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INDISCIPLINA ESCOLAR: BREVES ANOTAÇÕES SOBRE UM FENOMENO
MULTIFACETADO
SANTOS, Claudinéa Otávio dos1
CAVALEIRO, Maria Cristina2
RESUMO
Este artigo apresenta algumas reflexões sobre o fenômeno da indisciplina no cotidiano escolar. Partindo do pressuposto que, se desejamos intervir na realidade educacional, devemos conhecer, de antemão, a forma como os sujeitos que estão envolvidos nessa realidade compreendem os dilemas que vivenciam e as alternativas para modificação dessa situação, buscamos refletir e analisar o fenômeno da indisciplina numa instituição escolar da rede pública estadual e o tratamento dispensado para resolução desta questão. Como instrumento para coleta de dados, optou-se pela utilização de questionário, com perguntas fechadas e de múltiplas escolhas realizado com direção, professores, equipe pedagógica, funcionários e alunos matriculados na 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental no ano letivo de 2011. No contexto de uma educação pública, este estudo ajuda a perceber aspectos da vida escolar que necessitam ser problematizados e demandam o envolvimento de toda comunidade educacional.
Palavras-chave: indisciplina, cotidiano escolar, realidade educacional.
1Autora: Professora Pedagoga da Rede Estadual participante do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE/SEED/PR/2010. 2Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/SEED/PR/2010. Professora do
Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP – Campus de Cornélio Procópio. Doutora em Educação.
2
1 INTRODUÇÃO
Como Professora Pedagoga, o nosso interesse em estudar indisciplina
escolar, surgiu da nossa prática profissional, pois a indisciplina é relatada como algo
que atrapalha ou compromete a participação e desempenho dos alunos,
especialmente quando ocorre na sala de aula, figurando como um “problema” de
comportamento que precisa ser “resolvido” por todos, e que deve envolver para tal
finalidade, professores, especialistas, família. Contudo, se a escola e o pedagogo
escolar se preocupam somente em resolver “problemas de comportamento”,
dificilmente conseguem discutir o fenômeno da indisciplina percebendo-a enquanto
problemática educacional.
Assim, o presente trabalho teve como objetivo refletir e analisar o fenômeno
da indisciplina numa instituição escolar da rede pública estadual e o tratamento
dispensado para resolução desta questão específica. Tendo como suporte a
pesquisa qualitativa, na modalidade da pesquisa exploratória, ao realizar um estudo
de caso buscamos perceber o modo como são construídas as explicações acerca do
fenômeno da indisciplina na instituição escolar.
No caminho percorrido da pesquisa utilizamos a observação, e o tempo foi
muito importante, porque, segundo Lüdke e André (1986, p. 28), a observação
“possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno
pesquisado”.
Tendo em mente colher as percepções sobre indisciplina no ambiente
escolar, como instrumento para coleta de dados, optou-se também pela utilização de
questionário misto, com perguntas fechadas e de múltiplas escolhas, realizado com
direção, professores, equipe pedagógica, funcionários e alunos matriculados na 5ª e
6ª séries do Ensino Fundamental no ano letivo de 2011, de um Colégio da Rede
Estadual de Ensino do Paraná, na zona rural do município de Bandeirantes. Este
Estabelecimento de Ensino funciona no turno da manhã, tarde e noite. No período
diurno funciona o Ensino Fundamental e no período noturno, o Ensino Médio e os
Cursos da Educação Profissional Subsequente: Técnico em Açúcar e Álcool e
Técnico em Segurança do Trabalho. O cuidado com o sigilo e o tratamento dos
3
relatos obtidos foi assegurado a todas as pessoas participantes. A coleta de dados
ocorreu no mês de setembro de 2011.3
2 ALGUMAS APROXIMAÇÕES: INDISCIPLINA ESCOLAR COMO FENÔMENO
COMPLEXO
Quando se fala da indisciplina na escola, evocam-se inúmeros exemplos.
Um aluno que entra na sala de aula com boné na cabeça ou mascando balas é
considerado “indisciplinado”, enquanto que para outros professores não é. Não raro,
considera-se que a indisciplina (dos alunos) manifesta-se ao falar em sala de aula;
para outros, a fala do aluno é permitida em algumas situações; há também aqueles
que consideram que a desordem e a sujeira em classe são problemas
(disciplinares). Muitas vezes, “movimentar-se em sala de aula” representa uma
desobediência às regras, sendo tratada como indisciplina. Para os professores, a
indisciplina escolar refere-se apenas aos alunos, mas os alunos queixam-se da
atuação dos professores em sala de aula.
Estudos focados na discussão sobre a indisciplina entre os anos de 1980 a
1995, revelaram que se trata de temática complexa revestida de caráter peculiar na
sociedade brasileira. Segundo Sposito (2008), há um conjunto de questões cujos
significados merecem ser investigadas e que afeta os processos educativos, em
especial a escola, na sociedade contemporânea. Na visão da autora, é preciso
buscar referenciais teóricos para estudar a indisciplina escolar numa visão ampla,
que permita buscar subsídios coerentes para verificar como o fenômeno se processa
no interior da instituição escolar.
Atos anteriormente classificados como produtos usuais de transgressões de
alunos às regras disciplinares, até então tolerados por educadores como inerentes
3 Registramos todas as respostas e em seguida foi feito a tabulação das mesmas, sendo 42 alunos
entre 10 e 15 anos, de 5ª e 6ª séries da turma da tarde do Ensino Fundamental, matriculados no ano letivo de 2011, e 23 professores e funcionários responderam o questionário, sendo 22 do sexo feminino e 1 do sexo masculino. Foi enviado aos pais e/ou responsáveis com bastante antecedência um Termo de Autorização e Corresponsabilidade, para que os mesmos autorizassem os alunos a participarem da coleta de dados, respondendo o questionário, pois os mesmos são menores de idade.
4
ao seu desenvolvimento, podem hoje ser sumariamente identificados como violentos
ou indisciplinados. De acordo com Sposito (2008), condutas violentas, envolvendo
agressões físicas, podem ser consideradas pelos atores envolvidos como episódios
rotineiros ou meras transgressões às normas do convívio escolar.
Por essas razões, um dos aspectos ainda a serem investigados diz respeito ao modo como, no âmbito da instituição escolar, são construídas as definições que designam e normalizam condutas – violentas ou indisciplinadas – por parte dos atores envolvidos: professores, alunos, funcionários, pais, entre outros (SPOSITO, 2008, p. 3, grifos nossos).
Julio Aquino (1998) considera que, historicamente, o processo de
escolarização revestiu-se de caráter elitista e conservador e, assim, o acesso das
camadas populares à escola era obstruído pela própria estruturação escolar em
determinadas épocas. Para o autor, no que se refere à educação escolar na
atualidade, as estratégias de exclusão mudaram e se sofisticaram.
Em relação à representação dos professores, a literatura tem destacado o
quanto um determinado modelo de aluno, acarreta implicações para as interações
entre professores e alunos. A esse respeito, Andrade (1999) observou que entre os
professores, o modelo de “bom aluno” correspondia aquele que obedecia
“cegamente aos rituais e rotinas escolares” e se portava com ordem e disciplina.
Alunos disciplinados são “bonzinhos”, ou seja, obedientes e disciplinados.
Em que pese ser considerada como uma instituição social concreta,
integrante de um sistema sociopolítico, em muitos discursos apresenta-se a escola
como vítima da indisciplina de um público inadequado. Subjacente a essa visão, são
atribuídas aos alunos características inatas ou familiares que os tornam inaptos ou
incapacitados, recaindo sempre neles a responsabilidade pela sua não-adaptação à
escola. No caso da indisciplina, busca-se atribuir ao fenômeno um sintoma de
relações familiares desagregadoras, incapazes de realizar, a contento, sua parte no
trabalho educacional de crianças e adolescentes (AQUINO, 1996).
Conforme estudos realizados por Luciano (2006), para muitos professores, o
“bom” aluno é sempre aquele que recebe um bom suporte familiar e é dotado de
atributos pessoais, como “limpinho, quietinho, estudioso, dedicado, esforçado,
atencioso, inteligente, responsável, otimista”, entre outras características. O “mau”
5
aluno é visto como aquele que apresenta características opostas: indisciplinado,
desatento, preguiçoso, briguento, rebelde, inquieto, desinteressado. O suporte
familiar também é destacado como requisito importante para que o aluno seja bom.
Na visão de professores o acompanhamento das tarefas realizadas em
casa, a boa alimentação, o afeto e a “educação que vem do berço” propiciam
responsabilidade tanto em relação aos estudos quanto à organização do material
escolar, contribuindo para que o aluno se destaque e seja atencioso em sala. Nesse
sentido, é possível dizer que essas representações naturalizam a indisciplina, ou
seja, os professores vão construindo uma visão de “aluno” ao longo de seu percurso
de vida profissional, incluindo as representações e significados do “bom
comportamento” como sinal de disciplina.
De acordo com Libâneo (1986), cada sociedade exige um modelo diferente
de escola e esta cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade concreta.
[...] tem atrás de si condicionantes sociopolíticos que configuram diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente diferentes pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relações professor-aluno, técnicas pedagógicas, etc. (LIBÂNEO, 1986, p. 19).
Tomar como referência que a escola é uma instituição social e está em
intensa relação com o contexto sócio-econômico-político, implica compreender que
na sua organização e estruturação, há objetivos e interesses de grupos sociais
diferentes. Esses interesses e objetivos que vão orientar e sustentar uma
determinada prática educativa estão permeados por um conjunto de valores nem
sempre muito conscientes por parte das escolas, dos professores/as e gestores/as,
enfim, da equipe pedagógica.
Para Aquino (1996, p. 40), “embora o fenômeno da indisciplina seja um
velho conhecido de todos, sua relevância teórica não é tão nítida”. A definição de
indisciplina é múltipla, com vários significados e percepções. No livro intitulado
“Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas” organizado pelo autor é
possível notar o esforço para definir o que vem a ser indisciplina, normalmente a par
de seu contrário, a disciplina.
6
É importante considerar que a origem dos comportamentos ditos
“indisciplinados” pode estar em diversos fatores: aqueles ligados a questões
relacionadas ao professor, principalmente na sala de aula, centrados nas famílias
dos alunos, verificados nos próprios alunos, gerados no processo pedagógico
escolar, e nos fatores alheios ao contexto escolar. Sua outra face, a “disciplina”,
pode indicar apenas adaptação aos esquemas da escola, simples conformidade ou
mesmo apatia diante das circunstâncias que lhes são oferecidas.
Compreende-se, portanto, que a disciplina ou indisciplina dos alunos
representam comportamentos atrelados às concepções dos educadores,
concepções estas que, por sua vez, orientam as práticas pedagógicas. Assim, é
necessário romper com imagens idealizadas que muitas vezes tomam a indisciplina
apenas como uma questão de comportamento, insistentemente associado ao
próprio aluno e aos recursos advindos do apoio familiar.
O modo como se interpreta o fenômeno da indisciplina pode acarretar uma
série de implicações para a prática pedagógica e, em consequência, para a
aprendizagem e o desenvolvimento dos indivíduos. A esse respeito Teresa Cristina
Rego (1996), considera que a interpretação da indisciplina (e da disciplina) fornece
elementos capazes de interferir não somente nos tipos de interações estabelecidas
com os alunos e na definição de critérios para avaliar seus desempenhos na escola,
como também no estabelecimento dos objetivos que se quer alcançar.
Para a autora não basta esperar pela família e nem ficar lamentando os
traços comportamentais que cada aluno apresenta ao entrar na escola, sendo
necessário que os educadores façam uma análise aprofundada dos fatores
responsáveis pela ocorrência do fenômeno da indisciplina na escola, buscando
indagar pelos fatores que aumentam sua incidência na escola, tais como:
[...] metodologias que subestimam a capacidade do aluno (assuntos pouco interessantes ou fáceis demais), cobrança excessiva da postura sentada, inadequada da organização do espaço da sala de aula e do tempo para a realização das atividades, excessiva centralização na figura do professor (visto que o único detentor do saber) e, consequentemente, pouco inventiva a autonomia e as interações entre os alunos, constante uso de sanções e ameaças visando ao silêncio da classe, pouco diálogo, etc. (REGO, 1996, p. 100).
7
O fenômeno da indisciplina escolar não apresenta uma causa única ou
mesmo principal. É importante considerar que eventos de indisciplina, mesmo
envolvendo um sujeito único, costumam ter origem em um conjunto de causas
diversas, e muito comumente refletem uma combinação complexa de causas
(VASCONCELOS, 2004). Esta complexidade é parte do perfil do fenômeno da
indisciplina e deve ser considerada se desejamos compreendê-la para estabelecer
estudos efetivos sobre o tema em questão.
Para entender melhor as diversas causas da indisciplina escolar, elas podem
ser reunidas em dois grupos gerais: as causas externas à escola e as causas
internas. Na primeira encontramos a influência hoje exercida pelos meios de
comunicação, a violência social e o ambiente familiar. No que diz respeito às causas
encontradas no interior da escola, por sua vez, estas incluem o ambiente escolar e
as condições de ensino-aprendizagem, os modos de relacionamento humano, o
perfil dos alunos e sua capacidade de se adaptar aos esquemas da escola.
Áurea Guimarães observa que é possível uma compreensão
descentralizadora na análise dos fenômenos escolares ao afirmar que “a instituição
escolar não pode ser vista apenas como reprodutora das experiências de opressão,
de violência, de conflitos, advindas do plano macroestrutural”. Para a autora, “é
importante argumentar que, apesar dos mecanismos de reprodução social e cultural,
as escolas também produzem sua própria violência e sua própria indisciplina”
(GUIMARÃES, 1996, p. 77).
3 OS QUESTIONÁRIOS E OS RESULTADOS ENCONTRADOS
A análise dos dados colhidos na pesquisa buscou agrupar convergências e
divergências encontradas nas respostas dadas aos questionários pelos sujeitos
respondentes.
QUADRO 01- VOCÊ GOSTA DE ESTUDAR? (assinalar apenas uma alternativa)
Respostas Total das
respostas dos alunos
Porcentagem Total das respostas dos
professores e funcionários
Porcentagem
Sim 38 90% 06 73%
8
Não 04 10% 17 27%
Total Geral 42 100% 23 100%
Fonte: Santos, 2012
Pelos resultados obtidos está bem claro que os professores e funcionários
acharam que a maioria dos alunos não gosta de estudar; contudo, 90% dos alunos
responderam que gostam de estudar. Nesse sentido, percebe-se que a maior parte
dos adultos que convivem com esses alunos desconhecem a atitude positiva que
estes têm para com seus estudos.
A referência da percepção se há indisciplina na escola também foi solicitada.
QUADRO 02- VOCÊ CONSIDERA QUE HÁ INDISCIPLINA NA SUA ESCOLA?
(assinalar apenas uma alternativa)
Respostas Total das
respostas dos alunos
Porcentagem Total das respostas dos
professores e funcionários
Porcentagem
Muita 38 90% 10 43%
Pouca 04 10% 13 57%
Total Geral 42 100% 23 100%
Fonte: Santos, 2012
A maioria dos alunos considera que há muita indisciplina na escola, sendo
que 57 % professores e funcionários consideram que há pouca indisciplina,
revelando sinais que há visões diferentes sobre o que seja indisciplina.
Em estudos realizados por Golba (2008), vamos encontrar o seguinte
esclarecimento:
É interessante destacar que, ao referenciar o desentendimento entre professores e alunos como causa de indisciplina escolar, o aluno pode estar sugerindo que professores e alunos teriam diferentes perspectivas sobre indisciplina na escola. Assim, professores e alunos não estariam se entendendo, porque possuem parâmetros diferentes para definir a indisciplina assim como, apontar suas causas (GOLBA, 2008, p. 74).
Dos resultados obtidos da questão do que é a indisciplina, assinalando
apenas uma alternativa.
9
QUADRO 03- VOCÊ ACREDITA QUE A INDISCIPLINA É: (assinalar apenas uma
alternativa)
Respostas Total das
respostas dos alunos
Porcentagem Total das respostas dos
professores e funcionários
Porcentagem
Uma coisa normal 06 14% 00 0% Uma coisa anormal 00 0% 00 0%
É comum na adolescência
14
33%
06
26%
Não deveria existir 14 33% 00 0%
Baixa autoestima 00 0% 03 13%
Ausência de regras 08 20% 14 61%
Total Geral 42 100% 23 100%
Fonte: Santos, 2012
Não podemos deixar de considerar que alunos percebem a indisciplina como
normal e algo comum na adolescência, mas que ela não deveria existir. Já para boa
parte dos professores e funcionários a indisciplina está vinculada à baixa estima e a
ausência de regras.
Em Carvalho (1996) vamos encontrar o seguinte esclarecimento sobre as
regras:
Assim, as regras e disciplinas não são só reguladoras (no sentido de permitir, proibir, facultar) mas também constitutivas, no sentido de que a sua existência é que possibilita a criação. [...] As regras que formam as disciplinas escolares não tem uma função exclusiva ou preponderantemente regulamentadora (da boa ordem), mas constitutiva, posto que possibilitam uma forma de trabalhar, de ver o mundo na perspectiva da história, das artes, da física etc. (CARVALHO, 1996, p. 136, grifos do autor).
Na pergunta seguinte, foi solicitado para que assinalassem uma ou mais
alternativas, opinando em que prejudica a indisciplina do aluno. Dos resultados
obtidos, a maioria opinou que a indisciplina prejudica a aprendizagem, em seguida,
os alunos opinaram que prejudica também o próprio aluno e os conteúdos escolares,
causando dano no processo educativo.
QUADRO 04- EM SUA OPINIÃO A INDISCIPLINA DO ALUNO PREJUDICA:
Respostas Total das respostas
dos alunos Total das respostas dos
professores e funcionários
A aprendizagem 34 23
O aluno 32 08
10
Os conteúdos escolares 32 14
A família 22 01
Fonte: Santos, 2012
O fenômeno da indisciplina na escola é um tema que nos faz refletir sobre a
metodologia utilizada em sala de aula, a relação professor-aluno, a função e os
valores que permeiam a sociedade na atualidade, os encaminhamentos
direcionados pela equipe pedagógica e a democratização da gestão escolar, entre
outros.
Ao discutir o envolvimento dos professores, Golba (2008) considera que há
situações que estes podem ser considerados, em razão de sua prática de sala de
aula, os motivadores das manifestações de indisciplina. Em outras situações, os
professores envolvem-se, porque detêm o poder em sala de aula e resolvem as
situações de indisciplina durante o processo aula. Já os alunos, envolvem-se porque
são agentes da indisciplina na escola. Advertem, porém, “só agimos assim, porque o
professor permite”.
Foi solicitado que indicassem a procedência da indisciplina. Cada
respondente pode assinalar uma ou mais alternativas.
QUADRO 05- VOCÊ ACREDITA QUE A INDISCIPLINA TEM SUA ORIGEM:
Respostas Total das respostas
dos alunos Total das respostas dos
professores e funcionários
Nas condições da família 12 15
Na sociedade de modo geral 16 06
No ambiente instável do aluno 18 18
Nas condições socioeconômicas da família 00 08
Nos conteúdos escolares 18 03
Fonte: Santos, 2012
Alunos, professores e funcionários e alunos acreditam que a indisciplina do
aluno tem sua origem no ambiente familiar instável do aluno. Contudo, podemos
perceber a frequência de respostas assinaladas pelos alunos que vinculam a
indisciplina aos conteúdos escolares.
Um dos grandes problemas enfrentados pela escola é a inadequação dos
conteúdos trabalhados nas diversas disciplinas da grade curricular. A esse respeito,
Araújo (1999) utiliza-se da seguinte argumentação:
11
Uma visão mais crítica mostra que, de maneira geral, esses conteúdos estão dissociados da realidade e do cotidiano dos alunos. Isso, além de provocar a falta de interesse e comprometer o respeito dos estudantes pelos seus mestres, é uma das fontes para o grande problema da indisciplina que hoje assola as escolas. Um conteúdo em que o aluno não entende a função para o seu dia-a-dia, ou mesmo para sua vida, aumenta a probabilidade de apatia ou de manifestação das diversas formas de violência (ARAÚJO, 1999, p. 44).
Na sequência, perguntamos como seria o professor capaz de conseguir uma
classe disciplinada, assinalando uma ou mais alternativas.
QUADRO 06- PARA VOCÊ, O PROFESSOR CAPAZ DE CONSEGUIR UMA
CLASSE DISCIPLINADA É AQUELE QUE:
Respostas Total das respostas
dos alunos Total das respostas dos
professores e funcionários
É amigo e compreensivo 28 09
Enérgico e dominador 11 06
Consegue prender a atenção dos alunos 24 13
Que combina atividade educativa e o interesse dos alunos
26 14
Faz da classe um ambiente agradável 26 08
Dá aos alunos responsabilidades definidas de acordo com suas capacidades
20 11
Fonte: Santos, 2012
De acordo com as respostas dos alunos, o professor capaz de conseguir
uma classe disciplinada é aquele que é amigo e compreensivo, e em seguida,
aquele que faz da classe um ambiente agradável e que combina atividade educativa
e o interesse dos alunos, sendo este último item, a opinião do maior número de
professores e funcionários.
Em seguida fizemos a pergunta: Quais os casos mais comuns de indisciplina
na sala de aula, mas que fosse assinalado uma ou mais alternativas.
QUADRO 07- PARA VOCÊ, QUAIS OS CASOS MAIS COMUNS DE INDISCIPLINA
NA SALA DE AULA?
12
Respostas Total das respostas
dos alunos Total das respostas dos
professores e funcionários
Alunos irrequietos 17 09
Alunos que não cooperam com o professor 18 08
Alunos quase sempre distraídos 06 08
Alunos que trocam mensagens e papeizinhos
22 04
Alunos com comportamentos violentos 13 10
Alunos que pedem muitas vezes para ir ao banheiro
10 04
Alunos que interrompem as aulas com atitudes agressivas (verbais e/ou físicas)
13 15
Alunos que não gostam de trabalhar em grupo
06 02
Alunos que se mostram desinteressados 08 13
Fonte: Santos, 2012
Os alunos consideram que as situações mais corriqueiras de indisciplina são
as comunicações feitas com trocas de mensagens e papeizinhos em sala de aula.
Aqueles que não cooperam com o professor também são vistos como
indisciplinados pelos próprios alunos. Para professores e funcionários, os casos
comuns de indisciplina na sala de aula, consistem na interrupção das aulas com
atitudes agressivas (verbais e/ou físicas), em seguida, os alunos que se mostram
desinteressados. Um professor anotou que a utilização de aparelhos eletrônicos
“tornam” os alunos indisciplinados, pois estes ficam escutando música (pelo fone de
ouvido), atendem ao chamado de celular e assim, não prestam atenção na aula.
Três alunos escreveram também, que agredir o colega, alunos que não fazem as
tarefas e jogar bolinha de papel com tubinho de caneta, são casos graves de
indisciplina.
Uma vez mais corroboram os estudos de Araújo (1999) sobre a importância
da utilização de novas metodologias. Enfatizando que a construção de uma nova
realidade pressupõe alunos ativos, que participam de maneira intensa e reflexiva
das aulas, evidencia-se a importância do diálogo estabelecido entre alunos e destes
com os professores e professoras. “Em outras palavras, ao promover o diálogo e a
reflexão, em aulas criativas e dinâmicas, professores e professoras poderão obter
maior admiração por parte dos estudantes” (ARAÚJO, 1999, p. 45).
Como deve ser feito o enfrentamento da indisciplina na escola foi uma das
questões apresentas. Cada respondente pode assinalar apenas uma alternativa.
13
QUADRO 08- DE QUE FORMA DEVE SER O ENFRENTAMENTO DA
INDISCIPLINA NA SUA ESCOLA: (assinalar apenas uma alternativa)
Respostas Total das respostas
dos alunos Porcentagem
Total das respostas dos professores e
funcionários Porcentagem
Expulsando da classe os mais indisciplinados
12 29% 00 00%
Orientador e/ou diretor conversando com os alunos
04 10% 04 17%
O professor agindo com firmeza com os alunos indisciplinados
07 16% 08 35%
Chamando os pais para tomar providências
19 45% 04 17%
Organizando grupos de atividades para os alunos
00 00% 07 31%
Total Geral 42 100% 23 100%
Fonte: Santos, 2012
A maioria dos professores e funcionários responderam que a forma do
enfrentamento da indisciplina na escola, deve ser aquela que o professor deve agir
com firmeza com os alunos indisciplinados e em seguida, organizar grupos de
atividades para esses alunos, já 45% dos alunos acham que chamando os pais para
tomar providências é a forma mais adequada.
Vasconcellos (2004) sugere que as situações de conflito disciplinares devem
ser enfrentadas no âmbito em que ocorrem, até que se esgotem as possibilidades
de solução. Sugere também, que o professor não deve ficar mandando o aluno para
fora, nem ficar sofrendo com aluno em classe por receio de tomar uma posição mais
firme, procurar resolver o problema diretamente com o aluno, se não tiver êxito,
solicitar ajuda da equipe pedagógica e da direção.
Ao responderem acerca dos procedimentos adotados para o enfrentamento
da indisciplina na escola, obtivemos as seguintes respostas:
QUADRO 09- ASSINALE ESTRATÉGIAS NA SUA ESCOLA PARA ENFRENTAR A
INDISCIPLINA: (assinalar apenas uma alternativa)
Respostas Total das respostas
dos alunos Porcentagem
Total das respostas dos professores e
funcionários Porcentagem
Palestras 33 79% 06 26%
14
Campanha de conscientização e sensibilização realizada pela Equipe Pedagógica
00 0% 06 26%
Contrato/Negociação 02 5% 03 13%
Acompanhamento do aluno para a Equipe Pedagógica
04 9% 08 35%
Não se recorda 03 7% 00 0%
Total Geral 42 100% 23 100%
Fonte: Santos, 2012
A estratégia mais utilizada para o enfrentamento da indisciplina na escola de
acordo com 79% dos alunos são as palestras, que conseguem resolver os
problemas, mas 35% dos professores e funcionários opinaram que a estratégia mais
utilizada é acompanhar o aluno para a Equipe Pedagógica.
Dentre as medidas mais adotadas pela escola nos processos disciplinares,
48% dos professores e funcionários e 49% dos alunos, opinaram pela advertência
escrita.
QUADRO 10- QUAIS SÃO AS MEDIDAS MAIS ADOTADAS PELA ESCOLA NOS
PROCESSOS DISCIPLINARES DOS ALUNOS? (assinalar apenas uma alternativa)
Respostas Total das respostas
dos alunos Porcentagem
Total das respostas dos professores e
funcionários Porcentagem
Advertência verbal 08 19% 07 30% Advertência escrita 20 48% 11 49% Negociação / Contrato 01 2% 00 0%
Suspensão 12 29% 04 17%
Não sei 01 2% 01 4%
Total Geral 42 100% 23 100%
Fonte: Santos, 2012
QUADRO 11- AS MEDIDAS ADOTADAS PELA ESCOLA SÃO AS MAIS
ADEQUADAS?
Respostas Total das respostas dos professores e funcionários Porcentagem
Sim 21 91%
Não 02 9%
Total Geral 23 100%
Fonte: Santos, 2012
Para 91% dos respondentes (professores e funcionários) as medidas
adotadas pela escola são as mais adequadas, porque envolve a participação da
família do aluno, professor, equipe pedagógica e sociedade, mas 9% acham que
15
não, pois depende do aluno, alguns melhoram de comportamento, outros não;
consideram ainda que a escola adota medidas cabíveis a ela, porém não estão
sendo suficientes para acabar com a indisciplina e que deveria haver leis mais
rígidas.
A suspensão é a melhor maneira de enfrentar a indisciplina na escola? Qual
a justificativa?
QUADRO 12- VOCÊ ACHA QUE A SUSPENSÃO É A MELHOR MANEIRA DE
ENFRENTAR A INDISCIPLINA NA ESCOLA? (assinalar apenas uma alternativa)
Respostas Total das
respostas dos alunos
Porcentagem Total das respostas dos
professores e funcionários
Porcentagem
Sim 15 36% 08 35%
Não 27 64% 15 65%
Total Geral 42 100% 23 100%
Fonte: Santos, 2012
Na análise das respostas, 64% dos alunos opinaram que a suspensão não é
a melhor maneira de enfrentar a indisciplina, porque o aluno não vai melhorar, pois
quando ele retorna à escola pode acontecer tudo de novo e se ele não gosta de
estudar, vai até gostar de ficar em casa. Para 65% dos professores e funcionários
esse procedimento também não condiz com o enfrentamento da indisciplina.
De acordo com Araújo (1999) é necessário propiciar oportunidades para que
alunos e alunas interajam reflexivamente sobre valores e virtudes vinculados à
justiça, à cidadania. Assim, valores calcados, por exemplo, na violência, no
preconceito e na intolerância devem ser rechaçados.
Se a escola objetiva que seus alunos construam valores universalmente
desejáveis, estes devem estar implícitos nos conteúdos abordados nas diversas
disciplinas escolares e nas relações interpessoais que predominam na escola. Para
tal finalidade é essencial a coerência dos docentes e da direção da instituição no
sentido de
respeitarem o princípio inerente aos próprios valores que estão sendo trabalhados. Essa coerência permite que ao mesmo tempo que construam seus valores e os integrem na sua personalidade, alunos e alunas
16
estabeleçam identificação e admiração com sua fonte (ARAÚJO, 1999, p. 44).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O referencial teórico que consistiu em embasamento para nossas reflexões
diante das questões de indisciplina nos permitiu compreender a complexidade dessa
temática. Tal fenômeno também é caracterizado de diversas formas, de acordo com
a análise obtida a partir dos dados coletados com alunos, professores e
funcionários.
A percepção de que a indisciplina interfere prejudicando o processo ensino-
aprendizagem é uma das evidências desse trabalho. Sem dúvida, a indisciplina em
sala de aula mostra que algo não vai bem, não corresponde às expectativas. É
necessário incluir normas e regras, tornar as aulas mais “interessantes” e mudar o
que precisa ser mudado. A esse respeito Vasconcellos (2004, p. 98) destaca a
importância dos alunos participarem ativamente na elaboração das normas para
aprenderem seus limites, num contexto de exercício de direitos e deveres. Após o
término da pesquisa nos sentimos, cada vez mais, comprometida com essa
realidade.
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5 REFERÊNCIAS
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