Incidência de IR

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  • 8/16/2019 Incidência de IR

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    DECISÃO: Vistos.Trata-se de agravo contra a decisão que não admitiu recurso

    extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal Regional Federal da5ª Região, assim ementado:

    “TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. ABONO DEPERMANÊNCIA. ART. 40, § 19 DA CF/88 - EC 41/2003. VERBADE NATUREZA INDENIZATÓRIA. INEXISTÊNCIA DEHIPÓTESE DE INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE RENDA -ART. 43 DO CTN. VALORES RECOLHIDOSINDEVIDAMENTE. 1 - Versa a matéria sobre a incidência ounão do Imposto de Renda sobre o Abono de Permanência. 2 - Ofato gerador do Imposto de Renda deflui tanto da previsão

    constitucional, como da definição contida na norma do art. 43do CTN. 3 - A indenização visa ressarcir direito não fruído emsua integralidade, seja para reparar garantia jurídicadesrespeitada, seja em face de outros fundamentosnormativamente tidos como relevantes. 4 - Diante da análisedos conceitos de renda e proventos de qualquer natureza e deindenização, à luz do ordenamento jurídico brasileiro e da EC41/2003 que instituiu o "abono de permanência", bem como, dainterpretação exegética da vontade da lei, conclui-se que anatureza jurídica do abono de permanência é eminentementeindenizatória, na medida em que representa uma compensaçãoem favor do agente público que permanece prestando serviços,indiscutivelmente, no interesse da Administração. 5 - Osvalores recebidos a título de Abono de Permanência nãoconstituem fato gerador do Imposto de renda na fonte e,portanto, não se subsumem a norma prevista no art. 43 doCTN. 6 - O agente público que preencher os requisitos para se

    aposentar, mas que permanecer prestando seus serviços àAdministração Pública, tem direito a receber os valoresindevidamente descontados a título de Imposto de Renda, apartir da entrada em vigor da Emenda Constitucional nº41/2003. 7 - Apelação e remessa oficial improvidas”. (fls. 212). 

    No recurso extraordinário, com fundamento na alínea “a” dopermissivo constitucional, sustenta-se violação dos artigos 40, § 19 e 153,

    III, § 2º, I da Constituição Federal.Decido.

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    Não merece prosperar a irresignação.O Tribunal a quo  concluiu pela natureza indenizatória do abono

    devido aos que permanecem em atividade após a reunião dos requisitospara aposentadoria voluntária, razão pela qual sobre ele não incidiria oimposto de renda, forte na interpretação do art. 43, caput, inc. I e II doCódigo Tributário Nacional, na Lei nº 8.112/90 e em outras normas

    infraconstitucionais.Tem-se no voto do relator:

    “Diante da análise dos conceitos de renda e proventos de

    qualquer natureza e de indenização, à luz do nosso ordenamento

     jurídico, e ainda, do dispositivo legal que instituiu o “abono de

     permanência”, conclui-se que a natureza jurídica do instituto abono

    de permanência, ainda que seja contraprestação de um serviço

    realizado, é eminentemente indenizatória, na medida em que

    representa uma compensação em favor do agente público que

     permanece prestando serviços, indiscutivelmente, no interesse da

     Administração.

     Justifica-se tal posicionamento, de natureza jurídica de

    indenização, na medida em que não se pode confundir indenização com

    rendimento, vez que, naquela inexiste riqueza nova, portando falta de

    capacidade contributiva, escapando assim a incidência do Imposto de

    Renda, enquanto nesta há um acréscimo patrimonial e, portanto,tributável. Acrescenta-se, também, o entendimento de que as verbas

    recebidas, como compensação pela renúncia a um direito, como ocorre

    na hipótese, não constituem acréscimo patrimonial, pois, assim não se

    entende não há qualquer estímulo para que uma pessoa apta a se

    aposentar, permaneça no trabalho, sem que lhe seja dado qualquer

    vantagem”. (fls. 208).

    Para se concluir de modo diverso, seria imprescindível a análisedessa legislação infraconstitucional, o que não se admite em recursoextraordinário. Eventual afronta ao texto constitucional, caso ocorresse,seria meramente indireta ou reflexa. Nesse sentido:

    “PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EMAGRAVO DE INSTRUMENTO. AUSÊNCIA DEIMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO

    AGRAVADA. SÚMULA 287 DO STF. IMPOSTO DE RENDA.COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. LEIS 7.713/88 E9.250/95. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA

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    REFLEXA. AGRAVO IMPROVIDO. I - As razões do agravoregimental não infirmam os fundamentos da decisão agravada,o que atrai a incidência da Súmula 287 do STF. II A apreciaçãodos temas constitucionais, no caso, depende do prévio examede normas infraconstitucionais (Leis 7.716/88 e 9.250/95). Aafronta à Constituição, se houvesse, seria indireta ou reflexa, o

    que não enseja reexame na via do recurso extraordinário.Precedente. III Agravo regimental improvido”. (AI736.188-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski , PrimeiraTurma, Dje 12.11.2010 grifos nossos).

    “ACÓRDÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA,QUE DECIDIU CONTROVÉRSIA RELATIVA À RETENÇÃODE IMPOSTO DE RENDA COM BASE NA LEI Nº 7.713/88.Questão insuscetível de ser apreciada senão por via dalegislação infraconstitucional reguladora da matéria,procedimento inviável em sede extraordinária, em que não cabea aferição de ofensa reflexa e indireta à Constituição Federal.Incidência, ademais, do óbice da Súmula 282 desta Corte.Agravo regimental desprovido”. (AI 275.766-AgR, Rel. Min.Ilmar Galvão , Primeira Turma, DJ 2.2.2001 grifos nossos).

    Em sentido semelhante: AI 799.979 (Relator o Ministro Ricardo

    Lewandowski, DJe de 31.05.2010); AI 630.537 (rel. min. Ellen Gracie, DJede 30.03.2010); RE 589.571 (rel. min. Carlos Britto, DJe de 05.08.2009); RE433.933-AgR (rel. min. Eros Grau, DJe de 1º.08.2008).

    De mais a mais, o Plenário desta Corte, em sessão realizada por meioeletrônico, no exame do AI nº 705.941/SP, Relator o Ministro CezarPeluzo , concluiu pela ausência da repercussão geral de matériaconstitucional análoga à versada nesse feito. A decisão do Plenário está

    assim ementada: “RECURSO. Extraordinário. Incognoscibilidade. Rescisãode contrato de trabalho. Verbas rescisórias. Natureza Jurídica.Definição para fins de incidência de Imposto de Renda. Matériainfraconstitucional. Ausência de repercussão geral. Agravo deinstrumento não conhecido. Não apresenta repercussão geral orecurso extraordinário que, tendo por objeto a definição danatureza jurídica de verbas rescisórias (salarial ouindenizatória), para fins de incidência de Imposto de Renda,

    versa sobre matéria infraconstitucional”. (Dje n.º 71, publicadoem 23/04/2010).

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     Ante o exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao

    recurso extraordinário.Publique-se.Brasília, 16 de dezembro de 2011.

    Ministro DIAS TOFFOLI Relator

    Documento assinado digitalmente