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52 Summa Phytopathol., Botucatu, v. 37, n. 1, p. 52-58, 2011 Avaliação patogênica in vitro de Pythium middletonii Sparrow e Pythium dissotocum Drechsler em alface Filipe Rosa Baptista 1 ; Carmen L. A. Pires-Zottarelli 1 ; Liliane De Diana Teixeira 2 ; Nelson Augusto dos Santos Júnior 3 1 Núcleo de Pesquisa em Micologia, Instituto de Botânica, C.P 3005, CEP 01061-970, São Paulo-SP. 2 Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola, ESALQ/USP Piracicaba-SP. 3 Núcleo de Pesquisa em Sementes, Instituto de Botânica, São Paulo-SP. Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor . Autor para correspondência: Filipe Rosa Baptista ([email protected]) Data de chegada: 31/03/2008. Aceito para publicação em: 04/02/2011. 1579 ABSTRACT Root infections in hydroponic lettuce are frequent and mostly caused by Pythium species, which are extremely well adapted to aquatic environments. The present study aimed to evaluate in vitro the pathogenic potential of Pythium middletonii and Pythium dissotocum in four cultivars of lettuce, Elisa (smooth), Vera (curly), Mimosa (mimosa) and Tainá (American). Lettuce seeds from each cultivar were superficially disinfected, pre-germinated for 24 hours and placed on the water agar medium surface. Then, a dish containing mycelium from Pythium isolates was placed in the center of each plate. Control consisted of plates containing lettuce seeds only. Experimental design was completely randomized, with five replicates, each one represented by a Petri dish. Hypocotyl and radical length besides surviving seedlings percentage after ten days of incubation were evaluated. The experiment was carried out, at different temperatures, and the Baptista, F.R.; Pires-Zottarelli, C.L.A.; Teixeira, L.D.; Santos Júnior, N.A.. In vitro pathogenic evaluation of Pythium middletonii Sparrow and Pythium dissotocum Drechsler in lettuce. Summa Phytopathologica, v.37, n.1, p.52-58, 2011. Palavras-chave adicionais: Pythium spp., Lactuca sativa L., hydroponics, pathogenicity Palavras-chave adicionais: Pythium spp., Lactuca sativa L., hidroponia, patogenicidade RESUMO Infecções radiculares nos cultivos hidropônicos de alface são frequentes e, na maior parte das vezes, causadas por espécies de Pythium, extremamente bem adaptadas ao ambiente aquático. Este estudo buscou avaliar o potencial patogênico in vitro de Pythium middletonii e P. dissotocum, em quatro cultivares de alface: Elisa (lisa), Vera (crespa), Mimosa (mimosa) e Tainá (americana). Sementes de alface, de cada cultivar, foram desinfetadas superficialmente, pré-germinadas por 24 horas, e colocadas na superfície do meio ágar-água. Em seguida, um disco de micélio dos isolados de Pythium, foi disposto no centro de cada placa. Placas contendo apenas as sementes de alface serviram como controle. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com cinco repetições, sendo cada uma delas representada por uma placa de Petri. Avaliou-se o comprimento dos hipocótilos, das radículas e a porcentagem das plântulas sobreviventes após dez dias de incubação. O Baptista, F.R.; Pires-Zottarelli, C.L.A.; Teixeira, L.D.; Santos Júnior, N.A.. Avaliação patogênica in vitro de Pythium middletonii Sparrow e Pythium dissotocum Drechsler em alface. Summa Phytopathologica, v.37, n.1, p.52-58, 2011. pathogenicity of the isolates was investigated at the ideal temperature for the lettuce (20ºC), and at the ideal temperatures for the growth of the isolates, 23ºC for P. middletonii and 27ºC for P. dissotocum. At 20ºC, P. dissotocum had higher pathogenicity on lettuce cultivars than P. middletonii , significantly decreasing the length of hypocotyls, especially radicles, of most cultivars. For P. dissotocum, 27ºC was the most suitable temperature for the specimen growth; however, it led to the lowest percentage of surviving seedlings among all cultivars, with the lowest percentage (54%) detected for Vera. Among the cultivars, Mimosa presented higher percentage of survivor seedlings and higher length of radicles in relation to the control, and thus was considered less susceptible to the pathogen. P. dissotocum presented higher mycelium growth and was more pathogenic than P. middletonii in all experiments. experimento foi conduzido na temperatura ideal de crescimento da alface (20ºC), e nas ideais para o crescimento dos isolados, 23ºC para P. middletonii e 27ºC para P. dissotocum. A 20ºC, P. dissotocum foi mais patogênico que P. middletonii , reduzindo significativamente o comprimento dos hipocótilos e, principalmente, das radículas, de praticamente todas as cultivares. Na temperatura de 27ºC, P. dissotocum foi responsável pela mais baixa porcentagem de plântulas sobreviventes entre as cultivares, sendo mais patogênico em Vera (54% de sobrevivência). Dentre as cultivares analisadas, a Mimosa mostrou tendência de menor suscetibilidade a este patógeno, apresentando a maior porcentagem de plântulas sobreviventes e o maior comprimento das radículas em relação ao controle. P. dissotocum apresentou maior crescimento micelial e foi mais patogênico que P. middletonii em todos os experimentos realizados.

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Avaliação patogênica in vitro de Pythium middletonii Sparrow e Pythium dissotocumDrechsler em alface

Filipe Rosa Baptista1; Carmen L. A. Pires-Zottarelli1; Liliane De Diana Teixeira2; Nelson Augusto dos Santos Júnior3

1Núcleo de Pesquisa em Micologia, Instituto de Botânica, C.P 3005, CEP 01061-970, São Paulo-SP. 2Departamento de Entomologia, Fitopatologiae Zoologia Agrícola, ESALQ/USP Piracicaba-SP. 3Núcleo de Pesquisa em Sementes, Instituto de Botânica, São Paulo-SP. Parte da Dissertação deMestrado do primeiro autor .Autor para correspondência: Filipe Rosa Baptista ([email protected])Data de chegada: 31/03/2008. Aceito para publicação em: 04/02/2011.

1579

ABSTRACT

Root infections in hydroponic lettuce are frequent and mostlycaused by Pythium species, which are extremely well adapted to aquaticenvironments. The present study aimed to evaluate in vi tro thepathogenic potential of Pythium middletonii and Pythium dissotocumin four cultivars of lettuce, Elisa (smooth), Vera (curly), Mimosa(mimosa) and Tainá (American). Lettuce seeds from each cultivarwere superficially disinfected, pre-germinated for 24 hours and placedon the water agar medium surface. Then, a dish containing myceliumfrom Pythium isolates was placed in the center of each plate. Controlconsisted of plates containing lettuce seeds only. Experimental designwas completely randomized, with five replicates, each one representedby a Petri dish. Hypocotyl and radical length besides surviving seedlingspercen tage af ter ten days of incubation were evaluated. Theexperiment was carried out , at different temperatures, and the

Baptista, F.R.; Pires-Zottarelli, C.L.A.; Teixeira, L.D.; Santos Júnior, N.A.. In vitro pathogenic evaluation of Pythium middletonii Sparrow andPythium dissotocum Drechsler in lettuce. Summa Phytopathologica, v.37, n.1, p.52-58, 2011.

Palavras-chave adicionais: Pythium spp., Lactuca sativa L., hydroponics, pathogenicity

Palavras-chave adicionais: Pythium spp., Lactuca sativa L., hidroponia, patogenicidade

RESUMO

Infecções radiculares nos cultivos hidropônicos de alface sãofrequentes e, na maior parte das vezes, causadas por espécies de Pythium,extremamente bem adaptadas ao ambiente aquático. Este estudo buscouavaliar o potencial patogênico in vitro de Pythium middletonii e P.dissotocum, em quatro cultivares de alface: Elisa (lisa), Vera (crespa),Mimosa (mimosa) e Tainá (americana). Sementes de alface, de cadacultivar, foram desinfetadas superficialmente, pré-germinadas por 24horas, e colocadas na superfície do meio ágar-água. Em seguida, um discode micélio dos isolados de Pythium, foi disposto no centro de cada placa.Placas contendo apenas as sementes de alface serviram como controle.O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado,com cinco repetições, sendo cada uma delas representada por uma placade Petri. Avaliou-se o comprimento dos hipocótilos, das radículas e aporcentagem das plântulas sobreviventes após dez dias de incubação. O

Baptista, F.R.; Pires-Zottarelli, C.L.A.; Teixeira, L.D.; Santos Júnior, N.A.. Avaliação patogênica in vitro de Pythium middletonii Sparrow ePythium dissotocum Drechsler em alface. Summa Phytopathologica, v.37, n.1, p.52-58, 2011.

pathogenicity of the isolates was investigated at the ideal temperaturefor the lettuce (20ºC), and at the ideal temperatures for the growth ofthe isolates, 23ºC for P. middletonii and 27ºC for P. dissotocum. At20ºC, P. dissotocum had higher pathogenicity on lettuce cultivarsthan P. middletonii, significantly decreasing the length of hypocotyls,especially radicles, of most cultivars. For P. dissotocum, 27ºC wasthe most suitable temperature for the specimen growth; however, itled to the lowest percentage of surviving seedlings among all cultivars,with the lowest percentage (54%) detected for Vera. Among thecultivars, Mimosa presented higher percentage of survivor seedlingsand higher length of radicles in relation to the control, and thus wasconsidered less susceptible to the pathogen. P. dissotocum presentedhigher mycelium growth and was more pathogenic than P. middletoniiin all experiments.

experimento foi conduzido na temperatura ideal de crescimento da alface(20ºC), e nas ideais para o crescimento dos isolados, 23ºC para P.middletonii e 27ºC para P. dissotocum. A 20ºC, P. dissotocum foi maispatogênico que P. middletonii , reduzindo significativamente ocomprimento dos hipocótilos e, principalmente, das radículas, depraticamente todas as cultivares. Na temperatura de 27ºC, P. dissotocumfoi responsável pela mais baixa porcentagem de plântulas sobreviventesentre as cultivares, sendo mais patogênico em Vera (54% desobrevivência). Dentre as cultivares analisadas, a Mimosa mostroutendência de menor suscetibilidade a este patógeno, apresentando a maiorporcentagem de plântulas sobreviventes e o maior comprimento dasradículas em relação ao controle. P. dissotocum apresentou maiorcrescimento micelial e foi mais patogênico que P. middletonii em todosos experimentos realizados.

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A hidroponia (hydro = água e ponos = trabalho) é uma técnicarelativamente antiga, mas mundialmente consolidada somente no finalda década de 80, inclusive no Brasil, onde tem sido comum encontrarprodutos hidropônicos em supermercados de grandes centrosconsumidores, sendo o estado de São Paulo o maior produtor (11, 25).Entre os fatores que contribuíram para uma significativa expansão dahidroponia encontram-se: a produção de hortaliças de ótima qualidade;o melhor aproveitamento de espaço físico, por permitir cultivossucessivos; a menor incidência de pragas e doenças e, portanto, menoraplicação de tratamentos fitossanitários; o melhor controle do meionutritivo para crescimento das plantas e o aproveitamento de água enutrientes; além da menor contaminação do lençol freático pornitrogênio nítrico e outros elementos químicos, uma vez que a soluçãonutritiva recircula no sistema (4, 21).

No Brasil, há diversas culturas produzidas em sistemashidropônicos, entretanto, a alface (Lactuca sativa L.) perfaz apreferência de 90% dos hidroponicultores, pois apresenta ciclo devida curto, alta produtividade e ampla aceitação no mercado (5, 8).Apesar das vantagens anteriormente citadas, a alface é aindafitopatologicamente pouco estudada no Brasil (18, 25). Infecçõesradiculares encontradas nos cultivos hidropônicos são frequentes e,na maior parte das vezes, causadas por espécies de Pythium,extremamente bem adaptadas ao ambiente aquático, onde encontramcondições ideais para a sobrevivência e disseminação de seus esporos,não apresentando normalmente especificidade de hospedeiro (7, 19,22, 25). Normalmente causam prejuízos consideráveis nos cultivoshidropônicos, sendo responsáveis pelo abandono da atividade demuitos produtores, sendo segundo Vanachter (27), uma grande limitaçãoà expansão mundial da técnica NFT (Nutrient Film Technique).

Em cultivo hidropônico, as espécies de Pythium mais comumentecitadas em literatura são: P. aphanidermatum (Edson) Fitzp, P.dissotocum Drechsler, P. intermedium de Bary, P. irregulare Buisman,P. myriotylum Drechsler, P. sylvaticum Campbell & Hendrix, P. ultimumTrow e Pythium do grupo F (7, 15, 24, 26).

Estudos que abordam a presença de Pythium em sistemashidropônicos são ainda escassos no Brasil, embora a presença de seusrepresentantes venha sendo detectada há algum tempo (23, 24). Teixeiraet al. (25) obtiveram doze isolados de Pythium de raízes de plantas dealface cultivada em diversos sistemas hidropônicos do estado de SãoPaulo e da Bahia. Dentre estes, os isolados pertencentes à P. helicoidesDrechsler foram os mais patogênicos, ocasionando 100% demortalidade das sementes logo após a germinação. Pinto et al. (16)estudaram a reação de cultivares de alface à podridão de raízes causadapor P. helicoides em sistemas hidropônicos, concluindo que as cultivarescrespas apresentaram menor número de plântulas sadias e menorcomprimento das raízes e dos hipocótilos, mostrando maiorsuscetibilidade ao patógeno. Patekoski & Pires-Zottarelli (17, 18)evidenciaram a patogenicidade de P. aphanidermatum e P. dissotocumem diferentes cultivares de alface. Em continuidade, analisaram a açãodo produto Biotrich em duas das variedades, consideradas mais emenos suscetíveis ao patógeno mais agressivo, P. aphanidermatum,demonstrando que o produto in vitro não promoveu o crescimentodas plantas, mas foi efetivo no controle do patógeno.

Tendo em vista que a alface é uma das hortaliças mais utilizadas naalimentação dos brasileiros, da frequente presença de isolados dePythium como importantes patógenos em hidroponia, das significantesperdas verificadas em cultivos hidropônicos e da escassez de dadossobre o assunto no Brasil, o presente estudo teve como objetivo avaliaro potencial patogênico de Pythium middletonii Sparrow e P. dissotocum

Drechsler, espécies isoladas de cultivos hidropônicos, em diferentescultivares comerciais de alface.

MATERIAL E MÉTODOS

Consultas realizadas na clínica fitopatológica da ESALQ-USP eno Núcleo de Pesquisa em Micologia do Instituto de Botânica pelosagricultores especializados em hidroponia do estado de São Paulopossibilitaram o isolamento e a identificação de Pythium dissotocum(Figura 1) e Pythium middletonii (Figura 2), isolados de raízes necrosadasde rúcula (Eruca sativa L.) hidropônica da região de Taubaté (SP) e dealface hidropônica da região de Pindamonhangaba (SP),respectivamente. O isolamento dos patógenos foi realizado de acordocom metodologia utilizada por Teixeira et al. (25), que consiste nalavagem das raízes necróticas, em água corrente, e posterior transferênciade fragmentos radiculares para meio de cultura, tendo sido utilizado oCMA + p.p.e. (corn-meal ágar DIFCO acrescido de penicilina,pimaricina e sulfato de estreptomicina) (1). Após crescidos, os isoladosforam transferidos para placa de Petri esterilizada adicionando águadestilada esterilizada e duas metades de sementes previamente fervidasde Sorghum sp.

A identificação dos espécimes foi baseada nas característicasmorfológicas dos isolados, como a presença ou não de dilataçõeshifálicas e haustórios; o tamanho e tipo dos zoosporângios; produçãoe formação dos zoósporos; forma, tamanho e posição dos oogônios;tamanho e condição aplerótica ou plerótica dos oósporos e número,forma e origem dos anterídios (2, 6, 12, 19, 28). Os espécimes forampreservados em frascos “Wheaton” em câmara fria, com água destiladaesterilizada (13) e pelo método de Castellani (3) e, em seguida,incorporados à Coleção de Culturas de Algas, Fungos e Cianobactériasdo Instituto de Botânica de São Paulo (CCIBt).

Influência da temperatura sobre o crescimento micelial dosisolados

Após purificação dos isolados, discos de micélio de 6mm diâm.foram retirados e colocados no centro de placas de Petri (90mm)contendo o meio de cultura ágar-água. As placas foram incubadas emcâmaras de crescimento, em 15, 20, 25, 30, 35 e 40ºC, com trêsrepetições por temperatura. As leituras diárias foram realizadas a partirde 24 horas até o crescimento micelial total nas placas, medindo-se odiâmetro das colônias em 4 direções diametralmente opostas, com oauxílio de uma régua milimetrada, desprezando como leitura o dia emos isolados atingiram a extensão máxima da placa (4,5 cm raio), emvirtude de não subestimar a velocidade de crescimento dos mesmos.

Para a análise dos resultados foram considerados os diâmetrosmédios das avaliações, com o estabelecimento da temperatura ideal decrescimento dos isolados sendo realizado por meio de uma equação de2º grau.

Avaliação patogênica in vitro de Pythium middletonii e P.dissotocum em quatro cultivares comerciais de alface

A avaliação da patogenicidade dos espécimes de Pythiummiddletonii e P. dissotocum foi realizada em laboratório, na temperaturaideal para o crescimento da alface, que é em torno de 20ºC (14) e natemperatura ideal de cada isolado. Todos os experimentos foramrealizados com o mesmo lote de cada uma das cultivares, tomando-seo cuidado de se avaliar anteriormente a uniformidade de germinaçãodas sementes.

A metodologia utilizada para a avaliação patogênica in vitro foi a

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Figura 1. Pythium dissotocum. (A) Apressório; (B) Zoosporângio filamentoso não inflado; (C) Oogônio intercalar com anterídio monóclino; (D)Visualização do tubo de fertilização anteridial.

A

C D

B

Figura 2. Pythium middletonii. (A) Apressórios; (B) Formação de oogônio dentro do zoosporângio; (C) Oogônio intercalar com anterídio monóclinoséssil; (D) Oogônios catenulados.

A

D C

B

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descrita em Teixeira et al. (25), na qual sementes de alface (sete sementes/placa), das cultivares Elisa (lisa), Vera (crespa), Mimosa (mimosa) eTainá (americana), após desinfestação superficial com hipoclorito desódio (três partes de água destilada: uma parte de água sanitária –0,625 % de cloro ativo), foram pré-germinadas por 24 horas em papelde filtro umedecido e colocadas na superfície de meio ágar-água, contidoem placas de Petri, a aproximadamente 0,5 cm da borda das mesmas.Em seguida, um disco de 6mm diâm. com micélio dos isolados dePythium crescidos em CMA, foi disposto no centro de cada placa.Placas contendo apenas as sementes de alface em meio de culturaserviram como controle.

O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado,com cinco repetições, sendo cada repetição representada por umaplaca de Petri. A incubação foi realizada por dez dias, segundo a Dra.Liliane D. D. Teixeira (comunicação pessoal), tempo ideal para oaparecimento de sintomatologia, utilizando para isso, câmara decrescimento com fotoperíodo de 12 horas de luz branca. O comprimentodos hipocótilos e das radículas foi mensurado por meio de uma réguagraduada em centímetros, com concomitante avaliação da porcentagemdas plântulas sobreviventes, segundo metodologia utilizada por Pintoet al. (16). Os dados foram analisados estatisticamente, por meio deanálise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, a 5%de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Influência da temperatura sobre o crescimento micelial dosisolados

A influência da temperatura sobre o crescimento micelial dosisolados foi avaliada por meio do crescimento micelial por tempo deincubação (dias) e pela taxa de extensão micelial (cm.dia-1) portemperatura de incubação (ºC). A temperatura demonstrou ser fatorimportante, influenciando nas diferenças obtidas entre o crescimentoideal e máximo dos espécimes estudados, sendo fundamental seestabelecer a temperatura ideal de crescimento para a posterior análisedo potencial patogênico dos mesmos em condições de laboratório,embora se saiba que na natureza os espécimes de Pythium sãofitopatogênicos em ampla gama de temperatura (19, 23).

Em todas as temperaturas avaliadas, observou-se um crescimentomais rápido do isolado de Pythium dissotocum em relação ao de P.middletonii. A temperatura ideal de crescimento de P. dissotocum foide 27ºC e máxima de 35ºC e, de P. middletonii, a temperatura ideal foide 23ºC e a máxima de 30ºC. Não houve crescimento micelial de P.middletonii a partir de 35ºC, enquanto P. dissotocum não cresceu a40ºC (Figura 3).

Em 15ºC, Pythium dissotocum atingiu a extensão máxima das placasem três dias, enquanto P. middletonii desenvolveu-se mais lentamente,atingindo o crescimento total das placas em seis dias de incubação.Nesta temperatura os dois isolados se desenvolveram de forma maisvagarosa, sendo necessário mais tempo de incubação para atingirem aextensão máxima das placas. Em 20, 25 e 35ºC, P. dissotocum atingiuo crescimento total nas placas em dois dias de incubação, enquanto natemperatura de 30ºC o isolado atingiu a extensão máxima das placasem apenas um dia. Para P. middletonii, em 20 e 25ºC, houve aumentona velocidade de crescimento, tendo o isolado atingido o crescimentototal nas placas em quatro e três dias, respectivamente; no entanto,em 30ºC, voltou a se desenvolver mais lentamente, finalizando ocrescimento total nas placas em seis dias de incubação.

A influência da temperatura de incubação sobre a taxa de extensãomicelial diária mostrou a melhor capacidade de P. dissotocum emdesenvolver-se bem em diversas temperaturas em comparação aoisolado de P. middletonii, obtendo as maiores taxas de extensão micelialem todas as temperaturas avaliadas. P. middletonii restringiu-se a umapequena faixa ótima de crescimento que foi entre 20 e 25ºC, visto que,em 15 e 30ºC, o isolado desenvolveu-se mais lentamente.

Tanto para o isolado de P. dissotocum, que não cresceu natemperatura de 40ºC, quanto para o isolado de P. middletonii, que nãocresceu a partir de 35ºC, testes foram realizados transferindo as placasdos isolados não crescidos para as respectivas temperaturas ideais decrescimento. A temperatura de 35ºC para P.middletonii, e 40ºC para P.dissotocum, foram apenas temperaturas de inibição e não de morte,tendo sido observado o crescimento dos mesmos após 10 dias deincubação. Contudo, P.middletonii não sobreviveu na temperatura de40ºC.

Middletoni (12) estudou o efeito de diferentes temperaturas nocrescimento micelial de espécies de Pythium crescidas em CMA, dentreelas de Pythium dissotocum, tendo determinado 28ºC como atemperatura ideal de crescimento, e 34ºC como máxima do isoladoestudado. No entanto, Plaats-Niterink (19), em BCA (batata-cenoura-ágar), verificou que a temperatura ótima de crescimento para P.dissotocum está compreendida entre 20 – 25°C, com máxima de 35ºCe, para P. middletonii, a temperatura ótima está entre 25 – 30ºC, commáxima de 35ºC. Diferenças no crescimento micelial podem ocorrerentre diferentes espécimes de uma mesma espécie de Pythium,principalmente levando-se em consideração os diferentes meios de

Figura 3. Influência da temperatura de incubação sobre a taxa de extensãomicelial diária: Pythium dissotocum (A) e Pythium middletonii (B)

y = -0,007x2 + 0,332x - 2,722R² = 0,969

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Taxa

de

exte

nsão

mic

elia

l (cm

/dia

)

Temperatura de incubação (ºC)

y = -0,0055x2 + 0,2966x - 2,1156 R2 = 0,9328

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Taxa

de

exte

nsão

mic

elia

l (cm

/dia

)

Temperatura de incubação (ºC)

A A

B

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cultura utilizados para este fim.No Brasil, poucos foram os estudos sobre a influência da

temperatura no crescimento micelial de Pythium spp. Teixeira et al.(25) estudaram a influência da temperatura sobre o crescimento micelialde três isolados de Pythium helicoides Drechsler (H1, H2 e H3), cincoisolados pertencentes ao grupo F (F1 a F5) e quatro ao grupo T (T1 aT4), todos provenientes de culturas hidropônicas de alface, concluindoque a faixa de temperatura ótima para o crescimento micelial abrangeudesde 24 a 37ºC para os isolados de P. helicoides e de 21 a 30ºC para osisolados de Pythium pertencentes aos grupos F e T, com exceção deF4, que exibiu ótimo de temperatura entre 25 e 35ºC. Patekoski &Pires-Zottarelli (17) estudando duas espécies de Pythium, P.aphanidermatum e P. dissotocum, isolados provenientes de raízesnecrosadas de tabaco (Nicotiana tabacum L.) e de tomate (Lycopersiconesculentum), respectivamente, estabeleceram 31ºC como temperaturaótima para o isolado de P. aphanidermatum, e 26ºC para o de P.dissotocum, evidenciando que pequena variação ocorre na avaliação datemperatura ótima entre espécimes de uma mesma espécie.

Avaliação patogênica in vitro de Pythium dissotocum e P.middletonii em quatro cultivares comerciais de alface

Em 20ºC, avaliando-se o comprimento da radícula, a cultivarMimosa foi considerada a menos suscetível a P. dissotocum, comdiminuição da radícula em 70% em relação ao controle, enquanto Vera(81%), Tainá (78%) e Elisa (81%) foram as mais suscetíveis, nãohavendo diferenças estatísticas entre o comprimento das mesmas.Quando considerado o comprimento do hipocótilo, Mimosa (43%) eTainá (11%) foram as menos suscetíveis, e Vera (55%) e Elisa (56%)as mais suscetíveis (Tabela 1).

Para o isolado de P. middletonii, quando avaliado o comprimentoda radícula, Vera e Mimosa foram consideradas menos suscetíveis,com diminuição da radícula em 22% e 26%, respectivamente, em relaçãoao controle, e Tainá (41%) e Elisa (37%) as mais suscetíveis aopatógeno. Quanto ao comprimento do hipocótilo, Vera foi consideradaa mais suscetível, com diminuição da radícula em 28% em relação aocontrole, enquanto Mimosa, Tainá e Elisa não diferiram estatisticamentedas testemunhas (Tabela 1).

Avaliando-se o comprimento da radícula, em 20ºC, foi possívelobservar que os tratamentos inoculados com os espécimes de P.dissotocum e P. middletonii, diferiram estatisticamente das testemunhas,

apresentando patogenicidade em relação a todas as cultivares estudadas.Através da visualização da sintomatologia, foi possível verificar,

em todas as cultivares, que o isolado de P. dissotocum foi o maisagressivo, sendo responsável pela inibição da formação de raízes lateraise necrose acentuada da raiz principal. No entanto, para P. middletoniinão foi observada sintomatologia nas cultivares analisadas. Tanto oisolado de P. dissotocum, como o de P. middletonii, não ocasionaram amorte das plântulas inoculadas à 20ºC.

Para P. middletonii, em sua temperatura ideal de crescimento (23ºC),foi verificada uma diminuição significativa das radículas (Vera e Elisa)e hipocótilos (Mimosa e Vera) (Tabela 2), no entanto nenhumasintomatologia de podridão foi verificada.

Para P. dissotocum, a temperatura ideal de crescimento (27ºC), foiresponsável pela baixa porcentagem de plântulas sobreviventes entreas cultivares, sendo que, a porcentagem mais baixa (54%) foi verificadana cultivar Vera, considerada entre as cultivares, a mais suscetível,com a cultivar Mimosa apresentando maior porcentagem de plântulassobreviventes. Com relação ao comprimento das radículas, Mimosafoi considerada a menos suscetível, com diminuição da radícula em61% em relação ao controle, e Tainá (38%) quando analisado ocomprimento dos hipocótilos. Somente a cultivar Mimosa apresentoudiferença significativa com as demais cultivares nos dois últimosparâmetros analisados, ressaltando-se também que nestes parâmetrostodos os tratamentos apresentaram diferenças significativas em relaçãoàs testemunhas (Tabela 3).

A severidade da doença foi significativamente mais elevada natemperatura de 27ºC, mostrando, em todas as cultivares, uma grandeagressividade do espécime, ocasionando inibição da formação de raízeslaterais, necrose das pontas das raízes principais e laterais e, necroseacentuada na raiz principal. As plântulas não inoculadas apresentarammenor desenvolvimento e quantidade de raízes laterais que aquelascultivadas a 20ºC, evidenciando que temperaturas mais altas prejudicamo desenvolvimento de plântulas de alface.

Os parâmetros avaliados (comprimento da radícula, do hipocótiloe plântulas sobreviventes) parecem ter sido apropriados para aavaliação patogênica de espécies de Pythium in vitro. Segundo Teixeiraet al. (25), a massa fresca das plântulas inoculadas não foi um parâmetroadequado para a avaliação da patogenicidade in vitro, evidenciandopouquíssimas diferenças entre os tratamentos.

Pythium middletonii provocou redução no comprimento dasradículas e hipocótilos mesmo na ausência de sintomas de podridãoradicular. Segundo Stanghellini & Kronland (20), essas condições sãoTabela 1. Avaliação do efeito patogênico in vitro de Pythium dissotocum

e P. middletonii, na temperatura de 20ºC, sobre quatro cultivares de alface,com base nos comprimentos de radícula e de hipocótilo (*).

*Letras minúsculas comparam na horizontal e maiúsculas comparam navertical, dentro de cada parâmetro. Médias seguidas da mesma letra nãodiferem entre si em nível de 5% pelo teste de Tukey.

CultivaresMimosa Vera Tainá Elisa

Comprimento de radícula (cm)

Controle 6,34 dC 4,72 bC 3,28 aC 5,68 cCP.dissotocum 1,92 bA 0,88 aA 0,82 aA 1,10 aAP. middletonii 4,66 cB 3,68 bB 1,94 aB 3,58 bB Comprimento de hipocótilo (cm)

Controle 0,84 bB 0,58 aC 0,54 aA 0,50 aBP.dissotocum 0,48 bA 0,26 aA 0,48 bA 0,22 aAP. middletonii 0,80 bB 0,42 aB 0,52 aA 0,48 aB

Tabela 2. Avaliação do efeito patogênico in vitro de Pythium middletonii,na temperatura de 23ºC, sobre quatro cultivares de alface, com base noscomprimentos de radícula e de hipocótilo (*).

*Letras minúsculas comparam na horizontal e maiúsculas comparam navertical, dentro de cada parâmetro. Médias seguidas da mesma letra nãodiferem entre si em nível de 5% pelo teste de Tukey.

Cultivares Mimosa Vera Tainá Elisa

Comprimento de radícula (cm)Controle 5,72 bA 6,16 bB 4,00 aA 5,58 bBP. middletonii 5,24 bA 3,68 bA 3,70 aA 4,22 aA

Comprimento de hipocótilo (cm)

Controle 0,92 bB 0,46 aB 0,44 aA 0,40 aAP. middletonii 0,80 bA 0,34 aA 0,40 aA 0,44 aA

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chamadas de infecções subclínicas e levam a uma redução nodesenvolvimento da planta, sem a exibição de sintomas óbvios dadoença, mas que podem causar prejuízos nos cultivos hidropônicos.

A influência da temperatura nos espécimes de Pythium é um fatorestudado por diversos autores ao redor do mundo (6, 7, 12, 15, 17, 19,

com a expansão dos cultivos hidropônicos, há a necessidade depesquisas visando à obtenção de cultivares de alface crespa com maiorresistência aos patógenos, especialmente a Pythium spp.

Os resultados deste estudo in vitro evidenciam a necessidade deexperimentos adicionais in vivo, de forma a complementar asinformações essenciais para o entendimento do potencial patogênicode espécies de Pythium em cultivares de alface em sistemashidropônicos.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo(FAPESP) pelo auxílio financeiro na forma de concessão de bolsa deMestrado ao primeiro autor (Processo FAPESP 05/52894-9).

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Tabela 3. Avaliação do efeito patogênico in vitro de Pythium dissotocum,na temperatura de 27ºC, sobre quatro cultivares de alface, com base noscomprimentos de radícula e de hipocótilo e na sobrevivência das plântulas (*).

*Letras minúsculas comparam na horizontal e maiúsculas comparam navertical, dentro de cada parâmetro. Médias seguidas da mesma letra nãodiferem entre si em nível de 5% pelo teste de Tukey.

CultivaresMimosa Vera Tainá Elisa

Comprimento de radícula (cm)Controle 4,88 bB 4,22 bB 2,86 aB 4,54 bBP. dissotocum 1,88 bA 0,54 aA 0,76 aA 0,98 aA Comprimento de hipocótilo (cm)Controle 0,88 bB 0,46 aB 0,50 aB 0,50 aBP. dissotocum 0,46 bA 0,24 aA 0,31 aA 0,26 aA Plântulas sobreviventes (%)Controle 100 aA 100 aB 100 aB 100 aAP. dissotocum 89 bA 54 aA 69 abA 86 bA

26) podendo estar relacionada com o crescimento micelial, formaçãodas estruturas reprodutivas, patogenicidade e desenvolvimento dedoenças radiculares. Segundo Ribeiro (20), a temperatura é umparâmetro crítico para o desenvolvimento de propágulos infectivos defitopatógenos.

Ingram & Cook (10) estudaram o efeito da temperatura na incidênciade “damping-off” de pré-emergência em diversos hospedeiros, com P.ultimum var. sporangiferum causando “damping-off” em trigo(Triticum aestivum L.), nas temperaturas compreendidas entre 15 e25ºC, em lentilhas (Lens culinaris Medik.) entre 10 e 25ºC e, emervilhas (Pisum sativum L.) entre 5 e 25ºC. Esses autores concluíramque, a manifestação da doença causada por um mesmo espécime dePythium, depende da temperatura e dos hospedeiros envolvidos. Plaats-Niterink (19) relata, “Quando condições são favoráveis para o fungo,mas não são favoráveis para o hospedeiro, espécies de Pythium podemtornar-se muito patogênicas”. Isto reflete claramente as condiçõesdemonstradas no presente estudo, no qual P. dissotocum, em suatemperatura ideal de crescimento, mostrou uma elevada patogenicidade,em condições relativamente desfavoráveis para o crescimento da alface.

Em estudo realizado por Teixeira et al. (25) ficou evidenciado oefeito da temperatura no potencial patogênico de Pythium spp. nacultivar de alface Verônica, onde isolados de P. helicoides, em 30ºC,foram notadamente os mais patogênicos, ocasionando 100% demortalidade das sementes logo após sua germinação, enquanto a 21ºC,todos os isolados induziram subdesenvolvimento de plântulas,acompanhado ou não de necrose dos tecidos radiculares.

De maneira geral, verificou-se neste estudo que a cultivar crespafoi mais suscetível aos patógenos estudados que as do tipo mimosa elisa, o mesmo tendo sido observado por Pinto et al. (16) em estudocom P. helicoides. Conforme pesquisa realizada na região de Mogi dasCruzes, maior centro paulista de produção de alface, o mercadoconsumidor de folhas crespas gira em torno de 70% no estado de SãoPaulo, evidenciando que a cultivar crespa é uma das mais importantespara o mercado brasileiro (9). Essas informações demonstram que

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