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INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE NA AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DE EDIFÍCIOS DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS Vanessa Mendes Argenta (1) (1) PósARQ Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFSC, Brasil. E-mail: [email protected] Resumo: Com a expansão do espaço físico das Universidades Públicas através do programa REUNI, muitas edificações foram executadas sem o devido planejamento e com fraco diálogo com os usuários finais, gerando espaços construídos com problemas de acessibilidade, ergonomia, conforto, dentre outros problemas. Por isso faz-se necessária a Avaliação Pós-Ocupação (APO) destas edificações, buscando uma retroalimentação dos projetos semelhantes e também adequação das edificações existentes, através de projetos de retrofit. Um dos temas a serem avaliados é o índice de sustentabilidade dessas edificações, por isso este artigo traz um panorama dos indicadores de sustentabilidade em geral e de como poderiam ser aplicados na APO, inclusive apresentando uma ferramenta de análise e os resultados de uma simulação. Palavras-chave: Indicadores, Sustentabilidade, Avaliação Pós-Ocupação, ASUS. Abstract: With the expansion of the physical space of public universities through REUNI program, many buildings were implemented without proper planning and with weak dialogue with end users. This situation created spaces built with accessibility, ergonomics and comfort issues, among other problems. So it is necessary to make the Post Occupancy Evaluation (POE) of these buildings, in order to seek feedback from similar projects and also for adaptation of existing buildings for a minimum of environmental quality through retrofit projects. One of the topics to be evaluated is the sustainability index of these buildings, so this article provides an overview of sustainability indicators in general and how they could be applied in the POE, including the presentation of an analysis tool and the results of a simulation. Keywords: Indicators, Sustainability, Post-Occupancy Evaluation, ASUS. 1. INTRODUÇÃO A expansão da Rede Federal de Educação Superior no Brasil teve início em 2003 com a interiorização dos campi das Universidades Federais e abertura de novas vagas nas instituições de ensino superior existentes. De 2007 a 2013, com verbas do REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), as Universidades puderam ampliar o número de cursos e, consequentemente, de espaço físico. O que se verificou na UFSC, no entanto, foi que a ampliação do espaço físico não teve o devido planejamento pela Administração. Isso ocasionou a elaboração de projetos sem as condições mínimas que definem a boa prática projetual, como programa de necessidades em acordo com o usuário, novas tecnologias para as salas de aula, sustentabilidade, etc. Agora essas edificações estão sendo executadas na Universidade, gerando muitos questionamentos em obra por incompatibilidade nos projetos, mudanças de usos, problemas com implantação e infraestrutura, insatisfação dos usuários, dentre outras questões. 2. OBJETIVO Este artigo tem como objetivo estudar indicadores de sustentabilidade quando aplicados num processo de APO (Avaliação Pós-Ocupação) de edificações de Universidades públicas, tendo como estudo de caso a ferramenta ASUS aplicada em um prédio de salas de aula da UFSC.

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INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE NA AVALIAÇÃO

PÓS-OCUPAÇÃO DE EDIFÍCIOS DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Vanessa Mendes Argenta (1)

(1) PósARQ – Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, UFSC, Brasil.

E-mail: [email protected]

Resumo: Com a expansão do espaço físico das Universidades Públicas através do programa REUNI, muitas

edificações foram executadas sem o devido planejamento e com fraco diálogo com os usuários finais, gerando

espaços construídos com problemas de acessibilidade, ergonomia, conforto, dentre outros problemas. Por isso

faz-se necessária a Avaliação Pós-Ocupação (APO) destas edificações, buscando uma retroalimentação dos

projetos semelhantes e também adequação das edificações existentes, através de projetos de retrofit. Um dos

temas a serem avaliados é o índice de sustentabilidade dessas edificações, por isso este artigo traz um

panorama dos indicadores de sustentabilidade em geral e de como poderiam ser aplicados na APO, inclusive

apresentando uma ferramenta de análise e os resultados de uma simulação.

Palavras-chave: Indicadores, Sustentabilidade, Avaliação Pós-Ocupação, ASUS.

Abstract: With the expansion of the physical space of public universities through REUNI program, many

buildings were implemented without proper planning and with weak dialogue with end users. This situation

created spaces built with accessibility, ergonomics and comfort issues, among other problems. So it is necessary

to make the Post Occupancy Evaluation (POE) of these buildings, in order to seek feedback from similar

projects and also for adaptation of existing buildings for a minimum of environmental quality through retrofit

projects. One of the topics to be evaluated is the sustainability index of these buildings, so this article provides

an overview of sustainability indicators in general and how they could be applied in the POE, including the

presentation of an analysis tool and the results of a simulation.

Keywords: Indicators, Sustainability, Post-Occupancy Evaluation, ASUS.

1. INTRODUÇÃO

A expansão da Rede Federal de Educação Superior no Brasil teve início em 2003 com a

interiorização dos campi das Universidades Federais e abertura de novas vagas nas

instituições de ensino superior existentes. De 2007 a 2013, com verbas do REUNI (Programa

de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), as

Universidades puderam ampliar o número de cursos e, consequentemente, de espaço físico. O

que se verificou na UFSC, no entanto, foi que a ampliação do espaço físico não teve o devido

planejamento pela Administração. Isso ocasionou a elaboração de projetos sem as condições

mínimas que definem a boa prática projetual, como programa de necessidades em acordo com

o usuário, novas tecnologias para as salas de aula, sustentabilidade, etc. Agora essas

edificações estão sendo executadas na Universidade, gerando muitos questionamentos em

obra por incompatibilidade nos projetos, mudanças de usos, problemas com implantação e

infraestrutura, insatisfação dos usuários, dentre outras questões.

2. OBJETIVO

Este artigo tem como objetivo estudar indicadores de sustentabilidade quando aplicados num processo

de APO (Avaliação Pós-Ocupação) de edificações de Universidades públicas, tendo como estudo de

caso a ferramenta ASUS aplicada em um prédio de salas de aula da UFSC.

3. JUSTIFICATIVA

Faz-se necessária a Avaliação Pós-Ocupação das edificações da Universidade Federal de

Santa Catarina no intuito de melhorar a qualidade ambiental e de segurança das mesmas

através de projetos de retrofit. Um dos itens a serem avaliados é se as edificações atendem a

requisitos mínimos de sustentabilidade, assunto em voga e imprescindível para discussão nos

projetos de edificações, principalmente as públicas. Para avaliação da sustentabilidade nessas

edificações, é necessária a definição dos indicadores de sustentabilidade voltados para a

análise da edificação em uso. Neste artigo procuraremos mostrar uma análise geral dos

indicadores que constam nas ferramentas e certificações de sustentabilidade mais usadas no

Brasil para avaliar se podem ser utilizadas nas APOs das edificações de ensino superior.

4. MÉTODO

4.1. Avaliação Pós-Ocupação

A Avaliação Pós-Ocupação (APO) é uma metodologia multimétodos que diagnostica pontos

positivos e negativos do ambiente construído durante seu uso, levando em conta não apenas

os quesitos técnicos de conforto e ergonomia, mas também as sensações dos usuários. Seus

resultados devem retornar para o processo de projeto, realimentando-o, para que os erros e

acertos possam ser considerados e as soluções construtivas reavaliadas nos projetos futuros.

Nas Avaliações Pós-Ocupação, que podem ser centradas na pessoa ou no ambiente, são

consideradas as opiniões dos projetistas, dos gestores da edificação, dos construtores e dos

clientes/usuários. ABATE (2014) categorizou os fatores avaliados em APOs em três grupos:

Fatores técnicos: conforto ambiental, segurança (patrimonial, contra acidente e contra

incêndios), estabilidade e resistência dos materiais, patologias construtivas e

sustentabilidade;

Fatores funcionais: dimensionamento de ambientes, operacionalidade e flexibilidade,

desempenho organizacional e funcionalidade, fluxos presentes, acessibilidade,

wayfinding system;

Fatores comportamentais: ambiência, estética simbólica, custo-benefício.

Neste artigo será considerada a APO focada no ambiente, especificamente em seu fator

técnico de Sustentabilidade.

4.2. Sustentabilidade e avaliação de edifícios

Segundo relatório da Comissão Brundtland de 1987, que definiu os conceitos de

sustentabilidade, os projetistas devem estabelecer condições ambientais, econômicas e sociais

que respondam às necessidades presentes sem comprometer a habilidade das gerações futuras

de atender às suas próprias necessidades. Historicamente, na produção acadêmica, a avaliação

da sustentabilidade das edificações tem se focado predominantemente nos aspectos

ambientais, especialmente na eficiência energética. Esta é uma análise restrita, que não

considera a visão global da edificação, de origem dos materiais, de seu ciclo de vida, da

manutenibilidade, da satisfação dos usuários, dentre outras questões. Também não leva em

conta a questão social, como o retorno de um empreendimento para a comunidade do entorno,

as condições de transporte e acessibilidade da região ou mesmo se os trabalhadores da

construção da edificação em análise foram capacitados e tiveram seus direitos trabalhistas

garantidos. Sendo assim, para a Avaliação Pós-Ocupação de edificações públicas, é

imprescindível que se considerem todas as nuances da sustentabilidade, principalmente no

que se refere às questões sociais.

4.3. Indicadores de sustentabilidade

Indicadores são parâmetros que permitem quantificar processos e mensurar seus resultados,

medindo a diferença entre a situação atual e a situação desejada. Todo bom indicador deve ser

claro, relevante e capaz de informar periodicamente se os objetivos propostos foram

alcançados ou não. Podem ser qualitativos ou quantitativos e podem ser utilizados para

avaliação, diagnóstico, comparação e monitoramento. Importante destacar que diretrizes e

recomendações não são indicadores, estes necessariamente devem poder ser expressos em

variáveis que possam ser comparadas ao longo do tempo para verificação de atendimento ou

não das metas.

Termo Descrição fornecida Exemplos

Meta (geral) Uma afirmação genérica que define a

condição última desejada

Maximizar separação de todos os

resíduos, evitando disposição em

aterro

Objetivo Direção desejada de mudança Redução de geração de resíduos

sólidos na fonte

Indicador Variável que ajuda a medir um estado ou

progresso em direção a um objetivo

Quantidade de resíduos gerados

(ou dispostos) per capita

(kg/pessoa/ano)

Meta de desempenho Nível de desempenho desejado N kg/pessoa/ano

Ferramenta de

avaliação

Uso pertinente de diversos indicadores e

metas de desempenho em relação a

condições locais e usos específicos

BREEAM, BEPAC, C-2000, Eco-

Profile, Escale, PRESCO, LEED,

PromisE, SBAT, Green Stars, etc.

Tabela 1: Posicionamento do conceito de indicador entre outros temas relacionados

(extraído de SILVA, 2006)

Segundo definições do PBQP – Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (1991), os

indicadores devem seguir certos requisitos básicos, sendo eles: seletividade, estabilidade,

simplicidade, baixo custo, acessibilidade, representatividade, rastreabilidade e abordagem

experimental. Apenas definir e coletar indicadores não é suficiente, é necessário que os dados

sejam interpretados e comunicados, retroalimentando o processo decisório e de gestão e

completando o ciclo, conforme figura 1.

Os indicadores de sustentabilidade surgiram num contexto global (Agenda 21). Van Bellen

(2004) destacou alguns requisitos para a definição de indicadores de sustentabilidade:

• Os valores dos indicadores devem ser mensuráveis (ou observáveis);

• Deve existir disponibilidade dos dados;

• A metodologia para a coleta e o processamento dos dados, bem como para a construção

dos indicadores, deve ser limpa, transparente e padronizada;

• Os meios para construir e monitorar os indicadores devem estar disponíveis, incluindo

capacidade financeira, humana e técnica;

• Os indicadores ou grupo de indicadores devem ser financeiramente viáveis;

• Deve haver aceitação política dos indicadores no nível adequado (indicadores não

legitimados pelos tomadores de decisão são incapazes de influenciar as decisões).

Figura1 – Ciclo de aplicação dos indicadores (Extraído de “Guia referencial para medição de desempenho e

manual para construção de indicadores”)

Depois de definidos os indicadores na escala global (de nações e regiões) sentiu-se a

necessidade de aprofundar cada vez mais em contextos locais, até o nível da edificação.

Foram criados então indicadores setorias de sustentabilidade (analisando a construção civil no

geral), de sustentabilidade organizacional (empresas) e por fim os indicadores de

sustentabilidade de edifícios e projetos. No contexto das APOs é utilizada a escala mais

restrita, conforme destacado na figura a seguir.

Figura 2 – Escalas dos indicadores de sustentabilidade

(extraído de SILVA, 2006)

Segundo Baratella (2011) indicadores de sustentabilidade dos ambientes construídos são

necessários para a avaliação de seu desempenho e impactos, para a definição de metas, para

avaliação de práticas típicas e para melhorar a qualidade da construção. Devem considerar

não apenas as questões ambientais e de desempenho energético, mas também as questões

econômicas e sociais para que englobem o conceito de sustentabilidade como um todo. A ISO

21932:2002 (Sustainability in buildings and civil engineering works – A review of

terminology) identifica uma listagem mínima de indicadores de sustentabilidade de edifícios:

Indicadores de sustentabilidade mínimos para edifícios segundo a ISO 21932

Indicadores ambientais

Uso de matérias-primas naturais

Consumo de energia

Liberação de emissões danosas ao ambiente

Indicadores sociais

Acessibilidade (transporte público, ciclistas,

pedestres)

Vida útil

Ambiente interno

Uso sem barreiras

Indicadores econômicos Custos ao longo do ciclo de vida Tabela 2: Indicadores de sustentabilidade mínimos para edifícios segundo a ISO 21932

(extraído de Silva, 2006)

Silva (2013) propõe a divisão dos indicadores de sustentabilidade de edifícios em ambientais,

econômicos e sociais com mesmo nível hierárquico, além de indicadores estratégicos, que

estariam relacionados com as atividades da empresa construtora. Os indicadores ambientais

do ambiente construído se dividiriam em estratégias de implantacao, gestão do uso de agua,

gestão do uso de energia, gestão do uso de materiais e de residuos, prevenção de poluição,

gestão ambiental do processo, qualidade do ambiente interno e qualidade dos servicos. Além

destes teriam também os indicadores sociais, relacionados à inserção urbana e melhoria da

vizinhança imediata, e os econômicos, que relacionam o investimento do empreendimento e o

nível de sustentabilidade da produção do edificio.

4.4. Indicadores de sustentabilidade aplicados na APO

Os indicadores de sustentabilidade, quando aplicados à APO, visam o acompanhamento e o

controle da qualidade e do desempenho da edificação durante sua vida útil. Devem situar-se

na etapa de uso do ciclo de vida da edificação, conforme assinalado na figura 3.

Enquanto na fase de projeto analisa-se se há previsão de sistemas, componentes ou materiais

sustentáveis, na APO é verificado também se os sistemas foram executados conforme projeto,

se funcionam como o desejado e se tem manutenção facilitada.

Considerando a complexidade da formulação e verificação de indicadores de sustentabilidade

para edifícios, tema ainda em estudo pelo GBC (Green Building Challenge), para a Avaliação

Pós-Ocupação do ambiente construído das universidades públicas propõe-se a utilização dos

indicadores utilizados por algumas das ferramentas de análise e/ou certificação de edificações

sustentáveis aplicadas no Brasil. Foram estudados os seguintes métodos: ASUS (baseada na

SBTool), LEED (adaptada às condicionantes brasileiras), AQUA (baseada na HQE), MASP-

HIS (voltado para habitações) e PBE-Edifica (voltado para a eficiência energética).

Figura 3 – Relação entre caso de aplicação e etapa do ciclo de vida da edificação

(extraído de SILVA, 2006)

Cruzando os indicadores das ferramentas com a listagem de indicadores mínimos de

sustentabilidade definidos pela ISO 21932, percebe-se que a maioria não atende todos os

requisitos, principalmente os voltados para os aspectos econômicos e sociais, conforme

quadro a seguir (IA = indicadores ambientais, IS = indicadores sociais e IE = indicadores

econômicos).

Tabela 4: Indicadores de sustentabilidade mínimos nas ferramentas de análise e certificação

(elaborado pela autora)

Indicadores de sustentabilidade mínimos para edifícios

Indicadores ASUS LEED MASP-

HIS

PBE-

Edifica AQUA

IA

Uso de matérias-primas

naturais X X X X

Consumo de energia X X X X X

Liberação de emissões

danosas ao ambiente X X X X

IS

Acessibilidade (transporte

público, ciclistas, pedestres) X X X

Vida útil X X X

Ambiente interno X X X X X

Uso sem barreiras

(desenho universal) X X

IE Custos ao longo do ciclo

de vida X X X

Verifica-se que dentre as analisadas, a única ferramenta que contempla todos os aspectos

mínimos de sustentabilidade é a ASUS, elaborada pelo LPP/UFES (Laboratório de

Planejamento e Projetos da Universidade Federal do Espírito Santo) tendo como base

conceitual a ferramenta internacional SBTool. Realizou-se então a análise de sustentabilidade

de uma edificação de universidade publica com a ferramenta ASUS, descrita a seguir.

4.5. Aplicação dos indicadores da ferramenta ASUS em APO de edificação de universidade

pública

Para verificação da adequação da ferramenta ASUS à análise de sustentabilidade na

Avaliação Pós-Ocupação de edificações de universidades públicas, fez-se a aplicação dos

indicadores considerando como estudo de caso um edifício de salas de aula da Universidade

Federal de Santa Catarina (bloco EFI - Espaco Físico Integrado).

4.5.1. Ferramenta ASUS

A ferramenta ASUS foi desenvolvida pelo Laboratório de Planejamento e Projetos da

Universidade Federal do Espírito Santo (LPP-UFES) e tem como intuito ser um instrumento

de auxílio aos projetistas de arquitetura e um sistema de avaliação da sustentabilidade de

edificações comerciais e institucionais. É uma ferramenta livre (conteúdo público e gratuito),

não sendo, portanto, uma certificação, e é composta por referencial teórico e planilhas de

cálculo. A avaliação é realizada por meio de uma plataforma online, o que facilita sua

aplicação, sendo dividida em 6 temas, com categorias e subcategorias, conforme tabela 5:

TEMA CATEGORIA SUBCATEGORIA

A. PLANEJAMENTO DO

EMPREENDIMENTO

A1. Seleção do sítio e planejamento do empreendimento

A2. Interrelação urbana e desenvolvimento do sítio

B. CONSUMO DE RECURSOS

B1. Energia Fontes de energia

Eficiência energética

B2. Materiais

B3. Água

C. QUALIDADE DO AMBIENTE

INTERNO

C1. Qualidade do ar interno

C2. Ventilação

C3. Desempenho térmico

C4. Conforto visual Luz natural

Luz artificial

C5. Conforto acústico Isolamento

Absorção

D. QUALIDADE DOS SERVIÇOS D1. Funcionalidade e flexibilidade

D2. Planejamento para operação

E. CARGAS AMBIENTAIS

E1. Emissões atmosféricas

E2. Resíduos sólidos

E3. Águas pluviais e residuais

E4. Impactos no terreno e entorno

F. ASPECTOS SOCIAIS, CULTURAIS

E ECONÔMICOS

F1. Aspectos socioeconômicos

F2. Aspectos culturais

Total Tabela 5 – Temas e categorias da ASUS (extraído do site da ferramenta, 2015)

Nesta ferramenta o desempenho do edifício é avaliado segundo uma escala com os níveis -1,

0, +3 ou +5, sendo:

-1 Prática negativa (não atende ao desempenho mínimo esperado)

0 Desempenho mínimo (corresponde às normas, à legislação ou à prática

convencional)

+3 Desempenho bom

+5 Prática de excelência

Cada indicador possui um peso e a nota referente ao desempenho em cada critério é

multiplicada pelo peso específico de cada um, sendo que o desempenho final é o resultado da

média ponderada de todos os indicadores. Algumas categorias possuem pré-requisitos,

avaliados apenas se atendem ou não atendem, sem gradação; são itens fundamentais, portanto

se o projeto não atende, o critério é automaticamente classificado como -1. Na seção

“recomendações, diretrizes e estratégias” são apresentadas alternativas para aumentar o

desempenho no critério escolhido, o que pode ser bastante útil para os resultados da APO.

O resultado final é apresentado num quadro resumo da avaliação com os níveis de

desempenho alcançados em cada tema, suas respectivas ponderações e a média final.

4.5.2. Edificação em análise

O bloco EFI - Espaço Físico Integrado - foi construído na Universidade Federal de Santa

Catarina em 2008 com verbas do REUNI. O projeto data de 2007, tendo sido pensado como

um bloco de salas de aula básico que servisse para todos os cursos de graduação da UFSC,

atendendo à demanda por mais salas de aulas por conta do aumento do número de cursos e de

vagas na universidade. Foi projetado com estrutura pré-fabricada, fechamentos com painéis de

concreto (construção limpa), telhado verde e brises, utilizando também princípios de

arquitetura bioclimática, com aproveitamento de ventilação e iluminação natural. Trata-se de

um prédio de seis pavimentos com 20 salas de aula e 2 auditórios, além de espaços de

convivência (lanchonete e foyers) e laboratório de informática.

Figura 4 – Planta baixa-tipo do bloco EFI (elaborado pela equipe do Departamento de Projetos de Arquitetura e

Engenharia da UFSC, 2008)

Decidiu-se pela aplicação da APO neste edifício pela possibilidade dele ser replicado nos

outros campi da UFSC, atendendo à crescente demanda por espaços físicos para salas de

aulas. Para replicação do projeto deve-se fazer a APO para verificar se há necessidade de

modificações, se os sistemas funcionam, se a manutenção é facilitada, além de avaliar quais

modificações seriam necessárias quando implantado em outros tipos de solo, clima,

orientação solar, etc.

Figura 5 – Volumetria do bloco EFI (elaborado pela equipe do Departamento de

Projetos de Arquitetura e Engenharia da UFSC, 2008)

5. RESULTADOS OBTIDOS

Verificou-se que a ferramenta tem indicadores bastante abrangentes de sustentabilidade,

considerando os aspectos econômicos e socioculturais, além dos ambientais. Analisa o local

do empreendimento e sua relação com o entorno, acessibilidade e desenho unviersal,

tratamento de áreas degradadas, uso de materiais com compostos não voláteis, entre outras

questões. Para uso da ferramenta é necessário ter conhecimento amplo do projeto, não só do

arquitetônico como dos complementares. Essa medida dá credibilidade às informações

coletadas, pois utiliza indicadores facilmente verificáveis, podendo assim acompanhar se a

qualidade da edificação melhorou ou piorou com o passar do tempo. A título de informação, a

edificação analisada (Bloco EFI/UFSC) teve como resultado um desempenho BOM (2 pontos

na escala de graduação de desempenho).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de ser uma ferramenta voltada para a análise de projetos, verificou-se que a ASUS tem

bons indicadores para serem utilizados no quesito sustentabilidade das Avaliações Pós-

Ocupação de edificações de universidades públicas. Para um melhor resultado, seria

necessária a adaptação das metas levando em conta o espaço já construído e sua manuntenção,

visando um constante acompanhamento dos resultados e a busca de melhorias na qualidade

do ambiente construído.

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