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Grupo de Supervisão de Bordo do DEA/ETE explica o computador para PMM Médicos estrangeiros são contratados para cobrir défict no Brasil Carreira de C&T necessita de novas contratações para não entrar em colapso NOSSA PAUTA PÁGINA 3 C&T PÁGINAS 6 E 7 SAÚDE PÁGINA 10 ANO 3 n NÚMERO 23 n JUNHO DE 2013 SINDICATO NACIONAL DOS SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS NA ÁREA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO SETOR AEROESPACIAL

iNdiCato NaCioNal dos s PúbliCos F Na á de CiêNCia e

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1Junho de 2013 n Jornal do SindCT

Grupo de Supervisão de Bordo do DEA/ETE explica o

computador para PMM

Médicos estrangeiros são contratados para cobrir

défict no Brasil

Carreira de C&T necessita de novas contratações para

não entrar em colapso

Nossa Pauta PágiNa 3 C&t PágiNas 6 e 7 saúde PágiNa 10

aNo 3 n Número 23 n JuNho de 2013

siNdiCato NaCioNal dos servidores PúbliCos Federais Na área de CiêNCia e teCNologia do setor aeroesPaCial

INPE:Ameaça de privatização

ronda a instituição

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Jornal do SindCT n Junho de 20132

receberam investimentos ade-quados, DCTA e Inpe incitaram abundante fomento à atividade industrial.

Nas duas últimas décadas, perderam a metade dos pro-fissionais, não têm recursos financeiros suficientes e não conseguem conduzir adequa-damente os poucos projetos de suas carteiras. À guisa de “me-lhorar a governança”, busca-se

oPiNiÃo

ATAQUE aos direitos humanos

Câmara de São Paulo homenageia RotaA Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou a concessão da Salva de Prata — homenagem da Casa cedida em sessão solene pelos relevantes serviços prestados a sociedade — ao batalhão das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar - Rota. O projeto de autoria do vereador Telhada (PSDB) causou revolta na população, principalmente a pessoas ligadas a entidades de direitos humanos.

Por Fernanda Soares

Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, co-nhecido como Coronel

Telhada, ex-comandante da Rota, justifica a homenagem pela atuação do batalhão em “campanhas de guerra” duran-te a ditadura e por “sufocar a Guerrilha Rural instituída por Carlos Lamarca” .

A Rota é famosa por co-

meter excessos. Em maio de 2012, os policiais desse grupo especial mataram 45% mais entre janeiro e maio do que o mesmo período em 2011.

De acordo com o levan-mento realizado pela Correge-doria da Polícia Militar, quan-do a comparação é feita com o mesmo período de 2010, o aumento é ainda maior: 104,5%.

Carlos Lungarzo, profes-sor da Unicamp e membro da Anistia Internacional, afirma que a Câmara de São Paulo está homenageando terroristas de Estado. “O que você acha-ria se soubesse que a Câmara de vereadores de Munique entregaria uma condecoração ao setor local da Gestapo (Po-lícia de Estado na Alemanha Nazista) por ter perseguido o movimento A Rosa Branca, que tentou, bravamente, aca-bar com o governo de Hitler? Pensaríamos que é brinca-deira da mídia ou que a crise europeia é total e estamos na beira de uma nova Guerra Mundial.”

A homenagem foi questio-nada pela vereadora Juliana Cardoso (PT) na reinstalação

da Comissão da Verdade da Câmara Municipal, que leva o nome de Vladimir Herzog, jornalista assassinado em 1975 nas dependências do DOI-Codi.

Em entrevista para o site Viomundo, a vereadora de-clarou: “as ações da Rota ocorridas durante a ditadura ferem os direitos humanos e não queremos esse tipo de postura na sociedade. Além disso, seria um desrespeito completo com as famílias das vítimas.”

“Fiquei espantada quando soube do projeto de homena-gear a Rota. Trata-se de um projeto fora de propósito”, continua Juliana. “No momen-to em que pelo Brasil afora as Comissões da Verdade buscam elucidar acontecimentos nebu-losos da época da ditadura e o Estado brasileiro se desculpa pelas atrocidades cometidas naquele período da nossa história, essa homenagem vai na contramão.”

Na visão da presidenta do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, Rose Nogueira, a proposta de Telhada caminha contra a história brasileira.

“Em um momento em que se faz a Comissão da Verdade para recompor a história, o que ele quer é que se continue contando uma história de men-tirinha. Me deixa perplexa que ele represente o PSDB. Quero saber se Fernando Henrique pensa isso”, afirma. “As pes-soas que se levantaram contra a ditadura exerceram o direito

Nem na Inglaterra, ber-ço do neoliberalismo, fez-se tantas privatizações como no Brasil. Servidores des-moralizados, humilhados e arbitrariamente demitidos retornaram ao serviço através de uma meia anistia, que não lhes dignifica nem lhes restitui o dano.

Produziu-se um estado anêmico e doente de crônicas

editorial

PERDAS E ATRASOS: a nova realidade do país

Precarização no serviço públicoendemias. Há trinta anos as es-colas públicas eram melhores, somente os estudantes que não conseguiam passar no exame de admissão é que iam para a escola particular. Precarização semelhante está acontecen-do agora nas instituições de pesquisa. Décadas de descaso subtraíram orçamentos, projetos e profissionais, tripé de sua sus-tentação. No passado, quando

ExPEDiEnTE JORnAl DO SinDCT: Jornal do SindCT é uma publicação do Sindicato nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroes-pacial n fundado em 30 de agosto de 1989 n Matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição da diretoria n Rua Santa Clara, 432, Vila Ady Anna n CEP 12.243-630 n São José dos Campos - SP n Tel/fax: (12) 3941-6655 n Responsabilidade editorial: a diretoria n Horário de atendimento na sede: 8h30 às 17h30 n Tiragem: 6.000 exem-plares / 2.500 assinantes eletrônicos n Jornalista Responsável: Fernanda Soares Andrade (MTB 29.972/SP) n Reportagem, Redação e Fotos: Fernanda Soares Andrade (MTB 29.972/SP) e Shirley Marciano (MTB 47.686/SP) n http://www.sindct.org.br n [email protected] n Diagramação: Fernanda Soares Andrade n Foto Capa: Fernanda Soares

Charge do mês

à resistência. Tem-se o direito de se rebelar contra a tirania. A ditadura que era ilegítima, e não nós. Se ele quer fazer parte da democracia louvando uma ditadura, o que é isso?”

Diante da polêmica, o ve-reador Telhada diz que não pretende alterar o texto do projeto e que tem orgulho de defender a Rota.

privatizar o desenvolvimento tecnológico, para fugir das amarras dos órgãos de controle ou para defender interesses pessoais.

O estrago está feito: perdas de capacidades, atrasos acumu-lados em relação aos status dos programas espaciais de outros países e incapacidade de respos-ta às necessidades do país. Aí se estampa o desprestígio: o VLS

perde espaço para o Cyclone IV e a Visiona projeta sua sombra sobre o Inpe.

A MECB – Missão Espa-cial Completa Brasileira, hoje Programa Espacial Brasileiro. não pode terminar assim, na ilusão de iniciativas privadas que não agregam tecnologia, ao contrário, atrasam a conquista de conhecimento, que não é transfe-rido por quem já conquistou.

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3Junho de 2013 n Jornal do SindCT

Nossa Pauta

nOVAS COnTRATAÇÕES: carreira de C&T precisa de investimentos em pessoal

Sem concurso, carreira está à beira de um colapsoO Fórum nacional das Entidades Sindicais da Carreira de Ciência e Tecnologia foi convidado para participar de debate promovido pela Frente Parlamentar de Ciência, Tecnologia, Pesquisa e inovação. ivanil Elisiário Barbosa, presidente do SindCT e secretário executivo do Fórum de C&T, representou os servidores da carreira.

Por Fernanda Soares

O debate foi realizado em 16 de março n a C â m a r a d o s

Deputados, em Brasília. Ivanil realizou uma apresentação de 30 minutos, muito bem

recebida pelos parlamentares participantes.

O presidente do SindCT informou que as instituições de pesquisa bras i le i ras correm o risco de não ter mais condições de funcionar nos próximos anos devido a falta de pessoal especializado. “Pe lo menos 50% dos servidores da carreira, já defasada em questão pessoal, têm mais de 50 anos e estão próximos da aposentadoria”, afirmou.

CríticaIvanil criticou a falta

de recomposição da mão de obra, a escassez dos concursos e, quando da realização de concursos, do número insuficiente de vagas para recomposição de pessoal. Prática comum no serviço público é aguardar a abertura de vaga com a saída do servidor (seja por aposentadoria ou atraído por uma carreira com melhor

remuneração) para, com défict de pessoal, abrir concurso. Essa postura impede que os novos servidores contratados tenham contato com os mais antigos e não há, desse modo, a transmissão de conhecimento, inviabilizando a continuidade das pesquisas em andamento.

De acordo com Ivanil, o s i n s t i t u t o s d e C & T estão a ponto de sofrer um colapso, incapazes de evitar décadas de retrocesso pela impossibilidade de contratação e formação de novas gerações de profissionais.

DadosO D e p a r t a m e n t o

de Ciência e Tecnologia Aeroespacial – DCTA foi citado como exemplo por Ivanil: “O departamento tinha 2.020 servidores em 2011. Em 2020, a previsão é que sejam apenas 890. O quadro de pessoal poderá ser reduzido em 44%”.

O Instituto de Pesquisas Espaciais – Inpe também foi citado como exemplo. Recentemente, o Tribunal

O Relatório do TCUO relatório do Tribunal de Contas da União

– TCU, da auditoria real izada no inpe, aponta em seu item 2.1.4 conclusões que se apl icam a todas as instituições da carreira:

“ R i s c o d e e x t i n ç ã o p r o g r e s s i v a d e competências técnicas nos próximos anos ...”

“ i m p o s s i b i l i d a d e d e p r o m o v e r a g e s t ã o dos conhecimentos técnicos do inpe, de modo a patrocinar a transmissão de conhecimentos a n o vo s s e r v i d o re s d e v i d o a a p o s e n t a d o r i a d e s e r v i d o r e s q u e d e t i n h a m c o m p e t ê n c i a s singulares (efeito potencial).”

“Di f iculdades de cumprimento de acordos de cooperação internacional, ...”

“Desatendimento às missões do inpe pelo fato de contratações por tempo determinado não garantirem a transferência de exper t ises entre pesquisadores sêniores e pesquisadores temporár ios, devido ao fato de não haverem incentivos institucionais a sua manutenção no quadro funcional (efeito real).”

de Contas da União auditou o Inpe pelo excesso de contratações temporárias.

“A situação está obrigando o Ministério do Planejamento a fazer novas contratações para o órgão”, disse. O TCU alertou para o envelhecimento da força de trabalho do Inpe e o risco de extinção de competências técnicas nos próximos anos. Até 2016, metade dos servidores estará em condições plenas de se aposentar.

No Instituto de Pesquisas Nucleares – Ipen a situação não é diferente. Atendendo à demanda de 335 hospitais e clínicas em todo o território nacional, o Ipen perdeu 311 profissionais nos últimos 19 anos, o equivalente a 29% do quadro, e a queda no número de servidores deve se acentuar, devido ao alto número de pessoas que vão se aposentar compulsoriamente,

por terem mais de 70 anos.Já o Instituto Nacional

de Pesquisas da Amazônia - Inpa, cuja finalidade é realizar o estudo científico do meio físico e das condições de vida da região amazônica, tendo em vista o bem estar humano e os reclamos da cultura, da economia e da segurança nacional, conseguiu realizar 111 contratações, porém com 179 saídas de servidores.

A renovação não supre a demanda de novos projetos

aportados, ou a potencial expansão das atividades, um dos objetivos do Inpa.

SoluçãoA s o l u ç ã o p a r a

o possível colapso dos instituitos existe e está nas mãos do governo. Basta vontade política do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Os institutos da carreira de C&T necess i tam de abertura de concurso público para a contratação de novos servidores com urgência!

O DCTA tinha 2.020 servidores em 2011.

Em 2020, a previsão é que sejam apenas 890.

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Jornal do SindCT n Junho de 20134

vida e trabalho

DORES CRÔniCAS: apoio aos pacientes

Grupo de São José estuda a Fibromialgia

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O Grupo de Estudo e apoio à Fibromialgia começou a reunir-se em 2007 justamente por causa da frustração dos pacientes. Edvirgem C. Silva (Psicóloga), neuza Renno (Agente Administrativo), Debora Figueiredo (Fisioterapeuta), Vanilda Castelani (Empresária) foram as pioneiras.

Por Raquel P. Corcuera

Mais tarde, juntaram-se ao grupo Suely Costa (Odontopedíatra), Maria da Penha Pinheiro Lima (Psicóloga), Lionésia Ramon (Secretária), Cinezia Santos (Assistente Social), Priscila

Guimaraes (Analis ta de TI) e Maria Ligia Moreira (Pedagoga).

As reuniões são educativas e de ajuda-mútua, nas quais os pacientes são estimulados a trocarem informações entre si, para assim, se beneficiarem das experiências vivenciais de cada um dos participantes.

Os encontros trazem ques-tões como: aspectos emocionais da fibromialgia, alterações do sono, técnicas de relaxamento, papel da família, entre outros.

O grupo estuda a literatura acadêmica e de divulgação da América Latina, da Europa e da América do Norte, pas-sando os conhecimentos e as conclusões para as pessoas com fibromialgia e seus familiares que frequentam as reuniões do grupo. É feita a tradução para o

português de artigos importantes para os pacientes.

O conhecimento é divulgado nas reu-niões e por e-mail para uma lista de aproximadamente 130 pacientes de fibromialgia ou pro-fissionais na área da saúde interessados no tema.

O grupo também ministra palestras ou promove palestras de profissionais da saúde.

Aconteceram nas reuniões do grupo três casos interessantes. Uma pessoa compareceu com diagnóstico de fibromialgia, porém falava de dores só nos braços. Nós a orientamos a procurar outro médico, pois o que ela falava não batia com o que nós conhe-cemos da doença.

Em outra ocasião, duas pessoas com diagnóstico de artrites e fibromialgia. Porém, na ficha que preenchem quando comparecem pela primeira vez, constava que dormiam muito bem. Ora, a fibromialgia tem um sintoma bem peculiar que é: o fibromiálgico não dorme bem!! Orientamos para tratar da artrite, especialmente com regime alimentar e recomen-damos a leitura do livro “Tudo posso, mas nem tudo me con-vém” da Dra. Gisele Savioli.

Um livro sobre alimentação que todos deveríamos ler.

Fizemos também uma cam-panha: “Dê um presente para seu médico”. O presente é o li-vro: “La Ciencia y la Clínica de la Fibromialgia” do Dr. Manuel Martínez-Lavín, médico mexi-cano que estuda a fibromialgia há mais de 30 anos e é autorida-de mundial sobre o tema! (link http://www.martinez-lavin.com/Fibromyalgia.htm).

O grupo compartilha da abordagem que ele faz sobre a fibromialgia, na qual a do-ença é considerada como uma disfunção do sistema nervoso autônomo, e a dor seria uma “dor neuropática mantida por hiperatividade simpática”. Isso significa que nosso corpo está constantemente em alerta, ou seja, a função de “luta o fuga” está sempre ativada, até quando nos dormimos; por isso, o sistema parassimpáti-co, o sistema do descanso e assimilação de nutrientes, não tem chance. Ou seja, todas as funções do parassimpático estão prejudicadas tais como sono, digestão, eliminação de sólidos e líquidos, reparação interna dos tecidos etc.

Nossas palestras apresen-tam essa abordagem, os pa-cientes então entendem como funciona essa dor e sentem que tem mais controle sobre a doen-ça. Aliás um das nossas frases favoritas é “Conhecimento também é tratamento”.

A síndrome da fibromial-gia (SFM -CID: M79.7) é uma condição de dor crônica, generalizada. Os pacientes também experimentam fadiga, distúrbios de sono, dor visce-ral, intolerância a exercícios e sintomas neurológicos. É uma síndrome caracterizada por sintomas de sofrimento e incapacidades, porém não aparecem alterações orgânicas estruturais - por isso, a dificul-

Comentários de quem frequenta o grupo:

“Gostaria de agradecer a todos e principalmente a

você a acolhida no sábado. Estou contente de fazer parte

desse grupo. Tudo é muito novo para mim, mas me sinto

cercada de muita informa-ção, que aos poucos estou absorvendo. Mais uma vez

muito obrigada” - Patrícia

“Esse Grupo está sempre com novidades... Parabéns! Sabia que você faria algo assim, e acredito que “o

melhor ainda esta por vir”... Deus a abençoe como mãe,

avó, ministério, etc.” - Vanilda

“Adorei a reunião hoje, estava com saudades destas informações que me ajudam

muito no meu dia-a-dia, Deus te abençoe com discer-nimento e sabedoria na co-

ordenação deste grupo e com saúde também!” - Cinezia

Temos no grupo uma pa-ciente que teve a doença de Lyme (“transmitida pela picada do carrapato”): ela imita a fibro-mialgia, porém deve ser tratada com antibióticos. Nós alerta-mos então a quem frequenta o grupo sobre essa possibilidade e, consequentemente, sobre a importância de se procurar um médico infectologista.

Temos recebido pessoas do Rio de Janeiro e outras de São Paulo, uma delas foi encami-nhada pelo Grupo de Apoio à Pacientes com Fibromialgia da UNIFESP.

Contamos com o apoio da Igreja Metodista Central de SJC que nos empresta o local para as reuniões, nos serve suco e cafezinho, além de nos ajudar na divulgação dos eventos.

As próximas reuniões estão agendadas para os dias 22 de junho, 31 de agosto e 26 de ou-tubro. Informações pelo e-mail: [email protected]

dade do diagnóstico. O diagnóstico é clínico,

ou seja, o médico examina o paciente.

Não existem exames pa-dronizados de laboratório até o momento que possam detectar a fibromialgia.

Existem alguns exames que são caros e estão em nível de pesquisa como, por exem-plo, a termografia e o exame de tomografia computadorizada

por SPECT .A frequência da fibromial-

gia é de 1 a 5%, na população em geral. Nos serviços de Clínica Médica, esse índice é de aproximadamente 5 %.

Fonte: http://www.fibro-mialgia.com.br/novosite/in-dex.php?modulo=pacientes_artigos&id_mat=5

A falta de conhecimento da grande maioria dos médicos faz com que seja uma doença

subdiagnosticada; ou seja, quando é descoberta é tarde demais, pois o paciente está em um grau mais grave.

Isto acontece não só no Brasil, mas também na Euro-pa, Estados Unidos, Canadá e América Latina. Todos os livros sobre fibromialgia trazem esta afirmação. Existe uma grande frustação tanto dos pacientes como dos médicos que tratam a doença.

Entenda o que é a Fibromialgia

Grupo realiza reuniões periódicas para estudar a fibromialgia

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5Junho de 2013 n Jornal do SindCT

siNdCt eNtrevista

VlADiMiR BARAnTSEViCH: uma vida dedicada à ciência e ao esporte

inpe recebe colaboração de especialista russoVladimir Barantsevich nasceu em 27de julho de 1937, em Penza, às margens do rio Sura, na Rússia. É especialista da área térmica, tendo atuado por mais de 40 anos na área de projeto e fabricação de tubos de calor.

Por Gino Genaro

Barantsevich desenvol-veu mais de 20 tipos de perfis de tubos de

calor ranhurados em alumínio para aplicação espacial, tendo colaborado na elaboração da norma ESA PSS-49.

Hoje, aos 76 anos, atua como consultor técnico e, como hobby, pratica corrida de orientação, esporte ainda pouco difundido no Brasil, mas que conta com milhares de adeptos mundo afora, es-pecialmente nos países escan-dinavos.

De passagem pelo Brasil, como pesquisador-visitante do Inpe, Barantsevich conce-deu esta entrevista ao Jornal do SindCT.

Jornal do SindCT (JS): Qual a sua formação técni-ca? Onde estudou?

Vladimir Barantsevich (VB): Me formei em 1961,

pelo Instituto de Engenha-ria de Transporte de Mos-cou (MIIT), da Faculdade de Sistemas de Energia; em 1969 recebi o título de Dou-tor. A partir de 1967, passei a trabalhar na Research and Production Corporation Spa-ce Monitoring Systems, Infor-mation & Control and Elec-tromechanical Complexes - VNIIEM Corporation. Ain-da neste ano, ao ler um artigo na revista russa Técnica para Jovens sobre tubos de calor, me apaixonei pelo assunto e, a partir de 1970, passei a me dedicar exclusivamente ao estudo destes dispositivos.

JS: Quando e onde co-meçou a atuar na área es-pacial?

VB: Foi nos anos 1970, como chefe do Laboratório de Sistemas de Controle Térmico e Tubos de Calor da VNIIEM Corp. Tomei parte em vários programas de satélites como o Meteor, Meteor-Priroda 3-1 e 3-2, Meteor-3 e 3M, Elec-tro-1, Ro-1, Intercosmos-Bol-garia 1300, Meteor-TOMS, dentre outros.

JS: No período 1957-1991 aconteceu a “corrida espacial” entre a extinta URSS e os EUA. O Sr. par-ticipou de alguma forma dela?

VB: Na verdade, não. A área de tubos de calor sem-pre foi muito concorrida e

popular no meio científico da época, e acabávamos atuan-do mais pela paixão à ciência do que por motivos de ordem política.

JS: Em que medida o avanço tecnológico obtido pela URSS na área espacial se reverteu para outros ra-mos da economia (indústria automobilística, eletrodo-mésticos, etc.)?

VB: A área espacial, de fato, sempre contribuiu para o avanço técnico de outras áreas e para o progresso téc-nico do país como um todo.

JS: Como se organiza o parque industrial ligado à área espacial na Rússia? Há empresas estatais e pri-vadas?

VB: O parque industrial sempre foi majoritariamente estatal. Atualmente existem algumas empresas privadas, mas que atuam de acordo com as políticas e diretrizes da Roscosmos, a agência es-pacial russa.

JS: Qual a participação do Estado hoje na área es-pacial?

VB: Continua cabendo ao Estado todo o financiamen-to, planejamento, e análise de novas missões. Por exem-plo, atualmente a Rússia está construindo um novo cosmó-dromo (local de lançamen-to de foguetes), no extremo oriente do país, no vale do rio

Amur, próxi-mo a Vladi-vostok. Esta necessidade surgiu após a Rússia perder sua autonomia a d m i n i s -trativa so-bre o Ca-zaquistão, que pas-sou a co-brar aluguel pela utilização da base de Baikonur.

JS: Além de pesquisador, o Sr. pratica uma modalida-de específica de atletismo, certo? Conte-nos um pouco sobre este esporte. Ele é co-mum na Rússia? O Sr. par-ticipa de campeonatos?

VB: Sempre pratiquei atletismo, mas, há cerca de 25 anos, comecei a me in-teressar pela corrida de orientação. [Espécie de rally a pé, que consiste basi-camente em um competidor, equipado apenas com uma bússola e um mapa topográ-fico, onde estão marcados os locais por onde ele deve passar. Nesses lugares, exis-tem prismas juntamente com picotadores, com o qual o atleta deve picotar um car-tão de controle, assinalando sua passagem. Ganha quem fizer o percurso no menor tempo]. Desde então, sempre participei de vários campe-onatos. Em 2012, por exem-plo, participei de 68 provas, tendo chegado ao pódio em 15 delas, sendo 10 em pri-meiro lugar na minha cate-goria. Também tomei parte em nove campeonatos mun-diais. Este tipo de esporte está ficando cada dia mais popular; há muitas crianças praticando o esporte, inclu-sive nas escolas da Rússia.

JS: Qual seu próximo desafio?

VB: Atualmente meu obje-Barantsevich visitando o hall de integração do liT acompa-nhado do pesquisador do inPE Valeri Vlassov Vladimirovicd

Foto: Pedro C

ândido

tivo é apenas continuar com saúde, e só.

JS: O Sr. é testemunha ocular das profundas trans-formações econômicas e so-ciais por que vem passando a Rússia nos últimos anos. O que o Sr. destacaria como ponto mais positivo e mais negativo causado pelo fim da URSS em 1991?

VB: Os anos 1990 foram muito difíceis para o país, com forte impacto para toda a população; foi bastante do-lorido. Atualmente há mais liberdades políticas, mais de-mocracia e o país vem se re-cuperando rapidamente.Saiba mais:

Tubos de calor são dispo-sitivos que funcionam de for-ma passiva (sem necessitar de controle e sem consumir ener-gia), e servem para conduzir calor de uma região mais quente para outra mais fria, de forma altamente eficiente.

É largamente utilizado para se fazer o controle de temperatura de satélites no espaço. Também são utiliza-dos na indústria e em equi-pamentos eletrônicos, como laptops. Consistem de um tubo lacrado, contendo uma parede interna porosa e um determinado fluído (amônia ou acetona).

O Jornal do SindCT agradece Olga Kchoukina pela realização e tradução

da entrevista.

Foto: Fernanda Soares

Vladimir Barantsevich

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Jornal do SindCT n Junho de 20136

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SUPERAnDO ADVERSiDADES: grupo de Supervisão de Bordo do DEA fala sobre seu histórico de realizações

Computador de ACDH para a PMM: de Volta à Concepção OriginalEm um satélite, o Subsistema de Controle de Atitude e Supervisão de Bordo (Attitude Control and Data Handling, ACDH) é o responsável pelo gerenciamento do sistema, controle da atitude e da órbita.O computador de bordo é o elemento central do subsistema ACDH.

Por Grupo de Supervisão de Bordo – DEA/ETE/INPE

Por ele implementar toda a lógica de controle, é comum confundi-lo

com o subsistema em si, o que não é verdade; além do computador o subsistema possui sensores (Receptor GPS, Sensor de Estrelas, Sensores Solares, Magnetômetros, Giroscópios) e atuadores (Rodas de Reação, Barras de Torque Magnético e um conjunto de Propulsores).

Em um satélite, o Subsis-tema de Controle de Atitude e Supervisão de Bordo (Attitude Control and Data Handling, ACDH) é o responsável pelo gerenciamento do sistema, controle da atitude e da ór-bita.

O computador de bor-

do é o elemento central do subsistema ACDH. Por ele implementar toda a lógica de controle, é comum confundi-lo com o subsistema em si, o que não é verdade; além do computador o subsistema pos-sui sensores (Receptor GPS, Sensor de Estrelas, Sensores Solares, Magnetômetros, Gi-roscópios) e atuadores (Rodas de Reação, Barras de Torque Magnético e um conjunto de Propulsores).O COMAV e o Computador Único de ACDH para a PMM

Em 2000, foi iniciado pelo Grupo de Supervisão de Bordo (SUBORD) da Divisão de Eletrônica Aeroespacial (DEA) do Inpe o projeto de um novo computador de su-pervisão de bordo (On-Board Data Handling, OBDH) para missões futuras do Inpe. O desenvolvimento desse com-putador foi iniciado como um projeto de P&D interno à DEA, chamado Computador Avançado (COMAV).

O projeto COMAV con-templa o desenvolvimento de hardware, software de supervisão de bordo, bem como hardware e software do equipamento de testes para o computador.

O COMAV possui uma arquitetura funcional modular com redundância interna. Isso

significa que, caso um módulo do computador falhe, é acio-nada a redundância apenas daquele módulo – e não do computador inteiro, como em outras missões do INPE. Os demais módulos continuam operando em suas unidades nominais.

Com relação ao software de bordo, padrões internacio-nais CCSDS e ECSS orienta-ram o seu projeto, o que propi-cia maior reúso entre missões, maior facilidade de operação do satélite e mais flexibilidade para lidar com eventuais falhas durante a missão.

Com a participação do SUBORD no programa da Plataforma Mult imissão (PMM) a partir de 2001, o conceito desse novo compu-tador evoluiu para o de um computador único para o subsistema ACDH, solução que já se observava como uma tendência mundial. Foi esse conceito que serviu como base para a especificação original do computador de ACDH da PMM.

No que diz respeito ao controle de atitude e órbita, o COMAV fornece interfa-ce com todos os sensores e atuadores, capacidade com-putacional e, em termos de software, disponibiliza os da-dos adquiridos e provê meios para atuação pelos aplicativos de controle.

Durante todo o seu ciclo de desenvolvimento, o CO-MAV vem concorrendo por recursos humanos com os pro-gramas prioritários do Inpe. A fabricação de um protótipo ganhou força em 2005, com a entrada de dois novos servido-res. Adicionalmente, em 2006 o grupo passou a fazer parte do projeto Sistemas Inerciais para Aplicação Aeroespacial (SIA), que tinha entre seus objetivos o desenvolvimento de um computador de ACDH. Nesse momento o COMAV foi incorporado ao SIA, rece-bendo aporte financeiro e de recursos humanos externos ao INPE.

O Subsistema ACDH para o Amazonia-1

Ao final de 2008 o Inpe firmou contrato com a empre-sa argentina INVAP, para o fornecimento do subsistema ACDH completo para a pri-meira missão da PMM, o sa-télite de sensoriamento remoto Amazonia-1. Diferentemente da concepção original, esse subsistema possui dois com-putadores, um de OBDH e um de controle de atitude e órbita (Attitude and Orbit Control, AOC).

Como o contrato com a

Modelo de Engenharia contratado na indústria nacional

INVAP previa a realização de on-job training por parte de servidores do Inpe, membros do SUBORD participaram, a partir de 2009, do acompanha-mento e desenvolvimento do computador de OBDH dessa missão, atividade que ocorreu em paralelo à fabricação do protótipo do COMAV inter-namente ao Instituto. Atividades Recentes e Status Atual do Projeto

Um protótipo completo e funcional do COMAV foi concluído em 2011. Desde então esse protótipo vem sen-

Tela do Software de Testes do COMAV

O Protótipo do COMAV e seus módulos funcionais

Imagens cedidas pelo G

rupo SUB

OR

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7Junho de 2013 n Jornal do SindCT

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SUPERAnDO ADVERSiDADES: grupo de Supervisão de Bordo do DEA fala sobre seu histórico de realizações

Computador de ACDH para a PMM: de Volta à Concepção Originaldo usado para o exercício e refinamento do software de supervisão de bordo, o de comunicação com outros equipamentos, e o software de testes.

Ao final desse mesmo ano, o projeto SIA firmou um contrato com a indústria na-cional para a fabricação de um Modelo de Engenharia (ME) desse computador.

Ainda em 2011, foi ini-ciado um projeto financiado pelo CNPq com o principal objetivo de identificar adequa-ções necessárias ao COMAV para atender a outra missão da PMM, o satélite científico Lattes, tendo como base os requisitos da plataforma do Amazonia-1.

Com a entrega do ME, prevista para o final de 2013, e a adaptação do software (em-barcado e de testes) já desen-volvido, será encerrado o atual ciclo de desenvolvimento. Validação do COMAV em Ambientes de Teste de ACDH

Pretende-se integrar o ME do COMAV, em um primeiro momento, a um conjunto de sensores e atuadores de con-trole adquiridos pelo projeto SIA.

Em um segundo momen-to, há a intenção de integrá-lo ao ambiente de testes de

Tela do Software de Testes do COMAV

ACDH do próprio satélite Amazonia-1, demonstrando assim a capacidade de pro-cessamento e interfaces de comunicação equivalentes aos computadores de OBDH e AOC dessa missão.

A adoção do COMAV para o subsistema ACDH do próximo satélite baseado na

PrezadosNa edição número 22 (maio de 2013) do Jornal do SindCT fomos surpre-endidos com a publicação de informação equivocada contida na matéria “Lobby de empresários força AEB a adquirir novo satélite” que atribui ao Amazonia-1 o fato de se ter “pela primeira vez projetado e produzido, na Argentina, o computador de bordo” para um satélite brasileiro.Em vista da informação, esclarecemos que o Grupo de Supervisão de Bordo do Inpe vem desenvolvendo e fornecendo os computadores de bordo para os programas brasileiros ao longo dos últimos 30 anos. Para o programa MECB, foram fornecidos os computadores do subsistema OBDH (On-Board Data Handling) dos satélites SCD1, SCD2A e SCD2; para os satélites da série Saci, os OBCs; para o programa CBERS, já foram fornecidos os computadores dos subsistemas OBDH e AOCS (Atitude and Orbit Control Subsystem) dos satélites CBERS 1, 2, 2B; e estamos fornecendo os computa-dores do subsistema OBDH dos satélites CBERS 3 e 4, totalizando, se consi-derarmos apenas os modelos de voo, 53 computadores.No caso específico do Amazonia-1, foi contratado da argentina INVAP o for-necimento de todo o subsistema ACDH do satélite – o que inclui o computa-dor, componente central do subsistema. No caso do ACDH contratado para o Amazonia-1, o computador de bordo é de fato composto por dois equipa-mentos, um computador para as funções de OBDH e outro para as funções de AOCS, uma estrutura funcional semelhante à utilizada nos satélites da série CBERS.Atualmente o Grupo de Supervisão de Bordo está concluindo o modelo de engenharia do computador para o futuro subsistema ACDH nacional. Tal computador reunirá, em um único equipamento, as funções de OBDH e AOCS como previsto na especificação original da PMM. Toda a experiência do Grupo de Supervisão de Bordo nos programas do Inpe está sendo apro-veitada nesse novo computador.Solicitamos a publicação da presente carta no Jornal do SindCT corrigindo a informação publicada na referida matéria.Atenciosamente,

Grupo Supervisão de BordoFábio Armelin, Fabrício Kucinskis, Fernando Pessotta, José Damião Alonso, Leon Lonneux, Ronaldo Arias

PMM, algo ainda não definido, significaria um retorno à con-cepção original da Plataforma. Isso implica em menor massa, menor volume, menor consu-mo elétrico, menos cablagem e gerenciamento sistêmico mais simples, quando comparado ao ACDH do Amazonia-1.Sobre o Grupo de Supervisão de Bordo

O SUBORD foi criado em 1982 tendo como objetivo inicial o projeto, fabricação e teste dos computadores do programa MECB, tecnologia até então não dominada pelo país.

Além dos computadores da série SCD, foram desenvol-vidos os computadores das sé-ries CBERS e SACI. O grupo também participou de projetos

como o FBM, ISS e participa atualmente, além do CBERS, do programa Amazonia-1.

O grupo chegou a contar com 13 servidores na dé-cada de 1980. Atualmente é composto por apenas seis servidores, a maioria deles já próximos da aposentadoria. Conta ainda com o suporte de sete bolsistas para a consecu-ção de suas atividades.

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Jornal do SindCT n Junho de 20138

O documentário “O Dia que Durou 21 anos”, produzido pelo jornalista e escritor Flávio Tavares e dirigido por seu filho, Camilo Tavares, já recebeu dois prêmios internacionais. Depois de ganhar o Prêmio Especial do Júri no 29º long island Film Festival, em nova York, o filme recebeu o Prêmio Especial do Júri do 22º Arizona international Film Festival.

Por Fernanda Soares

O filme, escrito pelo jornalista Flávio Tavares e dirigido por seu filho Camilo Tavares,

denuncia, por meio de depoimentos e documentos raros, a atuação do go-verno norte-americano nos bastidores do golpe militar de 1964 no Brasil.

Com documentos secretos e gra-vações originais da época, o filme mostra como os presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson se organizaram para tirar o presidente João Goulart do poder e apoiar o go-verno do marechal Humberto Castelo Branco.

De 1964 a 1985, o governo mili-tar violou os direitos civis e instalou um regime ditatorial, com graves consequências para toda a América Latina.

Na época do golpe, Flávio Tavares foi considerado “terrorista” e estava preso. Ficou preso até o dia em que outros “terroristas” sequestraram o embaixador dos Estados Unidos e o trocaram por “brasileiros terroristas” presos. Camilo Tavares (seu filho) nasceu fora do Brasil, pois seu pai não pôde dar continuidade à vida cotidiana no país.

Veja a entrevista que Camilo Tavares concedeu à revista Carta Maior:

Por que escolheu dar o enfoque do documentário na atuação norte americana no golpe de 64?

Camilo Tavares: A riqueza do material encontrado nos levou a esta opção. Tanto os telegramas da CIA, como as conversas da Casa Branca, assim como os incríveis programas

liVRO

Propaganda e cinema a serviço do golpe 1962-1964Editora MauadDenise Assis

A jornalista Denise Assis, que durante mais de 20 anos atuou em alguns dos principais veículos da imprensa brasileira, desenvolveu ao longo do ano 2000 - e expõe neste livro - uma pesquisa que recuperou documentos até então inéditos e 14 filmes de propaganda que prepararam a sociedade para 1964. Percorrendo uma trilha hoje despercebida do período 1962-1964, Denise encontrou a origem intelectual-ideológica do golpe no instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (ipês), que calçou com Propaganda e Cinema o caminho para 1964.Em seu trabalho investigativo, Denise remexeu pastas esquecidas, buscou documentos e personagens, fez várias entrevistas e encontrou os curtas-metragens no Arquivo nacional, aprovando junto à FAPERJ um projeto que, além da memória, recuperou tecnicamente os filmes, já deteriorados pela ação do tempo. O resultado deixa evidente a força persuasiva de que foi capaz o iPES. Financiado por pessoas físicas e jurídicas também relacionadas em documentos – destas últimas, cinco arcavam com mais de 70% das contribuições –, o instituto incutia no brasileiro, principalmente no de classe média, a necessidade de desestabilizar o governo João Goulart. Objetivando neutralizar qualquer reação ao plano conspiratório de derrubada do poder e com um potente discurso anticomunista, o iPES contratou grandes agências de publicidade e produtoras de filmes, editou dezenas de livros, arregimentou intelectuais e profissionais de diferentes áreas, ministrou palestras em empresas e igrejas, fez convênios com universidades, criou cursos e preparou quadros executivos para o governo militar, entre outras ações.

eduCaçÃo e Cultura

CinEMA BRASilEiRO: O dia que durou 21 anos

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Filme brasileiro recebe prêmios internacionais

de TV produzidos pela CBS (em 1961) para con-vencer a opinião pública dos EUA.

Acredita que no Brasil há uma percepção comum dessa participação ativa dos presidentes norte-americanos no golpe?

Camilo Tavares: Há muito pouco conhecimen-to do assunto. Este foi um dos objetivos do filme. Nossa meta é que o filme que teve patrocínio do Ministério da Cultura e da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, via Eletrobras, Sabesp e Cesp, seja distribuído na rede de ensino público com foco no público jo-vem que precisa conhecer melhor nossa história. E também do público adulto em geral que viveu a ditadura militar mas não conhece a dimensão dos interesses dos EUA em nosso país.

O documentário traz uma série de documentos secretos do governo dos EUA e da CIA, além de gravações entre embaixadores e os presidentes dos EUA. Como foi o processo de pesquisa? Quanto tempo durou, como foram adquiridos esses materiais e como foi organizado? A divulgação desse material é considerada inédita no Brasil?

Sim é inédita no sentido do volume de informações. Tivemos apoio de historiadores muito antenados como Carlos Fico (UFRJ) que pesquisou os arquivos e publicou dois livros sobre o assunto, Peter Kornbluh (NARA_Washington) e da jornalista e escritora Denise Assis que fez a pesquisa do IPES e IBAD. A Pequi Filmes , minha produtora, arcou um árduo e custoso trabalho de 3 anos para levantar todo o material de ar-quivo. Aliás temos um rico material suficiente para novas series de TV ou filmes longa-metragem das relações Brasil, EUA e América Latina.

O documentário traz também dois aspectos interessantes: a insistência do interesse financeiro dos governos norte-americanos em apoiar o golpe militar e a suposta falta de controle

de pessoas que apoiaram o golpe mas não concordavam com torturas, prisões e outras medidas autoritárias. Acredita que os objetivos norte-americanos foram atingidos ou em algum momento houve um descom-passo com os interesses dos militares brasileiros?

Os militares brasileiros fizeram exatamente o que os americanos queriam. Entregaram nosso mercado para os EUA e adotaram o modelo de desenvolvimento financiado pelas empresas americanas, que hoje são as grandes empresas do Brasil nos setores estratégicos da economia. A primeira medida do Presidente Caste-lo Branco ao assumir foi acabar com a lei que limitava a remessa de lucros excessivos das empresas americanas ao EUA. Ou seja abriu as portas , como diz a música do Raul Seixas: “ a solução é alugar o Brasil”. E alias como será que está esta lei de remessa de lucros atualmente?

Foram colhidos depoimentos de militares. Com que objetivo buscou isso?

Este foi o grande desafio ouvir a voz dos militares como o Ministro Jarbas Passarinho, General Newton Cruz, Almirante Bierrenbach e tam-bém dos militares que apoiavam João Goulart, como Capitão Ivan Proença e o Brigadeiro Rui Moreira Lima.

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9Junho de 2013 n Jornal do SindCT

A questão das drogas é um dos grandes problemas enfrentados pela sociedade moderna. Com o surgimento do crack, subproduto da cocaína, a questão se agravou ainda mais porque evidenciou a degradação e o flagelo humano, observado com o surgimento das chamadas cracolândias.

Por Shirley Marciano

Neste sentido, a ques-tão das drogas tornou-se um debate priori-

tário e urgente em todo o país para a busca de caminhos para solucionar a questão, pois, além da dependência, há vá-rias outras consequências as-sociadas, como por exemplo, o crime.

A questão não afeta somen-te os usuários diretos, mas tam-bém as suas famílias. “Aqui em casa a gente tranca tudo nos quartos porque se deixar os objetos na área comum, certa-mente ele vai vender. Já atendi várias vezes traficantes no meu portão, inclusive já tive que pa-gar dívida de drogas para pou-par a vida de meu filho. É uma situação muito difícil e a gente não sabe o que fazer, explica a

Nossas Cidades httP://www.siNdCt.org.br

SãO JOSÉ GAnHA nOVO FÔlEGO para combater às drogas com projeto inovador

Programa anti-drogas da PMSJC integra secretarias em prol de soluções

VemSer - lançamento do Programa em 29 de abril

dona de casa L.S.R., moradora da região leste.

A mãe não sabe ao certo quais são as drogas que ele consome, pois quase sempre ele se nega a qualquer tipo de diálogo relacionado ao assun-to. “Quando eu o vi cheirando cola em um saquinho de leite foi um choque, porque já tinha visto na televisão e sabia o que era. Foi uma tristeza sem fim”. De acordo com ela, as des-cobertas foram se dando aos poucos. Depois da cola, achou maconha na gaveta de roupas, a cachaça guardada em gar-rafa de refrigerante pequeno de plástico dentro do armário e, por último, o cachimbo do crack.

A reportagem visitou uma cracolândia em frente ao Pi-nheirinho, na zona sul de São José para conversar com al-guns dos usuários. Contudo, não foi possível concluir a entrevista, porque estavam sem condições de estabelecer um diálogo, justamente por estarem sob o efeito do crack. É uma cena absolutamente chocante, pois notadamente ficam em estado de debilidade física e mental, muito magros e falando coisas sem sentido. Instalados em barracas ou em-baixo de lençóis, consomem o crack o dia inteiro. São cenas fortes, mas que se repetem em vários locais da cidade de São

José dos Campos.Os dilemas são muitos e a

sociedade clama por alguma solução:

Como evitar que os jovens ou mesmo adultos comecem a usar drogas?

De que forma abordar e onde tratar os dependentes, respeitando cada estágio do vício?

E a família que também vive o drama, que papel ela terá nesse processo?

E depois do tratamento, como devolvê-los à socieda-de?

Como evitar a facilidade da venda das drogas?

“Esse projeto, ao invés de perseguir ou apontar dedos, ele acolhe e estende as mãos” (Franklin Maciel)

A Secretaria de Promoção da Cidadania da Prefeitura de São José dos Campos, através da Divisão de Vulnerabilidade, lançou no dia 29 de abril o Pro-grama Municipal de Atenção às Drogas – VemSer. Trata-se de um conjunto de ações inter-secretarias, articuladas entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, juntamente com os órgãos estaduais e federais, e entidades ligadas à questão da drogadição.

O objetivo do programa é criar condições necessárias, por meio de um conjunto de ações para que os cidadãos te-

nham acesso a um tratamento eficiente e digno em relação aos problemas com drogadi-ção, e também estejam prote-gidos de seus efeitos sociais indesejados.

As ações são divididas em quatro eixos de atuação que interagem permanentemente entre si:

Prevenir – Ações que buscam orientar, capacitar e fortalecer fatores de proteção, a fim de evitar o ingresso ao consumo e/ou reduzir danos aos que já sofrem as consequências do uso.

Cuidar – Ações que ofe-reçam tratamento adequado e especializado a dependentes químicos e codependentes, as-sim como suporte social a de-pendentes e aos familiares.

Inserir – Ações que visam a constituir, em sintonia com o processo de recuperação e tra-tamento, a construção de no-vos projetos de vida por meio de qualificação profissional e a reinserção ao mercado de tra-balho.

Coibir – Ações que visam a coibir a comercialização ile-gal de drogas lícitas, garantin-do a segurança preventiva e a ocupação de espaços públicos como prevenção ao uso e abu-so de drogas.

Para entender melhor, con-versamos com o chefe da Divisão de Vulnerabilidade, Franklin Maciel:

Jornal do SindCT – O projeto é constituído por ações conjuntas com várias secretarias. Há risco de per-der o controle, até mesmo pela questão do comprome-timento?

Não há risco porque cada área terá uma função definida, cabendo o controle e a gestão à Secretaria de Promoção da Cidadania, através da Divisão de Vulnerabilidade. Por exem-plo, a Secretaria de Saúde vai cuidar das internações, mas quem vai monitorar se está dando certo é a Divisão de Vul-

nerabilidade. Sobre o compro-metimento, ressalto que neste caso, tudo depende de como se pactuam os termos. Portanto, posso afirmar que todos pega-ram para si este compromisso, e tenho certeza que estão en-gajados.

Jornal SindCT – Qual subprojeto do VemSer que você considera o carro-che-fe?

Não há como dizer que há apenas um carro-chefe. Exis-tem várias frentes e cada eixo tem o seu subprojeto principal. Por exemplo, no eixo Preven-ção tem o “VemSendo”, que é muito amplo e vai capacitar os núcleos dentro das escolas para desenvolver internamen-te entre os pares. Ou seja, ao invés de você desenvolver aquela metodologia de dentro para fora, que a cada cinco meses manda-se um pales-trante, você agiliza o processo, estabelecendo um aprendizado de aluno para o próprio aluno e de professor para professor durante a dinâmica da vida escolar. É claro que a gente encaminha algumas tarefas, mas são sempre de forma elás-tica, de forma que se adaptem à realidade local. É um pro-cesso de construção de projeto de vida , que forma núcleos de liderança para que as pessoas possam se referenciar e gerar multiplicadores.

Jornal SindCT – Quais as diferenças do projeto do go-verno anterior com o da atu-al no seu ponto de vista?

No governo anterior havia um programa, baseado em propaganda, repressão e al-guns específicos como água na balada. O programa de atenção às drogas - VemSer, além de ser totalmente integra-do, organicamente falando, ele tem uma visão de resgate, de colocar o Estado a serviço da sociedade, de não desistir das pessoas. Esse projeto, ao invés de perseguir ou apontar dedos, acolhe e estende as mãos.

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Jornal do SindCT n Junho de 201310

saúde httP://www.siNdCt.org.br

SAúDE PúBliCA x CORPORATiViSMO: governo enfrenta reação a programa para levar médicos ao interior

não tem volta.não adianta o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) se desesperarem mais.O Governo Federal determinou: médicos espanhóis, portugueses e cubanos agora podem trabalhar no Brasil, nas áreas que muitos médicos brasileiros não querem ir. É oficial.

Por Hermann Hoffman(*)

Primeiro o acordo foi com Cuba e agora com a Espanha. Só falta Portugal chegar a um entendimento.

Os médicos formados nes-tes países chegarão ao Bra-sil nos próximos meses, e já adianto, a partir de 9 de julho, a empresa aérea Cubana de Aviación iniciará voos notur-nos semanais de Cuba para São Paulo.

Segundo o ministro da

Triunfa a luta pela vida: o caso dos médicos estrangeiros

Saúde, Alexandre Padilha, os médicos estrangeiros podem trabalhar sem a revalidação dos diplomas por três anos, mas também, sem direito de se transferirem para as gran-des capitais, como São Paulo.

A medida será um paliati-vo para a deficiência de médi-cos nos pequenos municípios do Brasil.

Sobre o registro para exer-cer a profissão, um tema po-lêmico e o alvo principal das agressões do Conselho Fe-deral de Medi-cina - CFM e da Associação Médica Brasi-leira - AMB, o ministro Pa-dilha informou que os profis-sionais terão uma autoriza-ção exclusiva para que só possam atu-ar em regiões específicas, onde há falta de médicos.

Ele excluiu a possibilida-

de que a revalidação dos di-plomas seja feita por provas como o Revalida, já que com esta modalidade o profissional estaria livre para trabalhar em todo o Brasil e não haveria a fixação nas zonas mais caren-tes.

O critério capital estabe-lecido pelo Governo Federal para as cooperações médicas internacionais está baseado no descarte automático de países que tenham a taxa de médicos

por 1.000 habi-tantes inferior à do Brasil (1,95), como é o caso da Bolívia, que tem 0,5 médico por 1.000 ha-bitantes, ou o Paraguai, que possui 1,3.

Em contra-partida, países da região como Cuba, que con-ta com quase 7,0 médicos

por cada 1.000 habitantes, a maior quantidade de médicos por habitantes do mundo, es-

tão incluídos. De Cuba, são esperados

mais de 6 mil médicos que já passaram por aulas de portu-guês. Espanha e Portugal tam-bém irão enviar estes profis-sionais para o Brasil.

Também serão descarta-dos os médicos formados nas universidades que não sejam reconhecidas pelos próprios países.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que o Brasil possui 17,6 médicos para cada 10 mil pessoas, en-quanto a Áustria possui 48 médicos a cada 10 mil cida-dãos, contra 40 na Suíça, 37

na Bélgica, 34 na Dinamarca, 33 na França, 36 na Alemanha e 38 na Itália.

É importante ressaltar que, além da falta de médicos no Brasil, existe uma péssima distribuição geográfica des-tes profissionais. Em 2011, dos quase 372 mil médicos registrados no país, aproxi-madamente 209 mil estavam concentrados na Região Su-deste, e pouco mais de 15 mil na Região Norte, o cenário fiel da trágica distribuição no território nacional, fator que também estimula a entrada de médicos do exterior.

Por fim, para aqueles mé-dicos e estudantes que pre-param uma manifestação na-cional, no próximo dia 25 de maio [este artigo foi escrito no dia 22/5/3], contra a en-trada de médicos estrangeiros no Brasil pela via proposta do Governo Federal, recomen-do humildemente: mais que protestarem por um aumento necessário de médicos, é im-prescindível tomarem doses de um bom antídoto chamado humanismo.

Assim exercerão a medi-cina para o povo mais neces-sitado, por um povo carente e com o povo que clama. Quem nos tira o direito à legalidade, subtrai do povo as possibili-dades.(*) Hermann Hoffman é ser-gipano, acadêmico do 5° ano de Medicina e membro do Núcleo Internacional do PT em Cuba

O Brasil possui 17,6 médicos

para cada 10 mil pessoas, enquanto

a Áustria possui 48 médicos a cada

10 mil cidadãos, contra 40 na Suíça,

37 na Bélgica, 34 na Dinamarca, 33 na França, 36 na

Alemanha e 38 na itália.

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11Junho de 2013 n Jornal do SindCT

Nosso trabalho

nEOliBERAliSMO: espectro do projeto provatista derrotado em 2002 ronda o país

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O inpe e as Organizações SociaisDesde que a figura das Organizações Sociais - OS foi criada no apagar das luzes do primeiro mandato do governo FHC em 1998, são recorrentes as propostas e articulações políticas para transformar o instituto nacional de Pesquisas Espaciais - inpe, atualmente um órgão público da administração direta do Estado, em OS.

Por Gino Genaro*

Organizações Sociais são pessoas jurídicas de direito privado,

sem fins lucrativos, geral-mente criadas sob a forma de associações civis. Após cons-tituídas e uma vez assinado o chamado “contrato de gestão” com a União, estas passam a receber recursos públicos por meio de créditos orçamentá-rios, cessão de bens móveis e imóveis, assim como cessão de servidores públicos fede-rais para nelas atuarem.

Os defensores das OS destacam como principais vantagens desta forma de ges-tão, em relação aos órgãos da administração direta, o fato daquelas gozarem de ampla autonomia financeira, orça-mentária e de gestão. Com isto, de acordo com os de-fensores destas organizações, as OS podem executar seu orçamento sem se sujeitar às amarras da Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações), contratar pessoal sem a necessidade de concurso público, assim como demitir pessoal segundo suas conveniências.

Não é à toa que muitos gestores (e ex-gestores) de órgãos públicos da adminis-tração direta, como o Inpe, veem na conversão de suas instituições em OS a panaceia para todos os males que hoje

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estariam a atravancar as ativi-dades e o pleno cumprimento da missão destes órgãos. Afi-nal, argumentam, não há nada pior que se submeter à fiscali-zação dos órgãos de controle do Estado (como a Advoca-cia-Geral da União - AGU, o Tribunal de Contas da União - TCU e o Ministério Públi-co - MP), que se aferram ao cumprimento estrito das leis, e não permitem que o Inpe execute seu orçamento da for-ma que melhor lhe aprouver. Estes gestores veem os órgãos públicos que se transforma-ram em OS (como o extinto Laboratório Nacional de Luz Sincrotron - LNLS), como sonho de consumo, no qual se pode contratar e demitir quem quiser, além de comprar de quem se quiser, sem se su-jeitar à Lei de Licitações e, mais importante, sem obser-var o Regime Jurídico Único - RJU, que além de proibir a demissão sem justa causa de servidores, estabelece que estes sejam con-t r a t a d o s apenas via concu r so público.

N a concepção das pessoas que defendem a conversão do Inpe em OS, a instituição de-veria ter o direito de contratar quem e quantos funcionários quisesse para o cumprimento de uma determinada missão ou programa. Assim, uma vez cumprida a missão ou pro-grama, a instituição poderia demitir os funcionários tidos como “excedentes”, até que fossem contratados nova-mente, assim que a demanda de trabalho justificasse novas contratações. Como se fosse tarefa simples encontrar no mercado especialistas da área espacial altamente qualifica-

dos, na quantidade e cadência que os programas assim exi-girem.

O que os defensores des-tas organizações geralmente omitem dos debates sobre as alegadas vantagens desta for-ma de regime administrativo é que mesmo as OS, apesar de possuírem mais autonomia que os órgãos da administra-ção direta, também devem observar procedimentos se-melhantes aos utilizados nos órgãos públicos, sempre que estiverem utilizando recursos da União. É o que estabele-ce, por exemplo, o art. 7º da Lei nº 9.637, de 15/5/1998, que regulamentou as OS. De acordo com este dispositivo, na elaboração do contrato de gestão com a União, as OS devem observar os princí-pios fundamentais que regem a Administração Pública, a saber, a legalidade, impesso-alidade, moralidade, publi-

cidade e e c o n o -mic ida -de. Já os a r t i g o s 9° e 10 estabele-cem que os res-p o n s á -veis pela f i s c a l i -

zação da execução do con-trato de gestão, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade na utilização de recursos ou bens de origem pública por organização social, dela da-rão ciência ao TCU, sob pena de responsabilidade solidá-ria, e que quando assim exi-gir a gravidade dos fatos ou o interesse público, havendo indícios fundados de malver-sação de bens ou recursos de origem pública, os responsá-veis pela fiscalização repre-sentarão ao MP, à AGU ou à Procuradoria da entidade para que requeira ao juízo compe-

tente a decretação da indispo-nibilidade dos bens da entida-de e o sequestro dos bens dos seus dirigentes, bem como de agente público ou terceiro, que possam ter enriquecido ilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

Apesar de a Lei nº 9.637 prever procedimentos seme-lhantes aos adotados pelos ór-gãos da administração direta ao lidar com a coisa pública, há uma razão simples que ex-plica o fato de boa parte dos gestores públicos optar pela forma de gestão das OS: é que, na prática, os gestores destas organizações pouco ou nada cumprem do que de-termina a legislação. Assim, são comuns as denúncias de OS que lidam com verbas públicas milionárias efetua-rem compras sem licitação; contratar funcionários pelo critério do “quem indica”, fa-vorecendo amigos e parentes, em detrimento do critério do mérito técnico-científico; de-mitir funcionários por perse-guição política; dentre outros absurdos.

Aliás, diga-se de passa-gem, muitos dos gestores que hoje defendem a conversão de órgãos públicos em OS respondem a vários processos junto aos órgãos de fiscaliza-ção do Estado justamente por terem desrespeitado a legis-lação vigente no período em que estiveram no comando de

seus institutos. Devem imagi-nar que, caso tivessem gerido uma OS, nenhum destes ques-tionamentos estariam sendo feitos a eles agora.

As OS foram criadas no auge dos governos neoliberais com o objetivo de alcançar o chamado “Estado mínimo”, em que o Estado se ocuparia apenas das atividades tidas como essenciais, como segu-rança pública, fiscalização e justiça, jogando todo o resto para a iniciativa privada. O resultado da aplicação desta política ao longo da década de 1990 gerou uma drástica deterioração dos serviços pú-blicos de saúde e educação, além da perda progressiva dos instrumentos de ação do Estado na economia.

Transformar o Inpe em OS, além de não contribuir para que o instituto melhore sua eficiência, ainda poderá trazer de volta tudo o que ha-via de pior na administração pública antes da Constituição de 1988, como o nepotismo exacerbado, a demissão de funcionários por perseguição pessoal ou política, as práti-cas ilegais nas compras pú-blicas, com favorecimentos a empresários em detrimento da transparência e do interes-se público.(*) Gino Genaro é tecnolo-gista do Inpe e secretário de Formação Sindical do SindCT.

Transformar o inpe em OS, além de não contribuir

para que o instituto melhore sua eficiência, ainda poderá trazer de volta tudo o que havia

de pior na administração pública antes da

Constituição de 1988

Portaria principal do inpe

Foto: Fernanda Soares

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Jornal do SindCT n Junho de 201312

Os atuais indicadores de violência contra a mulher não são nada positivos. Estaríamos retrocedendo ao invés de avançar? Realmente, ainda há muitas perguntas sem respostas, mas é fato que denunciar pode diminuir significativamente as incidências, pois se inibe o agressor por este saber que responderá à Justiça pelos seus atos.

Por Shirley Marciano

Mulheres de todas as classes sociais e condições educa-

cionais podem passar longos períodos de violência, criando um ciclo que afeta não só à ví-tima direta, mas toda a família. No entanto, hoje já há alguns caminhos em termos de políti-ca para este problema, como a Lei Maria da Penha, que é uma das principais ferramentas de ajuda e acolhimento às mulhe-res e também para punição dos agressores.

Em São José dos Campos está sendo encaminhado um projeto de impacto para cercar todas a fissuras existentes no atual modelo, com o objetivo de deixar as mulheres mais seguras na hora de efetuar a denúncia. A ideia central é que a vítima quebre o círculo de violência registrando o Bo-letim de Ocorrência – BO (na Delegacia de Defesa da Mu-lher - DDM ou na Delegacia mais próxima), e peça junto à delegacia a continuidade no processo e as medidas proteti-vas previstas na Lei Maria da

mulher httP://www.siNdCt.org.br

SãO JOSÉ ASSinA Pacto nacional pelo Enfrentamento à Violência Contra a Mulher

Aumento da violência contra a mulher obriga governo a tomar ações mais eficazes

Penha, pois só assim estará dando um primeiro passo para se livrar da violência a qual vem sendo submetida.

De acordo com um levanta-mento do Instituto Avante Bra-sil, publicado em 28 de maio no site “Carta Maior”, entre 2001 e 2010, 40 mil mulheres foram assassinadas no Brasil. O estudo do Banco Mundial citado pela publicação, mu-lheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que câncer, acidentes de trabalho, guerra e malária.

O Brasil é o sétimo no ranking de 87 países com maior número de mulheres vítimas de homicídios dolosos, em que o autor tem intenção explícita de matar. No estado de São Paulo, em março, foram registrados 5 mil casos de lesões corporais, 6 mil ameaças, 50 estupros, 5 homicídios culposos. No pri-meiro quadrimestre de 2013, houve um aumento de 20,8% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública.

Em São José a situação é igualmente preocupante. De janeiro a março, a DDM regis-trou 407 boletins de violência contra mulheres. Se compara-do com o mesmo período do ano anterior, quando houve 325, verifica-se um aumento consideravelmente grande.

A Secretaria de Promoção da Cidadania da Prefeitura de São José dos Campos, por meio da Coordenadoria Espe-cial de Políticas Públicas para Mulheres, está com diversas ações que visam a um melhor atendimento para as vítimas de violência física e psicoló-gica, incluindo capacitação

para profissionais de toda a rede de atendimento à essa mulher, como das Secretarias de Saúde, Educação e Desen-volvimento Social, além da Fundhas, Guarda Municipal e polícias Civil e Militar.

No dia 11 de junho foi autorizada pela Justiça a cria-ção de uma Vara Especial de Violência Doméstica, que é considerada essencial para agilizar a aplicação da Lei Maria da Penha. Inclusive, a Coordenadoria está trabalhado em várias frentes para divulgar os mecanismos de denúncia e a rede de cuidados dessa mulher que se encontra em situação de violência.

“Na verdade, tudo que estamos buscando é uma ade-quação do nosso município à Lei Maria da Penha, que tem dentre suas diretrizes fomentar a conscientização da sociedade

e das mulheres em situação de violência, para fazer as denún-cias, evitando os avanços dessa violência a qual estão expostas, que, via de regra, começa sutil-mente com agressões verbais e humilhações, estendendo para pequenas agressões físicas, até que esse círculo de violência se expande, podendo chegar aos homicídios”, explica Vanda Si-queira, psicóloga e Coordena-dora de Políticas para Mulheres de São José dos Campos.

De acordo com Vanda, a prefeitura assinou em junho o Pacto Nacional pelo Enfren-tamento à Violência Contra a Mulher, que consiste num acordo federativo entre o go-verno federal, estaduais e mu-nicipais, para o planejamento de ações que visem a conso-lidação da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, por meio da implementação de políticas públicas integradas em todo território nacional.

A presidente da Câmara de São José dos Campos, Amélia Naomi, destaca a importância do compromisso do legisla-tivo: “Sempre trabalhei com este segmento e sei de sua

relevância. Portanto, a Câmara Municipal está empenhada em dar todas as condições para que o Executivo, por meio de suas secretarias, implementar políticas para que as mulheres tenham o suporte que tanto necessitam”.

A reportagem também visitou o Centro Dandara que acolhe, forma e ajuda mulhe-res vítimas de agressão. Lá é possível receber atendimento psicológico, advocatício e terapêutico com profissionais voluntários.

Alcione Massula de Melo, Diretora Executiva do Dan-dara, explica que a questão da violência contra a mulher envolve um conjunto de fato-res que estão incutidos nelas culturalmente, e que as levam a tolerar situações opressivas. Então, para que se libertem de alguns conceitos equivocados e prejudiciais, é preciso um forte trabalho de desconstru-ção destas ideias.

De acordo com a Lei Maria da Penha, qualquer pessoa pode denunciar um ato de violência doméstica, pode ser um parente ou até mesmo um vizinho.

Penhas - bonecas que simbolizam mulheres que foram vítimas fatais de violência doméstica

Foto: Shirley M

arciano

Para denunciar ligue:

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180 (24 horas) – Central de Atendimento do Governo Federal

(12) 3941-4140 – Delegacia de Defesa da Mulher

(12) 3204-4508 – Centro Dandara – São José dos Campos