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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO IMUNIDADE TRIBUTÁRIA SOBRE LIVROS ELETRÔNICOS PAULO FURTADO SARDINHA JUNIOR DECLARAÇÃO “DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”. ITAJAÍ (sc), 10 de novembro de 2010. ____________________________________________ Professor Orientador: Msc. ALEXANDRE MACEDO TAVARES UNIVALI Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA SOBRE LIVROS ELETRÔNICOS

PAULO FURTADO SARDINHA JUNIOR

DECLARAÇÃO

“DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”.

ITAJAÍ (sc), 10 de novembro de 2010.

____________________________________________ Professor Orientador: Msc. ALEXANDRE MACEDO TAVARES

UNIVALI – Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA SOBRE LIVROS ELETRÔNICOS

PAULO FURTADO SARDINHA JUNIOR

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc. ALEXANDRE MACEDO TAVARES

ITAJAI/SC, 10 DE NOVEMBRO DE 2010

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AGRADECIMENTO

Aos meus pais, que sempre tiveram comigo

durante toda essa caminhada.

À minha filha Izabel, que é o Norte da minha vida.

À Hosana, pelo carinho, pelo respeito, pelo

companheirismo, e pelas horas roubadas ao seu

convívio.

E a todos aqueles que de uma forma direta ou

indireta contribuíram para a realização desta

pesquisa.

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DEDICATÓRIA

A Deus, sempre.

Aos meus pais, Paulo e Tânia, pelo incentivo e

auxílio sempre presentes, a eles todo meu amor,

carinho e agradecimento pela vida acadêmica que

me foi proporcionada.

A minha filha Izabel, simplesmente por existir em

minha vida.

Aos meus irmãos, Nicolas e Gisele, para que

possam espelhar-se e crescerem.

A Hosana, minha companheira, amiga e

confidente, pelas horas de angústia e apreensão

que dividiu comigo durante esta pesquisa.

E a todos que, direta ou indiretamente, sempre

me apoiaram e torceram por mim.

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Para o triunfo do mal só é preciso

que os bons homens não façam nada.

Edmund Burke

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

ITAJAÍ/SC, 10 DE NOVEMBRO DE 2010

PAULO FURTADO SARDINHA JUNIOR Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Paulo Furtado Sardinha Junior,

sob o título Imunidade Tributária Sobre Livros Eletrônicos, foi submetida em

[___________] à banca examinadora composta pelos seguintes professores:

[_______________________], (_______), [________________________],

(_______), [_______________________], (_______) e aprovada com a nota

[______], (____________).

Itajaí, ____/_______/_____.

________________________________ Orientador e Presidente da Banca

________________________________ Coordenação da Monografia

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................ X

INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

Capítulo 1 ............................................................................................. 4

A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO ................................................. 4

1.1 CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO ....................................................................... 4

1.2 CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO ............................................................. 6

1.2.1 QUANTO AO CONTEÚDO: MATERIAIS/SUBSTANCIAIS E FORMAIS ................................. 6

1.2.2 QUANTO À FORMA: ESCRITAS E NÃO ESCRITAS ........................................................ 8

1.2.3 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO: DOGMÁTICAS E HISTÓRICAS ........................... 9

1.2.4 QUANTO À ORIGEM: PROMULGADA / DEMOCRÁTICAS / POPULARES E OUTORGADAS .. 11

1.2.5 QUANTO À ESTABILIDADE: IMUTÁVEIS, RÍGIDAS, FLEXÍVEIS E SEMIRRÍGIDAS ................. 13

1.2.6 QUANTO À SUA EXTENSÃO E FINALIDADE: ANALÍTICAS / DIRIGENTES E SINTÉTICAS /

NEGATIVAS .............................................................................................................. 15

1.3 ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO ................................................................... 16

1.4 A CONSTITUIÇÃO COMO ORDEM NORMATIVA VEICULADORA DE REGRAS

E PRINCÍPIOS ........................................................................................................ 17

1.4.1 NOÇÃO DE PRINCÍPIO ....................................................................................... 17

1.4.2 FUNÇÃO DOS PRINCÍPIOS .................................................................................. 18

1.4.3 DISTINÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS ............................................................... 19

1.5 A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO ............................................................. 19

1.5.1 A SUPREMACIA COMO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL .............................................. 21

1.5.2 SUPREMACIA MATERIAL E FORMAL ....................................................................... 21

1.5.3 A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 ... 22

Capítulo 2 ........................................................................................... 24

LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR ............. 24

2.1 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 COMO

CARTA DE COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA ............................................................... 24

2.2 COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA ........................................................................... 25

2.3 CARACTERÍSTICAS DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA ..................................... 26

2.4 BRITIBUTAÇÃO X BIS IN IDEM ........................................................................ 28

2.5 LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR ........................................................... 29

2.5.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS .......................................................... 31 2.5.1.1 Princípio da estrita legalidade ......................................................................... 33 2.5.1.2 Princípio da anterioridade do exercício tributário ......................................... 34 2.5.1.3 Princípio da irretroatividade tributária ............................................................ 36 2.5.1.4 Princípio da capacidade contributiva ........................................................... 36 2.5.1.5 Princípio da liberdade de tráfego de pessoas e bens .................................. 37

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2.5.1.6 Princípio da isonomia tributária ....................................................................... 38 2.5.1.7 Princípio da vedação de confisco .................................................................. 39 2.5.1.8 Princípio da uniformidade geográfica............................................................ 40 2.5.1.9 Princípio da não-discriminação em razão da procedência ou destino ..... 40

2.6 IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS ............................................................................. 41

Capítulo 3 ........................................................................................... 44

IMUNIDADES SOBRE LIVROS ELETRÔNICOS .................................... 44

3.1 IMUNIDADE: CONCEITO ................................................................................ 44

3.2 INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS DE IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS .................. 46

3.3 A IMUNIDADE DO ARTIGO 150, INCISO VI, ALÍNEA D, DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988 ................................................................................................. 49

3.3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ...................................................................................... 50

3.4 A INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA DA IMUNIDADE PREVISTA NO ARTIGO 150,

INCISO VI, ALÍNEA D, DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 ........................................... 55

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 58

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RESUMO

De extrema relevância, é a necessidade de se

conhecer, se a imunidade capitulada no artigo 150, inciso VI, alínea d, da

Constituição de 1988, alcançará os disquetes, os CD-ROMs, páginas da

Internet e outros, que se assemelham aos livros tradicionalmente

produzidos (impressos), seja pela forma ou por seu conteúdo, os

chamados livros eletrônicos.

Mediante a utilização do método indutivo objetivou-se

analisar os pressupostos de admissibilidade, o sentido e o alcance do

instituto da Imunidade Tributária Sobre Livros Eletrônicos no Direito Tributário

Brasileiro.

Através da pesquisa, obtiveram-se os seguintes

entendimentos: a)historicamente a imunidade capitulada no artigo 150,

inciso VI, alínea d, refere-se aos veículos de mídia escrita (livros, jornais,

periódicos), ao papel ou material a ele assimilável no processo de

impressão; b) a doutrina logrou patrocinar a interpretação extensiva,

para justificar a aplicação de tal imunidade aos livros eletrônicos, DVDs,

CD-ROMs, disquetes, etc; c)a finalidade intentada pela regra da

imunidade prevista no artigo 150, inciso VI, alínea d, da Constituição de

1988 é, em síntese, a preservação da liberdade de expressão intelectual,

científica, artística e de manifestação do pensamento.

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INTRODUÇÃO

O núcleo da presente monografia é a investigação dos

aspectos fundamentais do instituto da Imunidade Tributária Sobre Livros

Eletrônicos no Direito Tributário, assim como seu alcance e efeitos jurídicos,

à luz da Constituição de 1988, da doutrina nacional e da jurisprudência.

O estudo desse tema é de extrema significância na

ordem tributária atual, justificando uma pesquisa aprofundada, não

somente pele sua importância prática, mas pela falta de consenso entre a

doutrina e jurisprudência, no que se refere ao seu alcance e pressupostos

de admissibilidade.

Esta pesquisa tem como objetivos: institucional, produzir

monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí – Univali; geral, investigar as notas peculiares

do instituto da Imunidade Tributária Sobre Livros, nos moldes como

retratada pelo artigo 150, inciso VI, alínea d, da Constituição de 1988;

específicos, 1) identificar aspectos históricos Constitucionais acerca do

Instituto da Imunidade Tributária Sobre Livros; 2) analisar as limitações

constitucionais ao poder de tributar; 3) investigar aspectos estruturantes do

instituto da Imunidade Tributária Sobre Livros Eletrônicos.

Para a investigação do objeto e alcance dos objetivos

propostos, adotou-se o método indutivo1, operacionalizado com as

técnicas2 do referente3, da categoria4, dos conceitos operacionais5 e da

1 O método indutivo consiste em „pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e

colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral‟. [Pasold, 2001, p. 87]. 2 “Técnica é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma

instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou

mais bases lógicas investigatórias”. [Pasold, 2001, p. 88].

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pesquisa bibliográfica, em conjunto com as técnicas propostas por

Colzani6, dividindo-se o relatório final em três capítulos.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base os

seguintes problemas:

1ª Qual o alcance da Imunidade Tributária capitulada

no artigo 150, inciso VI, alínea d, da Constituição de 1988?

2ª É possível Imunizar Tributariamente os Livros

Eletrônicos?

Diretamente relacionadas a cada problema

formulado, foram levantadas as seguintes hipóteses:

a) a imunidade capitulada no artigo 150, inciso VI,

alínea d, refere-se aos veículos de mídia escrita (livros,

jornais, periódicos), ao papel ou material a ele

assimilável no processo de impressão.

b) a imunidade capitulada no artigo 150, inciso VI,

alínea d, é extensível aos livros eletrônicos, DVDs, CD-

ROMs, disquetes, etc.

Para uma melhor abordagem das questões que

norteiam o instituto da Imunidade Tributária Sobre Livros Eletrônicos , o

trabalho foi dividido em três capítulos.

3 Referente “é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o

seu alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especial-mente

para uma pesquisa”. [Pasold, 2001, p. 63]. 4 Categoria “é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma

idéia”. [Pasold, 2001, p. 37]. 5 Conceito Operacional é a “definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo

de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. [Pasold, 2001, p.

51].

6 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para elaboração do trabalho científico.

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No primeiro, viu-se que a Constituição é a mais alta

expressão jurídica da soberania popular nacional. É instrumento seguro

para a manutenção do Estado de Direito, e por esta razão, significa a

submissão de todos os indivíduos e dos próprios órgãos do Estado ao

Direito, à Lei, retomando, em última instância, à submissão a Lei

Constitucional.

No segundo capítulo, pesquisou-se acerca das

limitações constitucionais ao poder de tributar, constituindo-se em normas

legitimadas pela Constituição que não conferem competências positivas

para tributar, mas em dispositivos que visam impedir as situações por elas

descritas, uma vez que a Constituição de 1988 não criou tributos, mas

apenas estabeleceu competência, regra matriz de cada tributo, para que

as pessoas políticas as criassem através de lei

No terceiro e último capítulo, intensificou-se a pesquisa

sobre o bem delineado contorno jurídico da Imunidade Tributária Sobre

Livros Eletrônicos, partindo da interpretação de sua regra estruturante,

centrada no artigo 150, inciso VI, alínea d, da Constituição de 1988.

O presente relatório da pesquisa se encerra com as

considerações finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, estabelecendo-se breve síntese de cada capítulo e

demonstração sobre as hipóteses básicas da pesquisa, verificando se as

mesmas restaram ou não confirmadas.

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Capítulo 1

A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO

1.1 CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

O substantivo feminino Constituição possui variados

significados, dentre eles encontram-se, de acordo com o registro feito

por Ferreira7, o seguinte:

Lei fundamental e suprema dum Estado, que contém

normas respeitantes à formação dos poderes públicos,

forma de governo, distribuição de competências, direitos

e deveres dos cidadãos, etc.; carta constitucional, carta

magna.

Diniz8, em seu dicionário jurídico, conceitua

Constituição como sendo:

[...] a) organização dos Poderes Públicos de uma nação

soberana; b) lei fundamental que rege a organização

político-jurídica de um país; Carta Magna; c) processo de

racionalização e planificação do Estado [...].

A Constituição é a mais alta expressão jurídica da

soberania popular e nacional. É o instrumento seguro para a

manutenção do Estado de Direito. Daí este significar a submissão de

todos os indivíduos e dos próprios órgãos do Estado ao Direito, à lei,

remontando, em última instancia, à submissão à Lei Constitucional.

A Lei Constitucional é a lei fundamental, o meio

mediante o qual uma sociedade se organiza e restringe atos ou exige

7 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário aurélio. Disponível em

HTTP://trendnt.prsc.mpf.gov.br/aurelio/>. Acesso em 20 set 2010. 8 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. v 1. p. 988.

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prestações estatais, seja prescrevendo direitos, deveres e garantias, seja

conferindo o fundamento de validade de todas as leis e atos

normativos.

Neste sentido explica Silva9:

A constituição é algo que tem, como forma, um

complexo de normas (escritas ou costumeiras); como

conteúdo, a conduta humana motivada pelas relações

sociais (econômicas, políticas religiosas, etc.); como fim, a

realização dos valores que apontam para o existir da

comunidade; e, finalmente, como causa criadora e

recriadora, o poder que emana do povo.

Porém, conceituar tão importante expressão social,

jurídica e política não se restringe a uma atividade simplista, pois:

[...] tentar oferecer um conceito de Constituição não é

uma das tarefas mais fáceis de serem cumpridas, em

razão de este termo ser equívoco, é dizer, prestar-se a

mais de um sentido. Isto significa dizer que há diversos

ângulos pelos quais a Constituição pode ser encarada,

conforme seja a postura em que se coloque o sujeito, o

objeto ganha outra dimensão. [...]. Não se pode dar um

conceito único, pois ela varia conforme a ótica a partir

da qual se vai visualizá-la.10

Segundo Bonavides11, a palavra Constituição pode

abranger toda uma gradação de significados, desde aquele mais

amplo – sentido etimológico, modo de ser das coisas – até aquele em

que a expressão é delimitada pelo adjetivo que a acompanha –

Constituição política, por exemplo.

9 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 19 ed. São Paulo:

Malheiros, 2001. p. 41. 10 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. São Paulo: Celso Bastos, 2002.

p. 57. 11 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 15 ed. São Paulo: Malheiros, 2004.

p. 80.

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Silva12 afirma que os vários significados exprimem a

idéia de modo de ser alguma coisa, de organização interna de seres e

entidades. Exemplificando, cita a Constituição do universo, a

Constituição dos corpos sólidos (conjunto dos elementos essenciais de

alguma coisa); a Constituição psicológica explosiva ou Constituição

robusta (temperamento, compleição do corpo humano); a

Constituição de uma assembléia ou a Constituição de uma comissão

(organização, formação), etc.

Diante o acima exposto pode-se afirmar que a

Constituição é o modo de ser do Estado.

1.2 CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

A Constituição pode ser classificada da seguinte

maneira: quanto ao conteúdo (materiais/substanciais e formais); quanto

à forma (escritas e não escritas); quanto ao modo de elaboração

(dogmáticas e históricas); quanto à origem

(promulgadas/democráticas/populares e outorgadas); quanto à

estabilidade (imutáveis, rígidas, flexíveis e semi-rígidas); quanto à sua

extensão e finalidade (analíticas/dirigentes e

sintéticas/negativas/garantias).

Diante de tão expressiva classificação, necessário se

faz a análise individual de casa uma delas.

1.2.1 Quanto ao conteúdo: materiais/substanciais e formais

A Constituição material seria um conjunto de regras

materialmente constitucionais que estejam ou não codificadas em um

único documento (pode existir de forma escrita).

12 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, p. 37.

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Já, a Constituição formal, é aquela consubstanciada

de forma escrita, por meio de um documento solene estabelecido pelo

poder constituinte originário.

Bonavides13 distingue as acepções em material e

formal.

Do ponto de vista material, a Constituição é o conjunto

de normas pertinentes à organização do poder, à

distribuição da competência, ao exercício da

autoridade, à forma de governo, aos direitos da pessoa

humana, tanto individuais como sociais. Tudo quanto for,

enfim, conteúdo básico referente à composição e ao

funcionamento da ordem política exprime o aspecto

material da Constituição.

Debaixo desse aspecto, não há Estado sem Constituição,

estado que não seja constitucional, visto que toda

sociedade politicamente organizada contém uma

estrutura mínima, por rudimentar que seja.

[...] diz respeito [...] tão somente ao conteúdo das

determinações mais importantes, únicas merecedoras,

segundo o entendimento dominante, de serem

designadas rigorosamente como matéria constitucional.

Já, formalmente considerada, tem-se que:

As Constituições não raro inserem matéria de aparência

constitucional. Assim se designa exclusivamente por haver

sido introduzida na Constituição, enxertada no seu corpo

normativo e não porque se refira aos elementos básicos

ou institucionais da organização política.14

Sendo assim, nota-se que regras de matéria

constitucional são as regras que dizem respeito ao poder, portanto, são

as que cuidam da organização do Estado e dos poderes constituídos,

13 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, p. 81. 14 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, p. 81.

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modo de aquisição e exercício do poder, as garantias e direitos

fundamentais, elementos sócio-ideológicos.

Ressalta-se, porém, que nem todas as regras que

estão na Constituição são regras materialmente constitucionais. Pelo

simples fato de estarem na Constituição elas são formalmente

constitucional. As regras formalmente constitucionais são chamadas por

alguns autores de lei constitucional, é como se fosse uma lei na

constituição.

1.2.2 Quanto à forma: escritas e não escritas

Escrita é a Constituição consistente em um código,

em um documento único sistematizado.

Bonavides15 relata historicamente como surgiram as

Constituições escritas, quando enuncia que:

[...] as Constituições escritas, foram em parte o fruto das

lutas políticas inglesas que redundaram no triunfo

parlamentar e, por outra parte, produto doutrinário do

contrato social de Rousseau, que levou à crença de que

era “mais adequado concretizar em um pacto ou

contrato as normas de convivência entre governantes e

governados. Dessa forma nasceu “a ideia da

Constituição escrita, do pacto ou estatuto fundamental

posto no papel e sancionado pela autoridade”.

Para Lenza16:

Escrita (instrumental), o próprio nome nos ajuda a

explicar, seria a constituição formada por um conjunto de

regras sistematizadas e organizadas em um único

documento, estabelecendo as normas fundamentais de

um Estado.

15 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, p. 68. 16 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 14 ed. rev., atual. e ampl. São

Paulo: Saraiva, 2010. p. 78.

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Costumeira ou não escrita, ou consuetudinária, é a

Constituição consistente em normas esparsas, centrada nos usos e

costumes, na prática política e judicial.

Lenza assim discorre:

Costumeira (não escrita ou consuetudinária) seria aquela

constituição que, ao contrário da escrita, não traz as

regras em um único texto solene e codificado. É formada

por “textos” esparsos, reconhecidos pelo sociedade

como fundamentais, e baseia-se nos usos e costumes,

jurisprudência, convenções.

Então, Constituição escrita ou instrumental é aquela

codificada e sistematizada em um único texto; portanto, é o mais alto

estatuto jurídico de determinada sociedade.

E, a Constituição não escrita (costumeira ou

consuetudinária), é aquela cujas normas não constam de um

documento único e solene, mas se baseia, principalmente, nos

costumes, na jurisprudência, em convenções e em textos constitucionais

esparsos.

1.2.3 Quanto ao modo de elaboração: dogmáticas e históricas

A Constituição sistematizada em um texto único,

elaborada reflexivamente por um órgão constituinte, é classificada

como dogmática; é a que consagra certos dogmas da ciência política

e do Direito dominante no momento, figurando como um texto único e

consolidado.

A Constituição dogmática pode ser elaborada por

uma pessoa, sendo assim outorgada, ou, por uma Assembléia

Constituinte, sendo promulgada.

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Ainda, pode a Constituição dogmática ser ortodoxa,

quando segue uma só linha de raciocínio, tendo um único pensamento

e eclética, onde não há um fio condutor.

Tratando-se da Constituição histórica, esta é sempre

não escrita e resultante de lenta formação histórica, do lento evoluir das

tradições, dos fatos sócio-políticos, que se cristalizam como normas

fundamentais da organização de determinado Estado.

Lenza17 comenta que as constituições “dogmáticas,

sempre escritas, consubstanciam os dogmas estruturais e fundamentais

do Estado.”. E, as “históricas, constituem-se através de um lento e

contínuo processo de formação, ao longo do tempo, reunindo a história

e as tradições de um povo.”.

Moraes18, ao comentar as constituições dogmáticas

e históricas, propugna que:

Enquanto a constituição dogmática se apresenta como

produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte,

a partir de princípios e ideias fundamentais da teoria

política e dodireito dominante, a constituição histórica é

fruto da lenta e contínua síntese da História e das

tradições de um determinado povo.

Ressalta-se que a Constituição dogmática é a

Constituição escrita, elaborada por um órgão especialmente

designado para esse fim; normalmente esse órgão será a Assembléia

Nacional Constituinte e, a Constituição histórica, é a consuetudinária.

17 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, p. 81. 18 MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 21 ed. atual. São Paulo: Atlas, 2007. p. 4.

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1.2.4 Quanto à origem: promulgada / democráticas / populares e

outorgadas

Promulgada é a Constituição em que o processo de

positivação decorre de convenção, sendo votadas e originárias de um

órgão constituinte composto de representantes do povo, eleitos para o

fim de elaborá-las.

Como exemplos de Constituição promulgada têm as

Constituições de 1891, 1934, 1946 e 1988.

Moraes19 define a forma promulgada da

Constituição:

São promulgadas, também denominadas democráticas

ou populares, as Constituições que derivam do trabalho

de uma Assembléia Nacional Constituinte composta de

representantes do povo, eleitos com a finalidade de sua

elaboração.

Na mesma linha de pensamento, discorre Lenza20:

Promulgada, também chamada de democrática,

votada ou popular, é aquela constituição fruto do

trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita

diretamente pelo povo, para, em nome dele, atuar,

nascendo, portanto, da deliberação da representação

legítima popular.

A Constituição promulgada também pode ser

chamada de populares, democráticas, contudo, a expressão

democrática não deve ser usada como sinônimo de Constituição

promulgada, pois o simples fato de ser promulgada não significada que

seja democrática.

19 MORAES, Alexandre. Direito constitucional, p. 5. 20 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, p. 77.

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Já, a Constituição outorgada é aquela em que o

processo de positivação decorre de ato de força, são impostas,

decorrem do sistema autoritário. São as elaboradas sem a participação

popular.

São exemplos de Constituição outorgada, as de

1824, 1937, 1967 e 1969.

Bonvides21 explica sobre a Constituição outorgada,

as dispor que:

A Constituição outorgada representa na tela do

constitucionalismo um largo esboço de limitação da

autoridade do governante. O rei, príncipe ou Chefe de

Estado enfeixa em suas mãos poderes absolutos, mas

consente unilateralmente em desfazer-se de uma parcela

de suas prerrogativas ilimitadas, em proveito do povo,

que entra assim no gozo de direitos e garantias, tanto

jurídicas como políticas, aparentemente por obra apenas

e graça de munificência real.

Continua Bonavides22:

Do ponto de vista jurídico, a Constituição outorgada é

ato unilateral de uma vontade política soberana – a do

outorgante, mas do ponto de vista político, representa

quase sempre uma inelutável concessão feita por aquela

vontade do poder popular ascendente, sendo pois o

produto de duas forças antagônicas que se medem em

termos políticos de conservação ou tomada de poder.

Essas duas forças em conflitos dialéticos são o princípio

monárquico do absolutismo e o princípio democrático do

consentimento. Um decadente o outro emergente.

A Constituição outorgada também pode ser

democrática, se a maioria concordar com ela.

21 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, p. 71. 22 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, p. 71.

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A diferença básica entre elas é que a Constituição

promulgada deriva de um trabalho de uma Assembléia Nacional

Constituinte, composta de representantes do povo, eleitos com a

finalidade de sua elaboração; a Constituição outorgada, por sua vez, é

estabelecida sem a participação popular, por meio de imposição do

poder vigente, do poder da época.

1.2.5 Quanto à estabilidade: imutáveis, rígidas, flexíveis e semirrígidas

Toda Constituição tem pretensão de permanência,

porquanto documento fundamental do sistema jurídico de um Estado,

não pode estar sujeita a mutações, a dificuldades passageiras; essa

permanência, entretanto, não quer dizer imutabilidade.

Para Moraes23:

São imutáveis as constituições onde se veda qualquer

alteração, constituindo-se relíquias históricas. Em algumas

constituições, a imutabilidade poderá ser relativa,

quando se prevêem as chamadas limitações temporais,

ou seja, um prazo em que não se admitirá a atuação do

legislador constituinte reformador.

Assim, a Constituição de 1824, em seu artigo 174,

determinava:

Art. 174. Ser passados quatro anos, depois de jurada a

Constituição do Brazil, se conhecer, que algum dos seus

artigos merece reforma, se fará a proposição por

escripto, a qual deve ter origem na Câmara dos

Deputados, a ser apoiada por terça parte deles.

Moraes24 ainda salienta que, apesar da previsão do

artigo 174, a Constituição de 1824 era semiflexível, como se nota no seu

artigo 178, quando preceitua que:

23 MORAES, Alexandre. Direito constitucional, p. 5. 24 MORAES, Alexandre. Direito constitucional, p. 5.

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Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites,

e atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e aos

Direitos Políticos, e individuaes dos Cidadãos, tudo, o que

não é Constitucional, pode ser alterado sem as

formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinárias.

Consoante Lenza25: “Imutáveis seriam aquelas

constituições inalteráveis, verdadeiras relíquias históricas e que se

pretendem eternas, sendo também denominadas permanentes,

graníticas e intocáveis.”.

Rígida é a Constituição que permite ser mudada,

mas depende de um procedimento solene que é o de Emenda

Constitucional, a qual exige 3/5 dos membros do Congresso Nacional

para que seja aprovada. A rigidez é caracterizada por um processo de

aprovação mais formal e solene do que o processo de aprovação de

lei ordinária, que exige a maioria simples.

Para Bonavides26:

Rígidas, as que não podem ser modificadas da mesma

maneira que as leis ordinárias. Demandam um processo

de reforma mais complicado e solene, quase todos os

Estados modernos aderem a essa forma de Constituição

[...]. Variável, porém, é o grau de rigidez apresentado.

Flexível é aquela Constituição onde o procedimento

de modificação não tem qualquer diferença do procedimento comum

de lei ordinária. As Constituições não escritas, na sua parte escrita, são

flexíveis.

Bonavides27 explica:

25 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, p. 83. 26 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, p. 66. 27 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, p. 66.

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Constituições flexíveis são aquelas que não exigem

nenhum requisito especial de reforma. Podem, por

conseguinte, ser emendadas ou revistas pelo mesmo

processo que se emprega para fazer ou revogar a lei

ordinária. [...].

A flexibilidade constitucional se faz possível tanto nas

Constituições costumeiras como nas Constituições

escritas. Erro, portanto, é cuidar que toda Constituição

costumeira é flexível e toda Constituição flexível é rígida.

Semirrígida é a Constituição em que o processo de

modificação só é rígido na parte materialmente constitucional e flexível

na parte formalmente constitucional.

Lenza28 assim discorre:

Semiflexível ou semirrígida é aquela constituição que é

tanto rígida como flexível, ou seja, algumas matérias

exigem um processo de alteração mais dificultoso do que

o exigido para a alteração das leis infraconstitucionais,

enquanto outras não requerem tal formalidade.

A estabilidade das Constituições não deve ser

absoluta, não pode significar imutabilidade. Deve-se assegurar certa

estabilidade constitucional, certa permanência e durabilidade das

instituições, mas sem prejuízo da constante e perfeita adaptação das

constituições às exigências do progresso, da evolução e do bem-estar

social.

1.2.6 Quanto à sua extensão e finalidade: analíticas / dirigentes e

sintéticas / negativas

A Constituição sintética é aquela que prevê

somente os princípios e as normas gerais de regência do Estado; já a

analítica é aquela que examina e regulamenta todos os assuntos que

28 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, p. 82.

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entenda relevantes à formação, destinação e funcionamento do

Estado.

Sintéticas seriam aquelas enxutas, veiculadoras apnas dos

princípios fundamentais e estruturais do estado. Não

descem a minúcias, motivo pelo qual são mais

duradouras, na medida em que os seus princípios

estruturais são interpretados e adequados aos novos

anseios pela atividade da Suprema Corte.29

Analíticas, por outro lado, são aquelas que abordam os

assuntos que os representantes do povo entenderem

fundamentais. Normalmente descem a minúcias,

estabelecendo regras que deveriam estar em leis

infraconstitucionais, [...].30

Abordadas todas as classificações da Constituição,

ressalta-se que a Constituição Brasileira de 1988 é: escrita, analítica,

dogmática, eclética, promulgada, rígida, garantista, dirigente e

nominalista.

1.3 ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO

As normas constitucionais podem ser diferenciadas

ou separadas em diversas categorias levando-se em conta a sua

estrutura normativa e conteúdo, sendo essas categorias denominadas

de elementos da Constituição.

Os elementos constitucionais classificam-se em:

elementos organizacionais ou orgânicos, elementos limitativos,

elementos sócio-ideológicos, elementos de estabilização constitucional

e elementos formais de aplicabilidade.

29 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, p. 79. 30 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, pp. 79-80.

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1.4 A CONSTITUIÇÃO COMO ORDEM NORMATIVA VEICULADORA DE

REGRAS E PRINCÍPIOS

Quando se estuda os princípios e as regras jurídicas,

pode-se dizer que os princípios, hierarquicamente superiores, são

normas com um grau de abstração relativamente elevado, enquanto

as regras, hierarquicamente inferiores, são normas com grau de

abstração relativamente reduzido. Os princípios gozam de certa

indeterminabilidade na aplicação ao caso concreto, enquanto as

regras são suscetíveis de aplicação direta, imediata.31

Vê-se que a idéia de princípio está ligada à noção

de fundamento, base, pressuposto teórico que orienta determinado

sistema.

Os princípios são linhas sobre as quais se arrima todo

um sistema de conhecimento humano. Já, os princípios constitucionais,

são normas que sustentam todo o ordenamento normativo, tendo por

função principal conferir racionalidade sistêmica e integralidade ao

ordenamento constitucional.

1.4.1 Noção de princípio

A noção de princípio nada mais é do que o sinônimo

da palavra começo.

Bonavides32 citando Luís Diez Picazo33, ressalta que:

A idéia de princípio, segundo Luís Diez Picazo, deriva da

linguagem de geometria, “onde designa as verdades

primeira”,. Logo acrescenta o mesmo jurista que

exatamente por isso são “princípios”, ou seja, “porque

31 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 3 ed.

Coimbra: Almedina, 1998. p. 1086. 32 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, pp. 228-229. 33 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, pp. 228-229.

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estão ao princípio”, sendo “as premissas de todo um

sistema que se desenvolve more geométrico”.

Os princípios constitucionais são normas estruturantes

de toda a ordem jurídica que legitimam o próprio sistema, pois

consagram valores culturalmente fundantes da própria sociedade.34

1.4.2 Função dos princípios

Sabe-se que os princípios, ao lado das regras, são

normas jurídicas. Os princípios, porém, exercem dentro do sistema

normativo um papel diferente das regras; estas, por descreverem fatos

hipotéticos, possuem a nítida função de regular, direta ou

indiretamente, as relações jurídicas que se enquadrem nas molduras

típicas por elas descritas. Não é assim com os princípios, que são normas

generalíssimas dentro do sistema.

Afirma Rocha35 que, na realidade os princípios são

multifuncionais, sendo que pelo menos três funções podem ser

apontadas aos princípios no direito em geral: “a) função

fundamentadora; b) função orientadora da interpretação; c) função

de fonte subsidiária”.

Rocha36 ressalta que ao lado das três funções

básicas acima descritas pode-se enumerar outras, quais sejam:

[...] de qualificar, juridicamente, a própria realidade a

que se referem, indicando qual a posição que os agentes

jurídicos devem tomar em relação a ela, ou seja,

apontando o rumo que deve seguir a regulamentação

da realidade, de modo a não contravir aos valores

contidos no princípio e, tratando-se de princípio inserido

na Constituição, a de revogar as normas anteriores e

34 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, p. 1161. 35 ROCHA, José de Albuquerque. Teoria geral do processo. 4 ed. São Paulo: Malheiros,

1999. p. 46. 36 ROCHA, José de Albuquerque. Teoria geral do processo, p. 47.

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invalidar as posteriores que lhes sejam irredutivelmente

incompatíveis.

Assim, nota-se que os princípios possuem eficácia

positiva e negativa.

Por eficácia positiva, entende-se a inspiração, à luz

da hermenêutica e base normativa lançadas no ato de aplicar o

Direito, que conduz a determinadas soluções em cada caso; e por

eficácia negativa entende-se que decisões e regras que se

contraponham aos princípios serão inválidas.37

1.4.3 Distinção entre princípios e regras

Princípios são exigências abertas a várias

concordâncias, ponderações, compromissos e conflitos; são normas

jurídicas impositivas compatíveis com vários graus de concretização,

consoante os condicionamentos fáticos e jurídicos, enquanto as regras

são normas que prescrevem imperativamente uma exigência (impõem,

permitem ou proíbem) que é ou não cumprida, constituindo exigências

de aplicação.38

1.5 A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO

Pela sua própria natureza, a Constituição é tida

como a primeira lei positiva, como ápice do ordenamento jurídico.

Para o constitucionalista Canotilho39:

A constituição é a norma das normas, a lei fundamental

do Estado, o estalão normativo superior de um

ordenamento jurídico. Daí resulta uma pretensão de

validade e de observância como norma superior

37 ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 1999. p. 55 38 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, pp. 1161-

163. 39 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, p. 888.

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directamente vinculante em relação a todos poderes

públicos.

Segundo Paulo40:

[...] a supremacia da Constituição pode ser vista,

tendencialmente: a) em relação ao seu conteúdo

(supremacia material); b) em relação à organicidade,

aos procedimentos e competências pelos quais seus

preceitos se inter-relacionam com os demais indicando

relação de hierarquia (supremacia formal).

Obviamente que ‘la supériorité des lois constitutionnelles’

seria uma palavra vã, caso elas pudessem ser

impunemente violadas pelos órgãos da

constitucionalidade das leis e dos atos normativos.

De fato, o princípio da supremacia constitucional

constitui o alicerce em que se assenta o edifício do

moderno Direito Público. Normas constitucionais põem-se

acima das demais normas jurídicas (hierarquia) e essa

preeminência é que vai constituir superioridade da

Constituição.

Assim, à supremacia da Constituição importa, num

primeiro momento, o aspecto material, de forma que as leis e atos

normativos não podem contrariar as normas constitucionais; e, também,

um aspecto formal, pois é a Constituição que fixa a organização, a

estrutura, a composição, as atribuições e o procedimento dos Poderes,

sendo que estes nada podem fazer senão pelo modo que prevê a

Constituição.

O aspecto material e o aspecto formal da

supremacia da Constituição serão melhor abordados em item próprio.

40 PAULO, Oswaldo Luiz. Controle de constitucionalidade. 2 ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2001.

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1.5.1 A supremacia como princípio constitucional

Silva41 afirma que o princípio da supremacia

constitucional emana como consequência primordial do caráter rígido,

ou seja, da maior dificuldade para modificação do que aquela exigida

para alteração das demais normas jurídicas da ordenação estatal, e,

explica que:

[...] a constituição se coloca no vértice do sistema jurídico

do país, a que confere validade, e que todos os poderes

estatais são legítimos na medida em que ela os

reconheça e na proporção por ela distribuídos. É, enfim,

a lei suprema do estado, pois é nela que se encontram a

própria estruturação deste e a organização de seus

órgãos; é nela que se acham as normas fundamentais de

estado, é só nisso se notará sua superioridade em relação

às demais normas jurídicas.

Consoante, Moraes42, a existência de

escalonamento normativo é pressuposto necessário para a supremacia

constitucional, de modo que a Constituição ocupa o topo da hierarquia

do sistema normativo e o legislador deve dela retirar forma e conteúdo

para elaboração legislativa. Dessa forma, nenhum ato normativo, que

lógica e necessariamente dela decorre, pode modificá-la ou suprimi-la.

1.5.2 Supremacia material e formal

Coelho43 diz ser a Constituição o ápice da pirâmide

normativa, instância de transformação da normatividade puramente

hipotética da norma fundamental em normatividade concreta,

concluindo que:

41 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, p. 45. 42 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional, p. 689. 43 COELHO, Inocêncio Martires. “Ordenamento jurídico, constituição e norma

fundamental”. In: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO Inocêncio Martires; BRANCO,

Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.

15.

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22

[...] daí se falar em supremacia constitucional formal e

material, no sentido de que qualquer ato jurídico – seja

ele normativo ou de efeito concreto –, para ingressar ou

permanecer, validamente, no ordenamento, há que ser

mostrar conforme aos seus preceitos da Constituição.

E, mais:

Não há proposição que se apoie sobre princípios mais

claros do que a que afirma que todo ato de uma

autoridade delegada, contrário aos termos do mandato

segundo o qual se exerce, é nulo. Portanto, nenhum ato

legislativo contrário à Constituição pode ser válido. Negar

isto equivaleria a afirmar que o mandatário é superior ao

mandate, que o servidor é mais que ser amo, que os

representante do povo são superiores ao próprio povo e

que os homens trabalham em virtude de determinados

poderes podem fazer não só o que estes não permitem,

como, inclusive, o que proíbem.44

Daí, tem-se que nenhum ato estatal tem validade se

não estiver, formal e materialmente, em conformidade com a

Constituição; esta é uma condição de constitucionalidade.

1.5.3 A supremacia da Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988

Tratando-se especificamente da Constituição

Brasileira de 1988, Silva45 afirma ser ela a lei fundamental e suprema do

Estado brasileiro, sendo que toda autoridade só nela encontra

fundamento e só ela confere poderes e competências governamentais.

Os governos Federal, Estadual, Distrital e Municipal são limitados,

expressa ou implicitamente, pelas normas positivas da lei fundamental.

Logo, só serão válidas as normas que se conformarem com a

Constituição de 1988.

44 COELHO, Inocêncio Martires. Ordenamento jurídico, constituição e norma

fundamental. In: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO Inocêncio Martires; BRANCO, Paulo

Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 15. 45 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, p. 46.

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Barroso46, sintetizando a supremacia da

Constituição, postulado sobre o qual se assenta o próprio direito

constitucional contemporâneo, ensina que dentre seus fundamentos

consagradores estão: a preeminência do poder constituinte sobre o

poder constituído, a rigidez constitucional, o conteúdo material das

normas e sua vocação de permanência.

Prossegue o autor quando discorre que a

Constituição é dotada de superioridade jurídica em relação a todas as

normas do sistema e, consequentemente, nenhum ato jurídico poderá

substituir validamente se for com ela incompatível.

Para assegurar essa supremacia, a ordem jurídica

contempla um conjunto de mecanismos conhecidos como jurisdição

constitucional, destinados a, pela via judicial, fazer prevalecer os

comandos contidos na Constituição. Parte importante da jurisdição

constitucional consiste no controle de constitucionalidade, cuja

finalidade é declarar a invalidade e paralisar a eficácia dos atos

normativos que sejam incompatíveis com a Constituição.47

O controle de constitucionalidade visa assegurar a

supremacia da Constituição e consiste, pois, na análise da

compatibilidade entre as condutas dos poderes públicos e os

comandos constitucionais; quando há incompatibilidade, em qualquer

de suas formas, ocorre a inconstitucionalidade.

No segundo capítulo abordar-se-á as limitações

constitucionais ao poder se tributar, a competência tributária, de modo

geral, bitributação e bis in idem, as limitações ao poder de tributar e os

princípios inerentes, e, finalizando o capítulo as imunidades tributárias.

46 BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos

fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. pp. 83-84. 47 BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos

fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 84.

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Capítulo 2

LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR

2.1 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

COMO CARTA DE COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

Alguns autores denominam a competência tributária

de poder tributário, mas não seria o mais correto, pois poder transmite a

idéia de que não há limites.

Competência tributária não se confunde com poder

tributário, ainda que haja conexidade entre ambos; primeiro porque

competência tributária é a “manifestação de autonomia da pessoa

política que a detém”48, com suporte na Constituição de 1988 que , em

seu artigo 1º, dispõe que cada uma das pessoas políticas internas possui

autonomia; segundo porque o poder tributário “se opera tão-somente

no âmbito dos Estados unitários, nos quais existe uma única pessoa

política central, imbuída do poder absoluto de tributar, sem quaisquer

restrições”49.

Segundo Machado50, “o poder de tributar nada

mais é que um aspecto da soberania estatal, ou uma parcela desta”,

de modo que “a idéia mais generalizada parece ser a de que os

indivíduos, por seus representantes, consentem na instituição do tributo,

como de resto na elaboração de todas as regras jurídicas que regem a

nação”.

48 SABBAG, Maristela Miglioli. In RT. Competência tributária. São Paulo, jun. 1996. v. 728.

p. 682. 49 SABBAG, Maristela Miglioli. In RT. Competência tributária, p. 682. 50 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 12 ed. São Paulo: Malheiros,

1997. p. 25.

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A Constituição de 1988 não criou nenhum tributo,

apenas estabeleceu competência, regra matriz de cada tributo, para

que as pessoas políticas os criassem através de lei. Assim, não é a

Constituição que obriga o pagamento de um tributo, mas sim a lei.

2.2 COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

Competência tributária é a aptidão para criar

tributos abstratos, por meio de lei, com todos os elementos essenciais,

tais como: hipótese de incidência, sujeito ativo, sujeito passivo, base de

cálculo, alíquota. Abrange, também, a aptidão para aumentar,

parcelar, diminuir, isentar, modificar, perdoar tributos; princípio de que

quem pode mais pode menos.

A competência tributária pode ser definida como

sendo o poder, atribuído pela Constituição, observadas as normas

gerais de Direito Tributário, de instituir, cobrar e fiscalizar o tributo,

compreendendo a competência legislativa, administrativa e judicante.

Nas palavras de alguns doutrinadores, como Rosa

Júnior51, competência tributária é “a parcela do poder de tributar

conferida a Constituição a cada ente político para criar tributos”, ou,

ainda, para Carrazza52, é “a aptidão para criar, in abstracto, tributos”;

propugna do mesmo entendimento Ichihara53, ao conceituar

competência tributária “como o limite do poder fiscal para legislar e

cobrar tributos”.

Normalmente quem tem competência é o sujeito

ativo da relação jurídica tributária, pois também têm capacidade

tributária ativa, ou seja, aptidão para cobrá-lo. Mas nada impede que a

51 ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Manual de direito financeiro & direito

tributário. 14 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 255. 52 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. 9 ed. São Paulo:

Malheiros, 1997. p. 288. 53 ICHIHARA, Yoshiaki. Direito tributário. 6 ed. São Paulo: Atlas, 1994. p. 89.

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pessoa política, por meio de lei, delegue capacidade tributária ativa a

terceiros, figurando este terceiro como sujeito ativo do tributo.

2.3 CARACTERÍSTICAS DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

A competência tributária tem como características

a inalterabilidade, a indelegabilidade e irrenunciabilidade, a

incaducabilidade, a facultatividade e privatividade.

Quanto à inalterabilidade a Constituição atribui

competência tributária, por exemplo, aos Estados-membros para instituir

impostos sobre “causa mortis”, em seu artigo 153, inciso I, e, à União

para instituir impostos sobre importação de produtos. É fato inconteste

que a alteração de competência só será admissível por meio de

Emenda Constitucional, não se permitindo assim que o princípio da

Federação seja abalado por modificações advindas da vontade do

legislador infraconstitucional.

Com efeito, o artigo 7º do Código Tributário dispõe

que a competência tributária é indelegável, o que não inviabiliza a

delegação de uma pessoa jurídica de direito público a outra, mediante

convênio, das funções de arrecadar, fiscalizar, executar leis, serviços. O

Código Tributário compreende as garantias e os privilégios processuais,

em seu artigo 7º, parágrafo 1º, podendo ser revogada, a qualquer

tempo, por ato unilateral de quem a delegou, porquanto é sempre em

caráter precário.

Art. 7º. A competência tributária é indelegável, salvo

atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos,

ou de executar leis, serviços, atos ou decisões

administrativas em matéria tributária, conferida por uma

pessoa jurídica de direito público a outra, nos termos do §

3º do art. 18 da Constituição.

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27

§ 1º. A atribuição compreende as garantias e os

privilégios processuais que competem à pessoa jurídica

de direito público que a conferir.

[...].

Entende-se, então, que cada pessoa política tem a

sua própria competência tributária e esta não pode ser trasladada nem

mesmo por meio de lei, ou seja, se as pessoas tributam por delegação

constitucional não pode delegar aquilo que já lhes foi delegado.

A irrenunciabilidade, ao contrário, estabelece que

“a pessoa política detentora da competência tributária não poderá

renunciar a ela, no todo ou em parte”54.

Assim sendo, a pessoa política não pode dela abrir

mão da competência tributária em caráter definitivo.

Consoante a incaducabilidade da distribuição de

competências insculpidas na Constituição, em momento algum fez

menção, ainda que implicitamente, a um lapso temporal para o

exercício da competência tributária conferida a um ente público. A

doutrina de forma sucinta e clara tem reverberado o entendimento

segundo o qual:

[...] o art. 8º do CTN diz que o eventual não-exercício da

competência tributária não a defere a qualquer outra

pessoa jurídica de Direito Público diversa daquela a

quem a Constituição haja entregue referida

competência.55

Por omissão da Constituição a competência

tributária não tem prazo para ser realizada, pois se trata de

competência legislativa e não há prazo para esta ser exercida. Assim,

54 SABBAG, Maristela Miglioli. In RT. Competência tributária, p. 690. 55 DECOMAIN, Pedro Roberto. Anotações ao código tributário nacional. São Paulo:

Saraiva, 2000. p. 47.

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se a competência para legislar sobre qualquer assunto é incaducável,

para legislar sobre direito tributário também é.

A facultatividade do exercício da competência é

um dos pressupostos da competência tributária, “em razão do que falta

do seu exercício não lhes afasta o direito assegurado pela Constituição,

que não estabeleceu qualquer espécie de perda em razão de mera

inércia legislativa”56. Assim, o fato de a União não ter instituído o imposto

sobre grandes fortunas não lhe retira a faculdade de exercer a sua

competência para tal, em qualquer oportunidade.

E mais, a pessoa política não é obrigada a exaurir a

sua competência; a competência tributária não é res nullius (coisa de

ninguém), mas sim privativa, indelegável e de exercício facultativo.

Em razão da titularidade de competência tributária

que os entes políticos detêm por expressa determinação constitucional,

por óbvio que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

gozam de privatividade para instituir, cobrar e fiscalizar o tributo de sua

competência. Essa assertiva, por conseguinte, “implica a exclusividade

e consequente proibição de seu exercício por que não tenha sido

consagrado com esse direito”57.

2.4 BRITIBUTAÇÃO X BIS IN IDEM

Nos casos em que a mesma situação é definida na

lei como fato gerador de mais de uma incidência tributária, aparecem

no mundo jurídico os fenômenos bis in idem e bitributação.

A clássica diferença entre bis in idem e bitributação

está na particularidade de que o primeiro ocorre quando uma única

pessoa política institui tributos diversos sobre o mesmo fato gerador e o

56 MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário. São Paulo: Dialética, 1997.

p. 85. 57 MELO, José Eduardo Soares de. Curso de direito tributário, p. 84.

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mesmo contribuinte, mas pela incidência de duas normas legais

distintas.

Em outras palavras, ocorre o bis in idem (duas vezes

a mesma coisa) quando o mesmo ente tributante edita diversas leis

instituindo múltiplas exigências tributárias, decorrentes do mesmo fato

gerador.

A bitributação ocorre quando a dupla tributação

tem origem em pessoas políticas distintas, de modo que “são duas

normas, cada qual emanada de um legislativo, incidindo sobre o

mesmo fato jurídico e onerando o mesmo contribuinte”.58

Verifica-se, portanto, que a bitributação ocorre

quando entes tributantes diversos exigem do mesmo sujeito passivo

tributos decorrentes do mesmo fato gerador.

Em face de a Constituição de 1988 estipular uma

rígida repartição de competência tributária, a bitributação está, como

regra, proibida no Brasil, e os casos concretos verificados normalmente

configuram conflitos aparentes de competência, devendo, portanto,

ser resolvidos à luz dos respectivos dispositivos constitucionais.

2.5 LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR

O artigo 150 da Constituição de 1988 elenca

algumas limitações ao poder de tributar, mas nem por isso o faz de

maneira nítida e completa, pois existem também outros institutos, como

as imunidades, que constituem limitações ao poder estatal de invadir a

propriedade privada através da cobrança de tributos.

As limitações ao poder de tributar constituem,

portanto, em normas legitimadas pela Constituição que não conferem

58 SABBAG, Maristela Miglioli. In RT. Competência tributária, p. 695.

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30

competências positivas para tributar, mas em dispositivos que visam

impedir as situações por elas descritas, ou seja, que sejam utilizadas pela

força tributária do Estado.

Baleeiro59 assevera que:

As limitações constitucionais ao poder de tributar

funcionam quase sempre por meio de imunidades fiscais,

isto é, disposições da lei maior que vedam ao legislador

ordinário decretar sobre certas pessoas, matérias ou

fatos, enfim situações que define.

O tributo é uma forma incontestável de limitação

legal à liberdade e à propriedade privada, sendo campo de atuação

restrita ao Poder Legislativo, criar, modificar ou extinguir a espécie

tributária. Esta situação é a principal característica do princípio da

legalidade tributária, pois é faculdade exclusiva do Estado criar tributos

mediante de lei.

A rigidez e a forma de nosso modelo constitucional,

desde 1824 até os tempos atuais, se traduziu numa forma de limitação

ao poder tributário, sendo que, no caso da Constituição de 1988, o

formato analítico e exaustivo escolhido pela Assembléia Constituinte de

1987 apenas acentuou tais limitações, reforçadas por um regime

federativo e republicano único no mundo, erigindo à cláusulas pétreas

a grande massa das imunidades e dos princípios limitadores ao poder

de tributar, posto que exprimem especializações dos direitos e garantias

individuais.60

Por fim, aparecem as imunidades tributárias como

limitações constitucionais ao poder de tributar, como delimitações

negativas da competência tributária.

59 BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar. 6 ed. Rio de

Janeiro: Forense, 1984. 60 ICHIHARA, Yoshiaki. Imunidades tributárias, pp. 96-98.

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Contudo, para Ichihara61, as imunidades tributárias

não se afirmam como direitos fundamentais, portanto passiveis de

serem suprimidas, ao contrário de estipulado no artigo 60, parágrafo 4º,

da Constituição.62

2.5.1 Princípios constitucionais tributários

Antes de se adentrar ao tema proposto, é

interessante estabelecer uma visão do que são princípios, através dos

conceitos de alguns doutrinadores.

Para Silva63:

A palavra princípio é equívoca. Aparece com sentidos

diversos. Apresenta acepção de começo, de início.

Norma de princípio (ou disposição de princípio), por

exemplo, significa norma que contém o início ou

esquema de um órgão, entidade ou de programa, como

são as normas de princípio intuitivo e as de princípio

programático. Não é nesse sentido que se acha a

palavra princípio da extensão princípios fundamentais do

Título I da Constituição. Princípio aí exprime a noção de

“mandamento nuclear de um sistema”.

Mello64 define princípio como:

[...] mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro

alicerce dele, disposição fundamental que se irradia

sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e

servindo de critério para a sua exata compreensão e

inteligência, exatamente por definir a lógica e a

racionalidade do sistema, no que lhe confere a tônica e

lha dá sentido harmônico.

61

ICHIHARA, Yoshiaki. Imunidades tributárias, pp. 96-98. 62 Luciano Amaro não entende dessa maneira, e confere às imunidades o caráter de

direitos individuais, portanto, cláusulas pétreas. Cf. AMARO, Luciano. Direito tributário

brasileiro. 4 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 266. 63 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo, 2001. 64 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 15 ed. São Paulo:

Malheiros, 2002. pp. 817/818.

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32

Ainda, para o mesmo doutrinador:

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir

uma norma qualquer. A desatenção a princípio implica

ofensa não apenas a um específico mandamento

obrigatório, mas todo o sistema de comandos. É a mais

grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade,

conforme o escalão do princípio atingido, porque

representa insurgência contra todo o sistema, subversão

de seus valores fundamentais, costumélia irremissível a seu

arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra.65

Em razão da fundamental característica normativa

dos princípios, Bonavides66 assevera que:

Princípio é, com efeito, toda norma jurídica, enquanto

considerada como determinante de uma ou de muitas

outras subordinadas, que pressupõem, desenvolvendo e

especificando ulteriormente o preceito em direções mais

particulares (menos gerais), das quais determinam, e,

portanto, resumem, potencialmente, o conteúdo: sejam,

pois, estas efetivamente postas, sejam, ao contrário,

apena s dedutíveis do respectivo princípio geral que as

contém.

A Constituição, por sua vez, é considerada como um

sistema composto de regras e princípios.

Nas palavras de Lacombe67:

Diante de uma constituição principiológica como a

nossa, a interpretação de qualquer regra, seja ela

constitucional ou legal, estará condicionada pelos

princípios. Estes não poderão ser esquecidos nas

atividades intelectuais do intérprete. Toda regra tende a

expandir-se até os seus últimos limites lógicos, mas deve

ser contida dentro dos limites impostos pelos princípios.

65 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo, pp. 817/818. 66 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 7 ed. São Paulo: Malheiros, 1998.

p. 230. 67 LACOMBE, Américo Lourenço Masset. Princípios Constitucionais Tributários. São

Paulo-SP: Mallheiros, 1996. p.

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33

Dentre dos princípios elencados na Constituição de

1988, encontram-se os princípios tributários, que são normas explícitas ou

implícitas, as quais balizam ou limitam o poder de tributar.

Os princípios constitucionais tributários estão inseridos

no Código Tributário Nacional, obedecendo às imposições encartadas

na Constituição, como se passa a analisar.

2.5.1.1 Princípio da estrita legalidade

O princípio da legalidade não é apenas aplicável

ao direito tributário, pois é inserto no rol dos direitos individuais,

projetando-se por todos os ramos do direito. Está estatuído na

Constituição de 1988, em seu artigo 5º, inciso II, encerrando dogma

fundamental.

Para Carraza68: “A lei, „expressão da vontade geral‟

[...], é ato normativo primário por excelência, uma vez que obedecidas

apenas os ditames constitucionais, inova inauguralmente a ordem

jurídica”.

É este um dos princípios mais importantes no Direito

Tributário; através dele resta claro que a obrigação tributária depende

de estipulação expressa e anterior em lei.

O princípio da legalidade tributária provoca o

entendimento de que sem que haja lei, nenhum tributo pode ser

majorado ou instituído, ou seja, só é possível criar-se nova regra de

incidência ou majorar-se a base de cálculo ou a alíquota através de lei

regularmente instituída. Sendo assim, qualquer ente político de direito

constitucional interno somente poderá instituir tributos mediante a

expedição de lei.

68 CARRAZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário, p. 208.

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34

O princípio da legalidade tributária pode ser visto

sob dois aspectos: o da legalidade formal e o da legalidade material.

No campo da legalidade formal, tem-se que a regra

tributária deve ser inserida no ordenamento jurídico obedecendo aos

devidos trâmites instituídos para sua criação e, quanto à legalidade em

seu aspecto material, tratado pela doutrina como tipicidade tributária,

impõe que a lei traga de maneira especificada os elementos que

descrevem o fato jurídico e os elementos que prescrevem o conteúdo

da relação obrigacional.

2.5.1.2 Princípio da anterioridade do exercício tributário

Este princípio determina que os tributos sejam

instituídos ou aumentados no ano anterior ao que será exigido, vedado

à União, Estados, Distrito Federal e Municípios cobrar tributos no mesmo

exercício financeiro.

Aludido princípio existe para proteger o contribuinte,

não impedindo mudanças que diminuam a carga tributária ou que não

tenham qualquer impacto sobre ela.

A Emenda Constitucional 42/2003, acrescentou ao

artigo 150, inciso III, da Constituição, a alínea c, instituindo, para tributos

em geral, a exigência de aguardar-se um período de 90 (noventa) dias

entre a publicação da lei que crie ou aumente tributos e a produção

de seus efeitos.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que e

encontrem em situação equivalente, proibida qualquer

distinção em razão de ocupação profissional ou função

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por eles exercida, independentemente da denominação

jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;

III – cobrar tributos:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do

início da vigência da lei que os houver instituídos ou

aumentado;

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido

publicada a lei que os instituiu ou aumentou;

c) antes de decorridos noventa dias da data em que

haja sido publicado a lei que os instituiu ou aumentou,

observado o disposto na alínea b.

Ao adicionar o parágrafo 1º ao artigo 150, da

Constituição, a Emenda Constitucional 42/2003, elencou as exceções à

regra da noventena.

§ 1º. A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos

previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a

vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos

previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à

fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos

arts. 155, II, e 156, I.

Assim, atualmente, com o fito de conferir maior

efetividade ao princípio da não-surpresa, garantia individual do

contribuinte, os tributos em geral, observadas as exceções estabelecidas

pela própria Constituição, estão sujeitos, cumulativamente, ao princípio

da anterioridade do exercício financeiro e à exigência de noventena

entre a instituição ou aumento do tributo e sua cobrança. As

contribuições de seguridade social, diversamente, estão sujeitas apenas

à anterioridade nonagesimal, não sendo exigido que a publicação da lei

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que as institua ou modifique se dê no ano anterior ao início de sua

cobrança.69

2.5.1.3 Princípio da irretroatividade tributária

A Constituição de 1988 consagra este princípio em

seu artigo 150, inciso III, alínea a, enunciando o seguinte:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

[...].

III – cobrar tributos:

a) Em relação a fatos geradores ocorridos antes do

início da vigência da lei que os houver instituído ou

aumentado.

[...].

O Supremo Tribunal Federal, no verbete da Súmula

594, pretende albergar a retroatividade imprópria, ao dizer que: “Ao

imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-

se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a

declaração”.

2.5.1.4 Princípio da capacidade contributiva

O princípio da capacidade contributiva vem

enunciado no artigo 145, parágrafo 1º, da Constituição de 1988, in

verbis:

Art. 145. [...].

§ 1º. Sempre que possível, os impostos terão caráter

pessoal e serão graduados segundo a capacidade

econômica do contribuinte, facultado à administração

69 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito tributário na constituição e no STF. 3

ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007. p. 101.

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tributária especialmente para conferir efetividade a esses

objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais nos

termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as

atividades econômicas do contribuinte.

Este princípio tem como escopo a determinação de

um nível ideal de tributação, que permita ao Estado garantir suas

necessidades de natureza econômica, sem impossibilitar a subsistência

dos contribuintes, exaurindo-lhes recursos além do devido.

2.5.1.5 Princípio da liberdade de tráfego de pessoas e bens

Esta regra consta no artigo 150, incisos III e V, da

Constituição de 1988:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

[...].

III – cobrar tributos:

[...].

V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou

bens, por meio de tributos interestaduais ou

intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela

utilização de vias conservadas pelo Poder Público;

[...].

Os tributos não podem ser utilizados como

limitadores do tráfego de pessoas ou coisas dentro do território

nacional, haja vista que o Brasil é uma federação, onde não é possível

a existência de barreiras alfandegárias. Todavia, é permitida a

cobrança de pedágio pela utilização de via públicas.

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Ademais, o que o inciso V, do artigo 150, da

Constituição de 1988 proíbe, é a criação de barreiras fiscais entre

Estados e Municípios.

2.5.1.6 Princípio da isonomia tributária

Ao artigo 150, inciso II, da Constituição de 1988

impõe observância ao princípio da isonomia tributária, da seguinte

forma:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

[...].

II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se

encontrem em situação equivalente, proibida qualquer

distinção em razão de ocupação profissional ou função

por eles exercida, independentemente da denominação

jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;

[...].

A consagração do princípio da isonomia tributária

merece a mesma crítica imputada ao princípio da legalidade, posto

que genericamente consagrado no caput do artigo 5º, em posição

privilegiada, a irradiar seu efeitos por todo o sistema jurídico.

Alexandre70 destaca que:

A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar

desigualmente aos desiguais, na medida em que se

desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada a

desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da

igualdade. O mais são desvarias da inveja, do orgulho, ou

da loucura. Tratar com desigualdade os iguais, ou a

70 ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário esquematizado. São Paulo: Método, 2007. p.

104.

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desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e

não igualdade real.

2.5.1.7 Princípio da vedação de confisco

É o princípio segundo o qual é proibido o confisco no

âmbito tributário, vez que não pode existir tributo que não absorva

parte expressiva da renda ou do patrimônio dos contribuintes,

caracterizando o efeito confiscatório, em flagrante desrespeito à

capacidade contributiva.

A Constituição de 1988 reporta-se ao princípio do

não-confisco, no artigo 150, inciso IV:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

[...].

IV – utilizar tributo com efeito confiscatório.

[...].

Sobre o princípio, tem-se o posicionamento de

Borba71:

Devemos entender que o confisco é a incorporação ao

erário de quaisquer bens pertencentes a alguma pessoa,

mediante ato da Administração ou da autoridade

judicial, fundamentado em lei. O confisco, quando

ocorre, tem nítido caráter punitivo, circunstância por si só

insuficiente para tê-lo excluído da relação tributária, pois

o próprio conceito de tributo diferencia-o de qualquer

sanção de ato ilícito.

Cabe ao Judiciário dizer quando o tributo é confiscatório

[...].

71 BORBA, Cláudio. Direito tributário: série provas e concursos. 8 ed. Rio de Janeiro:

Impetus, 2001. p. 65.

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2.5.1.8 Princípio da uniformidade geográfica

Estatuído no artigo 151, inciso I, da Constituição de

1988, traz regras destinadas, especificamente, à União.

Art. 151. É vedado à União:

I – instituir tributo que ano seja uniforme em todo o

território nacional ou que implique distinção ou

preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a

Município, em detrimento de outro, admitida a

concessão de incentivos ficais destinados a promover do

desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes

regiões do País.

[...].

Segundo Alexandrino e Paulo72, são dois os

fundamentos do princípio da uniformidade geográfica, vejamos:

Na parte em que veda a instituição de tributo federal

não uniforme em todo o País, tem fundamento,

sobretudo, no princípio da isonomia. Ao proibir que

tributos federais impliquem distinção ou preferência em

relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em

detrimento de outro, o fundamento é o princípio

federativo.

Portanto, qualquer benefício fiscal de tributo federal

que se restrinja a região determinada do território nacional deverá ter a

finalidade de promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-

econômico.

2.5.1.9 Princípio da não-discriminação em razão da procedência ou

destino

Consoante o artigo 152, da Constituição, é vedado

aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença

72 ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito tributário na constituição e no STF.

13 ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007. p. 105.

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tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão da sua

procedência ou destino.

2.6 IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS

A imunidade tributária consiste no impedimento

constitucional absoluto à incidência da norma tributária, pois restringe

as dimensões do campo tributário da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios.

Baleeiro73 conceitua o instituto: “[...] como uma

exclusão da competência de tributar, proveniente da Constituição”.

Definindo a imunidade tributária, Costa74 entende-a

como “[...] a limitação constitucional à competência de editar regras

jurídicas de imposição”.

Machado75 define que: “Imunidade é o obstáculo

decorrente de regra da Constituição à incidência de regra jurídica de

tributação. O que é imune não pode ser tributado”.

Na mesma linha de pensamento Amaro76 dispõe

que:

A imunidade tributária é, assim, a qualidade da situação

que não pode ser atingida pelo tributo, em razão de

norma constitucional que, à vista de alguma

especificidade pessoal ou material dessa situação,

deixou-se fora do campo sobre que é autorizada a

instituição do tributo.

Segundo Costa77, a imunidade tributária é a:

73 BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1970. p. 74 COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias. São Paulo: Dialética, 2001. p. 33. 75 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário, p. 190. 76 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro, p. 148. 77 COSTA, Regina Helena. Imunidades tributárias, p. 53.

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42

[...] exoneração, fixada constitucionalmente, traduzida

em norma expressa impeditiva da atribuição de

competência tributária ou extraível, necessariamente,

de um ou mais princípios constitucionais que confere

direito público subjetivo a certas pessoas, nos termos por

ela delimitados, de não se sujeitarem à tributação.

Delgado78 conceitua a imunidade como sendo a

entidade jurídica tributária consagrada na Constituição. Ela está,

portanto, subordinada aos princípios que norteiam a Constituição. Tais

princípios, expressos ou tácitos, são mais do que simples normas jurídicas

e formam de modo conjunto, um sistema denominado de

ordenamento submetido a uma hierarquia axiológica.

Tendo como esteio as idéias dos doutrinadores

acima mencionados, pode-se entender a imunidade tributária como a

competência tributária em sentido negativo, prevista no texto

constitucional, como direito e garantia fundamentais de certas pessoas

em razão de sua situação material ligada a uma atividade essencial e

de relevante interesse social voltada à prestação de serviços públicos,

merecendo a não imponibilidade tributária e afastando a competência

do poder de tributar do Estado, nos termos da Constituição.

A imunidade tributária ocorre quando a Constituição

impede a incidência de tributação, criando um direito subjetivo, que

pode ser pleiteado em juízo, de exigir que o Estado se abstenha de

cobrar tributos. Ou seja, as entidades ou pessoas contempladas com a

imunidade têm o direito de realizarem determinada ação que

normalmente configuraria fato gerador de um tributo, mas sem sofrerem

respectiva tributação. Trata-se de uma não-incidência constitucional

qualificada. Logo, o que é imune não pode ser tributado.

78 DELGADO, José Augusto. Imunidades tributárias. Coordenador Ives Gandra da Silva

Martins. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 54.

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43

Como exemplo da imunidade tem-se a que existe

entre os entes federativos, que escapam uns dos outros em relação à

tributação, bem como as organizações de caráter religioso, nos termos

do artigo 150, inciso VI, alíneas a e seguintes da Constituição de 1988.

Logo, não se deve considerar a imunidade tributária

como um benefício ou como um fator fiscal, uma renúncia à

competência tributária ou um privilégio, mas, sim, uma forma de

resguardar e garantir os valores da comunidade e do indivíduo.79

Sendo assim, preceitua-se que, apesar da

necessidade que o Estado tem de cobrar tributos, o legislador entendeu

que os objetivos protegidos pelo instituto das imunidades devem

merecer um tratamento diferenciado em relação àqueles suscetíveis à

tributação, pelos valores que aqueles disseminam numa sociedade

política e democraticamente organizada.

No terceiro e último capítulo, tema do presente

trabalho, tratar-se-á a respeito das imunidades sobre livros eletrônicos, a

interpretação das normas da imunidade tributária e a imunidade

prevista no artigo 150, inciso VI, alínea d, da Constituição de 1988.

79 MARTINS, Ives Granda da. Imunidades tributárias. Coordenador Ives Gandra da Silva

Martins. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 209.

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44

Capítulo 3

IMUNIDADES SOBRE LIVROS ELETRÔNICOS

3.1 IMUNIDADE: CONCEITO

Diversos são os conceitos acerca da imunidade.

Contudo, não serão analisados isoladamente, mas apenas

evidenciados alguns, com ênfase ao estudo sobre a imunidade dos

livros em si.

Neste sentido, Baleeiro80 destaca o caráter político

das imunidades tributárias. Nogueira81 afirma ser a imunidade a

exclusão do próprio poder de tributar. Para Borges82, a imunidade fiscal

configura-se como sendo hipótese de não-incidência

constitucionalmente qualificada. Já, Falcão83 a define como supressão

da competência impositiva.

Ainda, para Carvalho84, imunidade é:

A classe finita e imediatamente determinável de normas

jurídicas, contidas no texto da Constituição Federal, que

estabelecem de modo expresso a incompetência das

80 BALLEIRO, ALIOMAR. Limitações constitucionais ao poder de tributar. 5 ed. Rio de

Janeiro: Forense, 1977. p. 2. 81 NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de direito tributário. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 1980. p.

172. 82 BORGES, José Souto Maior. Isenções tributárias. 1 ed. São Paulo: Sugestões Literárias,

1969. p. 208. 83 FALCÃO, Amílcar de Araújo. Fato gerador da obrigação tributária. 2 ed. São Paulo,

Revista dos Tribunais. p. 117. 84 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 10 ed. São Paulo: Saraiva,

1998. p. 132.

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pessoas políticas de direito constitucional interno, para

expedir regras instituidoras de tributos que alcancem

situações específicas e sufi-cientemente caracterizadas.

Esse conceito também é abonado por Jardim85.

Esse ponto de vista é contrário ao entendimento de

ser a imunidade uma limitação à competência tributária, isto porque

não é antecedida de qualquer competência. Quando estabelecida

pela Constituição de 1988, ela impede, desde logo, a competência das

pessoas constitucionais de editarem normas incidentes sobre

determinadas situações, a exemplo do artigo 150, inciso VI, alínea d.

A ratio essendi da imunidade tributária, como afirma

Moraes86:

[...] está na preservação, proteção e estímulo dos valores

éticos e culturais agasalhados pelo Estado. Em verdade,

a imunidade tributária repousa em exigências

teleológicas, portanto valorativas. É o aspecto

teleológico da imunidade tributária que informa o seu

conceito.

Conclui o mesmo doutrinador que a imunidade

tributária não apenas complementa princípios albergados na

Constituição, mas, também, constitui um princípio constitucional próprio

– Princípio Constitucional de Vedação de Instituir Imposto –, ligado que

se acha à estrutura política, social e econômica do País.

Borges87 leciona que:

A regra da imunidade é estabelecida em função de

consideração de ordem extrajurídica. Através da

85 JARDIM, Eduardo Macial Ferreira. Dicionário jurídico tributário. São Paulo: Saraiva,

1996. p. 85. 86 MORAES, Bernardo Ribeiro de. A imunidade tributária e seus novos aspectos. In:

Imunidades tributárias. São Paulo: CEU/Revista dos Tribunais, 1998. p. 107. (Pesquisas

Tributárias, Nova Série, 4). 87 BORGES, José Souto Maior. Isenções tributárias. p. 211.

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46

imunidade, nos termos em que está disciplinada na

Constituição Federal, torna-se possível a preservação de

valores sociais das mais diversas naturezas: políticos,

religiosos, educacionais, sociais e culturais.

Não se entende a imunidade como princípio, mas,

sim, como meio para a realização deles. Tem-se que a razão de ser da

imunidade é a impossibilidade de o Estado criar tributos sobre

determinados direitos fundamentais, como, por exemplo, a liberdade,

estes sim, princípios.

Dúvida não há que todas as regras imunizantes

concentram em si uma intensa carga axiológica, em que pesem elas

não serem princípios, mas em razão de serem veículos para a

concretização daqueles.

3.2 INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS DE IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS

Interpretação deve ser entendida como a atividade

intelectual que se desenvolve a luz de princípios hermenêuticos, com a

finalidade de declarar o conteúdo, o sentido e o alcance das regras

jurídicas. Hermenêutica é a teoria científica que se propõe a pesquisar

os meios de interpretação.

Segundo Maximiliano88, a hermenêutica jurídica tem

por objeto o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para

determinar o sentido e o alcance das expressões do direito.

Interpretar é atribuir valores aos símbolos, isto é,

adjudicar-lhes significações e, por meio dessas, referência a objetos89.

88 MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro: Forense,

1979. p. 5. 89 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário, op. cit., p. 78.

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47

Nogueira90 afirma, embasado em Heidegger, que "chamamos

interpretação ao desenvolvimento do compreender."

Os métodos clássicos de interpretação podem ser

resumidos em literal ou gramatical, histórico ou histórico-evolutivo,

lógico, teleológico e sistemático.

O literal é aquele em que o intérprete se restringe à

literalidade do texto, cingindo-se à construção gramatical em que se

exprime o comando jurídico.

O histórico-evolutivo é aquele em que o intérprete

investiga as condições subjetivas e objetivas que cercaram a produção

da norma e analisa a sua evolução.

O lógico é aquele em que o intérprete deve

desvendar o sentido das expressões do direito, aplicando o conjunto

das regras tradicionais e precisas da lógica formal.

O teleológico é aquele em que o intérprete analisa

a origem e a finalidade da norma e as exigências sociais que a

originaram.

O sistemático é aquele em que o intérprete se volta

para o sistema jurídico para observar, detidamente, as relações com os

demais princípios e normas.

Em que pese os métodos de interpretação

consagrados pela doutrina, desenvolveu Carvalho91 proposta de

interpretação do direito como um sistema de linguagem. Proposta essa

também defendida por Edvaldo Brito92. E, como linguagem, devem ser

90 Nogueira, Ruy Barbosa. Interpretação e integração da legislação tributária. São

Paulo: IBDT/Resenha Tributária, 1975. p. 16. 91 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. p. 70-72. 92 BRITO, Edvaldo. O livro eletrônico é imune. In: Imunidade tributária do livro eletrônico.

São Paulo: IOB, 1998. p. 34-35.

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investigados os seus três planos fundamentais: a sintaxe93, a semântica94

e a pragmática95.

Diz-se, também, que a interpretação possui as

seguintes espécies, embasadas em seu resultado:

a) interpretação estrita ou declarativa: é aquela em

que o intérprete da norma jurídica apenas confere o conteúdo e o

sentido que correspondem ao texto interpretado, não se estendendo,

restringindo, modificando ou corrigindo o texto da norma interpretada;

b) interpretação extensiva ou ampla: é aquela em

que o intérprete faz a norma abranger casos que nela não estão

previstos expressamente. A norma jurídica diz menos do que o legislador

desejou e o intérprete estende-a para que alcance seu verdadeiro fim;

c) interpretação restritiva: é aquela em que o

intérprete extrai da norma interpretanda menos pressupostos do que

pareciam nela compreendidos. Ocorre nos casos em que as palavras

da lei dizem mais do que a vontade do legislador.

Partindo desses pressupostos, pode-se afirmar,

consoante Carvalho96, que toda interpretação tem início com um texto,

fincado este num determinado corpus que permite construir o discurso

(plano de conteúdo) a ser percorrido no processo gerativo de sentido.

Todavia, a comunicação não se produz até que o receptor da

93 Parte da gramática que trata das funções das palavras na frase e das relações

entre si. / Arranjo, combinação ou disposição das palavras na frase. Disponível em

http://www.dicionariodoaurelio.com/Sintaxe. Acessado em 10 nov 2010. 94 Ciência empírica, descritiva, que tem por objeto o estudo da relação dos signos

com aquilo que eles significam, numa língua dada, i.e., estudo das palavras no que

respeita a seus significados. Disponível em

http://www.dicionariodoaurelio.com/Semantica. Acessado em 10 nov 2010. 95 Coleção de regras ou de fórmulas que regulam os atos e cerimônias da Corte e da

Igreja. / Ant. Toda e qualquer lei que não fosse decreto ou ordenança real. / P. ext.

Formalidade de cortesia ou de etiqueta. Disponível em

http://www.dicionariodoaurelio.com/Pragmatica. Acessado em 10 nov 2010 96 Carvalho Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. São

Paulo: Saraiva, 1998. p. 57.

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49

mensagem a tenha decifrado, razão pela qual é necessário investigar,

também, as dificuldades que o destinatário possa enfrentar.

Referidas dificuldades situam-se em dois planos

cronológica e espacialmente diversos, como adverte Santi97:

[...] o primeiro está no ato enunciativo da mensagem,

empreendido pelo legislador no momento da produção

normativa; o segundo instala-se no produto desse ato,

que é o próprio enunciado legal, em decorrência de

certos defeitos inerentes ao código linguístico.

E, analisando a imunidade dos livros em si, dispõe o

mesmo doutrinador:

No presente caso, é assente que o problema suscitado

sobre o entendimento do vocábulo „livro‟ nada tem a ver

com problemas de composição frásica; a frase

constitucional em que se assenta o dispositivo é bastante

clara: é vedado „instituir impostos sobre: [...] livros, jornais,

periódicos e o papel destinado a sua impressão‟.

Convém salientar que a referência ao „papel destinado a

sua impressão‟ no final do período, parece-nos, também,

desnecessária à discussão do sentido entitativo da

palavra „livro‟. Desta forma, sobre-resta como único

ângulo possível para arrostar o problema que se nos

oferece, dirigir nossas atenções para eventuais problemas

no código „livro‟.98

3.3 A IMUNIDADE DO ARTIGO 150, INCISO VI, ALÍNEA D, DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Prescreve o artigo 150, inciso VI, alínea d, da

Constituição de 1988, in verbis:

97 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Imunidade tributária como limite objetivo e as

diferenças entre "livro" e "livro eletrônico". In: Imunidade tributária do livro eletrônico.

São Paulo: IOB, 1998. p. 52. 98 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Imunidade tributária como limite objetivo e as

diferenças entre "livro" e "livro eletrônico". In: Imunidade tributária do livro eletrônico.

São Paulo: IOB, 1998. p. 52.

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Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito

Federal e aos Municípios:

[...] VI - instituir impostos sobre:

[...]

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua

impressão.

3.3.1 Evolução histórica

A redação do artigo 150, inciso VI, alínea d, da

Constituição de 1988 não foi sempre a mesma, cabendo retornar-se no

tempo para investigar as condições subjetivas e objetivas que cercaram

a produção da norma e analisar sua evolução.

Assim fazendo, registra-se, primeiramente, que o

dispositivo constitucional nem sempre teve a redação atual. A

imunidade anteriormente prevista era somente ao papel destinado à

impressão de jornais, periódicos e livros e foi introduzida pela

Constituição de 1946, nos seguintes termos:

Art. 31. À União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios é vedado:

[...].

V - lançar impostos sobre:

[...]

d) papel destinado exclusivamente à impressão de

jornais, periódicos e livros.

Como se observa, a imunidade é a do papel,

considerando a sua destinação (destinado exclusivamente à impressão

de jornais, periódicos e livros).

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Registra Baleeiro99 que:

Quando Jorge Amado defendeu essa franquia, na

Constituinte de 1946, o interesse cultural ocupou o centro

de sua argumentação. O imposto encarece a matéria-

prima do livro, não apenas pela carga fiscal, que se

adiciona ao preço, mas também pelos seus efeitos

extrafiscais, criando, em certos casos, monopólios em

favor do produtor protegido aduaneiramente. Se o papel

importado for tributado com intenção protecionista,

sempre advogada pelos círculos industriais interessados, o

sucedâneo nacional terá seu preço elevado até o nível

que lhe permite a eliminação da concorrência pelos

meios alfandegários.

Moraes100 registra que a Constituição de 1946:

"introduziu essa imunidade do papel, segundo Aliomar

Baleeiro, por duas razões: a primeira, „que em 1946

estava muito recente a ditadura de Vargas, que tinha

posto colete de ferro na imprensa‟; e a segunda: „Vargas,

por meio do papel, também usava o financiamento pelos

bancos estatais, e teve uma imprensa passiva, dócil,

acomodada, que só dizia o que ele queria.‟"

Com o advento da Emenda Constitucional 18, de 1º

de dezembro de 1965, que introduziu a reforma do sistema tributário,

não houve alteração da redação da regra da imunidade tributária. Nos

termos da emenda (artigo 2º, inciso IV, alínea d) era vedado cobrar

impostos sobre "o papel destinado exclusivamente à impressão de

jornais, periódicos e livros".

A alteração veio com a Constituição de 1967. Em

seu artigo 20, inciso III, alínea d, a vedação passou a ser para "criar

imposto sobre [...] o livro, os jornais e os periódicos, assim como o papel

destinado à sua impressão". 99 BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar. p. 189. 100 MORAES, Bernardo Ribeiro de. A imunidade tributária e seus novos aspectos. p. 134.

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A Emenda Constitucional 1, de 17 de outubro de

1969, reproduziu praticamente o texto anterior, trazendo para o singular

a palavra "jornais".

Baleeiro101, comentando o dispositivo constitucional,

assevera que:

A Emenda n. 1, de 1969, no inciso "d" do artigo 19, III, é

mais generosa do que a de 1946, e do que a Emenda n.

18, pois estas só davam imunidade ao „papel de

impressão destinado exclusivamente à impressão de

livros, periódicos e jornais.‟ Os próprios livros e jornais

foram contemplados também pelo texto atual.

Não restam dúvidas, portanto, que a origem da

imunidade prevista no dispositivo constitucional foi o papel. E papel

destinado exclusivamente à impressão de jornais, livros e periódicos,

evidenciados, à época, por motivos de ordem política e econômica.

Não há dúvida, pois, que por motivos políticos e/ou

econômicos o móvel da imunidade é e sempre foi o papel,

naturalmente com a destinação específica.

Tanto é assim que Baleeiro102, já àquela época

(1977), afirmou:

A Constituição não distingue nem pode o intérprete

distinguir os processos tecnológicos de elaboração dos

livros, jornais e periódicos, embora os vincule ao papel

como elemento material de seu fabrico. Isso exclui,

pareceu-nos, os outros processos de comunicações do

pensamento, como a radiodifusão, a TV, os aparelhos de

ampliação de som, a cinematografia etc., que não têm

por veículo o papel.

101 BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1976. p. 94. 102 BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar, op. cit., p. 198-

199.

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Também corrobora este entendimento, o fato de a

Constituição de 1988 somente prescrever os veículos de mídia escrita

(livros, jornais, periódicos) ao papel ou material a ele assimilável no

processo de impressão. Nenhum outro.

Note-se, ademais, que os novos veículos de

transmissão e difusão de pensamentos, conhecimentos e informações,

com seus suportes distintos do papel, já eram contemporâneos da

elaboração da Constituição de 1988 e não foram por ela

contemplados.

Neste sentido, convém recordar que a redação do

artigo B, III, "d", do anteprojeto IASP/ABDF era a seguinte: "[...] d) livros,

jornais e periódicos e outros veículos de comunicação, inclusive

audiovisuais, assim como papel e outros insumos, e atividades

relacionadas com a produção e a circulação".

Martins103 relata que: "A letra "d" do inciso VI reproduz

o texto de idêntica redação da Emenda Constitucional n. 1/69, artigo

19, III, "d".

Portanto, evidente se mostra que o constituinte de

1988 não quis estender o dispositivo imunizante, tendo,

consequentemente, excluído propositadamente aqueles.

Neste sentido, registra Saraiva Filho104:

[...] não ser possível interpretar a lei maior de um país sem

procurar conhecer a intenção daqueles que a fizeram,

pois dessa lei sairá o sistema jurídico aplicável à

sociedade para a qual foi preparada.

103 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários à Constituição do Brasil promulgada

em 5 de outubro de 1988. São Paulo: Saraiva, 1990. v. 6, t. 1, p. 186. 104 SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes. Imunidade tributária. In: Imunidades

tributárias. São Paulo: CEU/Revista dos Tribunais, 1998. p. 344. (Pesquisas Tributárias,

Nova Série, 4).

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E, arremata:

[...] a lição de hermenêutica, a qual recomenda que,

diante da mesma razão aplica-se a mesma disposição,

deve ser, aqui, sopesada com outra máxima, no sentido

de que, diante da enfática insuficiência do texto, não se

pode ampliar o sentido do mesmo, sob o argumento de

que ele teria expresso menos do que intencionara." E

mais, "A extensão, para conferir a imunidade ao CD-Rom

e aos disquetes com programas gravados e com o

conteúdo de livros, representaria uma integração

analógica, e, como já explicitei, esta não é apropriada à

espécie.

Embora considerando as críticas que se deve fazer

ao denominado método histórico de interpretação, Santi105 conclui que

o argumento tem procedência jurídica e que:

A informação contida numa proposta rejeitada pela

Constituinte, se não se transforma em direito porque não

foi aceita, por critério político, no corpo da Constituição,

nem por isso deixa de apresentar juridicidade como fato

jurídico. Ocorre que, mesmo tendo sido rejeitada, o fato

de ser apreciada em processo criativo do direito,

essencialmente documentado, torna-a jurídica. [...] É

patente na própria letra da Constituição Federal de 1988,

a juridicidade do conteúdo de emenda constitucional

rejeitada: „A matéria constante de proposta de emenda

rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto

de nova proposta na mesma sessão legislativa‟ (ex vi do

art. 60, § 5º). Se o conteúdo de emenda rejeitada pode

inibir a própria competência constitucional de processar

emendas, com muito mais razão tal conteúdo há de ser

útil para corroborar na composição de sentido do texto

constitucional estabelecido.

Não há dúvida, portanto, que, historicamente, a

tônica da imunidade prevista no artigo 150, inciso VI, alínea d, da

105 SANTI, Eurico Marcos Diniz de Imunidade tributária como limite objetivo..., op. cit., p.

57-58.

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Constituição de 1998 é o papel, assim como os objetos dele derivados e

especificados, livros, jornais e periódicos, e é o que prevalece até hoje,

não podendo o privilégio ser estendido além das hipóteses

expressamente previstas na Constituição de 1988.

3.4 A INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA DA IMUNIDADE PREVISTA NO ARTIGO

150, INCISO VI, ALÍNEA D, DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Outro aspecto a ser enfrentado é o que a doutrina

logrou denominar de interpretação extensiva, para justificar a

aplicação da imunidade aos livros eletrônicos, DVDs, CD-ROMs,

disquetes etc.

Neste sentido, parte dos juristas106 afirma que a

finalidade intentada pela regra da imunidade prevista no artigo 150,

inciso VI, alínea d, da Constituição de 1998 é, em síntese, a preservação

da liberdade de expressão intelectual, científica, artística e de

manifestação do pensamento.

Em defesa de tais princípios, asseveram que o

preceito constitucional previsto no artigo 150, VI, "d", deve sofrer

interpretação teleológica, onde o sentido e o alcance da norma

estariam diretamente relacionados com a sua finalidade, qual seja, a

proteção aos mencionados princípios.

Assegura-se também que as imunidades devem ser

interpretadas extensivamente, de forma a garantir os direitos da

liberdade e o acesso ao conhecimento. Desta forma, consoante

argumenta Torres107: “[...] em face da preferibilidade dos valores, os

limites para tal interpretação extensiva seriam os limites do quanto fosse

106 BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 1976. p. 99 107 TORRES, Heleno Taveira. Tributação e imunidade dos chamados "livros eletrônicos".

In: Imunidade tributária do livro eletrônico, São Paulo: IOB, 1998. p. 80.

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imaginado desejado, conforme as convicções e interesses pessoais de

cada intérprete”.

Por isso, Saraiva Filho108 assevera que:

Dentro desse quadro, a imunidade dos livros, jornais e

periódicos, por se relacionar com a liberdade do homem,

admite a interpretação extensiva, na busca de se

alcançar a finalidade da Constituição, desde que não

ultrapasse a possibilidade expressiva da norma da

imunidade.

Também entendendo que a interpretação extensiva

deve ser utilizada judiciosamente, Torres109 afirma que:

[...] o uso da interpretação extensiva não deve ser

utilizado para pretender abarcar, no preceito imunitório,

toda e qualquer forma de acesso, uso e gozo da

liberdade de informar e ser informado. Com a regra do

artigo 150, VI, "d", limitando-se o seu alcance apenas aos

livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua

impressão, já encontra-se satisfeito o objetivo e garantido

o valor desejado pelo Constituinte. Tudo o mais que de

aperfeiçoamento técnico, para o uso cibernético, possa

surgir, não será mais que uma exploração de bens de

consumo (computadores), cuja utilização demonstra

evidente capacidade econômica, devendo, pois, o

respectivo produto (livro eletrônico) ser tributado, sem

que isto concorra para afetar qualquer liberdade

individual vinculada com a difusão da informação e da

cultura.

Portanto, a interpretação extensiva deve ser tida

apenas como um método apto a assegurar os valores que a regra de

imunidade quer ver garantidos. Todavia, a partir do momento em que

apresente conflito com outro valor, tão ou mais importante, deverá o

108 SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes. A não-extensão da Imunidade aos

chamados livros, jornais e peródicos eletrônicos. Revista Dialética de Direito Tributário,

São Paulo, n. 33, p. 134, 1998. 109 TORRES, Heleno Taveira. Tributação e imunidade dos chamados "livros eletrônicos".

p. 81.

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intérprete verificar o que melhor beneficie o destinatário sem causar

danos a outros em igual situação, sob pena de estar sendo ferido o

princípio da isonomia, ou seja, criando privilégios sem causa para alguns

em detrimento de outros.

Assim, partindo da premissa de que a Constituição

de 1988 traz outros tantos princípios que devem ser respeitados, como é

o caso da isonomia tributária, tem-se que as regras de imunidade

podem e devem ser objeto de interpretação extensiva, mas tão-

somente até o limite que garanta o exercício da liberdade humana

protegida, sem avançar os limites exclusivos do sistema tributário, onde

a isonomia é o princípio base e o ponto de convergência dos demais,

que veda toda e qualquer forma de discriminação ou de concessão de

privilégios (artigo 150, inciso II).

Neste sentido, assevera Carvalho110:

[...] Dizer que as imunidades são sempre amplas e

indivisíveis, que não suportam fracionamentos,

protegendo de maneira absoluta as pessoas, bens ou

situações que relatam, é discorrer sem compromisso; é

descrever sem cuidado; sem o desvelo necessário à

construção científica.

Conclui-se, pois, que, embora ao se cuidar da

matéria imunidade a interpretação utilizada seja a extensiva, não se

pode olvidar que o limite à extensão são os próprios princípios

elencados na Constituição de 1988, principalmente o da isonomia.

110 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário, op. cit., p. 130.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo investigar, à

luz da legislação, da doutrina e da jurisprudência, o instituto da

Imunidade Tributária Sobre Livros eletrônicos.

O interesse pelo tema deu-se em razão de sua

diversidade, amplitude e importância, notadamente pelo fato de ser

concebido não somente para beneficiar o detentor de direitos autorais

sobre os livros produzidos, mas também para favorecer a sociedade,

tendo em vista que, cedo ou tarde, o livro eletrônico predominará sobre

a versão impressa.

Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi

dividido em três capítulos. No primeiro, viu-se que a Constituição é a

mais alta expressão jurídica da soberania popular nacional. É

instrumento seguro para a manutenção do Estado de Direito, e por esta

razão, significa a submissão de todos os indivíduos e dos próprios órgãos

do Estado ao Direito, à Lei, retomando, em última instância, à submissão

a Lei Constitucional.

Viu-se ainda que, doutrinariamente, a Constituição

possui diversas classificações. Dentre elas pode-se classificar: a) quanto

ao conteúdo: materiais/substâncias e formais; b) quanto a forma:

escritas e não escritas; c) quanto ao modo de elaboração: dogmáticas

e históricas; d) quanto à origem: promulgada/democrática/populares e

outorgadas; e) quanto à estabilidade: imutáveis, rígidas, flexíveis e

semirígidas; f) quanto à sua extensão e finalidade: analíticas/dirigentes e

sintéticas/negativas.

Ainda relacionado ao primeiro capítulo, viu-se a

Constituição como ordem normativa veiculadora de regras e princípios,

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onde pode-se dizer que os princípios, hierarquicamente superiores, são

normas com um grau de abstração relativamente elevado, enquanto

regras, hierarquicamente inferiores, são normas com graus de abstração

relativamente reduzido.

No segundo capítulo, pesquisou-se acerca das

limitações constitucionais ao poder de tributar, constituindo-se em

normas legitimadas pela Constituição que não conferem competências

positivas para tributar, mas em dispositivos que visam impedir as

situações por elas descritas, uma vez que a Constituição de 1988 não

criou tributos, mas apenas estabeleceu competência, regra matriz de

cada tributo, para que as pessoas políticas as criassem através de lei

No terceiro e último capítulo, intensificou-se a

pesquisa sobre o bem delineado contorno jurídico da Imunidade

Tributária Sobre Livros, partindo da interpretação de sua regra

estruturante, centrada no artigo 150, inciso VI, alínea d, da Constituição

de 1988.

Como principais resultados da pesquisa, pode-se

ressaltar que a Imunidade Tributária capitulada no artigo 150, inciso VI

alínea d, alça efeitos Sobre os Livros Eletrônicos.

Para a configuração da Imunidade Tributária Sobre

Livros Eletrônicos faz-se necessária interpretação extensiva da norma

jurídica, mas tão somente até o limite que garanta o exercício da

liberdade humana protegida, sem avançar limites exclusivos do sistema

tributário, onde a isonomia é o princípio base e ponto de convergência

dos demais, que veda qualquer forma de discriminação ou de

concessão de privilégios (artigo 150, inciso II).

No mais, retomam-se as hipóteses levantadas e que

impulsionaram a presente pesquisa:

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a) a imunidade capitulada no artigo 150, inciso VI,

alínea d, refere-se aos veículos de mídia escrita

(livros, jornais, periódicos), ao papel ou material a ele

assimilável no processo de impressão.

b) a imunidade capitulada no artigo 150, inciso VI,

alínea d, é extensível aos livros eletrônicos, DVDs, CD-

ROMs, disquetes, etc.

No que toca a primeira hipótese, restou confirmada,

pois, desde a Constituição de 1946 existe Imunidade Tributária sobre o

papel destinado à impressão de jornais, periódicos e livros. Com a

Constituição de 1967, a Imunidade Tributária deixou de ser restrita ao

papel destinado à impressão de jornais, periódicos e Livros, passando

também a contemplá-los.

Quanto a última hipótese, registra-se que igualmente

restou confirmada, pois neste sentido, grande parte dos juristas afirmam

que a finalidade intentada pela regra da imunidade prevista no artigo

150, inciso VI, alínea d, da Constituição de 1988 é, em síntese, a

preservação da liberdade de expressão intelectual, científica, artística e

de manifestação do pensamento. Em defesa de tais princípios,

asseveram que o preceito constitucional, retromencionado, deve sofre

interpretação teleológica, onde o sentido e o alcance da norma

estariam diretamente relacionados com a sua finalidade, qual seja, a

proteção aos mencionados princípios.

Por fim, fica o registro de que o presente trabalho

não tem caráter exaustivo, isto é, com o mesmo não se teve a

pretensão de tratar de todas as questões que norteiam o instituto da

Imunidade Tributária dos Livros Eletrônicos, razão pela qual deve servir

apenas de ponto de partida para o necessário e contínuo

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acompanhamento da evolução de entendimento doutrinário e

jurisprudencial acerca desta tão relevante matéria do Direito Tributário.

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