precipitação ocorre

principalmente pela passagem de sistemas frontais que organizam a convecção local e

se propagam em direção à zona equatorial. No litoral leste do Nordeste os máximos de

precipitação ocorrem devido as sistema meteorológicos de mesoescala formados por

Page 52: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

52

cumulosnimbus de diversos tamanhos que se organizam e tambem pelo transporte de

umidade proveniente do Oceano Atlântico.

De forma geral, o modelo regional representou bem a distribuição de precipitação

sobre o continente na estação seca (Figura 4.2). Na parte norte do Amazonas (3 a 5

mm dia-1

) e sobre os Andes a quantidade de precipitação é superestimada pelo modelo

regional; entretanto, a climatologia mostra que chuvas abundantes são normalmente

verificadas nessa região (Figueroa e Nobre,1990). No extremo norte do continente o

modelo subestimou a precipitação com valores variando de 3 a 4 mm dia-1

. Também

nesse período observa-se a presença de erros sistemáticos sobre os Andes mostrando

mais uma vez que o modelo tem dificuldades em simular a precipitação nessa região. O

modelo simulou a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) no Atlântico abaixo da

sua posicao climatologia para esse período; no entanto, apresentou valores próximos

daqueles observados nas estimativas de precipitação.

Page 53: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

53

Figura 4.2- Distribuição da precipitação (mm dia-1

) para o período de fevereiro-abril

(JAS): (a) Simulada pelo modelo regional ETA; (b) GPCP, (c) GPCC, (d) MERGE, (e)

CMAP, (f) (CRU). Bias (mm dia-1

): (g) GPCP-ETA, (h) GPCC-ETA, (i) MERGE-ETA,

(j) CMAP-ETA, (k) CRU-ETA; REMQ (mm dia-1

): (l) GPCP-ETA, (m) GPCC-ETA,

(n), MERGE-ETA, (o) CMAP-ETA, (p) CRU-ETA. Coeficiente de correlação: (q)

GPCP-ETA, (r) GPCC-ETA, (s) MERGE-ETA, (t) CMAP-ETA e (u) CRU-ETA.

Avaliou-se também a variação sazonal da precipitação para as porções norte, sul

e para toda a bacia amazônica conforme apresentado na Figura 4.3. Para isso utilizaram-

se as médias mensais de todos os meses do período de 1990 a 2010. A Figura 4.4

apresenta a variação sazonal da precipitação simulada e estimada pelas mesmas bases de

dados usados no item 4.1.1 (GPCP, GPCC, MERGE, CMAP e CRU) para as três

regiões destacadas. Na média da bacia e na porção sul observa-se um pronunciado ciclo

sazonal na precipitação que está associado à variação da circulação de monção e da

Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) no continente sul-americano. Entretanto, na

porção norte da bacia não se observa um ciclo sazonal tão intenso. De forma geral, o

modelo conseguiu simular o ciclo sazonal da precipitação com maiores valores nos

Page 54: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

54

meses de janeiro, fevereiro e março (6 mm dia-1

) e menores nos meses de julho e agosto

(1,5 mm dia-1

) na porção sul da bacia amazônica. Entretanto na porção sul e na média da

bacia o modelo subestimou a precipitação no período úmido (3 mm dia-1

), mas

conseguiu representar bem a precipitação na estação seca correspondendo os meses de

junho, julho e agosto. De forma geral, apesar de simular o ciclo anual da precipitação, o

modelo regional subestima a precipitação na estação úmida e superestima um pouco a

precipitação na estação seca em todas as regiões. Destaca-se que as diferenças entre os

valores simulados pelo modelo ETA e estimados podem estar associadas, além daqueles

decorrentes dos erros inerentes a parametrização de convecção e precipitação ao tempo

de integração realizada nesse estudo, fazendo com que o modelo ainda não alcançasse o

equilíbrio (spin up) durante as simulações.

Figura 4.3- Regiões utilizadas para avaliação da variação sazonal da precipitação. Toda

a bacia amazônica (rosa), porção norte da bacia amazônica (verde) e porção sul da bacia

amazônica (preto).

Page 55: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

55

Figura 4.4– Variação sazonal da precipitação (mm dia-1

) simulada pelo modelo ETA

e proveniente das diferentes fontes: GPCP, GPCC, MERGE, CMAP e CRU. (a)

Bacia Amazônica, (b) porção norte da Bacia Amazônica e (c) porção sul da Bacia

Amazônica.

Page 56: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

56

4.2 - Evapotranspiração

A Figura 4.5 apresenta a distribuição espacial e sazonal da evapotranspiração

simulada pelo modelo regional e obtida pelas reanálises do NCEP/NCAR para as estações

úmida (FMA) e seca (JAS) referente ao período de janeiro de 1990 a dezembro de 2010.

Também são apresentados o viés, a raiz do erro médio quadrático e o coeficiente de

correlação para avaliação do desempenho do modelo regional. A avaliação do desempenho

desse parâmetro é fundamental, pois também está diretamente associado ao processo de

reciclagem de precipitação sobre o continente. Além disso, a evapotranspiração proveniente

da floresta amazônica representa uma das principais fontes de vapor d´água para a bacia e

também para regiões remotas, desempenhando papel fundamental no processo de reciclagem

de água e na geração de precipitação.

A distribuição de evapotranspiração simulada pelo modelo e das reanálises

apresentam variação sazonal sobre a bacia amazônica, principalmente sobre a porção sul onde

a variação é mais intensificada, sendo influenciada diretamente pela disponibilidade de

energia e dos sistemas frontais que penetram na região proveniente do sul do continente. Na

estação úmida a evapotranspiração na bacia apresentou valor médio de 4,5 mm dia-1

, com

variações de 2,5 a 4,5 mm dia-1

entre as porções sul e norte, respectivamente. Esses valores

estão próximos daqueles encontrados por Marengo (2006). De forme geral, o modelo regional

representou bem distribuição da evapotranspiração sobre o continente durante a estação úmida

(FMA). Os maiores valores de evapotranspiração são observados região central-norte da

Amazônia na Colômbia e Peru com valores variando em torno de 5 mm dia-1

. Os menores

valores foram observados na região Nordeste do Brasil e no extremo nordeste do continente.

Observou-se que o modelo subestima a evapotranspiração na região Nordeste (-4 mm dia-1

) e

no nordeste do continente no estado do Amapá e a parte de Roraima (-3 a -4 mm dia-1

).

Na estação seca os maiores valores de evapotranspiração foram observados no

noroeste do Amazonas, no sul da Colômbia e norte do Peru. Semelhante à estação úmida, o

modelo regional subestimou a evapotranspiração no Nordeste do Brasil e no nordeste do

continente sul-americano com valores variando em torno de -5 mm dia-1

conforme mostrado

na Figura 4.5. O modelo também subestimou a evapotranspiração na região costeira que vai

desde o estado de Santa Catarina até o estado do Rio Grande do Norte (-1 a -2 mm dia-1

).

Observou-se valores altos do coeficiente de correlação entre os dados simulados e reanálises

mostrando assim boa correlação entre os valores simulados e das reanalises.

Page 57: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

57

Figura 4.5- Distribuição da evapotranspiração (mm dia-1

) para o período de fevereiro-

abril (FMA): (a) Simulado pelo modelo regional ETA, (a) NCEP/NCAR; (c) bias

(mm dia-1

); (d) REMQ (mm dia-1

); (e) coeficiente de correlação. Distribuição da

evapotranspiração (mm dia-1

) para o período de julho-setembro (JAS): (f) Simulado

pelo modelo regional ETA, (g) NCEP/NCAR; (h) bias (mm dia-1

); (i) REMQ e (j)

coeficiente de correlação.

4.3 - Fluxo de umidade e Convergência de umidade

A avaliação do desempenho do modelo regional na representação da distribuição

espacial e sazonal do transporte e convergência de umidade é apresentada nesse item.

Para essa validação foram também utilizados os dados de reanálises do NCEP/NCAR

sobre a América do Sul para o período ao período de janeiro de 1990 a dezembro de

2010. A avaliação do desempenho do transporte e convergência de umidade é também

fundamental, pois estão diretamente associados ao processo de reciclagem de

precipitação sobre o continente.

Page 58: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

58

As Figuras 4.6 e 4.7 apresentam a distribuição espaço-sazonal do transporte e

convergência de umidade sobre a América do Sul proveniente dos dados de reanálises e

simulada pelo modelo regional para as estações de verão (FMA) e inverno (JAS). O

continente sul-americano tropical é caracterizado por uma forte variação anual de

precipitação, apresentando grande quantidade de chuvas no verão austral e escassa

precipitação durante o inverno. Essa mudança sazonal no regime de precipitação está

associada à variação anual da circulação atmosférica (transporte de umidade) sobre o

continente. Durante o verão a circulação atmosférica mostra uma baixa térmica

persistente entre 20 e 30 °S sobre a região do Chaco, associada à máxima nebulosidade

sobre a Amazônia Central e o Altiplano da Bolívia, na época em que a Zona de

Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é mais ativa e intensa. Conforme mostrado na

Figura 4.6, um padrão importante da circulação equatorial são os ventos alísios que

transportam umidade do Atlântico Tropical para a Amazônia durante o verão e outono.

Esse fluxo de vapor d´água do Atlântico Equatorial é a principal fonte de umidade para

a Bacia Amazônica (Satyamurty et al., 2013). Quando os ventos alísios encontram os

Andes, são orientados para o sudeste, e a umidade por sua vez, é transportada da

Amazônia para as regiões centro-sul Brasil e norte da Argentina através do Jato de

Baixos Níveis (JBN). Nesse período, a intensa atividade convectiva e as chuvas sobre as

regiões sul e sudeste da Amazônia estão associadas à intensa convergência de umidade

decorrente do fluxo de umidade da Amazônia e também a ação dos sistemas frontais

que vêm do sul e organizam a convecção (Figura 4.7).

As características da circulação atmosférica observadas sobre a América do Sul

tropical e subtropical durante o verão austral (Figura 4.6) configuram o regime de

Monção de Verão da América do Sul – MVAS (Arraut e Satyamurty, 2009),

estabelecendo um padrão de intensa convergência de umidade na Amazônia e no Brasil

central. Entre o mês de novembro e final de fevereiro o regime de monção está em sua

fase madura; entretanto, a fase de decaimento se estabelece entre março e maio, isto é, a

convecção, e a convergência de umidade, se deslocam para o norte seguinte o

hemisfério de verão (Figura 4.7). Nesta fase, a precipitação se intensifica sobre a porção

norte da Amazônia e Nordeste do Brasil conforme apresentado na Figura 4.6. A

climatologia sazonal da circulação em baixos níveis mostra que durante a estação seca

existe uma convergência dos ventos alísios de sudeste e nordeste formando um fluxo em

direção à América Central, conduzindo umidade não apenas para esta região, mas

Page 59: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

59

também para o leste do Nordeste do Brasil e noroeste da América do Sul, o que se

reflete nas precipitações sobre estas áreas. Nesse período caracteriza-se uma região de

divergência de umidade no sul da bacia amazônica e na porção central do continente

conduzindo a uma redução das atividades convectivas e da precipitação, estabelecendo

assim, a estação seca sobre o continente (Figuras 4.7).

O modelo representou de forma consistente a distribuição espacial do fluxo de

vapor d‟água sobre o continente. Observaram-se valores mais intensos sobre a porção

central da bacia na estação chuvosa e no norte da América do Sul na estação seca

(Figura 4.6). Quanto à convergência de umidade, o modelo também simulou bem a

variação sazonal com valores intensos na porção central-sul da bacia consistente com o

maior fluxo de umidade e a banda de intensa precipitação decorrente da Zona de

Convergência do Atlântico Sul – ZCAS (Figura 4.7). Sobre a bacia amazônica observa-

se um padrão de convergência de umidade simulado pelo modelo, mostrando que a

bacia comporta-se como um sumidouro de umidade apresentando taxa de precipitação

maior que de evapotranspiração. Esse mesmo padrão é observado utilizando os dados de

reanálises. Em ambas as estações o modelo superestimou o fluxo de umidade sobre o

continente, principalmente nas regiões leste e central da Amazônia. No verão, o modelo

superestimou o fluxo de umidade na região do Jato de Baixo Niveis em uma faixa que

compreende o Peru até o leste do Pará (120 a 150 km m-1

s-1

). Na estação seca, o

modelo também superestimou o fluxo de umidade na região do JBN, no entanto, com

valores menores do que os encontrado na estação úmida (Figura 4.7).

Page 60: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

60

Figura 4.6- Média sazonal do fluxo de vapor d‟água integrado verticalmente (kg m-1

s-1

)

para a estação úmida (FMA): (a) simulada pelo modelo regional ETA, (b) reanálises do

NCEP/NCAR (c) bias (kg m-1

s-1

). Estação seca (JAS): (d) simulada pelo modelo

regional ETA, (e) reanálises do NCEP/NCAR, (f) bias (kg m-1

s-1

).

(A) (B) (C)

(D) (E) (F)

Page 61: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

61

Figura 4.7- Média sazonal da convergência do fluxo de umidade (mm dia-1

) para o a

estação úmida (FMA): (a) simulada pelo modelo regional ETA, (b) reanálises do

NCEP/NCAR (c) bias (mm dia-1

). Estação seca (JAS): (d) simulada pelo modelo

regional ETA, (e) reanálises doNCEP/NCAR, (f) bias (kg m-1

s-1

).

4.4 - Balanço de umidade

A Tabela 4.1 apresenta os valores dos componentes do balanço de água

provenientes das reanálises do NCEP/NCAR e simulados pelo modelo ETA para as

estações úmida (FMA) e seca (JAS) e a média anual sobre as regiões apresentadas na

Figura 4.3. Os componentes avaliados foram: precipitação (P), evapotranspiração (E),

escoamento superficial (R), convergência de umidade (C), “incremento de análise”

definido por P-E-C (Zeng, 1999), que representa a medida absoluta do desbalanço, e a

medida relativa do desbalanço representado por: [(C/R)-1] apresentado por Marengo

(2005). A precipitação média anual proveniente do MERGE sobre a bacia inteira foi de

6,0 mm.dia-1

com valores mais intensos na estação úmida (9,0 mm.dia-1

) e menores na

(C) (B) (A)

(D) (E) (F)

Page 62: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

62

estação seca (2,9 mm.dia-1

). Esses valores estão próximos daqueles encontrados por Xie

e Arkin (1996), Huffman et al. (1997) e Marengo (2005). A evapotranspiração

proveniente das reanálises apresentou pouca variação sazonal com valor médio na bacia

de 4,2 mm dia-1

com valor menos intenso na estação seca (3,5 mm.dia-1

). De modo geral,

o modelo apresentou deficiência na representação dos componentes do balanço de

umidade na Amazônia subestimando alguns dos componentes, tais como:

evapotranspiração (45%) e precipitação (55%) na bacia inteira no trimestre FMA.

Durante o período, a precipitação foi maior que a evapotranspiração (P>E) mostrando

que a Amazônia é um sumidouro de umidade, recebendo umidade principalmente do

Oceano Atlântico. Entretanto, em escala regional, a Amazônia comporta-se como fonte

de umidade para outras regiões da América do Sul (região centro-oeste e sudeste

brasileiro, além da Bacia do Prata na Argentina).

Ainda na Tabela 4.1 pode-se notar que o incremento de análise do desbalanço

relativo mostra um não fechamento do ciclo hidrológico na região Amazônica, tanto nos

dados de reanálises como nos dados simulados pelo modelo ETA, com desbalanço

maior ocorrendo nos dados de reanálises (27,8%). Esses resultados mostram que tanto

os dados de reanálises como os simulados apresentam erros e incertezas embutidos. Em

relação aos dados de reanálises os erros podem estar relacionados às incertezas nas

estimativas de precipitação e escoamento superficial, fazendo com que as reanálises não

representem de forma realística essas variáveis. Enquanto que nos resultados simulados,

essas incertezas podem estar relacionadas ao esquema de parametrização dos processos

físicos do modelo, e também pelo pouco tempo de “spin up” utilizado na realização da

integração numérica, conduzindo assim a um desbalanço de umidade na bacia

amazônica.

Page 63: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

63

Tabela 4.1 – Componentes do balanço de umidade (mm.dia-1

) simulados pelo modelo

regional ETA e estimativas de precipitação (MERGE) e reanálises do NCEP/NCAR:

para a média anual, estações úmida e seca, e também para toda a bacia, porções norte e

porção sul. P – precipitação; E – evapotranspiração; R – escoamento superficial; C –

convergência de umidade; incremento de análise e medida relativo do balanço.

Page 64: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

64

CAPÍTULO 5

IMPACTOS REGIONAIS

O impacto na reciclagem de precipitação decorrente dos desflorestamentos é a

principal abordagem desse estudo, entretanto, como a reciclagem é dependente dos

componentes do balanço de água, faz-se necessário, primeiramente, avaliar e

quantificadar as mudanças nesses componentes na bacia amazônica (precipitação,

evapotranspiração, convergência de umidade, fluxo de umidade e o escoamento

superficial). Para tal avaliação foram produzidos quatro cenários de mudanças nos usos

da terra para o período de janeiro de 1990 a dezembro de 2010. Conforme mostrado no

Capítulo 3, esses cenários foram classificados da seguinte forma: CNTRL - cenário

controle, no qual a floresta amazônica não apresenta áreas desflorestadas; 2010 -

cenário de desflorestamento para o ano de 2010; 2050 - cenário de desflorestamento

para o ano de 2050 e 2100 – cenário para o ano de 2100.

Nesse capítulo apresentam-se os resultados dos impactos na temperatura do ar,

nos componentes do balanço de água e na reciclagem de precipitação para os quatro

cenários de desflorestamento referente à média para o período das simulações. Além

disso, é importante avaliar as mudanças nos períodos contrastantes (seco e úmido), uma

vez que, alterações na sazonalidade podem ter importantes efeitos nos ecossistemas

(Zhang e Henderson-Sellers, 1996). Por exemplo, Figueroa e Nobre (1990) e Nobre et

al. (1991) sugerem que se a precipitação anual permanecesse a mesma após o

desflorestamento, mas o período seco fosse aumentado e a precipitação reduzida, com

pequeno aumento da precipitação no período chuvoso, os ecossistemas locais poderiam

ser afetados, embora houvesse pequena ou nenhuma mudança na média anual.

5.1 – Temperatura do ar

A distribuição espacial de temperatura do ar próximo à superfície é apresentada

na Figura 5.1. De forma geral, observa-se pouca variação de temperatura na bacia

amazônica decorrente da intensa disponibilidade de energia solar durante o ciclo anual

na região. Na média a temperatura variou entre 25oC a 27

oC sobre a bacia com valores

mais baixos na porção sul durante o inverno devido a penetração dos sistema sinóticos

Page 65: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

65

(frentes frias) nessa região. A temperatura do ar apresentou aumento em todos os

cenarios de desflorestamento, com valores médios mais significativos nos cenários de

2050 e 2100, conforme apresentado na Figura 5.1. Na média, os valores variaram entre

1,5oC, 3,0

oC e 4,5

oC para os cenários 2010, 2050 e 2100, respectivamente. Esses

valores de temperatura são mais acentuados que os encontrados por Von Randow et al.

(2004) quando avaliaram medidas micrometeorológicas tomadas em sítios de floresta e

de pastagem na Amazônia. Contudo, simulações com modelos de circulação geral da

atmosfera (MCGA) e regional (MR) realizadas, respectivamente, por Correia et al.

(2007) e Gandu et al. (2004) têm mostrado aumento de temperatura similar a encontrada

no presente estudo. A maioria dos estudos utilizou os parâmetros referentes à savana

(cerrado) para representar as áreas desflorestadas nos trópicos, enquanto que no presente

estudo utilizaram-se parâmetros referentes à pastagem degradada na Amazônia.

As maiores mudanças ocorreram no nordeste da bacia e em Rondônia no ano de

2010, no Pará e leste do Amazonas no cenário 2050 e sobre toda a bacia amazônica no

cenário de 2100, com aumento da temperatura estendendo-se além dos limites onde não

houve mudanças na cobertura. Isso indica que a atmosfera ficou mais quente na região

desflorestada, conduzindo a um aumento na tempertura do ar. Essas mudanças, que

ocorrem além da região de domínio da cobertura vegetal, pode ser um indicativo de que

a estrutura dinâmica da atmosfera tenha sido modificada devido às mudanças nos

parâmetros da superfície. De forma geral, observou-se que a intensidade do aumento de

temperatura está diretamente associada ao grau de desflorestamento na bacia

amazônica, sendo mais intenso à medida que se expande as mudanças nos usos da terra.

Entretanto, diferente do observado em outros estudos de desflorestamento, as mudanças

mais intensas estão presentes na estação úmida e não na estão seca, com valores

máximos da ordem de 3,0oC e 5,5

oC nos cenários de 2050 e 2100, respectivamente.

O aquecimento sobre a região desflorestada é decorrente da redução na

evapotranspiração e na redução do comprimento de rugosidade, uma vez que a

rugosidade da superfície tem papel fundamental na modulação dos fluxos turbulentos de

calor e de umidade entre o continente e a atmosfera. A redução do comprimento de

rugosidade (variando de 2,55 m na floresta para 0,02 m na pastagem degradada) reduziu

a eficiência da transferência turbulenta de energia na superfície; assim sendo, um valor

mais alto de temperatura é necessário para remover o excesso de energia da superfície.

Além disso, o menor índice de área foliar e a reduzida capacidade de armazenar

Page 66: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

66

umidade do solo na pastagem degradada têm o efeito de reduzir a taxa de transpiração;

também na pastagem, menos precipitação é interceptada e reevaporada quando o

comprimento de rugosidade é relativamente menor.

Figura 5.1 – Impactos na temperatura do ar (°C) decorrentes dos cenários de mudanças

nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição da

temperaturapara o cenário CNTRL; (B) Impactos na temperatura decorrentes do cenário

2010 em relação ao CNTRL; (C) Impactos na temperatura decorrentes do cenário 2050

em relação ao CNTRL; (D) Impactos na temperatura decorrentes do cenário 2100 em

relação ao CNTRL. Inverno: (E) Distribuição da temperatura para o cenário CNTRL;

(F) Impactos na temperatura decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (G)

Impactos na temperatura decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (H)

Impactos na temperatura decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL.

5.2 Evapotranspiração

A evapotranspiração é o componente do balanço de umidade que tem influência

direta na precipitação local e também na reciclagem de precipitação, além de ser

influenciada pelas mudanças nos usos e cobertura da terra, principalmente aquelas

decorrentes do desflorestamento. Além disso, a evapotranspiração proveniente da

floresta amazônica representa uma das principais fontes de vapor d‟água para a bacia e

Page 67: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

67

também para regiões remotas, desempenhando papel fundamental no processo de

geração de precipitação em outras regiões do país. Reduzindo a evapotranspiração

espera-se, a princípio, que haja redução na precipitação; entretanto, devido à

complexidade do sistema atmosfera-biosfera e das contínuas interações dos processos

dinâmicos e hidrológicos, a redução na evaporação pode ser compensada por um

aumento na convergência de umidade. Isso provavelmente acontece se houver uma

relativa queda da pressão atmosférica à superfície sobre a área desflorestada e

consequente ascensão do ar e maior fluxo de umidade proveniente do oceano adjacente

sobre a região (Nobre et al., 1991).

As Figuras 5.2(A) e 5.2(E) apresentam a distribuição espacial de

evapotranspiração para as estações chuvosa e seca, respectivamente. Na estação úmida,

observa-se uma região de valores intensos de evapotranspiração (3,0 a 5,0 mm dia-1

)

estendendo-se do oeste da Amazônia ao extremo sul do Brasil. Na estação seca os

maiores valores estão concentrados na porção central e oeste da bacia amazônica com

valores variando de 2,5 a 4,0 mm dia-1

, enquanto que na porção central da bacia valores

mínimos estão presentes. Em todos os períodos observaram-se valores inferiores sobre o

nordeste do Brasil. De forma geral, observaram-se reduções significativas na

evapotranspiração nos cenários 2050 e 2100; entretanto, para o ano de 2010, não se

observou mudança na evapotranspiração (Figura 5.2). As mudanças mais intensas

ocorreram sobre a parte central-norte da bacia amazônica com valores variando de -

1,5 mm dia-1

no cenário de 2050 e -2,5 mm dia-1

para o cenário 2100. A redução na

evapotranspiração é devido à diminuição na transpiração e na evaporação da água

interceptada pela planta, uma vez que se observou aumento na evaporação direta do solo

(não mostrado). Nesse estudo, observou-se maior redução da evapotranspiração na

estação seca, sendo a redução na transpiração a principal contribuinte, uma vez que uma

menor quantidade de água no solo estava disponível para a planta, devido ao menor

comprimento das raízes na pastagem degradada. As mudanças acentuadas na estação

seca estão relacionadas ao estresse de água no solo nesse período, fazendo com que

menos água esteja disponível para a transpiração, uma vez que, as raízes são reduzidas

na substituição de floresta para pastagem degradada. Resultados semelhantes a esses

foram encontrados em outros experimentos de desflorestamento utilizando modelos de

circulação geral da atmosfera (Kleidon e Heimann, 1999; 2000).

Page 68: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

68

No período úmido, à disponibilidade de umidade no solo fez com que não

houvesse deficiência hídrica, e consequentemente, a redução no fluxo de calor latente

(evapotranspiração) foi menos intensa. A redução na evapotranspiração, entre outros

fatores, depende da combinação de dois efeitos, isto é, primeiro, da redução na água

interceptada pelas plantas, devido à menor capacidade de interceptação do dossel e da

rugosidade na pastagem; segundo, o ciclo anual da transpiração da floresta e da

pastagem será diferente, uma vez que a pastagem apresenta uma distribuição de raízes

mais rasa que a da floresta, apresentando redução significativa na evapotranspiração na

estação seca.

Essa redução na evapotranspiração é uma característica comum observada em

vários experimentos de desflorestamento já realizados, apresentando apenas variações

na magnitude da redução em cada estudo (Correia et al., 2007; Rocha et al., 2015). A

redução na evapotranspiração observada neste estudo está próxima daquela encontrada

em diferentes trabalhos, como, por exemplo, o de Dickinson e Kennedy (1992), que

encontram redução de 20%, de Lean e Rowntree (1993), cuja redução foi de 24%, dos

de Zhang e Henderson-Sellers (1996) e de Lean e Rowntree (1997), que observaram

redução de 18% no evapotranspiração. As diferenças podem estar relacionadas ao total

da área considerada para a média das variáveis e, principalmente, do desempenho dos

esquemas de superfície e dos cálculos da energia disponível e da precipitação.

Page 69: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

69

Figura 5.2 - Impactos na evapotranspiração (mm dia-1

) decorrentes dos cenários de

mudanças nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição de

evapotranspiração para o cenário CNTRL; (B) Impactos na evapotranspiração

decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (C) Impactos na evapotranspiração

decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (D) Impactos na evapotranspiração

decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL. Inverno: (E) Distribuição de

evapotranspiração para o cenário CNTRL; (F) Impactos na evapotranspiração

decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (G) Impactos na evapotranspiração

decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (H) Impactos na evapotranspiração

decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL.

5.3 – Convergência e Fluxo de Umidade

Outro componente do balanço de umidade que tem influência direta na

precipitação total e na reciclagem de precipitação é a convergência de umidade. As

Figuras 5.3 e 5.4 apresentam a distribuição espacial da convergência de umidade e

transporte de umidade, e seus respectivos impactos decorrentes das mudanças nos usos

da terra para as estações seca e úmida. O continente sul-americano tropical é

Page 70: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

70

caracterizado por uma forte variação anual de precipitação, apresentando grande

quantidade de chuvas no verão austral e escassa precipitação durante o inverno. Essa

mudança sazonal no regime de precipitação está associada à variação anual da

circulação atmosférica e no transporte de vapor d‟água sobre o continente. Durante o

verão, se apresenta uma baixa térmica persistente entre 20° e 30°S sobre a região do

Chaco, associada à máxima nebulosidade sobre a Amazônia Central e o Antiplano da

Bolívia, na época em que a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é mais

ativa e intensa. Conforme mostrado na Figura 5.5 o padrão importante da circulação

equatorial são os ventos alísios, que transportam umidade do Oceano Atlântico Tropical

para a Amazônia, associados à maior pressão atmosférica no Atlântico Tropical Norte

durante o verão e outono. Esse fluxo de vapor d‟água do Atlântico Equatorial é a

principal fonte de umidade para a Bacia Amazônica (Satyamurty et al., 2013). Quando

os ventos alísios encontram os Andes, então o fluxo de vapor d‟água é desviado para o

sudeste, e a umidade, por sua vez, transportada da Amazônia para o centro-sul do Brasil,

para a bacia do Prata e o norte da Argentina. Nesse período, a intensa atividade

convectiva e as chuvas sobre as regiões sul e sudeste da Amazônia estão associadas à

intensa convergência de umidade decorrente do fluxo de umidade da Amazônia através

do Jato de Baixo Niveis (JBN) e também devido à ação dos sistemas frontais que vêm

do sul e organizam a convecção.

Page 71: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

71

Figura 5.3 - Impactos na convergência de umidade (mm dia-1

) decorrentes dos cenários

de mudanças nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição de

convergência de umidade para o cenário CNTRL; (B) Impactos na convergência de

umidade decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (C) Impactos na

convergência de umidade decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (D)

Impactos na convergência de umidade decorrentes do cenário 2100 em relação ao

CNTRL. Inverno: (E) Distribuição de convergência de umidade para o cenário CNTRL;

(F) Impactos na convergência de umidade decorrentes do cenário 2010 em relação ao

CNTRL; (G) Impactos na convergência de umidade decorrentes do cenário 2050 em

relação ao CNTRL; (H) Impactos na convergência de umidade decorrentes do cenário

2100 em relação ao CNTRL.

As características da circulação atmosférica observadas sobre a América do Sul

tropical e subtropical durante o verão austral (Figura 5.4) configuram o regime de

Monção de Verão da América do Sul – MVAS (Arraut e Satyamurty, 2009),

estabelecendo um padrão de intensa convergência de umidade na Amazônia e no Brasil

central. Entre o mês de novembro e final de fevereiro o regime de monção está em sua

Page 72: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

72

fase madura; entretanto, a fase de decaimento se estabelece entre março e maio, isto é, a

convecção, e a convergência de umidade, vão progredindo em direção ao norte. Nesta

fase, a precipitação se intensifica sobre a seção norte da Amazônia e Nordeste do Brasil

conforme apresentado na Figura 5.4. A climatologia sazonal da circulação em baixos

níveis mostra que durante a estação seca existe uma convergência dos ventos alísios de

sudeste e nordeste formando um fluxo em direção à América Central, conduzindo

umidade não apenas para esta região, mas também para o leste do Nordeste do Brasil e

noroeste da América do Sul, o que se reflete nas precipitações sobre estas áreas. Nesse

período caracteriza-se uma região de divergência de umidade no sul da Bacia

Amazônica e na porção central do continente conduzindo a uma redução das atividades

convectivas e da precipitação, estabelecendo assim, a estação seca sobre o continente

(Figuras 5.3 e 5.5).

Embora a maior parte da umidade necessária para gerar as chuvas na bacia

amazônica seja proveniente de fora da região, conforme observado em vários estudos na

literatura, a contribuição da evapotranspiração local para a precipitação sobre a bacia

amazônica – reciclagem de precipitação – representa uma porção significativa do

balanço de água regional e desempenha um importante papel no ciclo hidrológico

amazônico, influenciando os padrões espaciais de umidade do solo, a produtividade e a

ocorrência de eventos extremos, tais como enchentes e secas. De forma geral, observa-

se que a bacia amazônica comporta-se como uma região de convergência de umidade

com valores variando de -2 a -6 mm dia-1

na estação úmida e de -1 a -4 mm.dia-1

na

estação seca (Figura 5.3). Isso mostra que durante todo o ano a precipitação é maior que

a evapotranspiração (P > E), indicando que a bacia amazônica comporta-se como

sumidouro de umidade. Esse resultado também é observado em outros estudos sobre

transporte de umidade na Amazonia (Marengo et al., 2005; Marengo, 2006; Satyamurty

et al. 2013).

Com relação às mudanças decorrentes dos cenários de desflorestamento observa-

se que os impactos mais significativos na convergencia de umidade ocorreram nos

cenários de 2050 e 2100, enquanto que no ano de 2010 poucas mudanças foram

observadas (Figura 5.3). Para a situação mais atual observou-se pequeno aumento na

convergência de umidade no leste do Pará e em Rondônia estando posicionados sobre a

região de maior taxa de desflorestamento. Entretanto, esse aumento na convergência

não foi intenso suficiente para gerar precipitação nessas regiões. Esses resultados

Page 73: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

73

diferem daqueles encontrados em outros estudos na literatura (Correia et al. 2007;

Rocha et al., 2015). Por exemplo, Correia et al. (2007) avaliando os impactos dos

desflorestamento utilizando modelos de circulação geral e regional da atmosfera

observaram mudanças significativas na convergência de umidade e na precipitação no

cenário atual de desflorestamento na Amazônia. Os autores encontraram aumento da

precipitação e convergência de umidade para cenário atual e redução em ambas

variáveis nos cenários de desflorestamento de grande escala. Nos cenários de 2050 e

2100 observaram-se aumentos e reduções na convergência de umidade ao longo da

bacia e em regiões fora da Amazônia. De forma geral, aumento da convergência de

umidade na porção mais ao sul e redução na convergência na porção central oeste da

bacia foram observados em ambos cenários durante a estação úmida. Na estação seca,

as mudanças na convergência de umidade foram mais intensas que aquelas observadas

na estação úmida. Esse resultado indica que o desflorestamento em diferentes escalas

pode contribuir para modificar a estrutura dinâmica da atmosfera e, consequentemente,

gerar uma circulação local (mesoescala) ocasionada por um aquecimento diferencial

relacionada à heterogeneidade da superfície, uma vez que, as características térmicas e

radiativas da cobertura vegetal foram modificadas.

Semelhante à convergência de umidade, não se observou mudanças

significativas no transporte de umidade no ano de 2010. No cenário de 2050 observou-

se redução do fluxo de vapor d‟água na região central da Amazonia (-20 kg.m-1

s-1

), que

se estendeu do nordeste da bacia ao oeste do Amazonas na estação úmida. No cenário

de 2100 observaram-se redução (-40 kg.m-1

s-1

) no norte da bacia e aumento na porção

mais ao sul em ambas as estações. Além disso, observou-se nesses cenários redução no

transporte de umidade sobre a região do Jato de Baixos Níveis – JBN (Figura 5.4),

caracterizada por uma região de intenso fluxo de vapor d´água que é responsável pelo

transporte de umidade da Amazônia para as regiões, central e sul do Brasil, e também

para a Bacia do Plata. Essas mudanças na convergência e no transporte de umidade

também podem indicar que as mudanças nos usos da terra na Amazônia contribuem

para modificar a estrutura dinâmica da atmosfera e, conseqüentemente, produzir

circulação local (mesoescala) ocasionada por um aquecimento diferencial.

Page 74: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

74

Figura 5.4 - Impactos no fluxo de umidade (kg m-1

s-1

) decorrentes dos cenários de

mudanças nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição do

fluxo de umidade para o cenário CNTRL; (B) Impactos no fluxo de umidade decorrente

do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (C) Impactos no fluxo de umidade decorrente

do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (D) Impactos no fluxo de umidade decorrentes

do cenário 2100 em relação ao CNTRL. Inverno: (E) Distribuição do fluxo de umidade

para o cenário CNTRL; (F) Impactos no fluxo de umidade decorrente do cenário 2010

em relação ao CNTRL; (G) Impactos no fluxo de umidade decorrente do cenário 2050

em relação ao CNTRL; (H) Impactos no fluxo de umidade decorrentes do cenário 2100

em relação ao CNTRL.

Page 75: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

75

5.4 – Precipitação

A Figura 5.5 apresenta distribuição espacial da precipitação para as estações

úmidas e secas no cenário controle e os respectivos impactos relacionados aos cenários

de desflorestamento. Na estação úmida o modelo representou os maiores valores de

precipitação sobre o continente nos meses de fevereiro-março-abril, estando associado,

principalmente, a atuação do sistema de escala sinótica denominado Zona de

Convergência do Atlântico Sul – ZCAS. Os valores mais baixos são observados na

região central e Sudeste do Brasil durante o trimestre julho-agosto-setembro. No

período úmido a banda de precipitação se estendeu desde o extremo norte do continente

até a região sudeste conforme observado no padrão climatológico para o período

(Marengo et al., 2005).

Semelhante à convergência de umidade e a evapotranspiração, não se observam

mudanças significativas na precipitação para o ano de 2010 em ambas as estações, com

mudanças mais acetuadas observadas somente nos cenários de 2050 e 2100. Na estação

úmida observaram-se reduções da ordem de 3 mm dia-1

e 5 mm dia-1

nos cenários 2050

e 2100, respectivamente; enquanto que, na estação seca as reduções foram 2 mm dia-1

e

3,5 mm dia-1

. Em todos os cenários, as reduções na precipitação estavam concentradas

na porção central-norte da bacia amazônica, estendendo-se desde o Maranhão ao

extremo noroeste do continuente sul-americano. Reduções na precipitação sobre a Zona

de Convergência Intertropical (ZCIT) também foram observadas no cenário de 2100. De

forma contrária, observou-se aumento na precipitação sobre os Andes em todos os

cenáriose estações. Esses aumentos e reduções da precipitação em diferentes locais na

região amazônica podem indicar que o desflorestamento contribui para modificar a

circulação regional; provavelmente causado pelo aquecimento da superfície devido às

mudanças nas características da cobertura vegetal.

Entretanto em termos relativos, os maiores impactos ocorreram na estação na

estação úmida no cenário 2050 com redução de 12%, enquanto que no cenário 2100 as

maiores mudancas aconteceram na estação seca com redução de aproximadamente 30%.

Avaliando o cenário 2050 no período úmido observa-se que a reduçao na precipitação

foi decorrente da redução na evapotranspiração, uma vez que, não se observaram

mudanças na convergência de umidade na média da bacia. De forma contrária, na

Page 76: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

76

estação seca, embora observado aumento na convergência de umidade (0,3 mm dia-1

),

essa não foi intensa o suficiente para balancear e sobrepujar a redução na

evapotransnpiração, conduzindo assim a uma redução na precipitação (0,3 mm dia-1

).

Isso mostra mais uma vez que esse cenário de desflorestamento contribuiram para

modificar a circulação regional, gerando uma circulação que favorece a convergência

regional de umidade, estando relacionada ao aumento do aquecimento na superfície e as

mudanças nas características da cobertura vegetal.

No cenário de 2100, observa-se que a redução na precipitação no período úmido

tambem foi determinada pela redução na evapotranspiração, uma vez que, não se

observaram mudanças na convergência de umidade na média da bacia. Entretanto na

estação seca, embora havendo aumento na convergência de umidade (0,5 mm dia-1

), a

precipitação foi reduzida (1,1 mm dia-1

) devido à maior redução na evapotranspiração.

Esse resultado mostra que, apesar do aumento na convergência de umidade, essa não foi

intensa o suficiente para balancear e sobrepujar a redução na evapotranspiração,

conduzindo a uma redução na precipitação. Esses resultados confirmam o que foi

observado no cenário 2050, e também em outros estudos propostos na literatura

(Correia, 2007; Sampaio et al., 2007; Nobre et al., 2009), isto é, a atmosfera agiu no

sentido de minimizar os efeitos da redução na evaporação; contudo nesses cenários

observou-se redução na precipitação na estação seca, devido à redução significativa na

evapotranspiração sobre a região. Além disso, na média da bacia a intensidade das

mudanças na precipitação está diretamente associda ao grau de desflorestamento com

valores variando 0,7 mm dia-1

(cenário 2050) e 1,7 mm dia-1

(cenário 2100) na estação

úmida, e com valores variando de 0,3 mm dia-1

(cenário 2050) e 1,1 mm dia-1

(cenário

2100) na estação seca. Diante desses resultados, a seguinte hipótese pode ser levantada:

até certo ponto o estado do desflorestamento pode não conduzir a mudanças

significativas na precipitação em escala local e regional, entretanto, esse panorama não

permanecerá se a degradação antropogênica continuar a expandir como vem acorrendo

nas últimas décadas na Amazônia. Isso pode significar que, à medida que aumenta o

grau do desflorestamento, a convergência de umidade não seja intensa o suficiente para

balancear o aumento na redução da evaporação, conduzindo desta maneira, a uma

atmosfera mais seca e com menos precipitação.

Page 77: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

77

Figura 5.5– Impactos na precipitação (mm dia-1

) decorrentes dos cenários de mudanças

nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição da precipitação

para o cenário CNTRL; (B) Impactos na precipitação decorrentes do cenário 2010 em

relação ao CNTRL; (C) Impactos na precipitação decorrentes do cenário 2050 em

relação ao CNTRL; (D) Impactos na precipitação decorrentes do cenário 2100 em

relação ao CNTRL. Inverno: (E) Distribuição de precipitação para o cenário CNTRL;

(F) Impactos na precipitação decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (G)

Impactos na precipitação decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (H)

Impactos na precipitação decorrentes do cenário 2100 em relação ao CNTRL.

5.5 – Mudanças Sazonais no Balanço de Água

Nesta seção, avaliaram-se as variações sazonais nos componentes do balanço de

água e seus impactos para os cenários de desflorestamento na bacia amazônica. Para

isso utilizaram-se as médias mensais da precipitação, evapotranspiração, convergência

de umidade, fluxo de umidade e escoamento superficial para três regiões: bacia

amazônica, porção norte e porção sul da bacia, conforme mostrado na Figura 4.3.

Quando se avalia o impacto do desflorestamento no clima regional é importante

examinar as mudanças ocorridas durante o ciclo sazonal, uma vez que alterações na

Page 78: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

78

sazonalidade podem ter importantes efeitos nos ecossistemas (Zhang e Henderson-

Sellers, 1996).

5.5.1 – Bacia Amazônica

A região Amazônica é caracterizada por um forte ciclo anual da precipitação,

com valores mais intensos acompanhando o deslocamento meridional do aquecimento

solar (Figura 5.6). O período de chuvas ou forte atividade convectiva na região é

compreendido entre novembro e março, enquanto o período seco vai de maio a

setembro. Os meses de abril a outubro são meses de transição entre um regime eoutro.

Durante o trimestre dezembro-janeiro-fevereiro observa-se uma região de alta

precipitação situada na parte oeste e central da Amazônia, estando à mesma em conexão

com a posição geográfica da Alta da Bolívia. Por outro lado, no trimestre junho-julho-

agosto o centro de máxima precipitação desloca-se para o norte e se situa sobre a

América Central. Nessa estacão, a região amazônica, principalmente na parte central,

está sob o domínio do ramo descendente da Célula de Hadley, induzindo a um período

seco bem característico. Essa variação sazonal no clima da região amazônica pode

conduzir a resultados diferentes quando se avalia o impacto do desflorestamento nos

períodos úmido e seco da região.

A evapotranspiração apresentou pouca variação sazonal com valores variando

em torno de 3 mm dia-1

, estando bem próximo daquele encontrado por Marengo et al

(1995) e Marengo (2006). Os menores valores foram observados durante a estação seca

devido à redução na disponibilidade de água no solo nesse período, fazendo com que

menos água esteja disponível para os processos de transpiração e evaporação (Figura

5.6). A convergência de umidade e o escoamento superficial apresentaram ciclo sazonal

similar ao da precipitação com valores mais intensos na estação chuvosa e valores mais

baixos na estacao seca. Entretanto não se observou variações sazonais significativas no

transporte de umidade sobre a bacia com valores em torno de 150 kg m-1

s-1

, entretanto

o fluxo pode ter comportamento diferente quando se avaliar as porções norte e sul da

bacia separadamente.

Page 79: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

79

Figura 5.6 – Ciclo anual das variáveis do balanço de umidade para toda a região

Amazônica para o cenário CNTRL e os três cenários de mudanças no uso da terra 2010,

2050 e 2100: (A) Precipitação (mm dia-1

); (B) Evapotranspiração (mm dia-1

); (C)

Convergência de umidade (mm dia-1

); (D) Fluxo de umidade (kg m-1

s-1

); (E)

Escoamento superficial (mm dia-1

).

Page 80: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

80

Avaliando os impactos dos desflorestamentos no ciclo sazonal dos componentes

do balanço de água observou-se que não existem mudanças significativas no

desflorestamento para o ano de 2010, entretanto os impactos somente foram observados

para os cenários de 2050 e 2100, conforme apresentado na Figura 5.6. De forma geral,

reduções na precipitação durante todo o período foram observadas nesses cenários, com

valores mais intensos no cenário de 2100. Entretanto, as mudanças foram mais

significativas na estação seca no cenário de 2100 e na estacao úmida para o cenário

2050. Portanto, o cenário de desflorestamento 2100 pode conduzir a um aumento do

período seco, levando, por sua vez, a sérias implicações aos ecossistemas e aumento

potencial do fogo, retardando a regeneração da floresta secundária. A convergência de

umidade apresentou aumento significativo na estação seca com valores de 33% e 56%

para os cenários de 2050 e 2100, respectivamente. Para evapotranspiração também

observam reduções significaticas durante todo período em ambos cenários, com valores

maiores no cenário de 2100 e na estação seca (37%), quando a evapotranspiração foi

limitada pela redução na disponibilidade de água no solo devido à redução das raízes

profundas na pastagem degradada. O escoamento superficial segue o mesmo padrão da

precipitação e evapotranspiração, entretanto, as maiores reduções acontecaram durante a

estação úmida, e na estação seca, com reduções da ordem de 12% e 32% para os

cenários de 2050 e 2100, respectivamente.

5.5.2 – Amazônia Sul

A porção sul da bacia é caracterizada por ciclo sazonal mais pronunciado na

precipitação, evapotranspiração, convergência de umidade e escoamento superficial,

com valores mais baixos nos meses de junho-julho-agosto e mais intensos nos meses

dezembro-janeiro-fevereiro acompanhando o deslocamento sazonal do aquecimento

solar (Figura 5.8). Na média a precipitação na porção sul da bacia tem valores mais

abaixos daqueles encontrados na porção norte, entretanto a sazonalidade é menor nessa

região. Isso acontece pela maior influência da Zona de Convergência Intertropical

(ITCZ) na porção norte, pois mesmo no período seco da bacia, altos índices de

preciptação são observados nessa região.

Avaliando os impactos dos desflorestamentos no ciclo sazonal dos componentes

do balanço de água na porcão sul observou-se também que não existem mudanças

significativas no desflorestamento para o ano de 2010, entretanto os impactos somente

Page 81: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

81

foram observados para o cenário 2100, conforme apresentado na Figura 5.8. As

reduções na precipitação ocorreram entre os meses de agosto a fevereiro para 2100

englobando tanto a estações seca e úmida na região, mas com maiores reduções na

estação seca. No entanto, para o cenário 2050 não se observou mudança significativa na

precipitação em ambas às estações. Conforme citado anteriormente, o cenário de

desflorestamento 2100 pode conduzir a um aumento do período seco, conduzindo a

sérias implicações aos ecossistemas da Amazônia.

A convergência de umidade apresentou aumento significativo na estação úmida

com valores de 38% e 46% para os cenários de 2050 e 2100, respectivamente. Para

evapotranspiração também se observam reduções durante todo período para o cenário

2100, com valores maiores na estação seca (23%), quando a evapotranspiração foi

limitada pela redução na disponibilidade de água no solo devido à redução das raízes

profundas na pastagem degradada. Para o cenário de 2050 não se observou mudança

significativa em ambas às estações. O escoamento superficial apresentou

comportamento diferente entre as porções norte e sul da bacia, conforme apresentado

nas Figuras 5.8 e 5.9. Na porção sul o escoamento superficial aumento no período de

janeiro a julho e reduziu entre agosto e dezembro, com impactos mais intensos para o

cenário de 2100. As mudanças das propriedades físicas do solo na área desflorestada

(pastagem degradada), que resultam em redução da condutividade hidráulica e da taxa

de infiltração, implicaram num aumento do escoamento superficial sobre a área

desflorestada.

Page 82: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

82

Figura 5.7 – Ciclo anual das variáveis do balanço de umidade para a porção Sul da

região Amazônica para o cenário CNTRL e os três cenários de mudanças no uso da

terra 2010, 2050 e 2100: (A) Precipitação (mm dia-1

); (B) Evapotranspiração (mm dia-

1); (C) Convergência de umidade (mm dia

-1); (D) Fluxo de umidade (kg m

-1.s

-1); (E)

Escoamento superficial (mm dia-1

).

Page 83: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

83

5.5.3 – Amazônia Norte

A porção norte da bacia é caracterizada por ciclo sazonal menos pronunciado na

precipitação, evapotranspiração, convergência de umidade e escoamento superficial,

conforme apresentado na Figura 5.9. Também nessa porção não existem mudanças

significativas no desflorestamento para o ano de 2010, entretanto os impactos somente

foram observados para os cenários 2050 e 2100. De forma geral, reduções na

precipitação durante todo o período foram observadas em ambos cenários, com valores

mais intensos no cenário de 2100. Entretanto, as mudanças foram mais significativas na

estação úmida com reduções da ordem de 16% para o cenário 2050 e de 36% para 2100.

Para evapotranspiração também se observaram reduções significaticas durante todo

período em ambos cenários, com valores maiores no cenário de 2100 em ambas as

estações úmida (34%) e seca (33%). Finalmente, o escoamento superficial reduziu

praticamente durante todo o período, com impactos mais intensos para o cenário de

2100. O aumento no escoamento superficial foi decorrente das mudanças na distribuição

e intensidade da precipitração e também as mudanças das propriedades físicas do solo

na área desflorestada, reduzindo a condutividade hidráulica e a taxa de infiltração.

Page 84: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

84

Figura 5.8 – Ciclo anual das variáveis do balanço de umidade para a porção Norte da

região Amazônica para o cenário CNTRL e os três cenários de mudanças no uso da

terra 2010, 2050 e 2100: (A) Precipitação (mm dia-1

); (B) Evapotranspiração (mm dia-

1); (C) Convergência de umidade (mm dia

-1); (D) Fluxo de umidade (kg m

-1.s

-1); (E)

Escoamento superficial (mm dia-1

).

Page 85: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

85

5.6 – Reciclagem de Precipitação

O principal objetivo desse estudo foi avaliar o papel das mudanças nos usos da

terra na reciclagem de precipitação na bacia amazônica. Avalia-se neste item, a

distribuição sazonal e espacial da reciclagem de precipitação obtida a partir do modelo

de balanço de umidade proposto por Trenberth (1999) e os parâmetros obtidos das

simulações realizadas com o modelo regional ETA, assim como, os impactos

decorrentes dos cenários de desflorestamento na Amazônia. As Figuras 5.9 e 5.10

apresentam as distribuições espaciais e temporais (sazonal) da reciclagem de

precipitação na América do Sul. Avaliando o ciclo anual observaram-se valores médios

de reciclagem variando de 5% a 50% sobre o continente sul-americano com valores

extremos da ordem de 80 a 90% sobre os Andes. Sazonalmente os valores diminuem do

verão para o inverno, com valores mais altos no verão. De forma geral, os maiores

valores de reciclagem de precipitação estão localizados nas regiões onde o fluxo de

vapor d‟água é menos intenso para todas as estações. Por outro lado, os valores mais

intensos estão nas regiões onde o efeito da evapotranspiração é preponderante. Os

maiores valores apresentam-se na porção central e sudoeste da América do Sul, e

sazonalmente os valores reduzem da estação de verão para inverno, com maiores

valores durante o verão. Na bacia amazônica, os valores de reciclagem de precipitação

tendem a aumentar de sudeste para norte-noroeste, com valores variando entre 20%

(norte) a 40% (sul); estando diretamente relacionados à intensidade do fluxo de vapor

d‟água que também tende a se desintensificar para oeste. Esses valores de reciclagem

estão próximos daqueles observados na literatura mostrando que o modelo regional

ETA consegue representar bem esse mecanismo e suas variações espacial e temporal

sobre o continente (Nobrega et al., 2005; Trenberth, 1999; Brubaker, 1993). Na média

da bacia a reciclagem de precipitação apresentou um valor da ordem de 20%. Esse

resultado mostra que, segunda a definição de reciclagem, do total de precipitação na

bacia amazônica aproximadamente 20% é decorrente do processo de evapotranspiração

local.

Durante os meses de fevereiro-março-abril, os maiores valores de reciclagem

ocorreram em uma faixa que se estende desde o extremo sul-sudeste do Brasil (40%) até

a porção oeste da bacia amazônica (20 - 30%). Nessa região foram observados fluxos

Page 86: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

86

menos intenso de vapor d‟água (Figura 5.10), associados à intensificação da baixa do

Chaco, que tem como característica convergência em baixos níveis e por sua vez está

associado às altas subtropicais do Atlântico Sul e do Pacífico Sul. Em outras partes do

norte da América do Sul a reciclagem foi mínima com valores abaixo de 10%, com

exceção da parte noroeste da Colômbia na qual foi observado fluxo de vapor dágua

menos intenso associado ao cavado equatorial. Apesar da evapotranspiração ter

apresentado valores relativamente altos sobre a região amazônica, os processos

advectivos foram mais importantes para a reciclagem de precipitação durante essa

estação. Nesse período, o fluxo de vapor d‟água mais intenso no norte da Amazônia fez

com que ocorressem valores de reciclagem inferiores a 20%. Também se observaram

centros intensos de reciclagem próximo ao pantanal associados ao transporte de vapor

d‟água e a evapotranspiração, observados na Figura 5.3b. Esse resultado está de acordo

com Trenberth (1999), onde afirma que, em zonas de convergências próximas as altas

subtropicais, cujo fluxo de umidade advectiva é pequeno, a reciclagem de precipitação

pode ser maior que 30%.

Apesar dos valores de evapotranspiração sobre a Amazônia durante o inverno ter

sido maiores que no outono, a reciclagem de precipitação foi menor nessa região, o que

indica que os processos advectivos foram mais importantes para a precipitação. Durante

o inverno, foram observados os menores valores de reciclagem e distribuição espacial

mais uniforme sobre a América do Sul. Apesar dos processos advectivos terem sido

favoráveis em parte na região central do Brasil e também sobre parte da Argentina,

Bolívia, Peru e Chile, durante esse período a evapotranspiração observada foi menor

nessas regiões, conduzindo a valores relativamente baixos de reciclagem de

precipitação.

Page 87: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

87

Figura 5.9 – Distribuição mensal da reciclagem de precipitação (%) para o Cenário

CNTRL: (A) Janeiro; (B) Fevereiro; (C) Março; (D) Abril; (E) Maio; (F) Junho; (G)

Julho; (H) Agosto; (I) Setembro; (J) Outubro; (K) Novembro; (L) Dezembro.

Page 88: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

88

Figura 5.10 - Distribuição sazonal da reciclagem de precipitação (%) para o cenário

CNTRL; (A) Trimestre Fevereiro-março-abril; (B) Trimestre Maio-Junho-Julho; (C)

Trimestre Julho-Agosto-Setembro; (D) Trimestre Outubro-Novembro-Dezembro.

Page 89: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

89

Para se entender os impactos das mudanças nos usos da terra na reciclagem de

precipitação na Amazônia faz-se necessário, primeiramente, o entendimento dessas

mudanças nos campos de precipitação, evapotranspiração e fluxo de umidade, uma vez

que, a reciclagem e suas mudanças estão associadas a essas variáveis. Para isso avaliou-

se anteriormente o papel do desflorestamento nesses componentes. Avaliando os

impactos dos cenários de desflorestamento na reciclagem de precipitação observou-se

que as mudanças mais significativas ocorreram nos cenários de 2050 e 2100, enquanto

que no ano de 2010 poucas mudanças foram observadas (Figura 5.11). Para a situação

mais atual, pequena redução no leste do Pará, no Mato Grosso e Rondônia estando

posicionados sobre a região de maior taxa de desflorestamento. Entretanto, essa redução

na reciclagem não foi intensa suficiente para afetar o regime de precipitação na região

conforme observado na Figura 5.5.

Os cenários de 2050 e 2100 apresentam reduções na maior parte da bacia e

também em outras regiões fora da Amazônia, com impactos negativos tornando-se mais

intensos à medida que se aumenta o percentual do desflorestamento nos cenários, e

também durante a estação seca. No cenário 2050 as maiores reduções foram observadas

no sul da bacia durante a estação chuvosa (-7%), enquanto que na estação seca as

reduções estão presentes na parte central e norte da bacia (-8%). Em ambos os casos a

redução na evapotranspiração foi o principal mecanismo que conduziu a redução na

reciclagem de precipitação. No cenário 2100 observa-se um padrão diferente com

reduções praticamente em toda a bacia, tanto na estação úmida quanto na seca,

apresentando mudanças mais intensas na estação seca (-10%). Diferente do cenário de

2050, a redução na evapotranspiração e o aumento no transporte de umidade

conduziram a redução na reciclagem no cenário 2100. Esse resultado indica que, à

condição de estresse do solo tem papel fundamental no processo de reciclagem de

precipitação, isto é, com o desflorestamento, seus efeitos conduzem a impactos mais

significativos. Entretanto, mesmo na estação seca, temos intensas reduções na porção

sul-sudeste da bacia amazônica, mostrando que, os impactos na reciclagem de

precipitação são sempre maiores na região onde o papel da evapotranspiração é mais

preponderante para a reciclagem. Em outras palavras, o efeito do desflorestamento

sobre a reciclagem é mais significativo em regiões onde fluxo de vapor d‟água é

pequeno e onde a evapotranspiração tem mais influência sobre o mecanismo de

reciclagem de precipitação. Além das reduções, também se pode obervar regiões onde a

Page 90: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

90

reciclagem de precipitação aumentou como a porção noroeste da bacia. Nesse caso o

aumento na reciclagem deve-se exclusivamente a redução no transporte de umidade e

precipitação, uma vez que, a evapotranspiração foi reduzida nessa região.

Figura 5.11 - Impactos na reciclagem de precipitação (%) decorrentes dos cenários de

mudanças nos usos da terra para as estações úmida e seca. Verão: (A) Distribuição da

reciclagem de precipitação para o cenário CNTRL; (B) Impactos na reciclagem de

precipitação decorrentes do cenário 2010 em relação ao CNTRL; (C) Impactos na

reciclagem de precipitação decorrentes do cenário 2050 em relação ao CNTRL; (D)

Impactos na reciclagem de precipitação decorrentes do cenário 2100 em relação ao

CNTRL. Inverno: (E) Distribuição da reciclagem de precipitação para o cenário

CNTRL; (F) Impactos na reciclagem de precipitação decorrentes do cenário 2010 em

relação ao CNTRL; (G) Impactos na reciclagem de precipitação decorrentes do cenário

2050 em relação ao CNTRL; (H) Impactos na reciclagem de precipitação decorrentes do

cenário 2100 em relação ao CNTRL.

5.7 Balanço de Água na Amazônia

Neste item é apresentado os resultados das mudanças decorrentes do

desflorestamento nos componentes do balanço de água (precipitação, evapotranspiração,

convergência de umidade, fluxo de umidade e escoamento superficial) e reciclagem de

precitação em toda a bacia amazônica, nas porções norte e sul e nas estações seca,

úmida e na média anual. As diferentes mudanças no balanço de água estão diretamente

relacionadas aos cenários de desflorestamento na Amazônia. De forma geral, as

Page 91: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

91

mudanças nos componentes do balanço de água estão diretamente associadas ao

aumento na taxa de desflorestamento sobre a bacia, conforme apresentado na Tabela

5.1. Para o ano de 2010 não se observaram mudanças significativa nos componentes do

balanço de água e na reciclagem de precipitação sobre a bacia para as estações seca e

úmida e na média anual. Isso mostra que a atual taxa de desflorestamento na Amazônia

não apresenta influência sobre o balanço de água, na reciclagem de precipitação, e

consequentemente, no clima em escalas local e regional. Semelhante ao que foi

apresentado anteriormente, esse resultado difere de outros estudos de mudanças nos uso

da terra na Amazonia utilizando modelos numéricos regionais, no qual, observou-se

mudança no regime de precipitação para situação atual de desflorestamento na

Amazonia (Correia, Rocha, 2015). Entretanto para os cenários de 2050 e 2100 as

mudanças foram significativas conforme mostrado na Tabela 5.1. No cenário de 2050,

observou-se redução de 13% na precipitação, 13,3% na evapotranspiração e aumento de

7% na convergência de umidade na média anual. Nesse caso, tanto na média anual

quanto na estação seca, a convergência de umidade e a evapotranspiração agiram em

sentidos contrários, ou seja, a redução na evapotranspiração sobrepujou a aumento na

convergência de umidade, conduzindo dessa forma, a uma redução precipitação. Nesse

caso, a redução na precipitação pode ser explicada pelo mecanismo de

evapotranspiração. Segundo esse mecanismo, o desflorestamento reduz a área

vegetada; logo a transpiração diminui. Além disso, o desflorestamento diminui a

interceptação, ou seja, a evaporação da água interceptada diminui. As reduções desses

componentes conduzem a uma redução na evapotranspiração, deixando a baixa

troposfera mais seca. No desenvolvimento de sistemas convectivos sobre a região, uma

menor quantidade de vapor estará disponível para ser transportada verticalmente e gerar

precipitação. Essa redução de precipitação leva a uma redução na umidade do solo, o

que tende a diminuir, ainda mais, a evapotranspiração.

Ainda com relação ao cenário 2050, observou-se a predominância de um

mecanismo de retroalimentação negativo na estação seca e na média anual, no qual, a

redução relativa na evapotranspiração na média foi maior que a redução na precipitação

(aumento na convergência de umidade), o que representa um melhor cenário se

comparado com mecanismo positivo. O mecanismo de retroalimentação positivo produz

uma instabilidade no sistema, conduzindo a novas degradações da biosfera, conforme

deduzido por Xue e Shukla (1993), quando avaliaram a influência das propriedades da

Page 92: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

92

superfície no clima de Sahel. De outro modo, o mecanismo de retroalimentação

negativo tem o papel de restaurar a degradação gerada na cobertura vegetal se a

degradação antropogênica for eliminada. Contudo, se as atividades antropogênicas não

permitirem que haja a regeneração ambiental, devido à construção de estradas de

rodagem, prédios e uso da terra para pasto e agricultura, o mecanismo de

retroalimentação negativo produzirá excesso de água na superfície, causando aumento

do escoamento, enchentes em áreas de baixios e outros desastres hidrológicos (Sud et

al., 1996a).

No cenário de 2100, observou-se redução de 35% na precipitação, 36,7% na

evapotranspiração e aumento de 14% na convergência de umidade na média anual. Na

estação seca, observou-se redução de 30,5% na precipitação, 37% na evapotranspiração

e aumento de 55% na convergência de umidade. Semelhante ao cenário anterior (2050),

tanto na média anual quanto na estação seca, a convergência de umidade e a

evapotranspiração também atuaram em sentidos opostos, ou seja, a redução na

evapotranspiração sobrepujou a aumento na convergência de umidade, conduzindo

dessa forma, a uma redução precipitação. Nesse cenário também predominiu o

mecanismo de retroalimentação negativo na estação seca e na média anual, no qual, a

redução relativa na evapotranspiração na média foi maior que a redução na precipitação

(aumento na convergência de umidade), o que representa um melhor cenário se

comparado com mecanismo positivo. Entretanto, na estação úmida para os cenários de

desflorestamento 2050 e 2100 não se observou mudança na convergência de umidade

sobre a bacia, sendo que a redução na precipitação foi determinada unicamente pela

redução na evapotranspiração.

Avaliando a reciclagem de precipitação na bacia amazônica observa-se que não

existem mudanças significativas no desflorestamento para o ano de 2010, conforme

citado anteriormente. Entretanto nos demais cenários as mudanças foram significativas,

conforme apresentando a seguir. Nos cenários de 2050 e 2100 observaram-se reduções

de 9% e 29% na média anual, respectivamente. Na estação úmida a reciclagem foi

reduzida de 7,8% e 22%, respectivamente; e na estação seca as reduções foram de 12%

e 33% para os mesmos cenários. Isso mostra que os maiores impactos na reciclagem de

precipitação ocorreram na estação seca da bacia. A intensa redução na reciclagem de

precipitação na estação seca é um resultado preocupante, pois as mudanças na taxa de

precipitação produzida localmente podem estar associadas a um período seco mais

Page 93: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

93

longo. Na média anual e na estação úmida sobre a bacia as reduções na reciclagem de

precipitação em todos os cenários foram explicadas pela redução na evapotranspiração,

uma vez que, observou-se redução na precipitação total e no fluxo de umidade na bacia.

Entretanto, na estação seca, as reduções na reciclagem de precipitação em todos os

cenários foram explicadas pela redução na evapotranspiração e no fluxo de umidade,

uma vez que, observou-se redução na precipitação total. Esse reultado está diretamente

relacionado diretamente à estimativa de reciclagem proposta no modelo de Trenberth

(1999) no qual, a taxa de reciclagem é diretamente proporcional a evapotranspiração e

inversamente proporcional a precipitação total e a transporte de umidade na atmosfera

(ver Capitulo 3).

Considerando as mudanças em diferentes regiões na bacia amazônica observa-se

que os maiores reduções aconteceram na porção sul para o cenário 2050; enquanto que,

no cenário 2100 as mudanças mais intensas ocorreram em ambas porçoes norte na

média anual, enquanto que nas estações seca e úmida não se observam diferenças

significativas. No cenário 2050 as reduções na reciclagem de precipitação na porção sul

da bacia foram determinadas por dois fatores: o aumento no fluxo de umidade e redução

na evapotranspiração em todas as estações. Na porção norte, as reduções na reciclagem

de precipitação foram devidas a redução na evapotranspiração, pois se observou redução

no fluxo de umidade e na precipitação. Com relação ao cenário 2100, as reduções na

reciclagem de precipitação na porção sul foram devidas as reduções na

evapotranspiração e aumento no transporte de umidade. De forma contrária, na porção

norte a redução na reciclagem foi devido unicamente à redução na evapotranspiração.

Considerando os resultados obtidos, a hipótese de um limite potencial na

sobrevivência da floresta Amazônica deve ser levantada, uma vez que o grau de

desflorestamento pode trazer conseqüências irreversíveis. As previstas reduções na

precipitação, na evapotranspiração, na reciclagem de precipitação e o aumento na

temperatura do ar, e um possível período seco mais longo, pode conduzir a um novo

estado de equilíbrio, no qual um diferente tipo de vegetação (provavelmente cerrado) se

adaptaria às condições climáticas observadas no desflorestamento. Duas características

de tal vegetação fazem dela o tipo perfeitamente adaptável ao novo estado climático:

resistência a um período seco de seis meses e adaptabilidade às condições de

queimadas. Isso indica, mais uma vez, que a completa e rápida destruição da floresta

podem tornar-se um processo irreversível, pois mudanças significativas no ciclo

Page 94: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

94

hidrológico e na relação solo-planta-atmosfera seriam tão significativas que, uma vez

destruída, a mesma não seria capaz de restabelecer-se por si só, conforme também

ressaltaram Shukla et al., 1990 e Nobre et al., 1991.

Page 95: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

95

Tabela 5.1 – Componentes do balanço de água e reciclagem de precipitação simulados pelo modelo regional ETA para os quatros cenários de mudanças no uso

da terra na Amazônia: CNTRL, 2010, 2050 e 2100 para a média anual, período úmido e período seco para bacia amazônica, porções norte e sul. P – precipitação

(mm.dia-1

); E - evapotranspiração (mm.dia-1

); C – convergência de umidade (mm.dia-1

); F - fluxo de umidade (kg m-1

.s-1

); R – escoamento superficial (mm.dia-1

);

REC – reciclagem de precipitação (%).

Page 96: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

96

5.8 Impactos Remotos

Quando se avalia os impactos do desflorestamento tropical, em escalas local e

regional, utilizando modelos numéricos climáticos, uma questão desafiadora, ainda não

bem respondida, é se as mudanças nos usos da terra podem modificar os componentes

do balanço de água e a reciclagem de precipitação em regiões remotas ao local do

desflorestamento. Para isso, avaliaram-se nesse item os impactos dos desflorestamentos

na bacia amazônica nesses componentes e na reciclagem de precipitação em regiões

remotas: Região Nordeste, Região Sudeste, Região Sul e bacia do Prata, conforme

mostrado na Figura 5.13. Por meio da reciclagem de precipitação calculou-se a

precipitação de origem advectada e local, e tambem seus respectivos impactos

referentes aos cenários de desflorestamento. A precipitação local é a aquela gerada a

partir da evapotranspiração dessa mesma região, enquanto a precipitação advectada é a

aquela oriunda do transporte de umidade proveniente de outras regiões.

Figura 5.12 – Regiões selecionadas para avaliação dos impactos das mudanças nos usos da terra

na precipitação total, precipitação advectada e local. Rosa - região Amazônica; Preto – Nordeste

brasileiro; Amarelo – Sudeste brasileiro; Verde – Sul do Brasil; Vermelho – Bacia do Prata.

A Tabela 5.2 apresenta os valores da precipitação total, advectada e local para as

regiões selecionadas acima, assim como, os impactos decorrentes dos desflorestamentos

na Amazônia. De forma geral, a precipitação de origem local na bacia amazônica foi da

ordem de 22% da precipitação total, sendo o complemento proveniente da advecção de

Page 97: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

97

umidade de outras regiões (78%). Isso está de acordo com os valores de reciclagem de

precipitação calculados anteriormente sobre a bacia (ver item 5.7). Avaliando os

impactos para 2010, observa-se que na bacia amazônica, embora não houvesse

mudanças significativas na precipitação total e advectada, observou-se redução da

ordem de 10% e 12,5% na precipitação local para a média anual e estação seca,

respectivamente (Figura 5.13). De forma contraria não se observaram os mesmos

resultados para os cenários de 2050 e 2100, no qual, a redução na precipitação total

(13% para 2050 e 35% para 2100) foi determinada por reduções na precipitação local e

de origem advectada, sendo que, a redução da precipitação advectada (67% para 2050 e

68% para 2100) teve papel mais significativo na redução da precipitação total do que a

precipitação local. Esses resultados podem indicar que os cenários de desflorestamentos

podem modificar a estrutura termodinâmica da atmosfera conduzindo a mudanças na

circulação atmosférica em escala local/regional e, consequentemente, no transporte e

convergência de umidade, e finalmente, alterando o regime de precipitação sobre a

região.

Na Região Nordeste a precipitação de origem local foi da ordem de 8% da

precipitação total, com isso a maior contribuição para a precipitação total foi

proveniente da precipitação advectada (92%). Na estação seca a contribuição de

precipitação de origem local aumentou para 16%. Para o ano de 2010 não se

observaram mudanças na precipitação total, local e advectada sobre a região. Para o

cenário de 2050 as mudanças na precipitação total ocorrem nas estações úmida e seca da

região, com reduções da ordem de 9% e 8%, respectivamente, sendo determinda

principalmente pela redução da precipitação local e advectada na estação úmida, e pela

precipitação local na estação seca (100%) (Figura 5.14). Esse resultado pode ser

explicado pelo fato que parte da área desflorestada nesse cenário está presente no

nordeste do Brasil, conforme apresentado na Figura 3.5. No cenário de 2100 a redução

na precipitação total anual (14%) foi determinada por reduções na precipitação local e

de origem advectada, sendo que, a redução da precipitação advectada (90%) teve papel

mais significativo na redução da precipitação total do que a precipitação local (10%),

sendo que nesse caso, os impactos foram mais intensos na estação seca.

Na Região Sudeste a precipitação de origem local foi da ordem de 23% da

precipitação total, sendo que a maior contribuição para a precipitação total foi

proveniente da precipitação advectada (77%). Na estação seca a contribuição de

Page 98: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

98

precipitação de origem local reduziu para 16% devido às reduções na disponibilidade de

água no solo e na evapotranspiração. Para o ano de 2010 não se observaram mudanças

na precipitação total, entretanto um pequeno aumento na precipitação local foi

observado sobre a região. No cenário de 2050 as mudanças mais significativas ocorrem

na estação seca da região, com redução da ordem de 8,3% na precipitação total, sendo

que, essa redução foi determinada exclusivamente pela redução da precipitação

advectada (10%), conforme mostrado na Figura 5.15. Para o cenário 2100 redução na

precipitação total anual (11%) foi determinada por reduções na precipitação local e de

origem advectada, sendo que, a redução da precipitação advectada (67%) teve papel

mais significativo na redução da precipitação total do que a precipitação local (33%).

Entretanto, na estação seca observou-se outro comportamento, no qual, a redução na

precipitação total foi decorrente exclusivamente da precipitação advectada (100%), uma

vez que não se detectou mudanças na precipitação local.

Na Região Sul a precipitação de origem local foi da ordem de 26% da

precipitação total, sendo que a maior contribuição para a precipitação total foi

proveniente da precipitação advectada (74%). Para o desflorestamento de 2010, se

observaram mudanças na precipitação total, local e advectada sobre a região em

nenhuma estação. Para o cenário de 2050 as mudanças na precipitação total ocorrem na

estaçoes úmida e seca, com reduções da ordem de 7% e 5%, respectivamente, sendo

determinada pela redução da precipitação local e advectada, entretanto, essa última teve

maior influência na redução da precipitação total (Figura 5.16). Para o cenário 2100 a

redução na precipitação total anual (13%) foi determinada por reduções na precipitação

local e de origem advectada, sendo que, a redução da precipitação advectada (83%) teve

papel mais significativo na redução da precipitação total (17%) do que a precipitação

local. Entretanto observaram-se mudanças mais intensas na estação seca com redução

na precipitação total de 16%, sendo determinada principalmente pela redução na

precipitação advectada.

Na bacia do Prata a precipitação de origem local foi da ordem de 23% da

precipitação total, sendo que a maior contribuição para a precipitação total foi

proveniente da precipitação advectada (77%). Semelhante aos resultados anteriores, no

desflorestamento de 2010 não se observaram mudanças na precipitação total, local e

advectada sobre a região em nenhuma estação. Para o cenário de 2050 as mudanças

mais significativas na precipitação ocorreram nas estações seca, com redução da ordem

Page 99: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

99

de 5,3% na precipitação total, sendo determinada exclusivamente pela redução da

precipitação advectada (100%). Para o cenário 2100 a redução na precipitação total

anual (10%) foi determinada por reduções na precipitação local e de origem advectada,

sendo que, a redução da precipitação advectada (67%) teve papel mais significativo na

redução da precipitação total (33%) do que a precipitação local. Mudanças mais

intensas foram observadas na estação seca com redução de 21% na precipitação total

decorrente das reduções na precipitação local (25%) e de origem advectada (75%)

(Figura 5.17).

Page 100: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

100

Tabela 5.2 - Partição da precipitação segundo o modelo proposto por Trenberth simulados pelo modelo regional ETA para os quatros cenários de mudanças do

uso da terra CNTRL, 2010, 2050 e 2100: para a média anual, período úmido e período seco para as regiões mostradas na figura 5.12. P – precipitação Total

(mm.dia-1

); Pl - precipitação proveniente da evapotrasnpiração local (mm.dia-1

); Pa – precipitação proveniente de outras regiões (advectada) (mm.dia-1

). A

coluna (%) representa o erro relativo entre o cenário de desflorestamento e o CNTRL para a região usada. No cenário CNTRL os espaços em branco são

devidos a não haver erros relativos, já que esse é o cenário a ser comparado com os outros.

Page 101: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

101

Figura 5.13 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e advectada

(mm.dia-1

) para a região Amazônica, nos quatro cenários simulados pelo modelo

regional ETA. (A) Precipitação total, (B) Precipitação local e (C) Precipitação

advectada.

Page 102: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

102

Figura 5.14 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e

advectada (mm.dia-1

) para a região Nordeste, nos quatro cenários simulados pelo

modelo regional ETA. (A) Precipitação total, (B) Precipitação local e (C)

Precipitação advectada.

Page 103: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

103

Figura 5.15 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e

advectada (mm.dia-1

) para a região Sudeste, nos quatro cenários simulados pelo

modelo regional ETA. (A) Precipitação total, (B) Precipitação local e (C)

Precipitação advectada.

Page 104: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

104

Figura 5.16 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e

advectada (mm.dia-1

) para a região Sul, nos quatro cenários simulados pelo modelo

regional ETA. (A) Precipitação total, (B) Precipitação local e (C) Precipitação

advectada.

Page 105: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

105

Figura 5.18 – Ciclo Anual da precipitação total (mm.dia-1

), local (mm.dia-1

) e

advectada (mm.dia-1

) para a bacia do Prata, nos quatro cenários simulados pelo

modelo regional ETA. (A) Precipitação total, (B) Precipitação local e (C)

Precipitação advectada.

Page 106: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

106

Capítulo 6

CONCLUSÕES

Realizou-se nesse trabalho um estudo de modelagem numérica a fim de avaliar os

impactos decorrentes das mudanças nos usos da terra (desflorestamento) nos

componentes do balanço de água e Reciclagem de Precipitação na Amazônia. Utilizou-

se, para isso, o modelo de área limitada – modelo regional ETA do Centro de Previsão

de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC/INPE, e também cenários de mudanças nos

usos da terra na bacia amazônica referentes ao estado atual e projeções para situações

futuras. O método do balanço de umidade da atmosfera proposto por Trenberth (1999) e

Brubaker et al. (1993) foi utilizado para o cálculo da reciclagem de precipitação, no

qual leva em consideração a evapotranspiração, a precipitação total e o transporte de

vapor d‟água na região. Com o modelo regional ETA realizaram-se simulações para o

período de 20 anos utilizando condição atual de desflorestamento para o ano base de

2010 e também cenários futuros de desflorestamento referentes os anos de 2050 e 2100.

De forma geral, a distribuição espacial e sazonal dos componentes do balanço de

água e reciclagem de precipitação sobre o continente foi bem representada pelo modelo

regional ETA nas estações úmida e seca. Entretanto, o modelo substimou a precipitação

em grande parte do país na estação úmida, principalmente nas porções central-leste da

Amazonia e Nordeste do Brasil, e superestimou no extremo noroeste do continente e

sobre a Cordilheira dos Andes. Erros sistemáticos na estimativa de precipitação sobre os

Andes foram observados estando relacionados ao efeito topográfico. Esse resultado

mostra que o modelo regional ETA tem dificuldade em representar a precipitação

próxima a regiões íngremes, tais como a Cordilheira dos Andes. Durante todo o período

a precipitação foi maior que a evapotranspiração mostrando que a Amazônia comporta-

se como um sumidouro de umidade, recebendo umidade principalmente do Oceano

Atlântico. Entretanto, em escala regional, a Amazônia comportou-se como fonte de

umidade transportando vapor d‟água para outras regiões da América do Sul.

O modelo representou bem a distribuição espacial e temporal de reciclagem de

precipitação na América do Sul, com valores próximos daqueles encontrados na

Page 107: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

107

literatura. Sobre o continente sul-americano valores médios de reciclagem variaram de

5% a 50%, diminuem do verão para o inverno, com valores mais altos no verão. De

forma geral, os maiores valores de reciclagem de precipitação estão localizados nas

regiões onde o fluxo de vapor d‟água é menor. Por outro lado, os valores mais intensos

estão nas regiões onde o efeito da evapotranspiração é preponderante. Sobre o

continente, os maiores valores apresentam-se na porção central e sudoeste da América

do Sul, e sazonalmente os valores reduzem da estação de verão para inverno. Na bacia

amazônica, os valores de reciclagem de precipitação tendem a aumentar de sudeste para

norte-noroeste, com valores variando entre 20% (norte) a 40% (sul); estando

diretamente relacionados à intensidade do fluxo de vapor dágua que também tende a se

desintensificar para oeste.

Na avaliação dos impactos decorrentes das mudanças nos usos da terra na

Amazônia na temperatura do ar, nos componentes de balanço de água e na reciclagem

de precipitação, não se observou mudança significativa para o desflorestamento do ano

base de 2010. Isso mostra que, na situação presente, as mudanças nos usos da terra na

Amazônia não conduziram a impactos na temperatura do ar e no ciclo hidrológico, e

consequentemente, em mudanças no clima em escalas local e regional, principalmente

em outras regiões da América do Sul. Entretanto, as mudanças mais siginificativas

ocorreram nos cenários de desflorestamento de 2050 e 2100. Na média, a temperatura

do ar apresentou aumento de 1,5oC, 3,0

oC e 4,5

oC para os cenários 2010, 2050 e 2100,

respectivamente, mostrando que, a intensidade do aumento está diretamente associada

ao grau de desflorestamento na bacia amazônica, sendo mais intenso à medida que se

expande as mudanças nos usos da terra.

No cenário de 2050, observou-se redução de 13% na precipitação, 13,3% na

evapotranspiração e aumento de 7% na convergência de umidade na média anual,

mostrando que, a convergência de umidade e a evapotranspiração agiram em sentidos

opostos, ou seja, a redução na evapotranspiração sobrepujou a aumento na convergência

de umidade, conduzindo dessa forma, a uma redução precipitação. Nesse caso

predominou-se o mecanismo de retroalimentação negativo no qual, a redução relativa

na evapotranspiração na média foi maior que a redução na precipitação (aumento na

convergência de umidade), o que representa um melhor cenário se comparado com

mecanismo positivo, pois o mecanismo de retroalimentação negativo tem o papel de

restaurar a degradação gerada na cobertura vegetal se a degradação antropogênica for

Page 108: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

108

eliminada. Entretanto, se as atividades antropogênicas não permitirem que haja a

regeneração ambiental, devido à construção de estradas de rodagem, prédios e uso da

terra para pasto e agricultura, o mecanismo de retroalimentação negativo produzirá

excesso de água na superfície, causando aumento do escoamento, enchentes em áreas de

baixios e outros desastres hidrológicos. No cenário de 2100, observou-se redução de

35% na precipitação, 36,7% na evapotranspiração e aumento de 14% na convergência

de umidade. Nesse cenário também predominou o mecanismo de retroalimentação

negativo.

Com relação à reciclagem de precipitação, observaram-se reduções de 9% e 29%,

respectivamente, para os cenários 2050 e 2100. Na estação úmida a reciclagem foi

reduzida de 7,8% e 22%, respectivamente; e na estação seca as reduções foram de 12%

e 33% para os mesmos cenários, mostrando que os maiores impactos na reciclagem de

precipitação ocorreram na estação seca da bacia. A intensa redução na reciclagem de

precipitação na estação seca é um resultado preocupante, pois as mudanças na taxa de

precipitação produzida localmente podem estar associadas a um período seco mais

longo. De forma geral, na média sobre a bacia as reduções na reciclagem de

precipitação em todos os cenários foram explicadas pela redução na evapotranspiração,

uma vez que, observou-se redução na precipitação total e no fluxo de umidade na bacia.

Entretanto na estação seca, as reduções na reciclagem de precipitação em todos os

cenários foram explicadas pela redução na evapotranspiração e no fluxo de umidade,

uma vez que, observou-se redução na precipitação total.

Por meio da reciclagem de precipitação calculou-se a precipitação de origem

advectada e local, e tambem seus respectivos impactos na Amazônia e também em

regiões remotas. Na bacia amazônica, a precipitação de origem local foi da ordem de

22% da precipitação total, sendo o complemento proveniente da advecção de umidade

de outras regiões (78%), estando de acordo com os valores de reciclagem de

precipitação calculados nesse estudo. Nos cenários de 2050 e 2100 a redução na

precipitação total foi determinada por reduções na precipitação local e de origem

advectada, sendo que, a redução da precipitação advectada teve papel mais significativo

na redução da precipitação total. Isso indica que os cenários de desflorestamentos

podem modificar a estrutura termodinâmica da atmosfera conduzindo a mudanças na

circulação atmosférica em escala local/regional e, conseqüentemente, no transporte e

Page 109: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

109

convergência de umidade, e finalmente, alterando o regime de precipitação sobre a

região.

Nas regiões remotas as mudanças apresentaram comportamento peculiar para cada

situação. No cenário de 2010 não se observaram mudanças na precipitação total, local e

advectada em nenhuma região remota. Na Região Nordeste a redução na precipitação

total para o cenário de 2100 foi determinada por reduções na precipitação local e de

origem advectada, sendo que, a redução da precipitação advectada teve papel mais

significativo. Nas Regiões Sudeste e Sul e bacia do Prata, a redução na precipitação

total nos cenários de 2050 e 2100 foi determinada sobretudo por reduções na

precipitação de origem advectada, mostrando que as mudanças nos usos da terra na

região amazônica para ambos os cenários podem influenciar o regime hidrológico, e

consequentemente o clima, de outras regiões da America do Sul.

Considerando os resultados obtidos nesse estudo, a hipótese de um limite potencial

na sobrevivência da floresta Amazônica deve ser levantada, uma vez que o grau de

desflorestamento pode trazer conseqüências irreversíveis. As previstas reduções na

precipitação (total, local e advectada), na evapotranspiração, na reciclagem de

precipitação e o aumento na temperatura do ar, e um possível período seco mais longo,

pode conduzir a um novo estado de equilíbrio, no qual um diferente tipo de vegetação se

adaptaria às condições climáticas observadas no desflorestamento. Duas características

de tal vegetação fazem dela o tipo perfeitamente adaptável ao novo estado climático:

resistência a um período seco de seis meses e adaptabilidade às condições de

queimadas. Isso indica, mais uma vez, que a completa e rápida destruição da floresta

podem tornar-se um processo irreversível, pois mudanças significativas na reciclagem

de precipitação, no ciclo hidrológico e na relação solo-planta-atmosfera seriam tão

significativas que, uma vez destruída, a mesma não seria capaz de restabelecer-se por si

só.

Page 110: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

110

6.1 – Sugestões para Trabalhos Futuros

Como sugestões para trabalhos futuros sugerem-se

a) Avaliar os impactos decorrentes das mudanças nos usos da terra nos

componentes do balanço de água e reciclagem de precipitação na Amazônia

utilizando outros cenários de desflorestamento;

b) Avaliar os impactos decorrentes das mudanças nos usos da terra nos

componentes do balanço de água e reciclagem de precipitação na Amazônia

utilizando período mais longo de integração;

c) Avaliar os impactos decorrentes das mudanças nos usos da terra nos

componentes do balanço de água e reciclagem de precipitação na Amazônia

utilizando modelo de circulação geral da atmosfera (MCGA);

d) Avaliar os impactos decorrentes das mudanças nos usos da terra nos

componentes do balanço de água e reciclagem de precipitação na Amazônia em

outras regiões da América do Sul;

Page 111: IMPACTOS DAS MUDANÇAS NA COBERTURA VEGETAL E USO …

111

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