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INDICAÇÃO CME Nº 01/2019 O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE RIBEIRÃO PRETO - SP, no uso de suas atribuições legais que lhe confere a Lei Complementar nº 310, de 30 de dezembro de 1993, na qual foi criado este conselho, como um órgão consultivo, deliberativo e normativo; e a Lei Complementar nº 1.686/2004 que estabelece suas competências e atribuições, conforme o artigo 179 da Lei Orgânica do Município e artigo 243 da Constituição do Estado. CONSIDERANDO a Constituição da República Federativa do Brasil em seus artigos art. 5º, inciso I e inciso XLII, art. 210, art. 206, inciso I, §1º do art. 242, art. 215, art. 216, art. 231 e art. 232. CONSIDERANDO o Estatuto da Criança e do Adolescente em seus artigos art. 4, art. 53, art. 54 e art. 58. CONSIDERANDO a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em seus artigos 26, 26-A e 79-B. CONSIDERANDO as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar Indígena, por meio do Parecer CNE/CEB nº 14/99 e da Resolução CNE/CEB nº 3/99. CONSIDERANDO a Lei n.º 10.639, de 09 de janeiro de 2003, e a Lei n.º 11.645, de 10 de março de 2008, que alteraram a Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, acrescentando o art. 26-A, parágrafos 1º e 2º, e art. 79-B, quanto à obrigatoriedade do ensino da História e da Cultura Afro-brasileira e Indígena. CONSIDERANDO o Parecer CNE/CP n.º 03/2004, 10 de março de 2004 e a Resolução CNE/CP n.º 01/2004, de 17 de junho de 2004 que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. CONSIDERANDO o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana que tem como objetivo colaborar para que os sistemas de ensino cumpram as determinações legais, enfrentando as diferentes formas de preconceito racial, racismo e discriminação racial, garantindo o direito de aprender e a equidade educacional, a fim de promover uma sociedade justa e solidária. Assim como, oferecer orientação aos sistemas de ensino para que os mesmos

INDICAÇÃO CME Nº 01/2019 O CONSELHO MUNICIPAL DE …CONSIDERANDO o Parecer CNE/CEB n.º 7/2010, 07 de abril de 2010 e a Resolução CNE/CEB n.º 04/2010, de 13 de julho de 2010

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INDICAÇÃO CME Nº 01/2019

O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE RIBEIRÃO

PRETO - SP, no uso de suas atribuições legais que lhe confere a Lei Complementar nº

310, de 30 de dezembro de 1993, na qual foi criado este conselho, como um órgão

consultivo, deliberativo e normativo; e a Lei Complementar nº 1.686/2004 que

estabelece suas competências e atribuições, conforme o artigo 179 da Lei Orgânica do

Município e artigo 243 da Constituição do Estado.

CONSIDERANDO a Constituição da República Federativa do Brasil

em seus artigos art. 5º, inciso I e inciso XLII, art. 210, art. 206, inciso I, §1º do art. 242,

art. 215, art. 216, art. 231 e art. 232.

CONSIDERANDO o Estatuto da Criança e do Adolescente em seus

artigos art. 4, art. 53, art. 54 e art. 58.

CONSIDERANDO a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional em seus artigos 26, 26-A e 79-B.

CONSIDERANDO as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação

Escolar Indígena, por meio do Parecer CNE/CEB nº 14/99 e da Resolução CNE/CEB nº

3/99.

CONSIDERANDO a Lei n.º 10.639, de 09 de janeiro de 2003, e a

Lei n.º 11.645, de 10 de março de 2008, que alteraram a Lei n.º 9.394, de 20 de

dezembro de 1996, acrescentando o art. 26-A, parágrafos 1º e 2º, e art. 79-B, quanto à

obrigatoriedade do ensino da História e da Cultura Afro-brasileira e Indígena.

CONSIDERANDO o Parecer CNE/CP n.º 03/2004, 10 de março de

2004 e a Resolução CNE/CP n.º 01/2004, de 17 de junho de 2004 que instituiu as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o

Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana.

CONSIDERANDO o Plano Nacional de Implementação das

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o

Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana que tem como objetivo

colaborar para que os sistemas de ensino cumpram as determinações legais, enfrentando

as diferentes formas de preconceito racial, racismo e discriminação racial, garantindo o

direito de aprender e a equidade educacional, a fim de promover uma sociedade justa e

solidária. Assim como, oferecer orientação aos sistemas de ensino para que os mesmos

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possam cumprir e institucionalizar a implementação das referidas Diretrizes

Curriculares.

CONSIDERANDO o Parecer CNE/CEB n.º 7/2010, 07 de abril de

2010 e a Resolução CNE/CEB n.º 04/2010, de 13 de julho de 2010 que instituiu as

Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica.

CONSIDERANDO o Parecer CNE/CEB n.º 20/2009, 11 de

novembro de 2009 e a Resolução CNE/CEB n.º 05/2009, de 17 de dezembro de 2009

que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

CONSIDERANDO o Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil

CONSIDERANDO o Parecer CNE/CEB n.º 11/2010, 07 de julho de

2010 e a Resolução CNE/CEB n.º 07/2010, de 14 de dezembro de 2010 que instituiu as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Ensino Fundamental de 9 (nove) anos.

CONSIDERANDO o Parecer CNE/CEB nº14/2015, 11 de novembro

de 2015 que institui as Diretrizes Operacionais para a implementação da história e das

culturas dos povos indígena na Educação Básica, em decorrência da Lei nº 11.645/2008.

PROPÕE:

Art. 1º A presente Deliberação institui as Diretrizes Curriculares Municipais da

Educação das Relações Étnico-raciais e do Ensino de História e Cultura Afro-brasileira,

Africana e Indígena, bem como das demais etnias que compõem a população ribeirão-

pretana, a serem observadas pelas Instituições de ensino que compõem o sistema

municipal de ensino de Ribeirão Preto, em todas as suas etapas e modalidades da

Educação.

Art. 2º Caberá à Secretaria Municipal de Educação:

I – Formular o Plano Municipal de Implementação da Educação das Relações Étnico-

raciais e do Ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana e Indígena, e demais

etnias que compõem a população ribeirão-pretana, em parceria com o Conselho

Municipal de Educação, sendo o mesmo orientado pelo Plano Nacional de

Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações

Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana.

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II – Promover políticas públicas de promoção da igualdade racial, combate ao racismo,

ao preconceito, à discriminação e às desigualdades raciais.

III – Elaborar ações pedagógicas de combate ao racismo e as discriminações, com o

objetivo de construir uma educação antirracista.

IV – Adequar as normas municipais norteadoras da Educação, em cada etapa e

modalidade, atendendo aos comandos das normas federais que versam sobre a educação

das relações étnico-raciais e do ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e

indígena, e demais etnias que compõem a população ribeirão-pretana.

V – Divulgar amplamente as:

a) Diretrizes Curriculares Municipais da Educação das Relações Étnico-raciais e do

Ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana e Indígena, e demais

etnias que compõem a população ribeirão-pretana;

b) Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e

para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana;

c) Orientações e Ações para a Implementação da Educação das Relações Étnico-

raciais;

d) História Geral da África (Unesco).

VI – Reformular os Projetos Políticos Pedagógicos de suas unidades escolares, em todas

as etapas e modalidades de ensino, incluindo em seu currículo a educação das relações

étnico-raciais e do ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena, bem

como das demais etnias que compõem a população ribeirão-pretana.

VII – Garantir programas de formação continuada para docentes, gestores, equipes

técnicas e demais profissionais do sistema municipal de ensino em consonância com as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o

Ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana e Indígena, e demais legislações e

publicações direcionadas a temática supracitada.

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VIII - Garantir que os programas de formação continuada executados pela Secretaria

Municipal de Educação, devam ser desenvolvidos de maneira sistêmica, regular e

preferencialmente presencial, articulado com o Movimento Negro, os Núcleos de

Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABIs), as Instituições de Ensino Superior

(IES), o Ministério da Educação (MEC) e os Fóruns de Educação e Diversidade Étnico-

racial.

IX – Prover as escolas, os professores e os alunos com material bibliográfico, material

didático e paradidático e outros materiais didático-pedagógicos necessários ao

desenvolvimento da Educação das Relações Étnico-raciais e do Ensino de História e

Cultura Afro-brasileira, Africana, Indígena e demais etnias que compõem a população

ribeirão-pretana, em todas as suas etapas e modalidades da Educação Básica.

X - Prover bibliotecas, salas de leitura e brinquedotecas dos materiais necessários para o

desenvolvimento da temática étnico-racial, na perspectiva da Lei 10.639/2003, da Lei

11.645/2008 e de suas Diretrizes Curriculares.

XI - Implementar ações de aquisição de materiais didáticos-pedagógicos que respeitem

a diversidade étnico-racial, tais como: produção audiovisual, jogos, brinquedos,

especialmente bonecas com diferentes características étnico-raciais.

XII - Produzir e distribuir materiais didáticos e paradidáticos que atendam as

especificidades (artísticas, culturais e religiosas) locais e regionais da população e do

ambiente, visando a Educação das Relações Étnico-raciais e do Ensino de História e

Cultura Afro-brasileira, Africana, Indígena e demais etnias que compõem a população

ribeirão-pretana, em parceria com o Movimento Negro, com o Conselho Municipal do

Desenvolvimento e Promoção da Igualdade Racial (COMDEPIR), com Núcleos de

Estudos Afro-brasileiros e Indígena (NEABIs) e com as Instituições de Ensino Superior

(IES).

XIII - Promover e manter o diálogo, e a participação permanente dos grupos do

Movimento Negro, do Conselho Municipal do Desenvolvimento e Promoção da

Igualdade Racial (COMDEPIR), dos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígena

(NEABIs), das Instituições de Ensino Superior (IES) e da comunidade escolar para

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impulsionar a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana e

Indígena.

XIV - Criar instrumentos para supervisionar, monitorar e avaliar o processo de

implantação e implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira,

Africana, Indígena e demais etnias que compõem a população ribeirão-pretana.

XV - Elaborar o Censo Escolar municipal, considerando o recorte étnico-racial, a fim de

contribuir com a produção de dados locais em uma perspectiva étnico-racial.

XVI - Instituir uma estrutura administrativa permanente (presente no desenho

institucional da SME), com equipes técnicas permanentes que serão responsáveis pela

política educacional de implementação e acompanhamento da Lei n.º 10.639/2003 e

suas Diretrizes Curriculares, bem como pelo desenvolvimento da Educação das

Relações Étnico-raciais e do Ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana,

Indígena e demais etnias que compõem a população ribeirão-pretana, dotada de

condições institucionais, condições adequadas de trabalho e dotação financeira prevista

no orçamento anual da SME.

XVII - Destinar recursos orçamentários necessários ao cumprimento das metas

presentes no Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-

brasileira e Africana.

XVIII - Manter diálogo permanente e a participação das associações de pesquisadores,

tais como: Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED); dos Núcleos de

Estudos Afro-brasileiros e Indígena (NEABIs).

XIX - Organizar e promover eventos (congresso, conferência, seminário, mesa redonda,

simpósio, painel de debates, fórum, mostra de trabalhos) para divulgar experiências

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pedagógicas exitosas, experiências de gestão democrática e ações estratégicas,

desenvolvidas no sistema municipal de ensino.

XX - Fomentar ações e eventos que contemplem as diferentes linguagens e expressões

culturais, nos quais sejam observadas a história e cultura afro-brasileira e indígena do

município.

XXI - Promover campanhas e peças publicitárias de combate ao preconceito racial, à

discriminação racial e ao racismo nos meios de comunicação do sistema municipal de

ensino.

XXII - Participar regularmente dos Fóruns de Educação e Diversidade Étnico-racial.

§ 1º - O Plano Nacional de Implementação da Educação das Relações Étnico-raciais e

do Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana deverá ser utilizado enquanto

o Plano Municipal não estiver vigente e, após este período, deverá ser utilizado de

maneira complementar.

Art. 3º - Caberá ao Conselho Municipal de Educação:

I - Elaborar o Referencial Curricular Municipal da Educação das Relações Étnico-

raciais e do Ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana e Indígena, bem

como das demais etnias que compõem a população ribeirão-pretana, em parceria com as

organizações do Movimento Negro de Ribeirão Preto, com o Conselho Municipal do

Desenvolvimento e Promoção da Igualdade Racial (COMDEPIR), com as Instituições

do Ensino Superior (IES) e demais instituições.

II - Produzir legislação complementar e outros documentos norteadores, com a

finalidade de oferecer subsídios ao sistema municipal de ensino no processo de

implementação da Lei 10.639/2003 e suas Diretrizes Curriculares.

III - Promover discussões e debates sobre a Lei 10.639/2003 e suas Diretrizes

Curriculares com os gestores do sistema municipal de ensino e a equipe técnica da

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Secretaria Municipal de Educação, com a finalidade de oferecer subsídios no processo

de implementação desta legislação.

IV - Acompanhar e monitorar em caráter permanente o processo de implementação das

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o

Ensino de História e Cultura Afro-brasileira, Africana e Indígena.

Art. 4º - Caberá às coordenações pedagógicas das unidades escolares:

I – Promover e aprofundar os estudos, para que os professores concebam e

desenvolvam unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo os diferentes

componentes curriculares.

II - Conhecer e divulgar o conteúdo do Parecer CNE/CP n.º 03/2004 e a Resolução

CNE/CP n.º 01/2004 e das Leis n.º 10.639/2003 e n.º 11.645/2008 em todo o âmbito

escolar;

III - Colaborar para que os planejamentos de curso incluam conteúdos e atividades

adequadas para a Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e

Cultura Afro-brasileira, Africana e Indígena de acordo com cada etapa e modalidade de

ensino;

IV - Promover junto aos docentes reuniões pedagógicas a fim de orientar para a

necessidade de constante combate ao racismo, ao preconceito racial, e à discriminação

racial, elaborando em conjunto estratégias de intervenção e educação;

V - Estimular a interdisciplinaridade para a disseminação da temática no âmbito escolar,

construindo junto com os(as) professores(as) e profissionais da educação processos

educativos;

VI - Examinar e encaminhar, juntamente com toda a comunidade escolar, soluções para

situações de discriminação, buscando criar situações educativas para o reconhecimento,

valorização e o respeito da diversidade.

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Art. 5º - As políticas educacionais presentes neste documento, não excluem ou se

contrapõe a demais políticas de reparação, de reconhecimento e valorização da história,

da cultura e da identidade dos negros, indígenas e demais etnias, bem como as políticas

de ações afirmativas, ou até mesmo ações de reconhecimento e valorização da

diversidade étnico-racial, presente na sociedade brasileira.

DELIBERAÇÃO DO PLENÁRIO

O Conselho Municipal de Educação aprova, por unanimidade, a presente Indicação nos

termos do voto da Comissão.

Sala do Plenário, em 15 de Setembro de 2019

PARECER CME Nº 03/2019, APROVADO EM 12 DE SETEMBRO DE 2019

INTERESSADO: CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

ASSUNTO: EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO - RACIAIS

DATA DA APROVAÇÃO: 12 DE SETEMBRO DE 2019 – 8ª SESSÃO

ORDINÁRIA

INTRODUÇÃO

Este parecer visa atender os propósitos expressos no Plano Nacional de

Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações

Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e

Indígena, conjunto de medidas que buscam a efetivação das Leis Federais nº

10.639/2003 e 11.645/2008, bem como da Resolução CNE/CP nº 01/2004, o Parecer

CNE/CP nº 03/2004 e o Parecer CNE/CEB 14/2015. Desta forma, objetiva-se cumprir o

estabelecido na Constituição Federal nos seus art. 5º, inciso I, inciso XLII, art. 210, art.

206, inciso I, §1º do art. 242, art. 215, art. 216, art. 231 e art. 232, bem como nos art. 26,

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26-A e 79-B da Lei nº 9.394/1996 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que

asseguram o direito à igualdade de condições de vida e de cidadania, assim como

garantem igual direito às histórias e culturas que compõem a nação brasileira, além do

direito de acesso às diferentes fontes da cultura nacional de todos os brasileiros.

Acrescenta-se, também, ao disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº

8.096/1990), bem como o Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005/2014).

Cumpre salientar que as referidas normas são de âmbito nacional, sendo assim,

devem ser seguidas e respeitadas por todos os entes federativos, o que engloba o

município de Ribeirão Preto e seu respectivo sistema de ensino.

Somam-se às normas supramencionadas as reivindicações do Movimento Negro

e do Movimento Indígena ao longo do século XX que reforçam a necessidade de

normas e diretrizes que orientem a formulação de projetos empenhados na valorização

da história e da cultura dos afro-brasileiros e indígenas, assim como comprometidos

com a educação de relações étnico-raciais positivas, a que tais conteúdos devem

conduzir.

Este documento tem como destinatários todos os administradores dos sistemas

de ensino, de mantenedoras de estabelecimentos de ensino, de estabelecimentos de

ensino, de seus professores e a todos, implicados na elaboração, execução, avaliação de

programas, de interesse educacional, de planos institucionais, pedagógicos e de ensino

de Ribeirão Preto. Também devem se apropriar deste Parecer as famílias dos estudantes,

eles próprios e todos os cidadãos comprometidos com a educação dos ribeirão-pretanos,

para que nele busquem orientações, quando pretenderem dialogar com os sistemas de

ensino, escolas e educadores, no que diz respeito às relações étnico-raciais, ao

reconhecimento e valorização da história e da cultura dos afro-brasileiros e indígenas, à

diversidade da nação brasileira, ao igual direito à educação de qualidade, isto é, não

apenas direito ao estudo, mas também à formação para a cidadania responsável pela

construção de uma sociedade justa, democrática e equânime.

Tendo em vista todo o exposto acima, no dia 27 de Novembro de 2018 o

Conselho Municipal de Educação de Ribeirão Preto/SP (CME/RP) convidou diversos

grupos que compõem o Movimento Negro de Ribeirão Preto, professores do sistema

municipal de ensino, bem como a sociedade civil para uma reunião. Na oportunidade foi

realizada uma avaliação sobre a situação do ensino da educação das relações étnico-

racial e da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena em nosso município.

Todos os presentes foram uníssonos ao relatar que a implementação da educação étnico-

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racial em Ribeirão Preto, por parte do Poder Público, é praticamente inexistente. E que

as únicas ações realizadas nos últimos anos em prol da educação étnico-racial têm sido

de forma pontual e realizada por educadores e militantes do Movimento Negro que

entendem a relevância desta temática. Sendo assim, restou decidido que seria criada

uma comissão mista no CME/RP para realizar um levantamento acerca da

implementação da educação étnico-racial pelo sistema municipal de ensino de Ribeirão

Preto e sugerir possíveis medidas à Secretaria Municipal de Educação (SME/RP) para

que a implementação ocorra de forma efetiva.

Com isso, no dia 12 de dezembro de 2018, na ocasião da 11° Sessão Ordinária

do CME/RP foi criada a Comissão Mista de Estudos para normatização das Leis

10.639/2003 e 11.645/2008, que é composta por membros do CME/RP, professores do

sistema municipal de ensino, membros do COMDEPIR, bem como por integrantes do

Movimento Negro de Ribeirão Preto.

Do levantamento realizado por esta comissão, foi elaborado este Parecer, bem

como a indicação nº 01/2019 que a este acompanha, onde são dadas orientações de

novas práticas por parte da SME/RP para que o município cumpra de forma efetiva e

integral o que determinam as normas federais mencionadas no início deste texto.

A ESCRAVIDÃO COMO BASE DA CONSTRUÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA

Antes de entramos na implementação da Educação das relações étnico-racial

propriamente dita, em tempos de negação de fatos históricos, faz-se necessário um

resgate da história de nosso país e de nosso município, para lembrar-nos da relevância

tanto na sociedade brasileira, quanto na sociedade ribeirão-pretana. Devemos, portanto,

recordar que o espaço territorial que hoje chamamos de Brasil já era ocupado por

diferentes povos nativos, de modo que foi conquistado a partir do final do século XV.

Isto é, os povos europeus, respaldados por pseudo teorias de superioridade racial,

praticaram a colonização de territórios africanos e americanos, previamente ocupados

por povos nativos, e, por conseguinte, promoveram a escravização e o genocídio de

indígenas e africanos. Falando-se especificamente do Brasil, antiga colônia portuguesa,

inicialmente deu-se prioridade a escravização dos povos originários, e a partir do século

XVII a escravização de negros se impôs como a principal forma de exploração do

trabalho.

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A escravidão em solo brasileiro perdurou por séculos, de modo que toda a

estrutura econômica e das demais relações sociais existentes em nosso país tinham

como base a exploração de povos escravizados. A referida prática era respaldada e

incentivada pelo Estado brasileiro até o ano de 1888, quando se deu a abolição da

escravidão no território nacional. Em que pese, este ter sido um significativo avanço

para os povos não-brancos, de forma direta, e para toda sociedade, indiretamente, a

abolição não veio acompanhada de políticas de reparação, de reconhecimento, de

valorização e de ações afirmativas ou qualquer política pública de promoção da

igualdade racial que possibilitasse a efetivação e a garantia da dignidade humana aos

povos não-brancos.

Muito pelo contrário, o Estado brasileiro promoveu uma política de

branqueamento da população, implementando uma série de políticas públicas para tal.

Dentre elas, o incentivo e a facilitação da vinda de pessoas brancas, majoritariamente

europeias, para o Brasil, fazendo com que esse grupo se tornasse a nova classe

assalariada que o Brasil precisava para manter sua economia e garantir a prosperidade

da nação, visto que a época entendia-se que o progresso só se daria com base numa

população embranquecida.

Incentivando e incentivado pelo mito da democracia racial, o Estado brasileiro,

portanto, promoveu a manutenção dos privilégios aos brancos e das desvantagens aos

demais povos, criando, assim, uma nova forma de exploração baseada na raça. Portanto,

ainda que a escravidão tivesse sido abolida, o racismo foi reformulado, sendo executado

por meio de novas práticas que persistem até a contemporaneidade.

Em Ribeirão Preto, a história não foi diferente. Este município relativamente

jovem foi fundado em 19 de junho de 1856, época em que as lutas pela abolição da

escravidão tomavam conta do cenário nacional. Não obstante, foi com base na mão-de-

obra escravizada que este município nasceu e iniciou seu crescimento econômico que o

tornaria a principal cidade do oeste-paulista e uma das principais cidades do país,

principalmente pela sua produção cafeeira.

Nos seus tenros anos, tendo como base de sua economia o plantio e a

comercialização do café, Ribeirão Preto atraiu pessoas e investimentos de diversos

lugares do Brasil. Famílias importantes e com vastas propriedades, utilizavam da mão-

de-obra escravizada para a preparação do solo, plantio, colheita, secagem e

empacotamento do café que, posteriormente, seria comercializado em todo o país, bem

como no exterior. Portanto, a utilização da mão-de-obra escravizada foi fundamental

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para a manutenção da estrutura socioeconômica do município e da região, possibilitando

que brancos livres acumulassem capital, as custa do trabalho de pessoas escravizadas.

No ano de 1874 foi realizado um levantamento populacional do município,

revelando um total de 4.695 indivíduos livres e 857 escravizados.1 Ou seja, já naquela

época ao menos 15% da população ribeirão-pretana era composta por pessoas negras em

extremo nível de vulnerabilidade.

Um novo levantamento populacional, realizado em 1886, aponta para uma

população de 10.420 habitantes, representando um crescimento espetacular de quase

88%. Os dados computados pelo censo revelam uma população livre de 9.041 pessoas e

uma população escravizada com 1.379 pessoas. Ou seja, crescimento da população

escravizada foi de 61%, o que pode ser considerado extraordinário, pois se deu em plena

época da crise da escravatura, às vésperas do fim da escravidão.2

Os dados mencionados deixam claro que apesar do município ter nascido já ao

final do período de escravidão no Brasil, foi a partir da escravização de corpos negros

que deu início a sua ascensão econômica.

E, como se não bastasse, Ribeirão Preto foi fortemente influenciada pelas

políticas de branqueamento promovidas pelo Governo Federal do final do século XIX e

início do século XX. Conforme nos conta Furlanetto3, o processo de formação de

Ribeirão Preto tem a imigração de pessoas brancas como fundamental para o

crescimento e urbanização do município. Entre os anos de 1893 e de 1926 chegaram

oficialmente a Ribeirão Preto 76.657 imigrantes de diversas nacionalidades – a grande

maioria, cerca de 70%, italianos, mas também franceses, argentinos, polacos, austríacos,

russos, alemães, japoneses, suíços, belgas, gregos, sírios, espanhóis e portugueses.

A chegada de tantos imigrantes brancos numa sociedade fortemente influenciada

pela justificação da escravidão como a de Ribeirão Preto, assim como em todo o

contexto nacional, somente serviu para marginalizar a população negra do município,

mantendo-as em situação de vulnerabilidade, ainda que não fossem mais escravizadas.

Conforme aponta diversos estudos e pesquisas científicas, a comunidade negra

brasileira e ribeirão-pretana até os dias atuais sofre com a desigualdade racial.

1 BASSANEZI, M. S. C. B. (Org.). São Paulo do passado: Dados demográficos – 1872, vol. III. NEPO.

Unicamp, 1998. p. 37. 2 BASSANEZI, M. S. C. B. (Org.). São Paulo do passado: Dados demográficos – 1886, vol. IV. NEPO.

Unicamp, 1999. p. 106, 213. 3 FURLANETTO, Patrícia Gomes. O associativismo como estratégia de inserção social: as práticas sócio-

culturais do mutualismo migrante italiano em Ribeirão Preto (1895-1920). São Paulo, 2007. p.34-40.

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Segundo o Censo Demográfico de 20104, o último realizado até a edição deste

Parecer, Ribeirão Preto comporta 604.682 habitantes, sendo que 29% desse total são

pessoas negras. Sendo assim, a não formulação e não execução, por parte dos Poderes

Públicos deste município, de políticas públicas que sejam direcionadas ao combate ao

racismo mantém 175.707 pessoas em situação de vulnerabilidade.

Pelo breve resumo histórico posto acima, resta nítida a responsabilidade do

Estado brasileiro e ribeirão-pretano para com a população negra aqui residente. Sendo

mandatória a promoção de políticas públicas voltadas a esta população. Ou seja,

necessitamos de uma atuação permanente por parte dos Poderes Executivo, Legislativo

e Judiciário do município de Ribeirão Preto para assegurar políticas públicas de

promoção da igualdade racial permanentes e efetivas na garantia de igualdade do povo

negro ribeirão-pretano que, desde a origem do município, vem sendo a base

trabalhadora e tecnológica pela qual se dá o crescimento e grandiosidade desta

localidade.

O MOVIMENTO NEGRO E A EDUCAÇÃO

Após a abolição da escravatura, para reverter o quadro de marginalização

existente, mulheres e homens negros organizaram diversas associações, tais como:

clubes, entidades beneficentes, grêmios literários, centros cívicos, jornais e

organizações políticas em diferentes localidades do território brasileiro, reunindo um

número expressivo de associados pertencentes à comunidade negra.5

Estas associações, do ponto de vista educacional, denunciavam o analfabetismo

e a precariedade da escolarização da população negra. Muitas delas desenvolveram

ações educativas como apresentações musicais, encenações teatrais, saraus, sessões de

recitais de poesias, cursos e palestras. Mantinham aulas noturnas e bibliotecas, além de

promoverem a escolarização de seus membros.6

Nessa mesma época, houve o desenvolvimento de uma imprensa específica,

denominada imprensa negra, que representava a comunidade negra e denunciava o

4IBGE. Censo Demográfico de 2010. Disponível em:

<https://www.ibge.gov.br/apps/snig/v1/index.html?loc=354340&cat=-1,-2,3,4,-3,128&ind=4707>

Acesso em: 02 mai. 2019. 5 DOMINGUES, P. Movimento negro brasileiro: alguns apontamentos históricos. Tempo, Niterói, v. 12,

n. 23, p. 100-122, 2007. p. 103-104. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/tem/v12n23/v12n23a07.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2019. 6 DOMINGUES, P. O recinto sagrado: educação e antirracismo no Brasil. Caderno de Pesquisa, São

Paulo, v. 39, n. 138, p. 963-994, 2009. p. 969. Disponível em:

<file:///C:/Users/Particular/Downloads/222-708-1-PB.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2019.

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racismo e as precárias condições de vida desta população. A preocupação com a

Educação foi uma constante nos periódicos produzidos, sempre com o ideal de ascensão

social do negro, o que permitiria integrá-lo ao mundo do branco. Neste momento, a

imprensa negra tinha um núcleo básico de pensamento, isto é, o posicionamento do

negro diante do mundo dos brancos, assumindo, em alguns momentos, um caráter

reivindicatório, e em outros um conteúdo pedagógico e moral, mas ainda procurando a

integração do negro no mundo do branco.7

Em 1931, foi criada a Frente Negra Brasileira (FNB), uma união política e social

da Gente Negra Nacional, para a afirmação dos direitos históricos.8 A FNB também

investiu em educação e profissionalização do negro, acreditando que assim facilitaria o

caminho para a aceitação e integração maior do negro na sociedade.9

No Rio de Janeiro, em 1944 surgia o Teatro Experimental do Negro (TEN), com

o objetivo inicial de abrir as artes cênicas para atores negros e contestar a discriminação

racial, além de também organizar cursos de alfabetização. De acordo com Guimarães, a

marca registrada do TEN foi a integração do negro na sociedade nacional e o resgate da

sua autoestima.10

Desta forma, podemos perceber que a educação sempre foi uma reivindicação

constante dos Movimentos Negros brasileiros, pois já nessa época entendia-se que a

única forma de garantir a igualdade entre negros e brancos seria por meio da garantia do

acesso à educação à população negra. No entanto, é com o surgimento e fortalecimento

do Movimento Negro Unificado (MNU), inspirado no Teatro Experimental do Negro,

que a população negra passou a exigir uma educação descolonizada, ou seja, a

superação da perspectiva eurocêntrica do conhecimento e do mundo.

Neste sentido, este movimento social reivindicou o direito à diferença, opondo-

se à proposta de integração via valores brancos, presentes nos movimentos anteriores,

desta forma o trabalho do MNU centralizava-se na elaboração de um projeto político do

povo negro para o Brasil, trazendo uma nova perspectiva ao projeto já existente.11

7 NUNES, Sandra Maria Maciel. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no

município de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2018. p. 35. 8 BARBOSA, M. Frente negra brasileira: depoimentos. São Paulo: Quilombhoje, 1998. p. 110 9 HOFBAUER, A. Uma história de branqueamento ou o negro em questão. São Paulo: Editora UNESP,

2006. p. 353 10 GUIMARÃES, A. S. A. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2002. p. 89-93. 11 RODRIGUES, T. C. Movimento negro no cenário brasileiro: embates e contribuições à política

educacional nas décadas de 1980-1990. 2005. 113 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Centro

de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005. p. 43

Disponível em:

<http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=43

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A pauta educacional do MNU incluía ações que valorizavam a população negra,

reivindicando a reavaliação da contribuição do negro na História do Brasil, a

participação na elaboração dos currículos escolares, a inclusão de uma disciplina que

tratasse da História da África, a preocupação com a edição de livros que trouxessem os

estereótipos e o racismo, e já apontavam na direção de políticas de ação afirmativa

quando solicitaram bolsas de estudo para estudantes negros. Mas apresentavam também

propostas universalistas como a garantia do ensino gratuito e público em todos os níveis

educacionais, para todos.12

Nos anos que se seguiram a formação e fortalecimento do MNU, outro sujeito

político se destacou nesta luta, o Movimento de Mulheres Negras, com a criação do

Coletivo de Mulheres Negras de São Paulo, e no ano de 1988 organizando-se o 1º

Encontro Nacional de Mulheres Negras, no Rio de Janeiro.13

Ao longo da trajetória de luta contra a discriminação racial, podemos destacar as

Marchas organizadas pelo Movimento Negro, resultando em avanços legais

significativos para a comunidade negra. Em 1988, ano de Centenário da Abolição, no

Rio de Janeiro, foi realizada em 11 de maio, a “Marcha contra a farsa da Abolição 1888

– 1988. Nada mudou, vamos mudar”. Ainda neste ano, com a promulgação da

Constituição Federal, o racismo foi considerado crime inafiançável, conforme o artigo

5º, parágrafo XLII.14

Durante a década de 1990 as mobilizações do Movimento Negro continuaram e

um dos momentos significativos deste período foi a Marcha Zumbi dos Palmares Contra

o Racismo, pela Cidadania e a Vida15, realizada em 20 de novembro de 1995. A

denúncia do racismo em nossa sociedade foi marcada pela entrega, ao então presidente

da república Fernando Henrique Cardoso, de um documento (Programa de Superação

do Racismo e da Desigualdade Racial) no qual foi apresentado um diagnóstico da

91>. Acesso em: 28 abr. 2019. 12 SANTOS, S. A. Movimentos negros, educação e ações afirmativas. 2007. 554 f. Tese (Doutorado em

Sociologia) - Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, Brasília, 2007. Disponível em:

<http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/1973/1/Tese%20Sales%20versao%20final%20

3.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2019. 13 NUNES, Sandra Maria Maciel. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no

município de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2018. p. 45. 14 NUNES, Sandra Maria Maciel. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no

município de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2018. p. 46. 15 Dez anos depois foi realizada a Marcha Zumbi + 10, exigindo-se avanços nas questões relacionadas a

população negra no Brasil.

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desigualdade racial no país, bem como propostas de combate ao racismo e para o

desenvolvimento de políticas públicas nas diferentes áreas, inclusive a Educação.16

Outro momento marcante na história de luta do Movimento Negro foi a

participação na III Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a

Xenofobia e Intolerância Correlata, em Durban17, em 2001, na África do Sul. Assim, a

participação nesta Conferência representou um ponto de inflexão na forma de

entendimento de como o racismo historicamente tem se estruturado em nossa sociedade.

18 Desta forma, o Estado brasileiro reconheceu internacionalmente a existência

institucional do racismo em nosso país e se comprometeu em construir medidas para sua

superação. Assumindo o compromisso efetivo em implementar políticas de Estado, para

o combate ao racismo e a superação das desigualdades raciais. 19

Pensando na história do Movimento Negro contemporâneo, destacam-se a

organização de diferentes instituições (nacionais e locais), com a participação de

mulheres e homens negros, tais como: a Coordenação Nacional de Entidades Negras

(Conen), a União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), os agentes de Pastoral Negros

(APNs), a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) e a Coordenação

Nacional das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). 20

Neste sentido, não podemos deixar de referenciar o movimento da juventude

negra, que também tem o propósito de reverter à situação de discriminação, de racismo

e de violência da população negra, e está organizado a partir de grupos culturais, do

movimento hip-hop, na organização de partidos, sindicatos, e em coletivos de

estudantes, dentre outros. Os jovens negros estão presentes nos mais variados setores da

sociedade e se expressam por meio da participação no Movimento Negro e nos

movimentos sociais em geral.21

16 NUNES, Sandra Maria Maciel. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no

município de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2018. p. 46-47. 17 Em Durban foi reafirmado o entendimento sobre o direitos dos povos vitimados à reparação, e a

indicação aos Estados que orientassem políticas e programas de combate ao racismo e a discriminação.

(RIBEIRO, 2009). 18 NUNES, Sandra Maria Maciel. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no

município de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2018. p. 57. 19 GOMES, N. L. o movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação.

Petrópolis: Vozes, 2017 20 RIBEIRO, M. As políticas de igualdade racial no Brasil. São Paulo: Fundação Friedrich Ebert, 2009,

p.104 21 RIBEIRO, M. Institucionalização das políticas de promoção da igualdade racial no Brasil: percursos e

estratégias 1986 a 2019. 2013. 286 f. Teses (Doutorado em Serviço Social - Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo), 2013.

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No campo acadêmico destacamos a formação do Grupo de Trabalho 21 –

Educação e Relações Étnico-raciais, no âmbito da Associação Nacional de Pós-

Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), e a organização do I Congresso de

Pesquisadores Negros (COPENE). Neste evento foi fundada a Associação Brasileira de

Pesquisadores Negros (ABPN)22, com o objetivo principal de congregar pesquisadores

que estudam as relações raciais, surgindo da necessidade que os intelectuais negros

tiveram em produzir conhecimento do ponto de vista dos próprios negros e assim

intervir diretamente na produção do conhecimento científico. 23

Considerando a trajetória histórica do Movimento Negro, o mesmo ressignificou

e politizou o conceito de raça, compreendendo-o como uma construção social.24 Assim

é importante destacar que o Movimento Negro foi responsável por trazer para o debate

as discussões sobre racismo, discriminação racial, desigualdade racial presentes na

sociedade brasileira, e também foi responsável por criticar a democracia racial e impor a

ela a condição de mito. Estes debates foram relevantes para que houvesse mudanças em

nossa sociedade. Desde o princípio, o Movimento Negro destacou a Educação como

uma de suas bandeiras de luta contra o racismo e a discriminação racial. Reivindica o

direito à Educação e principalmente o direito a uma Educação pautada no

reconhecimento e na valorização do negro, reconhecendo-o como sujeito histórico e

produtor de cultura. 25

As ações que foram desenvolvidas, pelo Estado brasileiro após 1988, em

especial pelo Ministério da Educação, devem ser entendidas como decorrentes das

reivindicações do Movimento Negro em nossa sociedade ao longo de sua história.

Assim todo o esforço do Movimento Negro finalmente dá vida à Lei Federal nº

10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e dispõe

sobre a obrigatoriedade, em todo o território nacional, do ensino de história e cultura

afro-brasileira e africana e em todos os níveis de ensino.

O Movimento Negro de Ribeirão Preto acompanhou as mobilizações nacionais e

ao longo do século XX, e diversas foram as lutas travadas para garantir a dignidade dos

negros ribeirão-pretanos. Ativistas não só pleiteavam frente ao Poder Público melhores

22 NUNES, S.M.M. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no município de

Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2018. p. 48-49 23 SANTOS, S. A. Movimentos negros, educação e ações afirmativas. 2007. 554 f. Tese (Doutorado em

Sociologia) - Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Brasília, Brasília, 2007. 24 GOMES, N. L. o movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação.

Petrópolis: Vozes, 2017, p. 38 25 NUNES, S.M.M. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no município de

Ribeirão Preto. Ribeirão Preto, 2018. p. 49

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condições de vida e a garantia da igualdade, como também criavam seus próprios

espaços de cultura, educação, lazer, religiosidade, etc.

Desta forma, utilizando como referência o trabalho do professor e pesquisador

Sérgio Luiz de Souza, publicado em 2007, podemos contemplar como se deu a evolução

do Movimento Negro ribeirão-pretano no início do século XX. Segundo o autor, o

principal objetivo do trabalho foi refletir sobre as realidades culturais, repensando como

a população negra reinventou espaços culturais de convivência e mediação com os

grupos sociais brancos, avaliando as manifestações socioculturais da população negra,

percebendo a construção de estratégias que permitiam aos negros tecer espaços próprios

e específicos, em uma situação de dominação a que estavam submetidos.26

Assim no início do século XX, devido a economia cafeeira, Ribeirão Preto já se

configurava, nacional e internacionalmente, como “Le pays du café”, importante polo

comercial brasileiro. O projeto da elite local era transformar o município em um dos

mais avançados do país, em sua arquitetura e urbanística e isso se deu com a realização

de inúmeras reformas urbanas, bem como na percepção de que o espaço urbano era

também um espaço de ostentação destinado ao usufruto privado de uma determinada

parcela da sociedade. Destacando-se a elevação do quadrilátero central como um ponto

de referência, para os encontros das elites locais.27

Em contrapartida, o processo de marginalização do negro foi intenso. Houve

através das forças do Estado o cerceamento da realização de festas, cerimônias, e

congregações de pessoas negras não só em Ribeirão Preto, mas em todo o país. Os

negros, no início do século XX, foram proibidos de frequentar espaços destinados a elite

branca e de manifestar sua cultura, implicando numa redução drástica de sua cidadania.

Sendo assim, eles encontraram alternativas à repressão que constantemente sofriam, e

foi através da ressignificação de espaços territoriais que foi possível a eles usufruírem

da sua humanidade. Neste sentido, bailes, festas comemorativas, festas de cultos aos

santos, procissões, organização de associações de auxílio mútuo, blocos de carnaval

entre outros espaços foram criados para poder responder a esta demanda de necessidade

de agrupamento, autorreconhecimento e congregação.

Enquanto a efervescência nacional nos aponta a existência da Frente Negra

Brasileira, na década de 1930, similar a esse movimento, em 1910, nascia em Ribeirão

26 SOUZA, S. L. de. (Re)Vivências negras: entre batuques, bailados e devoções: práticas culturais e

territórios negros no interior paulista (1910-1950). Ribeirão Preto, 2007, p. 19 27 SOUZA, S. L. de. (Re)Vivências negras: entre batuques, bailados e devoções: práticas culturais e

territórios negros no interior paulista (1910-1950). Ribeirão Preto, 2007, p. 71

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Preto o “Club Recreativo e Beneficente dos Homens de cor”. Há relatos da existência de

outra antiga sociedade, formada somente por cozinheiras, a Sociedade das Cozinheiras.

Podemos citar ainda a Sociedade Carvão de Pedra Nacional, fundada por volta de 1920,

e a Sociedade Estrela Ditosa, iniciada em 1930, ambas formadas por trabalhadores

negros ferroviários, funcionários da Companhia Mogiana. Estas sociedades além de seu

caráter recreativo, e desenvolviam também ações de auxílio mútuo, as chamadas

sociedades beneficentes.28

Tendo a educação como forma de ascensão social, ações foram efetivadas no

município para tentar reverter o patamar de desigualdade educacional da população

negra. Direcionado aos “estudantes de cor”, em janeiro de 1932, surge em Ribeirão

Preto o Centro Recreativo e Literário Machado de Assis, embora também apresentasse o

caráter recreativo, esta sociedade negra pautou-se pela educação moral e intelectual dos

negros. Em 1942, iniciou suas atividades o Clube Negro de Cultura Física e Social, com

o objetivo de proporcionar a população negra de Ribeirão Preto, eventos de caráter

social, cultural e esportivo, buscando assim melhorar o nível geral da população negra

local. Neste sentido é importante salientar que a maioria das sociedades negras, deste

período, compartilhou uma linguagem cultural comum, isto é, constituída pela

ressignificação de práticas culturais que são tradicionalmente vinculadas a população

negra, quanto pela incorporação de símbolos culturais pertencentes a grupos sociais

hegemônicos da sociedade brasileira.29

Mais adiante na história, frisa-se, pela importância, entre diversas sociedades e

organizações das pessoas negras em Ribeirão Preto, o Clube Social e Recreativo José do

Patrocínio, fundado em 1972. Este clube foi central na década de 1980, no sentido que

através dele foi possível o desenvolvimento de algumas frentes que lutaram no combate

a discriminação e ao racismo no município. O Clube teve sede na Rua José Bonifácio,

59, no Centro de Ribeirão, por mais de 40 anos, onde atualmente é o prédio da União

Geral dos Trabalhadores (UGT). Mestre Miguel, com seu Grupo de Capoeira Cativeiro,

fez sede no Clube, um dos mais importantes grupos de capoeira, atuando nas

manifestações culturais de resistência. Destaca-se a ainda a influência política e cultural

trazida por Pedro Paulo, através do Grupo Travessia e os famosos festivais “Batuque de

Tocaia” e FECONEZU – Festival Comunitário Negro Zumbi.

28 SOUZA, S. L. de. (Re)Vivências negras: entre batuques, bailados e devoções: práticas culturais e

territórios negros no interior paulista (1910-1950). Ribeirão Preto, 2007, p. 161-163 29 SOUZA, S. L. de. (Re)Vivências negras: entre batuques, bailados e devoções: práticas culturais e

territórios negros no interior paulista (1910-1950). Ribeirão Preto, 2007, p. 164-167

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Portanto, Ribeirão sempre se colocou nessa posição central de resistência negra

perante as adversidades colocadas pela discriminação, e a forma mais genuína desse

movimento foi a presença massiva de organizações negras que tinham como prática a

potencialização dos direitos à educação, à cultura, ao lazer, entre outros que ocorreram à

margem da vida social e do Estado.

A LEI nº 11.645/2008 E A TEMÁTICA DA HISTÓRIA E DA CULTURA DOS

POVOS INDIGENAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA

De acordo com Parecer CNE/CEB 14/2015, desde a aprovação da Lei nº

11.645/2008, os sistemas de ensino e suas instituições educacionais têm sido desafiados

a trazer a temática da história e da cultura dos povos indígenas para dentro dos

estabelecimentos de ensino, o que não tem ocorrido sem tensões e contradições entre os

povos indígenas e os sistemas de ensino e suas instituições formadoras.

Isto se dá, principalmente, pelos modos equivocados de implementação dos

dispositivos desta Lei, incorporados na redação da Lei nº 9.394/96 de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDBEN), mas em muitos casos, não sendo cumpridos da

maneira estabelecida pelo referido diploma legal.

Desse modo, a Lei nº 11.645/2008 tem provocado inúmeros debates sobre a

necessidade de se repensar os processos relativos à formação de estudantes e de

professores dessa temática, diante de uma concepção mais alargada de cidadania, dada

pelo reconhecimento da participação dos povos indígenas na formação da sociedade

brasileira, bem como de suas culturas e patrimônios.

Neste sentido, a Lei tem favorecido a compreensão de que é preciso construir

representações sociais positivas que valorizem as diferentes origens culturais da

população brasileira como um valor e, ao mesmo tempo, crie um ambiente escolar que

permita a manifestação criativa e transformadora da diversidade como forma de superar

situações de preconceito e discriminações étnico-raciais.

A correta inclusão da temática da história e da cultura dos povos indígenas na

Educação Básica tem, assim, importantes repercussões pedagógicas na formação de

professores e na produção de materiais didáticos e pedagógicos, os quais devem atribuir

os devidos valores à história e culturas dos povos indígenas para o efetivo

reconhecimento da diversidade cultural e étnica da sociedade brasileira.

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Isso se faz necessário tendo em vista que, embora haja avanços inegáveis na

quantidade e na qualidade das informações atualmente disponíveis sobre os povos

indígenas, ainda existe, seja em termos de conhecimento acadêmico, seja em termos de

sua difusão pelos meios de comunicação social, tanto em esferas de governo quanto das

diferentes mídias, o desconhecimento e o preconceito em relação aos povos originários.

Esse mesmo preconceito ainda se faz presente com amplas ramificações em toda a

sociedade brasileira, o que exige grande esforço interinstitucional para superar essa

desinformação.

É importante lembrar que a referida Lei representa uma grande conquista para o

movimento indígena brasileiro no plano legal e também reflete um contexto

internacional de afirmação dos direitos sociais e individuais das minorias e dos grupos

historicamente marginalizados. Nas últimas décadas, tem se estabelecido uma política

de reconhecimento dos direitos das diversidades étnicas e culturais no âmbito do direito

internacional, fazendo surgir acordos, decretos e convenções de natureza multilateral.

Neste contexto histórico, as diferenças e diversidades étnicas, culturais e

linguísticas vêm deixando de ser vistas, pelo menos no plano formal ou legal, como

algo negativo e empecilho ao desenvolvimento de muitos países, passando a ser

oficialmente reconhecidas como patrimônios da humanidade, “riquezas” e valores éticos

universais que devem ser valorizados, promovidos e afirmados nos planos internacional,

nacional e local. Dentre esses documentos, merece destaque especial a Convenção nº

169/8930 da Organização Internacional do Trabalho sobre os Povos Indígenas e Tribais,

a qual foi ratificada e promulgada no Brasil por meio dos Decretos nº 143/2002 e nº

5.051/2004.

É necessário salientar que a década de 1970 foi marcada por uma intensa

mobilização indígena em toda a América e o Movimento Indígena Brasileiro

contemporâneo, nasce nessa conjuntura de mobilização e de mudança na forma de

entendimento sobre a questão indígena, neste momento passou-se a defender a

autodeterminação dos povos, além do direito ao território.31

A década de 1980 foi marcada pela atuação do Movimento Indígena no processo

de discussão da nova constituição brasileira. O novo texto constitucional aprovado em

30 Este documento destaca-se pela afirmação à autodeterminação dos povos, contestando qualquer política

assimilacionista, estabelecendo os direitos dos povos originários de participar do planejamento e da

execução de políticas de seu interesse. 31 FANELLI, G. de C. R. A Lei 11.645/08: história, movimentos sociais e mudança curricular. Mestrado

em Educação: História, Política, Sociedade. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),

2018, p. 26.

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1988, em seu artigo 231, garantiu aos povos indígenas o respeito e o direito a sua

“organização social, costumes, línguas, crenças e tradições e os direitos originários

sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União, demarcá-las,

proteger e fazer respeitar todos os seus bens” (BRASIL, 1988). O texto constitucional,

em seu artigo 210 § 2º, também garantiu o “respeito a utilização de suas línguas

maternas e processos próprios de aprendizagem”.

Após a promulgação da Constituição Federal, iniciam-se os debates sobre a nova

LDBEN, assim o Movimento Indígena, as universidades, os indigenistas, os

antropólogos e os professores indígenas buscaram elaborar uma proposta de educação

escolar para os povos indígenas. Uma proposta que garantisse os direitos a uma

educação específica, diferenciada e que respeitasse a autodeterminação e cultura dos

povos indígenas, além do direito a história e a memória desses povos.

O Movimento Indígena promoveu uma ressignificação da ancestralidade

originária e restituiu o orgulho de pertencimento a essa ancestralidade que por muito

tempo foi subjugada pelas diferentes formas de dominação colonialista. Dessa forma, o

Movimento Indígena reivindica direitos que foram negados e também o pertencimento à

história e a diversidade, discordando das noções genéricas de indianidade, das noções

deturpadas e preconceituosas, que foram construídas ao longo da história, por diferentes

instituições. 32

Assim em 1996, foi aprovada a LDBEN, na qual foi mencionada de forma

explícita a educação escolar para os povos indígenas, reconhecendo o direito ao

tratamento diferenciado, através da prática do bilinguismo e da interculturalidade. Além

disso, tivemos a reafirmação do artigo 242 da Constituição, através do § 4º do artigo 26,

no qual foi reconhecido que o “ensino da História do Brasil levará em conta as

contribuições das diferentes culturas e etnias para formação do povo brasileiro,

especialmente das matrizes indígena, africana e europeia” (LDBEN, 1996 art.26 § 4).

Nos anos que seguiram a aprovação da LDBEN o Ministério da Educação

(MEC) formulou os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), de caráter sugestivo e

não obrigatório, para cada área do conhecimento, e os volumes destinados aos Temas

Transversais. No tema transversal da Pluralidade Cultural o objetivo foi reconhecer a

diversidade dos povos indígenas e desfazer as generalizações e preconceitos em relação

32 FANELLI, G. de C. R. A Lei 11.645/08: história, movimentos sociais e mudança curricular. Mestrado

em Educação: História, Política, Sociedade. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP),

2018, p.47.

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aos diferentes povos originários. Ainda nos anos de 1990, o Conselho Nacional de

Educação estabeleceu as primeiras Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação

Escolar Indígena, por meio do Parecer CNE/CEB nº 14/99 e da Resolução CNE/CEB nº

3/99. Nestas normativas legais foi definido os fundamentos e conceituação da educação

indígena, a criação da categoria escola indígena, a formação do professor indígena, o

currículo e sua flexibilização, o funcionamento das escolas indígenas, dentre outras.

Esse conjunto de documentos internacionais, ao lado da Constituição Federal de

1988, da LDBEN, dos PCNs, de Pareceres e Resoluções, dentre outras normativas

legais, reconhece o Brasil como um país pluriétnico e multicultural, e fundamenta e

ajuda a garantir o direito dos povos indígenas de serem representados, nos currículos

escolares, em suas diversidades históricas, econômicas, políticas, culturais e

linguísticas.

Entretanto, percebe-se que ainda persistem muitas incompreensões em torno do

que determina a Lei nº 11.645/2008 em seu componente curricular referente à história e

culturas indígenas, quando, por exemplo, são desenvolvidas somente ações isoladas

para a criação e manutenção das escolas indígenas ou para a formação de seus

professores. Pode-se afirmar que, em determinados sistemas de ensino, por exemplo, há

programas e iniciativas que, baseados na ideia geral de diversidade ou de respeito a ela,

não apresentam ações específicas para o tratamento da temática indígena nas escolas.

Em alguns casos, as ações realizadas nesse campo são feitas sem a devida orientação

antropológica, linguística ou histórica, provocando a reprodução de estereótipos e

preconceitos tradicionalmente utilizados contra os povos indígenas.

Assim, considerando as determinações do Conselho Nacional de Educação, que

estabelece aos Conselhos de Educação, de todas as instâncias do sistema nacional de

educação, a tarefa de orientar, por meio de seus atos normativos, os diferentes órgãos

executivos do respectivo sistema de ensino e instituições formadoras de professores e

seus estabelecimentos de ensino para o esforço de organizar e reorganizar seus projetos,

programas, propostas curriculares e pedagógicas, de modo a se adequarem ao proposto

na LDBEN, na redação dada pela Lei nº 11.645/2008, acompanhando sua

implementação e articulando ações e instrumentos que permitam o correto tratamento

da temática da história e da cultura dos povos indígenas pelos sistemas e

estabelecimentos de ensino, o Conselho Municipal de Educação de Ribeirão Preto

orienta, através do presente Parecer e normatiza, através de Deliberação, o ensino da

temática indígena no Sistema Municipal de Ensino.

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A IMPLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL E O ENSINO DE

HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA EM RIBEIRÃO

PRETO

Secretaria Municipal de Cultura:

Considerando que o processo de promoção da Educação para a Igualdade Racial,

teve na região de Ribeirão Preto, um grande avanço, considerando que o município de

Bebedouro inclui cotas raciais nos concursos públicos desde 2002, resultando na

presença de três conselheiros no Conselho de Participação e Desenvolvimento da

Comunidade Negra do Estado de São Paulo.

Em 2001, na Secretaria Municipal de Cultura, ocorreu um seminário, no mês de

novembro, com a presença do professor Valter Silvério da UFSCar, a respeito de uma

proposta de Educação para a Democracia que incluía a Educação para a Igualdade

Racial.

O espaço político da Cultura, muitas vezes se intercala com o espaço da

Educação. Em Ribeirão Preto, durante o período de 2001 a 2004, essa ação foi

reforçada, considerando que na Secretaria Municipal de Cultura existia um

“coordenador de Cultura Negra”. É importante destacar, como ocorreu na Secretaria

Municipal de Educação, em anos posteriores, não era regular, ter uma pessoa que

ocupava um cargo na estrutura administrativa da Secretaria Municipal de Cultura,

responsável pela Cultura Negra. Nestes anos, foram responsáveis pela Coordenação de

Cultura Negra: Romilson Madeira, Maria Helena Ramos de Oliveira, Oseias e André

Luis Justino. Neste momento não existia efetivamente recursos financeiros específicos

oriundos do poder público municipal.

Em 2002, a Secretaria Municipal da Cultura, juntamente com o Instituto Plural

lançou o livro paradidático Abionan: nascido no caminho, com uma proposta de

Educação para as Relações Étnico Raciais, dirigido exclusivamente a crianças de sete a

dez anos, com textos de Silvia Helena Seixas e ilustração de Maria Helena Ramos de

Oliveira, distribuídos a instituições não governamentais.

Neste mesmo período foi apresentado na Câmara Municipal de Ribeirão Preto,

um projeto que tinha como objetivo a instituição de uma Política Municipal de Ações

Afirmativas, não evoluindo para sua aprovação.

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Conselho Municipal da comunidade Negra (COMDECON):

Foi instituído o Conselho Municipal da Comunidade Negra (COMDECON), que

funcionou somente por uma gestão, sendo presidido pelo Mestre Tião Preto, que na

época representava o Grupo Cativeiro de Capoeira, ficando na presidência até 2004.

Após o ano de 2005, apesar de várias tentativas, inclusive formalmente, a administração

pública não reorganizou este Conselho.

Importante ressaltar, neste período, a inclusão da Capoeira de forma sistemática,

na Educação, por ação do Movimento Negro, conseguiu-se a contratação dos Mestres de

Capoeira na condição de professores temporários, ação perdida nas administrações

posteriores.

Programa São Paulo Educando pela Diferença para a Igualdade:

Em 2003, através dos membros do Conselho Estadual, Ribeirão Preto, foi

incluída no projeto piloto do Programa São Paulo: educando pela diferença para a

igualdade, que neste ano se limitava a quatro diretorias de ensino, contemplando 200

professores, neste momento não havia convênio com a Universidade Federal de São

Carlos (UFSCar). Este projeto foi instituído pela Comissão de Educação do Conselho

Estadual, que na época era coordenada por Silvia Helena Seixas.

Ribeirão preto, também foi incluído na segunda fase do Programa, através do

Convênio com a UFSCar Em uma terceiro momento, quando o Conselho Estadual

iniciou o diálogo com todas as prefeituras a fim de instituir o Programa também nas

administrações municipais, Ribeirão Preto editou o decreto municipal nº 210 de 10 de

agosto de 2006, com base no decreto estadual nº 48.328, de 15 de dezembro de 2003.

Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMDEPIR):

Ribeirão Preto, tem hoje o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade

Racial (COMDEPIR), nomenclatura que acompanha o recomendado pelo Sinapir, com

dois anos de existências, e muitas dificuldades, mas que já no início do primeiro ano,

elencou a Educação e a Saúde como prioridades. Com isso já realizou logo no seu

primeiro ano, um encontro com a participação do Neab da UFSCar, e do professor

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Marcos Antonio Cardoso, para formação inicial dos conselheiros, aberto a população,

que tem como obrigação em especial, o monitoramento das atividades ligadas ao tema.

No ano de 2016, o COMDEPIR conseguiu através de emendas parlamentares

recursos para realização de várias atividades, entre elas, um curso de 40 horas de

História da África e Relações Étnico-Raciais, ministrado em parceria com a Secretaria

Municipal da Educação e da Cultura, no espaço do Centro de Acompanhamento,

Avaliação e Formação - CAAF, realizado no ano de 2018.

No ano de 2016, o COMDEPIR, encaminhou comunicação a TODOS os

candidatos a Prefeito de Ribeirão Preto, para discussão e assinatura do termo de

compromisso, atividade realizada na Associação dos Advogados de Ribeirão Preto, cuja

texto segue:

Considerando o histórico de luta da militância negra Ribeirão

Pretana;

Considerando a necessidade da adoção do princípio da não

discriminação nas políticas sociais, o que significa diagnosticar, localizar,

planejar, definir diretrizes e metas e implementar ações para eliminar fontes

de discriminação direta e indireta, bem como todas as formas de

desigualdades, preconceito e racismo;

Considerando a necessidade de assegurar a transversalidade das

políticas de promoção da igualdade racial, superação do racismo e melhor

condição de vida para a população negra, no âmbito das secretarias e demais

órgãos da administração pública na cidade de Ribeirão Preto;

Considerando a necessidade de Implementar e ampliar na esfera

Municipal as políticas, os programas e as ações afirmativas dirigidas à

população negra, e

Considerando a necessidade de Garantir ações e programas

específicos de políticas públicas que contribuam com o empoderamento da

população negra no mercado de trabalho, bem como, investir no

fortalecimento institucional das organizações do movimento negro Ribeirão

Pretano. O Candidato abaixo assinado, neste ato declara formalmente

compromisso na implementação das Propostas de Políticas de Ações

Afirmativas, apresentadas pelo Conselho Municipal de Promoção da

Igualdade Racial de Ribeirão Preto, a saber:

Compromissos:

Criação da Secretaria de promoção da Igualdade racial e na

impossibilidade, criação dentro da Secretaria dos Direitos Humanos a

Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial, instituindo a Prefeitura

como signatária dos sistemas Nacionais e Estaduais de Promoção da

Igualdade;

Realizar Jornadas de Formação para o Combate ao Racismo, as

chefias de toda a administração municipal;

Garantir pela secretaria da Casa Civil/ Governo/Gabinete do

prefeito, uma agenda anual garantindo a comemoração/discussão dos dias: 21

de março (Dia Internacional Pela Eliminação da Discriminação Racial); 13 de

maio (Dia Nacional de Luta Contra o Racismo); 25 de julho (Dia da Mulher

Negra Latino Americana e Caribenha), e dia 20 de novembro (Dia Nacional

da Consciência Negra). Inclusão de acesso de negros, gradativa nos cargos de comissão de

livre nomeação da Prefeitura Municipal, iniciando-se no ano de 2017 com no

mínimo 10% devendo atingir em 2020 o total 20%;

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Inclusão nos editais de qualquer modalidade de licitação, da

necessidade da empresa possuir em seus quadros funcionais (em todos os

níveis) de no mínimo 10% de negros, para prestação do objeto da licitação;

Inclusão de negros e negras na publicidade Oficial, conforme prevê

o Estatuto da Igualdade racial;

Na questão da Saúde, incluir um representante, indicado pelo

COMDEPIR, no Conselho Municipal de Saúde; Garantia no Plano de

Governo, o compromisso de cumprimento das DIRETRIZES, estabelecidas

pela Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN),

instituída pela Portaria Ministerial n° 992/2009; e Inclusão dos temas

Racismo e Saúde da População Negra nos processos de formação e educação

permanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do controle social na

saúde;

Garantir condições para manifestações culturais africanas e afro-

brasileiras, nos âmbitos da dança, música, artes plásticas, artes cênicas e

demais produções artísticas;

Implantação da capacitação de educadores /professores na temática

de história e cultura africana e afro-brasileira, nos termos da Lei de Diretrizes

e Bases da Educação em especial sua emenda através da Lei 10.639/03; nos

termos da Resolução do CNE e Parâmetros Curriculares Nacionais, incluindo

a produção de material didático-Pedagógico que inclua a discussão das

Relações Étnico-Raciais;

Inclusão sistêmica da capoeira e demais manifestações negras no

processo escolar, através da criação do cargo de Monitor/instrutor de capoeira

com acesso a concurso público ou processo seletivo (nos mesmos moldes do

recém criado referente ao judô);

Garantia de estrutura física e de Recursos Humanos para o

COMDEPIR, incluindo fortalecimento de seu Fundo para ações de formação.

Ribeirão Preto, setembro de 2016”

Em 2017, na administração municipal eleita em 2016, foi realizada uma

audiência e indicado a Educação como fator principal no processo, e diante disso

agendada reunião com a secretária Sueli Vilela, e sua assistente Clarice, para que se

iniciasse uma discussão com o processo, que teve um esfriamento após sua saída.

Por ofício do COMDEPIR, foi retomado o assunto em 2018 com a nova

Secretária, que informou que a partir daquela data, Rafael dos Anjos Silva, seria o elo

da Educação para as Relações Étnico-raciais, na SME, inclusive nomeado como

representação da secretaria junto ao COMDEPIR.

O Comdepir recebeu convite do Conselho Municipal de Educação que discutia o

assunto, e por entender no tocante a legislação específica da Educação, que o espaço do

CME e o regular para discussão e deliberação, sendo o Conselho parceiro secundário

neste tema, aceitou o convite e integra a comissão do CME.

Secretaria Municipal de Educação:

Os dados apresentados a seguir tomam como ponto de partida a promulgação da

Lei 10.639 em janeiro de 2003, assim em 2004, o Movimento Negro de Ribeirão Preto,

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representado por diversos grupos e valendo-se do contexto das eleições municipais de

2004, apresentaram propostas aos diversos candidatos ao cargo de Prefeito do

município, buscando firmar um compromisso para o desenvolvimento de ações

afirmativas para a população negra em Ribeirão Preto.

Durante as eleições municipais de 2004, diversas representações do Movimento

Negro de Ribeirão Preto firmaram compromissos com os candidatos a prefeito.

Referidos acordos tiveram como constante o comprometimento dos candidatos em

desenvolver políticas públicas destinadas à promoção da igualdade racial. O Centro

Cultural Orùnmilá33, um dos representantes do Movimento Negro, havia articulado

compromisso político com o então candidato Welson Gasparini, eleito em 26 de outubro

de 2004 para administrar o município, fazendo com que o mesmo se comprometesse a

criar uma Assessoria de Promoção da Igualdade Racial e a indicar um nome, escolhido

pelo próprio Centro Cultural Orùnmilá, para assumir a implementação da Lei

10.639/2003, na Secretaria Municipal de Educação (SME).

Ainda que o acordo tenha sido firmado pelo Prefeito, o ativismo negro foi

fundamental para que o município desse início de fato ao processo de implementação da

Lei 10.639/2003. E somente em novembro de 2005 foram assinadas as portarias de

nomeação para o cargo de provimento em comissão de um Assessor de Gabinete, junto

ao gabinete do Prefeito e, também para o cargo de uma Assessora Técnica Educacional,

junto a SME, ficando responsável pela implementação da Lei 10.639/2003 no sistema

municipal de ensino e vinculada diretamente ao gabinete do Secretário Municipal de

Educação.34

No entanto, a nomeação da Assessora Técnica Educacional não foi suficiente

para dar início à implementação da Lei no município. Segundo seu relato, ela não

contava com um espaço físico dentro da SME/RP para desenvolver suas atividades,

sendo alocada em uma escola municipal. Nesta unidade escolar, além de desenvolver o

trabalho para que foi nomeada, envolveu-se com as demandas do cotidiano escolar,

resolvendo conflitos raciais que ocorriam dentro da escola. Buscando desenvolver

alternativas para a implementação da Lei 10.639/2003 na SME, dedicou-se à elaboração

33 O Centro Cultural Orùnmilá foi fundado em março de 1994, no bairro do Tanquinho, zona Norte do

município de Ribeirão Preto – SP. Nascido de uma Casa de Orixá, este Centro Cultural tornou-se um

importante “intelectual coletivo” na luta contra o racismo e a discriminação racial. Disponível em:

<http://orunmila.institucional.ws/origem/>. Acesso em: 27 abril. 2019. 34 NUNES, Sandra Maria Maciel. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no

município de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, 2018. p. 104-105

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de um plano de trabalho junto ao MEC e ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação (FNDE).35

Nítido, portanto, está o racismo institucional, pois, ainda que houvesse uma

Assessora Técnica Educacional devidamente nomeada, a Secretaria Municipal da

Educação colocou toda forma de empecilho para que não conseguisse desenvolver seu

trabalho da forma adequada. Ainda assim, convencida da importância da implementação

da Educação Étnico- Racial, a Assessora conseguiu ter seu projeto aprovado no final do

ano de 2006, o qual objetivava o desenvolvimento de um curso de formação continuada

para os educadores e gestores das escolas municipais, sobre as Relações Étnico-raciais,

História e Cultura Africana e Afro-brasileira.

No segundo semestre de 2006, em 10 de agosto, foi promulgado o Decreto nº

21036, no qual foi instituída, no âmbito da administração pública municipal, a Política

de Ações Afirmativas para Afrodescendentes. Neste decreto, além da instituição da

política pública de promoção da igualdade racial, foi criada, com o apoio da Secretaria

Municipal da Casa Civil, a Comissão de Coordenação e Acompanhamento da Política

de Ações Afirmativas para os afrodescendentes. De acordo com o referido decreto,

coube a esta Comissão sugerir diretrizes e procedimentos administrativos que

garantissem a adequada implementação da Política de Ações Afirmativas em todas as

secretarias municipais.

Coube à Secretaria Municipal da Educação as seguintes incumbências

específicas que explicitamos a seguir:

Artigo 6º - A Secretaria da Educação deverá:

I - No exercício das prerrogativas fixadas no artigo 24, IX e §§ 1º a 4º, da

Constituição Federal, desenvolver um plano de ação para capacitação dos

docentes e inclusão, no currículo das escolas da rede pública municipal, do

ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, na forma da Lei Federal no

9.394, de 20 de dezembro de 1996, com a alteração prevista na Lei Federal

no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e legislação correlata;

II - desenvolver o "Programa Ribeirão Preto: Educando pela Diferença para a

Igualdade" - Capacitação dos professores das áreas de Educação Artística,

Literatura e História a ser discutida com os representantes da Comunidade

Negra.

Parágrafo Único - O Secretário da Educação criará, mediante resolução,

comissão para o desenvolvimento do programa a que se refere o inciso II

deste artigo, assim como destinará recursos para sua implantação.37

35 NUNES, Sandra Maria Maciel. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no

município de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, 2018. p. 105-107 36 Este decreto foi baseado no Decreto Estadual 48.328, de 15 de dezembro de 2003. 37 RIBEIRÃO PRETO. Decreto no 210, de 10 de agosto de 2006. Institui, no âmbito da administração

pública do município de Ribeirão Preto, estado de São Paulo, a Política de Ações Afirmativas para

Afrodescendentes e dá providências correlatas. Diário Oficial do Município de Ribeirão Preto – SP,

Ribeirão Preto, SP, 11 ago. 2006. Disponível em:

<http://cultura.pmrp.com.br/dom/200608/060811/i73executivo.php>. Acesso em: 28 abril. 2019.

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Verifica-se, dessa forma, que o decreto elaborado, ainda em vigor, dita as ações

para a SME quanto à implementação da educação étnico-racial no município, entretanto

o mesmo não contemplou a amplitude e profundidade exposta pelo Parecer CNE/CP

003/2004. Devemos considerar também que o mesmo foi aprovado antes da publicação

do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-

Brasileira e Africana. É importante considerar que no referido decreto, a formação

docente foi denominada como “capacitação” de professores, cabe destacar que muitos

projetos ou programas desenvolvidos por estados e municípios são oferecidos neste

formato de capacitação, o qual está relacionado a formações aligeiradas e superficiais e

não atendem as necessidades básicas dos professores. Os programas de formação

docente devem romper com esta concepção de “capacitação”, e considerar os novos

paradigmas de formação continuada de professores.38Assim,

Já haviam se passado quase dois anos da posse da atual gestão e, embora

houvesse ocorrido nomeações, assinaturas de decretos e portarias, aprovação

de projeto de formação docente e até a apresentação da Assessora Técnica

Educacional para os gestores da SME, a implementação da Lei 10.639/2003

no município, ainda estava longe de produzir ações concretas. [...] Assim,

uma das condições necessárias à implementação da Lei 10.639/2003 e suas

Diretrizes Curriculares no município estavam diretamente relacionadas à

aceitação dos gestores públicos, neste caso prefeito e secretário municipal da

educação, em desenvolver uma política educacional que contemplasse a

diversidade e o direito à diferença, e não apenas à continuidade de uma

política universalista no campo da Educação. Desta forma, reconhecer as

desigualdades raciais e a necessidade de realizar políticas direcionadas à

população negra foi um fator importante para que as ações fossem efetivadas,

e o posicionamento e a atuação do Movimento Negro foram determinantes

para o reconhecimento dessa problemática por parte do poder público.39

Neste sentido, somente com a nomeação de um novo Secretário de Educação, a

Assessora Técnica Educacional passou a atuar dentro das dependências da SME e a

desenvolver um trabalho direcionado, especificamente para a implementação da Lei

10.639/2003. A partir deste momento, diversas ações foram desenvolvidas pela

SME/RP. Nos anos que se seguiram foram nomeados, dois outros Assessores Técnicos

Educacionais (cargo de provimento em comissão) responsáveis pelo processo de

implementação da Lei 10.639/2003 no município. A SME durante o período de 2005 a

2016, nomeou três assessores responsáveis pela implementação da Lei 10639/2003 no

38 NUNES, Sandra Maria Maciel. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no

município de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, 2018. p. 110-111. 39 NUNES, Sandra Maria Maciel. A implementação da Lei 10.639/2003 e seus desdobramentos no

município de Ribeirão Preto. Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, 2018. p. 114-115.

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município, são eles: Silvany Euclênio Silva, Antônio Carlos Lopes Petean e Rosana de

Lourdes Alves Monteiro da Silva. Assim ao longo do período de 2005 a 2016,

identificamos três momentos específicos, nos quais essas ações foram desenvolvidas.

Durante o primeiro momento, as seguintes ações foram desenvolvidas: a

realização de seminários; palestras; oficinas de sensibilização; visita monitorada ao

Museu Afro Brasil; cursos de curta duração; mostra de trabalhos produzidos pelos

discentes; festival de dança; organização de eventos para a Semana da Consciência

Negra; Conferência Regional de Promoção da Igualdade Racial; projetos de formação

docente direcionados a algumas escolas da Educação Infantil; desenvolvimento do

Projeto Baobá - Ribeirão Preto Educando para a Igualdade Étnico-racial, direcionado

à formação docente e a distribuição de material didático para as unidades escolares e por

fim a criação de uma Comissão na SME para promoção e acompanhamento do

desenvolvimento do Projeto Baobá - Ribeirão Preto Educando para a Igualdade

Étnico-racial.

No segundo momento podemos citar as seguintes ações desenvolvidas:

organização de eventos na Semana da Consciência Negra; palestras; oficinas; curso de

curta duração; seminário; exposição de fotografia e arte; concurso fotográfico; visita

monitorada ao Museu Afro Brasil; visita monitorada ao Centro de Documentação,

Cultura e Política Negra de Piracicaba; e a distribuição de material didático. Durante

este período houve uma aproximação com pesquisadores universitários para o estudo e

desenvolvimento das políticas públicas.

No terceiro momento destacam-se as seguintes ações: realização de oficinas;

palestras; cursos de extensão para a formação docente; curso de aperfeiçoamento

oferecido pela UFSCar; cursos de curta duração; formação docente oferecida em horário

de Trabalho Docente Coletivo (TDC), distribuição de jogo educativo com foco na

história do negro na localidade; Simpósio Regional de Educação Inclusiva; Festival de

Cultura Afro Dandhara; Ação Sankofa: socialização das ações desenvolvidas em

algumas escolas municipais; Curso Diversidade Étnico-racial: Invisibilidade do Negro

em Ribeirão Preto; Mostra sobre Práticas Pedagógicas do Sistema de Ensino Municipal;

Programa Mais Cultura na Escola; Produção de material didático: Mapa Cultural e

Roteiro de Formação Docente e a ampliação da equipe técnica responsável pela

implementação da Lei 10.639/2003 na SME.

Após o final do ano de 2016 a SME/RP deixou de ter um Assessor Técnico

Educacional responsável pela implementação da Lei 10.639/2003, e nenhum outro foi

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nomeado por esta secretaria. A seguir destacamos as ações desenvolvidas nos anos

seguintes.

No ano de 2017 destacam-se as seguintes ações: organização dos currículos nas

unidades escolares, com a temática da educação étnico-racial; ocupação da cadeira do

COMDEPIR por um representante da SME; participação na Conferência Regional da

Promoção da Igualdade Racial; atividades para os estudantes na Semana da Consciência

Negra e debate sobre racismo na Educação Infantil.

No ano seguinte foram desenvolvidas as ações de formação de professores em

Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), a Jornada sobre a saúde da população negra

e o desenvolvimento de projetos permanentes de valorização da cultura afrobrasileira e

africana.

Assim, como podemos notar, diferentes ações foram realizadas nos períodos

mencionados. Neste sentido, faz-se necessária algumas considerações sobre o que foi

realizado no município no que diz respeito à implementação da Lei 10.639/2003.

Cabe aqui enaltecer e valorizar o trabalho de ativistas negros e de educadores

que, por iniciativa própria, mesmo que de forma pontual, vêm realizando trabalhos com

a temática aqui abordada.

Já de início é imprescindível destacar a importância que o Movimento Negro

teve no processo de implementação da Lei. Sua participação foi decisiva e determinante

para que o chefe do executivo municipal assumisse publicamente o compromisso em

promover políticas públicas de promoção da igualdade racial. Neste sentido o

Movimento Negro pode ser entendido como um dos principais atores que reeducam a

sociedade, através da luta antirracista.40 O caminho trilhado não se fez sem embates e

dificuldades, tão pouco sem as evidências do racismo institucional e do mito da

democracia racial.

A regulamentação da referida Lei no município se deu, a princípio através do

Decreto nº 210/2006 e da Resolução SME nº 08/2007. Neste sentido nenhum outro

documento legal foi produzido, assim a elaboração deste Parecer e da Deliberação

coloca o município de Ribeirão Preto dentro das atribuições e incumbências que

determinam os aportes legais que fundamentam a Lei 10.639/2003 e a Lei 11.645/2008.

Sabemos que em 2009 foi instituído o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de

História Cultura Afro-brasileira e Africana, nesta normativa foram estabelecidas as 40 GOMES, N. L.

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atribuições dos sistemas municipais de ensino, relacionadas à implementação das

Diretrizes. Neste sentido faz-se necessária a adequação da legislação municipal ao Plano

Nacional, levando-se em consideração os seis eixos que fundamentam o processo de

implementação da referida Lei e as atribuições dos sistemas municipais de ensino.

Assim, uma das incumbências da SME é promover a formação docente de maneira

sistêmica e regular, em colaboração com as instituições de ensino superior (IES), com

os Núcleos de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABIs), e com o Movimento

Negro.

O Decreto nº 210/2006 instituiu no âmbito da administração pública uma

Política de Ações Afirmativas para Afrodescendentes, criando uma Comissão de

Coordenação e Acompanhamento desta Política. Este documento determinou

incumbências específicas para as secretaria municipais, ainda que de forma limitada,

neste caso, a SME deveria promover e desenvolver um plano de ação para

“capacitação” dos docentes e a inclusão, no currículo das escolas, do ensino de História

e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Entretanto, o mesmo não levou em consideração

todas as possibilidades apontadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação

das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História Cultura Afro-brasileira e Africana,

ele apenas indicou um plano de ação para desenvolver uma “capacitação” docente.

Como já foi dito anteriormente, o termo “capacitação” remete a formações aligeiradas e

superficiais. O referido Decreto destinou a “capacitação” especificamente para os

professores de Educação Artística, Literatura e História.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História Cultura Afro-brasileira e Africana, a

obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira se dá no âmbito de todo o

currículo escolar. Sabemos que os cursos de formação docente promovidos pela SME

foram disponibilizados a todos os docentes e gestores, no entanto é importante que esta

legislação esteja em consonância com as normativas estabelecidas pelo Conselho

Nacional de Educação. Entendemos a importância da formação docente para o

desenvolvimento das políticas educacionais, e em especial para o desenvolvimento das

políticas públicas de promoção da igualdade racial, entretanto a partir do que foi

explicitado, restringir as incumbências da SME somente ao desenvolvimento de cursos

de formação docente, expõe a insuficiência de medidas destinadas ao processo de

implementação da referida Lei.

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É importante destacar também que os cursos de formação docente, oferecidos

pela SME, na maioria das vezes não eram obrigatórios, e foram ministrados fora do

período de trabalho dos professores, o que culminou numa baixa adesão por parte dos

docentes, assim se faz necessário utilizar os horários destinados à formação docente

presentes em sua jornada de trabalho. Além disso, os cursos em sua maioria atenderam a

professores interessados nesta temática, tendo em vista que a maioria dos processos

formativos se dava por adesão. É necessário garantir também a formação dos todos os

professores, inclusive aqueles que ainda são resistentes à temática étnico-racial. Os

referidos cursos devem ter como foco a sensibilização dos docentes e também a sua

formação acadêmica, por meio de conteúdos científicos e bibliografia referenciada.

Além disso, recomenda-se que esta formação seja realizada não só nos espaços

convencionais, como também em museus, arquivos históricos e demais espaços

culturais e socioeducativos.

Conforme o Plano Nacional de Implementação, os sistemas de ensino também

devem ser produzido materiais didáticos que promovam de forma positiva a imagem do

negro, sua cultura e sua história, além de abordar a temática das relações étnico-raciais,

da discriminação, do preconceito e do racismo. A SME/RP realizou a produção e

distribuição de materiais didáticos destinados aos discentes e aos docentes, política esta

que deve ser destacada e mantida em caráter permanente. No entanto, deixamos a

ressalva de que o Plano Nacional de Implementação preconiza que os materiais

didáticos tenham maior apego a história dos negros da localidade, ou seja, existe a

necessidade de produzir maior número de materiais que apresentem e enalteçam os

feitos dos negros da região de Ribeirão Preto, neste momento é importante a

aproximação da SME com o Movimento Negro local, bem como com as instituições de

ensino superior (IES).

Outro ponto de extrema importância é a inexistência de um plano de ação

municipal para a implementação da Educação das Relações Étnico-raciais e para o

ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana. O MEC disponibilizou um

Plano Nacional de Implementação, sendo assim é necessário que se faça um estudo

aprofundado deste plano e, a partir dele, se formule um plano municipal. Referida

tarefa, segundo o próprio Plano Nacional, é uma incumbência da CME/RP em conjunto

com a SME/RP.

Segundo o Plano Nacional de Implementação também cabe aos CMEs a

regulamentação, avaliação e o monitoramento das ações que tem como objetivo a

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implementação da educação étnico-racial. Durante os períodos analisados houveram

poucos momentos em que o CME pôde avaliar o processo, o que não é suficiente.

Portanto deve-se desenvolver mecanismos para que o CME/RP consiga cumprir seu

papel de forma plena, bem como garantir a diversidade étnica na composição do

CME/RP para que, assim, se promova a efetiva implementação da Lei nº 10.639/03.

É importante destacar que a regulamentação das Diretrizes Curriculares

Nacionais no município é de fundamental importância para que a política pública de

promoção da igualdade racial tenha perenidade e efetividade. Os municípios devem

promover o fortalecimento do marco legal, através de seus CME, proporcionando a

institucionalização da temática étnico-racial em seus sistemas de ensino. A partir da

regulamentação da Lei 10.639/2003 e suas Diretrizes, as ações e os programas

desenvolvidos pela SME não estarão limitados apenas a formação docente, mas a um

conjunto de ações destinadas ao desenvolvimento de uma pedagogia antirracista.

Ademais, não podemos deixar de citar que a implementação da Educação

Étnico-racial deve ser efetiva e permanente, ou seja, devem ser garantidas condições

institucionais para que a política de implementação se dê de forma contínua e com a

amplitude e profundidade prevista no Plano Nacional de Implementação. Muitas foram

as dificuldades dos Assessores Técnicos Educacionais para a realização de seu trabalho:

falta de material, falta de autonomia institucional, falta de estrutura física, falta de

equipe técnica e falta de recursos financeiros são algumas dessas dificuldades. Em

muitos momentos as ações só se deram por conta de financiamentos federais ou pela

pelo envolvimento dos Assessores com a temática racial, fosse pela militância ou pela

carreira acadêmica e, por isso, estavam convictos da importância da Lei e da

necessidade em combater o racismo e a discriminação racial, mostraram-se empenhados

na materialização de políticas de reconhecimento e de valorização da história e da

cultura africana e afro-brasileira e foram, principalmente, conscientes da importância da

discussão étnico-racial no contexto educacional. E, como se não bastasse, o cargo dos

Assessores era comissionado, o que não lhes garantia a segurança necessária para a

execução das ações, considerando que os mesmos foram nomeados, pelo chefe do

executivo, em comissão, isto é, ocuparam temporariamente o cargo de Assessor Técnico

Educacional na administração pública municipal, desta maneira, demonstrando a

vulnerabilidade deste processo.

Deste modo, seguindo o que determina o Plano Nacional de Implementação,

bem como a Resolução CNE/CP nº 01/2004 e o Parecer CNE/CP nº 03/2004, é

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fundamental que se crie uma estrutura permanente dentro do desenho institucional

(organograma) da SME/RP que disponha de dotação orçamentária específica e

previamente prevista, que tenha autonomia administrativa e institucional para a

realização de seus projetos e ações, que tenha uma equipe técnica permanente composta

por especialistas, acadêmicos e ativistas negros e que seja dirigida por uma figura

institucional escolhida de forma democrática pelos próprios professores do sistema

municipal de ensino.

Frisa-se a importância da transversalidade na implementação da Educação

Étnico-racial, uma vez que esta está intimamente ligada a promoção de demais ações

afirmativas voltadas à promoção da igualdade racial. Sendo assim, é necessário o

trabalho em conjunto com as demais Secretarias, conforme prevê o próprio Decreto nº

210/2006, para que a dignidade da pessoa humana seja garantida à comunidade negra

que compõe o povo ribeirão-pretano.

Assim, os municípios têm um papel importante, na promoção da Educação em

nossa sociedade, garantindo sistemas de ensino que priorizem a Educação das relações

étnico-raciais. Sabemos que a Educação é vista como um dos espaços possíveis para a

luta contra o racismo. Para Gonçalves41 esta luta é bastante complexa quando sabemos

que teremos que enfrentar um forte inimigo, o mito da democracia racial. Sabemos

também que não encontraremos um espaço neutro, a escola ainda é uma instituição onde

convivem conflitos e contradições. Neste sentido é necessário construir políticas

públicas consistentes e permanentes que não reproduzam o racismo e a discriminação

racial, mas, no entanto, produzam novas pedagogias antirracistas, buscando a educação

das relações étnico-raciais positivas, e tenham como “objetivo fortalecer entre os negros

e despertar entre os brancos a consciência negra” como nos diz a professora Petronilha

B. G. e Silva em seu Parecer CNE/CP 03/2004.

Por fim, reforçamos a necessidade de tratar a implementação da Educação

Étnico-racial de forma séria, de modo a garantir uma educação inclusiva, representativa

e que dê a todos os cidadãos ribeirão-pretanos as condições de entenderem as

complexas relações sociais e étnicas de nosso município, estado e país. Logo, faz-se

necessária a edição e aprovação de uma deliberação das Diretrizes Curriculares

Municipais, por parte do CME/RP que considere todo o acima exposto e que se baseie

41 GONÇALVES, L. A. O. Pensar a Educação, pensar o racismo no Brasil. In: FONSECA, M. V.;

SILVA, C. M. N. da; FERNANDES, A. B. Relações Étnico-raciais e Educação no Brasil. Belo

Horizonte: Mazza Edições, 2011. p. 93-144.

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da legislação pertinente exaustivamente mencionada ao longo deste parecer para que se

regulamente a implementação a educação étnico-racial no sistema de ensino do

município de Ribeirão Preto e para que este cumpra suas obrigações educacionais

previstas na Constituição Federal e na Lei Federal nº 10.639/2003.

DELIBERAÇÃO DO PLENÁRIO

O Conselho Municipal de Educação aprova, por unanimidade, o presente Parecer nos

termos do voto da Comissão.

Sala do Plenário, em 12 de Setembro de 2019

COMISSÃO ESPECIAL DE ESTUDOS

Claudinei de Souza

Eduardo Machado

Gabriel Leví Borges de Souza

Jair Fortunato Borges Junior

Marcelo Vinicius Domingos Rodrigues dos Santos

Marcio Silva

Rafael José dos Anjos Silva

Sandra Maria Maciel Nunes

Silvia Helena Seixas

MARCIO SILVA

PRESIDENTE DO CME/RP