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Trabalho infanl é realidade para cerca de 4 milhões de brasileiros Págs. 10 a 13 Infância perdida Ano XXV • Setembro • 2012 Jornal da ANAMT Associação Nacional de Medicina do Trabalho www.anamt.org.br Impresso Especial 9912226452/2008-DR/GO ASSOcIAçãO NAcIONAl DE mEDIcINA DO tRAbAlhO CORREIOS

Impresso Especial ASSOcIAçãO NAcIONAl DE …...ex-presidente Dr. René Mendes — na audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a proibição do uso e transporte

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Trabalho infantil é realidade para cerca de 4 milhões de brasileiros

Págs. 10 a 13

Infância perdida

Ano XXV • Setembro • 2012

J o r n a l d a

ANAMTAssociação Nacional de Medicina do Trabalho www.anamt.org.br

Impresso Especial

9912226452/2008-DR/GO

ASSOcIAçãO NAcIONAl DE mEDIcINA DO tRAbAlhO

CORREIOS

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Jornal da ANAMT2 Setembro 2012

O Jornal da Anamt é uma publicação trimestral, de circulação nacional,

distribuída a seus associados. Os textos assinados não representam necessariamente a opinião da Anamt,

sendo seu conteúdo de inteira responsabilidade dos autores. Não é permitida a reprodução total ou

parcial das matérias publicadas neste jornal sem a autorização da Anamt.

ExpedienteÍndice

Uma publicação da Associação Nacional de Medicina do Trabalho

Presidente Dr. Carlos Campos

Diretora de Divulgação Dra. Marcia Bandini

Produção Editorial Cajá Agência de Comunicação www.caja.com.br • [email protected]

Jornalista Responsável Bruno Chuairi (Mtb 27.017/RJ)

Reportagens Carlos Caroni

Fotos: C Glass/Stock.Xchng (capa), OIT/Divulgação e Dominik Gwarek/Stock.Xchng (p.9), Arquivo ABr (p. 10), Gary Scott /Stock.Xchng (p. 11), Divulgação UNICEF e Arquivo ABr (p. 12), Marcel Casal Jr / Arquivo ABr (p.13), Ed Alves (p.16 e 17), Scott Craig/Stock.Xchng (p.19)

Impressão Poligráfica

Jornal da ANAMTMensagem do Presidente Tempo de discussões ...................................................................................................3

Legislação Alterações importantes .............................................................................................4

SST na mídia Ergonomia em pauta ..................................................................................................5

AMB/Federadas A saúde pública depende da nossa assinatura ......................................................6

Artigo Ginástica laboral como estratégia para alívio de desconforto

musculoesquelético no trabalho – Uma proposta de “Pausa ativa” ................7

Entrevista Questão de gênero .......................................................................................... 8 – 9

Capa As múltiplas faces do trabalho infantil ....................................................10 – 13

Evento Lançamento comercial do 15º Congresso Nacional da Anamt .....................14

Notícias Anamt participa de audiência sobre proibição do amianto .. ..............16 – 17

Publicações Perfil do Trabalho Decente no Brasil ..................................................................18

Agenda XI Fórum Nacional da Anamt ...............................................................................19

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Setembro 2012 3Jornal da ANAMT

Uma publicação da Associação Nacional de Medicina do Trabalho

Visite www.anamt.org.br

Tempo de discussõesA Anamt encerra o terceiro trimestre de 2012 ainda

mais forte e atuante na luta pela introdução de novas po-líticas em prol da Segurança e Saúde do Trabalhador no Brasil. Exemplo disso foi a participação da Associação — re-presentada pelo diretor Científico, Dr. Zuher Handar, e pelo ex-presidente Dr. René Mendes — na audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a proibição do uso e transporte do amianto em território nacional.

É certo que nossa classe registrou conquistas signi-ficativas nos últimos meses, mas temos a consciência de que ainda há um longo caminho até chegarmos ao ponto ideal. Para tanto, é imprescindível incentivar a troca de ideias e a disseminação de boas experiências entre os profissionais das diversas disciplinas que atu-am na área.

Neste sentido, além de ter lançado o plano comercial do 15º Congresso Nacional, que será realizado em maio de 2013, a Anamt se empenhou para organizar, no início de setembro, o Seminário Regional Nordeste de Saúde no Trabalho 2012, e o XI Fórum Nacional, que acontecerá no mês de novembro. O tema deste não poderia ser mais atu-al: Emprego, sustentabilidade, trabalho decente e justiça social — desafios e oportunidades.

Uma das grandes preocupações da Anamt, as diferen-tes formas de trabalho infantil — inclusive as socialmente aceitas, como a esportiva e a artística —, são o tema da reportagem de capa desta edição. O assunto é aborda-do com base na opinião de especialistas, dados oficiais e ilustrado com o depoimento de uma ex-atleta e alguns episódios extremamente graves.

Trazemos também uma entrevista com a socióloga e di-retora do Escritório da Organização Internacional do Traba-lho (OIT) no Brasil, Laís Abramo. Primeira mulher a assumir o cargo, ela aponta medidas para a promoção da equida-de de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro, e fala sobre a 1ª Conferência Nacional do Trabalho Decente, ocorrida em agosto.

Boa leitura!

Dr. Carlos Campos

m e n s a g e m d o p r e s i d e n t e

J o r n a l d a ANAMT

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Jornal da ANAMT4 Setembro 2012

l e g i s l a ç ã o

Nos meses de julho e agosto foram publicados vários instrumen-tos legais de interesse direto para o médico do trabalho, com destaque para a Portaria Interministerial nº 323, de 11/07/2012, que instituiu o Grupo de Trabalho responsável pela avaliação e proposição de Políticas de Saúde e Segurança no Trabalho, e a Portaria INMETRO nº 390, de 24/07/2012, que criou a Comissão Técnica "Dispositivos de Segurança para Máquinas e Equipamentos".

No campo da fiscalização, a Instrução Normativa MTE/SIT nº 98, de 15/08/2012, e a Instrução Normativa MTE/SIT nº 97, de 30/07/2012, que dispõem, respectivamente, sobre os procedimentos de fiscalização do cumprimento, por parte dos empregadores, das normas destinadas à inclusão no trabalho das pessoas com deficiência e beneficiários da Previdência Social reabilitados; e sobre a fiscalização das condições de trabalho no âmbito dos programas de aprendizagem.

As portarias que tratam de assuntos pertinentes à conformida-de legal publicadas recentemente são: a Portaria INMETRO nº 388, de 24/07/2012, que aprova os Requisitos de Avaliação da Conformi-dade para Componentes para Equipamentos de EPIs para Proteção Contra Quedas com Diferença de Nível; a Portaria MTE nº 1.056, de 05/07/2012, que disciplina a avaliação de conformidade de máquinas e componentes e dá outras providências, e a Portaria INMETRO nº 326, de 25/07/2012, que trata dos Requisitos de Avaliação da Conformidade para Materiais e Equipamentos da Construção Civil.

Outros instrumentos legais de interesse são a Lei nº 12.692, de 24/07/2012, que altera os arts. 32 e 80 da Lei n.º 8.212, de 24/07/1991, para dispor sobre o acesso do empregado às informações relativas ao re-colhimento de suas contribuições ao INSS; a Lei nº 12.690, de 19/07/2012, que dispõe sobre a organização e o funcionamento das Cooperativas de Trabalho e institui o Programa Nacional de Fomento às Cooperativas de Trabalho; e a Portaria INMETRO nº 327, de 25/07/2012 sobre os Requisi-tos Complementares para Registradores Eletrônicos de Ponto.

As mudanças na legislação podem ser acompanhadas no site da Anamt, que mantém atualizações constantes, ou diretamente nas pági-nas eletrônicas dos órgãos envolvidos.

Alterações importantes

Consulte o texto dessas e de outras portarias no site www.anamt.org.br

Principais mudanças

31/08/2012Altera a Norma Regulamentadora nº 33 - Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados, aprovada pela Portaria MTE n.º 202, de 22 de dezembro de 2006.

26/06/2012Aprova os Requisitos da Avaliação

da Conformidade para o Serviço de Inspeção de Conteiner-Tanque

Destinado ao Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos.

28/08/2012Divulga para Consulta Pública o Texto Técnico Básico da Norma

Regulamentadora nº 15 - Atividades e Operações Insalubres.

23/08/2012Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.

Dr. Paulo RebeloDiretor de Legislação da Anamt

Senado Federal: http://www.senado.gov.br/legislacao/

Ministério do Trabalho e Emprego: http://portal.mte.gov.br/legislacao/

INMETRO: http://www.inmetro.gov.br/legislacao/

Portaria MTE Nº 1.409

Portaria SIT Nº 332

Portaria MS Nº 1.823

Portaria Inmetro Nº 329

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Setembro 2012 5Jornal da ANAMT

S S T n a m í d i a

Jornal da ANAMT

Trabalho em altura

A Agência Brasil destacou, no dia 30 de julho, o alto número de brasi-leiros que desenvolvem enfermida-des na coluna em decorrência de suas atividades profissionais. O problema responde por cerca de 30 casos de aposentadorias para cada grupo de 100 mil beneficiários da Previdência Social e consta entre as principais causas de licenças médicas no país.

O presidente da Anamt, Dr. Carlos Campos, ressaltou a im-portância da aplicação da Norma

Regulamentadora nº 17 e apontou fatores que devem ser observados para determinar o peso que o tra-balhador pode carregar sem com-prometer a saúde. Entre eles, a duração, a frequência e o esforço demandado pela atividade.

O limite estipulado pela legislação brasileira é de 60 kg, muito superior ao padrão internacional de 25 kg. Atualmente, tramita no Congresso projeto de lei para reduzir a carga máxima para 30 kg.

Ergonomia em pauta

O Dr. Duílio Antero de Camargo, presidente da Comissão Técnica de Saúde Mental e Trabalho da Anamt, falou ao site da revista Exame sobre os motivos e as formas de lidar com alguns hábitos que podem ser prejudiciais no ambiente de trabalho. São exemplos a falta de foco e o excesso de competitividade.

Camargo ressaltou na entrevista a importância de os empregadores promoverem avaliações mé-dicas regulares entre os funcionários. Segundo ele, alguns sinais aparentemente não significativos podem ser o indicativo de um transtorno que demanda maior atenção.

“A pessoa pode estar com depressão não diagnosticada, por exemplo. Ela tam-bém pode ter transtornos como anemia e hipotireoidismo, que dão fraqueza e cansaço”, disse, referindo-se ao excesso de sono.

Hábitos podem ser indícios de doença

A matéria de capa da revista Proteção de julho abordou a Norma Regulamentadora nº 35, que dispõe sobre as medidas de proteção para os trabalhos exercidos a mais de 2 metros do piso anterior e em locais onde haja risco de queda.

Entrevistados, a diretora de Divulgação da Anamt, Drª Márcia Bandini, e o ex-diretor Científico Dr. Arlindo Gomes defenderam a realização de análises clínicas periódicas para detectar condições que impeçam a execução de tarefas em altura. Caso dos trans-tornos mentais fóbicos e enfermidades como a labirintite e a epilepsia.

A rotina, no entanto, enfatiza Márcia Bandini, não exclui a obrigação do forneci-mento e utilização dos EPCs e EPIs: “É preciso ter múltiplos controles para evitarmos os acidentes”, disse.

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Jornal da ANAMT6 Setembro 2012

A Saúde foi a área com pior avaliação no primeiro ano de gestão da presidente Dilma Rousseff segundo pesquisa Datafolha. Dentre os problemas destacam-se gestão, cor-rupção e subfinanciamento. Embora o governo federal seja a instância que mais arrecada, está se desonerando pro-porcionalmente quando comparamos os investimentos de estados e municípios. O Brasil tem recursos para alocar na saúde, porém é preciso que a área seja priorizada.

As entidades médicas lutam há muitos anos por mais re-cursos para a saúde pública. O texto da Emenda Constitucional 29 aprovado em 2000, regulamentado em dezembro de 2011 e sancionado com 15 vetos pela Presidência da República em 15 de janeiro de 2012, frustrou nossa expectativa. A União não aportará recursos como necessitamos, nem estabeleceu me-canismos de fiscalização e punição a estados e municípios que não cumprirem os porcentuais mínimos de aplicação no setor, respectivamente, 12% e 15% das suas receitas.

Diante desse quadro, em 3 de fevereiro, foi lançado o Projeto de Lei de Iniciativa Popular, que propõe rever a Lei 141/12 (EC 29), defendendo porcentual de no mínimo 10% da Receita Corrente Bruta da União para a Saúde, montan-te estimado em R$ 35 bilhões para 2012.

Para que a mobilização tenha sucesso, é preciso coletar pelo menos 1,5 milhão de assinaturas (1% do eleitorado nacional), distribuídos em pelo menos cinco estados (0,3% dos eleitores de cada um) e apresentar esse material à Câmara dos Deputados. Depois, o projeto seguirá a trami-tação normal no Congresso.

Cada dia mais os brasileiros têm como “objeto de de-sejo” depois da casa própria, ter plano de saúde, compro-vando a falência do SUS. Como não priorizar a saúde, nosso bem maior?

Vamos mudar esse cenário, mostrando a força do povo, colhendo milhares de assinaturas no Projeto de Lei de Iniciati-va Popular para que a União coloque mais recursos na Saúde! Os médicos lutam por solução para o caos do setor. Acredita-mos no SUS como concebido e lutamos por melhorias.

Para saber mais detalhes do projeto e como imprimir a ficha de assinaturas, acesse www.amb.org.br.

A saúde pública depende da nossa assinatura

Florentino CardosoPresidente da Associação Médica Brasileira

f e d e r a d a s

26a Jornada da Amint

A Associação Mineira de Medicina (Amimt) promove, entre os dias 8 e 10 de novembro a sua 26º Jornada Científica. O evento será realizado na sede da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), em Belo Horizonte, e terá como tema "Números, metas e sistema de gestão: a serviço da qualidade da Medicina do Trabalho".

Um dos destaques desta edição é a presença dos prestigiados professores da Universidade de Michigan Dr. Thomas J. Armstrong e Dr. Charles C. Woolley. Os acadêmicos estarão à frente de dois cursos pré-congresso: Modelo Biomecânico de Predição de Esforço Estático Tridimensional da Universidade de Michigan (3DSSPP) — Como Usar? e Princípios de Ergonomia para a Avalia-ção Técnica e Projeto Ergonômico de Postos de Trabalho. Ambos serão apresentados em inglês e os participantes receberão certificados da insti-tuição norteamericana.

Estão programadas ainda três mesas-redon-das, cinco conferências e um talk show, que apro-ximarão o médico do trabalho de temas como a judicialização da Medicina e absenteísmo. Os profissionais também serão instruídos sobre como utilizar a ferramenta Excel para organizar bancos de dados e analisar informações relacio-nadas à saúde do trabalhador.

As inscrições podem ser feitas até 26 de ou-tubro no site da Amimt. Depois desta data, os interessados deverão procurar a secretaria da AMMG. O encontro, com vagas limitadas, é aber-to a médicos e a estudantes de Medicina.

Categorias Jornada Curso único

Sócio AMIMT (quite)* 440,00120,00 6 horas

Não Sócio AMIMT 570,00120,00 6 horas

Estudante** (Alunos de Graduação e Pós-Graduação)

310,00120,00 6 horas

Valores até 26 de outubro

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Setembro 2012 7Jornal da ANAMTJornal da ANAMT

Ginástica laborala r t i g o

A Ginástica Laboral (GL) é uma prática atualmente ofe-recida por muitas empresas por meio da realização, duran-te a jornada de trabalho, de exercícios de alongamento em músculos e articulações corporais.

Revisões sistemáticas recentes têm mostrado eficácia controversa da GL, principalmente com relação à prevenção das desordens musculoesqueléticas. Constata-se nas refe-rências destas análises a abundância de estudos com pobre rigor metodológico e programas de exercícios sem planeja-mento, ou realizados sem supervisão qualificada, compro-metendo a avaliação dos efeitos da GL e, consequentemen-te, a qualidade dessas pesquisas. Mesmo assim, nenhum registro comprovou que GL seja maléfica ao trabalhador1.

Em um estudo randomizado controlado observou-se melhora nos níveis de fadiga mental, memória, cansaço fí-sico e desconforto corporal nos participantes do grupo de GL, quando comparado à pausa convencional2.

Associar exercícios de alongamento e relaxamento pos-tural às pausas para trabalhos com atividades repetitivas previstas em legislação pode ser benéfico, por permitir a estimulação funcional das terminações nervosas perifé-ricas, relaxamento dos fusos intramusculares, estímulo a melhor circulação tecidual nos músculos alongados, com consequente redução de dor/desconforto físico. Desta forma, uma “pausa ativa” poderá auxiliar a mitigar os im-pactos da Síndrome Miofascial, desordem presente como causa ou fator agravante em mais de 90% dos problemas musculoesqueléticos4,3.

Portanto, para propor que a GL seja considerada uma “pausa ativa”, que traga alívio de dor/desconforto e pro-moção de qualidade de vida ao trabalhador, sugere-se que os seguintes itens sejam avaliados:

• Planejar e realizar os exercícios com base nas exigên-cias ergonômicas e/ou funcionais identificadas por meio da avaliação pelos promotores de GL do indivíduo e do seu posto de trabalho;• Capacitar e reciclar periodicamente os promotores de GL;• Coletar indicadores de estilo de vida e de efetividade

da GL, a fim de monitorar e propor intervenções comple-mentares para saúde e qualidade de vida do trabalhador4.

Além disto, é fundamental compreender que a GL como uma ação isolada não é suficiente para prevenção de distúrbios musculoesqueléticos, mas deve fazer par-te de um programa preventivo e terapêutico, que con-temple a sua multicausalidade1. Neste sentido, quando a empresa investe em promoção de bem-estar e saúde do trabalhador, o retorno do investimento nestas ações pode economizar até três vezes o valor inicial aplicado, mostrando que as vantagens de promover saúde não se refletem somente no trabalhador5.

Referências1Da Costa BR, Vieira ER. Stretching to reduce work-related musculoskeletal disorders: A syste-matic review. Journal of Rehabilitation Medici-ne.2008;40:321-28.2Lacaze DHC, Sacco ICN, Rocha LE, Pereira CAB, Casarotto RA. Stretching and joint mobilization exer-cises reduce call-center operators’ musculoskeletal-discomfort and fatigue. Clinics. 2010;65:657-62.3Teixeira MJ,Yeng LT, Kaziyama HHS. Dor - Síndro-me Dolorosa Miofascial e Dor Músculo-Esquelética. Editora Roca, São Paulo. 2007.4Camargo SM, Duarte APK. Life style indicators of industry workers in Santa Catarina in the SESI Ginástica na Empresa Program. FIEP Bulletin. Foz do Iguaçu-Paraná. 2012;82:555-58.5Goetzel RZ. Ozminkowski RJ. The Health and Costs Benefits of Work Site Health-Promotion Programs. Annu Rev Public Health. 2008:29:303-23.

Sylvia Regina Trindade Yano é Gerente de SST do SESI-DNAntonio Eduardo Muzzi Machado é

Gerente de Vida Saudável do SESI-DNMarcelo Benedet Tournier é

Médico Fisiatra e Consultor do SESI/SC

Sylvia Regina Trindade Yano*Antonio Eduardo Muzzi Machado*Marcelo Benedet Tournier*

Uma estratégia para alívio de desconforto musculoesquelético no trabalho

Junho 2012 7

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Jornal da ANAMT8 Setembro 2012

e n t r e v i s t a

Questão de gêneroEm 2005, Laís Abramo fez história ao se tornar a primeira mulher a assumir a direção do Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil. Com a experiência de quem escreveu os livros Gênero e trabalho na sociologia Latino-Americana e O resgate da dignidade: greve metalúrgica e subjetividade operária, a socióloga analisa a situação feminina no mercado de trabalho e aponta os desafios para promover a equidade de gênero no país.

Laís Abramo, diretora do Escritório da OIT no Brasil

Houve um crescimento significativo do número de mulheres em cargos de liderança nos últimos anos, em especial na América do Sul. A que a senhora atribui o movimento?

Ao aumento sistemático da esco-laridade e da participação da mulher no mercado de trabalho registrado

nas últimas três décadas. Isso, con-tudo, não significa que o “teto de vi-dro” – termo usado para designar as barreiras que dificultam a ascensão profissional feminina — esteja em vias de desaparecer. Pelo contrário, a quantidade de mulheres em altas posições hierárquicas permanece longe do desejado.

Embora o Brasil tenha escolhido uma mulher presidente, o percentual de representantes femininas no Legislativo permanece baixo: 12,5%. O dado é ainda mais significativo, considerando o fato de que a maioria dos eleitores são mulheres. Por que tamanha discrepância?

O cenário negativo se deve a uma série de fatores, entre eles a dificulda-de da participação da mulher nas en-tidades sindicais e partidos políticos, e a ideia equivocada de que a esfera pú-blica é mais apropriada ao homem. De todo modo, já há mudanças interes-santes. No último Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, determinou-se a paridade entre homens e mulheres nas futuras diretorias da entidade.

O Ministério Público prometeu rigor na fiscalização da lei que obriga os partidos a destinar 30% das vagas a candidatas mulheres. Isto pode influenciar nos próximos pleitos?

Não há como afirmar categorica-mente, mas é possível. Só o fato de termos uma presidente mulher já é bastante significativo porque prova que as mulheres estão aptas a ocu-par cargos de relevância incontestá-vel. É uma conquista capaz de mudar o imaginário social e exercer efeito pedagógico nas próprias mulheres. Muitas vezes, são elas que pensam ser impossível alcançar tais postos.

A parcela de mulheres empregadas, inclusive em cargos que exigem maior qualificação, tem crescido nos últimos anos. No entanto, nota-se que, no geral, recebem 30% menos que homens da mesma idade e nível de instrução. Como avalia esses dados?

Os números são bastante graves, especialmente se considerarmos que a diferença se intensifica com o passar do tempo. Há dois itens envolvidos no problema: a segmentação ocupacional por gênero, constatada na predomi-

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Setembro 2012 9Jornal da ANAMT

nância feminina nos segmentos mais precários do mercado de trabalho, e a discriminação direta ou indireta.

Infelizmente, a visão da maior parte dos empregadores é a de que a maternidade torna a contratação da mulher onerosa. O discurso, porém, é facilmente rebatível. Fora o fato de as mulheres terem, em média, apenas dois filhos durante a vida profissional, a maior parte dos custos com a licença é assumido pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INSS).

Desta maneira, como em muitos casos as empresas não contratam subs-titutos, a economia com o não-paga-mento dos salários durante o período de afastamento chega a superar os gas-tos com a contribuição previdenciária.

Ainda é forte o pensamento de que a tarefa de cuidar dos filhos é responsabilidade exclusivamente feminina. De que forma isto afeta a carreira da mulher?

É muito prejudicial. Para se ter uma ideia, o relatório “Perfil do Tra-balho Decente no Brasil – Um Olhar sobre as Unidades da Federação”, lançado pela OIT em julho, indicou que os afazeres domésticos tornam a jornada de trabalho semanal das mulheres cinco horas superior a dos

homens, o que representa 10 dias ao longo de um ano.

O estudo deixa claro que a trans-formação das relações de gênero na sociedade só acontecerá quando a fun-ção do cuidado for compartilhada. Para tanto, além da mudança de atitude no ambiente familiar, é imprescindível que o Estado ofereça serviços que facilitem a conciliação entre emprego e família, como creches, restaurantes populares e transporte público eficiente.

Quais os impactos da discriminação para o país?

Primeiramente, há um cenário que podemos classificar como de saúde pública. O estresse das jornadas du-plas ou triplas e a busca pela estabi-lidade profissional têm levado muitas mulheres a desistir da maternidade ou a postergar até um momento em que a gestação passa a ser arriscada.

Destaco ainda o custo econômi-co da discriminação. Além de ferir os direitos humanos e fundamentais do trabalho, impedir uma pessoa de exercer o seu potencial produtivo é extremamente danoso à sociedade, que investiu durante anos na educa-ção e formação do indivíduo.

O que fazer para superar este desafio?A resposta para esta pergunta está

na adoção de estratégias socioeconô-micas que reduzam estas diferenças de remuneração. Neste sentido, enalteço a valorização do salário mínimo obser-vada nos últimos anos e a criação das secretarias de Política de Promoção da Igualdade Racial; e de Políticas para as Mulheres. Os órgãos têm exercido pa-pel fundamental na transversalização da dimensão de gênero e raça nas po-líticas públicas.

As categorias profissionais, por sua vez, devem intensificar o diálogo com as empresas. É imprescindível levar às trabalhadoras do setor privado cláu-

sulas de promoção de igualdade já obrigatórias no serviço público, como a licença maternidade de 180 dias.

Tudo isso, obviamente, depende da criação das legislações específicas e do fortalecimento das já existentes.

A ampliação da licença maternidade, em vez de ter um efeito positivo, não poderia reforçar o mito de que a mão de obra feminina é mais cara?

O argumento também foi levan-tado quando a Constituição de 1988 estendeu o benefício de 90 para 120 dias. A participação da mulher no mercado de trabalho, no entanto, só aumentou desde então.

Ampliando um pouco a discussão, no dia 10 encerrou-se a 1ª Conferência Nacional do Trabalho Decente. Que balanço faria do evento?

O evento não só foi o mais amplo diálogo social em torno dos temas do trabalho já ocorrido no Brasil, como o de maior magnitude em nível global: ao todo, incluindo conferências esta-duais e municipais, cerca de 23 mil pes-soas estiveram envolvidas no processo.

Quanto ao resultado, foi bastante po-sitivo. As divergências entre os protago-nistas apareceram, como era esperado, mas ainda assim foi aprovado um docu-mento com muitos pontos de consenso, o que indica a possibilidade de continu-armos avançando nas discussões para a construção de uma política nacional de emprego e trabalho decente.

"A discriminação

com a mulher

no ambiente de

trabalho já pode ser

classificada como

uma questão de

saúde pública"

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Jornal da ANAMT10 Setembro 2012 Jornal da ANAMT

Problema está em carvoarias, passa pelo malabarismo dos sinais de trânsito e frequenta rodas aceitas pela sociedade, como esportes e a dramaturgia

As múltiplas faces do trabalho infantil

c a p a

"Vida de moleque é vida boa; Vida de menino é maluquinha; é bente-altas, rouba bandeira; Tudo que é bom é brincadeira". Infe-lizmente, os versos da canção de Milton Nascimento para o clássico da literatura infantil 'Menino Maluquinho' não refletem a realidade de todas as crianças.

Segundo o Censo 2010, aproximadamente 4 milhões de meno-res trabalham no Brasil. Embora significativo, o número representa uma redução de 530 mil crianças e adolescentes em relação ao úl-timo levantamento, feito em 2000. Na faixa etária de 10 a 17 anos, por exemplo, houve queda de 13,44%. Em contrapartida, o balanço entre 10 e 13 anos foi negativo: aumento de 1,56%.

O trabalho infantil ocorre predominantemente em centros urbanos, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A situação, todavia, é mais grave na zona rural, onde 59% dos menores estão empregados em ocupações de alto risco, caso da pesca, silvicultura, aquicultura e ofícios que demandam

As condições degradantes das car-voarias fizeram com que a OIT classifi-casse a atividade como uma das piores formas de trabalho infantil. Marcada pela remuneração inexpressiva, a ocu-pação pode provocar queimaduras, doenças osteomusculares e transtor-nos respiratórios. Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e Tocantins são os estados onde o problema é mais frequente.

Carvoarias X Crianças

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Jornal da ANAMT Setembro 2012 11Jornal da ANAMT

“A maior parte

das crianças

trabalhadoras

abandona os estudos

porque não aguenta

a rotina pesada”Leonardo SoaresCoordenador da Comissão Nacional

para Erradicação do Trabalho Infantil

o uso de máquinas, como motosser-ras e tratores.

O chefe da seção de Segurança e Saúde do Trabalhador da Superinten-dência Regional do Trabalho e Em-prego de Minas Gerais (STRE/MG), Dr. Mário Parreiras de Faria, aponta o câncer e as pneumoconioses como alguns dos agravos a que os agricul-tores e silvicultores estão sujeitos. Ele atenta ainda para a alta incidência de mutilações e para o risco de infecções por agentes biológicos.

“As condições de trabalho no cam-po ampliam as chances de os meno-res contraírem doenças como hepa-tites virais, leptospirose e tétano”, aponta Faria. “Já na aquicultura são comuns transtornos do ciclo vigília--sono, envelhecimento precoce, e, devido aos mergulhos constantes, lesões de tímpano e labirintites. Há ainda a possibilidade da ocorrência de embolia gasosa e osteonecrose as-séptica”, acrescenta.

Nas cidades, as formas de explo-ração mais frequentes ocorrem nas ruas — como pedintes ou vendedo-res — e em ambientes domésticos. De acordo com o Dieese, cerca de 500 mil crianças estão empregadas em residências atualmente. “Acre-dito que este número está subesti-mado, pois é muito difícil promover fiscalização nas residências onde há crianças trabalhando para os pais ou terceiros. Normalmente, estes meno-res estão sujeitos, também, a abusos físicos, sexuais e psicológicos”, reve-la Leonardo Soares, coordenador da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Infantil (Conaeti).

Na sua avaliação, a má formação educacional é outro efeito preocu-pante do trabalho infantil: “A maior parte das crianças trabalhadoras abandona os estudos ou não conse-gue ter o rendimento esperado por-que não aguenta a rotina pesada”.

da Zona Leste de Santos, sequer foi encontrada comida.

Na opinião de Faria, os episódios são graves e servem de alerta às insti-tuições sobre a necessidade de forne-cer estrutura adequada aos jovens. “Os clubes devem obedecer à legislação, especialmente no que diz respeito às condições sanitárias e de alojamento, conforme determina a NR 24”, cobra.

O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e espe-cialista em Medicina Esportiva Dr. Antônio Carlos da Nóbrega, por sua vez, afirma que estas situações de-monstram a importância de os clubes contarem com profissionais da área de saúde em seus quadros. Segundo ele, o investimento permite reduzir a ocorrência de lesões e identificar condições que tornam as atividades físicas arriscadas, como doenças me-tabólicas e cardiopatias congênitas.

“Os atletas fazem exames para avaliar a capacidade aeróbica, compo-sição corporal e limites fisiológicos. A partir desses dados, é possível inten-sificar a preparação sem prejuízo à saúde”, explica Nóbrega, que lamenta o fato de o atendimento não ser dis-ponibilizado a todos os esportistas mi-rins: “Infelizmente, o interesse econô-mico por trás da descoberta de novos talentos nem sempre leva em conta o bem estar dos menores”.

DRAMA DE CHUTEIRASO futebol seduz milhares de ga-

rotos que vislumbram no esporte a grande oportunidade de melhorar suas vidas. Para a maioria, entretanto, o desejo de se tornar um astro nunca chega a se concretizar. Pior: muitas vezes o sonho se transforma em um grande pesadelo.

Este ano, o adolescente Wendel Junior Venâncio da Silva, 14 anos, morreu em Itaguaí, Rio de Janeiro, durante um teste para integrar o time juvenil de um grande clube carioca. Após a tragédia, o Ministério Público foi até o local e constatou vários pro-blemas no alojamento: havia apenas um vaso sanitário, chuveiros em con-dições precárias, camas com colchões velhos e armários quebrados. A Justiça imediatamente determinou a interdi-ção do centro de treinamento, mas o clube conseguiu uma liminar e as ins-talações foram reabertas.

As irregularidades repetem-se em outras grandes equipes e nos chamados times pequenos. Um clu-be de São paulo, por exemplo, que está sendo investigado por tráfico de menores, mantinha 12 adolescen-tes em uma quitinete de 40m², com apenas três colchonetes de casal. No imóvel, informou o Conselho Tutelar

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Jornal da ANAMT12 Setembro 2012 Jornal da ANAMT

c a p a

UM ESPORTE BRUTALEstudo da Nationwide Children's

Hospital em Ohio, nos Estados Unidos, aponta a ginástica olímpica como o es-porte responsável pelo maior número de contusões em indivíduos entre 6 e 17 anos. Outra pesquisa, da Michigan State University, indica o excesso de treinamento como a principal causa de lesões em crianças que praticam mo-dalidades sem contato físico.

Dois episódios recentes, envol-vendo atletas de alto rendimento, acenderam o alerta para a gravidade da situação. Em 2008, exames cons-tataram que a estrutura óssea do pu-nho direito da ginasta brasileira Jade Barbosa, então com 18 anos, era se-melhante à de uma pessoa de 50 anos. Jade se submeteu a uma cirurgia e voltou a competir.

Também marcada por sucessivas le-sões, a multimedalhista olímpica Shaw Johnson preferiu abandonar a carreira em junho. Ao se despedir do esporte, aos 20 anos, a americana declarou à rede de televisão CNN que a ginástica é um esporte brutal e disse não saber se deixaria uma filha praticá-lo.

A opinião é a mesma da estudante de relações internacionais e ex-ginasta Júlia Vincent, 20, que competiu entre os 8 e os 10 anos. Neste período, enfren-tou jornadas de até oito horas de treina-mentos e passou por diversos abusos. “Era duramente criticada quando não executava algum exercício com perfei-

“Mais do que

aplausos de

desconhecidos, os

pequenos desejam

o reconhecimento

dos pais”Lizete DicksteinPsiquiatra e psicanalista infantil do

Instituto Fernandes Figueira

ção. Isso afetou profundamente a minha autoestima”, desabafa.

Júlia conta ainda que ela e as colegas de clube foram proibidas de ligar para os familiares durante uma excursão aos Estados Unidos. “Deixei a ginástica no dia em que cheguei em casa com as mãos em carne viva após ser obrigada a subir várias vezes em uma corda”, lembra.

ALÉM DAS CORTINASDe tempos em tempos, surgem

novos meninos e meninas prodígios que encantam adultos com os seus ta-lentos precoces. Uma questão, entre-tanto, passa despercebida pelo grande público: quais consequências as expe-riências ditas glamorosas trazem para a saúde dos artistas mirins?

Em 2009, uma pequena apresenta-dora de TV, então com 7 anos, chorou e bateu a cabeça em uma câmera após ser acusada de “dar um vexame” em rede nacional.

Embora o exemplo seja significativo, representa apenas a ponta do iceberg. Longe dos olhares dos espectadores, que dificilmente testemunham uma reação desta proporção, estão diversas outras crianças submetidas a longas jor-nadas de trabalho.

“Mais do que aplausos de desconhe-cidos, os pequenos desejam o reconhe-

cimento dos pais. Ter de conviver com a expectativa de alcançar o status de ce-lebridade é um peso enorme. Não con-seguir, na maior parte das vezes, des-perta nelas o sentimento de fracasso”, analisa a psiquiatra e psicanalista infantil Lizete Dickstein, do Instituto Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz.

Outro aspecto abordado por Dickstein é o impacto do excesso de afazeres no desenvolvimento psico-lógico das crianças. “Elas precisam de tempo para as brincadeiras. É como expressam seus conflitos e estrutu-ram suas emoções para tornarem-se adultos saudáveis”, conclui.

Independente da carreira, seja ela no campo ou sob os holofotes de um teatro, as crianças e adolescentes precisam ser protegidos e ampara-dos pelo que dita a lei. Segundo o Dr. Paulo Rebelo, diretor de Legislação

Unicef promove campanhas regulares contra o trabalho infantil

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Jornal da ANAMT Setembro 2012 13Jornal da ANAMT

NA LETRA DA LEI A legislação proíbe que menores de 14 anos exerçam atividades profis-

sionais. Desta idade em diante, os adolescentes podem trabalhar em regi-me de aprendizagem — o que obriga os empregadores a inscrevê-los em programas de formação técnico-profissional. Além disso, o contrato deve ter prazo máximo de dois anos e ser anotado na carteira de trabalho.

Dos 16 aos 18 anos, os jovens são considerados aptos a qualquer ofí-cio desde que não realizados em horário noturno ou em ambientes onde sejam expostos a condições de perigo ou insalubridade. De acordo com a Convenção 182 da OIT, ratificada pelo Brasil há dez anos e que dispõe sobre as piores formas de trabalho infantil, constam na lista de servi-ços proibidos o doméstico, em indústrias, minas de carvão, bem como a prostituição e o tráfico de drogas.

As determinações são semelhantes no âmbito esportivo. O contrato profissional pode ser feito a partir dos 16 anos e o de aprendizagem — que, no caso específico dos atletas, não gera vínculo empregatício — a partir dos 14. Antes dessa idade são vedados testes de seleção e treina-mentos que visam somente o aumento de desempenho.

No que diz respeito à participação em espetáculos artísticos, a nor-ma geral é a proibição. Todavia, magistrados da área da Infância e da Juventude têm autoridade para conceder permissões individuais se considerarem a atividade positiva para as crianças e adolescentes.

avalia como excepcionais os resulta-dos obtidos pelo país até o momento e defende a disseminação das experi-ências brasileiras para outras nações. As principais iniciativas neste campo são o Programa de Erradicação do Tra-balho Infantil (Peti) e o Bolsa Família, do Governo Federal.

A OIT também aponta a cons-cientização das empresas como fa-

tor responsável pelo avanço. Neste sentido, a Fundação Abrinq ofere-ce, desde 1995, o selo Empresa Amiga da Criança às companhias que não exploram nem firmam contratos com fornecedores que utilizam mão de obra infantil. As empresas são visitadas anualmente para veri-ficar se os compromissos estão sen-do cumpridos.

da Anamt, é necessário ir além e não deixar-se influenciar pelo glamour de certas atividades: “O trabalho de menores só é permitido quando são cumpridas as exigências legais que os garantem o direito à saúde e à educa-ção, em locais onde não sejam sub-metidos a constrangimento ou condi-ções degradantes”, afirma.

COMBATEPara o presidente da Anamt, Dr.

Carlos Campos, a atuação dos profis-sionais da área de SST é crucial para a erradicação do trabalho infantil no país: "Unindo o conhecimento dos médicos do trabalho e o compromisso da sociedade, conseguiremos avançar em uma questão vergonhosa que insiste em ser realidade".

O Brasil se comprometeu com a OIT a eliminar todas as formas de trabalho infantil até 2020. A entidade

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Jornal da ANAMT14 Setembro 2012

Pelo fim de uma ameaça

Um novo capítulo da luta pela proibição total do amianto (ou as-besto) no Brasil ocorreu nos dias 24 e 31 de agosto, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) promoveu audiência pública para debater o assunto. Participaram do encontro

membros de associações industriais, órgãos técnicos e entidades sindicais. O diretor Científico da Anamt, Dr. Zuher Handar, e o ex-presidente Dr. René Mendes representaram a Associação.

A reunião foi uma determinação do ministro Marco Aurélio Mello, que julgou necessária a participação de especialistas na área para discutir os diversos aspectos relativos ao tema. Mello é relator de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADin) con-tra a Lei 12.648/2007, que veda a utilização, no Estado de São Paulo, de produtos com a fibra mineral.

Em sua explanação, Dr. Zuher apresentou dados da Organização Internacional de Trabalho (OIT) re-ferentes a 2008 para evidenciar a ameaça representada pelo amianto. De acordo com a entidade, 900 mil pessoas morreram naquele ano em decorrência da exposição a substân-

Dr. Zuher Handar, diretor Científico da Anamt, defende no STF a proibição do amianto

cias nocivas. Destas, cerca de 100 mil trabalhavam com a fibra.

“Mulheres e homens pagam com a vida devido à irresponsabi-lidade, muitas vezes criminal, de empregadores que não lhes garan-tem ambiente seguro, conforme determinam muitas convenções da OIT já ratificadas pelo Brasil”, pro-testou Zuher. "A forma mais eficien-te de eliminar as doenças relacio-nadas ao mineral consiste em deter a utilização de todos os tipos de amianto", assegurou.

Aspecto financeiro

Os pró-amianto alegaram que o tipo crisotila, ao contrário do an-fibólio, tem baixo potencial de to-xicidade e defenderam que o uso controlado e a modernização das indústrias tornam praticamente nu-las as chances de um indivíduo de-senvolver alguma doença devido ao contato com as partículas.

Outro fator considerado impor-tante pelas empresas foi o econô-mico. O Brasil é o terceiro maior produtor de amianto no mundo. Estima-se ainda que o minério gere cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos no país. Deste modo, argumentam, o fim da exploração iria de encontro aos interesses dos trabalhadores.

A retórica, na opinião do Dr. René Mendes, não pode ser con-siderada válida. Segundo o médi-co, que qualificou como correto e estruturante o enfoque pela pers-pectiva do risco, não há impacto

"Mulheres e

homens pagam

com a vida devido à

irresponsabilidade de

empregadores que

não lhes garantem

ambiente seguro"Dr. Zuher HandarDiretor Científico da Anamt

n o t í c i a s

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financeiro que justifique um perigo de tal proporção. Entre as enfermi-dades associadas ao amianto estão a asbestose, o adenocarcinoma e o mesotelioma maligno de pleura.

“A Organização Mundial de Saú-de (OMS) não só respalda o posi-cionamento contrário ao amianto, como já determinou não haver ní-veis seguros de exposição à fibra”, ponderou o Dr. René Mendes. Ele destacou ainda a existência de al-ternativas viáveis para substituir a substância e ressaltou as pesquisas que indicam que os malefícios não se limitam aos trabalhadores que manipulam a substância.

Números

• Mais de 50 países já baniram o uso do material;

• Cinco estados — Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso — e 21 cidades brasileiras fizeram o mesmo;

• Cerca de 124 milhões de trabalhadores encontram-se em exposição direta ao composto, indicam dados da OIT;

• Anualmente, cerca de 100 mil pessoas morrem de doenças relacio-nadas à substância;

• Estudo da Escola Nacional de Saúde Pública com indivíduos expostos ao amianto verificou que 80% apresentavam alterações pulmonares.

"Ao não proibir

o amianto, Brasil

se torna cúmplice

de uma injustiça

ambiental em

escala global" Dr. René MendesEx- presidente da Anamt

“A exposição ocupacional indireta, em outras atividades profissionais e em outros segmentos da economia, é muito difícil de ser caracterizada e devidamente dimensionada. E é justa-mente esta uma das grandes questões de Saúde Pública, pois o desconheci-mento inviabiliza o conceito de ‘uso seguro’ e de ‘uso controlado’, acres-centou o ex-presidente.

Ainda neste sentido, ele foi en-fático ao afirmar que o Brasil se torna cúmplice de "uma injustiça ambiental em escala global" ao não decretar a proibição do amianto. Atualmente, o país ocupa a segunda posição na lista dos maiores expor-tadores da substância.

"Lamentavelmente, o risco amianto crisotila vem sendo expor-tado para nações como Índia, Indo-nésia, Tailândia, Malásia, Emirados Árabes, Irã, que não se destacam nem pelo nível de equidade, nem pelo respeito aos direitos humanos. Mera coincidência?", questionou. Divergência

Durante a audiência, o Governo não demonstrou posição fechada sobre o tema. Enquanto os ministé-rios da Saúde, do Meio Ambiente,

do Trabalho e da Previdência mos-traram-se favoráveis à proibição, as pastas do Comércio Exterior e Minas e Energia respaldaram a argumenta-ção do uso controlado.

Sobre a questão, Dr. Zuher foi enfá-tico: "Os ministérios que demonstraram estar mais preocupados com a produção e a economia devem rever suas posições. Um país não pode crescer à custa da morte e do sofrimento dos trabalhado-res”, criticou.

Ministro Marco Aurélio Mello

Dr. René Mendes reafirmou não existirem níveis seguros de exposição à fibra

Setembro 2012 15

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Jornal da ANAMT16 Setembro 2012

Foi lançado no dia 25 de julho o plano comercial do 15º Congresso Nacional da Anamt. Diversos repre-sentantes de entidades e empresas compareceram à reunião, realizada no Hotel Bourbon Ibirapuera, em São Paulo. Na avaliação do presidente da Associa-ção, Dr. Carlos Campos, a iniciativa foi um sucesso e representou uma importan-te quebra de paradigma.

“Há um pudor muito grande em relacionar a

Medicina ao campo econômico. Os acordos, porém, não devem ser analisados somente pelo aspecto financeiro. A nossa intenção é promover uma união de instituições co-merciais, associações e outras entidades representativas — como imprensa e universidades — em prol da saúde e segurança do trabalhador”, pondera.

“Vejo nas parcerias uma excelente oportunidade para fortalecer o Congresso — que, já no próximo ano, conta-rá com a participação de 30 convidados estrangeiros — e disseminar o conhecimento acerca do tema não só para os profissionais da área, mas também para os demais segmen-tos da sociedade”, acrescenta o Dr. Carlos Campos.

Para o diretor Científico da Anamt, Dr. Zuher Handar, o principal objetivo do encontro foi estabelecer um ca-nal com as companhias para aprofundar os debates so-bre a implementação de políticas de atenção à saúde dos funcionários. “É fundamental trazer para os simpósios e congressos setoriais a discussão sobre as adversidades e

Café da manhã em São Paulo é o primeiro passo para o sucesso do evento

Lançamento do plano comercial do XV Congresso Nacional da Anamt

as soluções encontradas pelas organizações para as situa-ções do dia a dia”, afirma.

A expectativa, de acordo com o Dr. Zuher Handar, é a de receber mais de 3.000 pessoas nos sete dias de congresso. As empresas interessadas em exibir suas marcas durante o even-to poderão fazê-lo por meio de banners, cartazes, mailing, in-serção de brindes e folhetos na pasta dos congressistas, entre outras formas, que variam de acordo com a modalidade de investimento escolhida.

15º CONGRESSO NACIONAL DA ANAMTCom o tema “Saúde integral para todos os traba-

lhadores”, o 15º Congresso Nacional da Anamt será realizado de 11 a 17 de maio de 2013, no Palácio de Convenções Anhembi, em São Paulo. Estão programadas oito conferências, 12 painéis e 28 simpósios. Também serão apresentadas pesquisas e práticas em comunica-ção orais de temas livres e pôsteres selecionados pela Comissão Científica da Associação.

O programa da conferência foi estruturado de forma abrangente e transdisciplinar. Entre os tópicos que serão abordados estão o uso de álcool e drogas no trabalho, os papeis das instituições públicas, causas e consequ-ências do “presenteísmo” e “absenteísmo”, reabilitação profissional, ergonomia, e bases legais e normativas do exercício da medicina laboral. Como já se tornou tradi-ção, o evento contará com a participação de profissionais de reconhecido mérito acadêmico do Brasil e do exte-rior. Já confirmaram presença o presidente da Sociedade Italiana de Medicina do Trabalho e Higiene Indus-trial, Dr. Pietro Apóstoli; o presidente da Associação Espanhola de Especialistas em Medicina do Trabalho, Dr. Antônio Iniesta; e a presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho, Drª Ema Sacadura Leite.

e v e n t o s

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Jornal da ANAMT

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Jornal da ANAMT18 Setembro 2012 Jornal da ANAMT

p u b l i c a ç õ e s

Foram lançadas no dia 22 de maio as primei-ras edições do Manual de Saúde e Segurança do Trabalho do Servidor Público do Distrito Federal e da Cartilha de Orientações a Gestores de Depen-dentes Químicos. Os documentos, que indicam procedimentos para gerenciar e eliminar pos-síveis ameaças à saúde dos profissionais, foram produzidos com a coordenação da vice-presiden-te da Anamt na Região Centro-Oeste, Rosylane Nascimento das Mercês Rocha.

Além de estabelecer normas adequadas a diferentes atividades profissionais, os manuais

Manual de SST para servidores públicos do DF

espaço do associado

18 Junho 2012

O Ministério do Trabalho e Em-prego (MTE) elaborou documento para esclarecer eventuais dúvidas a respeito da Norma Regulamen-tadora nº 35, que dispõe sobre as medidas de proteção para o traba-lho em altura. Enquadram-se nes-sa categoria todas as atividades profissionais exercidas a mais de 2

metros do piso anterior e em locais onde haja risco de queda.

Publicada no Diário Oficial da União no dia 27 de março, a norma determina, entre outros pontos, a obrigatoriedade da realização de exames médicos e psicológi-cos específicos nos trabalhadores que irão atuar nestas condições. A

aptidão para a função deverá ser documentada no Atestado de Saúde Ocupacional.

Os funcionários também deve-rão receber treinamentos práticos e teóricos sobre o uso dos EPIs, os riscos inerentes as suas funções e os procedimentos a serem adota-dos em caso de emergência.

NR 35 comentada

servem de base também para um programa de melhorias das condições do ambiente de trabalho, com instruções para lidar com riscos ergonômicos, psicossociais, físicos, químicos e biológicos.

A iniciativa é um complemento ao Decreto Nº 33.653, de 10 de maio 2012, que instituiu políticas de SST voltadas especificamente para os fun-cionários públicos em Brasília. Desde então, ficou determinado que o governo, por meio de seus diferentes órgãos, deveria promover ações de cunho preventivo, como a realização de exames médicos regulares nos trabalhadores.

A Organização Interna-cional do Trabalho (OIT) divulgou no dia 19 julho o relatório Perfil do Traba-lho Decente no Brasil - Um Olhar sobre as Unidades da Federação. A partir de da-dos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, o levanta-mento apresenta informa-ções relevantes sobre as

condições de segurança e saúde ocupacional no país.

O número de acidentes la-borais caiu de 756 mil em 2008 para 701 mil em 2010, o que re-presenta redução de 7,2%. No mesmo período, houve queda de 3,7% nos óbitos decorrentes do exercício profissional. Rio Grande do Norte, Acre e Distri-to Federal tiveram a evolução mais acentuada. O destaque

negativo ficou por conta de Pernambuco, Goiás e Piauí.

O documento aponta ainda que o cuidado com os filhos e os demais afazeres domésticos tornam a jorna-da de trabalho das mulheres superior à dos homens. A di-ferença é de cinco horas por semana, o que corresponde a dez dias de trabalho a mais ao longo de um ano.

Perfil do Trabalho Decente no Brasil

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Setembro 2012 19Jornal da ANAMT

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a g e n d a

Junho 2012 19

XI FóRUM NACIONAL DA ANAMT

Goiânia receberá, entre 15 e 17 de no-vembro, a 11ª edição do Fórum Nacional da Anamt, que, este ano, propõe debater as práti-cas de Segurança e Saúde do Trabalhador den-tro de uma perspectiva sustentável. A progra-mação inclui discussões sobre a repercussão das mudanças climáticas na vida do trabalha-dor e o impacto dos agrotóxicos no ambiente e a saúde humana.

Mais informações: http://www.anamt.org.br/forum/

XXXIII PROVA DE TÍTULO DE ESPECIAL-IsTA dA ANAMT

A Anamt promoverá no dia 17 de novem-bro, em Goiânia, a XXXIII prova para obten-ção do título de especialista em Medicina do Trabalho. Os interessados podem se ins-crever de 17 de agosto a 17 de outubro na sede administrativa da Anamt (Av. Deputado Jamel Cecílio, n° 3310, sala 610, Jardim Goiás, Goiânia - GO, CEP 74.810-100) ou pelos Correios, valendo a data da postagem.

Mais informações: (62) 3092-6030 Email: [email protected]

XX CONGRESSO MUNDIAL DE DIREITO DO TRABALHO E SEGURIDADE SOCIAL

Estão abertas as inscrições para a 20ª edição do Congresso Mundial de Direito do Trabalho e Seguridade Social, que acontece-rá entre 25 e 28 de setembro na cidade de Santiago, no Chile. Entre outros temas, serão discutidos o assédio sexual nas relações do emprego e a eficácia do direito do trabalho.

Mais informações: http://www.congresomundialtrabajo2012.com

A exemplo dos exames laboratoriais — cujos resultados po-dem ser obtidos pela internet — é possível a liberação eletrô-nica do Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), sem a necessi-dade da assinatura do médico? Maurício Costenaro Sato, administrador

De acordo com o item 7.4.4.3 da NR 7, Portaria 3.214/78, o ASO deve conter, entre outros requisitos obrigatórios, a data e a assinatura do médico encarregado do exame, bem como o carimbo com o seu nú-mero de inscrição no Conselho Regional de Medicina. O item 7.4.4.2 da NR 7 determina que a segunda via do ASO deve ser entregue ao trabalhador, mediante recibo na primeira via, com a necessidade da assinatura do paciente no atestado médico.Atualmente, a Associação Paulista de Medicina desenvolve o Atestado Médico Digital e o Atestado de Saúde Ocupacional Digital. Ambos devem ser impressos para a devida assinatura do paciente, indicando a concordância dos dados, o que permite assegurar a au-tenticidade nas emissões.Fora a importância jurídica da assinatura do trabalhador no ASO, acreditamos que a relação médico-paciente, com contato pessoal e individualizado, é fundamental. É neste momento que o trabalhador deve ser orientado quanto aos resultados de exames complementares e do exame clínico, das medidas preventivas necessárias e dos pos-síveis riscos ocupacionais a que está exposto. Além disso, também é uma oportunidade interessante para educar e conscientizar sobre o uso de equipamentos individuais e coletivos de proteção. Pela relevância do tema, vejo como importante uma consulta à Câmara Técnica de Medicina do Trabalho do Estado em que você atua.Finalmente, uma vez disponibilizada tecnologia que nos permita a liberação eletrônica do ASO com Certificação e Assinatura Digital, contempladas nossas preocupações com a relação médico-paciente e normatizado o procedimento pelo CFM/CRM, será necessário conhe-cer o posicionamento oficial do Ministério do Trabalho e Emprego a este respeito, considerando que compete ao órgão a fiscalização dos Atestados de Saúde Ocupacional nas empresas.

Dr. João Anastacio Dias Diretor de Título de Especialista

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c a l e n d á r i o

Novas recomendações de vacinas acelulares contra pertussis para adolescentes e adultosLucia Ferro Bricks, MD, PhDPediatra, Doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo FMUSP - Diretora de Saúde Pública da Sanofi Pasteur, Divisão Vacinas da Sanofi, Brasil

A pertussis, coqueluche ou tosse comprida, é uma doença respiratória causada pela Bordetella pertussis, cujo único hospe-deiro é o ser humano. A bactéria se dissemina através de par-tículas respiratórias e aproximadamente 90% dos contatos não vacinados adquirem a doença após contato domiciliar com pes-soa infectada. Os sintomas têm início 7 a 10 dias após contato e as manifestações variam de acordo com idade, condição vacinal e o tempo transcorrido desde a última dose da vacina. Os casos são mais graves ocorrem em bebês com menos de 6 meses e, na maioria das vezes, os familiares são a fonte de contágio1-4.

A suspeita de coqueluche é feita nos casos de tosse com du-ração de duas semanas ou mais, particularmente quando a tosse é paroxística, seguida por vômitos e/ou guincho. Adolescentes e adultos com coqueluche em geral apresentam apenas tosse prolongada e existem evidências de que 25 a 30% das tosses prolongadas em pessoas com mais de 14 anos sejam causadas por coqueluche. Embora a coqueluche tenha menor gravidade em adolescentes e adultos, as complicações (pneumonia, perda de peso, fratura de costelas, distúrbios do sono, perda urinária) ocorrem em até 25%. Além da alta morbidade, a pertussis é cau-sa importante de absenteísmo ao trabalho, disseminando-se muito rapidamente em ambientes fechados, dormitórios coleti-vos e refeitórios1-5.

Os casos suspeitos de coqueluche são de notificação com-pulsória 6,7, mas como os sintomas se confundem com os de outras doenças respiratórias, ocorre subnotificação. A bactéria tem crescimento lento em cultura e o método tem baixa sensibi-lidade, principalmente após introdução de antibióticos 2.

A proteção conferida por infecção natural ou vacinação dura em torno de 5 e 10 anos, sendo indicado revacinar adolescentes e adultos com vacinas acelulares especialmente desenvolvidas para esses grupos, pois as vacinas indicadas para crianças não podem ser administradas para pessoas com mais de 7 anos 2-4.

Em populações não vacinadas a maioria dos casos é registra-da em crianças, mas nos locais onde as coberturas vacinais são altas, observa-se desvio de faixa etária, com grande número de

casos em adolescentes e adultos, que passam a ser a principal fonte de transmissão da bactéria na comunidade 2-4,7

As vacinas contra coqueluche recomendadas para crianças não podem ser administradas a pessoas com mais de 7 anos de idade, devido à sua reatogenicidade. No final da década de 1990 foram desenvolvidas vacinas acelulares contra coqueluche especi-ficas para proteger adolescentes e adultos. Essas vacinas (dTap e dTap-IPV) são seguras e imunogênicas e devem substituir a vacina dT (dupla adulto), como dose de reforço para adolescentes e adultos 2-4,7-10. Se a pessoa tiver recebido a dT recentemente, pode rece-ber da dTpa ou dTpa-IPV, sem qualquer intervalo 3,4. Essas vacinas podem ser administradas concomitantemente com outras vacinas como hepatite B, hepatite A, HPV, influenza ou tríplice viral 3,4.

Estima-se que 75% dos bebês adquirem a doença através de contatos próximos, particularmente, mãe, pai, irmãos, outros parentes, cuidadores e profissionais de saúde; enquanto os ado-lescentes e adultos geralmente adquirem a doença através do contato com seus pares, na escola ou trabalho 2.

Em função das recentes epidemias de coqueluche registra-das em diversos países, as autoridades de saúde preconizam a vacinação de todos os contatos de lactentes jovens11-13. Essa estratégia (cocooning ou casulo) visa proteger indiretamente as crianças muito jovens para terem recebido as três primeiras do-ses de vacinas contra coqueluche 2,9,14.

Em alguns países, a vacinação contra coqueluche é compul-sória para profissionais de saúde 10,12, 15-17 e, durante os re-centes surtos de coqueluche registrados nos EUA, os estudantes não imunizados são afastados das aulas até comprovar que sua vacinação está em dia 12. Algumas autoridades de saúde reco-mendam a vacinação de gestantes não vacinadas, a partir do se-gundo trimestre de gestação 3,4,13,; entretanto, essa recomen-dação não esta em bula (off-label), pois a vacina não foi testada pelos produtores em mulheres grávidas.

O principal motivo para falta de adesão à vacina contra per-tussis é a falta de informação sobre os riscos da doença e benefí-cios conferidos pela vacinação 2,15,16.

Referências bibliográficas

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