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Revista Brasileira de Ciências Ambientais - Número 15 - Março/2010 56 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478 RESUMO O presente artigo apresenta os principais resultados da pesquisa desenvolvida no Município de Ermo (SC), Brasil, sobre a avaliação da sustentabilidade do agroecossistema arroz orgânico quanto às dimensões econômica e sócio-ambiental, através da metodologia MESMIS. Utilizando dezenove indicadores de sustentabilidade, os resultados mostraram o melhor desempenho para a dimensão ambiental; a dimensão econômica mostrou-se satisfatória e a dimensão social apresentou o pior desempenho entre as dimensões avaliadas. A metodologia MESMIS foi efetiva na avaliação da sustentabilidade do agroecossistema para os fins propostos neste estudo de caso. PALAVRAS-CHAVE: Indicadores de sustentabilidade; arroz orgânico; metodologia MESMIS. ABSTRACT This paper presents the main results of research carried out in the Municipality of Ermo (SC), Brazil. Using the MESMIS methodology, the research evaluated the sustainability of the organic rice agroecosystem regarding the economic and social-environmental dimensions. Based on nineteen sustainability indicators, the results show a better performance for the environmental dimension; the economic dimension was satisfactory and the social dimension showed the worst result among the dimensions evaluated. The MESMIS methodology was effective in the evaluation of the agroecosystem sustainability for the purposes of this case study. KEYWORDS: Sustainability indicators; organic rice; MESMIS methodology. Vicente Sandrini Pereira Eng. Agrônomo - EPAGRI - Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] Sérgio Roberto Martins Dr. Eng. Agrônomo, Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEA/ENS/UFSC). Indicadores de sustentabilidade do agroecossistema arroz orgânico com manejo de água contínuo na bacia do Araranguá (SC) mediante aplicação da metodologia MESMIS

Indicadores de sustentabilidade do agroecossistema arroz orgânico

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Revista Brasileira de Ciências Ambientais - Número 15 - Março/2010 56 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478

RESUMOO presente artigo apresenta os principais resultados da pesquisa desenvolvida no Município de Ermo(SC), Brasil, sobre a avaliação da sustentabilidade do agroecossistema arroz orgânico quanto àsdimensões econômica e sócio-ambiental, através da metodologia MESMIS. Utilizando dezenoveindicadores de sustentabilidade, os resultados mostraram o melhor desempenho para a dimensãoambiental; a dimensão econômica mostrou-se satisfatória e a dimensão social apresentou o piordesempenho entre as dimensões avaliadas. A metodologia MESMIS foi efetiva na avaliação dasustentabilidade do agroecossistema para os fins propostos neste estudo de caso.

PALAVRAS-CHAVE: Indicadores de sustentabilidade; arroz orgânico; metodologia MESMIS.

ABSTRACTThis paper presents the main results of research carried out in the Municipality of Ermo (SC), Brazil.Using the MESMIS methodology, the research evaluated the sustainability of the organic riceagroecosystem regarding the economic and social-environmental dimensions. Based on nineteensustainability indicators, the results show a better performance for the environmental dimension;the economic dimension was satisfactory and the social dimension showed the worst result amongthe dimensions evaluated. The MESMIS methodology was effective in the evaluation of theagroecosystem sustainability for the purposes of this case study.

KEYWORDS: Sustainability indicators; organic rice; MESMIS methodology.

Vicente Sandrini PereiraEng. Agrônomo - EPAGRI - Mestre emEngenharia Ambiental pela UniversidadeFederal de Santa Catarina.E-mail: [email protected]

Sérgio Roberto MartinsDr. Eng. Agrônomo, Professor do Programade Pós-Graduação em Engenharia Ambientalda Universidade Federal de Santa Catarina(PPGEA/ENS/UFSC).

Indicadores de sustentabilidade do agroecossistemaarroz orgânico com manejo de água contínuo na baciado Araranguá (SC) mediante aplicação da metodologiaMESMIS

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INTRODUÇÃO

A cultura do arroz irrigadofreqüentemente tem sido consideradaresponsável pela poluição dos recursoshídricos da Bacia Hidrográfica do RioAraranguá, Santa Catarina, Brasil. Esta baciaapresenta balanço hídrico desfavorável, comvazão de estiagem (7 dias sem precipitação)extremamente crítica, acarretandoproblemas também de ordem qualitativa,uma vez que aumenta a concentração depoluentes de origem urbana e rural (SANTACATARINA, 2006).

Nesta bacia, historicamentemarcada por conflitos pelo uso da água, foidesenvolvido o Projeto Tecnologias Sociaispara a Gestão da Água (TSGA), em parceriaentre a Universidade Federal de SantaCatarina (UFSC), Empresa de PesquisaAgropecuária e Extensão Rural de SantaCatarina (Epagri) e Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa), apoiadopela Petrobras, através do ProgramaPetrobras Ambiental. O projeto incluiu oapoio às pesquisas de campo para aavaliação econômica e sócio-ambiental doagroecossistema arroz orgânico, implantadasno Município de Ermo, Estado de SantaCatarina, que possui a maior parte de seuterritório dentro da bacia do Rio Araranguáe que será objeto deste artigo. Entre astecnologias escolhidas para serem testadase incentivadas como sociais, encontra-se omanejo da irrigação por inundação contínua,que promove economia de recursos hídricosquando comparado com o sistema demanejo tradicional da irrigação.

Objetivo

O objetivo do presente texto éapresentar os principais resultados dapesquisa sobre a avaliação dasustentabilidade econômica e sócio-ambiental do agroecossistema arrozorgânico na Bacia Hidrográfica do RioAraranguá, baseada nos atributos deprodutividade, resiliência, confiabilidade,estabilidade, adaptabilidade, equidade eautodependênica propostos pelaMetodologia MESMIS (Marco paraEvaluación de Sistemas de Manejo deRecursos Naturales Incorporando

Indicadores de Sustentabilidad).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Avaliação da sustentabilidade emagroecossistemas:

Para Sachs (2004), em últimainstância o desenvolvimento depende dacultura, na medida em que ele implica ainvenção de um projeto. Este não pode selimitar unicamente aos aspectos sociais e suabase econômica, ignorando as relaçõescomplexas entre o porvir das sociedadeshumanas e a evolução da biosfera; narealidade, estamos na presença de uma co-evolução entre dois sistemas que se regempor escalas de tempo e escalas espaciaisdistintas. A sustentabilidade no tempo dascivilizações humanas vai depender da suacapacidade de se submeter aos preceitos deprudência ecológica e de fazer um bom usoda natureza. Assim, propõe que o vocábulodesenvolvimento sustentável deva serdesdobrado em socialmente includente,ambientalmente sustentável eeconomicamente sustentado no tempo.O conceito de sustentabilidade aplica-se asistemas integrados que compreendem sereshumanos e o resto da natureza. As estruturase operações dos componentes humanos(sociedade, economia, lei, etc.) devem sertais que reforcem a persistência dasestruturas e operação do componentenatural, como conexões tróficas doecossistema, biodiversidade, ciclosbiogeoquímicos etc. (CABEZAS et al., 2003).

Com relação à agricultura Altieri(1991) ressalta a necessidade de modelossustentáveis que combinem o conhecimentotradicional com o científico. Vários aspectosdestes sistemas tradicionais deconhecimento são importantes para osagroecólogos: o conhecimento sobre o meioambiente físico; as taxonomias biológicasfolclóricas (ou sistemas nativos declassificação); o conhecimento sobre práticasde produção; a natureza experimental doconhecimento tradicional. Este autor apontaque os conhecimentos sobre solos, clima,vegetação e animais usualmente sãotraduzidos em estratégias multidimensionaisde produção (por exemplo, ecossistemasdiversificados com múltiplas espécies) e estas

estratégias geram (dentro de certaslimitantes técnicas e ecológicas) a auto-suficiência alimentar das famílias ruraisnuma região.

A discussão sobre agriculturasustentável deve ir além do que acontecedentro dos limites da unidade de produçãoindividual. A produção agrícola é um sistemamais amplo, com muitas partes interagindoentre si, incluindo componentes ambientais,econômicos e sociais. Existe uma teia deconexões que se espalha de cadaagroecossistema para dentro da sociedadehumana e ecossistemas naturais(GLIESSMAN, 2005).

Na prática, segundo Martins (2000),o desenvolvimento sustentável não estádado, apesar da presença do ideário desustentabilidade. Ele necessita serconstruído sob dois grandes desafios: (a)diferenciar-se dos modelos insustentáveisque privilegiam os aspectos quantitativos docrescimento em detrimento dos aspectosqualitativos do desenvolvimento, queperpetuam e acentuam desigualdades sócio-econômicas e comprometem o meioambiente; (b) impor-se como um novoparadigma num mundo cada vez maiscomplexo e globalizado. Destaca ainda que,portanto, não se trata de um ponto dechegada e sim de um processo de construçãosocial.

Um agroecossistema se cria quandoa manipulação humana e a alteração de umecossistema acontecem com o propósito deestabelecer a produção agrícola,introduzindo várias mudanças na estruturae função do ecossistema natural e, comoconseqüências, mudam certas qualidades-chave, em nível do sistema. Estas novasqualidades se reconhecem como emergentesou propriedades do sistema, que semanifestam quando todos os componentesestiverem organizados; também podemservir como indicadores de sustentabilidadedo sistema (GLIESSMAN, 2005). Para sealcançar a sustentabilidade de um sistemaagrícola é preciso reintroduzir as diversasestruturas e relações entre as espécies quepermitam o funcionamento do controlenatural e os mecanismos de regulação desuas populações. Quando este sistemaagrícola atinge maturidade, a riqueza deespécies permite um alto grau de resistência

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a perturbações ambientais, possuindo altaresiliência para perturbações de altopotencial de danos (GLIESSMAN et al., 2007).

Mencionando cinco atributosbásicos (produtividade, estabilidade,confiabilidade, elasticidade ou resiliência eadaptabilidade), López Ridaura (2005)estabelece uma definição operacional desistemas sustentáveis. Para ele, derivarindicadores para avaliação desustentabilidade e para medir o grau em queum sistema é considerado sustentáveldependerá de suas capacidades de produzir,num estado de equilíbrio estável, umacombinação específica de mercadorias eserviços que satisfaz um conjunto de metas(o sistema é produtivo), sem degradar suabase de recursos (o sistema é estável),mesmo quando parece "normal" (o sistemaé de confiança) que ocorram variações"extremas" e "bruscas" (o sistema é elástico/resiliente) ou "permanentes" (o sistema éadaptável) no próprio funcionar, no seuambiente ou sistemas coexistentes.

Se a sustentabilidade tornar-se umnovo paradigma, o conjunto de taispressupostos estabelece um ciclo virtuosocapaz de gerar desenvolvimento eautonomia regional, com nova concepção deconteúdo e forma, sempre e quando forcapaz de assegurar: (a) participação efetivados atores envolvidos em todas as fases doprocesso (agricultores e pesquisadores); (b)interação entre as partes envolvidas (açõesinterdisciplinares); (c) equilíbrio entre asdistintas dimensões do desenvolvimento; (d)participação do Estado como indutor doprocesso (construção de novas parcerias); (e)criação de uma consciência do pensarglobalmente e do agir localmente. Destemodo, será efetiva a interação entre asorganizações públicas e privadas na gestãode recursos para políticas públicas visando àautonomia regional e a construção dodesenvolvimento com base nos princípios dasustentabilidade (MARTINS, 2000).

A insistência num foco puramentetecnológico, ainda que as tecnologiaspromovidas sejam "sustentáveis", nãopromoverá reconhecimento claro dosproblemas fundamentais que mantêm aagricultura não sustentável em primeirolugar (ALTIERI, 1989).

Desde a Agroecologia a

sustentabilidade deve ser vista, estudada eproposta como sendo uma buscapermanente de novos pontos de equilíbrioentre diferentes dimensões, que podem serconflitivas entre si, em realidades concretas.Nesta ótica, a sustentabilidade pode serdefinida simplesmente como a capacidadede um agroecossistema manter-sesocioambientalmente produtivo ao longo dotempo. Portanto, a sustentabilidade emagroecossistemas (ou, se preferirmos, emetnoecossistemas, para incluir a dimensãodas culturas humanas no manejo dosecossistemas agrícolas), é algo relativo quepode ser medido somente ex-post (CAPORAL& COSTABEBER, 2002).

Marques et al. (2003) fortalecem aimportância da avaliação desustentabilidade e destacam que deve sertomado como ponto básico do estudo oagroecossistema. Sarandón (2002) comentaque muito tem sido discutido sobresustentabilidade e atualmente é um termoaceito amplamente, mas pouco tem sidofeito para operacionalizá-lo e pouco étraduzido para uma situação aplicável naprática.

Desde a Conferência das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente eDesenvolvimento (CNUMAD), realizada noRio de Janeiro em 1992, conhecida comoEco-92, vários esforços internacionaistiveram início para definir indicadores quepossibilitem o monitoramento do estado desustentabilidade, atendendo umarecomendação da Agenda 21, um dosdocumentos aprovados nesta conferência(MATOS FILHO, 2004). A partir de entãopodemos observar que alguns grupos têmrealizado esforços para desenvolver diversasferramentas com o objetivo de integrarinformações sobre sustentabilidade, nasmais diversas dimensões. Na tentativa deoperacionalizar o conceito desustentabilidade, foram desenvolvidasdiversas estruturas metodológicas, como oPrograma Sostenibilidad de la Agricultura ylos Recursos Naturales: bases paraestabelecer indicadores (CAMINO &MÜLLER, 1993), a FESLM - Framework forEvaluation of Sustainable Land Managment(FAO, 1993), a PSR - Pressure-State-Response(OECD, 1993), e o método Reflective eParticipative Mapping of Sustainability

(IMBACH et al., 1997), o método IDEA -Indicateurs de Durabilité des ExplotationsAgricoles (BRIQUEL et al., 2001), AnáliseEmergética (ORTEGA, 2007), entre outrasiniciativas. Porém os enfoques e métodosexistentes respondem apenas parcialmenteas perguntas sobre o estado desustentabilidade. A maioria dos esforços têmse concentrado na elaboração de listas deindicadores, assim como na elaboração deíndices. Existem também marcosmetodológicos para a derivação de critériosou indicadores para a avaliação desustentabilidade, mas, em geral, não têmsido aplicados sistematicamente em estudosde caso; contêm alguns vazios metodológicospara a integração e análises dos resultadose estão dirigidos para sistemas de manejoespecíficos, principalmente florestais ouagrícolas (ASTIER, 2004). Segundo Pretty(2006), a agricultura orgânica, mesmoapresentando menor produtividade,apresenta outras vantagens na dimensãoecológica que normalmente não sãocomputadas. Por isso, o enfoque de pesquisautilizado não pode ser reducionista.Os atributos de sustentabilidadeconsiderados para avaliar a situação de umagroecossistema podem mudar de termo ouordem, mas são comuns a diversos autores(CAMINO & MÜLLER, 1993, LÓPEZ-RIDAURAet al., 2000; ALTIERI & NICHOLLS, 2008), asaber:

Produtividade: é a capacidade deum agroecossistema gerar o nível desejadode bens e serviços por unidade de insumo.Representa o valor de atributos comorendimentos ou ganhos em um tempoespecífico. Em agroecossistemas as análisesclássicas se referem prioritariamente àquantidade de produto por unidade de área(kg/ha).

Resiliência: entendida como acapacidade de um ecossistema retornar àcapacidade de manutenção das condições devida de populações e espécies após aocorrência de perturbações graves. A medidada resiliência se dá pela observação datendência de produtividade em longo prazo.Ela pode ser observada na capacidade derestabelecer o equilíbrio econômico de umaunidade produtiva após a queda drástica dopreço de um produto importante.

Confiabilidade: é a capacidade do

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sistema em manter os benefícios desejadosem níveis próximos do equilíbrio, reagindoa perturbações normais do ambiente semgrandes flutuações na produtividade.

Estabilidade ou Homeostase:representa o equilíbrio dinâmico dosecossistemas ao longo do tempo, onde apósas perturbações sofridas sucede-se umaretroalimentação capaz de restabelecer oequilíbrio funcional do sistema. É uma buscade constância de produtividade em longoprazo.

Adaptabilidade, elasticidade ouflexibilidade: é a capacidade de um sistemaencontrar novos níveis de equilíbrio,mantendo um nível de produtividade apósmudanças ambientais de longo prazo. Estasmudanças podem ser de origem natural oude interações antropogênicas (sociais,econômicas, culturais).

Equidade: é a capacidade de umsistema distribuir, de forma justa aosbeneficiários humanos, os custos ebenefícios resultantes, intra e intergerações.Este atributo é característico da dimensãosocial e pode ser medido com índices deconcentração de benefícios absolutos ourelativos na população envolvida por talsistema.

Para finalizar, López-Ridaura et al.(2000) incluem como atributos para a análisede agroecossistemas a autodependência oua capacidade de regular e controlar asinterações do sistema com o exterior,mantendo a sua identidade e valores. Nadimensão social este atributo é a capacidadede autogestão.

Em estruturas operacionais, oslimites das definições dos atributos descritosacima são tênues, como os que ocorrementre resiliência, confiabilidade eestabilidade. Em função da poucavisibilidade destes limites, na metodologiade análise proposta por López-Ridaura et al.(2000), os três atributos citados sãoagrupados sob um atributo básico. Nestesentido, um indicador é entendido como uminstrumento que ressalta mudanças queocorrem em um determinado sistemaestudado, em função da ação humana;padrão, como a meta ideal a ser alcançada;parâmetros ou descritores são assumidoscomo aqueles aspectos da realidade que sãodeterminantes para que o padrão seja

atingido, devendo ser, portanto,monitorados. Para os descritoresmonitorados é que se deve buscar dados quepossam refletir a realidade, através dosindicadores especialmente selecionadospara cada pesquisa (MARZALL, 1999).

RECORTE EMPÍRICO

A propriedade escolhida pararealização do estudo de caso pertence àfamília Fernandes e enquadra-se nascaracterísticas de estabelecimento agrícolafamiliar e de pequeno porte, e utilizaexclusivamente mão-de-obra própria.Localiza-se no Município de Ermo (SC), nabacia do rio Araranguá, onde atua umacooperativa regional, com abrangência deatuação no extremo sul catarinense,possuindo uma linha de produção de arrozorgânico, disponibilizado no mercado com amarca Arroz Fazenda.

A família entrega toda a produçãopara a cooperativa, que beneficia ecomercializa os produtos. Possui uma áreade 15,5 ha próprios e 1,0 ha é arrendado deterceiros, sendo utilizada com: 9,66 ha dearroz irrigado (orgânico mais convencional),2,3 ha de milho e 3,0 ha de pastagens. Naprodução animal, a propriedade dedica-se àavicultura de corte, gado leiteiro esuinocultura para consumo familiar. Alavoura de milho é conduzida no sistemaconvencional de produção, assim como acriação de animais (aves, bovinos e suínos),o que mostra a diversidade de produçãocomo característica da agricultura familiar.

A produção rizícola encontrando-sena quarta safra consecutiva sob manejoorgânico, com área de 4,36 ha na safra 2006/07 e de 5,16 ha nas safras 2003/04 a 2005/06. A área de arroz convencional édesenvolvida em gleba separada dapropriedade sede. Na safra 2007/08, porequívocos de manejo da irrigação e preparodo solo e devido a condições familiaresadversas, toda a lavoura de arroz retornouao sistema de produção convencional.O sistema de produção de arroz orgânico foiconduzido sem o uso de agrotóxicos eadubos sintéticos. A fertilização da culturafoi realizada com esterco curtido de aves(cama de aviário) e aproveitamento de restosculturais da safra anterior. O preparo

esmerado do solo e o manejo contínuo daágua de irrigação são os pontos básicos paraobter sucesso na produção orgânica de arroz.As práticas fitotécnicas de manejo da culturae de manejo da irrigação utilizadas napropriedade, descritas abaixo, seguiram asrecomendações da EPAGRI (RAMOS et al.,1981; VOLTOLINI et al., 1998; PRANDO, 2002;KNOBLAUCH & EBERHARDT, 2003; NOLDINet al., 2003; FERNANDES, 2004):

Manejo na entressafra:Incorporação da palhada da safra anteriorno mês seguinte à colheita e limpeza dosdrenos para facilitar a drenagem do excessode água do solo. As taipas, beiras de estradase áreas adjacentes foram periodicamenteroçadas, para reduzir o potencial de criaçãode insetos-praga e a produção e dispersãode invasoras para dentro dos quadros delavoura.

A adubação realizou-se 60 diasantes do plantio, com cama de aviário(esterco de aves com material de forraçãodo piso do aviário), na dose de 7,5 toneladaspor hectare, antecedendo a inundação dostabuleiros, seguida de incorporação comenxada rotativa.

Inundação e preparo do solo: Airrigação por inundação da área ocorreu 30dias antes da semeadura, para promover aautocalagem e controlar as plantas daninhassemi-aquáticas. Realizou-se o nivelamentoda superfície do tabuleiro com o soloalagado, para permitir a condução da águade irrigação em toda a extensão do tabuleiro.O selamento ou formação de lama foirealizado com enxada rotativa, com lâminade água reduzida, deixando surgir parte dostorrões (figura 1). A profundidade do preparodo solo foi de 10 a 15 cm e o trator trabalhouem baixa velocidade. O alisamento esmeradoda superfície do solo é de fundamentalimportância, como mostra a figura 2, parapermitir um bom manejo da água deirrigação e controle de invasoras. Com o solonivelado, a altura da lâmina de água foielevada para 10 a 12 cm, tendo permanecidoem repouso por 2 a 3 dias, para permitir adeposição das partículas de solo suspensas,evitando que elas se acomodem sobre assementes e dificultem a germinação.

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Figura 1 - Preparo do solo da lavoura de arroz no sistemapré-germinado.

Foto: Neuza A. Fernandes, 2006.

Figura 2 - Visual da cancha, mostrando bom padrão deacabamento no preparo do solo

Foto: Autor, 2006

Semeadura e manejo cultural: Acultivar semeada foi Epagri 109,recomendada pela pesquisa oficial de SantaCatarina. As sementes passaram peloprocesso de pré-germinação, até as plântulasatingirem de 1 a 2 mm. A semeadura foimanual, usando 200 kg de sementes porhectare. Nos primeiros dias após asemeadura, a lâmina de água de irrigaçãopermaneceu com altura média de 10 cm,sem troca de água, com a realização dorebaixamento da altura da lâmina de águade 10 para 5 cm, 7 dias após a semeadura,para uniformizar a emergência das plântulas.Para suprir a necessidade de nitrogênio doarroz, realizou-se uma adubação decobertura, aos 75 dias após a semeadura,drenando a lâmina de água e aplicandoesterco de aviário, na dose de 1,5 toneladaspor hectare, repondo água 7 a 10 dias depoisda operação.

Comportamento de invasoras einsetos-praga: Foram realizadas inspeçõesdiárias nas horas mais quentes, paramonitorar a ocorrência de insetos-praga,com especial atenção ao ataque de bicheira-

da-raiz (Oryzophagus oryzae). Não houveataque de bicheira-da-raiz e percevejo docolmo (Tibraca limbativentris) na safra 2006/07.

A invasora sagitária (Sagitariamontevidensis) terminou seu ciclo antes daplanta de arroz, não causando perdasconsideráveis. A infestação de capim-arroz(Echinochloa spp.) foi média a alta emalgumas partes da lavoura em que adensidade de plantas ficou abaixo do padrãonormal. Estima-se que esta invasora trouxeprejuízos ao rendimento do arroz.Colheita: Foram tomados cuidados especiaisna fase que antecedeu a colheita, pois desdeo início da formação da panícula até afloração e frutificação o arroz precisa deirrigação constante.

O terreno destinado ao arroz possuitextura argilosa e a supressão da irrigaçãoocorreu na plena floração e a quantidade deágua nos tabuleiros da lavoura foi suficientepara completar o ciclo da planta. Apenasalgumas canchas necessitaram da retiradafinal de água. A colheita dos grãos ocorreuquando atingiram 18 a 20% de umidade,

sendo esta operação realizada de formamecânica.

METODOLOGIA

Características da pesquisa

Considerando os objetivos dopresente trabalho optou-se por desenvolveruma pesquisa do tipo "estudo de caso", porsua característica empírica, assentada emtrabalho de campo, embora nãoexperimental e baseada em fontes de dadosmúltiplos, obtidos por diversosprocedimentos (GIL, 1991; PONTE, 1994; YIN,2007), permitindo descrever, interpretar eavaliar a realidade em estudo (PONTE, 1994).Quanto aos objetivos, esta pesquisaclassifica-se como exploratória e descritiva.Exploratória porque proporciona maiorpercepção sobre o assunto, descreve e avaliao comportamento, define e classifica fatos evariáveis (CAMPOMAR, 1991; GIL, 1991), eenvolve levantamento bibliográfico (GIL,1991). A pesquisa também é descritivaporque visa aplicar teorias no diagnóstico da

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realidade, estabelecendo as relações entreas variáveis (CAMPOMAR, 1991; GIL, 1991).

Metodologia de análise

A metodologia MESMIS utilizada nopresente trabalho (Marco para Evaluación deSistemas de Manejo de Recursos NaturalesIncorporando Indicadores deSustentabilidad) busca traduzir os princípiosgerais de sustentabilidade em definiçõesoperacionais e práticas e foi adotado comoparte da Rede de Gestão de RecursosNaturais, e financiado pela FundaçãoRockefeller. É produto de um projeto iniciadoem 1995 por uma equipe multi-institucionalno México, com o objetivo de desenvolveros instrumentos para avaliar asustentabilidade de sistemas de recursosnaturais, conduzido pelo GIRA, o GrupoInterdisciplinar de Tecnologia RuralApropriada, uma ONG local, baseada noMéxico Ocidental, no estado de Michoacán.A metodologia MESMIS foi aplicada paraavaliar a sustentabilidade doagroecossistema arroz orgânico por utilizaro enfoque sistêmico e apresentarpressupostos de qualidades, tais como:avaliação multidimensional, permitir análisede diversos atributos de agroecossistemas,ser adaptável a diversas situações locais,permitir ação participativa do públicoenvolvido, poder realizar comparações entresistemas diversos ou com o próprio sistemano decorrer do tempo. A avaliação desustentabilidade deve ser um instrumentopara planejamento e redesenho de projetosagroecológicos ou de base ecológica. Umprocesso de avaliação deve ajudar namelhoria do perfil social e ambiental de umagroecossistema e efetivamente formularum plano de ação adequado e apontado paraa evolução do sistema de gestão (LÓPEZ-RIDAURA et al., 2000).

Na estrutura MESMIS, a avaliaçãonão é concebida como um processo linear,mas como uma espiral de sucessivasavaliações. As conclusões e recomendaçõesobtidas formam o ponto de partida de umnovo ciclo. Para Astier (2004), o marcoMESMIS mostra-se útil para sistematizarexperiências, discutir sobre fortalezas edebilidades dos sistemas. A aplicação doMESMIS foi orientada em direção ao

desenho e avaliação de inovaçõesagroecológicas em escala local (propriedadee comunidade) pela maior parte no contextode sistemas de gestão de recursos naturaisde camponeses.

O MESMIS pode ser utilizado paraavaliar o mesmo agroecossistema durante otranscorrer do tempo, procurandoaperfeiçoá-lo com as observações esugestões do grupo de interesse (modolongitudinal) ou para avaliar diversossistemas de produção ou agroecossistemas,comparando-os e analisando os pontosfortes e debilidades de cada um, sob o pontode vista da sustentabilidade, nas suas váriasdimensões (modo transversal).

A utilização da MESMIScompreende o desenvolvimento dasseguintes etapas: determinação do ambientede estudo; determinação dos pontos críticosdo sistema; seleção de indicadoresestratégicos; medição e monitoramento deindicadores; apresentação e integração deresultados; e conclusão e recomendações.Para a avaliação continuada em anossubseqüentes, o produto da última etapaserve de ponto inicial para o reinício do novociclo. Neste trabalho, devido à necessidadede adequar a pesquisa ao período deduração do mestrado, a metodologia foiutilizada para avaliar o desempenho doagroecossistema durante dois ciclos deprodução, contando com a participaçãodireta ou indireta da família da propriedadeem estudo nas etapas da metodologiaempregada.

Desenvolvimento das etapas da MESMIS

Determinações dos pontos críticos dosistema

A definição dos pontos críticosiniciou com a compilação de casos citadosno levantamento bibliográfico,principalmente aqueles trabalhosrelacionados com agricultura orgânica e queutilizaram a metodologia MESMIS. Após alistagem, passou-se a classificar os pontoscríticos que poderiam ameaçar asustentabilidade do sistema ou delinearcaracterísticas, associando com os atributosprodutividade, estabilidade e resiliência,confiabilidade, eqüidade, autogestão e

adaptabilidade. A escolha final recaiu sobredezenove indicadores, considerando arepresentatividade, importância ressaltadana bibliografia, disponibilidade de dados emensurabilidade.

O atributo produtividade da culturatem sido um ponto comum para avaliar ossistemas. Relaciona-se com um indicadorfácil de medir e possibilita a utilização dedados de safras anteriores. Neste trabalhoutiliza-se a média de quatro safras.

O tema água, no aspectoquantitativo, apresenta um ponto críticobastante evidente nesta bacia hidrográfica,uma vez que o consumo de recursos hídricospara irrigação do arroz representa cerca de90% das demandas locais. Igualmente, noaspecto qualitativo, a bacia do Araranguá semostra com limites importantes devido apresença de agrotóxicos usados no cultivode arroz irrigado.

Seleção dos critérios de diagnóstico e dosindicadores

Os indicadores foram escolhidos demodo semelhante à escolha dos pontoscríticos, baseando-se em levantamentobibliográfico, disponibilidade de dados emensurabilidade. Os critérios de diagnósticoforam definidos levando em conta aResolução do Conselho Nacional do MeioAmbiente (CONAMA) Nº 357/2005(CONAMA, 2005). Para tanto os parâmetrosde qualidade da água de irrigação foramanalisados através de coleta de entrada e desaída da lavoura. Nota-se que algunsindicadores melhoram o desempenho aopassar pelo agroecossistema. Esta melhoriade desempenho do parâmetro considera-sepositiva e será valorizada na avaliação desustentabilidade. Quando os resultados seapresentam dentro dos parâmetrosnormativos, usa-se a técnica estatística do3º quartil para considerar normais os valoresque estão contidos dentro deste limite, queabrange 75% dos dados. Na avaliação dosindicadores econômicos, utilizam-se comoparâmetros comparativos padrõesconstruídos com informações doacompanhamento técnico e contábil depropriedades da bacia do rio Araranguá quese dedicam à produção convencional dearroz irrigado, compilados pela Epagri. A

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produção orgânica precisa ter desempenhoeconômico satisfatório nestes indicadores,sob pena de não lograr sucesso entre os

rizicultores. Na tabela 1 são agrupados osatributos, elementos, pontos críticos e

indicadores selecionados, conforme descritoacima:

ATRIBUTO ELEMENTO OU TEMA PONTOS CRÍTICOS INDICADORES

Solo Baixa produtividade Produtividade obtida/ha Produtividade (ambiental) Água Alto consumo de água Consumo de água/ha

Características físicas da água de irrigação Características químicas da água de irrigação Características biológicas da água de irrigação Efeito do arroz orgânico sobre larvas de Aedes albopictus Efeito do arroz orgânico sobre o índice de germinação de alface Efeito do arroz orgânico sobre Daphnia magna Efeito do arroz orgânico sobre a mutagenicidade em peixes

Estabilidade resiliência Confiabilidade (ambiental)

Água Efeitos negativos sobre a qualidade da água

Resíduos de agrotóxicos na água de irrigação

Estabilidade resiliência Confiabilidade (econômico)

Manejo do arroz orgânico

Alta instabilidade na produção

Variação na produtividade

Produtividade (econômico) Solo Baixo retorno econômico

Relação Margem Bruta/ha (MB/ha)

Eqüidade (econômico) Desempenho do sistema

Baixa taxa de retorno Relação benefício/custo

Autodependência (econômico)

Manejo do arroz orgânico

Alta dependência de insumos externos

Porcentagem de dependência de insumos externos

Manejo do arroz orgânico

Baixa aceitação do sistema

Grau de satisfação com arroz orgânico

Estabilidade resiliência Confiabilidade (social)

Ambiente interno e externo

Baixa percepção familiar sobre importância do arroz orgânico para a saúde (conceito amplo)

Grau de percepção da família sobre vantagens do arroz orgânico para a saúde (produtor, consumidor, ambiente)

Eqüidade (social) Recursos do sistema

Baixa remuneração da mão-de-obra familiar

Remuneração da mão-de-obra familiar

Adaptabilidade (social) Manejo do arroz orgânico

Baixa adaptabilidade do arroz orgânico ao ambiente da propriedade

Grau de adaptação do sistema arroz orgânico ao manejo da família

Autogestão (social) Manejo do arroz orgânico

Baixo domínio familiar do sistema de produção arroz orgânico

Grau de conhecimento da família sobre o sistema arroz orgânico

Tabela 1 - Atributos, elementos, pontos críticos e indicadores.

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Medição e monitoramento dos indicadores

Fontes de dados:

Os indicadores determinados nestetrabalho baseiam-se em dados oriundos dosseguintes dados:

a) Safra 2006/07: os dados debioindicadores são oriundos dos testesrealizados pelo Laboratório de ToxicologiaAmbiental/ENS/UFSC (COSTA, 2007),compreendendo a avaliação da água deirrigação do arroz orgânico, através de testesde toxicidade aguda com larvas de Aedesalbopictus, germinação de sementes dealface (Lactuca sativa L.), microcrustáceoDaphnia magna e avaliação demutagenicidade em eritrócitos deGeophagus brasilienses (acará), coletadosem valos de drenagem da área de cultivo dearroz. Os materiais analisados emlaboratório foram coletados e interpretadospelos autores da pesquisa. Foram aindaconsiderados os dados de análises decaracterísticas físicas, químicas e biológicasda água de irrigação realizadas noLaboratório da Epagri-Urussanga, e dadosde análise de resíduos de agrotóxicos naágua de irrigação realizada no Laboratórioda Epagri-Itajaí.

b) Safra 2007/08: realizou-se apenaso teste de avaliação de mutagenicidade. Naunidade de pesquisa foram criados peixesem cativeiro na cancha de arroz orgânicopara os testes em laboratório (LABTOX/ENS/UFSC). Nesta safra, também foram coletadosos dados de mutagenicidade em peixescriados em outras unidades produtoras dearroz irrigado orgânico e também arrozconvencional (com uso de agroquímicos):propriedades localizadas nos municípios deErmo, Nova Veneza e Araranguá.

c) Safras de 2003/04 a 2006/07:dados de lavoura da família Fernandesanalisados mediante o software CONTAGRI/EPAGRI. Utilizaram-se ainda os dados deanálise econômica de outras propriedadescom arroz irrigado convencional, localizadasnos municípios de Turvo e Meleiro, próximosde Ermo/SC. As médias destas propriedadesforam consideradas neste trabalho como"referências médias regionais". Asinformações referem-se às mesmas safrasacompanhadas no caso de estudo e foramgentilmente fornecidas pela Epagri(PELLEGRIN, 2008).

d) Os dados de consumo hídricomonitorados na propriedade da famíliaFernandes: sistema de produção orgânico(safra 2006/07) e sistema convencional (safra

SAFRAS INDICADORES

2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 MÉDIA 4 SAFRAS

Produtividade (kg/ha) 7.448,5 7.794 8.050 7.750 7.760,6

2007-2008). Também foram utilizados dadosmonitorados na propriedade Aguiar(Araranguá), na safra 2007/08 paradeterminar o consumo hídrico no arroz commanejo da irrigação convencional. O manejoconvencional da irrigação se caracteriza porduas ou mais trocas de água das canchas epreparo do solo com lâmina de água médiaou alta.

Critérios de valoração dos indicadores

Apresentam-se de maneira sucintaos procedimentos e referências usadas paracalcular os valores dos indicadores, com oponto de corte mínimo e máximo e oestabelecimento de intervalos de notas aserem aplicados aos resultados encontradosno presente estudo.

Dimensão ambiental:

a) Produtividade obtida no arrozorgânico

A produtividade média obtida foicalculada pela média aritmética dasprodutividades das safras 2003/04, 2004/05,2005/06 e 2006/07, na propriedade deestudo (tabela 2).

Tabela 2 - Média regional - arroz convencional - municípios de Turvo e Meleiro

Para criar o conjunto deparâmetros, possibilitando estabelecer anota para o desempenho deste indicador,considerou-se como ponto máximo (nota10) a média regional de quatro safrasacompanhadas pelo Projeto deSocioeconomia da Epagri, que apresentouresultado de 7.760,6 kg/ha. A média geralpara o município de Turvo, safra 2007/08 foide 7.500 kg/ha, situando-se entre asmaiores para o sul do estado (a médiaestadual é de 6.690 kg/ha). O ponto mínimo(nota 0) foi considerado como sendo aprodutividade suficiente para ressarcir os

custos variáveis (CV) de produção do arrozorgânico, somando-se a remuneração damão-de-obra familiar. Para este caso, aprodutividade que delimita o ponto de corteé de 3.435 kg/ha (ou 44,31% da médiaregional do sistema convencional). Asprodutividades intermediárias receberãonotas proporcionais dentro da escala de 0 a10.

b) Consumo de água pelo arrozirrigado orgânico (m³/ ha):

O limite máximo de consumohídrico foi estabelecido com base emmedida do consumo de uma propriedade

localizada em Araranguá/SC, próxima daRodovia BR-101, que retira água do RioAraranguá por bombeamento. Este usuárioutiliza o sistema convencional de manejo dairrigação no arroz, com mais de uma trocade água por ciclo da cultura. O consumo foide 18.556 m³/ha, o maior entre asinformações obtidas de outros trabalhos,equivalente à nota 0. Como limite inferior(nota 10) considerou-se o consumo hídricode 8.955,7 m³/ha, menor consumo hídricototal identificado na literatura para estaregião, como mostra a tabela 3 (EBERHARDT,1994).

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Tabela 3 - Parâmetros estabelecidos para o consumo hídrico (m³/ha)

Consumo hídrico total (m³/ha)

Nota Consumo hídrico total (m³/ha) Nota

8.955,7 10 14.715,9 4 9.915,7 9 15.675,9 3 10.875,8 8 16.635,9 2 11.835,8 7 17.596,0 1 12.795,8 6 18.556,0 0 13.755,8 5

c) Variação das características

físicas, químicas e biológicas da água deirrigação do arroz orgânico

Para facilitar o ordenamento dosresultados destas análises, foi utilizado oprocedimento estatístico do quartil, que éparticularmente útil para dados nãosimétricos. A mediana (ou percentil 50) édefinida como o valor que divide ao meioos dados ordenados. Os quartis inferior esuperior, Q1 e Q3, são definidos como osvalores abaixo dos quais estão um quarto etrês quartos dos valores, respectivamente(RIBEIRO JR., 2008), e assumem a seguintesimbologia:

Q0: valor mínimo;Q1: primeiro quartil (25% dos

valores);

Q2: valor médio, que divide osdados em duas metades, é a mediana;

Q3: terceiro quartil (abrange 75%dos valores);

Q4: valor máximo da série dedados.

Esta técnica estatística seráutilizada nas situações em que a distribuiçãodos resultados está dentro dos limites dalegislação, principalmente para o resultadodas amostras da água da saída da lavoura.Considera-se resultado fora do limite aqueleque está acima do 3º quartil, ou seja, forados primeiros 75% dos valores da série. Éuma forma de valorizar os resultados quepermanecem dentro de ¾ dos valores,eliminando resultados esporádicos que, seutilizados no cálculo da média, exerceriam

grande influência no valor final.

Parâmetros normativos:

a) A Portaria ? 024/79 da SecretariaEstadual de planejamento e CoordenaçãoGeral, que classifica os cursos d'água doEstado de Santa Catarina em classes de uso,enquadra a Sanga das Águas Brancas naclasse 2, cujo manancial fornece água parairrigação da unidade do estudo de caso(unidade da pesquisa, Ermo/SC).

b) Resolução do Conselho Nacionaldo Meio Ambiente (CONAMA), de ? 357/2005, que estabelece parâmetros paracursos d'água de classe 2 (tabela 4).

Tabela 4 - Parâmetros extraídos das referências legais: físico, químico e biológico

Parâmetros Limite Máximo 1 – Classe do curso d’água utilizado para abastecimento da lavoura pesquisada (Córrego Águas Brancas)

Classe 2

2 – Amônia (mg/L de NH3) 3 mg/L de N 3 – Nitrato (mg/L de N) 10 mg/L 4 - Nitrito (mg/L de N) 1 mg/L 5 – Coliformes fecais (NMP/100ml) 1.000 6 – Fosfato – Orto (mg/L – P) 0,03 7 – Oxigênio Dissolvido (OD) em mg/L > 5,0 8 – pH (logarítmico) 6,0 a 9,0 9 – Turbidez (NTU) 100

A avaliação dos resultados daanálise de água da saída da lavoura é oreferencial para estabelecer notas, baseadanos seguintes critérios:

a) Quando os valores das análisesda água de irrigação na saída da lavouraestão melhores que na entrada, considera-

se como resultado positivo (não reduz notado indicador);

b) Quando todos os valores dasanálises estão dentro dos níveisestabelecidos pelo CONAMA, considera-senormal os resultados situados abaixo do 3ºquartil (75% dos valores), de acordo com

técnica estatística descrita anteriormente.Concomitantemente, observa-se se ocorrevalor na saída de água da lavoura superiorao valor da água de entrada. Exemplo: seexiste um valor de saída pior que da águade entrada e um valor acima do 3º quartil,considera-se os dois resultados como fora

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do padrão.

Bioindicadores

Efeito da água do Arroz Orgânico sobrelarvas de Aedes albopictus:

Para a mortalidade de larvas depernilongos da espécie Aedes albopictuscriados em laboratório da UFSC em águacoletada na lavoura de arroz orgânico, nafase larval, usa-se a nota 0 para mortalidade100% e nota 10 para 0%. Os índicesintermediários recebem notasproporcionais. Exemplo: Mortalidade de60% recebe nota 4.

Tabela 5 - Parâmetros estabelecidos para mortalidade/imobilidade de Daphnia magna

Efeito da água de irrigação do arrozorgânico sobre a porcentagem degerminação e crescimento inicial desemente de alface (Lactuca sativa):

Alguns produtos, principalmenteherbicidas, podem trazer redução docrescimento das plântulas de alface, umaespécie muito sensível a estes agroquímicos.Como no teste a germinação e crescimentode sementes de alface foram normais (nãohouve efeito negativo), considera-se nota10.

Efeito da água de irrigação sobreimobilidade de Daphnia magna:

Este teste sobre a imobilidade deDaphnia magna (teste 48 horas) éamplamente utilizado em avaliações, por setratar de uma espécie muito sensível aprodutos tóxicos. O ponto de corte inferiorescolhido foi de 50% de mortalidade/imobilidade (>50% = nota 0), porrepresentar um parâmetro utilizado nostestes de toxidade (DL 50), ou seja, dose letalpara 50% da população em teste. Para 0%de mortalidade/imobilidade atribui-se anota 10 e os valores intermediários recebemnotas proporcionais (tabela 5).

Mortalidade/imobilidade Nota Mortalidade/imobilidade Nota >50% 10 20,1 a 25% 4 45,1 a 50% 9 15,1 a 20% 3 40,1 a 45% 8 10,1 a 15% 2 35,1 a 40% 7 5,1 a 10% 1 30,1 a 35% 6 0 a 5% 0 25,1 a 30% 5

Efeito da água de irrigação sobremicronucleação em peixes:

Este indicador reflete o efeito daágua de irrigação do arroz sobre amicronucleação de hemácias do sangue depeixes. Foram coletados peixes criados naunidade estudada, em lavoura conduzida nosistema orgânico (safra 2006/07) e sistemaconvencional (safra 2007/08), conduzidasnos municípios de Ermo. O teste verifica ospossíveis efeitos mutagênicos de resíduosagroquímicos presentes na água deirrigação. De acordo com parâmetros dametodologia (CARVALHO PINTO-SILVA,2005), de 0 a 3 células micronucleadas/2.000células analisadas é considerado umresultado normal, sendo atribuída a nota 10.Acima de 3 células micronucleadas/2.000analisadas, atribui-se a nota 0. Ainda não hádefinição de níveis intermediários paraalterações por micronucleação: dispõe-seapenas de resultado normal (0 a 3) ou

alterado (acima de 3).

Resíduos de agrotóxicos na água deirrigação do arroz orgânico, safra 2006/07(Ermo/SC):

O objetivo das análises de água deirrigação do arroz orgânico é verificar se oinsumo é adequado às normas brasileiraspara produção orgânica (Lei Nº. 10.831), jáque o manancial utilizado é de origemexterna à propriedade. Como não épermitido uso de agrotóxicos na produçãode arroz orgânico, adota-se apenas duasclasses de notas:

Água sem resíduos de agrotóxicos(pelo método cromatográfico) ........ nota 10

Água com resíduos de agrotóxicos(qualquer teor) ............................... nota 0

Dimensão econômica

Utilizar-se-á de parâmetros médios

de propriedades produtoras de arrozirrigado no sistema convencional deprodução, das mesmas safras agrícolasacompanhadas pela contabilidade agrícolana unidade deste estudo de caso (ver tabela6). O "software" utilizado para os cálculosfoi o CONTAGRI, desenvolvido pela Epagri/SC, com uso já consagrado nos estados deSanta Catarina e Rio Grande do Sul, tantopor serviços públicos como pela iniciativaprivada. Estes resultados servem apenas deparâmetros para definição de faixas de cadaindicador e respectivas notas pordesempenho. Os rizicultores observamatentamente alguns destes parâmetros,como renda bruta e margem bruta/ha,quando estão analisando outros sistemasalternativos de produção de arroz irrigado,pois são indicadores de grande relevânciana atividade agrícola.

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SAFRAS INDICADORES

2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 MÉDIA 4 SAFRAS

Preço médio de venda (R$/kg) 0,63 0,397 0,391 0,435 0,463

Renda Bruta (RB/ha) 4.684,04 3.114,44 3.164,00 3.297,00 3.564,87

Custos Variáveis (C.V./ha) 1.214,67 1.346,02 1.147,00 1.263,00 1.242,67

Margem Bruta (MB/ha) 3.469,38 1.768,42 2.031,00 2.034,00 2.325,70

Margem Bruta/ha/UTH 1.667,97 987,94 1.482,48 1.816,07 1.488,62

Recursos externos (desembolso/ha)

2.170,88 1.680,46 1.235,00 1.263,00 1.587,34

Produtividade necessária para cobrir C.V.+ mão-de-obra familiar (kg/ha)

3.447 4.233 3.155,5 2.903,5 3.435

% produtividade média para cobrir C.V. + mão-de-obra familiar (%)

46,28 54,31 39,20 37,46 44,31

Maior variação negativa da média regional da produtividade ( % )

- 4,02% + 0,43% + 3,73% - 0,14% - 4,02%

Unidades Trabalho Homem (UTH) dedicadas ao arroz irrigado

2,08 1,79 1,37 1,12 1,59

Tabela 6 - Médias regionais de propriedades agrícolas com arroz irrigado convencional pré-germinado,acompanhadas pela EPAGRI (Contabilidade Agrícola). Fonte: Pellegrin, 2008.

Variação da produtividade do arroz irrigado

Um dos pontos de vulnerabilidadedo agroecossistema arroz orgânicoencontra-se na instabilidade da produção.Este indicador tem grande relevância paraa segurança de renda da família. Nota-se

Porcentual de variação Nota Porcentual de variação Nota ? 4,02% 10 ? 34,67% 4 ? 9,12% 9 ? 39,78% 3 ? 14,24% 8 ? 44,89% 2 ? 19,35% 7 ? 50,00% 1 ? 24,46% 6 > 50,00% 0 ? 29,56% 5

que o porcentual de variação daprodutividade na lavoura convencional foide 4,02%, considerado baixo. Este valor ficouestabelecido como ponto de corte mínimo,recebendo a nota 10. Se esta variação atingeo índice de 50%, estabelece o limite máximo,pois acima deste valor (> 50%) a receita

bruta da lavoura não consegue remuneraro custo variável mais a mão-de-obra familiarempregada na produção do arroz orgânico.Para este índice atribui-se a nota 0 (tabela7).

Tabela 7 - Parâmetros estabelecidos para variação da produtividade.

Grau de dependência de insumos externosà propriedade

Para definir o padrão deste

indicador considera-se que a meta ideal deindependência de recursos externos àpropriedade é aquela em que o custovariável (CV) atingirá o valor mínimo possível

quando se dispõe do máximo possível deinsumos/recursos próprios (dadosfornecidos pela família Fernandes - tabela8)

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Item de custo Valor de mercado (R$) a) Adubos (esterco, casca de arroz carbonizada, resíduos orgânicos)

R$ 130,48

b) Semente própria R$ 183,10 c) Água para irrigação (açude/reservatório) R$ 30,02 d) Colheitadeira própria R$ 321,90 Total hipoteticamente evitável de desembolso R$ 665,50

Tabela 8 - Itens do custo de produção do arroz orgânico

Para um gasto médio de R$ 872,86de custos variáveis (CV), o arroz orgânico napropriedade em estudo da famíliaFernandes poderia gastar apenas R$ 207,36/ha (CV), adquirindo aquilo quenecessariamente depende do comércio(insumo/recuso externo) a exemplo decombustíveis, insumos industrializadospermitidos (ex. sulfato de cobre). No outroextremo, tem-se o custo variável médio

regional, de R$ 1.242,67. Esta média nãoinclui o pagamento de colheita por terceiros.Ocorrendo este desembolso, chega-se a umcusto variável de R$ 1.552,27/ha para osistema convencional (PELLEGRIN, 2008) epermitiu o estabelecimento dos parâmetrosda tabela 9. Cálculo:

Média produtividade regional =7.760,6 kg/ha

Pagamento de colheita = 10% do

produto (776 kg/ha x R$ 0,463/kg) = 359,60Desconto de despesa incluída no

CV (combustível, lubrificante, oficina) =50,00

Valor de acréscimo ao CV porpagamento de colheita = R$ 309,60

Custo variável máximo hipotéticomédio regional = R$ 1.552,27

Tabela 9 - Parâmetros estabelecidos para desembolso com custos variáveis

Desembolso em custos variáveis/ha (CV/ha)

Nota Desembolso em custos variáveis/ha (CV/ha)

Nota

207,36 10 1.014,31 4 341,85 9 1.148,80 3 476,34 8 1.283,29 2 610,83 7 1.417,78 1 745,32 6 1.552,27 0 879,82 5

Margem Bruta/ha

Para cobrir os Custos Variáveis (CV)do arroz orgânico são necessários, no

mínimo, 55% do valor da margem brutaregional (R$ 2.325,70). Este foi o ponto decorte inferior definido para estabelecer anota 0. Se a margem bruta do arroz orgânico

atingir 100% ou mais da média regional doarroz convencional, será atribuída a nota 10(tabela 10).

Porcentagem da média regional

(MB/ha)

Nota Porcentagem da média regional

(MB/ha)

Nota

? 100% 10 70% 4 95% 9 65% 3 90% 8 60% 2 85% 7 55% 1 80% 6 < 55% 0 75% 5

Tabela 10 - Parâmetros definidos para produtividade do arroz orgânico/convencional. Fonte: Autor.

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Relação benefício/custo

Utiliza-se como "benefício" amargem bruta/ha do arroz orgânico e, como"custo", o custo variável/ha (CV/ha).Considerando-se a renda bruta média/ha doarroz orgânico, propriedade de Neuza A.

Fernandes, de R$ 3.219,47 e o CV mínimoideal de R$ 207,36, obtêm-se o índice (B/C)= 3.219,47/207,36 = 14,5, tido como idealpara este caso (nota 10). Na hipótese dafamília contratar a mão-de-obra (1,0 UTH)por seis meses/safra, período de maiorexigência de trabalho no arroz, o CV/ha

chegaria a R$ 2.708,86, tendo por base osalário mínimo médio 2003/2007 de R$306,00 (IOB, 2008). Nesta hipótese, o menoríndice B/C será de 0,19 (nota 0). Os valoresintermediários de margem bruta (MB)recebem notas proporcionais (tabela 11).

Margem bruta (MB) Custo Variável

(CV) Benefício/Custo (MB/CV) Nota

3.012,11 207,36 14,53 10 2.761,96 457,51 6,04 9 2.511,81 707,66 3,55 8 2.261,66 957,81 2,36 7 2.011,51 1.207,96 1,67 6 1.761,36 1.458,11 1,21 5 1.511,21 1.708,26 0,88 4 1.261,06 1.958,41 0,64 3 1.010,91 2.208,56 0,46 2 760,76 2.458,71 0,31 1 510,61 2.708,86 0,19 0

Tabela 11 - Relação Benefício/Custo e critérios de avaliação. Fonte: Autor.

Dimensão social

Os critérios que foram adotados na

dimensão social pelo pesquisador (tabela12), seguem sugestão de Matos Filho (2004),em que se utiliza uma escala de cinco níveis

das variáveis de cada indicador.

Desempenho ou situação Nota

Crítico 2

Sofrível 4

Regular 6

Bom 8

Ótimo 10

Tabela 12 - Critérios para valoração dos indicadores sociais. Fonte: Adaptado de Matos Filho, 2004.

As notas foram estabelecidas combase em entrevista aplicada aos membrosda família Fernandes, com interpretaçãobaseada nas respostas relacionadas comcada indicador (ver anexo I).

Para o indicador "remuneração da

mão-de-obra familiar", considerou-se comometa ideal a possibilidade de que 25% dosCustos Variáveis (CV) sejam obtidos fora dapropriedade, valor equivalente a R$ 207,36(ver indicador dependência de insumosexternos). Para este caso, a margem bruta/

ha do arroz orgânico será MB/ha (R$) =(renda bruta ? CV), ou R$ 3.219,47 ? 207,36= R$ 3.012,11. Na tabela 13 sãoapresentados todos os intervalos e notaspara remuneração da mão-de-obra.

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Remuneração da mão-de-obra: MB/ha/UTH

Nota Remuneração da mão-de-obra: MB/ha/UTH

Nota

R$ 3.012,11 10 R$ 1.728,56 4 R$ 2.584,26 8 R$ 1.300,71 2 R$ 2.156,41 6 R$ 872,86 0

Tabela 13 - Parâmetros estabelecidos para remuneração da mão-de-obra

Tabela 14 - Dimensão, Atributos, Elementos sob análise, Indicadores, Variáveis, modo de cálculo (Dimensão ambiental)

DIMENSÃO ATRIBUTO ELEMENTO OU TEMA

INDICADOR VARIÁVEIS E FORMA DE CÁLCULO DA NOTA

Solo Produtividade obtida / ha Porcentagem da produtividade média regional = 155,21 sc/ha (100%).................................................... nota 10 Ponto de corte = 68,70 sc/ha (44,31%) = nota 0

Produtividade

Água Consumo de água (m³ / ha) Consumo excessivo (?18.556 m³/ha) = nota 0 Consumo médio (13.755,8 m³/ha) . = nota 5 Consumo reduzido (?8.955,7 m³/ha) = nota 10

Variação das características físicas da água de irrigação

Comparação com padrão legal e 3º quartil.

Variação das características químicas da água de irrigação

Comparação com padrão legal e 3º quartil.

Variação das características biológicas da água de irrigação

Comparação com padrão legal e 3º quartil.

Efeito do arroz orgânico sobre o bioindicador pernilongo Aedes albopictus

Mortalidade 0% ............................. nota 10 Mortalidade 100% .......................... nota 0

Efeito do arroz orgânico sobre o bioindicador alface

Sem interferência negativa .............. nota 10

Efeito do arroz orgânico sobre o bioindicador Daphnia magna

Mortalidade de 0 a 5% .................... nota 10 Mortalidade >50% (DL50) .............. nota 0

Efeito do arroz orgânico sobre micronucleação (MN) de células de peixe

MN normal (0 a 3 / 2.000 células) .. nota 10 MN acima de 3 células/2.000 ......... nota 0

Ecológica ou Ambiental

Estabilidade Resiliência Confiabilidade

Água

Resíduos de agrotóxicos na água de irrigação

Sem resíduos detectáveis ............... nota 10 Com resíduos detectáveis .................nota 0

O ponto de corte inferior foi de R$872,86, pois nesta situação a margem brutaserá nula. Se estes parâmetros foremaplicados à média regional da remuneraçãoda mão-de-obra/ha/UTH (R$ 1.462,70) anota será 2,25.

Para o indicador "aptidão dosistema de produção arroz orgânico", deve-se determinar se o cultivo é apto para aquelelugar e, portanto, se é sustentávelecologicamente. Para Camino e Müller(1993), deve-se submeter à prova a aptidãode um sistema de cultivo em umdeterminado lugar (no caso, a propriedadeda família Fernandes). Tal indicador da

dimensão social avalia a adaptabilidade dosistema de manejo arroz orgânico tambémàs características da família. Entende-se queuma família pode operacionalizar comsucesso este manejo, enquanto outras nãoo conseguem implementarsatisfatoriamente. Parte-se do princípio queas características familiares fazem parte dascondições ambientais da propriedade, já quepara Daget & Godron (1976) apud Camino& Müller (1993), em um determinadomomento, é o conjunto de agentes físicos,químicos, biológicos e fatores sociais quepoderão influenciar, de maneira direta ouindireta, de imediato ou a prazo, os seres

vivos e as atividades humanas. De acordocom a interpretação das respostas dosfamiliares, concedidas na entrevista, foramestabelecidos: níveis de satisfação da famíliacom o sistema arroz orgânico, grau deconhecimento sobre o sistema de produçãode arroz orgânico e o grau de adaptação doagroecossistema ao manejo praticado pelafamília.

O resumo de todos os parâmetros,indicadores e variáveis aplicados nesteestudo é apresentado na tabela 14, queestão organizados por dimensão desustentabilidade, atributos e elementosavaliados.

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DIMENSÃO ATRIBUTO ELEMENTO OU TEMA

INDICADOR VARIÁVEIS E FORMA DE CÁLCULO DA NOTA

Estabilidade Resiliência Confiabilidade

Manejo do Arroz Orgânico

Variação da produtividade Variação até –4,02% (média regional)= nota 10 Variação neg.> 50% da média regional= nota 0

Autodependência Manejo do Arroz Orgânico

Dependência de recursos externos Desembolso em Custos Variáveis/ha (CV/ha): CV = R$ 207,36 ................... nota 10 CV = R$ 1.552,27 ................. nota 0

Produtividade Solo Relação Margem Bruta/ha (MB/ha)

MB/ha A.O. ? média regional = nota 10 MB/ha A.O. < 55% da média regional = nota 0

Econômica

Eqüidade Desempenho: agroecossistema Arroz Orgânico

Relação benefício/custo Relação Benefício/Custo = Margem Bruta/ CV Índice 14,5 ....................... nota 10 Índice 0,19 ........................ nota 0

Social Eqüidade Recursos do sistema

Remuneração da mão-de-obra familiar (MB/ha/UTH)

Ótimo (R$ 3012,11) ............nota 10 Crítico (R$ 872,86) ............ nota 0

Estabilidade Resiliência Confiabilidade

Manejo do Arroz Orgânico

Satisfação da família com arroz orgânico (A.O.)

Ótimo ................................ nota 10 Regular .............................. nota 6 Crítico ............................... nota 2

Eqüidade Ambiente interno e externo

Grau de percepção da família sobre vantagens do A.O. para saúde (produtor, consumidor e ambiente)

Ótimo ................................ nota 10 Regular ............................. nota 6 Crítico ............................... nota 2

Autogestão Manejo do Arroz Orgânico

Grau de conhecimento da família sobre sistema A.O.

Ótimo ................................ nota 10 Regular ............................. nota 6 Crítico ............................... nota 2

Adaptabilidade Manejo do Arroz Orgânico

Grau de adaptação do sistema A.O. ao manejo praticado pela família

Ótimo ................................ nota 10 Regular ............................. nota 6 Crítico ............................... nota 2

Cont. Tabela 14 - Dimensão, Atributos, Elementos sob análise, Indicadores, Variáveis, modo de cálculo (Dimensão econômica)

DIMENSÃO INDICADOR NOTA Produtividade obtida / ha 5,99

Consumo de água (m³ / ha) 6,03 Características físicas da água de irrigação 9,00 Características químicas da água de irrigação 8,00 Características biológicas da água de irrigação 8,00 Efeito do arroz orgânico sobre larvas de Aedes albopictus 10,00 Efeito do arroz orgânico sobre germinação de alface 10,00

Efeito do arroz orgânico sobre Daphnia magna 10,00 Efeito do arroz orgânico sobre micronucleação (MN) de células de peixe

10,00

Ecológica ou Ambiental

Resíduos de agrotóxicos na água de irrigação 10,00

Variação da produtividade 2,89 Dependência de recursos externos 5,05 Relação Margem Bruta/ha (MB/ha) 9,97 Econômica Relação benefício/custo 7,53

Remuneração da mão-de-obra familiar (MB/ha/UTH) 6,89

Satisfação da família com arroz orgânico 4,00

Grau de percepção da família sobre vantagens do Arroz Orgânico para saúde (produtor, consumidor e ambiente)

6,00

Grau de conhecimento da família sobre sistema Arroz Orgânico 2,00

Social

Grau de adaptação do sistema Arroz Orgânico ao manejo da família 4,00

A tabela 15 apresenta, de maneirasintética, o desempenho de cada indicador

e a tabela 16 resume o desempenho doagroecossistema nas três dimensões

avaliadas.

Tabela 15 - Dimensões da sustentabilidade e desempenho de cada Indicador

* UTH : unidade de trabalho homem (equivalente a um trabalhador adulto).

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DIMENSÃO NOTA MÉDIA Ecológica ou Ambiental 8,70 Econômica 6,36 Social 4,58

Tabela 16 - Resumo das notas por dimensão da sustentabilidade

RESULTADOS e DISCUSSÃO

Dimensão ambiental

Considerando os critériosestabelecidos na metodologia, na dimensãoambiental os indicadores selecionadosmostram um bom desempenho doagroecossistema avaliado. Embora aprodutividade média tenha sidosignificativamente menor no confronto como padrão, o indicador da dimensãoeconômica margem bruta foi similar, umavez que o custo variável também foi menor.Os indicadores relacionados à águarepresentam o ponto mais forte do sistema.O volume de água usado para irrigação,embora possa ser reduzido sem prejuízos deprodutividade, é função da prática deirrigação denominada regionalmente"manejo contínuo", com apenas uma trocade água durante o ciclo da cultura. Aprudência na utilização do recurso águafacilita o seu uso múltiplo, de acordo com ocaráter da Lei 9.433/97. Na avaliação delideranças dos irrigantes da bacia doAraranguá, 15 a 20% dos agricultores aindagastam volumes excessivos no processo deirrigação do arroz. Enquanto neste estudode caso mediu-se consumo total de 12.765m³/ha de lavoura, outra unidadeacompanhada gastou mais de 18.500 m³/ha.O consumo hídrico total de 8.955 m³/ha,utilizado como ótimo (nota 10) nestaavaliação, possibilita estimar que a faixa de9.000 a 13.000 m³/ha representa uma metaviável para o gasto deste recurso nodesenvolvimento da rizicultura, comomostraram pesquisas já realizadas(EBERHARDT, 1994; FERNANDES, 2004).Considerando o consumo hídrico dosrizicultores "mais gastadores" da bacia de

18.000 m³/ha, sua redução para 12.000 m³/ha implica numa economia de águasuficiente para garantir o abastecimentopara consumo humano de toda a populaçãoresidente na bacia do Araranguá por 2,4anos.

Os resultados dos testes combioindicadores mostraram que o sistemaorgânico contribui para a melhoria daqualidade dos recursos hídricos e a águautilizada na irrigação não mostrou restriçãoà produção de arroz orgânico. As análisesde resíduos de agrotóxicos confirmaram ocumprimento das exigências legaisestabelecidas pelo órgão competentebrasileiro - Ministério da Agricultura eProdução Agropecuária - Brasil (BRASIL,2008). Pesquisas realizadas por Deschampset al. (2003) mostraram a presença deresíduos de agrotóxicos usados no arrozirrigado convencional na bacia do RioAraranguá, denotando a importância domanejo orgânico para o seu futuro plano degestão.

O teste de micronucleação empeixes demonstrou o potencial mutagênicodos agroquímicos usados na produção doarroz convencional. Esta metodologia,segundo Costa (2007), reflete o potencialmutagênico que determinados agentesquímicos e físicos exercem sobre o processode multiplicação celular. Pesquisaimportante foi desenvolvida por Costa et al.(2006) em Portugal. Eles afirmam que o usocomum de pesticidas na agriculturarepresenta uma ameaça não só aoambiente, mas também ao ser humano (àspopulações que a eles se expuserem).Muitos desses compostos são capazes deinduzir mutações no DNA e levar a váriasdoenças, inclusive câncer. Ambiente detrabalho, uso de equipamentos de proteção

individual (EPI), tempo de exposição e ascondições de exposição são descritos naliteratura como os fatores capazes de afetarníveis de danos citogenéticos.

A avaliação físico-química é a maistradicional para ecossistemas aquáticos. Aconcentração de fosfato é um indicador doestado trófico de um ecossistema aquático(entrada de nutrientes no ecossistema), daía importância na determinação de seusvalores. Dentre os gases dissolvidos na água,o oxigênio (O2) é um dos mais importantesna dinâmica e caracterização deecossistemas aquáticos (SILVEIRA, 2004). Osparâmetros físicos, químicos e biológicos daágua de irrigação do arroz orgânico comnota 8,33, indicaram que o recurso jáchegou à lavoura fora dos padrões daResolução Nº 357/05 do CONAMA, namaioria dos índices. Os resultados dasanálises de amostras coletadas na entrada,região intermediária e saída da lavourademonstrou, para a situação em estudo,uma tendência de normalidade. Em outraspalavras, embora não atenda aos padrõesdo CONAMA, comparando a qualidadeintegral da água na entrada com a saída dalavoura houve uma leve melhoria nosindicadores. Esta tendência confirma dadosde Macedo et al. (2005) e Mattos et al.(2005), de que o agroecossistema arrozirrigado pode promover recuperação dealguns aspectos da qualidade hídrica se omanejo for adequado.

A nota média de 8,70 para adimensão ambiental (figura 3), para oscritérios avaliados, indica que o grau desustentabilidade para o agroecossistemaanalisado se aproxima da situação ideal(valor 10).

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Indicadores Ambientais

0

2

4

6

8

10

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

'

Figura 3 - Radial dos Indicadores AmbientaisLegenda: 1. Produtividade/ha; 2: Consumo água/ha; 3: Características físicas água; 4: Características químicas água; 5: Características biológicas água;

6: Bioindicadores Pernilongo; 7: Bioindicador Alface; 8: Bioindicador microclúcleo (MN); 9: Bioindicador Daphnia magna; 10: Agrotóxicos na água.

Dimensão econômica

A instabilidade da produtividade, oponto mais vulnerável na dimensãoeconômica (nota 2,89), reflexo dedeficiências analisadas na dimensão social,não teve grande repercussão no indicadormargem bruta/ha. Este índice do arrozorgânico mostrou-se bem próximo da médiaregional do arroz convencional, beneficiadopelo adicional de preço (20%) e pelo menorcusto variável. A margem bruta, considerada

na administração rural um dos principaiscritérios de desempenho de umagroecossistema (SOLDATELLI et al.,1993 ),representa a fatia do valor da produção(renda bruta) que ficou no caixa dapropriedade para remunerar a mão-de-obrafamiliar e os outros custos fixos.

A relação benefício/custoespelhada pelo índice margem bruta/custovariável (nota 7,53) corrobora com a boanota do indicador anteriormente analisado,ainda que a escala padrão estabelecida para

o menor custo variável tenha sido rigorosa.Nota-se um grau de dependência deinsumos e serviços externos à propriedadepouco acima de 50% do padrão estabelecidona metodologia.

O desempenho da avaliação nadimensão econômica (figura 4) teve umanota média de 6,36, consideradasatisfatória, entretanto salienta-se que amargem bruta por hectare praticamenteatingiu o nível máximo para esta dimensão.

Dime ns ão e conômica

0

2

4

6

8

10Variação p rodut ividade

M argem Brut a/ha

Benefício/Cust o

Insumos externos (% )

Figura 4 - Radial dos Indicadores Econômicos

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Revista Brasi leira de Ciências Ambientais - Número 15 - Março/2010

Dimensão social

Deficiências no manejo da lavoura,principalmente no preparo do solo e manejoda irrigação ficam claras na avaliação do graude conhecimento da família sobre o manejodo arroz orgânico e no baixo grau deadaptação do sistema a este manejopraticado pela família. O retorno ao sistemaconvencional na safra 2007/08 mostrou estasdificuldades. Ocorrendopreponderantemente por questões

operacionais. Entretanto, cabe destacar quea produção de arroz orgânico não temencontrado dificuldades de manejo poroutras famílias, de acordo com informaçõescolhidas junto à cooperativa agropecuáriaque incentiva a produção de arroz orgânico.Identifica-se também a percepção da famíliasobre as vantagens da produção orgânica dearroz para a saúde tanto do produtor comodo consumidor. O indicador que recebeumelhor avaliação na dimensão social,remuneração da mão-de-obra familiar (nota

6,89) reflete o bom nível da margem brutaobtida, apesar da grande variação daprodutividade nos quatro anos de produçãono sistema orgânico. O desempenho médioda dimensão social (figura 5) foi o menordas três dimensões analisadas nestetrabalho (nota 4,58) e o setor maisvulnerável para a sustentabilidade doagroecossistema nesta propriedade, sendoos indicadores saúde e remuneração de mãode obra familiar os que mostraram o melhordesempenho.

Discussão geral sobre sustentabilidade doagroecossistema

Em artigo que analisa a transiçãodo arroz convencional para o arroz orgânico,conduzida por agricultores pobres da ilhafilipina de Bohol, Carpenter (2003) verificaque o conceito ecológico e moral de trocaentre sociedade e ambiente, do endógenoversus exógeno, a compreensão sistêmica eo alcance das mudanças sofreramsignificativas modificações. Elas ocorreramtanto em práticas de gestão da produçãocomo também na prosperidade sócio-econômica proporcionadas pela transiçãodo arroz convencional para o orgânico. Naagricultura orgânica observou-se a gestãoecológica de pragas, doenças e invasoras de

forma adequada às suas circunstâncias.Embora as condições sócio-econômicas dafamília aqui pesquisada (Ermo - SC),comparada com as condições dosagricultores filipinos sejam,presumivelmente, bastante distintas, nota-se nas respostas da entrevista com a famíliauma expectativa de resultados à curto prazo.Este comportamento, sob o ponto de vistados autores deste trabalho, é plenamentejustificável, pois a maioria das famílias utilizao sistema convencional de produção comprodutividade mais estável e rendimentoseconômicos altos. As boas condições sócio-econômicas da região produtora de arrozirrigado na bacia do Araranguá chamam aatenção das pessoas que a visitam pelaprimeira vez. Este contexto regional exerce

forte pressão sobre os produtores orgânicos.Só permanecem na produção de arrozorgânico aquelas famílias que se adaptarambem ao sistema de manejo e as exigênciasdeste agroecossistema. Estes aspectosficaram claros na análise das respostas daentrevista aplicada (anexo 1). Na dúvidasobre a expectativa de produção, a famíliaretornou à produção convencional, que lhesugere mais segurança econômica eestabilidade de renda, já que a cultura doarroz irrigado responde por 35,5% da receitabruta anual. A análise do desempenhoglobal na figura 6 permite visualizar demaneira integrada as três dimensões daavaliação da sustentabilidade doagroecossistema.

Dimensão Social

0

2

4

6

8

10

Remuneração da mão-de-obrafamiliar

Grau de satisfação com arrozorgânico

Percepção vantagens para saúdeAdaptação do A.O. ao manejo da

família

Conhecimento da família sobre A.O.

Figura 5 - Radial dos Indicadores Sociais. Legenda: A.O. : Arroz Orgânico

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O resumo da análise referente aosatributos mostra que nos cinco atributos dasustentabilidade avaliados nas trêsdimensões, os piores desempenhos foramalcançados para autodependência/autogestão e adaptabilidade, com notasabaixo de 5. Para estas notas contribuíramindicadores relacionados ao manejo dosistema ou adaptabilidade deste sistema àscaracterísticas do manejo da mão-de-obrafamiliar, aspectos já evidenciadosanteriormente.

O melhor desempenho foialcançado pelo atributo produtividade, nostemas água e solo (nota 7,33), comparticipação preponderante do indicador

margem bruta/ha.O atributo eqüidade, com

desempenho 7,21, obteve a segunda melhornota, com a contribuição dos indicadoresbenefício/custo e remuneração da mão-de-obra familiar. A alta margem bruta/ha foi oindicador que indiretamente favoreceu estedesempenho satisfatório, uma vez que adimensão econômica, em média, registrounota 6,32.

Finalmente, tem-se o desempenho5,60 para o atributo estabilidade/resiliência/confiabilidade, com osindicadores de manejo exercendo papelpreponderante na redução da nota média.Claramente se verifica estar neste tema

(manejo) o fator fundamental deinsustentabilidade e que acabou levando afamília a decidir pelo retorno à produçãoconvencional de arroz irrigado.

Avaliando-se o desempenho dostemas (tabela 17), a água conseguiu umamédia de 7,77, tornando-se um pontopositivo no agroecossistema. Esta análisereforça a conclusão da pesquisa que éplenamente viável economizar recursoshídricos na atividade arrozeira. Tambémficou evidente que o desempenho fraco dealguns indicadores não foi ocasionado porescassez de água, e sim por deficiências nomanejo geral da cultura, cuja nota média foide 3,59.

Tabela 17 - Avaliação de desempenho dos atributos da sustentabilidade

ATRIBUTOS

TEMA Produtividade Estabilidade Resiliência Confiabilidade

Autodependência Autogestão

Eqüidade Adaptabilidade

Ambiental: •Água •Solo

6,03 5,99

9,50

Econômico: •Manejo •Solo •Desempenho

9,97

2,89

5,05

7,53

Social: •Manejo •Ambiente (interno e externo) •Recursos (mão-de-obra)

4,00 6,00

2,00

6,89

4,00

MÉDIA 7,33 5,60 3,53 7,21 4,00

Dime ns õe s da Sus te ntabilidade

6 ,364 ,58

8 ,70

AM BIENT AL

ECONÔM ICOSOCIAL

Figura 6 - Radial do desempenho integrado das dimensões da sustentabilidade (varia de 0 a 10)

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O resultado desta pesquisa permiteinferir a importância da avaliação doagroecossistema como um todo, onde aspartes avaliadas (atributos) estãointerligadas e interagem entre si. Quando seinterfere neste sistema para corrigir umaspecto, podem ocorrer repercussões emoutros atributos (ALTIERI & NICHOLLS,2008). Para exemplificar a afirmação destespesquisadores, cita-se o elemento manejodo sistema arroz orgânico. Interferindo-sepositivamente neste aspecto, vários outrosatributos serão beneficiados, comoestabilidade na produtividade(confiabilidade), melhor autogestão, comreflexo na margem bruta.

A interdependência que opera noconjunto das dimensões da sustentabilidademostra a dificuldade da análise einterpretação da realidade complexa. Apesardisso, a metodologia MESMIS permiteidentificar as limitações e potencialidades doagroecossistema, em suas distintasdimensões, a exemplo do manejo daprodução orgânica que necessita seraperfeiçoado pela assistência técnica eextensão rural junto aos agricultores.

CONCLUSÕES

Quanto à dimensão ambiental

A sustentabilidade ambiental seaproximou do patamar considerado ideal,com destaque para o excelente desempenhodos bioindicadores utilizados.

No aspecto qualitativo, a água deirrigação mostrou-se adequada para aprodução orgânica. Os testes da água brutacoletada na lavoura, não apresentaramtoxicidade aguda para os reativos biológicosDaphnia magna, larvas de Aedes albopictus,semente de alface e peixes (micronucleaçãode hemácias). O uso do bioindicador peixe,com análise de mutagenicidade mostrou-sebastante sensível e adequado para avaliaçãodos efeitos de produtos agroquímicos emambientes aquáticos, em situações quepossibilite mantê-los em cativeiro.

Dentre os aspectos físico-químicosda água de irrigação destaca-se o efeitobenéfico do agroecossistema sobre osparâmetros turbidez, oxigênio dissolvido,teor de fósforo e coliformes fecais.

No aspecto quantitativo, o manejo contínuopossibilita expressiva redução no consumode água quando comparado ao manejoconvencional da irrigação, ratificandoresultados de outras pesquisas.

Quanto à dimensão econômica

O desempenho na dimensãoeconômica foi satisfatório. A margem brutapor hectare praticamente atingiu o nívelmáximo para esta dimensão. Asustentabilidade econômica atendeparcialmente a normativa brasileira, quetem como objetivo da produção orgânicaobter "a sustentabilidade econômica eecológica" das comunidades rurais. Amargem bruta/ha mostrou-se um indicadorfundamental para analisar a eficiênciaeconômica do agroecossistema.

Quanto à dimensão social

Os indicadores da dimensão socialapresentaram o pior desempenho,especialmente quanto ao grau deconhecimento e satisfação da família sobreeste sistema. Falhas na condução do manejoda irrigação influenciaram a variabilidade naprodutividade da cultura no períodoestudado. Pode-se inferir que a falta decapacitação e assistência técnicainfluenciaram os indicadores. Destacam-senesta dimensão os indicadores de saúde eremuneração da mão de obra familiar.

Identifica-se que a motivação inicialda família para o cultivo orgânico foivinculada à questões ligadas à saúde de seusmembros. Por outro lado, a desmotivaçãopara sua continuidade revela-se por duasquestões principais: a primeira pode seratribuída a falta de conhecimento sobre osistema de cultivo e a segunda, a poucapossibilidade de um retorno econômico àcurto prazo. Outro fator a considerar é oaspecto diferente apresentado pelo cultivoorgânico em relação ao sistemaconvencional, no sentido de aparentar umafalta de limpeza devido à presença deplantas concorrentes. Esta característicavisual da lavoura causa certoconstrangimento social: o produtororgânico sente-se diferente em relação aseus vizinhos (produtores convencionais)

pois, em alguma medida, seria como se nãoconduzisse de forma adequada sua lavoura.

Quanto aos atributos

Nos cinco atributos dasustentabilidade avaliados nas trêsdimensões os piores desempenhos foramalcançados para autodependência/autogestão e adaptabilidade. Para estescontribuíram os indicadores relacionados àadoção do sistema de manejo da culturapela família.

O melhor desempenho foialcançado pelo atributo produtividade nostemas água e solo para o qual foipreponderante o indicador margem bruta/ha. O atributo eqüidade apresentou osegundo melhor desempenho, para o qualfoi decisiva a contribuição dos indicadoresbenefício/custo e remuneração da mão-de-obra familiar. Quanto ao conjunto deatributos estabilidade-resiliência-confiabilidade, os indicadores de manejoinfluenciaram negativamente no seudesempenho.

Os atributos da metodologia deavaliação produtividade e eqüidadealcançaram maior nível de sustentabilidadedo agroecossistema.

Quanto à metodologia MESMIS

Mostrou efetividade para aavaliação da sustentabilidade doagroecossistema; é bastante flexível epermitiu explorar aspectos específicos darealidade local e regional.

RECOMENDAÇÕES

Gliessman (2005) reitera quepesquisadores e produtores precisamtrabalhar para estabelecer um sistema dereferências que permita medir e quantificara sustentabilidade. O monitoramentodeverá determinar a que distância o sistemaavaliado se encontra da sustentabilidade,aspectos menos sustentáveis, de que formaestá sendo minada e como este sistemapode se mover na direção dofuncionamento sustentável.A tabela 17 apresenta o resumo dodesempenho em cada atributo de

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sustentabilidade, chamando-se a atençãopara a análise das linhas com valoração parao tema manejo (valor médio de 3,59), queinfluenciou negativamente o desempenhodo agroecossistema estudado e pode sercorrigido nesta propriedade e em outrascom a capacitação dos agricultores parautilizarem sistematicamente as tecnologiasde modo mais eficaz. Em outras palavras, afamília não se empoderou dosconhecimentos de modo suficiente paratorná-la uma tecnologia social de inclusãono processo de desenvolvimentosustentável da propriedade estudada. Aexpansão deste agroecossistema na bacia doAraranguá também não ocorreu na medidadas expectativas da cooperativa deprodutores rurais que incentiva a produçãoorgânica de arroz, por não satisfazer, emdiferentes graus, os três preceitos básicospara que o sistema seja enquadrado comotecnologia social: simplicidade, viabilidadee efetividade. Este agroecossistema precisade apoio com a criação de uma comunidadede aprendizagem, envolvendo todos ossetores da cadeia produtiva do arrozorgânico, para que possa obter o grau dedisseminação suficiente para influir, demaneira significativa, nas estratégias degovernança da água, com a participação dosmembros desta comunidade nasorganizações sociais, conselhos municipaise comitê de bacia, construindoinstrumentos operacionais nas políticaspúblicas que incentivem iniciativas destanatureza em prol do desenvolvimento localsustentável.

A Cooperativa, em conjunto com aExtensão Rural, deve criar um plano decapacitação contínua dos agricultoresprodutores de arroz orgânico, com intensatroca de experiências e com o usosistemático da metodologia MESMIS, tantono modo transversal (comparando algumaspropriedades durante o mesmo ciclo deprodução) e no modo longitudinal,acompanhando os agroecossistemas notranscorrer dos anos/safras. Aoperacionalização deste plano dariacondições, às famílias envolvidas, de maiorconhecimento e aplicação das técnicas quepermitiriam condução das lavouras demaneira mais eficaz, melhorando eestabilizando a produtividade e

incorporando inovações a cada ciclo.Conseqüentemente, os indicadores sociaise de produtividade correlacionadosalcançariam melhores desempenhos,aumentando a sustentabilidade dosagroecossistemas participantes do grupo detrabalho. Este plano pode ser bem aplicadose a cooperativa criar um setor específicopara trabalhar com arroz orgânico, comnormas claras e apoio institucional, comapoio e parceria da Epagri, facilitando apesquisa e a atualização tecnológica destesistema de produção e a incorporaçãorápida de novos conhecimentos. O domíniodos procedimentos de manejo da cultura eda irrigação no agroecossistema arrozorgânico ainda está pouco difundido entreos agricultores. Recomenda-se aorganização de curso específico sobre astecnologias de produção do arroz orgânico,em associação com entidades públicas eprivadas, principalmente cooperativas eassociações de irrigantes, e incentivar a trocade experiências entre agricultores adotantesdo sistema para ajudar a melhorar oconhecimento das alternativas tecnológicasdisponíveis, envolvendo excursões a outrasregiões produtoras. Outras técnicas deprodução podem motivar a adoção daprodução orgânica, a exemplo da criaçãoconcomitante de aves na mesma área doarroz, a exemplo de marrecos de Pequim,já testados em outros países e outras regiõesrizícolas do Estado de Santa Catarina e dopaís. Estas aves criadas durante ou após ociclo do arroz é alternativa que precisa sermais discutida e testada, tendo boaschances de facilitar o convívio da produçãoorgânica de arroz com invasoras e insetos-praga.

Com base nos estudos realizados,indica-se o uso de bioindicadores comomedida complementar nas avaliações derecursos hídricos objeto de uso agrícola.Vale ressaltar a importância de realização detestes utilizando organismos derepresentação da cadeia trófica nomonitoramento de áreas expostas aagroquímicos.

Sugere-se concentrar esforços emações que tenha como meta reduzir oconsumo hídrico do arroz irrigado, pois issonão afetaria a produtividade potencial dacultura, desde que as tecnologias sejam bem

dominadas pelos rizicultores.Finalmente, sugere-se ao comitê da

Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá oincentivo à realização de novos estudos queavaliem aspectos de qualidade e quantidadede água utilizada na rizicultura, assim comoestudos que analisem a possibilidade deaplicação de incentivos (financeiro,tributário etc.) à produção orgânica de arrozirrigado.

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Revista Brasi leira de Ciências Ambientais - Número 15 - Março/2010

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