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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
INCLUSÃO DO ALUNO SURDO: ESCOLA X MUNDO DO TRABALHO
SILVÂNIA RODRIGUES
APARECIDA DE GOIÂNIA
2011
2
SILVÂNIA RODRIGUES
INCLUSÃO DO ALUNO SURDO: ESCOLA X MUNDO DO TRABALHO
Monografia apresentada ao Instituto Superior de Educação, da Faculdade Alfredo Nasser, sob a orientação da professora Ms. Edna Misseno Pires como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Pedagogia.
APARECIDA DE GOIÂNIA 2011
3
INCLUSÃO DO ALUNO SURDO: ESCOLA X MUNDO DO TRABALHO
_______________ de ____________de 2011 Nota: ________________________________ EXAMINADORES ____________________________________ Prof.(a) ____________________________________ Orientador (a): Prof. (a) Ms. Edna Misseno Pires.
5
AGRADECIMENTOS
À Deus porque sem Ele eu não teria conseguido forças e
sabedoria para trilhar essa longa caminhada.
À minha família que me deu suporte para enfrentar as barreiras
que tive em meu caminho.
Aos meus colegas de curso, pois, somente com o apoio mútuo
conoseguiríamos chegar até o fim.
À minha orientadora Edna Misseno Pires que, com paciência,
dedicação e competência me orientou nessa jornada.
À todos que de maneira direta ou indireta contribuíram para essa
vitória.
6
“O perfume, o silêncio, a sombra... Os ninhos. Emudecem... E temos, sonhadores, A humildade das ervas nos caminhos. E uma inocência de anjos entre as flores.” (Olavo Bilac – fragmento da poesia “A Cilada”)
7
SUMÁRIO
RESUMO............................................................................................................
08
INTRODUÇÃO................................................................................................... 08
CAPÍTULO I....................................................................................................... 11
1 A INCLUSÃO NO CONTEXTO HISTÓRICO.................................................. 11
1.1 A Trajetória da Educação Inclusiva.............................................................. 11
1.2 Aspectos Legais da Inclusão....................................................................... 14
1.3 Tipos de Surdez........................................................................................... 23
CAPITULO II...................................................................................................... 26
2 DEFINIÇÃO DA SURDEZ E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS 26
2.1 Ensino da Linguagem Oral e Escrita............................................................ 28
2.2 A Importância da Língua de Sinais (LS)...................................................... 35
2.3 Principais Fatores Internos que Facilitam a Inclusão da Pessoa com
Necessidades Especiais em uma Empresa – Lei 8.213/91...............................
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 45
8
INCLUSÃO DO ALUNO SURDO: ESCOLA X MUNDO DO TRABALHO1
Silvânia Rodrigues2
RESUMO: Muitos são os desafios e problemas enfrentados pelos surdos e que retardam o processo de facilitação da inclusão dos mesmos no ponto de vista social. Portanto, esta pesquisa se justifica na medida em que propõe uma discussão mais aprofundada acerca desses problemas e desafios enfrentados pelas pessoas com necessidades especiais. O objetivo desta pesquisa foi o de analisar, quais são os desafios enfrentados pelos surdos e suas expectativas para o futuro profissional. Busca-se também idenficar as dificuldades em se incluirem na sociedade e na escola. Esse estudo está estruturado em dois capítulos. Apresenta reflexões sobre o contexto histórico da inclusão; a trajetória da educação inclusiva; os aspectos legais da inclusão; a deficiência auditiva que precisa ser politicamente reconhecida e os tipos de surdez. Aponta discussões sobre a história da educação dos surdos implicando a análise de questões como o ensino da linguagem oral e escrita; o oralismo enfatizando o conceito de leitura labial; a comunicação total na abordagem educacional; a importância da Língua de Sinais e, por fim, a inserção do surdo no mundo do trabalho. A literatura apresentada neste trabalho se configura como sendo de grande qualidade, pois, trata de autores renomados como, Aranha (2006); Batista (2006); Chaves (2006); Fernandes (2006); Goldfeld (2001); Inácio (2007); Mazzota (2005); Sá (1999); Sassaki (2003); Skliar (1999) e outros e que possuem grande relevância nos estudos referentes à inclusão social, escolar e no trabalho das pessoas com necessidades especiais, principalmente os surdos. nessa área e ainda a falta de estrutura nas escolas e nas empresas para o acolhimento das pessoas com necessidades especiais.
Palavras- Chave: Escola. Trabalho. Surdez
INTRODUÇÃO
Um grande desafio no Brasil hoje é, a inclusão das pessoas com
necessidades especiais e, nestes se enquadra a comunidade dos surdos que se
configura como sendo um dos maiores grupos dentro da modalidade de pessoas
com necessidades especiais.
Os desafios e dificuldades enfrentados pelos surdos são muito grandes e,
podem retardar o processo de facilitação da inclusão dos mesmos em todos os
segmentos da sociedade, inclusive na educação. Pode-se destacar como sendo
desafios, a falta de comunicação oral que dificulta o aprendizado, a aplicação de
metodologias não contextualizadas com a realidade sócio-cultural do indivíduo
1Monografia apresentada ao Instituto Superior de Educação, da Faculdade Alfredo Nasser, sob a orientação da Prof. Ms. Edna Misseno Pires como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Pedagogia. 2 Acadêmica concluinte do Curso de Pedagogia da Faculdade Alfredo Nasser – 2011/1
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surdo, além da falta de preparo por parte dos educadores que atuam nessa área e
ainda a falta de estrutura nas escolas e nas empresas para o acolhimento das
pessoas com necessidades especiais.
Ainda é grande o número de pessoas com necessidades especiais que
vivem dentro do contexto de segregação, pois, as barreiras humans e sociais ainda
impõem restrições ao exercício pleno de cidadania, qualidade de vida e
participação real dessas pessoas.
A realidade social demanda de esforços do poder público, associações e a
sociedade como um todo, no sentido de que possa ser garantida a melhoria de
vida de toda essa coletividade de maneira igualitária e fundamentada na
democracia.
A sociedade precisa reconhecer o multiculturalismo, mas isso implica na
exigência da capacidade de identificação da diversidade e do seu contexto
complexo. É preciso conhecer e reconhecer as necessidades dos indivíduos que
compoem essa sociedade.
No contexto educacional, observa-se que essa diversidade ainda não é
totalmente reconhecido no cenário escolar e acaba por reforçar a exclusão social
ao contrário do que se deveria fazer que é possibilitar a inclusão social e
profissional de todos sem distinção, além de possibilitar a transformação da
mentalidade que vê a pessoa com necessidades especiais como sendo diferentes
e dignos de pena, quando ao contrário, são pessoas que possuem apenas
necessidades especiais, mas que também possuem potencialidades, habilidades e
uma grande capacidade de produção dentro dos seus limites.
O presente estudo está estruturado em dois capítulos que analisam e
refletem sobre a deficiência auditiva e a inclusão do surdo no mundo do trabalho.
Em seus tópicos abordam o contexto histórico da inclusão social, escolar e no
trabalho das pessoas com necessidades especiais, com foco central nas pessoas
surdas. Apresenta estudos e literaturas de autores consagrados nessa questão e
que deixaram grandes contribuições para a realização deste trabalho. Destacam-se
os autores: Aranha (2006); Batista (2006); Chaves (2006); Fernandes (2006);
Goldfeld (2001); Inácio (2007); Mazzota (2005); Sá (1999); Sassaki (2003); Skliar
(1998) e outros de grande relevância para a temática.
O objetivo dessa pesquisa foi analisar quais são os desafios enfrentados
pelas pessoas com necessidades especiais, destacando a surdez, e suas
10
expectativas para o futuro profissional. Além disso, busca identificar as dificuldades
encontradas por essas pessoas ao tentarem se incluir na sociedade e na
educação, além de procurar conhecer melhor o cotidiano das pessoas com
necessidades especiais, seus sonhos e os caminhos percorridos por ele para
alcançarem seus objetivos pessoais e profissionais.
A razão dessa análise parte exatamente das dificuldades encontradas por
muitas pessoas em comunicar-se com pessoas com necessidades especiais, tendo
como foco deste trabalho, os surdos.
Tendo em vista que, as empresas todos os dias vêm admitindo cada vez
mais pessoas com algum tipo de necessidade especial e, são apoiadas nesse
sentido, dando oportunidades para uma boa parte da população que está ainda
excluída do mundo do trabalho, por questões de qualificação, preconceito e
inadaptação ao ambiente de trabalho, a problemática que se discute é: Como a
educação pode contribuir no processo de ensino-aprendizagem das pessoas
com surdez para que estes inclusos na sociedade e no mundo do trabalho?
Para responder a essa e outras questões, a metodologia adotada foi a
pesquisa bibliográfica qualitativa, pois, são analisadas e interpretadas obras dos
autores citados a priori, além da interpretação de leis, estatutos e declarações já
construídas acerca da temática.
A pesquisa bibliográfica ampla e consistente permitiu chegar a conclusões
importantes sobre todo o contexto da inclusão desde a mentalidade referente a
pessoas com necessidades especiais verificados na Antiguidade até os dias atuais.
11
CAPÍTULO I
1 A INCLUSÃO NO CONTEXTO HISTÓRICO
Este capítulo consiste numa abordagem geral acerca da Inclusão de
pessoas com necessidades especiais nas escolas regulares. Apresenta-se também
os aspectos legais que garantem o direito à educação desses alunos nos
diferentes níveis de escolaridade.
1.1 A Trajetória da Educação Inclusiva
A compreensão da trajetória da escola inclusiva somente se dá a partir do
conhecimento de suas fases. Retomando à história da educação no que se refere
às pessoas com deficiência podemos observar que a inclusão passou por fases
como: a fase da exclusão; fase da segregação; fase da integração; fase da
Inclusão.
Os estudos de Cristina Batista (2006) evidenciam cada uma dessas fases.
A que corresponde ao período da Antiguidade até o início da Idade
Contemporânea, pode ser chamada de fase da exclusão, na qual a maioria das
pessoas com deficiência e outras condições era tida como indigna de educação
escolar. A fase chamada de segregação, na Idade Média, começou com o
acolhimento e atendimento às pessoas deficientes dentro de grandes instituições,
principalmente religiosas, que realizavam um trabalho de cunho assistencialista. A
terceira fase, localizada na década de 70, constitui a fase da integração. A palavra
integração é definida como: “(Do latim integratione) 1. Ato ou efeito de integrar (se).
(2) Ação ou política que visa integrar um grupo as minorias raciais, religiosas,
sociais, entre outros.” (FERREIRA, 1986, p.954).
Retomando ao passado, constata-se que, na busca por vivenciar novos
conhecimentos acerca da história da educação, alguns brasileiros organizaram-se
para o atendimento a cegos, surdos, deficientes mentais e físicos. Buscava-se
informações importantes para o atendimento educacional das pessoas com algum
12
tipo de necessidade especial. Até o século XVIII, a deficiência era ligada ao
misticismo, não existindo base científica para a realidade dessas pessoas que
eram vistas como diferentes pela sociedade, e não eram compreendidos ou
avaliados por muitos como seres humanos.
Segundo Marcos Mazzota (2005), por muito tempo, as pessoas com
necessidades especiais eram vistas com temor e, isso se dava em virtude da falta
de conhecimento da sociedade em relação a essas pessoas. Essa se configura
como sendo a fase da exclusão dessas pessoas, pois, acreditava-se que elas
fossem imperfeitas, já que a perfeição era a imagem e semelhança de Deus.
A própria religião, com toda a sua força cultural, ao colocar o homem como “imagem e semelhança de Deus”, ser perfeito, inculcava a ideia da condição humana como incluindo perfeição física e mental. E não sendo “parecidos com Deus”, os portadores de deficiências (ou imperfeições) eram postos à margem da condição humana (MAZZOTTA, 2005, p. 16)
Portanto, essas pessoas eram inferiorizadas, ignoradas, marginalizadas, até
mesmo sendo pela sua própria condição humana. Muitas pessoas eram privadas
do convívio familiar e social, chamadas de imperfeitas, incapazes, inválidas,
deficientes e, tudo isso contribuiu para que a sociedade deixasse de oferecer
serviços especializados às necessidades individuais específicas para essa
população.
Nota-se que a exclusão acontecia em todas as esferas, ou seja, as pessoas
com necessidades especiais eram excluídas da sociedade, porque eram
consideradas inválidas, mortas ou abandonadas e percebidas como incapazes de
serem educadas, eram excluídas do convívio familiar e da sociedade.
Segundo Mazzota (2005), sobre a segregação, embora teve início na Idade
Média, esta fase se estendeu até o século XX. Na década de 60 foram criadas
instituições especializadas para o atendimento às pessoas com necessidades
especiais. Sobre o atendimento da criança surda, ele não era realizado como para
as demais crianças, pois, as crianças surdas possuiam problemas linguísticos e,
portanto, eram vistas como diferentes das crianças não surdas.
A idéia da Educação Integrada, era defendida a partir da década de 60,
contudo, mudanças ocorreram em sua filosofia, na medida em que crianças com
necessidades especiais passaram a ser aceitas nas salas de aula comuns. O
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objetivo era adaptar esses alunos ao sistema escolar, porém, aqueles que não
conseguiam acompanhar os demais alunos ou se adaptarem, eram excluídos.
Pela inserção pura e simples daquelas pessoas com deficiência que conseguiram ou conseguem, por méritos pessoais e profissionais próprios, utilizar os espaços físicos e sociais, bem como seus programas e serviços, sem nenhuma modificação por parte da sociedade, ou seja, da escola comum, da empresa comum, do clube comum, entre outros. Pela inserção daqueles portadores de deficiência que necessitam ou necessitam de alguma adaptação específica no espaço físico comum ou no procedimento da atividade comum a fim de poderem, só então, estudar, trabalhar, ter lazer, enfim conviver com pessoas não deficientes. Pela inserção de pessoas com deficiência em ambientes separados dentro de uma empresa comum; horário exclusivo para pessoas deficientes num clube comum entre outros. Esta forma de integração, mesmo com todos os méritos, não deixa de ser segregativa. (FERREIRA, 1986, p.34-35)
De acordo com Batista (2006), a quarta fase, a da inclusão, baseada em
uma visão de educação de qualidade para todos, em que não é o aluno que deve
ser “normalizado” para se integrar na escola, mas é esta que se modifica para
atender a todos.
Os estudantes do processo de normalização, segundo Batista (2006)
precisam demonstrar que são capazes de permanecer na classe comum. A escola
inclusiva, surge na segunda metade da década de 80, incrementou-se nos anos 90
e adentra o século XXI. A mesma autora lembra ainda que uma escola inclusiva é
uma instituição educacional na qual todos os recursos disponíveis são utilizados
cooperativamente para satisfazer as necessidades educacionais de todas as
crianças que a freqüentam.
Batista (2006) informa que as escolas inclusivas terão que ter uma gestão
pedagógica forte que propicia um planejamento conjunto dos programas
educativos, uma implementação compartilhada e uma avaliação exigente. Numa
escola inclusiva todos os alunos freqüentam turmas adequadas ao seu nível etário.
Aprender é um processo dependente de uma grande variedade de
estratégias instrucionais usadas pelos docentes como forma a facilitar as
aprendizagens dos seus alunos. Sendo importante o apoio de pessoal auxiliar no
dia a dia.
De acordo com Mazzotta (2005), novas escolas especiais para surdos foram
abertas, oferecendo oportunidades para os deficientes auditivos serem educados,
predominando o aspecto da reabilitação oral. Com o passar do tempo, esse aluno
14
era preparado para ser capaz de adaptar-se ao sistema no qual era inserido. Assim
sendo, foram sendo criados nas escolas serviços de apoio, garantindo sua
permanência nas mesmas.
Consagrando a fase da integração, logo no inicio dos anos 80, surge a ideia
de inclusão, segundo Romeu Sassaki (1997) que conceitua a inclusão social como
o processo pelo qual a sociedade “se adapta para poder incluir, em seus sistemas
sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se
prepararem para assumir seus papéis na sociedade” (SASSAKI, 1997, p. 3).
A inclusão então, se constitui num processo bilateral no qual as pessoas
ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas,
decidir sobre soluções e efetivar a equiparação para todos.
Observa-se que durante um século, iniciativas oficiais e particularidades por
parte de alguns professores tiveram a possibilidade de experimentar a educação
inclusiva no Brasil, motivando assim muitos outros educadores que sentiam o
mesmo interesse pelo atendimento educacional dessas pessoas especiais.
1.2 Aspectos Legais da Inclusão
Foram necessários muitos anos para que a Educação Especial se tornasse
alvo da preocupação para educadores, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais
e outros segmentos da sociedade. Uma atenção maior se volta para essa parcela
da população que de alguma forma era afastada do convívio social.
De acordo com Maria Aranha (2006), essas pessoas com necessidades
especiais eram vistas com indiferença pelo poder público, não havendo
preocupação na legislação que até então passavam a ideia de desconhecimento
desse problema, que se agravava cada vez mais pelo Brasil.
A história da Educação Especial começa a ter novos rumos, na medida em
que nascem os movimentos de defesa por direitos do homem à igualdade e à
cidadania, despertando um olhar crítico por essa parte da sociedade, que estava
excluída de exercer seu papel como cidadão.
Para Aranha (2006), a educação inclusiva e a constituição da escola
inclusiva pressupõem a compreensão de toda a questão legal que a gerou como
direito de todos. Neste sentido, apresentam-se nesse momento, sucintamente os
diversos parâmetros legais que auxiliam na compreensão dessa temática. Então
15
inclusão significa responsabilidade governamental, bem como significa
reestruturação da escola que hoje existe, de forma que ela se torne apta a dar
respostas às necessidades educacionais especiais de todos os seus alunos.
Um dos primeiros documentos produzidos que consideram a educação
inclusiva foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), gerado a partir
de uma Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. Esse documento
reconhece que todos os seres humanos nascem livres e iguais, em dignidade e
direitos e essa é uma condição básica que lhes garante o direito a participar
ativamente do ensino sistematizado independente de sua condição física, social ou
psíquica.
De maneira geral, essa Declaração assegura as pessoas com deficiência os
mesmos direitos à liberdade, a uma vida digna, a educação fundamental, ao
desenvolvimento pessoal e social e à livre participação na vida da comunidade.
A Declaração de Jomtien constituída em março de 1990 na Conferência
Mundial sobre Educação para Todos relembra que “a educação é um direito
fundamental de todos, mulheres e homens, de todas as idades, no mundo inteiro.”
Nesta Conferência, o Brasil assumiu, perante a comunidade internacional, o
compromisso de erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental no
país.
Para cumprir com este compromisso, o Brasil tem criado instrumentos
norteadores para a ação educacional e documentos legais para apoiar a
construção de sistemas educacionais inclusivos, nas diferentes esferas públicas:
municipal, estadual e federal.
A declaração de Salamanca foi um marco para a integração posteriormente
reconhecida como Educação Inclusiva. É um documento elaborado na Conferência
Mundial sobre a Educação Especial, em Salamanca na Espanha em 1994, trata
dos princípios, política e prática em Educação Especial.
Trata-se de uma resolução das Nações Unidas adotada em Assembléia
Geral, a qual apresenta oportunidades para pessoas com necessidades especiais.
Sobre a Declaração de Salamanca e outras definições legais a respeito da inclusão
de pessoas com necessidades especiais na educação regular e na sociedade
Conforme citado a priori, a Declaração de Salamanca (1994) foi estruturada
na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e
Qualidade, realizada UNESCO, em Salamanca na Espanha. Essa Conferência
16
teve como principal objetivo discutir sobre a atenção educacional aos alunos com
necessidades educacionais especiais. Nesta foram firmadas cartas de intenções
por todos os países participantes no intuito de promover uma nova educação
inclusiva.
Outro objetivo da Conferência de Salamanca foi analisar a situação da
criança em sentido global. Sua prioridade foi buscar formas de garantir o acesso de
todas as crianças ao ensino fundamental e que elas consigam terminar seus
estudos.
Seu planejamento se deu considerando duas grandes preocupações:
garantir à todas as crianças, incluindo as crianças com necessidades especiais, o
acesso à educação e, promover uma educação de qualidade adaptando-se às
inovações no que se refere ao ensino especial, assim como a reforma do sistema
educativo.
A Conferência de Salamanca assume que as diferenças humanas são
normais e que, em concordância com a aprendizagem que pode ser adaptada às
necessidades da criança, ao invés de se adaptar a criança ao processo de
aprendizagem.
É sim uma pedagogia centrada na criança tornando possível a todos os
estudantes e, consequentemente, à sociedade como um todo. A Declaração de
Salamanca é considerada mundialmente um dos mais importantes documentos
que visam a inclusão social e educacional em especial os alunos com NEE
(Necessidades Especiais Educacionais).
Ao assinar essa declaração o Brasil se comprometeu com o alcance dos
objetivos propostos, que visam à transformação dos sistemas de educação em
sistemas educacionais inclusivos.
Em 1999 aconteceu a Convenção Interamericana para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas com Deficiência onde se
reafirmou que “as pessoas portadoras de deficiência tem os mesmos direitos
humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos,
inclusive o de não ser submetido a discriminação com base na deficiência.”
Essa convenção foi uma reafirmação das anteriores e uma busca na análise
dos primeiros resultados. Diante dessa primeira reflexão é importante analisar a
legislação brasileira acerca da educação inclusiva.
17
A Constituição da República Federativa do Brasil (1988) assumiu,
formalmente, os mesmos princípios postos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948). Além disso, introduziu, no país, uma nova prática administrativa,
representada pela descentralização do poder.
Na promulgação desta Constituição, os municípios foram contemplados com
autonomia política para tomar as decisões e implantar os recursos e processos
necessários para garantir a melhor qualidade de vida para os cidadãos, planejar e
implementar os recursos e serviços que se revelam necessários para atender ao
conjunto de suas necessidades, em todas as áreas da atenção pública.
Outra lei importante nessa temática foi o Estatuto da Criança e do
Adolescente, Lei nº 8.069 de 1990 que estabelece o seguinte em seu artigo 3.
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhes por lei, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. (ECA, 1990, Art.3)
Este documento também afirma as obrigações da família, da comunidade e
da sociedade em geral, bem como dos poderes instituídos sobre a necessidade de
assegurar a criança e ao adolescente todos os direitos referente a vida, a saúde, a
alimentação, a educação, ao esporte, lazer, profissionalização, cultura, dignidade,
respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária, bem como traz destaques
sobre a educação de um modo geral.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 é um
importante instrumento na redefinição da educação no Brasil. Ela destaca a
responsabilidade do ensino para os cidadãos de 0 a 14 anos de idade por parte do
município, ou seja, da oferta da Educação Infantil e Fundamental para todas as
crianças e jovens que neles residem.
Assim, passou a ser responsabilidade do município formalizar a decisão
política e desenvolver os passos necessários para implementar, em sua realidade
sócio-geográfica, a educação inclusiva, no âmbito da Educação Infantil e
Fundamental.
Embora priorizando o atendimento integrado às classes comuns do ensino regular, (...) prevê a manutenção das classes, escolas ou serviços
18
especializados para atender aos alunos que deles necessitarem, em complementação ou substituição ao atendimento educacional nas classes comuns. (art. 58, § 1º).
Outro documento que enfatiza a importância da educação inclusiva é a
Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência sob o
Decreto 3.289 (1999). E este prevê o desenvolvimento de ações conjuntas entre
Estado e sociedade civil para assegurar a integração plena da pessoa com
deficiência no contexto socioeconômico e cultural.
Especificamente sobre a educação esse documento postula que a matrícula
compulsória de pessoas com deficiência, em cursos regulares, a consideração da
educação especial como modalidade de educação escolar que permeia
transversalmente todos os níveis e modalidade de ensino, a oferta obrigatória e
gratuita da educação especial em estabelecimentos públicos de ensino, dentre
outras medidas. E uma última análise do Plano Nacional de Educação, aprovado
sob a Lei de nº 10.172/01 (1999).
O Plano estabelece os objetivos e metas para a educação das pessoas com
necessidades educacionais especiais, que dentre eles, destacam-se os que tratam:
Do desenvolvimento de programas educacionais em todos os municípios, e em parceria com as áreas de saúde e assistência social, visando à ampliação da oferta de atendimento da educação infantil; Dos padrões mínimos de infra-estrutura das escolas para atendimento as necessidades dos alunos; Da disponibilização de recursos didáticos especializados de apoio à aprendizagem nas áreas visual e auditiva; Da articulação das ações de educação especial com a política de educação para o trabalho; Do incentivo à realização de estudos e pesquisas nas diversas áreas relacionadas com as necessidades educacionais dos alunos; Do sistema de informações sobre a população a ser atendida pela educação especial.
As orientações analisadas nos mais diversos documentos aqui apresentados
não são as únicas, pois ainda há uma série de orientações, decretos, leis
complementares que rezam sobre a educação inclusiva e outros temas pertinentes,
mas que não serão alvos dessa pesquisa.
A educação inclusiva parte do principio de que todos devem aprender juntos,
levando em consideração suas dificuldades e diferenças. Sua criação é decisiva
19
para eliminar atitudes discriminatórias, criar comunidades escolares que acolham
a todos e desperte maior consciência na sociedade.
Assegurar os direitos sociais da pessoa com necessidades especiais, criar
condições para promover sua autonomia, inclusão social e participação efetiva na
sociedade deve ser uma luta diária de todos.
A escola é uma importante aliada para a inclusão e autonomia desse
processo de inclusão social. É nela, o espaço no qualo se indentificam e corrige as
deficiências da situação educacional brasileira, eliminando as desigualdades e
fazendo acontecer a integração da pessoa com necessidades especiais.
Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96,
que estabeleceu, entre outros principios, o de “igualdade de condições para o
acesso e permânencia na escola” e adotou uma nova educação para “educandos
com necessidades especiais”.
Com a Lei 9394/96 fica estabelecida entre outros princípios uma grandeza
de informações do processo de inclusão. Define a Educação Especial como: “a
modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”.
Isso implica na importância de cercar a pessoa que possui necessidades
especiais de toda a atenção para que lhe seja permitido, segundo suas próprias
possibilidades, desenvolver-se continuamente, tornando-o capaz, inclusive e
quando possível, de discernir a respeito de sua condição especial sem, associá-la
como uma criança inferior.
Essa atenção tem início na educação infantil de zero aos seis anos, nas
creches e pré-escolas como estabelece o Parágrafo único da resolução número
dois, de 11 de setembro de 2001 seguida do Art.2º onde se confirma o direito da
matricula dos alunos com NEE (Necessidades Educacionais Especiais) em todos
os sistemas de ensino, sendo de responsabilidade da escola se organizar as
condições necessárias para uma educação de qualidade para todos.
No Art. 8º da referida lei, as escolas da rede regular devem prever e prover
a atuação dos professores capacitados e especializados na educação dos alunos
com NEE, sua distribuição pelas várias classes, flexibilidade e adaptações
curriculares, serviços de apoio pedagógico especializados, condições para reflexão
e elaboração teórica da educação inclusiva.
20
No 3º inciso do Art. 10 de acordo com a LDB “os curriculos devem ajustar-
se às condições”, no Art. 12 da Lei 10.098/2000 e da Lei 10.172/2001, “devem
assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentam necessidades educacionais
especiais”. Esses ajustes dos currículos implicam uma avaliação do estilo de
aprendizagem dos alunos.
Na avaliação são identificadas as necessidades especiais apresentadas nas
diferentes áreas curriculares e são indispensáveis para o atendimento adequado
como bem acentuou Fullan (1995, apud Schwartzman, 2003, p: 258) “ a inclusão
resulta de um complexo processo integração, de mudanças qualitativas e
quantitativas, necessárias para definir e aplicar soluções adequadas”.
Uma nova estrutura na escola, física e pedagógica para atender as crianças
com necessidades especiais, somada a uma mudança de ensino a ser ministrado
faz-se necessária. Além disso, um planejamento anterior com debates de
problemas antes da implantação da inclusão, um trabalho conjunto da Família-
escola, equipes escolares e outros profissionais da área da educação é
fundamental para um sistema inclusivo de sucesso.
Na prática a burocracia do sistema educacional das escolas e dos órgãos
governamentais e a falta de verbas, a necessidade das inovações estruturais
educacionais e o preparo dos professores são apenas algumas dificuldades a
serem vencidas para o pleno cumprimento da LDB.
o maior dos desafios que é a inclusão do aluno especial, deveria ocorrer a partir da formação antecipada à prática, associada á formação de equipes de apoio qualificada, na escola e órgãos gestores, para acompanhar educadores e educandos (CHAVES, 2006, p. 105)
Compreende-se que esse desafio da escola integradora é dificilmente
superado pela inexistência de tais apoios e da estrutra fisica nas escolas de
educação regular tanto para os alunos com NEE (Necessidades Especiais
Educacionais) quanto para os professores.
Para Chaves (2006), a inclusão da criança com deficiência auditiva no
ensino fundamental representa uma ação não apenas de direito como foi
estabelicido pela LDB, mas também, educativa, para sua participação adequada na
sociedade, permitindo o conhecimento da sua cultura, tornando o aluno surdo
21
capaz de acompanhar o progresso do seus colegas que não possuem
necessidades especiais, contribuindo gradualmente para sua identidade.
Entende-se que, uma pedagogia centrada na criança pode impedir o
desperdício de recursos e o enfraquecimento de esperanças, que são
conseqüências de uma instrução de baixa qualidade e de uma mentalidade
educacional baseada na idéia de que se tem apenas uma forma de ensinar.
Escolas centradas na criança são além do mais, a base de treino para uma
sociedade baseada no povo, que respeita tanto as diferenças quanto a dignidade
de todos os seres humanos.
Nessas transformações, também devem estar incluídos os indivíduos que
possuem necessidades especiais, pois, os mesmos, possuem habilidades e
potencialidades que justificam seus direitos sociais.
O trabalho realizado pela Câmara de Educação Básica, em Brasília (DF) é
bem relatado no Parecer nº 17 (Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica de 03 de julho de 2001).
Esse trabalho serviu como fundamentação para a Resolução nº 2, de 11 de
setembro de 2001 que determina que os professores para atuarem com alunos de
Educação Especial deverão ser capacitados e especializados para atenderem a
esses alunos (Artigo 8º, incisos I e II).
A saber que esses mesmos alunos devem ser distribuídos pelas várias
classes da escola e juntamente com outras crianças comuns, ampliem suas
experiências com outros alunos, fazendo assim uma troca de saberes entre si.
A Resolução nº. 2 – Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica de 11 de setembro de 2001 (CNE/nº.2/2001) cita: O Conselho
Nacional da Educação, vem através desta resolução defender a implantação de
escolas inclusivas, dentro de uma sociedade que acolha a diversidade humana e
as diferenças individuais”. Isso está bem claro no Art. 2º que diz:
Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos.
Em outubro de 2001, a Convenção Interamericana estabeleceu a eliminação
de todas as formas de discriminação de pessoas com necessidades especiais
22
conhecida como a Convenção da Guatemala, aprovada em 6 de junho de 1999
pela Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Sobre a necessibilidade, a Lei nº. 10.098/2000 tem como foco principal
estabelecer normas e critérios básicos, dando garantia de acesso às pessoas com
necessidades especiais, eliminando todos os tipos de obstáculos e barreiras
arquitetônicas, urbanistas, comunicacional, mobiliário público e privado que
possam impedir seu acesso.
Observa-se que, fica claro na forma da lei que, essas pessoas deverão ter
acesso a qualquer ambiente sem nenhum impedimento.
O Decreto nº. 5.626, de 26 de dezembro de 2005, regulamenta a Lei 10.098
(20/12/2000), capitulo VI, garante o direito à educação das pessoas surdas ou com
deficiência auditiva. O Art. 22 desse decreto determina que as instituições federais
de ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos
surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização de:
Inciso I – escolas que disponham de professores bilingues, que ofereçam vagas a alunos ouvintes e surdos, da educação infantil ao ensino fundamental. Parágrafo 2º - Aos alunos surdos deverão ser oferecidos no contra-turno, atendimento educacional diferenciado como forma de complementar o aprendizado desses alunos, se utilizando de outras tecnologias de informação.
Da Garantia do Direito à saúde das pessoas surdas ou com deficiência
auditiva, o capítulo VII, artigo 25, parágrafo 2 está determinado que ficam
vinculados ao poder público, todos os órgãos públicos, Estadual, Municipal e
Federal e também as empresas privadas que detém permissão para atuarem
“prestando assistência ao serviço público, dando prioridades aos alunos surdos ou
com deficiência que frequentem a rede regular de ensino, tendo total atenção nos
serviços de saúde prestados por esses órgãos” (artigo 3º, da Lei nº. 9394/96).
A nova LDB da Educação Especial (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Especial, nº. 9394/96), estabelece que a Educação Especial deve ser oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, sem descartar a necessidade de
serviços de apoio especializado na escola regular para o atendimento dos alunos
com necessidades especiais “preferencialmente na rede regular de ensino”,
23
havendo “quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular,
para atender às peculiaridades da clientela de Educação Especial”.
Esse atendimento será realizado em classes e/ou escolas que, em função
das condições específicas dos alunos não tiverem possibilidades de integração
desses alunos nas classes comuns de ensino regular, como reforça o artigo 58 da
Lei.
O Artigo 59 da referida lei determina o apoio assistencial e escolar para
atender a demanda do trabalho pedagógico, afim de se fazer a adequação aos
alunos que se encontrem na aceleração e para os superdotados.
Os professores deverão ser especializados para fazer o atendimento aos
educandos com necessidades especiais nas classes comuns.
Artigo 60 – Fica estabelecido pelo poder público que ao educando com necessidades especiais, serão oferecidos apoio por outros órgãos que atuem na educação especial, caso não seja necessário esse atendimento terá prioridade pela rede regular de ensino (artigo 60, da Lei nº. 9394/96).
Embora se reconheça o avanço nas leis, e a presença da educação especial
na mesma, tem observado que ainda há necessidade de melhora em se tratando
da realidade brasileira, na qual a educação especial exerce ainda carece atenção
das políticas sociais do país. Ao longo da história, nenhuma ou pouca atenção foi
voltada para a educação das pessoas com algum tipo de deficiência.
Na medida em que emergiam os movimentos de defesa do direito do
homem à igualdade e à cidadania, a história da Educação Especial começou a
mudar e esta se tornou alvo da preocupação de educadores e outros segmentos
sociais.
1.3 Tipos de Surdez
Sobre os tipos de deficiência auditiva, Carlos Skliar (1988) classifica-os em:
deficiência auditiva condutiva – quando ocorre qualquer interferência na
transmissão do som desde o conduto auditivo externo até a orelha interna.
Na maioria das vezes, essa deficiência pode ser corrigida com tratamento
clínico ou cirurgia. Dentre as suas causas, pode-se citar: corpos estranhos no
conduto auditivo externo, tampões de cera, otite externa e média, má formação
24
congênita do conduto auditivo, inflamação da membrana timpânica, perfuração do
tímpano, obstrução da tuba auditiva, entre outras; deficiência auditiva sensório-
neural – quando não é possivel a recepção do som por lesão das células ciliadas
da orelha interna ou do nervo auditivo.
É um tipo de deficiência auditiva irreversível e pode ser hereditária, ou seja,
quando a mãe no pré-natal adquire algumas doenças como rubéola, sífilis, herpes,
toxoplasmose, alcoolismo, toxemia, diabetes e outras. Além disso, também podem
ser causas, os traumas físicos, prematuridade, baixo peso ao nascer, trauma de
parto, meningite, encefalite, caxumba, sarampo e outras; deficiência auditiva mista
– consiste na alteração na condução do som até o órgão terminal sensorial somada
à lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo; deficiência central ou disfunção
auditiva central – não é necessariamente acompanhada de diminuição da
sensibilidade auditiva, contudo, se manifesta por diferentes graus de dificuldade no
entendimento das informações sonoras. Suas causas podem estar nas alterações
dos mecanismos de processamento da informação sonora no tronco central, ou
seja, Sistema Nervoso Central.
Para Carlos Skliar (1988), a surdez é uma diferença, uma experiencia visual,
uma identidade múltipla ou multifacetada localizada dentro do discurso sobre a
deficiência. É portanto, uma diferença que precisa ser politicamente reconhecida.
Sempre há uma possibilidade de buscar e propor, conhecer as potencialidades do
sujeito surdo e apropriar delas.
Se faz necessário que se analise esses indivíduos levando em conta a sua
realidade, e assim, compreendê-la e como ocorre a aquisição e uso da linguagem.
É fundamental a compreensão do processo da linguagem dos surdos tanto no que
tange ao uso da língua como de outras áreas do conhecimento, para que, dessa
forma, se possa refletir sobre a forma mais adequada de se ensinar esses alunos
com necessidades auditivas especiais. É importante salientar também que, a
escola e os educadores são responsáveis pela inclusão dos surdos no ambiente
social e escolar, além da garantia de serviço de apoio especializado para atender
suas necessidades educacionais especiais (NEE).
De acordo com Maria Góes (1996), muitos professores não conhecem a
história da educação e a cultura surda, além de não conhecerem a Língua de
Sinais que é a forma como os surdos aprendem a escrita da lingua oral e o fato de
25
que esses conhecimentos poderiam facilitar a organização de suas estratégias de
ensino.
Em seus estudos sobre a aquisição da Língua Portuguesa, Farias (2006)
teve como objetivo conhecer a cultura surda, para que assim, pudesse identificar
as características de sua língua própria, a LS e verificar como ocorre o processo de
aquisição da sua segunda língua que é a Língua Portuguesa.
Seus estudos permitiram a coleta de dados que, ao serem analisados,
estabeleceu um paralelo entre a realidade observada e o estudo teórico
desenvolvido. Por fim, apresentou propostas para o ensino da leitura e da escrita
da Língua Portuguesa para os surdos.
Góes (1996) e Ronice Quadros (1997) entendem que o uso da língua de
sinais objetivam o desenvolvimento da linguagem da criança surda. Essa filosofia
utiliza a língua de sinais dentro da estrutura da Língua Portuguesa como sendo um
recurso para o ensino da língua oral, isto é, enfatiza um sistema artificial
classificado de português sinalizado. Esse sistema se caracteriza pelo
bimodalismo, ou seja, o uso simultâneo de sinais e fala.
26
CAPÍTULO II
2 DEFINIÇÃO DA SURDEZ E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS
A história da educação dos surdos no Brasil é marcada pela preocupação
exacerbada com o desenvolvimento da linguagem. Essa preocupação sempre
moldou as propostas pedagógicas para a educação dos surdos, não que essa
preocupação seja infundada ou menos importante, contudo, o que se observa é
que ela se tornou quase que exclusiva perdendo de vista o processo educacional
integral da criança surda.
Skliar (1988) aponta para a dificuldade de se conceituar a surdez em um
determinado contexto histórico, social (no que tange à sua inclusão nos espaços da
sociedade) ou educacional (no que se refere à sua inclusão nas escolas regulares).
Segundo esse autor, o conceito de surdez implica num conhecimento dos
diferentes graus de perdas auditivas do indivíduo. Para iniciar esse sujeito no
mundo escolar é preciso, sobretudo, compreender a forma como ele vê e ouve o
mundo e suas relações com os pares. Ressalta ainda que todo indivíduo, e isso
inclui as pessoas com deficiência auditiva, possui capacidade de se apropriar, de
aprender e interagir ante ao meio social.
Skliar (1988) ressalta que existem grupos formados socialmente,
principalmente no que se refere aos termos sociolinguísticos, que passam a fazer
parte do jogo social quando são capazes de expressar seus desejos e anseios.
Enfatiza ainda que:
Criam suas próprias regras para a escrita e a fala, estes pontos chaves incita-nos a (re)pensar que a questão da surdez, tem mais um caráter de “déficit de comunicação” por falta de instrumentos capazes de suprí-la do que uma deficiência propriamente dita, que impossibilita a realização de qualquer tarefa da mais simples a mais complexa, daí o fator de exclusão que se perpetua (SKLIAR, 1988, p.11)
A deficiência auditiva é também conhecida como surdez e consiste na perda
parcial ou total da capacidade de ouvir, isto é, o indivíduo apresenta algum tipo de
surdez.
De acordo com Skliar (1988), o indivíduo é considerado surdo quando a sua
audição não funciona no cotidiano do dia-a-dia e, é parcialmente surdo quando ele
27
apresenta capacidade de ouvir, mesmo que de forma insuficiente, funciona pouco
com ou sem uma prótese auditiva.
Ainda para esse autor, muitas vezes se confunde a surdez com deficiência
auditiva, contudo, ambas não podem ser consideradas como sendo sinônimos
porque não são. A surdez, quando de origem congênita, significa que o indivíduo
nasceu surdo, ou seja, não possui nenhuma capacidade de ouvir qualquer som
desde que nasce. Em consequência, surgem inúmeras dificuldades na aquisição
da linguagem, assim como no desenvolvimento da sua comunicação com os
demais. A deficiência auditiva se apresenta como sendo um déficit adquirido, isto é,
o indivíduo nasce com sua audição perfeita, contudo, devido a lesões ou doenças
adquiridas ao longo de sua vida, ele perde a capacidade de ouvir. Nesses casos,
as dificuldades não são tão grandes, pois, o indivíduo até então, já aprendeu a se
comunicar oralmente. Contudo, adquirindo essa deficiência, ele vai precisar
aprender a se comunicar de forma diferente.
Muitas vezes, os silenciosos nem sempre o são assim porque desejam isso,
mas porque foram silenciados e, dessa forma, é preciso desvelar esse silêncio. É
necessário buscar nessa “história de vencidos, a educação e a pedagogia [...]
Mesmo sendo silenciados, os surdos não se tornaram silenciosos, pelo contrário,
lutaram e ainda lutam pelo reconhecimento de sua identidade” (FERNANDES,
2006, p.19). De acordo com essa autora, não se pode tentar abordar a educação
dos surdos sem conhecer a história dessa comunidade que teve sua gênese em
um momento muito difícil no que tange ao reconhecimento como identidade
linguística e cultura.
Do ponto de vista desta estudiosa, a história da educação escreve a dos
surdos e, a da educação dos surdos foi sempre contada pelas pessoas que não
possuem essa necessidade especial. Alerta ainda para a possibilidade de muitos
surdos terem internalizado a idéia de serem deficientes, incapazes devido ao fato
de que ao longo da história foram tratados como incapazes.
Eulália Fernandes (2006) lembra que nos primórdios da história da
educação dos surdos, quase não havia uma compreensão da psicologia do
problema fato este que fazia com que as pessoas com necessidades especiais
como os surdos fossem parar em asilos considerados como loucos. Havia a idéia
errônea de que os surdos eram inferiores no quesito inteligência. Não se pode
negar que a falta de linguagem influencia significativamente no desenvolvimento
28
psico-social do ser, contudo, quem possui deficiência auditiva pode aprender a se
comunicar através da Língua de Sinais e, dependendo do grau de surdez, pode
também aprender a língua falada.
De acordo com Fernandes (2006) foi na Europa onde surgiram os primeiros
educadores de surdos, especificamente no século XVI. Esses educadores criaram
diferentes metodologias de ensino e utilizavam a língua auditiva-oral nativa, a
datilografia e outros códigos visuais. Ressalta ainda que no século XVIII passou a
ser bastante difundida e com grande êxito a língua dos sinais e, dessa forma, os
surdos conquistam sua cidadania.
2.1 Ensino da Linguagem Oral e Escrita
Azeredo (apud FERNANDES, 2006) aborda que atualmente, se consolida
uma antiga certeza de que a língua é um tipo de conhecimento, expressão e
compreensão que não existe por si só, assim como também não é simples
estrutura. Quando uma pessoa conhece a língua quer dizer que ela tem
capacidade de se comunicar através dessa língua.
O grande objetivo da escola, segundo esse autor, é capacitar o aluno para
expressar-se de forma oral e escrita e compreender o que ouve e vê
adequadamente. Através dos textos, podemos nos expressar de forma que
sejamos compreendidos e compreender os outros também. Dessa forma, o ensino
da língua se configura como o ensino dos modos como os conteúdos adquirem
forma no texto.
De acordo com os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1999), a
linguagem verbal se configura como sendo um dos meios que o homem possui
para representar, organizar e transmitir de forma objetiva o seu pensamento.
No campo dos sistemas de linguagem, podemos delimitar a linguagem verbal e não-verbal e seus cruzamentos verbo-visuais, áudio-visuais, áudio-verbais-visuais, etc. A estrutura simbólica da comunicação visual e/ou gestual como da verbal constitui sistemas arbitrários de sentido e comunicação. A organização do espaço social, as ações dos agentes coletivos, normas, os costumes, rituais e comportamentos institucionais influem e são influenciados na e pela linguagem, que se mostra produto e produtora da cultura e da comunicação social (PCN’s, 1999:126)
29
Para Skliar (1988) a linguagem faz parte e é do uso comum entre
determinados grupos sociais. Para esses grupos, a linguagem tem a finalidade de
realização das mais variadas formas de trocas de informações. O uso da língua de
sinais, do ponto de vista da surdez pode e deve ser superada através desse
instrumento de comunicação procurando compreender como se dá essas trocas.
Lembra que a surdez “não se caracteriza por uma diferença física perceptível e ao
contrário do que se pensa, ela está impregnada de preconceitos, num dilema
inesgotável em ser ou não ser uma deficiência” (SKLIAR, 1988, p.17). Portanto,
compreende-se que a falta eficaz de comunicação para uma pessoa implica num
significado negativo que traz conseqüências para a formação social e educacional
deste ser.
Segundo Skliar (1988) na criança, a falta de uma linguagem implica num
atraso em seu desenvolvimento cognitivo, de aprendizagem, em problemas com a
interação com outras pessoas do seu meio. Para este autor, a surdez numa criança
passa do estado físico para o psicológico, ou seja, deixa de ser um problema
apenas físico para se tornar também em dificuldades psicológicas formando uma
lacuna na comunicação entre o sujeito surdo e o sujeito ouvinte, ou seja, dificulta a
comunicação de ambos fazendo com que o surdo saia perdendo no que tange à
comunicação, pois, não há uma interação real e, dessa forma, o surdo acaba por
se manter isolado na maioria das vezes e perdendo o convívio social tão
importante para o seu desenvolvimento.
É essencial que se discuta a linguagem partindo dos pressupostos sócio-
históricos para que se possa compreender a perspectiva que se assume sobre os
sujeitos surdos. Os surdos possuem peculiaridades lingüísticas específicas com
necessidade de uma linguagem ativa para que possam desenvolver e conviver
com outras pessoas e isso não se restringe aos surdos, as pessoas que não
possuem deficiência auditiva também têm essa necessidade.
Vygotsky (1993 apud Skliar 1988) defende idéias que refutam a teoria de
que crianças com necessidades especiais não possam ter oportunidades iguais às
outras crianças. Para ele, essa criança não é menos desenvolvida, mas apenas,
uma criança que se desenvolve de forma diferente. Ressalta ainda que a educação
tem a finalidade de garantir a interação da criança especial com a vida dando-lhes
possibilidades de compensação para a deficiência.
30
José Schwartzmann (2003) aponta para a necessidade de buscar novas
formas para que os surdos possam adquirir a linguagem e essas novas formas
devem considerar o sentido visual, pois, os sonoros não são afetivos. Revela ainda
que o desafio das pessoas surdas está na impossibilidade de adquirir de forma
natural as línguas auditivo-orais que dominam na sociedade.
Não é recente o surgimento da língua de sinais, pois, há registros da sua
existência desde o século XVII, assim como a sua utilização no processo de ensino
(SCHWARTZMANN, 2003). Reunindo surdos dos arredores de Paris, o abade
L’Epée criou a primeira escola pública para surdos e também precursora no uso da
língua de sinais. A partir disso, essa metodologia passa a se espalhar por toda a
Europa e depois pelo mundo.
De acordo com Schwartzmann (2003) em 1880, a partir do Congresso de
Milão, foi adotado o oralismo, método que considera a voz como único meio de
comunicação e de educação para os surdos e, desde então, o uso das línguas de
sinais na educação foram excluídas. Iniciam-se uma série de perseguições aos
surdos que utilizavam a língua de sinais. Entretanto, em 1960, devido ao fracasso
do oralismo, criou-se a metodologia da Comunicação Total que pouco tempo durou
por causa de sua concepção ser bem semelhante com o oralismo. A Comunicação
Total é uma proposta mais flexível sobre o uso dos meios de comunicação oral e
gestual. Com sua expansão, a proposta inicial é transformada e se consolida e se
torna em filosofia educacional e não um método. A Comunicação Total não explicita
de maneira clara os procedimentos de ensino, ela é incorporada em diferentes
lugares e, em versões variadas, conforme cita Ciccone (1990, apud
SCHWARTZMANN, 2003) que a considera como sendo uma filosofia que possui
uma maneira própria de entender o surdo. Se caracteriza basicamente pela
aceitação de vários recursos de comunicação cujo objetivo seja ensinar a língua
majoritária e promover a comunicação. Contudo, atualmente, o método mais
utilizado é o bilingüismo.
De acordo com Schwartzmann (2003), o bilinguismo tem como base o
reconhecimento de que as crianças surdas são interlocutoras naturias de uma
língua adaptada à sua capacidade de expressão. Dessa forma, propoem-se que a
íngua gestual oficial que é específica em cada país, lhes seja ensinada desde a
infância como sendo a primeira língua. Os defensores do bilinguismo enfatizam que
31
a língua gestual deve ser adquirida por meio do convívio com outros surdos mais
velhos de preferência e que dominem a língua gestual.
Schwartzmann (2003) enfatiza que a Língua de Sinais foi desenvolvida a
partir da língua de sinais francesa, pois, cada país possui sua própria língua de
sinais revelando que as mesmas não são universais. No Brasil, a LS possui
estrutura gramatical própria. Os sinais são formados por meio da combinação de
formas e movimentos das mãos e de pontos de referência no corpo ou no espaço,
ou seja, expressões faciais e corporais. A LS foi por muitos anos repudiada e
contestada no contexto escolar e fora dele também. Somente nos anos 80 essa
modalidade atingiu sua meta acompanhada na entrada da Comunicação Total no
Brasil.
De acordo com Schwartzmann (2003) essa meta foi atingida a partir do
apoio de setores liberais da educação no Brasil nos quais era percebido um desejo
maior de pesquisar com mais ênfase sobre a surdez. Esses pesquisadores e
educadores se preocupavam com a importância da existência da Língua de Sinais
tanto quanto com a formação do docente como conhecedor dessa língua. O objetivo
era encontrar respaldo jurídico para que as leis que surgiam fossem aceitas dentro
do contexto social. A Língua de Sinais fundamentou-se através do Centro de
Convivências, das Associações, nas quais eram os principais setores institucionais
de aprendizagem de LS.
A língua de sinais é um mecanismo muito importante na aquisição da
linguagem pelos surdos e se não for utilizada, todos os outros mecanismos
utilizados serão artificiais, prejudicando o desenvolvimento natural das crianças
surdas. Não é aconselhável que a aprendizagem da língua de sinais seja tardia por
parte dos alunos surdos, pois, isso pode causar-lhes muitos prejuízos como, por
exemplo, a falta de organização do pensamento de maneira mais desenvolvida
comprometendo o avanço conceitual dos atributos concretos dos objetos.
De acordo com Marcia Goldfeld (1997) a criança com surdez precisa
desvincular-se do ambiente concreto, pois, caso contrário, não terá condições
favoráveis de desenvolver as funções organizadoras e planejadoras da linguagem
de maneira eficaz. Compreendemos a linguagem como constitutiva do
conhecimento quando a percebemos em seu caráter de constitutividade. Para isso,
se faz necessário reconhecer a mediação fundamentada na língua de sinais como
32
língua efetiva para qualquer prática pedagógica de cunho educacional para crianças
surdas.
Ao que parece, no que tange às práticas pedagógicas que são utilizadas com
alunos surdos, a preocupação maior é com o treino mecânico da fala. As escolas
trabalham com atividades exclusivas de metalinguagem, principalmente nos
primeiro s anos escolares. Essas atividades implicam em exercícios gramaticais
descritivos, estudos das regras em detrimento de atividades epilinguísticas e
lingüísticas.
Quando a criança já nasce com a surdez, ela aprenderá, na ausência do
som, a se comunicar com a família utilizando uma língua gestual. Na medida em
que recebe estímulos, essa língua será mais estruturada e complexa e, assim,
estará desenvolvendo sua capacidade de aprendizagem. Essa língua que gradativa
mas, significativamente vai se estruturando se tornando na primeira língua natural
dessas crianças, a LS. Os pais, quando surdos também levam o filho a desenvolver
a lingüística natural de sinais, contudo, se o pai não for uma pessoa surda, o
oralismo irá prevalecer. É o estímulo que determina a aquisição da Língua de Sinais
como natural e isso fará com que a pessoa que mais dominar essa língua, mais fácil
irá ter como segunda língua a Portuguesa.
Para Goldfeld (2001) existe uma grande necessidade de escolas e
professores capacitados para atender aos alunos com deficiência auditiva para se
compreender como o aluno surdo pode aprender. Faz-se importante que o oralismo
seja reconhecido no processo de aquisição das normas gramaticais e para o
trabalho com o sujeito surdo no contexto escolar, assim como a sua reabilitação do
aparelho fonal. Contudo, não se pode conceber o oralismo como sendo a única
forma de se trabalhar com esse aluno, pois, existem outros modelos para serem
analisados.
O autor enfatiza que existem duas formas de linguagem: a língua natural que
se aprende desde o nascimento sendo como a primeira língua e a segunda língua
para o aluno surdo. Para muitos autores, a língua de sinais deve ser para o sujeito
surdo a primeira língua e o Português seria a segunda. Para os autores que
defendem essa inversão das línguas, o surdo deve ter domínio da língua de sinais
para em seguida, ter o português como forma de expressão com o mundo oralista.
Em muitos países da Europa e da América, o bilingüismo está sendo muito
utilizado nos últimos anos como modelo de transmissão do saber, pois, acredita-se
33
que seu uso faz com que haja uma aceitação melhor por parte dos ouvintes em
relação a essa modalidade bilingual. Compreende-se que os surdos forma uma
comunidade de língua e cultura próprias, entretanto isso pode não ser percebido de
imediato. O bilingüismo se contrapõe à padronização rejeitando a idéia de que o
surdo deve adaptar-se ao ambiente da linguagem oral quando o que deve
acontecer é o contrário, ou seja, o ambiente da linguagem oral é que deve se
adaptar ao surdo.
Para Goldfeld (2001), os surdos possuem variados pontos em comum, por
exemplo, a capacidade de realização das tarefas que exigem concentração.
Contudo, não se pode afirmar que essa é uma regra geral, pois, não se percebe
essa capacidade em todos os surdos. As habilidades podem existir em uns e, em
outros não existirem. Um fato muito importante é saber de que meio social o
aprendizado da linguagem foi imposta, oral ou de sinais. Também é importante
saber sobre seu conhecimento escolar, suas possibilidades e o que foi oferecido ao
surdo pela instituição escolar.
Reconhecer é o primeiro passo para a valorização do surdo e, de acordo com
Quadros (1997 p.12) “A aquisição da linguagem em crianças surdas deve acontecer
através de uma língua visual-espacial”. A língua visual-espacial no caso do Brasil é
a língua de sinais. A escola precisa ser, sobretudo, uma representação do que
acontece na vida social do surdo oferecendo uma linguagem que lhe possibilite
realizar-se em todos os aspectos da vida. Deve possibilitar também o acesso à
aprendizagem da linguagem dos surdos, principalmente a LS.
Muitos estudiosos admitem a existência de duas filosofias educacionais, ou
seja, o Oralismo e o Bilinguismo. Contudo, também admitem o Oralismo e a
Comunicação Total como sendo abordagens educacionais tradicionais.
De acordo com Nídia Sá (1999), os discursos referentes à Comunicação
Total chegam com diferentes entendimentos, o que leva a uma definição de
diferentes possibilidades no uso da expressão. Dentre essas definições, destacam-
se: posicionamento filosófico – aceitação da diferença que existe entre uma pessoa
surda e uma ouvinte e a rejeição do modelo ouvinte que advém do Oralismo;
abordagem educacional bimodal – objetiva o aprendizado da língua da comunidade
majoritária pela utilização de todos os recursos possíveis que vão além da fala;
bimodalismo exato – faz uso simultâneo ou combinado de sinais gesto-visuais
34
extraídos da Língua de Sinais e outros sinais gramaticais que não estão presentes
nela.
Sua história vai sendo construída na insatisfação que se manifesta mundialmente com os resultados da educação oralista que, após haver exposto várias gerações de surdos à sua orientação, não apresentou resultados satisfatórios (SÁ, 1999, p. 106)
Dessa maneira, de acordo com a autora, as ideias compiladas pelos
estudiosos fundamentou o propósito de obter maiores informações para traçar uma
visão linear dos fatos que tornaram possível a evolução das abordagens
educacionais para pessoas com surdez.
A comunicação Total possui vertentes que a defendem e que a criticam. A
vertente que defende essa abordagem, afirma que a filosofia da Comunicação
Total é vislumbrar o surdo de maneira natural, ou seja, as características da
pessoa surda são aceitas fazendo com que a comunicação entre os surdos e não
surdos seja por meio de todo e qualquer recurso possível e em qualquer que seja o
segmento da sociedade. Para seus defensores, a Comunicação Total possibilita o
processo de ensino-aprendizagem. A utilização de estratégias bimodais são
estimuladas dentro desse conceito, além do uso de recursos de comunicação
como a mímica, teatro, alfabeto datilológico, desenhos, escrita, leitura labial,
gestos, sinais codificados e outros.
Para a vertente que critica a Comunicação Total, segundo Sá (1999), essa
filosofia não satisfaz os surdos em si, mas sim, a família dos mesmos, portanto, a
Comunicação Total seria um meio de atender aos anseios das famílias que
possuem dificuldades em se comunicar com os surdos.
Para essa autora, os pontos negativos da Comunicação Total emergem
quando essa filosofia é considerada uma abordagem educacional ou sistema
artificial de linguagem, quando é ignorado o seu caráter filosófico.
A Comunicação Total inovou de forma significativa a história dos surdos,
embora hajam aqueles que não constatam benefícios ou progresso nessas
mudanças. Contudo, historicamente, esse novo posicionamento alterou
significativamente a tradição enriquecendo a dimensão emocional ao possibilitar o
uso de recursos que não se restringem à língua na modalidade oral e maior
aceitação das diferenças de uma pessoa com surdez.
35
2.2 A Importância da Língua de Sinais (LS)
Do ponto de vista de Nídia Sá (1999), um passo importante para o ensino da
linguagem para os surdos, foi o interesse pelo estudo da Língua de Sinais que veio
a partir da entrada das ideias da Comunicação Total na década de 1980.
De acordo com Sá (1999), a LS trouxe uma grande contribuição para o
processo educacional do surdo. Informa ainda que, a abordagem educacional com
o Bilinguismo tem sido, desde essa década, um tema de grande interesse. Embora
seja alvo de muitas polêmicas, ainda se configura como sendo um tema
desconhecido e cercado de dúvidas entre os profissionais da área e entre os
surdos adultos.
O fato de profissionais e surdos estarem se conscientizando da importância do uso da Língua de Sinais na educação de surdos não significa que não estejam questionando os pressupostos da abordagem educacional com Bilinguismo, seus resultados e suas dificuldades para implantação em nível nacional (SÁ, 1999, p. 140)
Para os surdos adultos, a questão das abordagens de ensino ainda é difícil
de ser discutida entre eles, contudo, reconhecem que o que mais importa são os
resultados obtidos na utilização dessas abordagens.
Do ponto de vista de Sá (1999) existe ainda um grande preconceito no que
se refere ao uso da LS, e isso não é algo novo, ao contrário, é bem antigo. Entre os
profissionais, esse preconceito deriva da falta de fundamentação linguística, pois,
em geral, consideram a Língua de Sinais, pobre, devido ao entendimento de que
não existem nela, flexões verbais para tempo, preposições ou outros elementos de
ligação. Isso para os educadores torna a Língua de Sinais falha.
A aquisição de uma Língua acontece quando o indivíduo assimila a
estrutura, o léxico, a pragmática e a semântica da língua de uma maneira natural e
espontânea. Dessa forma, qualquer que seja a segunda lingua que se pretende
aprender, será exigido do sujeito um processo consciente de relação com sua
primeira língua, a que foi anteriormente adquirida. Isso reforça a tese de que, “o
aprendizado da segunda língua sempre é influenciado pela aquisição da primeira”
(SÁ, 1999, p. 161). Ainda sob a ótica da autora, o aprendizado da língua escrita,
mesmo no caso dos sujeitos ouvintes, implica numa aprendizagem formal e
sistemática.
36
A Língua de Sinais é de suma importância para uma pessoa surda. Seria
mais interessante que essa língua fosse considerada como sendo a língua materna
dos surdos e isso deveria acontecer desde sua fase infantil. Melhor ainda seria se
todas as pessoas envolvidas no processo educacional também fossem bilingues,
pois, dessa forma, a comunicação seria mais eficaz e concreta.
A Língua de Sinais, de acordo com Sá (1999) é a única que pode ser
adquirida pelos surdos naturalmente, apenas pelo contato natural entre os usuários
dessa modalidade. Também defende que ela oferece suporte linguístico necessário
para o desenvolvimento cognitivo do surdo, pois, segundo estudos sobre a relação
pensamento-linguagem, constatou-se que a cognição também está relacionada
com a capacidade humana de adquirir e desenvolver linguagem.
Para muitos pesquisadores, citados por Sá (1999), torna-se imprescindível
um suporte linguístico no desenvolvimento do pensamento, assim como da
inteligência do sujeito.
Ainda de acordo com a autora, a Língua de Sinais cumpre essa tarefa
perfeitamente, ou seja, ela dá suporte linguístico possibilitando o acesso à
dimensão simbólica e à subjetividade, na mesma medida em que a língua exerce
na modalidade oral no desenvolvimento de um sujeito ouvinte.
Em suma, a Língua de Sinais é de suma importância para a inclusão do
indivíduo surdo na sociedade, tanto no campo educacional quanto no profiissional.
Essa linguagem deveria ser a língua materna desses indivíduos com surdez, tendo
em vista que ela é facil e naturalmente assimilada por eles, além de possibilitar seu
desenvolvimento cognitivo.
Torna-se muito difícil uma comunicação, em sala de aula por exemplo,
quando o docente desconhece essa língua e quando o próprio aluno a
desconhece, mesmo sendo disponibilizados monitores, instrutores, intérpretes que
possuem a habilidade da Língua de Sinais, pois, existem momentos em que a
comunicação deve ser realizada entre docente e aluno, sem intermediários.
Contudo, essa ainda se configura como sendo uma das grandes deficiências do
processo educacional brasileiro.
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2.3 Principais Fatores Internos que Facilitam a Inclusão da Pessoa com
Necessidades Especiais em uma Empresa- Lei 8.213/91
A forma como o trabalho se organiza atualmente, assim como a atitude que
se tem em relação a ele são recentes e não possuem relação com a natureza das
coisas.
A Lei 8.213/91, Art. 93 estabelece a obrigatoriedade para as empresas de
contratação de PPD e de reabilitados. A Lei também determina uma cota nos
seguintes termos: de 100 até 200 empregados – 2%; de 201 até 500 - 3%; de 501
até 1000 – 4%; mais de 1000 – 5%.
De acordo com Mariano Enguita (1989), essa organização não existia no
século XVI passando a ser implantada somente no século XVIII e início do século
XIX. Segundo o autor, “a humanidade trabalhadora percorreu um longo caminho
antes de chegar aqui, e cada indivíduo deve percorrê-lo para incorporar-se ao
estádio alcançado” (p. 4). Esse estágio evolutivo consistiu em todo um processo de
conflitos ainda pouco conhecido e, reconstruir esse processo não é fácil.
Para esse autor, nas sociedades aristocratas ou outras tradicionais, a
dependência não era um fator de humilhação, ou seja, as pessoas herdavam sua
debilidade na sociedade e, isso não era sua responsabilidade. Ao contrário disso,
na sociedade industrial, essa dependência ou debilidade, passou a ser um fator de
humilhação.
Nessa nova configuração de sociedade e de trabalho, tanto se poderia subir
quanto cair. Na questão ideológica, as pessoas passaram a acreditar que era sua
própria responsabilidade, o lugar que ocupavam na sociedade, assim como a força
ou debilidade pessoal também eram determinantes dos seus êxitos ou fracassos.
O mundo do trabalho passou por transformações radicais, tanto no que
tange às suas características quanto na sua posição na vida das pessoas e, o
caminho percorrido desde a produção para a subsistência até o trabalho
assalariado na sociedade industrial foi, de fato, longo e tortuoso, cheio de
obstáculos.
Enguita (1989, apud PIRES, 2008) ressalta que, a participação tanto manual
qanto intelectual do trabalhador, tornou-se necessária com a divisão do trabalho e,
na era pós-industrial, a jornada de trabalho ficou maior, mais acelerada e o mesmo
se fragmentou exigindo um conhecimento maior de como operar as máquinas.
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Segundo Edna Pires (2008), a tarefa da escola, nessa nova configuração
não é fácil, pois, cabe a ela reformar os saberes e reproduzir as formas de como o
trabalho se divide. A política educacional, dessa forma, transforma a estrutura da
escola que se concentra, a partir de então, na rotina, velocidade e competição.
Para Enguita (2008), a evolução da escola exerceu influência sobre a família
patriarcal produzindo efeitos significativos nessa esfera da sociedade. Seus efeitos
se deram em virtude do conteúdo de ensino, dos estereótipos presentes, na
interação informal, orientação escolar e profissional que era marcada pelos
preconceitos de gênero entre outros.
(...) não se deve ocultar o fato de que, ao menos desde que se generalizou a educação, as salas de aula são provavelmente o cenário cotidiano em que menos se discriminam as pessoas por seu sexo ou gênero. Se existe alguma dúvida sobre isto, basta compará-las com as empresas ou com a própria farmília. As experiências vivenciadas pelas alunas mulheres, da igualdade formal frente aos alunos homens, de obterem com freqüencia melhores resultados escolares que eles e outras similares, fazem ver a falta de legitimidade das discriminações no local de trabalho e na familia e as convertem necessariamente em mais insuportáveis (ENGUITA, 1989, p. 229)
A escola, de fato, deve ser o espaço onde as diferenças não sejam causas
de conflitos. Contudo, ainda se observa em muitas instituições, práticas de
exclusão tanto no que tange às diferenças sociais, como nas relacionadas à
diferenças raciais, de credo, cor, filosofias, físicas e intelectuais.
Para Enguita (1989, apud PIRES, 2008), a escola também é um espaço
onde se reproduz múltiplas formas de divisão do trabalho que imperam na
sociedade e, a mais elementar dessas formas, é a sua própria divisão interna, pois,
na grande maioria dos sistemas escolares, é apresentado durante o período
obrigatório, algum tipo de divisão de ensino acadêmico e profissional.
A tendência filosófica moderna que visa a normalização influencia
grandemente a programação educação, segundo estudos de Murphy ( apud
Goldfeld, 1997) para as crianças com necessidades especiais. De acordo com
essa nova mentalidade, as crianças devem participar das atividades e
oportunidades disponíveis para crianças que não possuem necessidades
especiais. Isso revela que a prioridade é inserir a criança com necessidades
especiais em todos os eventos da sociedade promovendo a interação entre
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crianças deficientes com as que não possuem necessidades. As atividades podem
ser escolhidas pelos pais de acordo com as necessidades individuais das crianças.
A autora sublinha que as escolas “são obrigadas a reavaliar as necessidades de
aprendizagem da criança e desenvolver um programa de ensino individualizado”
(MURPHY apud Goldfeld, 1997, p.45). Isso inclui reforço pedagógico em áreas de
desenvolvimento como, por exemplo, a linguagem. É preciso que os pais se
envolvam diretamente com o processo avaliativo, acompanhar o programa e
solicitar revisões quando se fizer necessário, pois, isso é um direito garantido a
eles.
Sobre o período da permanência dos indivíduos com necessidades
especiais na escola, Murphy ( apud Goldfeld, 1997) explica que esta pode se
efetuar até os 22 anos de idade, desde que esse indivíduo continue se
beneficiando dessa extensão da escolaridade. Também esse indivíduo pode se
inserir no Ensino Superior e desenvolver habilidades profissionalizantes e vir a se
tornar independente. Essa expectativa deve ser alimentada desde a fase infantil
pela família.
A informação, na sociedade contemporânea tornou-se na matéria-prima
indispensável para a produção do conhecimento, como apontam Kobashi e Tálamo
(2003). Para as autoras, a carência de informações provoca ausência do
conhecimento. Contudo, mesmo sendo fundamental, o acesso à informação não é
uma realidade para todos, principalmente para os indivíduos com necessidades
especiais.
A acessibilidade pode ser entendida como sendo liberdade, flexibilidade e
possibilidade de interação no usufruto dos espaços físicos, sociais e digitais pelas
pessoas com necessidades especiais.
A Lei nº 10436/2002 oficializou a LS como língua oficial das comunidades
surdas no Brasil e em 2005, o Decreto nº. 5626 veio regulamentá-la. A lei da
acessibilidade nº. 10098 deliberou sobre a quebra de barreiras comunicativas.
De acordo com Aloísio Mercadante (2004), na década de 1948, a
Assembléia Geral das Nações Unidas adotou e proclamou a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, contudo, as relações humanas e políticas nas décadas que
sucederam a esta declaração eram tumultuosas e não pouparam conflitos de todas
as espécies até chegar o momento em que passa-se a reconhecer e integrar as
diversas minorias do planeta. Dessa forma, o Estado passa a ser o responsável por
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criar mecanismos que viabilizassem esta integração, os quais baseados nas leis e
decretos, onde estabelecem punições à discriminação e ao preconceito.
Segundo Mercadante (2004), os indivíduos com necessidades especiais
também estavam inseridos nestas legislações e, portanto, deveriam ser amparados
pelos direitos comuns de cidadãos. Entretanto, esse amparo somente era
observado na igualdade de tratamentos e acessos a serviços especiais de saúde e
educação a partir da Declaração Universal dos Direitos das Pessoas Deficientes.
Sobre a inserção da pessoa surda no mercado de trabalho, Sassaki (1997)
informa que no passado podia-se observar uma quebra de braço onde de um lado
ficavam as pessoas com necessidades especiais e seus aliados, e do outro lado as
pessoas tidos como normais. Para o primeiro caso, o autor afirma que eles
necessitavam lutar muito para que conseguissem um emprego. Para o segundo
caso, a questão era outra. Geralmente, eram pessoas despreparados e
desinformados sobre necessidades. Dessa forma, acabavam ficando furiosos ao
verem que suas vagas estavam sendo ocupadas por pessoas que tinham qualquer
tipo de necessidade especial.
Do ponto de vista de Sassaki (1997, p.60) houve um tempo, que o autor
classifica como a fase da exclusão. Isso porque as pessoas com necessidades
especiais não tinham nenhum acesso ao mercado de trabalho, cada vez mais
competitivo e acreditavam que, “era uma crueldade a ideia de que pessoas
deficientes trabalhassem”, porque o trabalho dessas pessoas era incompatível com
o grau de desenvolvimento que a sociedade tinha alcançado na época.
Tais crenças eram resultantes não só da ideologia protecionista para com os deficientes, mas também do fato de que a medicina, a tecnologia e as ciências sociais ainda não haviam descoberto as possibilidades laborativas das pessoas com deficiência (MORAGAS, 1986 apud SASSAKI, 1997, p. 60)
O problema da exclusão, no entanto, ainda não está superado de fato na
atualidade, pois, apenas se percebe que a forma pela qual as pessoas com
necessidades especiais têm sido separadas no mercado de trabalho, ou seja,
existem uma série de motivos que tornam-se verdadeiras barreiras para a inserção
dessas pessoas no mundo profissional, a exemplo, a falta de reabilitação física e
profissional, falta de escolaridade, meios de transporte, apoio das próprias famílias
e falta de qualificação para o trabalho como afirma Sassaki (1997).
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Outra fase apontada pelo autor é a da segregação, na qual o autor observou
que muitas empresas oferecem trabalhos para serem executados por pessoas com
necessidades especiais. Contudo, são convocados a desempenharem funções
subalternas e braçais e quase nunca à frente das empresas. A oferta de trabalho e
não necessariamente de emprego a essas pessoas possuia uma ligação com
sentimentos paternalistas e o objetivo era lucro fácil por usar uma mão-de-obra
mais viável e nenhum vínculo empregatício. Segundo o autor, essa prática ainda
existe em todo o mundo, inclusive no Brasil.
A fase da integração, se refere àquilo em que as pessoas com necessidades
especiais são admitidas e contratadas por órgãos públicos e/ou empresas
privadas, desde que sejam qualificados profissionalmente e possam utilizar os
espaços físicos e equipamentos das empresas sem modificação alguma. Também,
nessa fase, essas pessoas passam por uma seleção e são colocadas em órgãos
públicos ou privados que concordam em realizar pequenas adaptações nos postos
de trabalho. Há outra característica nessa fase, a de que as pessoas com
necessidades especiais trabalham em setores exclusivos, portanto, segregativos,
com ou sem modificações.
Para Sassaki (1997), essas formas de integração dificultam o envolvimento
dessas pessoas em programas de desenvolvimento de recursos humanos até
mesmo a promoção. O mesmo autor alerta ainda para o fato de que, há uma
grande parcela desse grupo em idade economicamente ativa que estão fora do
mercado de trabalho em relação às pessoas “normais”. Ainda Sassaki, no que
tange aos direitos trabalhistas, esse percentual deveria alcançar o mesmo nível da
segunda classe de pessoas.
O autor também enfatiza que, a fase da inclusão, deva ter novas tendências.
A ideia é que não se tenham mais batalhas travadas com vencedores e vencidos
nessa questão. A empresa ou escola que possui um número considerável de
pessoas com necessidades especiais se denomina escola ou empresa inclusiva.
Sempre houve, ao longo da história, empresas com experiências positivas na absorção da mão-de-obra de trabalhadores com necessidades especiais. Hoje mais do que nunca, várias empresas proporcionam as condições necessárias e suficientes para o desempenho profissional de seus trabalhadores que têm necessidades especiais diversificadas (SASSAKI, 1997, p. 65)
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Essas experiências positivas levam a crer que, as pessoas com
necessidades especiais, embora algumas possuam um rítmo menos acelerado,
podem competitir e produzir de maneira praticamente igual a outras pessoas.
Para o autor em estudo, no Brasil, ainda tem sido em pequena escala a
inserção dessas pessoas com necessidades especiais no mundo do trabalho.
Contudo, o número de inserção está aumentando gradativamente, pois, as
pessoas e os empregadores têm mudado sua concepção acerca das habilidades e
competências das pessoas com necessidades especiais. Informa ainda que a
empresa que acredita no valor da diversidade humana é verdadeiramente uma
empresa inclusiva.
Para esse autor, a empresa inclusiva é aquela que entende e acredita no
valor da diversidade humana, contempla as diferenças individuais efetuando
mudanças fundamentais nas práticas administrativas, e implementa adaptações no
ambiente físico, procedimentos e instrumentos de trabalho, além de treinar todos
os recursos humanos na questão da inclusão.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve como principal objetivo, analisar de fato quais são
os problemas enfrentados pelas pessoas com necessidades especiais e suas
expectativas para o futuro. Também buscou identificar os desafios enfrentados por
essas pessoas ao tentarem sua inclusão na sociedade em todas as suas esferas.
Por meio de uma ampla e aprofundada pesquisa bibliográfica, cuja seleção
literária apresenta autores de grande relevância para a temática, foi possível
conhecer e entender um pouco mais o complexo mundo das pessoas com
necessidades especiais, principalmente, os surdos que são o foco central desse
trabalho.
Constatou-se que a história da educação e inserção das pessoas com
necessidades especiais na sociedade, na escola e no mundo do trabalho trilhou um
caminho árduo, marcado por obstáculos difíceis de se transpor, mas que, contudo,
conseguiu grandes avanços não somente na mentalidade das pessoas que,
anteriormente viam as pessoas com necessidades especiais com temor, como se
fossem pessoas incapazes, mas também na legalização de direitos dessas
pessoas por meio de leis e decretos. A inclusão de pessoas com necessidades
especiais passou por várias fases e com terminologias diferenciadas.
Como citado a priori, o caminho percorrido pela inclusão das pessoas com
necessidades especiais não foi harmonioso, ao contrário, foi marcado por
movimentos sociais em prol da dignificação e maior qualidade de vida dessas
pessoas. Portanto, compreende-se que é de suma importância que se reconheça
que, essas pessoas não são uma aberração da natureza, mas sim, apenas
diferentes, com ritmos de aprendizagem e produção mais lentos, contudo, dignos
de respeito e valorização, pois, são seres humanos com capacidades e habilidades
distintas, mas produtivos.
Compreendeu-se também que a escola deve ser um espaço onde as
diferenças não podem ser causas ou motivos para o isolamento, mas sim, um meio
de inclusão, sociabilização e qualificação dessas pessoas para que possam
interagir com o meio do qual fazem parte. As empresas precisam criar condições
para que essas pessoas possam revelar suas potencialidades e aproximar as
diferenças, ao contrário de excluir ou aumentar as distâncias entre as pessoas.
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Com relação à aquisição da linguagem por parte dos surdos, compreendeu-
se a importância de se reconhecer que a Língua de Sinais como a primeira língua
da comunidade surda, pois, ela possibilita uma comunicação mais abrangente por
parte da mesma com os demais indivíduos sem necessidades especiais. Os surdos
possuem sua comunicação diferenciada, criam instrumentos para se comunicarem
entre si e com os outros.
Em suma, muitos foram os avanços nessa trajetória árdua e complexa do
processo de inserção dos surdos e outras modalidades de pessoas com
necessidades especiais, contudo, ainda se faz necessário uma mudança na
mentalidade tanto das pessoas quanto dos governantes e empresários no sentido
de que essas pessoas sejam realmente inclusas na sociedade como pessoas de
direitos, qualidades e potencialidades.
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