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A UTILIZAÇÃO DE INDICADORES SOCIOAMBIENTAIS NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA
MICROBACIA DO RIO SAGRADO: RELEVÂNCIA DA INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE NAS ABORDAGENS
SOCIOAMBIENTAIS
Christian Henríquez1, Carlos Alberto Cioce Sampaio2, Ivan Dallabrida3, Oscar Dalfovo4
“Tudo que acontecer à terra acontecerá aos filhos da terra...a terra não é do homem; o homem apenas pertence à terra.”
Carta do chefe índio Seattle ao presidente dos EUA (Franklin Pierce), 1854.
Resumo O objetivo deste artigo é propor a construção de indicadores socioambientais na
microbacia hidrográfica do Rio Sagrado, localizada no Município de Morretes, Estado do Paraná, APA de Guaratuba, ReBIO de Floresta Atlântica. Estes indicadores são o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o ecological footprint (Pegada Ecológica). O propósito de utilizar estes indicadores no médio prazo é tentar refletir e mensurar as inter-relações das distintas dimensões socioecossistêmicas, convertendo-se desta maneira, em ferramentas para o estabelecimento de estratégias e tomadas de decisões que visem o planejamento para o desenvolvimento sustentável da microbacia do Rio Sagrado. Palavras Chaves: Indicadores socioambientais; Índice de Desenvolvimento Humano; Pegada Ecológica; Socioecossistema; Transdisciplinaridade
Resumen
El objetivo de este artículo es proponer la construcción de indicadores socioambientales en la microbacía de Río Sagrado, situado en Municipio de Morretes, Estado de Paraná, APA de Guaratuba, ReBIO de Floresta Atlántica. Estos Indicadores son el Índice de Desarrollo Humano (IDH) y ecological footprint (Huella Ecológica). El propósito de usar estos indicadores en un mediano plazo, es intentar medir las inter-relaciones de las distintas dimensiones socioecossistemicas, convirtiéndose de esta manera, en herramientas para el establecimiento de estrategias y tomas de decisiones que busquen el planeamiento para el desarrollo sustentable de la microbacía de Río Sagrado. Palabras Llaves: Indicadores socioambientales; Indice de Desarrollo Humano; Huella Ecologica; Socioecossistema; Transdisciplinariedad.
1 Msdo. em Desenvolvimento Regional (FURB), Pesquisador do Instituto LaGOE e do Instituto de Turismo da Universidade Austral de Chile E-mail: [email protected] 2 Pós-Doctor em Ecossocioeconomia, Professor da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e Coordenador de Instituto LaGOE, E-mail: [email protected] ou [email protected] 3 Ms. em Desenvolvimento Regional, Universidade Regional de Blumenau (FURB), Pesquisador do Instituto LaGOE 4 Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Professor da Universidade Regional de Blumenau (FURB) E-mail: [email protected]
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1.- Introdução
O século XX foi testemunho de significativas transformações em todas as dimensões
da existência humana (HOBSBAWM apud VAN BELLEN, 2006). Tais transformações são
resultados do modelo de desenvolvimento hegemônico imposto pelos países do hemisfério
norte chamados de desenvolvidos (países do centro), sobre os paises do hemisfério sul,
denominados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento (paises periféricos).
Este modelo de desenvolvimento excludente, caracterizado, no início, pelo alto grau
de industrialização dos diferentes processos produtivos e pelo crescimento exponencial dos
recursos tecnológicos utilizados naqueles processos, produziu como resultado uma sociedade
alicerçada em uma racionalidade altamente economicista-utilitarista-consumista (SAMPAIO,
2005). Paradoxalmente, o uso abusivo da ciência e tecnologia (que são consideradas por
muitos como únicas tábuas de salvação para as crises contemporâneas), de um lado, se presta
a facilitar a vida das pessoas e aumentar a expectativa de vida das populações, e,
inversamente, de outro lado, remete à sua autodestruição, produto também da utilização
exagerada dos recursos naturais não-renováveis. Tem-se então o que Sampaio (2005)
denomina “beco sem saída”, em que reina uma grande disparidade dos padrões de vida e de
consumo da população, paralelamente ao aumento dos níveis de desigualdade entre o centro e
a periferia.
Existem, porém, esforços na tentativa de reverter, ou pelo menos, minimizar os efeitos
perversos deste padrão: uma delas é a teoria conhecida como Ecodesenvolvimento (SACHS,
1986), considerada precursora do conceito do desenvolvimento sustentável, hoje amplamente
difundido e aceito mundialmente pela comunidade internacional, inclusive dentro de
entidades de grande influência como o Banco Mundial e a ONU.
Um desdobramiento do ecodesenvolvimento, no qual dá respostas aos problemas
cotidianos, é a ecossocioeconomia que se caracteriza por privilegiar os estudos que
possibilitam a viabilidade macro (interorganizacional) e microeconômica (organizacional) de
grupos organizados ou quase organizados articulados, chamados de empreendimentos
compartilhados, de modo que possam ampliar as oportunidades de trabalho e renda de
agrupações urbanas e rurais excluídas da economia de mercado (SAMPAIO 2008, In:
KELLER ALVES, 2008).
O objetivo do presente artigo é propor a utilização de indicadores socioambientais na
microbacia do Rio Sagrado, com vistas à mensuração e análise das inter-relações das suas
distintas dimensões socioecossistêmicas. Pretende-se utilizar o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) e ecological footprint (Pegada Ecológica segundo a tradução brasileira)
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consolidando-se, desta maneira, aqueles indicadores como ferramentas para o estabelecimento
de estratégias e tomadas de decisões que visem o planejamento para o desenvolvimento
sustentável da microbacia do Rio Sagrado, localizada no Município de Morretes no Estado do
Paraná. Enfatiza-se, para a construção dos indicadores socioambientais, a necessidade e
relevância de abordagens interdisciplinares e até transdisciplinares face à complexidade da
problemática ambiental.
2.- Metodologia
Este artigo é uma combinação entre estudo exploratório e pesquisa bibliográfica, cujo
objetivo geral é propor a construção e a utilização de indicadores socioambientais para uma
bacia hidrográfica.
A intenção de utilizar estes indicadores no médio prazo é mensurar e analisar as inter-
relações das distintas dimensões socioecossistêmicas, de modo que os indicadores se
convertam em ferramentas para o estabelecimento de estratégias e tomadas de decisões que
visem o planejamento para o desenvolvimento sustentável da microbacia do Rio Sagrado.
O artigo inicia com uma pesquisa bibliográfica que aborda temas relacionados à
Gestão do Conhecimento, Indicadores Socioambientais, Processo de Tomada de Decisão,
Desenvolvimento Sustentável, Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade e Bacias
hidrográficas.
A área de estudo está centrada no contexto de um projeto em andamento na Zona
Laboratório de Educação para o Ecodesenvolvimento na bacia hidrográfica do Rio Sagrado,
composta pelas comunidades de Rio Sagrado do Alto, Canhembora, Brejamirim e Candonga
(Município de Morretes, PR), pertencente à Área de Preservação Ambiental (APA) de
Guaratuba, Reserva da Biosfera de Floresta Atlântida (ReBIO).
Segundo Keller Alves (2008) no local concentra-se uma povoação de 520 famílias, das
quais aproximadamente 270 são consideradas residentes - predominantemente pequenos
proprietários rurais -, e 250 famílias não-residentes, isto é, proprietários de chácaras ou sítios
para o lazer. Trata-se de uma comunidade que busca mecanismos de adaptação na tentativa de
superação de crises econômicas, baseando-se principalmente em atividades econômicas
apoiadas na agricultura familiar e no artesanato com fibras naturais (bananeira e cipó imbé).
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3.- A problemática ambiental e a questão da ecossocioeconomia
Após quase dez mil anos da aparição do homem na face da Terra, chegou-se a um
mundo-sociedade que tem por paradigma de desenvolvimento, um modelo que parece ter
esquecido que o planeta tem uma capacidade de carga finita, que é possível ser medida e
mensurada. Fato é que, há tempos, a finitude dos recursos não tem muita importância para o
atual modelo de desenvolvimento, que se caracteriza por não levar em conta os custos
socioambientais decorrentes das diferentes atividades produtivas (SAMPAIO, 2008).
Como ressalta Andri Stahel (2001, p. 117), numa crítica ao atual modelo: “o
capitalismo marcou a inversão dos meios econômicos em fins, apoiado na produção pela
produção, na criação incessante de necessidades visando à acumulação. Caracteriza-se por
estar centrado na racionalidade econômica, em detrimento de outras racionalidades”.
Nesse sentido, o modelo hegemônico e sua tríade – mercado, tecnologia e produção -,
são apontados como os grandes causadores do que hoje se entende por problemática
ambiental, cujas externalidades são amplamente conhecidas pela sociedade: poluição e
degradação do meio ambiente, esgotamento dos recursos naturais, energéticos e de alimentos
(SACHS, 1993). Leff (1994) afirma que, a problemática ambiental se converteu, no século
XX, numa crise de civilização, questionando a racionalidade econômica e tecnológica
dominante.
Villaverde (1997) comenta que o estágio em que se encontra a humanidade é o de um
mundo complexo, em que atores diversos e relativamente autônomos interagem de forma
permanente gerando conflitos: conflitos de interesse entre os próprios atores e conflitos destes
com o meio ambiente.
Quando se aborda e tenta explicar a problemática ambiental há que se entender que ela
surge do resultado da ação antrópica sobre o território - produto do modelo de
desenvolvimento já mencionado que não leva em conta a capacidade de carga do planeta.
As preocupações com os “resultados negativos” do processo de desenvolvimento são
recentes. A ascensão do ambientalismo como movimento histórico a partir da década de 60,
assumindo a sociedade atual como insustentável a médio ou longo prazo reforça as
preocupações com as dimensões socioambientais do desenvolvimento. Note-se que esta
insustentabilidade não é atribuída somente ao modelo de desenvolvimento, mas se estende às
instituições e valores predominantes na sociedade.
Diante deste quadro de crises patológicas em nível mundial é inevitável e premente
colocar em discussão novas teorias que vão além do papel de criticar o atual modelo de
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desenvolvimento, mas que mostrem novos caminhos a seguir. Surge, assim, um construto
teórico-empírico chamado de Ecossocioeconomia.
A ecossocioeconomia1 está imbricada na discussão sobre a problemática ambiental.
Quando se prospecta os próximos 50 ou 100 anos da economia mundial, emerge uma
demanda por tecnologias sociais, sobretudo baseadas na participação e no compartilhamento
de responsabilidades no processo de tomada de decisão. Incorporar a complexidade
socioambiental no mundo dos negócios é fundamental. Porém, não apenas sob a perspectiva
da chamada ecoeficiência que tenta incorporar o discurso ambiental no management,
exemplificado pelo princípio poluidor-pagador2; mas fundamentalmente no repensar da
racionalidade por trás do processo decisório quando se implementa um estilo de planejamento
e de gestão organizacional conectado à perspectiva do desenvolvimento sustentável (ALIER,
2007).
Baseando-se no último relatório do Intergovernmental Panel of Climate Change
(IPCC), divulgado em 2007, formulado pela World Meteorological Organization (WMO), no
âmbito do United Nations Environmental Programme (UNEP) mesmo os mais céticos
racionalistas economicistas não conseguem mais ficar indiferentes a tais prognósticos. Este
relatório revela que a mudança climática em curso tem como principal causa a ação antrópica
(representada pela emissão de gases de efeito estufa, dentre os quais se destaca o dióxido de
carbono, que responde por 80% do total das emissões lançadas na atmosfera e produzido pela
queima de combustíveis fósseis, petróleo, gás natural e carvão), sobretudo após a Revolução
Industrial (WMO-UNEP, 2007).
Se ainda não bastasse a crise ambiental, os Indicadores de Desenvolvimento Humano
(IDH) apontam que vinte e seis por cento da população mundial concentra oitenta por cento
de toda riqueza (PNUD, 2007). Este quadro mundial de tamanha desigualdade social não
difere proporcionalmente da realidade brasileira. Pergunta-se então se não seria o momento
para iniciar uma reflexão? Que lógica ou racionalidade é esta que está por trás da ação social
que conduz a tomadas de decisão que gera tamanhos impactos socioambientais? Algum dia
esta riqueza concentrada será finalmente redistribuída? O que deverá acontecer para que ela
finalmente se inicie? A exemplo dos Estados Unidos da América - Meca da sociedade urbana
industrial -, as inundações costeiras provocadas pelo furacão Katrina em New Orleans (2005),
grandes incêndios provocados por falta de umidade na atmosfera e temperaturas elevadas no
Verão Californiano (2007) ou as mortes e o terrorismo com sua lógica própria compensatória
a um sistema que lhe parecem injusto no atentado no World Trade Center (2001). O sistema
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ainda parece ser capaz de contabilizar tragédias tornando tudo um resíduo aceitável do
processo racional produtivo de mercadorias, dentre as quais um homem de conteúdo vazio.
Leff (2002) sugere que para pensar uma racionalidade ambiental, deve valer também
da lógica instrumental de maneira que haja interlocução com o paradigma economicista que
sob tais argumentos apresentados, não seria difícil de redenominá-lo como mau
desenvolvimento (SACHS, 2003; 2004). Mau por fundar suas políticas em uma moral
utilitarista individualista. Por extensão, ao bom desenvolvimento estaria associada, de certa
maneira, uma re-interpretação do conceito de razão hobbesiano, ou, anterior a isto, uma
espécie de resgate de valores relacionados ao que os gregos chamavam de oeconomia. Vale a
pena recordar que se trataram de comunidades que tinham como característica de produção e
de distribuição o princípio da domesticidade, isto é, para uso próprio (POLANY, 1983).
Entretanto, não se deve presumir que a domesticidade baseia-se num ethos isento de
utilitarismo, contudo era visto como somente um meio para alcançar outros fins e não um fim
em si mesmo. Nesta época, os bens e serviços circulavam através de mecanismos de
reciprocidade e redistribuição mais do que de mercados impessoais (como na economia
moderna); e as relações sociais eram as que fixavam os preços; não as abstratas leis da oferta
e da procura (FINLEY, 2003). Este modo de produção perdurou a partir da sociabilidade de
seus membros e não para salvaguardar interesses individuais na posse de bens materiais.
Contudo, que não se confundam a racionalidade instrumental individualista com a
coletiva, tal como proposta pelo liberalismo de Stuart Mill3 e, por sua vez, a racionalidade
coletiva com a substantiva, esta útltima associada a valores perenes, sem necessariamente
estar vinculado a cálculos utilitaristas entre meios e fins que presidem à criação e aplicação de
técnicas baseadas nos vetores de eficiência e eficácia econômica (WEBER, 2000).
4.- Da Interdiciplinaridade até a Transdisciplinaridade na Abordagem
socioecossistêmica de uma Microbacia
Atualmente, em todas as áreas do conhecimento, incluindo as ciências sociais,
econômicas e ambientais, está se consolidando um novo ponto de vista que propõe que toda
ação científica tende a se organizar como uma prática que transcende o conhecimento de uma
disciplina isolada. Para Max-Neef (2007) a grande dificuldade na gestão do conhecimento é
que os problemas contemporâneos são enfrentados e resolvidos sob uma visão disciplinar.
Quando se tenta abordar os problemas socioambientais atuais, deve-se destacar o fato
de que o conhecimento deve considerar tanto o conjunto de certezas que se têm sobre a
25
natureza, quanto fatores de incerteza, que já não dependem somente de causas naturais, mas
também da intervenção ativa do homem sobre o mundo e das interações deste para com a
natureza (HENRÍQUEZ, 2007).
Neste artigo, o objeto de estudo é uma microbacia hidrográfica, entendendo-a como
um ecossistema complexo que, cada vez mais é visto como uma unidade de planejamento e
gestão para o desenvolvimento sustentável do território que abrange. Reforçando essa
afirmação, pode-se ressaltar o fato de que a bacia hidrográfica é a unidade territorial adotada
para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídiricos pelo Ministério do Meio
Ambiente e Agência Nacional da Águas. Mas para se entender porque uma microbacia é
considerada um ecossistema complexo, faz-se necessário, definir sinteticamente o conceito de
bacia hidrográfica.
Segundo Pires et al. (2002) uma bacia hidrográfica pode ser definida como o conjunto
de terras drenadas por um corpo principal de água e seus afluentes. A idéia de bacia
hidrográfica está associada à noção da existência de nascentes, divisores de águas e
características dos cursos de água, principais e secundários, denominados afluentes e
subafluentes (REDE DAS ÁGUAS, 2000).
As bacias podem ser classificadas de acordo com sua importância como principais (as
que abrigam os rios de maior porte), secundárias e terciárias; segundo sua localização, como
litorâneas ou interiores (idem).
Do ponto de vista do planejamento e da gestão do desenvolvimento regional, as bacias
hidrográficas se apresentam como objetos de estudo com uma visão integradora e unificada
do planejamento, possibilitando abordagens e estudos sob as mais diversas perspectivas
(SCHULTZ et al., 2002)
Na perspectiva dos pesquisadores e planejadores, preocupados com a conservação dos
recursos naturais, o conceito de bacia hidrográfica tem sido ampliado para além dos aspectos
meramente hidrológicos, considerando também conhecimentos do tipo biofísicos, das
mudanças nos padrões do uso da terra e as implicações ambientais (PIRES et al., 2002).
Existe, porém, um certo consenso entre os pesquisadores e gestores do conhecimento
que desenvolvem estudos sobre as microbacias, em considerá-las verdadeiros ecossistemas.
Um ecossistema pode ser definido como uma unidade espacialmente explícita que
inclui todos os componentes bióticos e abióticos dentro das suas fronteiras de influências.
Alguns autores consideram o ecossistema como sendo “Uma interação, em determinada
escala espaço-temporal entre componentes físicos e inanimados e os componentes vivos.”
(SCHULTZ et al., 2002).
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Assim, pesquisar um ecossistema que interage com a realidade, significa estudar,
segundo Garcia (1994) um elemento da realidade que envolve aspectos físicos, biológicos,
sociais, econômicos e políticos. O mesmo autor enfatiza que existem múltiplos aspectos e
maneiras de abordar os ecossistemas, dependendo sempre dos objetivos perseguidos em cada
processo de pesquisa.
Um dos fatores que se deve levar em consideração na análise de um ecossistema é a
ampliação de sua complexidade, especialmente no caso de um ecossistema natural já alterado
pelos impactos da ação antrópica, produto da exploração dos recursos renováveis ou não-
renováveis, ou de assentamentos humanos de diversos tipos, como as urbanizações
(GARCIA, 1994).
Outra característica que deve ser levada em conta na pesquisa e planejamento com
ênfase regional de uma bacia hidrográfica, é a dificuldade na delimitação do espaço de
abrangência desta, uma vez que, uma mesma bacia hidrográfica pode se expandir entre
diversos territórios produtivos, políticos e administrativos.
Neste contexto, uma abordagem satisfatória e de credibilidade, que intente abranger
toda a diversidade dos problemas encontrados em um ecossistema complexo, e cujo pano de
fundo seja o planejamento e gestão regionais, requer, sem dúvida alguma, repensar as atuais
metodologias utilizadas no estudo das bacias hidrográficas (entendidas como unidades de
planejamento ecossistêmico para o desenvolvimento), superando-se as abordagens
tradicionalmente pautadas na visão de uma única perspectiva do conhecimento.
Assim, o que se pretende com este artigo é enfatizar que essa nova abordagem na
geração e gestão do conhecimento - que cada vez mais afeta os modelos éticos, científicos,
tecnológicos e educativos (VILLAVERDE, 1997) -, requer um olhar transdisciplinar, capaz
de explicar a natureza sistêmica e complexa do problema a ser abordado/pesquisado.
Não são mais tão raros os estudos que utilizam equipes interdisciplinares teóricas. A
interdisciplinaridade teórica pode ser entendida como a construção de um novo objeto
científico, a partir da colaboração de diversas disciplinas e não somente como o tratamento
comum de uma temática4 (LEFF, 1994). A verdadeira interdisciplinaridade pressupõe uma
cooperação intensa e coordenada sobre uma finalidade, porém, de uma problemática comum
(JOLLIVET; PAVÉ In: VIEIRA E WEBER, 1998).
Segundo Villaverde (1997) o enfoque ecossistêmico parte de um modelo mental, de
uma correlação metodológica, isto é, de um planejamento que permite trabalhar de maneira
articulada e orientar os processos para um conhecimento integrado entre diferentes
disciplinas. Nas palavras do mesmo autor
27
Traduzir esta idéia ao plano da ação supõe buscar
aproximações metodológicas coerentes. Ao fazê-lo, a
metodologia interdisciplinar apresenta-se como a formula
mais apropriada para se associar diversos enfoques na
interpretação de realidades complexas, como são os
sistemas ambientais (VILLAVERDE, 1997, p. 41).
Outra metodologia, ainda muito discutida, mas que pode prestar auxílio aos atores que
interagem no processo de planejamento e gestão para desenvolvimento das bacias
hidrográficas, é o conceito que evoluiu a partir da interdisciplinaridade e que convencionou-se
chamar de transdisciplinaridade. A transdisciplinaridade segundo Villaverde (1997) se traduz
no processo de intercâmbio entre diversos campos e ramos do conhecimento científico, nos
quais uns transferem métodos, conceitos, termos e inclusive corpos teóricos inteiros para
outros, os quais são incorporados e assimilados pela disciplina importadora, induzindo a um
processo dialético de avanço e retrocesso do conhecimento - característico do
desenvolvimento das ciências.
Esta metodologia é útil a partir do momento que se concebe que o espaço territorial
ocupado por uma bacia hidrográfica, além de reunir em seu bojo elementos biológicos e
sociais, encerra uma série de processos produtivos, resultando num conjunto de relações ainda
mais complexas. Pode-se concluir, então, que o contexto transdisciplinar adapta-se e pode ser
capaz de melhor responder às dúvidas suscitadas pelo conceito de socioecossistema.
5.- A importância dos Indicadores Socioambientais: IDH e Pegada Ecológica na bacia hidrográfica de Rio Sagrado
Uma das características marcantes do modelo de desenvolvimento econômico
hegemônico é não levar em conta os custos socioambientais decorrentes das atividades
produtivas industriais. Por esse motivo, se faz necessário a incorporação daqueles custos
permitindo-se balizar os processos de tomada de decisão na elaboração de políticas públicas,
por exemplo. Uma das maneiras de calcular estes custos é por meio dos indicadores
socioambientais, que fazem parte de um movimento que ganha força e, que, embora ainda
pouco utilizados5, têm relevada importância.
Os indicadores são necessários para monitorar o progresso nas distintas dimensões,
funcionando como ferramentas de apoio aos tomadores de decisões e àqueles responsáveis
pela elaboração de políticas em todos os níveis, além de serem norteadores para que se
mantenha o foco em direção ao desenvolvimento sustentável (GARCIA; GUERRERO, 2006).
Além disso, os indicadores podem servir de alerta no sentido de prevenir e/ou amenizar os
28
impactos econômicos, sociais e ambientais decorrentes de uma determinada atividade.
Também podem ser úteis como ferramentas para disseminar idéias, pensamentos e valores.
O objetivo dos indicadores socioambientais para um desenvolvimento mais
sustentável é o de promover uma maior consciência acerca das implicações da problemática
ambiental e do desenvolvimento.
O objetivo deste artigo é propor a utilização de indicadores socioambientais na
microbacia do Rio Sagrado, com vistas à mensuração e análise das inter-relações das suas
distintas dimensões socioecossistêmicas. Pretende-se utilizar o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) e ecological footprint (Pegada Ecológica segundo a tradução brasileira)
consolidando-se, desta maneira, aqueles indicadores como ferramentas para o estabelecimento
de estratégias e tomadas de decisões que visem o planejamento para o desenvolvimento
sustentável da microbacia do Rio Sagrado, localizada no Município de Morretes no Estado do
Paraná.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado pelo economista paquistanês
Mahbub ul Haq com a colaboração do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o indiano
Amartya Sen, para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de
indicadores de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de vida
ao nascer) e renda (PIB per capita). Variações do IDH como o IDH-M (Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal) medem os mesmos fenômenos, mas são adaptados
para avaliar as condições de núcleos sociais menores. Como não é de se estranhar, geralmente
entre os países com IDH mais elevado estão os países desenvolvidos, notando-se uma grande
disparidade entre os países do hemisfério sul e do norte, isto é, centro-periferia.
A essência do desenvolvimento humano centra-se em três pilares fundamentais que
buscam explicar e entender o processo de desenvolvimento como conceito mais amplo e
complexo, isto é, desenvolvimento para as pessoas, desenvolvimento das pessoas e
desenvolvimento pelas pessoas.
O primeiro pilar relaciona-se ao fato de que o modelo de desenvolvimento de caráter
meramente economicista relegou o ser humano ao segundo plano, sendo crucial o
estabelecimento de uma nova forma de compartilhamento dos frutos do crescimento
econômico pela população, isto é, o aumento do volume dos recursos destinados à expansão e
melhoria dos serviços públicos, sobretudo saúde e educação. O segundo pilar relaciona-se
com os recursos que cada País deveria investir para proporcionar um desenvolvimento
humano, isto é, com a criação de um ambiente propício para que os seres humanos possam
explorar as suas potencialidades e se tornarem melhores durante o processo. Faz-se necessário
29
investir em nutrição, saúde e educação, lembrando-se que as gerações futuras devem ter as
mesmas possibilidades de satisfazer suas necessidades. E o terceiro pilar refere-se ao
empoderamento da sociedade civil, ou seja, ao fato de que as próprias pessoas, de maneira
democrática, devam estabelecer o nível de desenvolvimento que desejam6 (PNUD, 2007).
O ecological footprint ou Pegada Ecológica (segundo a tradução brasileira), é um
indicador que surgiu com o lançamento da obra “Our ecological footprint” de autoria de
Wackernagel e Ress (2001). Segundo Hans Michael Van Bellen (2006) foi um trabalho
pioneiro acerca do tema, que marca o início da pegada ecológica como ferramenta para medir
e difundir o desenvolvimento sustentável. A pegada ecológica pode ser definida como “a área
de território ecologicamente produtivo necessária para produzir os recursos utilizados e para
assimilar os resíduos produzidos por uma população da com um modo de vida especifico de
forma indefinida” (WACKERNAGEL et al., 1997). O objetivo fundamental consiste em
avaliar os impactos sobre o planeta de um determinado modo de vida e, conseqüentemente,
seu grau de sustentabilidade.
A análise da pegada ecológica tem sido aplicada em diferentes níveis escalares, desde
a escala global (WACKERNAGEL et al., 1997) até o nível da moradia. O fundamento teórico
da pegada ecológica relaciona-se com a capacidade de carga que é definida como a
capacidade máxima de população que um sistema pode suportar de maneira indefinida no
mesmo sistema (VAN BELLEN, 2006).
Deve-se ressaltar, porém, que o cálculo da pegada ecológica é complexo, tal como o
próprio ecossistema que tenta medir: em alguns casos específicos é impossível se chegar a um
índice satisfatório, o que se revela como uma de suas dificuldades. Contudo, existem muitos
métodos para estimá-lo a partir da análise dos recursos que uma pessoa consome e dos
resíduos que ela produz7.
O estudo da pegada ecológica observa cinco aspectos que auxiliam na composição do
índice: 1) quantidade de hectares utilizados para urbanizar, gerar infra-estrutura e centros de
trabalho; 2) hectares necessários para proporcionar o alimento vegetal; 3) hectares necessários
para pastagens que alimentam o gado; 4) hectares marinhos necessários para a produção de
peixes; e 5) hectares de floresta necessária para absorver o CO2 provocado pelo consumo
energético da humanidade. Do ponto de vista global, se tem estimado em 1,7 hectares a
capacidade biofísica do planeta por habitante, embora os níveis atuais de consumo médio por
pessoa chega a 2,8 hectares8 (MAX-NEEF, 2007). Esta é mais uma comprovação do resultado
modelo de desenvolvimento pautado numa racionalidade economicista-utilitarista-consumista
(SAMPAIO, 2005).
30
6.- Considerações Finais
Como medir o desenvolvimento? Há muito tempo organismos internacionais,
governos, instituições acadêmicas e pesquisadores tentam responder a essa questão.
Para tanto, a construção de indicadores tem sido a ferramenta mais utilizada por
aqueles que objetivam mensurar o estágio de desenvolvimento de países, regiões, locais e
comunidades, embora muitas vezes se obtenha apenas índices de crescimento, por meio de
variáveis econômicas.
Neste sentido, o Produto Interno Bruto (PIB) permaneceu por um longo período
sendo utilizado para medir a riqueza das nações, acabando por ser alvo de críticas devido à
sua abrangência restrita em não responder às necessidades contemporâneas e sendo
substituído pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), aceito amplamente em nível
internacional por ser considerado o indicador mais completo – apesar de suas limitações – ao
incorporar dimensões socioeconômicas.
Num processo evolutivo, acompanhando as discussões emergentes em torno da
sustentabilidade, questiona-se hoje, a possibilidade da criação de indicadores mais
abrangentes, capazes de contemplar as variáveis econômicas, sociais e ambientais e, ao
mesmo tempo, serem aceitos cientificamente no que se refere à credibilidade dos resultados.
Tal preocupação ganha força num contexto em que se cristaliza a problemática ambiental,
tanto em nível global, quanto nacional, regional e até mesmo local.
Fato é, que, diante deste cenário e, na tentativa de obter respostas convincentes aos
novos desafios, a construção de indicadores requer abordagens que abandonem a perspectiva
unidisciplinar e o raciocínio cartesiano e rumem para perspectivas inter e até mesmo
transdisciplinares. Resumindo-se: o ambiente complexo, incerto e instável de hoje (e a
problemática socioambiental, por exemplo) exige abordagens sistêmicas e integradas, capazes
de indicar caminhos alternativos para os novos e antigos desafios que se apresentam.
Seguindo essa afirmação, propôs-se neste artigo a construção de indicadores de
indicadores socioambientais na microbacia do Rio Sagrado, localizada no Município de
Morretes, Estado do Paraná, APA de Guaratuba, ReBIO de Floresta Atlântica. O objetivo é
poder mensurar e analisar as inter-relações das distintas dimensões socioecossistêmicas,
utilizando-se o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e ecological footprint (Pegada
Ecológica segundo a tradução brasileira) na tentativa de se consolidar, desta maneira, aqueles
31
indicadores como ferramentas para o estabelecimento de estratégias e tomadas de decisões
que visem o planejamento para o desenvolvimento sustentável daquela microbacia.
Partindo-se da idéia da necessidade e relevância de abordagens interdisciplinares e até
transdisciplinares para explicar a complexidade da problemática ambiental, releva-se,
inclusive a revitalização de conceitos e a utilização de novos construtos que dêem sustentação
teórica àqueles estudos. É neste contexto que emerge o conceito da ecossocioeconomia, que
se coaduna com a perspectiva de trabalhos interdisciplinares centrados em bases filosóficas e
epistemológicas que considerem, no caso da microbacia do Rio Sagrado, a população local
(sociedade) que ocupa o espaço territorial biofísico (ecossistema) daquela região.
Referências Bibliográficas
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1 O termo surge a partir da obra do economista ecológico Karl William Kapp (The social costs of business enterprise. Nottingham: Spokesman Books, 1963). O primeiro prefixo “Eco” (Oikos = Casa) refere-se à ecologia e reforça o que o segundo prefixo “eco” já deveria fazê-lo, contudo, este foi vulgarizado ao longo da história remetendo o seu significado ao que Aristóteles já denunciava como crematística. 2 Entretanto, reconhece-se que recursos naturais e serviços ambientais como tendo funções e valores econômicos positivos (na perspectiva da Economia Ecológica), e que tratá-los como preço zero, como se faz, muitas vezes, na perspectiva racionalista utilitarista economicista, seria um risco sério de exauri-los ou manejá-los insustentavelmente (ALIER, 2007). 3 Segundo Mill (2000) o poder só pode ser exercido sobre um indivíduo, contra a sua vontade, quando este exercício tem como finalidade prevenir que sejam infligidos abusos sobre os outros membros da comunidade. 4 Ao enfocar a problemática ambiental, Leff (2002, p. 140) salienta que aquela ultrapassou o campo dos paradigmas científicos e do conhecimento disciplinar. Segundo ele, “o saber ambiental emerge, problematiza e reorienta o desenvolvimento do conhecimento em três níveis: a) A orientação da pesquisa e aplicação dos conhecimentos científicos e técnicos por meio das políticas científico-tecnológicas; b) A integração interdisciplinar de especialidades diversas e de um conjunto de saberes existentes em torno de um objeto de estudo e de uma problemática comuns (...); c) A problematização dos paradigmas téoricos de diferentes ciências, propondo a reelaboração de seus conceitos, a emergência de novas áreas temáticas e da constituição de novas disciplinas ambientais (...)”. 5 Segundo Sérgio Besserman (2003) há uma grande lacuna de informações ambientais locais, regionais e globais: a produção de estatísticas e indicadores sobre a sustentabilidade do desenvolvimento é insuficiente e precária; as deficiências superam em muito a oferta de informações. Isso se deve à própria emergência da problemática ambiental, tanto no que diz respeito ao despertar da consciência ecológica em escala global, quanto à evolução acelerada das agressões ao meio ambiente nas últimas décadas e sua maior divulgação. 6 Arruda (2000), nesse sentido, enfatiza o que denomina de “autodesenvolvimento”: um desenvolvimento gerado e impulsionado de baixo para cima e de dentro para fora e cuja característica essencial é a de estar muito mais centrado no humano e no social, sugerindo a participação do indivíduo (dimensão pessoal), da sociedade civil, das empresas e unidades políticas (dimensão da comunidade) como fator primordial para a definição dos rumos do desenvolvimento local. 7 Para cálculo da pegada ecológica individual pode-se realizar um teste individual disponível no endereço http://www.myfootprint.org. 8 Estudos demonstram que a capacidade de carga do planeta já foi superada em mais que 50%, devendo ser ampliada em virtude do crescimento econômico de países emergentes e populosos como Índia e China, caso nada seja feito para sua contenção. Tal fato é preocupante, pois numa comparação com o estilo de vida e consumo norte-americano (considerado o extremo da insustentabilidade), se todos os habitantes do planeta seguissem aquele padrão, seriam necessários oito planetas Terra!