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A importância do Contrato de Prestação de Serviço para a Cobrança Educacional
Para que a cobrança seja realmente eficaz e legal, há necessidade de que a instituição
apresente ao seu cliente um contrato de prestação de serviços educacionais feito com
base na legislação vigente e no regimento interno da instituição.
Além disso, o contrato deve ser bem elaborado, pois será o principal instrumento para a
realização da cobrança judicial ou extrajudicial. Judicialmente, é bem mais fácil realizar
a cobrança quando se tem um contrato detalhado, comprovando a contratação dos
serviços educacionais pelo cliente, bem como a sua concordância com o preço ajustado.
Podemos perceber que o contrato educacional é atípico. As escolas particulares, através
de sua entidade mantenedora, e os alunos (ou seus responsáveis) firmam, no início de
cada período letivo (ano ou semestre), um contrato de prestação de serviços
educacionais. O documento tem que ser firmado em, no mínimo, duas vias. Uma fica
com a unidade de ensino e a outra, obrigatoriamente, com o aluno. Não é válido que
seja fornecido em cópia (xérox ou similar), eis que impedem o questionamento judicial,
se for necessário, para esclarecer dúvidas ou controvérsias. O contrato educacional para
ter validade deve ser assinado por pessoas, que tenham a capacidade civil à luz do
Código Civil, quer seja o aluno ou seu responsável. Pela escola, assina algum de seus
sócios ou pessoa designada pela direção.
O vínculo jurídico na atividade educacional particular caracteriza-se por uma relação
tripartite: contratante, contratado e usuário. Em todos os casos no ensino infantil, em
quase todos no ensino fundamental, em sua maioria no ensino médio e em raras vezes
no ensino superior, a contratação dá-se com pessoas diferentes dos reais usuários dos
serviços, ou seja, os alunos.
Afinal, a quem cabe a obrigação de pagar? — A obrigação de pagar as mensalidades
pelo serviço escolar decorre inicialmente da pessoa que assinou o contrato educacional.
Somente o usuário maior de 18 anos ou emancipado pode assinar sozinho como
contratante, assumindo, assim, como "usuário" e contratante.
A elaboração de um bom contrato inicia-se pela pesquisa das leis que norteiam e
envolvem as partes e o Estado. Todavia, o Código Civil e o Código de Defesa do
Consumidor não são suficientes na elaboração do contrato de prestação de serviços
educacionais. Além disso, os princípios, que norteiam o processo de ensino-
aprendizagem, devem estar previstos no contrato educacional como, também, alguns
elementos do projeto pedagógico, que vem a ser a carta magna da instituição
educacional estabelecendo os fins e objetivos do curso, o contexto e a sua filosofia, as
regras de conduta, grade curricular, ementas das disciplinas, metodologia do processo
de ensino e aprendizagem, formas de avaliação institucional e de verificação da apren-
dizagem.
O contrato educacional estabelece o vínculo jurídico de natureza civil e de consumo
junto ao aluno ou responsável, mas as questões pedagógicas e disciplinares estão
prioritariamente reguladas pelo regimento de cada instituição. Por esse motivo, é
altamente recomendável fazer constar cláusula específica em que o educando e/ou seus
pais obrigam-se também ao cumprimento das regras internas em vigor.
Cabe ressaltar as legislações que contém os fundamentos legais ou jurídicos para
elaboração do contrato educacional:
— Constituição Federal;
— Código Civil — Lei 10.406, de 10/01/2002;
— Código de Defesa do Consumidor — Lei 8.078/90;
— Lei 9.870/90 (Lei específica de Direito Educacional);
— Lei de Diretrizes e Bases da Educação — Lei 9.394/96;
— Regimento Interno ou Regimento Escolar.
Todos os contratos educacionais apresentam a divisão dos assuntos em cláusulas
específicas, que traduzem a manifestação de vontade das partes. Seguem alguns itens
essenciais e opcionais.
a) Essenciais:
Qualificação das partes
Objeto do contrato
Fundamentos jurídicos
Prazo de duração
Serviços disponibilizados
Valor da anuidade
Formas de pagamento
Sanções contratuais
Taxas
Hipóteses de rescisão
Foro de eleição
Local e data
b) Opcionais:
Disposições sobre o material didático
Disposições sobre calendário escolar, honorário e uniforme
Disposição sobre eventual desequilíbrio financeiro
Submissão ao Regimento Escolar e Proposta Pedagógica
Responsabilidade Civil dos Pais
Obrigação de informar problemas de saúde ou familiares
Bolsa e descontos de anuidade concedidos
Permissão para o uso da imagem
Regime de guarda dos filhos, no caso de pais separados (Educação Infantil).
É necessário detalhar-se melhor cada item, no sentido de evitar-se polêmica entre as
partes, devendo as cláusulas serem as mais cristalinas possíveis e com letras legíveis,
conforme o Código do Consumidor determina. Segundo ele, há, ainda, a necessidade de
preverem-se situações do dia-a-dia, ou direitos assegurados ao aluno por outras fontes
do direito, abordando-as também de forma clara e dentro dos limites e normas jurídicas
vigentes.
Desta forma, o contrato de prestação de serviços educacionais passa a ser uma das
ferramentas a serem utilizadas pelas instituições privadas de ensino para reduzir a sua
inadimplência.
Cláusula de Inadimplência
CLÁUSULA DE INADIMPLÊNCIA
multa de 2%, juros 1% a/m, correção monetária
emissão de duplicata de serviços
inclusão no SCPC/SERASA
cobrança extrajudicial com encargos
cobrança judicial com honorários
O contrato também tem que ter uma cláusula tratando especificamente sobre a
inadimplência. Esta cláusula determinará quais serão as conseqüências que o contratante
poderá sofrer, caso não venha a cumprir com as obrigações assumidas.
Multa, Juros e Correção Monetária
1) Multa: a multa permitida pela legislação atual é de 2%. Está prevista na Lei
9.298/96, a qual alterou o artigo 52 do Código de Defesa do Consumidor que previa
multa de 10%, bem como na Portaria no 3, editada pela Secretaria de Direito Econômico
no ano de 1999.
A partir da publicação do Código Civil (Lei 10.406/02), vemos que a tendência para a
cobrança de multa de 2% tem se confirmado, pois também se estabeleceu o mesmo
percentual de multa para os condomínios de edifícios.
Assim, tendo em vista que o débito educacional tem como principal causa o
desemprego, o percentual de multa de 10% seria mais um ônus aplicado ao devedor,
dificultando a liquidação da dívida.
Existem Instituições de Ensino que defendem que 2% de multa incentiva o aumento de
inadimplência, por outro lado, temos identificado que a multa não a evita. Às vezes, a
data fixada é anterior à data que o contratante recebe seu pagamento, daí porque ele fica
inadimplente, o que não justifica a multa de 10%.
Existem alternativas criativas que podem ser aplicadas para o pagamento da multa,
como fixar um percentual diário pelo atraso. Se a multa é de 2%, o percentual diário
poderia ser de 0,06% ao dia.
2) Índice de correção monetária: as Instituições de Ensino podem escolher
livremente o índice que entenderem mais adequado. Como exemplo, citamos: o IGPN,
da FGV; o INPC, do IBGE; o IPCA, também do IBGE; e até mesmo a TJLT, índice
utilizado pelo poder judiciário, na correção de condenações judiciais.
3) Taxa de juros: a Constituição Federal determina, no artigo 192, que a taxa de
juros seja de até 12% ao ano, ou seja, de 1% ao mês. Todavia, o Código Civil delibera
que ela pode ser a mesma utilizada pelo Governo Federal no pagamento de suas dívidas,
ou seja, a taxa Selic, que varia conforme a situação econômica do país. Já houve
variações de 15% a 45% ao ano.
Duplicata de Serviços
A cláusula de inadimplência também pode prever que, na falta do pagamento no dia
ajustado em contrato, a instituição estará autorizada a emitir duplicata de serviços e
protestar em cartório.
Esta é uma proposta diferente daquela sugerida por alguns doutrinadores ou advogados,
que defendem a possibilidade da emissão da letra de câmbio, que também é um título de
crédito emitido pelo credor. Contudo, existem cartórios que não aceitam a letra de
câmbio emitida por instituições de ensino, argumentando que são documentos
privativos de instituições financeiras, ou seja, Bancos.
Concordamos com os cartorários. Tendo à disposição estudos realizados neste sentindo,
concluímos que a origem da LC é realmente em instituições financeiras e emitida com
fins mercantis. Assim, a possibilidade da emissão da duplicata de serviços e o protesto
com base nela é uma alternativa plenamente viável e aceita por nós e pelos cartórios.
A escola deveria, então, emitir uma duplicata de serviços com base em uma nota fiscal
do mês que o inadimplente deixou de efetuar o pagamento. O procedimento completo
pode ser verificado com o contador e com o cartório local, evitando assim maiores
transtornos, pois cada um tem seu próprio procedimento.
SCPC / SERASA / CINEB
O Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), funciona como apoio ao comércio
nas vendas a prazo, pois, ao realizar a consulta, verifica se o consumidor está na lista de
inadimplentes. O mesmo fornece informações para a tomada de decisão sobre vendas a
crédito a pessoas físicas e
possibilita ao empresário maior segurança nas suas operações.
Seu banco de dados, integrado à rede nacional de informações comerciais, é composto
de informações fornecidas por todos os segmentos empresariais, tais como:
comércio, indústria, prestadoras de serviços,
instituições financeiras e cartórios de protestos. As Instituições de Ensino também
podem utilizar os serviços de proteção de crédito, sendo possível registrar seus
devedores no respectivo cadastro.
A cláusula de inadimplência também pode prever a inclusão do nome do devedor na
SERASA.
Mas esta inclusão pode trazer um problema com o qual a instituição deve estar muito
atenta, pois uma vez incluído o nome do devedor no cadastro, caberá exclusivamente à
instituição comunicar o pagamento do débito e solicitar a exclusão.
Alguns devedores se utilizam deste princípio para tirar proveito da situação, dirigindo-
se agilmente para o comércio, a fim de obter uma declaração de impedimento de
compra devido o nome constar na Serasa. De posse dessa declaração, os devedores
podem então mover ação exigindo indenização por danos morais pelo fato de seus
nomes não terem sido ―limpos‖ rapidamente.
Este problema é muito grave, tornando-se um risco para as empresas. Contudo, a
instituição poderá driblar este problema da seguinte forma: ao receber o pagamento de
um devedor, deve se solicitar que ele assine uma declaração de que ele está ciente que
seu nome só vai ser excluído da Serasa no prazo mínimo de 5 cinco dias úteis. No
recibo que será fornecido ao devedor, também pode conter esta informação. Logo,
notamos que é fundamental que a instituição se proteja contra uma eventual ação
maliciosa do devedor.
Por esse motivo, não aconselhamos a inclusão do devedor na Serasa se a instituição não
for bem estruturada para agir com eficiência. Vale ressaltar que ninguém gosta de ter o
seu nome incluído na Serasa, portanto, esse procedimento, apesar de exigir certos
cuidados, pode ser bastante eficaz na recuperação de alguns créditos.
O CINEB - Cadastro de Informações da Educação Brasileira é um dispositivo
eletrônico, em escala nacional, desenvolvido para atender a necessidade de consulta
específica do segmento educacional. Ele propicia um serviço que permite, aos
estabelecimentos de ensino da rede privada brasileira, implementar e utilizar com
resultados um banco de informações com abrangência em tempo real.
Este serviço possibilita que se tenha acesso paralelamente às bases de dados do SPC do
Brasil S/A, facilitando consultas do histórico dos clientes (responsáveis pelos alunos) e
dos cheques (muitas vezes de terceiros) que são usados para quitar mensalidades, bem
como, de lançar restrições comerciais e bancárias aos devedores, alcançando também os
registros da SERASA. Isto contribui para reduzir o problema da inadimplência no
segmento educacional, pois, além da prevenção, a possibilidade de negativação ou
inclusão nos cadastros nacionais de devedores passa a ser uma arma na defesa contra os
mal intencionados, pois esse tipo de registro acaba sendo um entrave na vida do mau
pagador, forçando-o a um acordo.
A escola, que adere ao CINEB, tem a possibilidade de, em condições especiais e de
forma prática, fazer consultas imediatas sobre quem se matricula, a situação dos
cheques utilizados nos pagamentos, o perfil do crédito do usuário e os problemas que
por ventura existam com o mesmo, podendo acessar, inclusive, um módulo específico
que destaca eventuais antecedentes na área de educação.
Para integrar o CINEB, o estabelecimento de ensino interessado deve aderir ao serviço,
preenchendo o cadastro contido no site www.cineb.com.br e enviando a documentação
necessária para a formalização da adesão.
Encargos Extrajudiciais e Judiciais
O contrato também deverá prever na cláusula de inadimplência o pagamento dos
encargos da cobrança extrajudicial à ordem de 10% e dos honorários advocatícios pela
cobrança judicial à ordem de 20%. Em função disto, o inadimplente estará se
responsabilizando pelo pagamento de todas as despesas que a instituição tiver
decorrentes da sua inadimplência.
O ressarcimento ou o pagamento de despesas de cobrança, seja ela extrajudicial ou
judicial, deverá ser previsto como direito das duas partes, conforme inciso XII do art. 51
do Código de Defesa do Consumidor. Caso isto não ocorra, ou seja, se o contrato prever
o reembolso ou pagamento somente por parte do contratante, a cláusula será declarada
nula de pleno direito, impossibilitando a cobrança de tais despesas.
Resumidamente, concluímos que, ao deixar de efetuar o pagamento das mensalidades
em dia, o devedor poderá ser onerado com a multa de 2%, com juros de mora de 1% ao
mês, despesas de cobrança extrajudicial e honorários advocatícios. A correção
monetária não é penalidade, mas sim mera atualização do valor atrasado.
Conclusão
Pelo que vimos, o contrato deve ser o mais completo possível, sendo que, na cláusula de
inadimplência, seria interessante a instituição prever tudo o que a lei permite, mesmo
que a instituição não venha a utilizar todas as penalidades previstas, pois é importante
que a instituição esteja totalmente protegida para poder usar o que for preciso no
momento adequado.
Podemos verificar também que, quanto mais o devedor demorar a pagar o seu débito,
maior será o prejuízo sofrido por ele. A conta vai ficando cada vez mais cara. Às vezes,
o ganhar tempo significa em uma despesa maior.
Por último, não podemos esquecer que, ao negociar com o devedor, é muito importante
ter rigor, evitando fazer um acordo com muitos descontos. É melhor ampliar o prazo do
que perder a credibilidade da cobrança – a única exceção seria para o pagamento à vista.
A abertura de precedentes pode prejudicar a cobrança futura.
É importante ressaltar que tanto o protesto da duplicata de serviços, como a inclusão do
nome do devedor no SCPS, somente podem ocorrer 90 dias após o vencimento da
mensalidade a ser cobrada, para então propor ação de cobrança judicial.