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45 CÉLIA REGINA DOS SANTOS LOPES • ANA CAROLINA MORITO MACHADO • TRADIÇÃO E INOVAÇÃO A NORMA BRASILEIRA EM CONSTRUÇÃO: FATOS LINGÜÍSTICOS EM CARTAS PESSOAIS DO SÉCULO XIX 2 iversos estudos parciais (Lopes e Duarte, 2003, 2004; Silva e Barcia, 2002), com base em corpora diversificados (peças teatrais brasileiras e portuguesas e cartas particulares) têm demonstrado que a forma Vossa Mercê conserva nos séculos XVIII e XIX seu caráter de cortesia e respeito, sendo utilizada, preferencialmente, nas relações de inferior para superior. Rumeu (2004), por sua vez, analisando um conjunto de cartas setecentistas e oitocentistas, identificou, principalmente no século XIX, a presença de Vossa Mercê na documentação não-oficial trocada entre pessoas de nível social equivalente. A forma pronominal tu, mais freqüente e em compe- tição com você, aparece como estratégia prioritária nas relações simétricas entre membros de mesmo grupo social (personagens populares do teatro) e nas relações assimétricas de superior para inferior em cartas não-oficiais no mesmo período. Conforme vão sendo ampliadas as amostras e feitas novas descrições com diferentes tipos de texto, mais se evidencia o comportamento híbrido (Rumeu, 2004) de você entre os séculos XVIII-XIX e o emprego majoritário de tu em cartas pessoais. As repercussões gramaticais causadas pela invasão, citada por Cintra (1972), de novas formas gramaticalizadas (você e a gente) atingiram diferentes níveis da língua. Tradição e inovação: indícios do sincretismo entre a segunda e a terceira pessoas nas cartas dos avós CÉLIA REGINA DOS SANTOS LOPES UFRJ A NA C AROLINA MORITO MACHADO Mestranda/UFRJ D 2 A história das formas de tratamento no século XIX consiste principalmente na história desta invasão 1 , que aliás já tinha começado na segunda metade do século anterior. Seria necessário estudar e delimitar cuidadosamente as várias fases que nela se podem distinguir, acima de tudo pelo interesse sociológico da matéria. Trata-se de uma questão de limites de emprego e de datas a indicar para as modificações desses limites. Cintra, 1982, p. 38-39 – grifo nosso

indícios do sincretismo entre segunda e terceira pessoas nas cartas

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iversos estudos parciais (Lopes e Duarte, 2003, 2004; Silva e Barcia, 2002), com base em corpora diversificados (peças teatrais brasileiras e portuguesas e cartas particulares) têm demonstrado que a forma Vossa Mercê conserva nos séculos XVIII e XIX seu caráter de cortesia e respeito, sendo utilizada,

preferencialmente, nas relações de inferior para superior. Rumeu (2004), por sua vez, analisando um conjunto de cartas setecentistas e oitocentistas, identificou, principalmente no século XIX, a presença de Vossa Mercê na documentação não-oficial trocada entre pessoas de nível social equivalente. A forma pronominal tu, mais freqüente e em compe-tição com você, aparece como estratégia prioritária nas relações simétricas entre membros de mesmo grupo social (personagens populares do teatro) e nas relações assimétricas de superior para inferior em cartas não-oficiais no mesmo período. Conforme vão sendo ampliadas as amostras e feitas novas descrições com diferentes tipos de texto, mais se evidencia o comportamento híbrido (Rumeu, 2004) de você entre os séculos XVIII-XIX e o emprego majoritário de tu em cartas pessoais.

As repercussões gramaticais causadas pela invasão, citada por Cintra (1972), de novas formas gramaticalizadas (você e a gente) atingiram diferentes níveis da língua.

Tradição e inovação: indícios do sincretismo

entre a segunda e a terceira pessoas nas cartas dos avós

CÉLIA REGINA DOS SANTOS LOPES UFRJ

ANA CAROLINA MORITO MACHADO Mestranda/UFRJ

D

2

A história das formas de tratamento no século XIX consiste principalmente na história desta invasão1, que aliás já tinha

começado na segunda metade do século anterior. Seria necessário estudar e delimitar cuidadosamente as várias

fases que nela se podem distinguir, acima de tudo pelo interesse sociológico da matéria.

Trata-se de uma questão de limites de emprego e de datas a indicar para as modificações desses limites.

Cintra, 1982, p. 38-39 – grifo nosso

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Por ser derivada de uma forma nominal que leva o verbo para a terceira pessoa do singular, o emprego de você na interlocução acarretou, por exemplo, um rearranjo no sistema pronominal (Faraco, 1996; Menon, 1995) com a fusão do paradigma de 2ª com o de 3ª pessoa do singular e com a eliminação do paradigma de 2ª pessoa do plural. Novas possibilidades combinatórias tornaram-se usuais: você com te~lhe~você, teu/tua~seu/sua, etc. e vocês com lhes~vocês, seus~teus, de vocês etc. As alterações afetaram outras sub-categorias pronominais (possessivos e pronomes-complemento) como ilustram os exemplos a seguir: Vocêi disse que eu tei acharia na faculdade e que vocêi me emprestaria o teui/seui livro. Vocêi arranjou aquele que eu tei /lhei pedii ? 2 Os rearranjos não terminam aí. Com a migração do possessivo de terceira seu (e variantes) para o paradigma de segunda pessoa, ocasionada também pela gramaticalização de você, a forma dele tem se tornado cada vez mais freqüente como estratégia “possessiva” de 3ª pessoa para evitar a ambigüidade do possessivo seu que continua a atender às duas pessoas (segunda e terceira) (cf. Silva, 1982, 1996; Abraçado, 2000; Menon, 1996; Negrão e Muller, 1996, entre outros).

Embora ainda condenada pela gramática, a famigerada “mistura de tratamento” atingiu inclusive o imperativo com o “crescimento do uso da forma de imperativo referente ao sujeito tu, mesmo quando o tratamento do ouvinte se faz com você” (Paredes Silva, 2000, p. 116; Scherre et al, 2000). Em propagandas oficiais veiculadas pela mídia ou em programas de televisão, encontram-se exemplos dessa natureza: Vem para Caixa, você também3.

Outra reestruturação ocorreu no paradigma verbal que perde sua riqueza em termos flexionais passando de seis para três formas básicas (eu falo, tu/você/ele/a gente fala, vocês/eles falam). Duarte (1993, 1995), discutindo a mudança de parâmetro pro-drop, defende que o português do Brasil estaria passando de uma língua de sujeito nulo para uma língua de sujeito pleno. A perda da desinência ver-bal dá aos novos pronomes o status de únicos indicadores da categoria de pessoa, daí sua presença ter se tornado cada vez mais obrigatória. Constatam-se, dessa forma, várias alterações morfossintáticas: introdução de novas formas pronominais, simplificação do paradigma verbal, preenchimento obrigatório do sujeito e ordem mais rígida na sentença.

Defende-se, a partir da discussão travada em Lopes (1999, 2003) sobre o percurso histórico de gente para a gente, que a pronominalização de Vossa Mercê > você gerou uma falta de correlação entre os traços formais ( features)4 e os semântico-discursivos (cf. Lopes, 2003 e Rumeu, 2004) no processo de mudança categorial sofrido de nome para pronome. Como conseqüência, formas pronominalizadas apresentam, ainda hoje, especificidades que as distinguem dos demais pronomes pessoais e causam as assime-trias encontradas no quadro atual dos pronomes do português.

Neste trabalho, pretende-se verificar, na cronologia do fenômeno de pronomina-lização de Vossa mercê > você, o início do processo de variação entre a concordância

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de você com outras formas pronominais de 2a pessoa e de 3a pessoa — esta última praticamente categórica para Vossa mercê – a fim de identificar a produtividade de cada uma das duas estratégias no final do século XIX. Assumindo as sugestões de Cintra (1982) quer-se ainda “delimitar cuidadosamente as várias fases” da invasão, “acima de tudo pelo interesse sociológico da matéria” e buscar os “limites de emprego e de datas a indicar para as modificações desses limites”. Por fim, tem-se o intuito de mostrar algu-mas evidências que comprovem a hipótese de Labov (1990) sobre o comportamento inovador das mulheres na maioria dos fenômenos de mudança lingüística.

Voltando no tempo: algumas hipótesesO clássico estudo de Cintra (1972) aponta as divergências existentes entre o atual sistema de tratamento e aquele identificado nos primórdios de nossa língua em que não havia tratamentos do tipo nominal. A oposição antes se estabelecia basicamente entre tu/vós (plano da intimidade) versus vós (plano de cortesia ou distanciamento), como ocorre até hoje em francês. As alterações atuais foram provocadas pela dissemi-nação de diversificados tratamentos de base nominal que sofreram um processo de especialização já nos fins do século XIV.

O autor descreve esse processo de mudança, correlacionando-o a um processo de hierarquização cada vez maior da sociedade. Vossa mercê, que aparece como tratamento para o rei por volta de 1460, deixa de sê-lo em 1490. A degradação hierárquica é progressiva e a expressão passa a referir-se a duques, depois a infantes, a fidalgos e, no século XVI, é usada por Gil Vicente para patrões burgueses. Vossa Senhoria também sofre, em menor escala, o mesmo processo de perda gradativa de reverência. Começa como tratamento ao rei, passa a ser empregado para fidalgos da nobreza e se estabelece num nível superior a Vossa Mercê. Vossa Alteza se especializa como tratamento ao rei no século XV. Felipe II, em 1586, na Espanha e, em 1597, em Portugal estabelece legalmente como devem ser empregadas as expressões de tratamento. Tal postura pode nos sugerir, em princípio, duas hipóteses: 1) havia uma grande flutuação no emprego dessas formas de tratamento entre as pessoas da épo-ca e 2) a sociedade tinha uma grande preocupação em determinar os papéis sociais desempenhados pelos membros que a constituíam.

No século XVIII, vós, empregado para um único interlocutor, tido como traço arcaizante, praticamente cai em desuso. Em seu lugar entra o você(s), originado das referidas fórmulas, mas desgastado fonética e semanticamente. Como nos diz Cintra, “estava o caminho aberto para a progressiva invasão e expansão das outras formas substantivas que levam o verbo para a 3a pessoa” (Cintra, 1972, p. 35-38).

Analisando peças teatrais brasileiras e portuguesas e cartas particulares, Lopes e Duarte, (2003, 2004) e Silva e Barcia (2002) verificaram que a forma Vossa Mercê era empregada nos séculos XVIII e XIX para manter distanciamento entre

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emissor-receptor. Rumeu (2004), por seu turno, identificou, principalmente no século XIX, a presença de Vossa Mercê na documentação não-oficial. Tal estratégia de tratamento apresentava baixos índices na documentação oficial do século XVIII, o que caracterizaria, segundo a autora, um processo de dessemantização sofrido por Vossa Mercê, uma vez que houve “perda do caráter polido e cortês com que tal forma de tratamento foi, inicialmente, concebida em fins do século XV” (Rumeu, 2004, p. 89).

A forma pronominal tu aparece, nas peças teatrais dos séculos XVIII e XIX analisadas por Lopes e Duarte (2003), como estratégia preferida em ambas as variedades nas relações simétricas entre membros de mesmo grupo social e nas assimétricas de superior para inferior. Nas relações assimétricas de inferior para superior predominam as formas nominais de tratamento: Vossa mercê no caso das peças brasileiras e outras formas nas portuguesas (o Senhor, Sua Senhoria, Vossa Excelência, Vossa Senhoria). O que se mostrou como fator de maior diferenciação, naquela amostra, foi o baixo índice de você no teatro português (3% contra 13% no teatro brasileiro). Outro resultado interessante, que nos serve como hipótese, diz respeito ao fato de ter-se verificado uma distribuição regular, quase escalonada, entre as principais formas nominais e pronominais utilizadas nas duas variedades na primeira metade do século XVIII (em torno dos 30%). Tal distribuição, entretanto, torna-se diferenciada principalmente em fins do século XIX com o avanço paulatino de você nas peças brasileiras, ao passo que, nas portuguesas, o pronome tu se sobrepõe às demais estratégias.

Há outros indícios relevantes. Nos dados analisados pelas autoras, Vossa mercê e você coexistem no mesmo domínio funcional, além de serem empregadas nos mesmos tipos de relação simétrica (entre personagens populares). Isso ocorre tanto nas peças portuguesas quanto nas brasileiras do início do XVIII. O exemplo a seguir, citado no estudo, ilustra a convivência da forma mais antiga ao lado da forma emergente. O mesmo personagem (D. Quixote) ora usa V.M., ora emprega você para se dirigir à mesma pessoa, o barbeiro.

(1) Senhor mestre barbeiro, veja vossa mercê como me pega nestas barbas (de D. Quixote para Barbeiro) (Silva, 1733, p. 42).(2) Ora, sô Mestre, você bem sabe que é obrigação dos de seu ofício, enquanto Ø fazem a barba, dizerem as novidades que há pela cidade (de D. Quixote para Barbeiro) (Silva, 1733, p. 42).

O mesmo procedimento se nota com os verbos no imperativo. As autoras mostram que, no início do século XVIII, você (ainda em concorrência com Vossa Mercê) aparecia explícito combinando-se ao imperativo em 38% dos dados: índices similares aos da sua contraparte desenvolvida, como mostram (3) e (4).

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(3) Senhor mestre barbeiro, veja vossa mercê como Ø me pega nessas barbas, porque são as mais honradas que tem toda a Espanha (de D. Quixote para Barbeiro) (Silva, 1733, p. 41).(4) Olhe você: se Ø quiser levar duas gaiolas de grilos, que estão mui bem criados, não será mau, para Ø os comer nas estalagens (Teresa para Sancho) (Silva, 1733, p. 50).

Na segunda metade do século XVIII, o comportamento de você e Vossa Mercê torna-se divergente: a variante vulgar continua a ser utilizada entre personagens populares, mas passa também a ser usual nas relações assimétricas de superior para inferior. A fórmula desenvolvida Vossa Mercê, contrapondo-se ao emprego da forma sincopada, aparece com maior freqüência nas relações menos solidárias de inferior para superior. Aparentemente, em Portugal, tal comportamento se torna estável e o você cada vez menos produtivo. No Brasil, o vulgar você perde gradativamente o seu caráter nominal, diverge funcionalmente de V.M. e passa a assumir propriedades pronominais concorrendo com tu a partir do século XIX.

Em síntese, tais resultados poderiam indicar que:a. a erosão fonética de Vossa Mercê iniciada em Portugal foi mais acelerada que seu processo de desbotamento semântico, dada a coexistência de você e Vossa Mercê nos mesmos contextos formais e discursivo-pragmáticos até, pelo menos, meados do XVIII;b. você, em fins do século XIX e principalmente no português do Brasil, passa a concorrer com tu;c. os contextos em relação a Vossa Mercê tornam-se diferentes;d. as relações mais solidárias no Brasil-colônia podem ter favorecido a disseminação mais acelerada de Você (e variantes). Foneticamente desgastada na fala dos portugueses e espraiada nos diversos estratos sociais, você perde de maneira mais rápida que a sua contraparte desenvolvida Vossa Mercê o caráter de cortesia original.

Alguns pressupostos teóricosA gramaticalização5, por seu caráter contínuo, pressupõe, principalmente nos estágios iniciais, a coexistência entre novos valores/usos ao lado dos antigos e a permanência de propriedades lexicais nas formas gramaticalizadas. Tal perspectiva não contradiz os princípios da teoria Sociolingüística laboviana (Weinreich e Labov, 1968) quando defende que os fatores que produzem mudanças, não só no âmbito lingüístico, como também no da vida humana, não são abruptos e repentinos, mas atuam lenta e gra-dualmente, e é por isso que a mudança lingüística requer a observação de dois ou mais estágios de uma língua. Na trajetória da mudança, há estágios intermediários em que formas em conflito se distribuem irregularmente entre falantes e ouvintes num processo que pode aparentemente durar séculos.

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No que se refere à pronominalização de nominais (mudança categorial de nome para pronome), Lopes (1999, 2003) postula que não se perderam todos os traços formais nominais, assim como não foram assumidos todos os traços intrínsecos aos pronomes pessoais. Tal postulação coaduna-se a dois princípios discutidos por Hopper (1991), o princípio da persistência e o da decategorização.

O princípio da persistência estipula que nos processos de gramaticalização alguns traços do significado original aderem à nova forma gramaticalizada e detalhes da história lexical do item podem se refletir na forma gramaticalizada durante estágios intermediários. No caso de você, talvez haja mais resquícios formais do que semânticos. A forma gramatica-lizada mantém, por exemplo, a concordância com verbos na terceira pessoa do singular (forma verbal default, não-marcada por natureza). A impessoalidade da terceira pessoa fica evidenciada na expansão do emprego de você em contextos de referência indeterminada. Os usos de formas nominais de terceira pessoa podem indicar respeito, cortesia e distan-ciamento, pois se eleva o interlocutor acima da condição de pessoa recíproca típica do tu: “endereça-se “abstratamente” ao outro” (Fiorin, 1996, p. 89). Perdida a reverência inicial, fica o distanciamento que talvez tenha, por extensão semântica, assumido, em alguns contextos discursivos, um caráter genérico, indeterminado, do não-eu e da não-pessoa.

O princípio de decategorização remete à neutralização das marcas morfológicas e propriedades sintáticas da categoria-origem (nome ou sintagma nominal) e adoção de atributos da categoria-destino (forma pronominal). Na fase inicial do processo de gramaticalização de Vossa Mercê > você, observou-se que você apresentava comportamento similar aos tratamentos de base nominal. Rumeu (2004) e Lopes (2004) apresentam evidências de maior mobilidade estrutural na posição de sujeito com relação ao verbo e presença exclusiva de formas de terceira pessoa (seu, os/lhe) combinando-se com você em textos produzidos no século XVIII. No século XIX, entretanto, tal comportamento se modifica e a forma você assume características mais pronominais do que nominais. Certas restrições sintáticas como a rigidificação da ordem Sujeito-verbo, a mistura de tratamento e a presença de co-referentes de segunda pessoa dão indícios da decategorização sofrida por Vossa Mercê.

Os problemas das fontes sincrônicas e diacrônicasMesmo com todos os corpora orais disponíveis e criteriosamente organizados pelos Projetos reconhecidos nacionalmente (PEUL, no Rio de Janeiro, VARSUL, na Região Sul do Brasil, entre outros), a identificação das estratégias lingüísticas interlocutivas usuais no português do Brasil esbarra com dificuldades de vários tipos. Nessas amostras constituídas basicamente por entrevistas, verifica-se que as estratégias de referência ao ouvinte são mais freqüentes nas perguntas feitas pelos eventuais documentadores e não na fala de um informante. Quando muito, encontram-se ocorrências de um você indeterminado. Uma alternativa viável seria a realização de gravações secretas entre

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duas pessoas em uma conversa informal. Nesse tipo de situação, entretanto, torna-se difícil o controle de variáveis sociolingüísticas, tais como idade, classe social, nível de escolaridade, etc. Se as entrevistas gravadas nos últimos 30 anos não nos permitem, como vários pesquisadores demonstraram (Menon, 1996; Paredes e Silva, 2003), descrever o atual sistema pronominal de tratamento do português brasileiro, o que então não dizer da dificuldade em voltar 100 ou 200 anos no tempo para revelar como as pessoas se tratavam no Brasil dos séculos XVIII-XIX?

A análise de fenômenos de mudança lingüística com base em textos escritos apresenta diversos entraves quanto à interpretação dos dados históricos, à dificuldade de identificação do perfil social do informante, à qualidade do corpus utilizado nas análises e à tradição textual. Além da precariedade e das limitações dos dados, no que se refere particularmente à identificação dos informantes, a busca incessante de documentos que revelem os usos lingüísticos de outra sincronia não tem sido tarefa simples. Nessas idas e vindas aos arquivos, grande foi a surpresa ao encontrar as cartas dos avós repletas de você combinando-se com seu/te, de vocês no lugar de vós, de você e tu duelando numa mesma carta, além de uma ou outra ocorrência de vosso e vos. O fac-símile não nos deixa mentir. Se tal comportamento aparece nos fins do século XIX na documentação escrita de pessoa tão ilustre da sociedade brasileira, como foi Christiano Benedicto Ottoni, o que não ocorreria em situações reais de fala?

As 27 cartas do engenheiro, professor e Senador do Império e da República, Christiano Benedicto Ottoni, foram escritas no Rio de Janeiro entre os anos de 1879 e 1892. Um avô-culto, com 68 anos, nascido em Minas Gerais. De sua esposa Barbara Balbina de Araújo Maia Ottoni, aparentemente menos letrada que o marido, são 14 cartas escritas entre 1883 e 1889 pela doce-avó, dona de casa, quituteira, nascida no Rio de Janeiro, em 1822. As 41 cartas particulares6 produzidas pelo casal Ottoni eram endereçadas a seus netos Mizael e Christiano, filhos dos Barões de Madalena, que viviam em Paris. Temos assim dois informantes – um homem e uma mulher – do mesmo grupo etário, residentes no mesmo centro urbano da época, com nível sócio-cultural equivalente, apesar de escolarização diferenciada.

Apesar da possibilidade do controle sociolingüístico nessa preciosa amostra — tão raro em estudos lingüísticos de sincronias passadas — uma análise quantitativa stricto sensu não caberia nesse trabalho, por isso, ao lado das freqüências frias segue uma mescla teórico-descritivo-analítica dos exemplos coletados. Façamos um esforço!

As formas de tratamento nas cartas: você e tu na posição de sujeito

O uso majoritário de tu no corpus, principalmente nas cartas do avô, confirma, de certa forma, os resultados obtidos em outros trabalhos com base em cartas particulares dos séculos XVIII e XIX. Os estudos têm demonstrado o predomínio do pronome tu em

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Você e tu nas cartas dos Ottoni

TABE

LA 1

Formas utilizadas Você

04/94 – 4%

08/14 – 57%

12/108 – 11%

Tu

90/94 – 96%

06/14 – 43%

96/108 – 89%

quase todos os níveis hierárquicos estabelecidos entre remetente-destinatário, princi-palmente, nas relações simétricas de amizade e nas relações íntimas de família (Silva e Barcia, 2002, p. 28), em cartas não-oficiais (Rumeu, 2004) e entre personagens populares nas peças teatrais (Lopes e Duarte, 2003). Nas cartas da Barbara, entretanto, a forma inovadora você com 57% se sobrepõe ao pronome tu. Soto (2001, p. 243) afirma que o estilo de escrita predominantemente oral de Barbara, “permite-nos supor a existência, principalmente na fala doméstica, de um uso bastante generalizado da forma você no final do século XIX no Brasil." A tabela a seguir apresenta os dados de você e tu, preenchidos ou não-preenchidos, na posição de sujeito, eliminando-se as ocorrências no imperativo.

O emprego de você na documentação de Barbara não ocorre apenas nas cartas endereçadas aos netos. Ao escrever para a filha ou fazendo referência à criada, a avó-dona-de-casa opta pelo inovador você:

(5) [Carta à filha]“Minha Querida Filha Virginia || Recebi uma cartinha muito lacone-| ca nas costas da cartinha de Mizael | de 10 de Dezembro, e nella voce dis | que havia mais de um mes, que naõ | tinha cartas de cá, o que meadmira, | pois seo Pai respondia logo todas as | suas, eu é que escrevia menos, pois | estava quazé sempre adoentada | e sem animo para nada; em taõ | os ultimos 2 mezes do anno estive | sempre doente: felismente este | anno principiei bem de saude, | mas seo Pae naõ tem passado | bem, alimenta-se pouco, e sente-| se muito abatido, o que metem | incõmodado: e elle naõ gosta de con-| sultar medico. Osmais todos bens. | Lembrança a os meninos ete abraça | Com muitas saudades Sua Mai e Amiga. ||Barbara." (Carta 37, avó)

(6) [ Referência à empregada]“Tenho uma criada que | dice que sabia fazer tudo | que eu mandace ella | fazer emtaõ perguntei | e Paõ doce voce sabe fazer | sei emtaõ mando todos | os sabados fazer.” (Carta 30, avó)

Avô

Avó

Subtotal

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Como aponta Soto (2001), a presença do você nas cartas de Barbara não estaria relacionada a uma assimetria de tratamento de superior para inferior como se observa em outros corpora. Trata-se de “um uso mais generalizado do que um pronome de poder ou de solidariedade” (Soto, 2001, p. 186), uma vez que essa forma inovadora, cada vez mais, avança nos espaços funcionais típicos de tu. A variação entre você e tu em um mesmo documento, por exemplo, ocorre com maior freqüência em suas cartas.

(7) "A 12 escrevi a Christiano e || hoje avoce. Estimei muito || as boas noticias que tive que || voce está muito estudiozo e || que está muito adiantado. || Continue para nos dar mui- || to gostos e a sua Mae aquem || abraçarás por mim. || Aqui é uma monotonia, que || so seouve abulha do Rio, que fas || um atordoamento, que é pior do || que o silencio. Teabraça e a || Christiano Sua Avo e Amiga || Barbara." (Carta 41, avó)

Nas cartas de Christiano, nas quais prevalece um majoritário tu (96%), as raríssimas ocorrências de você (apenas 4%) aparecem predominantemente em trechos de discurso indireto. Nessas situações, ilustradas em (8.a) e (8.b) o avô muda o eixo interlocutivo ou cênico e dá voz a uma terceira pessoa. Com tal mudança, o tratamento torna-se indireto, daí a opção por um você como uma expressão nominal, uma não-pessoa, uma entidade abstrata:

(8)"Dizes que tens muita || saudade de teu papai que morreu e de nos to- || dos de ca: nos tambem temos muitas saudades || delle, de ti, de teu irmaõ, de tua mamae, de || Thia Paulina e Thio Julio; bem dezejo que ve- || nhaõ todos e estou fazendo uma casa em Bota- || fogo, onde caberemos todos melhor do que na || rua do Conde." (Carta 2, avô)

(a) Bebê me diz que você come bem ||

(b) e Ø esta engordando muito; e como ninguem de la || me diz – Tichet fez tolices – estou acreditando || que és um menino de juizo, que naõ fazes tris- || teza a tua mamae, irritando-te e gritando || por qualquer cousa. || Nos estamos em Petropolis; mas ninguem se-tem || divertido, nem passeado muito, porque ficamos || muito tristes com a morte de teu papai: Nininha || nem tem aberto o piano. Todos daqui te-abra- || çaõ, e com [especialidade] || Teu vovo muito amigo || C. B. Ottoni.” Em uma outra carta, há uma situação de “aconselhamento” ou uma situação hipoté-

tica com o emprego do subjuntivo. Seria forçado interpretar esse você como uma forma indeterminada? Poderíamos substituir a frase por “mas para que se/alguém/qualquer um vá também adquirindo gosto?”

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(9) “Has de notar que a cartinha que eu escrevo a Chris- || tiano é mais comprida do que esta: a razão é que elle || escreveo, e eu tive de fallar da carta delle Mas naõ || deixo de escrever-te tambem, naõ so porque quero bem a || ambos,

(a) mas para que voce tambem va adquirindo gosto || por estas communicaçoes, que servem de exercício para || vir a escrever bem.” (Carta 3, avô) No exemplo a seguir, a mudança de tu para você pode ter um efeito discursivo

diferenciado. Novamente, o avô começa com o majoritário tu no presente do indicativo, mas a entrada de você rompe com a temporalidade instaurada. Os dois netos iriam gostar da menina, como qualquer outra pessoa também procederia assim:

(10) “Ir || dar milho a um cavallo, naõ ficando atraz delle || nem ao lado naõ faz mal: e quanto á tua || predilecçaõ pelo pelintra, naõ posso julgar se || tens bom gosto, porque naõ me lembro da || figura desse cavallo. || Continuamos a estar em Petropolis, onde || temos com nosco a pequena Laura que está || muito viva e engraçadinha:

(a) voce e seu ir- || maõ haviaõ de gostar muito della, mas” (Carta 6, avô)

Os baixos índices de freqüência da forma você nas cartas de Christiano nos fazem supor que tal estratégia estivesse emergindo em contextos restritos, discursivamente motivados. No caso de Barbara, entretanto, não se percebe uma motivação discursiva aparente, mas a generalização de você como forma de 2ª pessoa. O comportamento diferenciado com relação ao gênero poderia referendar mais uma vez a hipótese la-boviana sobre o inovadorismo feminino na maioria dos fenômenos de mudança com o uso de formas “não-padrão”. Com o avanço das análises lingüísticas diacrônicas, tem-se confirmado tal princípio. Em um artigo sobre formas nominais que se prono-minalizam, Lopes (2002, p. 36) anuncia estranheza quanto ao fato “de o gênero (sexo) ter sido considerado relevante em um corpus de língua escrita, em que a referência ao sexo do “locutor” é eventualmente indicada em textos muito específicos, como é o caso das peças teatrais e dos romances”. Entretanto, verificou, naquela altura, maior favorecimento, nas diversas amostras analisadas (moçambicana, brasileira e européia), para o uso da nova forma, a gente pronominal, entre as mulheres. Identifica-se no artigo o seguinte comentário:

“No século XIX, os escritores, sejam os de teatro, sejam os romancistas, faziam com que suas personagens femininas utilizassem mais incisivamente a forma a gente pronominal (64%, .77), contra um uso mais tímido dos personagens masculinos (35%, .37) (...). Pressupondo que a gramaticalização de a gente tenha dado um salto significativo a partir do século XIX, e mesmo sendo difícil predicar quem deu início a uma efetiva

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mudança lingüística, parece – pelo menos é o que os resultados indicam — que foram as mulheres que deram o primeiro passo na introdução dessa nova forma.”

Como no português do Brasil a forma você suplantará o uso de tu a partir do século XX, nossos resultados preliminares mostram que talvez as mulheres tenham dado início a tal processo de mudança lingüística, confirmando o que foi observado em outros trabalhos.

O comportamento diferenciado quanto ao gênero parece estar correlacionado ao papel social da mulher na sociedade da época, à escolarização e transposição de aspectos da fala na escrita. Ficam evidentes, na amostra, reflexos de maior ou menor domínio da norma padrão. Nas cartas de Christiano, há uma preocupação consciente e explicitada, em suas próprias cartas com o domínio da língua portuguesa (Carta17), seja em relação à grafia (ex. 11 e 12), seja no estilo (ex. 11) ou na sintaxe:

(11) “Observando a calligraphia e examinando o estilo, julgo do progresso da intelligencia de cada um. Naõ peço cartas minuciosas e longas; mas meia duzia de linhas de cada um de voces, dirigidas a nos dous.” (Carta 16, avô) (grifo nosso)

(12) “Estimo ver letra de ambos; mas a ambos escrevo em uma so carta, entenden-do que isto consolida a feliz amisade que os une, e que desejo, nunca se-perturbe.(...) Continuem a escrever em portugues, e fallem portugues constantemente para naõ esquecer a lingoa patria; para o frances basta o Collegio. Em casa a conversa em portu- gues tem ate a vantagem de naõ ser enten- dido pelos criados, o que dá muita liberdade.” (Carta 17, avô) (grifo nosso)

Nas cartas de Barbara, por sua vez, não se identifica tal preocupação com as normas do bem falar e escrever. Percebe-se a presença de traços de oralidade em seu texto. Na carta 30, Barbara reproduz um diálogo com sua empregada:

(13) “Tenho uma criada que | dice que sabia fazer tudo | que eu mandace ella | fazer emtaõ perguntei | e Paõ doce voce sabe fazer | sei emtaõ mando todos | os sabados fazer.” (Carta 30, avó)

Como se pode perceber, além de não incluir nenhum sinal de pontuação que recuperasse a estrutura do discurso direto, emprega o pronome ela como sujeito de fazer em uma estrutura com verbo causativo “mandace ela fazer”, muito comum no português falado hoje no Brasil.

Um outro aspecto que evidencia, nas cartas dos avós, a espontaneidade oralizada de Bárbara em oposição às preocupações normatizadores de Christiano diz respeito à forma de assinar as cartas. Soto (2001, p. 184) lembra que o avô assina “com o nome

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completo, abreviando os prenomes”. A avó, no seu linguajar doméstico de dona de casa, mãe e avó, por seu turno, assina somente com o prenome, sem sobrenomes.

Embora pertençam ao topo da pirâmide social da sociedade carioca dos oitocentos e mesmo que possamos considerar que há uma relação assimétrica de superior para inferior (avós-netos), a semântica do poder não caberia na análise dessa amostra. Ou-tros fatores imperam nesse momento. Questionam-se agora os traços de oralidade presentes nas cartas, principalmente nas cartas da figura feminina representada pela avó-dindinha que sabia ler e escrever o suficiente para ser mãe-esposa do Senador. Era como outras mulheres do seu tempo, sem o domínio do padrão culto necessário ao professor, engenheiro, e senador Ottoni, o disciplinador.

O uso categórico de vocês no lugar de vós e o preenchimento do sujeito

A diferença de gênero associada à questão da presença de traços de oralidade nas cartas da figura feminina não foram preponderantes quanto ao emprego de você no plural. Identificaram-se 38 ocorrências de vocês como sujeito, incluindo-se 5 dados no imperativo, além dos 14 dados em outras funções (adjunto adnominal, objeto indireto, etc.). Tal uso categórico de vocês, na posição de sujeito, confirmaria a hipótese de que essa forma teria suplantado completamente, neste período, o pronome vós considerado traço arcaizante no século XVIII (Faraco, 1996). Marcas da segunda pessoa do plural ocorrem nos possessivos (vosso) e no pronome oblíquo (vos). Esses resultados referen-dam outros trabalhos quanto ao desuso de vós nos séculos XVIII e XIX. Aparentemente a forma plural vocês inseriu-se no sistema pronominal do português antes do que sua contraparte no singular – você. Há outras evidências na amostra que ratificam tal perspectiva. A primeira delas refere-se ao preenchimento do sujeito conforme se vê na tabela a seguir, em que se excluem os dados de imperativo:

Preenchimento do sujeito

TABE

LA 2

Formas utilizadas/preenchimento Você Tu Vocês Total

Os estudos sobre a pronominalização de Vossa Mercê > você em diferentes corpora (Lopes e Duarte, 2003; Rumeu, 2004, entre outros) mostraram que a forma

10/12 – 83,3%

02/12 – 16,6%

02/96 – 2%

94/96 – 98%

14/33 – 43%

19/33 – 57%

26

115

Pleno

Nulo

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você apresenta, no século XIX, um comportamento ambíguo, ou híbrido nos termos de Rumeu (2004), por manter algumas propriedades da forma nominal da qual se originou. Analisando cartas escritas em quatro cidades brasileiras nos séculos XVIII e XIX, Lopes e Duarte (2004) mostraram que

“o pronome mais utilizado é tu, e seu comportamento é o esperado numa língua de sujeito nulo, como é o caso do português brasileiro do século XIX. As ocorrências de você ainda são preferencialmente expressas, ou seja, ainda revelam traços de forma nominal” (grifo nosso).

Nas cartas dos avós, esses resultados se confirmam. Na oposição entre tu e você, percebeu-se o pronome tu predominantemente nulo (98%) contrapondo-se a um emprego de você pleno 83%. No caso da forma plural vocês, as freqüências de pre-enchimento, ao contrário da correspondente singular você, são mais baixas do que as de não-preenchimento: 57% para sujeito nulo vs. 43% para sujeito pleno. Aparente-mente vocês apresenta comportamento semelhante a tu, pronome mais utilizado no português brasileiro do século XIX — língua ainda de sujeito nulo, segundo Duarte (1995). O comportamento de você, predominantemente expresso, é evidência do continuum da gramaticalização: uma suposta persistência na forma gramaticalizada você de propriedades da expressão nominal de tratamento Vossa Mercê.

A descrição do sincretismo entre P2 e P3: separando o joio do trigo

Outros aspectos podem ser apontados para discutir a integração de você no sistema pronominal do português no final dos oitocentos. No processo de gramaticalização de Vossa Mercê > você, criaram-se algumas incompatibilidades entre propriedades formais e semântico-discursivas. Persistiu a especificação original de 3a pessoa, ou [Ø eu] (Lopes, 2003; Rumeu, 2004) e a concordância verbal continuou sendo a mesma (você faz/canta/trabalha), no entanto, a interpretação semântico-discursiva passou a ser de 2a pessoa [-EU]. Tal especificação apresenta ainda hoje indícios formais que se configuram na possibilidade de você combinar-se com formas pronominais de 2a pessoa (te/teu). Por um lado, com a entrada de você, o possessivo seu passa a atender à segunda e terceira pessoas, aumen-tando a freqüência da forma preposicionada dele (de + ele) principalmente, quando o referente é [+humano] (Cf. Abraçado, 2000; Negrão, 1996; Menon, 1996; Silva, 1996, etc.), por outro, teu e seu concorrem como possessivos de 2a pessoa.

Comentando o sincretismo entre segunda e terceira pessoas, Silva (1974, 1982) mostra que a combinação de você com te é mais freqüente que a combinação com teu, confirmando resultados de outros trabalhos com dados sincrônicos (Head, 1976, Jensen, 1977 apud Silva, 1982).

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A autora defende a necessidade de realizar um “estudo diacrônico focalizando a transição” (p. 108) entre teu e seu, principalmente, no que se refere ao teu remanescente do sistema de 2a pessoa. Os seus resultados mostraram o seguinte:

“...enquanto teu concorre apenas com seu (numa proporção de 1,6 para 98,4) te (com 18,2%) concorre com a forma nula (21,3%) e com os pronomes lhe (na função de objeto direto com a freqüência 14,3%), você (18,1%) e senhor (22,6%); concorre portanto com os outros pronomes numa situação de igualdade. Fica assim comprovada a bem menor penetração da forma teu do que da forma te” (Silva, 1982, p. 139).

Mesmo levando em conta o número irrisório de dados, foram isoladas as diferentes formas de referência à segunda e à terceira pessoas, separando os possessivos dos pronomes que funcionam como complemento. Optou-se por quantificar os dados das cartas da avó, pois nelas há maior variação entre a forma você e tu. Com relação às cartas de Christiano, far-se-ão apenas comentários qualitativos, principalmente, no que se refere às combinações com a forma vocês, uma vez que há o emprego quase categórico de tu com formas de P2 na amostra destinada a um dos netos.

A variação nas cartas de BarbaraAgruparam-se os dados de Barbara tendo em vista dois conjuntos de cartas: 1) as destinadas a um dos netos e 2) as endereçadas aos dois netos. Os resultados estão na tabela a seguir:

As estratégias combinatórias de P2 e P3 identificadas nas cartas de BarbaraTA

BELA

3

Destinatário das cartas

Pronome nas cartas

Possessivo Complemento

Mizael

Você (C.28, 30)

Tu (C. 29)

Você ~ tu (C. 31 e 41)

Vocês (C. 32, 33, 36, 37 e 40)

P3 seu(s), suas(s)

P2 teu(s), tuas(s)

P3 –os–

P2 –te–

P5 –vos–

06

03

05

28

02

09

03

03

03

02

01

Com relação às cinco cartas encaminhadas a um dos netos, identificou-se o pre-domínio de você sobre a forma tu. Em duas delas, Barbara só emprega você (Carta 28 e 30), em outra só utiliza tu nulo (Carta 29) e em outras duas utiliza você variando

Cristiano e Mizael

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com tu (Carta 31 e 41). A presença do possessivo teu e variantes (dois dados), como se vê na tabela, só foi localizada na carta 29 em que Barbara emprega apenas tu. Nas demais cartas da amostra, o possessivo que impera é o de terceira pessoa (seu e variantes) com 11 ocorrências: seis dados com você exclusivo e cinco ocorrências nas cartas em que há variação você~tu.

A “mistura de tratamento” mais evidente fica por conta do pronome-comple-mento de segunda pessoa te que aparece combinando-se a tu, você e você~tu. Tais resultados mostram que o sincretismo entre P2 e P3, causado pela inserção de você no sistema pronominal, dá seus primeiros reflexos formais na combinação de você com te no século XIX. Confirma-se, assim, a hipótese de Silva (1982) sobre a maior invasão da forma te do que da forma teu com o pronome você de segunda pessoa.

A combinação (você) – seu – te na amostra é mais freqüente nas despedidas de Barbara e na carta 37 destinada à filha:

(14) "Com muitas saudades te abraça sua dindinha do coração". (Carta 30, avó)(15) "Lembrança a os meninos ete abraça Com muitas saudades Sua Mai e Amiga Barbara." (Carta 37, avó)

No caso da forma plural, as escolhas da avó são outras. Nas despedidas o pro-nome-complemento que vigora é o de P3 (-os), como ilustra o exemplo a seguir. Tal comportamento é recorrente em sete cartas (32 a 36, 38 e 40).

(16) "Com muitas saudades os abraça sua Dindinha e Amiga." (Carta 32, avó)

Identificaram-se, no total, 09 ocorrências de –os-, uma delas, diferente dos fecha-mentos listados anteriores, aparece precedida de –te-. Em todas essas cartas, reina absoluto o possessivo de 3ª pessoa –seu (28 ocorrências).

(17) "Da um abraço a Ninia e a Tio Lulu e temvia muitos beijos e abraços Sua Didinha que muito os ama." (Carta 39, avó) Em síntese, percebe-se que a “mistura de tratamento” ocorre, nas cartas de Barbara,

mais no singular do que no plural. No primeiro caso, identificou-se 1) você variando com tu em uma mesma carta, o que evidencia a disputa da forma inovadora pelos espaços funcionais do pronome de segunda pessoa; 2) a combinação de tu~você com seu e te, 3) o possessivo teu ocorrendo somente em referência a tu; 4) a presença de te, combinando-se com você.

No segundo caso, a forma vocês aparece como categórica na posição de su-jeito, combina-se com formas de terceira (seu e os), embora seja possível localizar

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a correlação – rara na amostra — entre te-seu-os ou seu-os-vos. A presença de vos como complemento nos fechamentos/despedidas das cartas ilustraria, como veremos também em Christiano, a continuidade de um elemento textual fixo, quase uma fórmula conclusiva comum ao modelo epistolar. Este último caso está ilustrado a seguir:

(18) "que de ca de longe sua avó os abraça e abençoa com muitas saudades e que vos quer bem." (Carta 40, avó)

Ainda o conservadorismo de ChristianoNas cartas de Christiano destinadas a um remetente, como discutido anteriormente, prevalecem as combinações tu-teu-te. As raras ocorrências de você aparecem em três cartas (2, 3 e 6). Nelas você combina-se a formas de 3ª pessoa (você-seu) como se observa no excerto retirado da carta 6.

(19) "Li com muita satisfaçaõ a tua cartinha,| sem data, que chegou aqui antehotem: deo-me | ella occasiaõ de verificar que tens te adiantado | porque a letra é muito melhor do que era e | a carta está limpa sem borroes. (...) Continuamos a estar em Petropolis, onde | temos com nosco a pequena Laura que está | muito viva e engraçadinha: voce e seu ir-| maõ haviaõ de gostar muito della, mas | penso que quando vierem ja Zulmira terá | voltado para Paranagua." (Carta 6, avô )

As cartas 14, 16 a 20 e 23 a 25 foram enviadas aos dois netos pelo avô e nelas identificaram-se exclusivamente, como na amostra de Barbara, dados de vocês na posição de sujeito. Diferentemente do que ocorre nas cartas da avó em que se cor-relaciona vocês com seu, nas cartas de Christiano, predominam as combinações de vocês com o possessivo vosso. Localizaram-se dez ocorrências de vosso(a)(s) e apenas seis de seu(s)/sua(s). As ocorrências do possessivo de 2ª pessoa do plural aparecem, principalmente, nos fechamentos das cartas ou despedidas (7 e 10). Em duas das nove cartas encaminhadas aos dois netos, aparecem fechamentos com seu, em cinco delas, a forma vosso e nas duas restantes não há formas possessivas.

Os exemplos ilustram as ocorrências de seu e vosso nas cartas dirigidas aos dois netos.

I – seu (dois dados)

(20) "Adeos: Deos abençoe a ambos, e permitt[e] | que sempre queiraõ bem a Seu vôvô, muito amigo C. B. Ottoni." (Carta 14, avô)

(21) "Dê cada um do 2 um abraço a thio | Lulu, e queiraõ sempre bem ao seu Vovô amigo." (Carta 20, avô)

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II - vosso em despedidas de cartas coletivas (cinco dados)

(22) “Abraça a ambos de todo o coração Vosso avô muito amigo.” (Carta 16, avô)

(23) “Vossa Dindinha, atropellada com ar-| rumações naõ pode escrever hoje. Sau-| dades della e um abraço de Vosso vovô amigo.” (Carta 17, avô)

(24) ”Continuem a escrever-nos sempre que | puderem sem prejui[s]o de seus deveres: | eu naõ sei se o homem que se chamou | Baraõ de Magdalena lhes queria mais | bem, do que o vosso Vovô muito. Amigo”. (Carta 18, avô)

(25) “Abraça-vos e abençoa de coraçaõ o | vosso Vôvô muito amigo” (Carta 24, avô)

(26) “Saudades a todos os nossos Vosso avô e amigo.” (Carta 25, avô)

As despedidas de (Carta 27 e 28), também com o possessivo vosso, foram iden-tificadas em cartas endereçadas inicialmente a um dos netos, embora ao final o avô faça referência a ambos. A repetição exaustiva do mesmo tipo de despedida nas cartas referenda a hipótese de que a presença de vosso funciona como um modelo discursivo característico do gênero epistolar na época.

III - vosso em despedidas em cartas individuais (dois dados)

(27) “A ambos abraça e abençoa o vosso Vovô amigo.” (Carta 15, avô)

(28) “Christiano haja esta por sua: a | ambos abraça de coraçaõ o vosso Vôvô, muito amigo.” (Carta 22, avô)

Em termos da variação entre vosso e seu numa mesma carta, identificou-se tal compor-tamento nas cartas 14 e 18 endereçadas aos dois netos, como mostram os exemplos.

IV - vocês-vosso-seu

(29) “Escrevo a ambos uma so carta, naõ para | poupar tempo, porque na ociosidade em | que me deixou o encerramento da sessaõ | do Senado e na solidaõ e silencio tumu-| lar, em que vegetamos eu e a vossa Din-| dinha, escrever a pessoas que amo; é uma | excellente occupaçaõ, minutos roubados á | profunda melancolia que me domina.” (...)”Dirijo-me aos dous juntamente, porque | no meu coraçaõ os confundo em um so | e immenso amor, e porque desejo cultivar | a estreita amizade em que os vejo. Observar | dous irmaos taõ amigos como voces dous, | que nunca brigaõ, que em tudo se identifi-|

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caõ é um espectaculo conçolador. Sejaõ | sempre assim. Na mocidade; ninguem | sabe que difficuldades; e soffrimentos lhe | reserva o futuro: se um dos dous for in-| feliz por qualquer motivo, a amisade in-| tima de seu irmaõ lhe será um recurso | precioso. (...)”Naõ me admiro que voces enjoassem nos | primeiros dias; é tributo que quase todos | pagaõ ao Deos Neptuno: (...) Conto | que haõ de escrever-me referindo a sua | vida e occupaço-es. Christiano deve pen-| sar sempre em naõ fatigar-se excessivamen-| te com continuas leituras de recreio; (...) “Nossa vida aqui na rua Farani é triste | e monotona. Reinou a solidaõ desde que voces embarcaraõ; mas tornou-se completa | no dia 22, indo-se embora Theodo[s]inha e | levando Theodosia.(...) Seu vôvô, muito amigo." (Carta 14, avô)

(30) “O coraçaõ se me-expande, quando | leio cartas de voces dous, e mais desta | vez, porque vieraõ acompanhadas de | retratos, com phisionomias que trans-| piraõ saude. Disse mal – acompa-| nhadas de retratos - : os nossos naõ | vieraõ ; vi os que Julio recebeo”.(...) “Continuem a escrever-nos sempre que | puderem sem prejui[s]o de seus deveres: | eu naõ sei se o homem que se chamou | Baraõ de Magdalena lhes queria mais | bem, do que o vosso Vovô muito. amigo." (Carta 18, avô)

Em outras cinco cartas (16, 17 e 23 a 25) prevalece a co-indexação de vocês com vossos. Em todas as cartas a forma possessiva de segunda pessoa do plural ocorre pelo menos uma vez nas despedidas/fechamentos:

V - Vocês-vossos

(31) “Aqui, logo no 1º dia, sentando-me a es-| crever deparei com o limpa-penna com | que voces me brindaraõ a 21 de Maio. | No 2º dia pediraõ Julio e Virgilio dous caval-| los: um era a minha egoa pampa, outro o | cavallinho turdilho, em que andava Misael, | e que está cada ves melhor. Vosso avô muito amigo.” (Carta 16, avô)

(32) “Chegados antehontem de Piracicaba, re-| cebemos hontem as vossas cartas, de Christiano do | 1º de Misael do dia 3, e ao mesmo tempo | uma de Virginia datada de 7. Estimo ver | letra de ambos; mas a ambos escrevo em | uma so carta, entendendo que isto consolida | a feliz amisade que os une, e que desejo, | nunca se-perturbe. É bonito espectaculo | o de dous irmaõs, assim unidos e intimos. | Podem crer que as saudades saõ reciprocas: | ainda ha pouco, em Piracicaba, raro foi | o dia em que naõ se-falasse em voces dous. (...) Vossa Dindinha, atropellada com ar-| rumações naõ pode escrever hoje. Sau-| dades della e um abraço de Vosso vovô amigo.” (Carta 17, avô)

(33) “A vossa cartinha de 10 de Maio | deo-me muito prazer: estava acos-| tu-mado a communicações mais ex-| pansivas, e ha dous meses cessarõ | ellas. Em compensaçaõ, Virginia | tem continuado a ser muito mi-| nuciosa, o que apreciamos

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devidamente(...) Ahi vaõ as novidades, que voces | viraõ achar em setembro na rua Farani: | Julio arrendou 13m,20 do terreno | ao lado do nosso jardim com fun-| dos ate o alto do morro, comprehen-| dendo o que nos fica pelos fundos; (...) Por ora so tem 2 | cavallos em que sahe às vezes comi-| go: o meu é muito manso e bom, mas | naõ bonito como o do Julio: pode-| rei ceder algumas vezes o passeio a | voces, ora a um ora a outro. (...) Naõ temos atualmente molestia | em casa, felismente: desejo que | vocês venhao bem robustos.” (Carta 23, avô)

(34) "Recebi a vossa saudaçaõ de 21 de Maio, | que veio retardada, porque Virginia esque-| ceo-se de a mandar ao correio. (...) A novidade principal que voces viraõ | achar na casa, é o que aqui chamamos | a chacara de Julio: arrendou um vasto | terreno ao lado e nos fundos dos nossos | muros, e construio cocheira, estrebarias, | quarto para criado e pateo murado para | os cavallos ficarem soltos. 24 (...) Abraça-vos e abençoa de coraçaõ o | vosso Vôvô muito amigo." (Carta 24, avô)

(35) "Esta carta é de queixa. O paquete Bra-| sil, que trouxe Dona Cornelia, partio de Bordeaux | 4 ou 5 dias depois da operaçaõ que vossa mae | soffreu; e estando nos em grande inquietaçaõ | a esse respeito, naõ recebemos uma linha. (...) Virginia era, de todos os nossos que estaõ em | Paris a mais assidua a escrever-nos, o que | muito lhe agradecemos: naõ podia fasel-o | nesta occasiaõ; mas que um de voces dous naõ | o fizesse deveras estranho, porque a todos | quero muito bem (...) Saudades a todos os nossos Vosso avô e amigo." (Carta 25, avô)

Em apenas uma carta vocês ocorre ao lado de seu:

VI - vocês-seu

(36) "O que vocês me disem do frio e neve ahi | contrasta com os suadores que ca tomamos: em | Outubro o thermotro chegou a 32º: hoje | com chuva, tem descido alguns gras (sic)”. (...) Dê cada um do 2 um abraço a thio | Lulu, e queiraõ sempre bem ao seu Vovô amigo." (Carta 20, avô)

Em suma, Christiano é o nosso parâmetro de norma culta oitocentista, revelando os resquícios de fórmulas fixas do gênero carta, ao lado das formas íntimas de tratamento familiar. Em suas cartas, percebe-se, no tocante ao uso de tu~você e vocês, o seguinte: a) a correlação entre tu e teu-te e entre você e seu de acordo com a norma vigente por-tuguesa que vigorará no Brasil; b) o predomínio de vosso combinando-se a vocês como estratégia de fechamento/despedida nas cartas; c) o antigo vosso, combinando-se com vocês, ainda disputando espaço com o seu que se firmará ao lado de "de+vocês" como estratégia possessiva de 2ª pessoa do plural no português brasileiro do século XX.

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Considerações finaisApesar de coexistirem e terem chegado no Brasil sem a força cortês dos primeiros tempos Vosmecê, mecêa, vosse, você... e a própria forma original Vossa Mercê, a partir de meados do século XVIII, tornam-se divergentes. A forma vulgar passa a ser produtiva nas relações assimétricas de superior para inferior, podendo assumir em algumas situações “conteúdo negativo intrínseco”, em oposição à sua contraparte desenvolvida. No Brasil, a concorrência entre tu e você se dá nas relações solidárias mais íntimas. Tais valores, entretanto, permanecem disponíveis, principalmente, no português europeu em que você não se generaliza como ocorre no Brasil. Aqui tal estratégia não era negativamente marcada. “O Você, com maiúscula, usado pela elite, para designar a elite, é [no Brasil oitocentista] uma forma de prestígio (Soto, 2001, p. 242).

Com a inserção de você no quadro pronominal do português, percebe-se a persistência da especificação original de 3a pessoa, embora a interpretação semântico-discursiva passe a ser de 2a pessoa [-EU]. Quando Barbara escrevia

"Recebi asua cartinha, que medeo muito prazer, ver que voce setem adiantado muito. Fiquei muito contente quando sua Mae medisse que em principio deMaio estaraõ cá, pois estou com muitas saudades de voces todos. Vóvó temanda muitas lembranças.a menina de Zulmira está muito engraçadinha ja tem 2 dentinhos.(...)." (Carta 28, avó)

a interpretação semântica é inegavelmente de 2a pessoa [-EU], mesmo que o pronome você esteja correlacionado a formas de 2a [-eu] (te manda) ou de 3a [Ø eu] pessoas (sua cartinha, sua mãe). Apesar de ainda ser condenada pelo ensino tradicional, a combinação de você com formas de 2ª pessoa já era comum no início do seu processo de gramaticalização.

Os resultados obtidos, com base nas cartas oitocentistas, confirmam um com-portamento diferenciado com relação ao gênero e à maior ou menor influência do oral no escrito. Para Christiano, um uso estável e sistemático, com predomínio de tu correlacionando-se a formas de segunda pessoa e o emprego categórico de vocês na posição de sujeito, refletindo a preocupação do avô-professor com o que preconiza a norma gramatical portuguesa. No caso da amostra de Barbara, percebe-se um com-portamento instável em relação à combinação de você e tu com co-referentes de 2a e 3a pessoas. Nas cartas mais espontâneas da avó, impregnações da oralidade são claras e deixam transparecer o que será a norma brasileira novecentista, em que a “mistura de tratamento” ou o “voceamento” da língua transplantada, nos termos de Soto (2001), inaugura um quadro pronominal rico e complexo com variadas possibilidades com-binatórias de tu e você com formas outras de segunda e de terceira pessoas: reflexos de um passado distante e de um futuro próximo.

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Notas1. O autor refere-se à invasão das formas de tratamento, principalmente, da forma você.

2. Além das diferenças regionais em termos do português do Brasil, há estudos, ver MENON, 1995, que

mostram como um dos condicionantes para o emprego de te ou lhe, o caráter mais íntimo do primeiro e

não-íntímo ou mais formal do segundo.

3. Combinação de imperativo de 2ª pessoa com a forma você.

4. Traços de gênero, número e pessoa como proposto em LOPES, 1999.

5. Em um sentido amplo, a gramaticalização é um fenômeno que ocorre quando um item lexical se torna, em

certas circunstâncias, um item gramatical ou quando itens gramaticais se tornam ainda mais gramaticais.

6. Mais informações, e a própria amostra, encontram-se na parte 2 deste livro e em A história da família Otoni

nas linhas e entrelinhas – p.15-23.

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