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IMPORTÂNCIA DO COLOSTRO
Com o desenvolvimento constante da suinocultura, a produção de leitões
desmamados das 10 melhores granjas inscritas no programa Agriness S2 atingiu em
2013, 32,29 leitões/fêmea/ano (Dados de julho de 2012 a junho de 2013) (Agriness,
2013). Mas para chegarmos a estes números, o nosso principal desafio é fazer
sobreviver o maior número de leitões possível, ou seja, reduzir as perdas após o
nascimento(Cypriano, 2008).
Conforme descrito por Le Dividich (2005) no quadro 1, leitões com baixo peso e
consequentemente baixo consumo de colostro tendem a aumentar as números de
mortalidade até 83% enquanto que leitões mais pesados ao nascimento e que conseguem
consumir altas quantidades de colostro tendem a diminuir a mortalidade, chegando a 3%
de mortalidade.
Quadro 1. Variação da mortalidade de acordo com o consumo de colostro e peso do leitão.
Número de Leitões testados 12 41 9 3
Peso nascimento (g) 934 ± 371 1302 ± 292 1354 ±327 1398± 310
Consumo de colostro (ml) 0 68 ± 22 154 ± 27 278 ± 53
Mortalidade % 83 27 9 3
Le Dividich, 2005 apud Le Treut2011
Com a intensa seleção de fêmeas hiperprolíficas nos últimos anos, houve
aumento do tamanho das leitegadas, porém não houveram mudanças relacionadas ao
espaço uterino e eficiência placentária (Ferrari, 2013), surgindoa preocupação com os
leitões que nascem com menor peso, que integram leitegadas grandes, ficando estes
sujeitos a uma maior competição com os leitões mais pesados pela disputa dos tetos e a
ingestão de quantidades suficientes de colostro e de leite (Cypriano, 2008).
No Quadro 2, Le Treut (2011) mostra que quanto maior for a leitegada, menor
será a quantidade de colostro ingerido por indivíduo, sendo que em leitegadas com
menos de 12 leitões, cada um consome em média 271g de colostro, em contrapartida
leitegadas com mais de 17 leitões tendem a diminuir o consumo individual para 190g
em média devido a maior disputa.
Quadro 2 Consumo de colostro por leitão de acordo com o tamanho da leitegada.
Tamanho da ninhada (n=67) Ingestão de colostro (g/leitão)
<12 leitões 271
12-17 leitões 222
>17 leitões 190
Le Treut 2011
De acordo com Heim e outros (2005), a mortalidade pré-desmame pode variar
entre 7,9 e 18,6, sendo que 79% dessa mortalidade ocorrem na primeira semana pós-
nascimento, embora seja mais importante nos 3 primeiros dias de vida do leitão,
decrescendo após.
De acordo com Heck (2007), se os leitões de baixo peso ao nascer forem
assistidos, sendo estimulados a mamarem, receberem calor, forem treinados a utilizarem
o escamoteador, eles terão maiores chances de sobrevivência e desenvolvimento.
Os leitões dependem inteiramente do colostro para a aquisição das
imunoglobulinas (Igs) (IgG, IgM e IgA), que são importantes para as proteções iniciais
frente aos diferentes agentes infecciosos e para a própria sobrevivência, devido a
placenta dos suínos ser epiteliocorial difusa, o que impossibilita a transferência de Igs
aos conceptos, como consequência os leitões nascem, praticamente sem proteção,
desenvolvendo suas próprias respostas imunológicas em sete a dez dias após o contato
com os agentes infecciosos (Heim et al., 2005).
A ingestão do colostro é muito importante, devido as altas concentrações de
imunoglobulinas (IgG, IgM e IgA) que são encontradas nas primeiras amostras de
colostro após o parto, a participação delas cai rapidamente com o transcorrer da lactação
e a IgM predominante no início (76% do total) (Cypriano, 2008) diminui rapidamente
nas primeiras 24 horas(Ferrari, 2013; Bierhals, 2011), como pode ser observado no
Gráfico 1.
Gráfico 1Quantidade de IgA, IgM e IgG no colostro da porca no decorrer das horas após o parto.
Le Treut 2011(A)
Segundo Quesnel (2011), o colostro fornece aos leitões neonatos, a energia
essencial para sua termorregulação. Segundo o mesmo autor, é necessário que os leitões
consumam pelo menos 250g de colostro nas primeiras 24 horas de vida para que eles
recebam imunidade passiva em quantidades suficientes para a sua proteção frente aos
patógenos, além de receber fatores de crescimento que estimulam o desenvolvimento
intestinal e o crescimento corporal.
Em situações de leitegadas muito grandes, a identificação dos primeiros leitões
que nasceram e a privação de contato com a matriz por alguns momentos após a
ingestão de colostro podem ser ferramentas utilizadas para prover acesso e ingestão
daqueles que nascem mais tarde (Bierhals, 2011).
Pelo menos 1/3 das porcas não produzem colostro em quantidades suficientes
para suprir as necessidades da leitegada (Quesnel, 2011). De acordo com Ferrari (2013),
a não ingestão ou o consumo de quantidade insuficiente de colostro leva a inanição
predispondo os leitões a hipotermia, ao esmagamento e a ocorrência de diarreia.
A mortalidade neonatal é a responsável pela maior parte das perdas no período
lactacional (Heim, 2010).Segundo o mesmo autor, para aumentar as chances de
sobrevivência e reduzir as perdas neonatais é importante que sejam adotadas práticas de
manejo que visem a proteção dos leitões.
Uniformização da leitegada
A uniformização visa corrigir variações de peso entre leitegadas
(Cypriano,2008),aumentar as chances de sobrevivência dos leitões (Ferrari, 2013), além
de evitar o excesso de leitões em uma mesma fêmea (Cypriano, 2008).Este manejo deve
ser realizado, preferencialmente, entre seis e 24 horas após o parto, com o objetivo de
garantir a máxima transferência de imunidade celular e humoral da mãe biológica para
seus leitões (Heim, 2010), pois segundo Bierhals (2011), o epitélio intestinal dos leitões
neonatos é permeável a macromoléculas, como as Igs, apenas nas primeiras horas de
vida.
Segundo Bierhals (2011), a concentração de IgG no soro de leitões e suas mães é
semelhante, mesmo os leitões sendo filhos biológicos ou adotados, evidenciando assim,
a eficiência no processo de transferência passiva de imunoglobulinas (Igs) quando os
leitões consumirem o colostro no período de até 24 horas após o nascimento.
Além do colostro, o leite também auxilia na proteção dos leitões por conter
grande concentração de IgA, responsável pela proteção da mucosa intestinal, o leite é
responsável assim como o colostro, por promover imunidade intestinal aos leitões
(Bierhals, 2011). Desta forma, a uniformização quando realizada ao longo da lactação
também é uma alternativa, pois segundo Heim (2010), reduz a variação no peso ao
desmame em 41%, porém não pode ser uma ferramenta de rotina, pois pode suprimir a
taxa de crescimento dos leitões em 20%.
Suplementação nutricional
A rápida provisão de nutrientes exógenos após o nascimento é uma prática
comum e conveniente com o objetivo de melhorar a sobrevivência, o vigor e a baixa
competitividade dos leitões mais fracos (Cypriano, 2008). Observando esse ponto,
atualmente temos disponível no mercado uma ferramenta muito importante que são os
produtos a base de extrato de colostro e óleo essencial de orégano, os quais auxiliam no
desempenho dos 30% leitões mais fracos, possibilitando com que eles possam
desenvolver todo o seu potencial, chegando ao desmame com peso compatível com a
sua idade.
A utilização de sucedâneos lácteos na alimentação de leitegadas que apresentam
crescimento limitado também pode constituir-se em prática importante para aumentar o
peso ao desmame e reduzir a mortalidade de leitões, especialmente para compensar a
produção insuficiente de leite pelas porcas (Lima, 2007).
CONCLUSÃO
Ao término desta revisão, fica claro que estamos em um momento de evolução
na suinocultura, e que com isso surgem novos desafios para nos mantermos
competitivos no mercado. Para que isso seja possível, devemos nos manter focados na
sobrevivência dos leitões.
Um ponto fundamental para diminuir a mortalidade de leitões na maternidade é
disponibilizarmos atenção integral nos primeiros momentos de sua vida, fornecendo
ambiência e pelo menos 250g de colostro nas primeiras 24 horas de vida (Quesnel,
2011). Para que isso seja possível, devemos dar atenção principalmente as leitegadas
com mais de 12 leitões pois, segundo Le Treut (2011), leitões de leitegadas com 12 a 17
leitões conseguem consumir somente 222g de colostro cada, e acima de 17 leitões,
somente190g.
Para que os leitões de leitegadas maiores consigam fugir das estatísticas de
mortalidade apresentadas no Quadro 1, é de extrema importância que seja realizada a
uniformização das leitegadas no período de seis a 24 horas (Heim, 2010), pois neste
intervalo o leitão consegue um consumo aceitável de imunidade passiva através do
colostro.
Os leitões com peso inferior a 1,100kg, necessitamde suplementação nutricional
nos seus primeiros dias de vida, somente assim eles terão as mesmas garantias de
sobrevivência e desenvolvimento recebidas por seus irmãos maiores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGRINESS. Relatório com dados consolidado da 6ª edição dos melhores da
suinocultura. 2013.
BIERHALS, T. Influência do peso dos leitões na uniformização no desempenho de
primíparas suínas e suas leitegadas. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias
na área de Fisiopatologia da Reprodução Animal) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2011.
CYPRIANO, C. R. Alternativas de manejos em leitões neonatos para melhorar o
desempenho na fase lactacional. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2008.
FERRARI, C. V. Efeito do peso ao nascer e ingestão de colostro na mortalidade e
desempenho de leitões após a uniformização em fêmeas de diferentes ordens de
parição. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias na área de Reprodução de
Suínos), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2013.
HECK, A. Como prevenir e manejar problemas de leitões refugos na maternidade.
Acta ScientiaeVeterinariae, v.35, p.29-36, 2007.
HEIM, G. Comportamento dos leitões e das fêmeas durante as mamadas e
desempenho dos leitões quando submetidos a três diferentes manejos de
uniformização. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias na área de
Fisiopatologia da Reprodução Animal) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, RS, 2010.
HEIM, G., DE SOUZA, L. P., WENTZ, I., BORTOLOZZO, F. P. Cuidados com a
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BORTOLOZZO, F. P., WENTZ, I., BERNARDI, M. L., RIBEIRO, A. M. L.,
MELLAGI, A. P. G., GAVA, D., HEIM, G., DE SOUZA, L. P., DE FRIES, H. C. C.
Suinocultura em Ação, 2005.
LIMA, G. J. M. M. Como manejar uma fêmea hiperprolífica e alimentar os seus
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LE TREUT, Y.,2011.Importância do colostro em leitões (I). Disponível
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QUESNEL, H. Colostrum: Roles in pigletperformanceandproductionbythesow. VI
SINSUI – Simpósio Internacional de Suinocultura, Porto Alegre, RS, 2011.