6
•íSíP; PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO T ACÓSDAÕ/DECISÃO MONOCRATICA pPí^mTRADO(A) S O b IN ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Arguição de Inconstitucionalidade 0036475- 72.2011.8.26.0000, da Comarca de Diadema, em que é suscitante 12 a CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "JULGARAM PROCEDENTE A ARGUIÇÃO. V.U.", de conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JOSÉ ROBERTO BEDRAN (Presidente), BARRETO FONSECA, MAURÍCIO VIDIGAL, WALTER DE ALMEIDA GUILHERME, ANTÓNIO CARLOS MALHEIROS, ARMANDO TOLEDO, MÁRIO DEVIENNE FERRAZ, JOSÉ SANTANA, JOSÉ REYNALDO, ARTUR MARQUES, CAUDURO PADIN, RUY COPPOLA, BORIS KAUFFMANN, RENATO NALINI, CAMPOS MELLO, ROBERTO MAC CRACKEN, XAVIER DE AQUINO, CAETANO LAGRASTA, SAMUEL JÚNIOR, JOÃO CARLOS SALETTI e RIBEIRO DA SILVA. São Paulo, 20 de abril de 2011. GUILHERME G.STRENGER RELATOR

Inconstitucionalidade

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Inconstitucionalidade

•íSíP; PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO TACÓSDAÕ/DECISÃO MONOCRATICA

pPí^mTRADO(A) SOb IN

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

Arguição de Inconstitucionalidade n° 0036475-

72.2011.8.26.0000, da Comarca de Diadema, em que é suscitante

12a CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO

ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em Órgão Especial do Tribunal de Justiça de

São Paulo, proferir a seguinte decisão: "JULGARAM PROCEDENTE

A ARGUIÇÃO. V.U.", de conformidade com o voto do(a)

Relator(a), que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores

JOSÉ ROBERTO BEDRAN (Presidente), BARRETO FONSECA, MAURÍCIO

VIDIGAL, WALTER DE ALMEIDA GUILHERME, ANTÓNIO CARLOS

MALHEIROS, ARMANDO TOLEDO, MÁRIO DEVIENNE FERRAZ, JOSÉ

SANTANA, JOSÉ REYNALDO, ARTUR MARQUES, CAUDURO PADIN, RUY

COPPOLA, BORIS KAUFFMANN, RENATO NALINI, CAMPOS MELLO,

ROBERTO MAC CRACKEN, XAVIER DE AQUINO, CAETANO LAGRASTA,

SAMUEL JÚNIOR, JOÃO CARLOS SALETTI e RIBEIRO DA SILVA.

São Paulo, 20 de abril de 2011.

GUILHERME G.STRENGER RELATOR

Page 2: Inconstitucionalidade

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Arguição de Inconstitucionalidade n° 0036475-72.2011.8.26 VOTO N° 1 5 2 4 2 Comarca: Diadema (Ação Ordinária n° 161.01.2009.029425-5 - Controle n° 6224/2009) Juízo de Origem: Ia Vara da Fazenda Pública Órgão Julgador: Órgão Especial Suscitante: Décima Segunda Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Interessados: SINDICATO DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DE DIADEMA e

MUNICIPALIDADE DE DIADEMA

Arguição de inconstitucionalidade

(CF, arts. 93 , inc. XI, e 97; CPC, art.

480) - Lei n° 2 .096 /01 do Município de

Diadema (a qual instituiu, na esfera do

serviço público local, sistema de

compensação das horas excedentes à

jornada normal de trabalho) -

Desrespeito ao comando contido no

artigo 7o, inciso XIII, da Constituição da

República [aplicável aos servidores

ocupantes de cargo público por força do

disposto no artigo 39, § 3o , da Lei

Maior], segundo o qual constitui direito

dos trabalhadores a "duração do

trabalho normal não superior a oito

horas diárias e quarenta e quatro

semanais, facultada a compensação de

horários e a redução da jornada,

mediante acordo ou convenção coletiva

de trabalho" (grifos nossos) -

Inconstitucionalidade material

caracterizada - Arguição procedente.

Page 3: Inconstitucionalidade

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VISTOS.

Trata-se de incidente de

inconstitucionalidade suscitado pela Décima Segunda Câmara de

Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,

tendo por objeto a Lei n° 2.096/01 do Município de Diadema, que

criou, no âmbito do funcionalismo público local, sistema de

compensação das horas excedentes à jornada normal de trabalho.

Sustenta-se, por meio da presente

arguição, que sobredito diploma legal encontra-se eivado de vício

de inconstitucionalidade material, por ofensa ao preceito do artigo

39, § 3o , c.c. o artigo 7o, inciso XIII, ambos da Carta da

República.

Processado o incidente, em seu parecer a

douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pela "rejeição da

alegação de inconstitucionalidade da Lei Municipal

2.096/2001, de Diadema' (fls. 287/294)

É o relatório.

Arguição de inconstitucionalidade n° 0036475-72.2011.8.26 I/Voto n° 1&242 2 / 5

Page 4: Inconstitucionalidade

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Na presente arguição, suscitada pela

Décima Segunda Câmara de Direito Público do Tribunal de

Justiça do Estado de São Paulo, por ocasião do julgamento da

apelação n° 990.10.307921-3 (fls. 277/280), aduz-se a

inconstitucionalidade material da Lei Municipal n° 2.096/01

(a qual instituiu, na esfera do serviço público da cidade de

Diadema, sistema de compensação das horas excedentes à

jornada normal de trabalho), por desconformidade com o disposto

no artigo 39, § 3o , c.c. o artigo 7o, inciso XIII, ambos da

Constituição Federal.

Inicialmente, impõe-se destacar que o vício

de inconstitucionalidade material (também denominado

inconstitucionalidade nomoestática) perfaz-se quando o conteúdo

de uma lei ou ato normativo não guarda a necessária congruência

com algum preceito e/ou princípio contido no texto da

Constituição (Estadual ou Federal). Trata-se, em outras palavras,

da existência de uma relação de não conformidade entre o objeto

do diploma legislativo e a ordem constitucional vigente, podendo

manifestar-se, tal desarmonia, nas formas de violação textual,

afronta implícita ou desvio de poder - consoante se extrai da lição

de NELSON NERY JÚNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY

(Constituição Federal comentada e legislação constitucional 2a ed.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 479).

Ao discorrer sobre a temática acima

apresentada, o Professor LUÍS ROBERTO BARROSO pontifica que

a "inconstitucionalidade material expressa uma incompatibilidade

de conteúdo, substantiva, entre a lei ou ato normativo e a

Constituição. Pode traduzir-se no confronto com uma regra

Arguição de inconstitucionalidade n° 0036475-72.2011.8.26/ Voto nV 15242 3/5

Page 5: Inconstitucionalidade

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

constitucional - e. g., a fixação da remuneração de uma categoria

de servidores públicos acima do limite constitucional (art. 37, XI) -

ou com um princípio constitucional, como no caso de lei que

restrinja ilegitimamente a participação de candidatos em concurso

público, em razão do sexo ou idade (arts. 5o, caput, e 3o, IV), em

desarmonia com o mandamento da isonomia. O controle material

de constitucionalidade pode ter como parâmetro todas as

categorias de normas constitucionais: de organização, definidoras

de direitos e programáticas" (O controle de constitucionalidade no

direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise

crítica da jurisprudência. 4a ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 29).

Assentada tal premissa, imperioso

consignar que o inciso XIII do artigo 7o do Texto Magno preceitua

constituir direito dos trabalhadores urbanos e rurais - extensível

aos servidores ocupantes de cargo público por força do disposto

no artigo 39, § 3o , da Lei Maior - a "duração do trabalho normal

não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais,

facultada a compensação de horários e a redução da jornada,

mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho" (grifos nossos).

Sendo assim, e tendo em vista que,

conforme assentado pela Colenda Câmara suscitante, "o sistema

de banco de horas, para compensação das horas excedentes de

trabalho", instituído pela Lei Municipal n° 2.096/01, foi "imposto

aos servidores sem que houvesse prévio ajuste entre o Município e

a entidade sindical dos servidores públicos" (fls. 279), mostra-se

forçoso reconhecer a configuração, na espécie, do vício de

inconstitucionalidade material, por ofensa à regra do artigo 39,

§ 3o , c.c. o artigo 7o, inciso XIII, ambos da Constituição Federal.

Arguição de inconstitucionalidade n" 0036475-72.2011.8.26/ Voto n \ 15242 4 / 5

Page 6: Inconstitucionalidade

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Ante o exposto, julga-se procedente a

presente arguição, a fim de declarar a inconstitucionalidade da

Lei n° 2.096/01 do Município de Diadema, devendo os autos

retornar à Décima Segunda Câmara de Direito Público do

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a fim de que se

prossiga no julgamento da Apelação n° 990.10.307921-3.

GUILHERME G.MSTRENGER Relator

Arguição de inconstitucionalidade n° 0036475-72.2011.8.26 Voto n° 15242 5/5