44
TEORIA DO INADIMPLEMENTO 1. CONCEITO A regra é a de que a obrigação nasce para ser cumprida (pacta sunt servanda), através do adimplemento ou pagamento. O inadimplemento é o descumprimento da obrigação assumida, voluntaria ou involuntariamente, do estrito dever jurídico criado entre os que se comprometeram a dar, a fazer ou a se omitir de fazer algo, ou o seu cumprimento parcial, de forma incompleta ou mal feita. Logo, Constitui-se o inadimplemento toda vez que não há o efetivo cumprimento na forma, tempo ou lugar que a lei ou a convenção determinar. Somente quando o não cumprimento resulta de fato que seja imputado ao devedor é que podemos dizer que ele realmente não cumpriu a obrigação. O não cumprimento acarreta a responsabilidade por perdas e danos A inadimplência operar-se no descumprimento das obrigações nas seguintes formas: Obrigações de dar: quando o devedor recusa a entrega, devolução ou restituição da coisa. Obrigações de fazer: quando se deixar de cumprir a atividade devida. Obrigações negativas: quando se executa o ato de que se devia abster. Gera inadimplemento absoluto. Obrigações personalíssimas: quando a obrigação de fazer não é executada pela pessoa determinada, cujas qualidades pessoais são essenciais ao cumprimento da prestação, não podendo ser substituída. Inadimplemento Contratual: é a obrigação que deriva de contrato e quando não cumprida acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos termos do já citado art. 389 do CC (esse artigo é o fundamento legal da responsabilidade civil contratual).

Inadimplemento e Responsabilidade Civil

  • Upload
    natasha

  • View
    528

  • Download
    52

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

TEORIA DO INADIMPLEMENTO

1. CONCEITO

A regra é a de que a obrigação nasce para ser cumprida (pacta sunt servanda), através do adimplemento ou pagamento. O inadimplemento é o descumprimento da obrigação assumida, voluntaria ou involuntariamente, do estrito dever jurídico criado entre os que se comprometeram a dar, a fazer ou a se omitir de fazer algo, ou o seu cumprimento parcial, de forma incompleta ou mal feita. Logo, Constitui-se o inadimplemento toda vez que não há o efetivo cumprimento na forma, tempo ou lugar que a lei ou a convenção determinar.

Somente quando o não cumprimento resulta de fato que seja imputado ao devedor é que podemos dizer que ele realmente não cumpriu a obrigação.

O não cumprimento acarreta a responsabilidade por perdas e danos

A inadimplência operar-se no descumprimento das obrigações nas seguintes formas:

Obrigações de dar: quando o devedor recusa a entrega, devolução ou restituição da coisa.

Obrigações de fazer: quando se deixar de cumprir a atividade devida.

Obrigações negativas: quando se executa o ato de que se devia abster. Gera inadimplemento absoluto.

Obrigações personalíssimas: quando a obrigação de fazer não é executada pela pessoa determinada, cujas qualidades pessoais são essenciais ao cumprimento da prestação, não podendo ser substituída.

Inadimplemento Contratual: é a obrigação que deriva de contrato e quando não cumprida acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos termos do já citado art. 389 do CC (esse artigo é o fundamento legal da responsabilidade civil contratual).

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Inadimplemento Extracontratual: é a obrigação que não deriva de contrato, mas de infração ao dever de conduta (dever legal) imposto genericamente no art. 927 do CC. Encontra o seu fundamento legal no art. 186, do mesmo diploma.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Page 2: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

2. ESPÉCIES DE INADIMPLEMENTO

A inadimplência pode ser:

Absoluta: quando a obrigação não foi cumprida e nem poderá ser de forma útil ao credor. As obrigações de não fazer sempre geram inadimplemento absoluto. Será:

o Total: quando concernir à totalidade do objeto;

o Parcial: quando a prestação compreender vários objetos e um ou mais forem

entregues, enquanto outros, por exemplo, perecerem.

Relativa: no caso de mora do devedor, ou seja, quando ocorre cumprimento imperfeito da obrigação, com inobservância do tempo, lugar e forma convencionados (CC, art. 394). Em regra, as obrigações de dar e fazer geram inadimplemento relativo, pois podem ser cumprida ainda. Só resultará em inadimplemento absoluto quando houver impossibilidade no cumprimento por parte do devedor ou quando o credor provar que não lhe serve mais o adimplemento da obrigação.

3. CONSEQUÊNCIAS DA INADIMPLÊNCIA

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

A correção monetária é um componente indestacável do prejuízo a reparar, retroagindo ao próprio momento em que a desvalorização da moeda principiou a erodir o direito lesado. Por essa razão, deve ser calculada a partir do evento.

O pagamento dos juros e da verba honorária, em contrapartida, já é previsto no estatuto processual civil e, segundo a jurisprudência, os valores devem integrar o montante da indenização, mesmo que não sejam pleiteados na inicial (Súmula 254 do STF).

O artigo acima pressupõe o não cumprimento voluntário da obrigação, ou seja, culpa. A princípio, pois, todo inadimplemento presume-se culposo, salvo se tratando de obrigação concernente a prestação de serviço se esta for de meio, e não de resultado. Se for obrigação de meio, a responsabilidade, embora contratual, deverá ser provada. Nos demais casos, cabe ao inadimplente elidir tal presunção, demonstrando a ocorrência do fortuito ou força maior (CC, art. 393).

PERDAS E DANOS

Nas hipóteses de não cumprimento da obrigação (inadimplemento absoluto) e de cumprimento imperfeito, com inobservância do modo e do tempo convencionados (mora), a consequência é a mesma: o nascimento da obrigação de indenizar o prejuízo causado ao credor.

A satisfação das perdas de danos, em todos os casos de não cumprimento culposo da obrigação, tem por finalidade recompor a situação patrimonial da parte lesada pelo inadimplemento contratual. Por essa razão, devem elas ser proporcionais ao prejuízo efetivamente sofrido. Se, em vez do inadimplemento, houver apenas mora, sendo, portanto,

Page 3: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

ainda proveitoso para o credor o cumprimento da obrigação, responderá o devedor pelos prejuízos decorrentes do retardamento, nos termos do art. 395, do CC.

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos alores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.

As perdas e danos, segundo dispõe o art. 402 do CC, abrangem, salvo as exceções expressamente previstas em lei, além do que o credor efetivamente perdeu e o que razoavelmente deixou de lucrar.

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

INADIMPLEMENTO ABSOLUTO

Ocorre quando a obrigação não foi cumprida nem poderá sê-lo de forma útil ao credor. Mesmo que a possibilidade de cumprimento ainda exista, haverá inadimplemento absoluto se a prestação tornou-se inútil ao credor.

Exemplo: se alguém contrata uma orquestra para um baile e ela deixa de comparecer, de nada adiantará para o organizador da festa (credor) que a orquestra disponha-se a apresentar-se no dia seguinte, uma vez que todos os convidados já estavam presentes na data agendada, garantindo ao credor o direito de ser indenizado.

A inadimplência poderá ser:

I. Não Imputável ao devedor

Não é de responsabilidade do devedor (ou há excludente que afaste a responsabilidade de devedor). O devedor NÃO deu causa ao descumprimento do vínculo. O efeito jurídico é a resolução da obrigação, que retornará ao “statu quo”.

II. Imputável ao devedor

Aqui pode haver culpa ou dolo (responsabilidade subjetiva). O credor pode optar pela resolução ou pelo cumprimento forçado mais perdas e danos.

INADIMPLEMENTO RELATIVO OU MORA

A inadimplência relativa, ou cumprimento imperfeito, ocorre quando a obrigação, apesar de cumprida, dá-se de maneira negligente, inadequada e sem os cuidados necessários, ensejando-se a reparação dos danos adicionais ou suplementares. Isso porque o devedor não está obrigado a cumprir somente o objeto da obrigação, mas também a cumpri-la

Page 4: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

diligentemente, efetuando a prestação devida de um modo completo e específico, no tempo e lugar determinado.Neste caso, como o inadimplemento é parcial, a prestação não é impossível de ser realizada, não impedindo que a obrigação seja cumprida com utilidade para outra parte.

Logo, mora é o retardamento ou o imperfeito cumprimento da obrigação, de acordo com o art. 394 do CC:

Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Configura-se a mora não só quando há o retardamento, mas também quando a obrigação se dá na na data estipulada, porém de modo imperfeito, ou seja, em lugar ou forma diversa da convencionada ou estabelecida em lei. Para a sua existência, basta que um dos requisitos mencionados no aludido art. 394 esteja presente, não se exigindo a ocorrência dos três.

Nem sempre a mora deriva de descumprimento de convenção, podendo decorrer também de infração à lei, como na prática de ato ilícito (CC, art. 398).

MORA DO CREDOR

Configura-se quando ele se recusa a receber o pagamento no tempo e lugar indicados no título constitutivo da obrigação, exigindo-o por forma diferente ou pretendo que a obrigação se cumpra de modo diverso. É a falta de cooperação com o devedor para que o adimplemento possa ser feito do modo como a lei ou a convenção estabelecer (art. 394, CC).Se o credor injustificadamente “omite a cooperação ou colaboração necessária de sua parte, se, por exemplo, não vai e nem manda receber a prestação ou se recusa a recebe-la ou a passar recibo, a obrigação fica por satisfazer. Verifica-se, então, um atraso no cumprimento não atribuível ao devedor e sim ao credor, incorrendo este em mora.

Como a mora do credor não exonera o devedor, que continua obrigado, tem este legítimo interesse em solver a obrigação e em evitar que a coisa se danifique para que não se lhe impute o dolo.

Requisitos

São pressupostos para caracterizar a mora do credor:

Vencimento da obrigação: antes disso a prestação não é exigível e, em consequência, o devedor não pode ser liberado.

Oferta da prestação: é necessário que o retardamento da prestação provenha de um fato que seja imputável ao credor, ou seja, que a prestação lhe tenha sido oferecida e ele a tenha recusado ou não tenha prestado a necessária colaboração para a sua efetivação.

Recusa injustificada em receber: não basta somente a recusa. Para que o credor incorra em mora, é necessário que ela seja objetivamente injustificada.

Constituição em mora, mediante a consignação em pagamento: dispõe o 337 do CC que cessam, para o consignante, os juros da dívida e os riscos, contanto que o deposite se efetue. Se o devedor não consignar, continuará pagando os juros da dívida

Page 5: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

que foram convencionados. Em regra, os riscos pela guarda da coisa cessam com a mora do credor (CC, art. 400).

Efeitos

Estatui o art. 400 do CC:

Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

Não responsabilidade do devedor pela conservação da coisa: se o devedor não agir com dolo ante a mora do credor, isentar-se-á da responsabilidade pela conservação da coisa objeto do pagamento, ficando liberado dos juros e da pena convencional. o credor arcará com o ressarcimento das despesas decorrentes de sua conservação. Procede com dolo o devedor que, em face da mora do credor, deixa a coisa em abandono. Exige a lei que ele tenha um mínimo de cuidados com a sua conservação, pois lhe assegura o direito ao reembolso das despesas que efetuar.

Responsabilidade do credor pelo pagamento das despesas efetuadas pelo devedor: se o credor incidir em mora, a lei o obriga a ressarcir as despesas efetuadas pelo devedor na pendencia da abstenção. Estas são as necessárias, previstas no art. 96, § 3º do CC, destinadas à conservação do bem (art. 400, CC). Enquanto não for ressarcido, o devedor tem o direito de retenção sobre a coisa. Faculta a lei também ao devedor consignar o pagamento.

Sujeição do credor ao recebimento da coisa pela estimação mais favorável ao devedor: o credo em mora responde ainda por eventual oscilação do preço tenho de

receber o objeto pela estimação mais favorável ao devedor. Se, por exemplo, aumento o preço da arroba do gado no mercado, arcará com a diferença. Evidentemente, não poderá ser beneficiado por sua culpa se houver desvalorização da coisa no período de mora.

MORA DO DEVEDOR

O devedor estará em mora toda vez que não cumpre a obrigação no tempo, na forma e no lugar previstos em Lei. A impontualidade deve decorrer de fato imputável ao devedor (não fazendo fato imputável, não estará em mora). Pode ser de duas espécies:

a) Mora ex re (em razão de fato previsto na lei);b) Mora ex persona

Mora Ex Re

É em razão de fato previsto em lei. O devedor incorre automaticamente, sem necessidade de qualquer ação por parte do credor, o que sucede:

a. Quando a prestação deve realizar-se em um termo prefixado (data) e se trata de divida portável. O devedor incorrerá em mora ipso iure (automaticamente) desde o momento do vencimento;

Page 6: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

b. Nos débitos derivados de um ato ilícito contratual, em que a mora começa no exato momento da prática do ato;

c. Quando o devedor houver declarado por escrito que não pretende cumprir a prestação.

Obs.: dá-se a mora ex persona em todos os demais casos, sendo necessário interpelação ou notificação por escrito para a constituição em mora.

Acarreta a mora:

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.

Efeitos da Mora

Segundo a Súmula n. 54 do STJ:

Responsabilidade extracontratual: os juros moratórios fluem a partir do evento danoso (art. 398, CC).

Responsabilidade Contratual: contam-se os juros de mora desde a citação inicial (CC, art. 405) Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Mora nas obrigações negativas

Nas obrigações negativas, o devedor estará em mora desde o dia que praticou o ato que não deveria executar art. 390, do CC.

Mora Ex Persona

Não havendo termo, ou seja, data estipulada, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial, ou seja, depende de providência do credor.

Art. 397, Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

Ex.: se no contrato de comodato foi celebrado por dois anos, vencido esse prazo, o comodatário incorrerá em mora de pleno direito (ex re), ficando sujeito a ação de reintegração de posse, como esbulhador. Se não foi fixado prazo ou duração do comodato, a mora configurará depois de interpelado ou notificado pelo comodante, com o prazo de trinta dias (ex persona). Somente depois de vencido esse prazo será considerado esbulhador.

Requisitos

São pressupostos da mora solvendi:

Page 7: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Exigibilidade da prestação: Ou seja, o vencimento da dívida líquida e certa. É necessário que a prestação não tenha sido realizada no tempo e modo devidos, mas ainda possa ser efetuada com proveito para o credor. Considera-se líquida a dívida cujo montante ainda tenha sido apurado. Será certa quando indiscutível a sua existência e determinada a sua prestação.

Inexecução culposa: deve ser por fato imputável ao devedor, relembrando que o inadimplemento, por si, faz presumir a culpa do devedor, salvo prova por ele produzida de caso fortuito ou força maior.

Constituição em mora: este requisito somente se apresenta quando se trata da mora ex persona, sendo dispensável e desnecessário se for ex re, pois o dia do vencimento já interpela o devedor.

Efeitos

Os principais efeitos são:

Responsabilização por todos os prejuízos causados ao credor: está no art. 395 do CC;

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

O credor pode exigir, além da prestação, juros moratórios, correção monetária, cláusula penal e reparação de qualquer outro prejuízo que houver sofrido, se optar por não enjeitá-la, no caso de ter-se-lhe tornado inútil, reclamando perdas e danos:

Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.

O devedor em mora, além de cumprir com a prestação devida, deve indenizar o chamado dano moratório.

Perpetuação da obrigação: o devedor que estiver em mora responderá pela impossibilidade da obrigação, ainda que decorrente de caso fortuito ou de força maior. Se a impossibilidade provocada pelo fortuito surgisse antes da mora, a obrigação do devedor se resolveria sem lhe acarretar ônus. Com isso, percebemos que a mora do devedor acarreta na inversão do risco.

Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

A última parte do artigo é a escusa admissível, pois o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse desempenhada em tempo.

Por exemplo: o devedor está em mora na entrega de um cavalo, porém ele vem a falecer durante o atraso em função de doença genética, ou seja, independente de o devedor estar em mora ou não, o cavalo iria falecer.

Page 8: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

13/04/2012

1. PERDAS E DANOS

É todo o prejuízo sofrido pelo credor em função do inadimplemento do devedor. O patrimônio deste responde pelos prejuízos. Se o devedor não tiver bens, os prejuízos não serão ser satisfeitos. Art. 389, CC. O dano do contraente poderá ser material (patrimonial), por atingir e diminuir o patrimônio do lesado, ou simplesmente moral (extrapatrimonial), ou seja, sem repercussão na órbita financeira deste. O CC ora usa a expressão dano, ora prejuízo, ora, ainda, perdas e danos.

Dano emergente e lucro cessante

Dispõe o art. 402 do CC:

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. Compreende, pois, tanto o dano emergente quanto o lucro cessante e devem cobrir todo o prejuízo experimentado pela vítima.

Assim, o dano, em toda a sua extensão, há que abranger aquilo que efetivamente se perdeu e aquilo que se deixou de lucrar: o dano emergente e o lucro cessante.

Dano emergente: é o efetivo prejuízo, a diminuição patrimonial sofrida pela vítima. Lucro cessante: é a frustração da expectativa de lucro, a perda de um ganho

esperado. Apura-se pericialmente o lucro que o lesado obtinha por dia e chega-se ao quantum que ele deixou de lucrar.

Quem pleiteia perdas e danos pretende, pois, obter indenização completa de todos os prejuízos sofridos e comprovados. Há casos em que o valor desta já vem estimado no contrato, como acontece quando se pactua a cláusula penal compensatória.

O STF proclamou que a expressão “o que razoavelmente deixou de lucrar”, utilizada pelo CC, “deve ser interpretada no sentido de que, até prova em contrário, se admite que o credor haveria de lucrar aquilo que o bom senso diz que lucraria, existindo a presunção de que os fatos se desenrolariam dentro do seu curso normal, tendo em vista os antecedentes”.

A palavra efetivamente, utilizada no referido art. 402, significa que dano emergente não pode ser presumido, devendo ser provado. O dano indenizável deve ser certo e atual. Não pode ter caráter hipotético ou futuro.

Acrescenta o art. 403 do CC:

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

Page 9: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Trata-se de aplicação da teoria dos danos diretos e imediatos, formulada a proposito da relação de causalidade, que deve existir para que se caracterize a responsabilidade do devedor. Logo, este só responde tão só pelo danos que se prendem a seu ato por vínculo de necessariedade, e não pelos resultantes de causas estranhas ou remotas. Portanto, o dolo não agrava a indenização, como consequência, a fixação do dano ressarcível é idêntica à que teria a inexecução resultante de mera culpa.

2. CORREÇÃO MONETÁRIA

Obrigações de pagamento em dinheiro

Dispõe o art. 404 do CC:

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.

Se o credor não chegou a ingressar em juízo, o devedor deverá pagar, além da multa, se estipulada, os juros moratórios e eventuais custas extrajudiciais, como, por exemplo, as despesas com o protesto dos títulos ou com as notificações efetuadas pelo Cartório de Títulos e Documentos.

Se houve a necessidade de ajuizar a competente ação de cobrança de seu credito, o credor fará jus, ainda, ao reembolso das custas processuais, bem como à verba honorária, nos termos do art. 20 do CPC.

Acrescenta o parágrafo único do art. 404 do CC:

Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.

O devedor em mora ou inadimplente responde também pela correção monetária do débito, segundo índices oficiais (CC, art. 404). A regra é salutar, pois evita o enriquecimento sem causa do devedor em detrimento do credor, uma vez que a referida atualização não constitui nenhum plus, mas apenas modo de evitar o aviltamento da moeda em razão da inflação e do atraso no pagamento. Para corrigir o valor deve se aplicar o índice de correção de todo o período, seja ele negativo ou positivo, em matéria de perdas e danos. Não tem um conteúdo indenizatório.

O STF proclamou na súmula 562 que “na indenização de danos decorrentes de ato ilícito cabe a atualização de seu valor, utilizando-se, dentre outros critérios, dos índices de correção monetária”. Várias súmulas do STF determinam o pagamento, pelo devedor, da correção monetária devida pelo atraso na solução da dívida.

Por fim, proclama o art. 405 do CC:

Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Tal regra aplica-se somente aos casos de inadimplemento e responsabilidade contratual, pois, nas obrigações provenientes de ato ilícito (responsabilidade extracontratual), “considera-se o devedor em mora, desde que o praticou (CC, art. 398).

Page 10: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

3. JUROS LEGAIS

Os juros são os rendimentos do capital. Representam o pagamento pela utilização de capital alheio e integram a classe das coisas acessórias (CC, art. 95). O juro é o preço do uso do capital. Ele, a um tempo, remunera o credor por ficar privado de seu capital (juros remuneratórios) e paga-lhe o risco em que incorre de não de não recebê-lo de volta (juros moratórios). Têm por objetivo onerar, acrescer o valor pecuniário. Os juros vinculados às perdas e danos são denominados de juros moratórios.

Os juros podem ser se outra categoria (que nada tem a ver com as perdas e danos) e são chamados de juros compensatórios ou remuneratórios. O objetivo não é trazer uma majoração com conteúdo indenizatório e sim, remunerar credor por ter aberto mão de um capital seu em benefício de um terceiro.

Espécies

Juros compensatórios: também chamados de remuneratórios ou juros-frutos, são devidos como compensação pela utilização de capital pertencente a outrem. Resultam de uma utilização consentida de capital alheio.

Juros moratórios: são incidentes em caso de retardamento na sua restituição ou de descumprimento de obrigação. Os primeiros devem ser previstos no contrato, estipulados pelos contratantes, não podendo exceder à taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (CC, 406 e 591), permitida somente a capitalização anual (art. 591, parte final).

Juros convencionais: são os ajustados pelas partes, de comum acordo, ou seja, resultam de convenção por elas celebrada.

Juros legais: são previstos ou impostos pela lei.

Juros Compensatórios

Os juros compensatórios são, em regra, convencionais, pactuados no contrato pelas partes conforme a espécie e natureza da operação econômica realizada, mas podem também derivar da lei ou da jurisprudência.

Juros Moratórios Convencionais e Legais

Os moratórios, que são devidos em razão do inadimplemento e correm a partir da constituição em mora, podem ser convencionados ou não, sem que para isso exista limite previamente estipulado na lei. No primeiro caso, denominam-se moratórios convencionais. A taxa, se não convencionada, será a referida pela lei.

Dispõe o art. 406 do CC:

Page 11: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Mesmo que os juros moratórios não sejam convencionados, serão sempre devidos à taxa legal que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Denominam-se, nesta hipótese, moratórios legais. Preceitua o art. 407 do CC:

Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.

Os juros moratórios, diferentemente do que ocorre com os compensatórios, são previstos como consequência do inadimplemento ou inexecução do contrato ou de simples retardamento.

Aplicação dos juros sem taxa estipulada ou por determinação legal

1) Juros Moratórios Convencionais: são os que decorrem de convecção entre as partes, não existindo para isso limite previamente estipulado em lei. No entanto, a lei de Usura determina 1% ao mês, pois mesmo que o Código Civil de 2002 não tenha estipulado um percentual, a lei de Usura continua em vigor (lei geral posterior não altera lei especial anterior).

2) Juros Moratórios Legais: Advêm da própria Lei, ou seja, não exigem pactuação. Aplica-se porque a lei determina. A taxa que deve ser aplicada é aquela estipulada para pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Há três interpretações sobre o tema:

a. A primeira corrente entende que o percentual dos juros legais estabelecido pelo Art. 406 do novo Código Civil é o de 1% (um por cento) ao mês, uma vez que este diploma legal deve ser interpretado em conjunto com o Art. 161, § 1º, do CTN. Para os seguidores dessa ideia, a taxa de 1% ao mês é a que melhor reflete a segurança jurídica e o equilíbrio nas relações obrigacionais, uma vez que para estes, a taxa SELIC não se apresenta como critério transparente ou de fácil compreensão que possa ser aplicável às obrigações civis.

b. Há a segunda corrente, segundo a qual a taxa de juros legais, atualmente, é calculada pela SELIC, tendo em vista que o citado artigo 406, ao remeter à “taxa que estiver em vigor”, expressa a opção do legislador em adotar uma taxa de juros variável, que poderá ser modificada de tempos em tempos. No entanto, a Selic leva em consideração a correção monetária, ou seja, o devedor a pagaria duas vezes.

c. O STJ entende que ou se aplica a taxa Selic SEM a correção monetária ou o 1% previsto na Lei de Usura.

Page 12: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

19/04/12

4. CLÁUSULA PENAL

É a obrigação acessória pela qual se estipula pena ou multa destinada a evitar o inadimplemento da principal ou o retardamento de seu cumprimento. É também denominada pena convencional ou multa contratual. Adapta-se aos contratos em geral e pode ser inserida também nos negócios jurídicos unilaterais, como o testamento, para compelir, por exemplo, o herdeiro a cumprir fielmente o legado.

Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.

É um reforço ao pacto obrigacional, com finalidade de fixar previamente a liquidação de eventuais perdas e danos devidas por quem descumpri-lo. Pode ser estipulada conjuntamente com a obrigação principal ou em ato posterior (CC, art. 409), sob forma de adendo. Embora geralmente seja fixada em dinheiro, algumas vezes toma outra forma, como entrega de uma coisa, a abstenção de um ato ou a perda de algum benefício, por exemplo, de um desconto.

Funções da Cláusula Penal

Tem dupla função:

Meio de Coerção: visa intimidar o devedor para cumprir a obrigação e, assim, não ter de pagá-la;

Prefixação das Perdas e Danos (Indenização): visa o ressarcimento devido em razão do inadimplemento do contrato.

Com a estipulação da cláusula penal, expressam os contratantes a intenção de livrar-se dos incômodos da comprovação dos prejuízos e de sua liquidação. A convenção que estabeleceu pressupõe a existência de prejuízo decorrente do inadimplemento e prefixa o seu valor. Desse modo, basta ao credor provar o inadimplemento, ficando dispensado da prova do prejuízo, para que tenha direito à multa. É o que proclama o art. 416 do CC:

Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo.

Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente. Indenização Suplementar

O devedor não pode eximir-se de descumprir a cláusula penal a pretexto de ser excessiva, pois o seu valor foi fixado de comum acordo, em quantia reputada suficiente para reparar eventual prejuízo decorrente de inadimplemento. Da mesma forma não pode o credor pretender aumentar o seu valor a pretexto de ser insuficiente.

Preceitua o art. 408 do CC:

Page 13: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora.

A cláusula penal é a prefixação das perdas e danos resultantes de culpa contratual apenas. Assim, se há outros prejuízos decorrentes de culpa extracontratual, o seu ressarcimento pode ser pleiteado, independentemente daquela.

Valor da Cláusula Penal

A simples alegação de que a cláusula penal é elevada não autoriza o juiz a reduzi-la. Porém, sua redução pode ocorrer em dois casos:

Quando ultrapassar o limite legal: o limite legal, mesmo sendo compensatória, é o valor da obrigação legal, que não poder ser excedido pelo que foi estipulado naquela. Dispõe o art. 412 do CC:

Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal.

Se isso acontecer, o juiz determinará a sua redução, não declarando a ineficácia da cláusula, mas somente o excesso.

Nas hipóteses do art. 413 do CC (redução equitativa da penalidade): apesar de irredutibilidade ser uma das características da cláusula penal, por representar a fixação antecipada das perdas e danos, de comum acordo, dispõe o art. 413 do CC:

Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.

Efeitos da Cláusula Penal

Cláusula Penal Compensatória: é estipulada na hipótese de total inadimplemento da obrigação, em geral, é de valor elevado, igual ou quase ao da obrigação principal. Assim preceitua o art. 410 do CC:

Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.

O dispositivo proíbe a cumulação de pedidos. A alternativa que se abre para o credor é:

a. Pleitear a pena compensatória: corresponde à fixação antecipada dos eventuais prejuízos;

b. Postular o ressarcimento das perdas e danos: arcando com o ônus de prover o prejuízo;

c. Exigir o cumprimento da prestação.

A cumulação é proibida, pois em qualquer desses casos o credor obtém o ressarcimento integral, sem que ocorra o bis in idem.

A expressão “a beneficio do credor” significa que a escolha de uma das alternativas compete ao credor e não ao devedor. Não pode este dizer que prefere pagar o valor

Page 14: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

da cláusula penal a cumprir a prestação. Quem escolhe a solução é aquele, que pode optar por esta última, se desejar.

Cláusula Penal Moratória: é destinada a assegurar o cumprimento de outra cláusula determinada. Serve para evitar o retardamento, a mora. Assim preceitua o art. 411 do CC:

Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

Como, neste caso, o valor da pena convencional costuma ser reduzido, o credor poderá cobrá-la cumulativamente com a prestação não satisfeita.

20/06/2012

Questões dadas em aula.

26/04/2012

Tirou dúvidas. 27/06/2012

Prova 01.

03/05/2012

Cláusula Penal e Astreintes

Astreintes é a multa coercitiva que o juiz pode impor nas chamadas ações cominatórias.

Cláusula Penal e Arras

As duas exigem convenção. As duas tem função indenizatória.

5. ARRAS

É a quantia ou coisa entregue por um dos contraentes ao outro, como confirmação do acordo de vontades e princípio do pagamento.

Tem o escopo de firmar a presunção de acordo final e tornar obrigatório o ajuste; ou ainda, excepcionalmente, com o propósito de assegurar, pra cada um dos contraentes, o direito de arrependimento.

Funções das Arras

Possui uma tríplice função: a de confirmar o contrato, tornando-o obrigatório; a de servir de prefixação das perdas e danos quando convencionado o direito de arrependimento e de atuar como começo do pagamento.

Page 15: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

É o que preceitua o art. 417 do CC:Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

O sinal constitui princípio do pagamento quando a coisa entregue é parte ou parcela de objeto do contrato, ou seja, é do mesmo gênero do restante a ser entregue.

Espécies

São de duas espécies:

a) Confirmatórias;b) Penitenciais.

Confirmatórias

A principal função é confirmar o contrato, que se torna obrigatório após a sua entrega. Estas provam o acordo de vontades, não mais sendo lícito a qualquer dos contratantes rescindilo unilateralmente. Quem o fizer responderá por perdas e danos, nos termos dos arts. 418 e 419 do CC.

Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.

Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

Observa-se que as arrasa representam o mínimo de indenização e que pode ser pleiteada a reparação integral do prejuízo. Não havendo nenhuma estipulação em contrário, as arras consideram-se confirmatórias.

Penitenciais

As partes podem convencionar o direito de arrependimento. Neste caso, as arras denominam-se penitenciais, porque atuam como pena convencional, como sanção à parte que se vale dessa faculdade. Preceitua o art. 420 do CC:

Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar.

Acordado o arrependimento, o contrato torna-se resolúvel, respondendo, porém, o que se arrepender pelas perdas e danos prefixados modicamente pela lei: perdas do sinal dado ou sua retificação em dobro. A duplicação ocorre para que o inadimplente devolva o que recebeu e perca outro tanto.

Page 16: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Não se exige prova de prejuízo real. Contudo, não se admite a cobrança de outra verba a titulo de perdas e danos, ainda que a parte inocente tenha sofrido prejuízo superior ao valor do sinal.

04/05/2012

INADIMPLEMENTO E PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

A boa-fé pode exercer função de ampliação dos direitos do credor, como pode ter situações em que a boa-fé, ao incidir no vínculo obrigacional, pode acabar restringindo os direitos do credor.

O objetivo é o mesmo, impor as partes o dever comportamental de cooperação mútua, de lealdade no desenvolvimento do vínculo.

a) Inadimplemento antecipado: a boa-fé surge e ao incidir, amplia o direito do credor. Acontece toda vez que um dos contratantes em um negócio jurídico deixa de cumprir com a sua obrigação, manifestando-se a sua inércia, mesmo nos casos em que o termo vinculado à obrigação não for implementado. Isso configura uma infração aos ditames da boa-fé objetiva, representando uma conduta não cooperativa e sem lealdade por parte do devedor. Frente a isso, o juiz pode resolver o vínculo negocial acrescendo perdas e danos. Ex.: adquire um apto. na planta e na data que deveria ser entregue, o credor prova que a obra está demasiadamente atrasada.

i. Exceção do contrato não cumprido: os contratos podem ser bilaterais, ou seja, é aquele contrato que estabelece para ambos os contratantes, obrigações principais recíprocas, melhor dizendo, uma é causa da outra (contrato de compra e venda por ex). Enquanto as partes não cumprirem com a integralidade das suas obrigações, não poderão alegar e buscar os efeitos do inadimplemento da parte oposta.

Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro.

b) Adimplemento substancial: a boa-fé ao incidir, acaba restringindo o direito do credor. Existência de uma obrigação, de um vínculo obrigacional, que se desenvolve de forma diferida, sendo que após o devedor já ter cumprido boa parte da sua obrigação, ele se torna inadimplente. Entretanto, por ter sido cumprida a maior parte da obrigação, o juiz pode restringir o direito do credor em optar pela resolução do negócio ou cumprimento forçado, determinando que primeiro se utilize da opção do cumprimento forçado sob pena de infração aos ditames da boa fé-objetiva. O Código Civil de 2002 não previu, formalmente, o adimplemento substancial. Sua aplicação vem se realizando com base nos princípios da boa-fé objetiva (CC/02, art. 422), da função social dos contratos (CC/02, art. 421), da vedação ao abuso de direito (CC/02, art. 187) e ao enriquecimento sem causa (CC/02, art. 884). O adimplemento substancial não permite, por exemplo, a resolução do vínculo contratual se houver cumprimento significativo, expressivo das obrigações assumidas. Avalia, portanto, o grau de "descumprimento" da obrigação em toda sua extensão, e não de maneira isolada ou com base na literalidade de certas cláusulas contratuais ou disposições legais que, num juízo apressado, poderiam autorizar a resolução do contrato. Nesse contexto, se ínfimo, insignificante ou irrisório o "descumprimento" diante do todo obrigacional não há de se decretar a resolução do contrato, de maneira mecânica e autômata, sobretudo se

Page 17: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

isso conduzir à iniquidade ou contrariar os ideais de Justiça. O adimplemento substancial atua, portanto, como instrumento de equidade diante da situação fático-jurídica subjacente, permitindo soluções razoáveis e sensatas, conforme as peculiaridades do caso.

10/05/2012

CORREÇÃO DA PROVA

Questão 01: sim, ele é obrigado ao pagamento, pois ocupa o lugar de terceiro interessado, tendo um vinculo com o credor, apesar de ser responsável e não o titular da dívida, tem o dever de pagar. Como há divergência entre o valor cobrado e o valor que o devedor acredita que deva pagar, este deverá fazer o pagamento através da consignação em pagamento (depósito judicial), pagando o valor que acha devido, cabendoao juiz decidir se a parcela é ou não devida.

Questão 02: o credor não está obrigado a receber prestação distinta, apesar de mais valiosa, de acordo com o preceito do art. 313, do CC.

Questão 03: não pode ser a letra “a”, pois é credor aparente e não de má-fé, ele pode ou não estar de má-fé. O terceiro não interessado não se sub-roga nos direitos do credor. Reembolso é sinônimo de regresso.

Questão 04:V – as dívidas portáveis são pagas no domicílio do credor.F – só gera inadimplemento absoluto.V – Sim, é presunção é verdadeira. F – É só na de execução continuada.

RESPONSABILIDADE CIVIL

1. Fonte obrigacional

A responsabilidade civil é vista como uma fonte obrigacional, ou seja, origina uma obrigação. Gera para o devedor a obrigação de indenizar o credor de todos os danos que aquele tiver causado a esse. Temos que identificar a espécie de responsabilidade civil (contratual ou extracontratual) para verificar se há todos os pressupostos que a caracterizam.

2. Espécies:

Normalmente a doutrina divide em:

a. Responsabilidade Civil Contratual: exige um vínculo pré-existente entre as partes, já estando o credor e o devedor vinculados, advindo daí prestações, deveres anexos, etc. A responsabilidade irá decorrer do descumprimento do que foi estabelecido no vínculo obrigacional – agregado a todos os pressupostos –, surgindo, então, a obrigação de indenizar. O dano é posterior ao vínculo.

Page 18: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

b. Responsabilidade Civil Extracontratual: não vamos identificar aqui o vínculo prévio. Este irá surgir através do dano que decorre da infração do dever geral de não causar dano a outrem. O dano é anterior ao vínculo.

i. Fator de Imputação ou Fator de Atribuição (sinônimos)

Doutrina não faz menção, pois diz que complementa a conduta. A finalidade é permitir identificar se estamos frente à hipótese de responsabilidade civil subjetiva ou objetiva.

A fundamentação legal da responsabilidade se encontra no art. 186 do CC:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Essa é a responsabilidade civil subjetiva.

Para que se caracterize, temos que identificar os seguintes elementos: ação ou omissão do agente, nexo de causalidade, dano e culpa. “Culpa” em lato sensu, abrangendo o dolo ou culpa em sentidos estritos (negligencia ou imprudência). A responsabilidade civil é, em regra, subjetiva.

A complementação desse artigo está no que dispõe o art. 927, § único do CC:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Essa é a responsabilidade civil objetiva.

Esse tipo de responsabilidade não requer a culpa do agente, dependendo de lei que assim determine ou afaste expressamente esse elemento, como ocorre, por exemplo, com aquele que desenvolve atividade perigosa e responde pelo dano independentemente de culpa.

Subjetiva =regra Objetiva = exceção.

Fator de Imputação

Responsabilidade civil subjetiva: calcada na culpa Responsabilidade civil objetiva: na lei ou no risco da

atividade desenvolvida pelo autor do dano.

Código Civil de 2002:

Page 19: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

O art. 186 trouxe a previsão acerca da responsabilidade civil subjetiva, ou seja, seguindo a mesma linha que o código trazia no art. 159. Entretanto, aquele sistema monista passou a ser dualista, pois trouxe para o código civil a previsão da responsabilidade civil objetiva, no art. 927, p. único. A análise de culpa é desnecessária, e a responsabilidade civil objetiva estará prevista em lei ou quando a atividade do causador do dano trouxer risco.

Como é que, frente a uma situação concreta, poderemos identificar se estamos diante de uma responsabilidade civil objetiva ou subjetiva?

A resposta estará diante da análise do caso em concreto. As hipóteses de responsabilidade civil objetiva são excepcionais (a lei ou o risco da atividade desenvolvida pelo autor do dano).

O art. 186 é uma cláusula geral da responsabilidade civil subjetiva, pois traz a culpa em lato sensu, podendo essa se subdividir em dolo (vontade de causar o dano) e culpa strictu sensu (não há a intenção de causar dano e teremos ou a negligencia ou a imprudência, mas o causador do dano assume o risco diante de uma conduta que deveria ser cautelosa, mas não é).

No âmbito da responsabilidade civil objetiva é diferente e ela estará presente quando a lei determinar ou quando a atividade do causador dono for passível de causar dano a outrem. Quando o legislador fala em lei, não é necessariamente legislação especial. O intuito dele é destacar que, além da legislação esparsa, o próprio CC prevê hipóteses pontuais de responsabilidade civil objetiva, onde não precisaremos analisar se a atividade causa dano, pois a lei a estará prevendo.

Responsabilidade Civil por Ato Próprio (ou Responsabilidade Civil Direta)

É a regra geral. O lesador deve indenizar o lesado.

Responsabilidade Civil por Ato de Terceiro, por Fato Animal ou Fato da Coisa (ou Responsabilidade Civil Indireta)

Por ato de terceiro 932; (ver também o art. 933) Por fato do animal 936; Por fato da coisa 937 (estabelece que o dano da coisa

responde – responsabilidade objetiva, independentemente de culpa - pelos danos advindos da sua ruína) e 938.

Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.

Quando o CC menciona “responde”, está estabelecendo uma responsabilidade civil objetiva.

Page 20: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Como interpretar o p. único do art. 927?

“Atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano”, ou seja, não pode ser esporadicamente.

“Atividade importar em risco de causar dano a outrem”; as atividades que trazem risco são diversas e isso traz problemas de como interpretar. Por conta disso, encontramos linhas interpretativas que não trazem uma unanimidade sobre como interpretar. No âmbito jurisprudencial, encontramos que a atividade tem que trazer um alto grau de periculosidade, ou seja, não basta que seja uma atividade normalmente praticada por ele.

Tem que ter um alto risco econômico na atividade desenvolvida.

3. Pressupostos:

a. Responsabilidade Civil Contratual:

1.Inadimplemento (ver parte concernente ao inadimplemento) ;2.Dano;3.Nexo Causal;4.Fator de Imputação:

b. Responsabilidade Civil Extracontratual:

1.Conduta : caracteriza o ato ilícito. 2.Dano;3.Nexo Causal;4.Fator de Imputação.

ESTUDANDO OS PRESSUPOSTOS (TANTO NA RESP. CIVIL EXTRA OU CONTRATUAL, OS PRESSUPOSTOS DE ITENS 2 A 4, SÃO OS MESMOS):

1. CONDUTA:

O art. 186 do CC traz a caracterização da responsabilidade civil extracontratual de forma geral.

“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Ainda:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

A conduta se caracteriza através de uma ação ou omissão voluntária (não significa “vontade de causar dano”, mas sim “agiu porque quis ou se omitiu porque quis”). Se essa ação causar dano a outrem, teremos a constituição de um ato ilícito.

Page 21: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Há omissão na exata medida em que o sujeito deveria agir, mas permaneceu inerte.

Para melhor compreender:

b. Quem caminha ou dirige, o faz porque quer. c. O coração bate involuntariamente.

Ato ilícito: é visto como um requisito indispensável para a conduta. Existem atos lesivos que não configuram atos ilícitos, pois há o dano, a relação de causalidade entre a ação do agente e o prejuízo causado a direito alheio. Mas o procedimento lesivo do agente, por motivo legítimo estabelecido em lei, não acarreta o dever de indenixar, porque a própria norma jurídica lhe retira a qualificação de ilícito.

Excludentes de Ilicitude

Legitima defesa; Exercício regular de direito; Estado de necessidade.

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.

Legítima Defesa

É uma conduta reativa, onde o agente se defender ou defende um terceiro. Como regra, tudo o que exceder não será visto como legítima defesa. Nos casos em que alguém se vê injustamente agredido na sua pessoa, na pessoa de seus familiares ou de seus bens, poderá repelir ameaça com a sua própria força. A iniciativa de agressão não pode ter partido do agente e, ademais, a ameaça de dano deve ser atual ou iminente, além de requerer reação proporcional à agressão.

Requisitos:

Mal injusto e grave; Agressão de iniciativa da outra parte; Dano atual ou iminente; Reação proporcional à agressão.

Exercício Regular de um Direito Conhecido

Page 22: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Em virtude da atividade que o sujeito exerce, sendo esta reconhecida ou regulamentada e tendo na sua essência a possibilidade de causar danos, estes não serão passíveis de indenização, pois a ilicitude estará excluída. Também não poderá exceder. O fundamento moral da excludente está no ditado “quem usa de direito seu não causa mal a ninguém”. Resta observar que o estrito cumprimento de um dever legal está abarcado pelo exercício regular de direito.

Estado de Necessidade

Caracteriza-se com a conduta que o sujeito pratica para evitar um perigo real e iminente, podendo estender-se aos bens ou às pessoas. Algumas vezes o lesado cria o estado de necessidade. Em outras, é um terceiro que cria o estado de necessidade. Se o estado de necessidade for criado pelo lesado, teremos um ato lícito e não poderá buscar perdas e danos pela ausência de um dos pressupostos da responsabilidade civil. Se for causado por terceiro, o ato continua sendo lícito, porém o lesado terá direito às perdas e danos. Cabe ao terceiro buscar o direito de regresso contra aquele que propiciou o estado de necessidade. Concluindo, o particular que causar dano em estado de necessidade, embora autorizado por lei, fica obrigado a indenizar.

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.

Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.

Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).

11/05/2012

Continuação Conduta:

A regra é: o causador do dano é que deverá reparar o lesado (responsabilidade civil direta). No entanto, há situações especiais, como, por exemplo, um dano causado por menor de idade. Neste caso, o lesado entrará com perdas e danos contra os responsáveis. Temos aqui a situação de que estes não causaram o dano.

Esse tipo de conduta traz a:

Responsabilidade Civil Indireta

Ocorre quando a lei determina que um terceiro repare o dano sem o ter causado, ou seja, sem ser titular do dano. Devemos analisar as situações determinadas por lei para termos caracterizada a responsabilidade civil indireta. Temos três grupos, quais sejam:

Por ato de terceiro: aqui vamos verificar que esse terceiro é tão e somente responsável pela dívida e não titular do débito.Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: (faz essa menção porque a regra é que nas hipóteses desse artigo é a de responsabilidade solidária, podendo o lesado acionar o causador do dano e/ou o terceiro – é uma solidariedade legal e imperfeita). (Rol taxativo, mas alguns incisos podem ser ampliados)

Page 23: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia – “autoridade”: dentro da esfera da autoridade do pai ou da mãe; “companhia”: estar dentro da responsabilidade dos pais – se o menor não estiver dentro da autoridade e companhia dos pais, esses não responderão pelos danos ao lesado, como, por exemplo, a criança está com os pais de um amigo, eles é que terão de assumir a responsabilidade. Se os pais proverem que o menor não estava sob sua companhia e sua autoridade, eles não serão responsáveis por indenizar o lesado; - responsabilidade objetiva

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.

Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições - condições do inciso I; - responsabilidade objetiva

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele - empregador: deverá existir relação de emprego; comitente: não é exclusivo com o contrato de comissão e sim quando o sujeito está agindo em nome de outro, como, por exemplo, mandato, preposto, etc. Está hipótese possibilita o direito de indenização do empregador ou comitente. CLT: o empregador só poderá exercer o direito de regresso se constar do contrato de trabalho ;- responsabilidade objetiva

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educando - é uma responsabilidade determinada por lei. Temos os sujeitos que respondem pela fato do causador estar dentro da sua área se o hóspede causa dano a terceiro; - responsabilidade objetiva

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia - não é necessário que o sujeito tenha participado ativamente da conduta cirminosa, basta que ele aufira um ganho patrimonial advindo desse crime. Ex.: apropriação indébita e o indivíduo compra um veículo para uma pessoa que não participou do crime, logo, essa pessoa será responsável somente nesta proporção, pois está tendo uma vantagem econômica. Não importa que a pessoa não tenha consciência, pois o artigo diz: "gratuitamente".

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. – mostra a adoção do CC da responsabilidade civil objetiva. Assim, não há mais que analisar a culpa dos pais, tutores, curadores, empregadores, donos de hotéis e dos demais indicados no art. 931.

Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz – aqui são todas as incapacidades. Consagra o direito de regresso dos responsáveis indiretos do art. 932, que poderão reaver o valor pago à vítima daquele que causou dano, salvo se este último for seu descendente, absoluta ou relativamente incapaz.

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.

Page 24: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932.

17/05/2012

• Por fato do animal: o dano foi causado pelo animal, mas ele jamais poderia ser processado. Como o dano ocorreu, o lesado tem o direito de buscar a indenização. De quem?

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.

Aqui a análise é no caso concreto, uma terceira pessoa poderá responder pelo dano, pois não se restringe ao dono. Ex.: babá de cachorro que sai para passear. Ou seja, a responsabilidade adotada é a da guarda, que spo pode ser excluída em decorrência de força maior ou por culpa exclusiva da vítima.

• Por fato da coisa: temos a previsão em dois artigos:

Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta - o dano advindo da coisa decorre da ruína da coisa, por falta de manutenção. A responsabilidade é do titular do bem.

Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido - disciplina as hipóteses de coisas que caem e coisa que são lançadas.

Nesse caso, a responsabilidade só pode ser afastada mediante a prova de ausência de nexo causal entre a queda da coisa e o dano, de culpa exclusiva da vítima e de que o lançamento da coisa ocorreu em lugar apropriado.

2. DANO

Obs.: ver dia 13/04/2012

Em sentido amplo, vem a ser a lesão de qualquer bem jurídico, e aí, se inclui o dano moral. É uma perda não querida pela vítima, cujas consequências recaem sobre seus bens, saúde, integridade física, expectativas de ganho, perda de uma oportunidade, patrimônio e sobre direitos de personalidade, como, por exemplo, a honra.

Com o dano, se abrange não só o que perdeu, mas, também, o que se deixou de lucrar. Os danos se classificam em materiais (danos emergentes e lucros cessantes) e morais, decorrentes de ofensa à personalidade e à paz de espírito da vítima. Verifica-se que a indenização deve restituir, tanto quanto possível, as partes ao status quo ante, ou seja, ao estado que a vítima se encontrava antes da lesão, admitindo, em razão da necessidade de indenização integral, a inclusão de outros danos.

Page 25: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Dano Patrimonial

É quando há uma diminuição no patrimônio do lesado decorrente da conduta lesiva. Pode manifestar-se em duas categorias, mas independentemente delas, há uma característica indispensável, tem que ser CERTO e ATUAL, não pode ser hipotético.

o Emergente: diminuição patrimonial; ex: acidente de trânsito (bater no meu carro e

ser claramente visível o dano).

o Lucros cessantes: lesado deixa de auferir ganhos (lucratividade) em decorrência

da conduta danosa. É um deixar de ganhar. Portanto, é perfeitamente possível identificarmos hipóteses de dano emergente e lucros cessantes conjuntamente. Somente serão passíveis de indenização, se a parte razoavelmente deixou de lucrar. Tem que existir uma delimitação clara. Ex: taxista ficar sem o carro para trabalhar, pois bateram em seu carro.

Todo o valor que representa a diminuição é o valor que tem o lesado, o direito de buscar a indenização.

A quantificação é feita de forma simples, principalmente no dano emergente, pois fica evidente a diminuição do patrimônio. Aqui o dano será efetivamente reparado.

18/05/2012

DANO EXTRAPATRIMONIAL OU MORAL

É o dano que surge em decorrência da personalidade do sujeito. Lesão a sua vida, saúde, imagem... Dano que parece ser subjetivo, porque existem situações em que o dano é caracterizado por um sentimento. Opera-se “in re ipsa” (de imediato), ou seja, não é necessário prova. Prova somente quanto à quantidade. Atinge tanto pessoa natural quanto pessoa jurídica, pois essa tem direito à personalidade (art. 52 do CC) principalmente no que diz respeito a sua imagem. A análise da moral na pessoa jurídica é objetiva e na pessoa natural é subjetiva.

O dano normalmente é identificado em responsabilidade extracontratual, porém pode ser encontrado em responsabilidades contratuais. Nada impede que exista cumulação de dano patrimonial e extrapatrimonial.

Quantificação

A quantificação aqui é diferente, pois não existe um rol de valores vinculados ao dano, o que dificulta na prática a quantificação do dano. Muitas vezes se busca um mecanismo para quantificar, podendo não ser tão harmônico. Há uma fórmula muitas vezes utilizada, porém é falha: normalmente a jurisprudência menciona que quando há dano extrapatrimonial, o lesado tem que ter uma indenização de todo o dano sofrido, levando em consideração os sujeitos na relação, de forma que o valor da indenização não pode gerar enriquecimento ao lesado e não pode gerar empobrecimento ao causador do dano.

Dano punitivo: considera-se como critério para fixação do valor do dano que a conduta do causador dever ser punida e com isso se fixa um valor maior ou se busca uma majoração do valor da indenização. Essa fixação é muito questionada, pois ele acaba proporcionando um

Page 26: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

valor mais justo, mas esse justo nem sempre é jurídico. Isso ocorre porque a função punitiva é do direito penal e não do direito civil, que inclusive isto está previsto na CF. Quando se fala em dano moral é em questão compensatória, pois não há como indenizar a moral. O direito brasileiro acabou importando uma característica da Common Law, onde há indenizações grandes, ou seja, de acordo com a capacidade econômica. Devem-se analisar todas as repercussões do dano para se estabelecer a indenização condizente.

Repercussões processuais importantes

Como o dano extrapatrimonial não é um dano que possa sofrer uma tarifação, fica a dúvida:

O que requerer no pedido?

Vai-se requerer que o causador do dano seja condenado.

Mas devemos colocar valor?

A apresentação do valor traz a seguinte repercussão: o juiz fica vinculado ao valor, sob pena de “extra petita”. A segunda repercussão é que a petição inicial deve ter um valor e se ele der a causa o valor de R$ 100.000,00 e levar apenas R$ 10.000,00 serão fixado os honorários sucumbênciais sobre os R$90.000,00. Logo, devemos pedir que o juiz arbitre o valor do dano.

Nunca teremos a reparação do dano moral, apenas a sua compensação.

24/05/2012

3. NEXO CAUSAL

O nexo de causalidade é um dos pressupostos da responsabilidade civil e o primeiro a ser analisado para que se conclua pela responsabilidade jurídica, uma vez que somente poderemos decidir se o agente agiu ou não com culpa se da sua conduta adveio um resultado.

Vale dizer, não basta a prática de um ato ilícito ou ainda a ocorrência de um evento danoso, mas que entre estes exista a necessária relação de causa e efeito, um liame em que o ato ilícito seja a causa do dano e que o prejuízo sofrido pela vítima seja resultado daquele. É necessário que se torne absolutamente certo que, sem determinado fato, o prejuízo não poderia ter lugar.

Tem fulcro no verbo CAUSAR, utilizado no art. 186, CC. Deve ser prontamente observado, para que de plano possa identificar a necessidade de indenizar ou não, um determinado dano.

Como conceito, é a relação de causa e efeito entre a conduta (comissiva ou omissiva) do agente e o dano provocado.

Isso quer dizer que, se houver um dano, mas sua causa não estiver relacionada com o comportamento (conduta) do agente, inexistindo nexo de causalidade, inexistirá, consequentemente, a obrigação de indenizar.

O que deve questionar é: no âmbito brasileiro, quando é que se pode afirmar que existe o nexo causal?

Page 27: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Teorias Explicativas do Nexo de Causalidade

1. Teoria da equivalência das condições (conditio sine qua non)

É aquela em que considera que todos os fatores causais se equivalem, ou seja, desde que tenham relação com o resultado. Essa teoria não diferencia os antecedentes do resultado danoso, sendo assim, reconhecido como causa, tudo aquilo que concorreu para o resultado dano.

Como exemplo, ter-se-ia a culpabilidade do fabricante da arma pela morte de uma pessoa por um tiro disparado por outrem.

2. Teoria da Causalidade Adequada

Aqueles que optam por esta teoria consideram que nem toda e qualquer condição que tenha contribuído para o resultado danoso pode ser considerado como causa.

Nesta teoria, a causa é o antecedente efetivamente necessário e devidamente adequado para a produção do resultado danoso, ou seja, para se considerar uma causa adequada, “esta deverá, abstratamente, e segundo uma apreciação probabilística, ser apta à efetivação do resultado”.

Neste caso, a fabricação ou a simples compra da arma de fogo não seriam causas adequadas para a efetivação da morte, no exemplo anterior.

CARLOS ROBERTO GONÇALVES cita um exemplo interessante, apresentado por CARDOSO GOUVEIA, sobre a distinção das duas teorias:

“’A’ deu uma pancada ligeira no crânio de ‘B’, a qual seria insuficiente para causar o menor ferimento num indivíduo normalmente constituído, mas que causou a ‘B’, que tinha uma fraqueza particular dos ossos do crânio, uma fratura de que resultou a morte. O prejuízo deu-se, apesar de o fato ilícito praticado por ‘A’ não ser causa adequada a produzir aquele dano em um homem adulto. Segundo a teoria da equivalência das condições, a pancada é uma condição ‘sine qua non’ do prejuízo causado, pelo qual seu autor terá de responder. Ao contrário, não haveria responsabilidade, em face da teoria da causalidade adequada”.

Ex: individuo lesionado, que sofre cortes profundos, e em virtude de perder muito sangue e ser diabético, acaba tendo que amputar um membro do corpo. O responsável pelo dano responderá pela perda do membro?

Mesmo não tendo ciência, o causador responde SIM pelo resultado mais danoso.

3. Teoria da Causalidade Direta ou Imediata

Page 28: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Para esta teoria, a causa é apenas o antecedente fático que, ligado por um vínculo de necessidade ao resultado dano, determina que este tem como consequência direta e imediata de seu acontecimento.

Não poderá, no entanto, haver qualquer tipo de interrupção do nexo de causalidade por uma causa superveniente, mesmo que relativamente dependente do fato.

Não há uma unanimidade de que esta é a teoria adotada, mas temos que ter em vista o art. 403 do CC, que diz o seguinte:

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

Se não for direito e imediato não haverá um dos pressupostos, e não tendo, portanto, o dever de indenizar.

No âmbito da jurisprudência, nem sempre essa analise é feita dessa forma, porque, por vezes, há quem aplique a teoria da causa adequada, que questiona se a situação foi ou não causa adequada e não necessariamente causa direta e imediata.

Existem situações que acabam excepcionando a regra geral da teoria da causa direta e imediata.

Excludentes de Nexo Causal

Estarão na lei ou serão convencionadas, restringindo-as ou agregando outras.

a) Culpa exclusiva da vítima

É identificada quando o próprio lesado assume uma conduta que é a causa efetiva do dano, o dano só ocorre em virtude da conduta assumida pelo lesado. Se o lesado não tivesse feito “daquela” forma, o dano não teria ocorrido. Assim, elide a responsabilidade civil por romper o nexo de causalidade entre a ação ou omissão do agente e o dano perpetrado.

Nesse caso, o agente é acidentalmente participante do evento danoso, ou seja, é apenas um instrumento do dano que decorre, em verdade, do exclusivo comportamento da vítima.

b) Ato de terceiro

Terceiro é qualquer outra pessoa que não a vítima ou o agente direto. A sua participação no evento danoso pode ser parcial ou total.

Configura-se toda vez que um terceiro assume uma conduta que é causa imediata do dano. O dano não ocorreria se ele não tivesse agido daquela forma. A doutrina costuma trazer o seguinte exemplo:

Dois sujeitos estão na beira da calçada aguardando para atravessar e um deles empurra o outro, que é atropelado. O dano foi o atropelamento, pois foi resultado direto do resultado danoso, porém se o terceiro não tivesse empurrado o sujeito, o dano não teria acontecido.

Page 29: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

Exige uma análise muito cautelosa de que o terceiro é que serviu como um verdadeiro da causa do dano, ou seja, tenha tido intenção ou não.

25/05/2012

c) Caso fortuito ou força maior

Força maior – decorre de situações vindas de atos humanos e que também não podem ser evitadas pelo causador.

Caso fortuito – é advindo da natureza.

Em ambas surge a situação que não é de responsabilidade do causador, da qual não se tem como evitar.

Outros pensamentos se diz que a diferenciação, é a de que na primeira é previsível porem inevitável (força maior), imprevisível e inevitável (caso fortuito).

Situações como essas rompem o nexo causal.

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.Verifica-se que o causador do dano tomou todas as precauções, mas não teve como evitar tal acontecimento, isso exclui o nexo causal e caracteriza-se como caso fortuito.

Hipóteses de responsabilidade civil objetiva a jurisprudência interpreta numa divisão chamada:

Caso fortuito interno

É compreendido como as situações em que o causador do dano mesmo não podendo prever o cuidar, teria o dever de evitar, porque compõe o risco da própria atividade por ele desenvolvido. Tinha o dever de prever e evitar. Não exclui o nexo causal.

Caso fortuito externo

É visto como a hipótese que acaba sendo causa determinante do dano, mas exclui o nexo causal, pois mesmo não tendo o dever de prever, não tem como ser evitadas e não compõe o risco da atividade.

Diferença entre Caso Fortuito e Força Maior

O que vai diferenciar o caso fortuito da força maior, é que em uma das hipóteses, apesar de ser previsível a ocorrência, ela é inevitável, e na outra hipótese, e a seria imprevisível e inevitável.

Questões para treinar:

Pedro está dirigindo seu veiculo quando é surpreendido por uma ultrapassagem perigosa realizada por João, haja vista que na pista contrária desloca-se um caminhão que está muito próximo deles. Tendo em vista a situação, examine as hipóteses abaixo, identificando:

Page 30: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

a) Se há responsabilidade civil por parte de Pedrob) Se há que se falar na existência de excludente de nexo causalc) Se há que se falar em direito de regresso

Hipótese 01:

Com a ultrapassagem de João, Pedro como reflexo, faz uma rápida manobra dirigindo o carro ao acostamento, conseguindo João ultrapassar, mas atingindo Pedro um sujeito que estava no acostamento, trocando o pneu de seu veículo.

Hipótese 02:

João ao ultrapassar, retorna à pista, porém atinge com a parte traseira direita de seu veículo a parte dianteira esquerda do veículo de Pedro. Em razão disso, o carro de Pedro acaba sendo deslocado ao acostamento e atingindo o sujeito que estava trocando o pneu do seu veículo.

31/05/2012

Trabalho dia 14/06 sobre Teoria do Inadimplemento e Responsabilidade Civil – em 4.

Restante da matéria deslocado para o dia 10/05/2012

01/06/2012

Questões de Revisão

08/06/2012

INDENIZAÇÃO

Indenização Integral: a regra é a indenização integral (art. 944, CC). Todos os danos causados devem ser reparados, indenizados.

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.Redução pela equidade: redutores não são excludentes, é uma diminuição no valor da indenização prevista em lei. Redução pela equidade é um princípio orientador do direito obrigacional. O que se busca é uma indenização justa, que seja capaz de expressar a realidade. É quando o dano e a culpa têm intensidades diferentes. Ex.: acidente de trânsito. A extensão da culpa é menor.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Redução pela culpa concorrente: Prevalece o entendimento que se aplica para responsabilidade civil subjetiva, mas há outra linha que se aplica na objetiva, pois a culpa não é requisito para responsabilização, mas pode ser para reduzir a indenização. O causador do dano e o lesado tiveram conduta danosa, há uma culpa concorrente, pois a culpa é reciproca. Ex.: parar em fila dupla em local proibido, pois quando o sujeito para um local que não deve e outro veiculo colide, também concorreu para o dano. Nesse caso, a responsabilidade é atenuada,

Page 31: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

posto que a vítima também contribuiu para o evento danoso. Faz-se necessário verificar a culpa de cada qual, podendo, em alguns casos, inclusive, uma anular a outra pela compensação.

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

Prazo Prescricional

a) Código Civil: é um prazo prescricional, pode gerar a impossibilidade da pretensão, o debito não vai se afastar pela inércia, não há mais o que se falar em indenização. Uma vez pago, não há como se buscar repetição.

O CC estabelece o prazo de três anos. Art. 206, p. 3º, V do CC.

Art. 206. Prescreve:

§ 3º Em três anos:V - a pretensão de reparação civil;

O lesado tem três anos para a propositura da ação. Art. 2.028 do CC.

b) Código de Defesa do Consumidor: relações de consumo, relação privada. Esse prazo vem fixado para o consumidor, diferente do CC.

Art. 27, CDC

Art. 27 - Prescreve em 5 (cinco) anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

O prazo prescricional do CDC é um prazo de cinco anos, mas a contagem como regra é a da causação do dano, salvo quando não se tiver ideia da autoria, Lei 8.087/90.

14/06/2012

Trabalho em duplas.

15/06/2012

Responsabilidade Pré e Pós Contratual

O contrato se constitui a partir de um consenso (surge a partir da união de duas manifestações de vontade: proposta [ou oferta ao público] e a aceitação).

Fases do contrato:

Pré-contratual

Ainda não há contrato e é constituída pelo o que se chama de proposta ou oferta ao público. Por vezes, mas não sempre, antes da proposta pode existir outra fase, que se chama fase das tratativas ou negociações preliminares. Às vezes pode gerar

Page 32: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

efeitos jurídicos, outras não, pois há uma mera aproximação entre os sujeitos, mas não existe, por parte de nenhum dos sujeitos, uma manifestação de vontade concreta (aquela manifestação da qual identificamos os elementos essências do futuro contrato, como, por exemplo, “estou vendendo meu carro por R$ 40.000,00” – isso não acontece na fase de tratativas). Quando as tratativas podem gerar efeitos jurídicos? Quando elas forem capazes de criar uma expectativa legítima na parte, de que, em ato continuo, vá surgir uma proposta, bastando ele dizer “sim, aceito”, que surgirá o contrato. A análise da expectativa legítima demanda um fundamento central para que se possa identificar se aquela manifestação foi capaz de criar expectativa, que é a boa-fé objetiva (no caso concreto: se aquela mera aproximação foi capaz de criar uma expectativa legítima, criando o dever anexo de lealdade, sujeitando a parte a dar continuidade, proibindo-a de apresentar um recesso de suas tratativas, ou seja, mantendo a sua manifestação e, então, apresentar uma proposta, pois não se admite que se fira a expectativa da outra parte. Se assim ocorrer, a parte que ferir a expectativa legítima deverá indenizar a parte que se sentiu ferida).

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

A proposta está prevista no art. 427 e a oferta ao público no art. 429 do CC:

Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.

Não é uma redação adequada, pois a proposta jamais gera a obrigação de contratar, ela somente vincula o proponente. A diferença é ‘que vincular o proponente’ significa dizer que “durante o prazo de validade desta proposta, o proponente não pode voltar atrás” (se o proponente oferecer o carro por R$ 40.000,00 e disser que, a pessoa terá o prazo de 3 dias para se decidir. Durante esse período, ele não pode vender para outra pessoa, deixar de vender ou alterar o valor).

O que diferencia a proposta da oferta ao público:

Proposta

Para que exista uma proposta, devemos ter dois requisitos:

1. Manifestação de vontade completa: manifestação direcionada a receptores e contendo os elementos essenciais do contrato que se busca.

2. Direcionar-se a receptores determinados: podemos determinas quem são os receptores.

Oferta ao Público

A oferta ao público tem uma característica que diferencia da proposta: é ao publico, ou seja, os receptores são indeterminados.

Pós-Contratual

Todo contrato é transitório: constituição, desenvolvimento e extinção. Existem certo efeitos que se propagam no tempo, que pese o contrato seja transitório, é o que

Page 33: Inadimplemento e Responsabilidade Civil

chamamos pós-eficácia das obrigações. Alguns desses efeitos emanam da lei, como o de garantia legal, outros podem decorrer do próprio contrato, ou ainda, podem decorrer da boa-fé objetiva. É imposto às partes ou uma das partes, deveres e direitos e, se não forem respeitados, teremos o que chamamos de responsabilidade pós-contratual, gerando indenização.

Perda de uma Chance

Nem sempre foi reconhecida no nosso ordenamento, pois como vimos quando tratado o dano, uma dos requisitos é que ele seja certo, jamais hipotético. No entanto, existem situações que não são vistas como danos hipotéticos, apesar de que não sejam situações, nas quais se possa ter um dano identificável, de forma inequívoca. São situações que se identifica a chance de atingir certo resultado que é desejado pela parte, mas que em virtude da conduta do agente causador do dano, esta chance é totalmente afasta. Ele perde essa chance por conduta do sujeito. A análise é através do nexo causal e não do dano, ou seja, se a conduta do agente foi direta e imediata da perda de uma chance concreta. É comum que a fixação da indenização seja arbitrada pelo magistrado.