Indústria Naval

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EstudosInovaoSetoriais de

Indstria Naval

AGNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL

Projeto: Estudo sobre como as empresas brasileiras nos diferentes setores industriais acumulam conhecimento para realizar inovao tecnolgica

Relatrio Setorial:

INOVAO E A INDSTRIA NAVAL NO BRASIL Pesquisadores: Joo Alberto De Negri (IPEA) Luis Claudio Kubota (IPEA) Lenita Turchi (IPEA)

Belo Horizonte, Fevereiro de 2009

Sumrio1. 2. 2.1 APRESENTAO A PRODUO INTERNACIONAL DA INDSTRIA NAVAL PRINCIPAIS PRODUTORES MUNDIAIS 2 4 8 11 14 18 22 24

2.1.1 CORIA DO SUL 2.1.2 JAPO 2.1.3 CHINA 2.1.4 OUTROS PASES 2.1.5 TECNOLOGIA E PRODUTIVIDADE 3. AS

CARACTERSTICAS DA CADEIA PRODUTIVA E DAS FIRMAS NA INDSTRIA

NAVAL NO BRASIL

27 27 32 38 42 42 48

3.1 3.2 3.3 3.4

CADEIA PRODUTIVA DO SETOR NAVAL NO BRASIL CARACTERSTICAS DAS FIRMAS DA INDSTRIA NAVAL BRASILEIRA DEMANDA DE NAVIOS NO BRASIL: PEDIDOS EM ABERTO CAPACIDADE DE OFERTA DAS FIRMAS BRASILEIRAS

3.4.1 ESTALEIROS NO BRASIL 3.4.2 NAVIPEAS NO BRASIL 4. FIRMAS BRASIL 5. 6. 7. 8.

COM POTENCIALIDADES PARA REERGUER O SETOR DE NAVIPEAS NO

58 63 66 69 72

INSTRUMENTOS DE POLTICA PARA O SETOR NAVAL BRASILEIRO CONCLUSES REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ANEXOS

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1. APRESENTAOO objetivo deste relatrio identificar os determinantes da acumulao de conhecimento para a inovao tecnolgica na indstria naval no Brasil. O relatrio est organizado em cinco sees alm desta introduo.

Na segunda seo, feita uma avaliao da produo internacional da indstria naval. O objetivo apresentar um panorama do mercado internacional de construo naval (CN), com nfase na situao atual, nos principais players, e nas questes relacionadas inovao tecnologia. Nesta seo, as particularidades da indstria naval mundial so descritas, e identificam-se as caractersticas dos investimentos em P&D das empresas. Procura-se mapear quais so as estratgias tecnolgicas dos pases que hoje lideram a produo da indstria naval no mundo.

Na terceira seo, descreve-se a cadeia naval no Brasil e feita uma anlise dos indicadores de inovao tecnolgica das firmas da indstria naval brasileira. Os dados mostram que apesar da retomada da produo neste setor, a partir de 2000, os indicadores de inovao tecnolgica no ano de 2005 no tem robustez. A seo prossegue com uma anlise da demanda e da capacidade de oferta dos estaleiros brasileiros. Para avaliar o setor de navipeas, 30 empresas nacionais e multinacionais fornecedoras de peas para navios foram pesquisadas. Isso possibilitou mapear as estratgias de produo destas firmas.

A quarta seo faz um esforo indito para mapear firmas que poderiam reconstruir o setor de navipeas no Brasil. Para escrever esta seo utilizamos o argumento de Favarin et. all. (2008). Segundo estes autores, a experincia em engenharia das firmas da metal-mecnica poderia ser utilizada para reconstruir o setor fornecedor de peas para navios no Brasil. Neste trabalho, identificamos todos os setores fornecedores de peas para navios, no apenas o setor de metal-mecnica, e trabalhamos com as informaes de empresas

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para identificar as firmas com potencial para reconstruo do setor naval. Foram identificadas 228 empresas lderes na indstria brasileira com estas potencialidades. Destas empresas, 148 seriam empresas de capital nacional e 80 seriam de capital estrangeiro. Os gastos em pesquisa e desenvolvimento como proporo do faturamento destas firmas de 0,61%, sendo que este indicador maior nas estrangeiras, 0,82%, e menor nas nacionais, 0,37%. Os gastos em P&D como proporo do faturamento destas firmas so superiores a 1% nos setores de fabricao de tintas (248), mquinas e equipamentos (292), motores eltricos (311), equipamentos de distribuio de energia (312) e fabricao de equipamentos para automao industrial (333). As empresas lderes nestes setores ocupam 286 mestres e doutores em P&D sendo a sua grande maioria, 224, esto ocupados nas empresas multinacionais.

A quinta seo sintetiza os principais instrumentos a disposio do governo para impulsionar o setor. As concluses so apresentadas na seo 6. O trabalho conclui que a potencialidade da indstria naval brasileira est associada demanda do setor de explorao de petrleo em alto mar, ou seja, est vinculado s compras da PETROBRAS. O valor das compras da PETROBRAS pode proporcionar a escala de produo e a continuidade da demanda ao longo do tempo. No entanto, a trajetria atual da construo naval no Brasil parece no estar em sintonia com a experincia internacional. A liderana dos pases na construo naval no mundo est fortemente associada a investimento em conhecimento, P&D e laboratrios especializados para desenvolver novas tecnologias de processo e produto. A estratgia de inovao e de criao de competncias na produo internacional foi observada tanto nos estaleiros quando no setor de navipeas. A retomada da indstria naval no Brasil no tem sido acompanhada pela melhoria dos indicadores de esforo tecnolgico das firmas. Isso parece indicar que o desenvolvimento deste setor no Brasil tem sido feito sem uma estratgia voltada para a criao de competncia capaz de colocar o Brasil de forma competitiva no mercado internacional.

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2. A PRODUO INTERNACIONAL DA INDSTRIA NAVALEsta analise foi realizada em um ambiente de enormes incertezas no cenrio futuro da economia internacional devido crise que se iniciou no final de 2008. Uma das grandes caractersticas do mercado naval a forte dependncia dos ciclos econmicos. O setor naval afetado pelos ciclos econmicos por diversos mecanismos. No entanto, o mais relevante deles o preo dos fretes no mercado internacional. As oscilaes no preo do frete associadas ao longo ciclo de produo de um navio e a necessidade de escala de produo tornam peculiar da produo de navios. Alm destes fatores, questes estratgicas, como defesa, por exemplo, fazem com que os pases adotem fortes poltica protecionistas.1 O mercado de construo naval de grande importncia, pois movimenta cerca de 90% da carga transportada mundialmente. 2 Segundo Alex (apud SILVA, 2007, p. 45), pode-se identificar 5 grandes ciclos associados evoluo do comrcio, volume de carga e rentabilidade das operaes de transporte martimo: crescimento incremental ao longo da dcada de 1950; acelerao e euforia ao longo dos anos 1960 e incio dos anos 1970; reverso em meio aos impactos das crises do petrleo nos anos 1970; grande recesso verificada nos mercados nos anos de 1980; restabelecimento parcial do equilbrio nos mercados de construo e frete ao longo dos anos 1990. No Grfico 2.1 e Tabela 2.1, a seguir, possvel atualizar esse raciocnio. Observa-se acentuada acelerao dos preos de novos navios a partir de 2004 at o primeiro semestre de 2008. O segundo semestre de 2008 pode ser o incio de um novo ciclo de baixa dos preos dos navios por conta da expectativa da indstria naval com a reduo dos fluxos de comrcio mundial. A queda no comrcio internacional causaria reduo dos pecos dos fretes e menor

Para uma viso retrospectiva mais completa, bem como informaes mais detalhadas sobre as indstrias e polticas de outros pases, h uma srie de referncias disponveis: SILVA (2007), BOTELHO (2007) e NOBREGA (2008), ABDI/CGEE (2008). 2 Alm da construo para a navegao mercante, h tambm um mercado para a construo militar. A avaliao da construo naval militar ser realizada no relatrio da indstria de defesa.

1

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demanda de navios. O que surpreende a velocidade de reao dos preos dos navios logo no incio da crise financeira internacional de 2008. Grfico 2.1 Clarkson Newbuiding Price Index base semanal

Fonte: Clarkson, Woori I&S Research Center

Tabela 2.1 Clarkson Newbuilding Price Trend

Nota: Preos mensais e anuais baseados no fim do perodo. Fonte: Clarkson Shipping Intelligence Weekly (30/01/09), Woori I&S Research Center

A velocidade de reao dos preos de um navio no , entretanto, acompanhada pela reduo imediata na oferta de novos navios. Isso porque o ciclo de produo de um navio de aproximadamente 2 a 3 anos, considerando desde o momento da encomenda at a entrega. evidente que o

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prazo de entrega depende do tipo de navio, que de forma geral, no caso de transporte de carga, pode ser classificados como navios de transporte a granel (lquido ou slido) e de carga em geral.3 A Figura 2.1, a seguir, apresenta a dinmica no mercado de navios. A fabricao de navios feita por uma indstria que apresenta longos ciclos de produo e uso, e so dependentes do que ocorre em mercados correlatos: de frete, de embarcaes usadas e de demolio de embarcaes. O ponto central na dinmica apresentada a dificuldade de equalizar a oferta com a demanda no curto prazo. Alm do carter cclico, outra caracterstica marcante do mercado so as prticas protecionistas e intervencionistas da maior parte dos governos de pases que sediam firmas de construo naval, que acentuam a dificuldade de equilibrar o mercado em termos de oferta e demanda. Figura 2.1 Ciclo Martimo Simplificado

Fonte: CEPAL (2005).

2.1.1. PRINCIPAIS PRODUTORES MUNDIAIS

As embarcaes podem ser classificadas conforme o uso. O Lloyd Register Fairplay utiliza as seguintes categorias: Tanker (LNG, LPG, Qumico, Petrleo, Outros), Bulk (Bulker, General Cargo, Other Dry), Continer (Continer, Veculos, Roro), Passageiros (Ferry, Cruise, Iates), Miscelnea (Offshore, Servio, Pesca, Miscelnea).

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A escala de produo, a atuao no mercado global e as novas tecnologias de produo para indstria naval so barreiras entrada de grandes propores no mercado da produo naval. A existncia de mo de obra barata pode impulsionar o incio do processo de produo naval de um pas, mas este fator rapidamente perde importncia diante das inovaes neste setor e da necessidade de garantir escala de produo ao longo do tempo. A proximidade com os mares onde realizada grande parte das trocas comerciais no mundo um fator especialmente relevante de competitividade da indstria naval de um pas. Segundo Ferraz (2002) isso ocorre porque a montagem de uma rede de agentes/clientes para captao de cargas um elemento de especial importncia na manuteno da demanda da indstria naval, reparao ou construo de novos navios. razovel, portanto, que atualmente a indstria naval mais competitiva no mundo tenha surgido nos pases asiticos. Os fluxos de comrcio nesta regio so superiores ao que ocorre nas regies de demais pases em desenvolvimento como na Amrica Latina. Inovaes tecnolgicas na montagem dos navios, e a manuteno de uma escala de produo competitiva ao longo do tempo fizeram de pases como a Coria lderes mundiais na produo naval. Atualmente, os maiores produtores mundiais so a Coria do Sul, China e Japo. A Tabela 2.2, a seguir, apresenta um panorama dos principais produtores em 2007:

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Tabela 2.2 Produo Mundial de Embarcaes (2007)Pas Coreia do Sul Japo China Alemanha Itlia Dinamarca Crocia Taiwan Polnia Turquia Romnia Filipinas Resto do mundo Total Nmero de embarcaes 425 539 643 69 25 4 25 16 44 109 43 10 737 2.689 Produo em milhes de GT 20,20 17,31 10,41 1,34 0,70 0,85 0,69 0,66 0,56 0,53 0,43 0,36 2,4 56,6 % 35,68 30,58 18,39 2,36 1,23 1,50 1,21 1,16 0,98 0,93 0,75 0,63 4,24

Fonte: World Shipbuilding Statistics, Lloyds Register Fairplay, Dez. 2007.

Os pedidos em aberto em dezembro de 2007 mostram o crescimento na participao de novos participantes asiticos: Filipinas, Vietnan e ndia. Na Tabela 2.3, possvel observar que Coria do Sul, China e Japo so responsveis por mais de 80% da produo mundial, medida em CGT4. Outra observao que a China ameaa ocupar o segundo posto do Japo. Entretanto, dados de 2008 mostram que isso ainda no ocorreu, mas provavelmente ocorrer em 2009. Na Tabela 2.4 possvel confirmar a desacelerao do mercado observada em 2008, com acentuada queda no nmero de pedidos. Apesar da crise ter eclodido no final de 2008, os sinais de uma possvel mudana no cenrio internacional j tinham ocorrido ao longo do ano de 2008 nos Estados Unidos. Isso pode ter afetado as expectativas de novas encomendas do setor naval no ano de 2008.

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Para detalhes do clculo do CGT, vide OCDE (2007).

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Tabela 2.3 Pedidos em Abertos de Embarcaes (Dezembro 2007)Pas Coreia do Sul China Japo Filipinas Alemanha Vietn Romnia Taiwan ndia Itlia Turquia Polnia Crocia Dinamarca Resto do mundo Total Nmero de embarcaes 2.242 3.139 1.495 116 203 206 146 67 246 118 337 122 69 22 1.527 10.055 Produo em milhes de GT 126,53 97,76 63,81 5,16 4,17 3,20 3,04 2,83 2,61 2,57 2,35 2,03 1,99 1,46 10,19 329,70 % GT 38,37 29,65 19,35 1,56 1,26 0,97 0,92 0,86 0,79 0,78 0,71 0,61 0,60 0,44 3,09 Milhes de CGT 63,39 50,22 30,71 2,49 3,78 2,14 2,12 1,68 2,03 2,95 0,34 1,67 1,2 0,66 10,32 177,70

Fonte: World Shipbuilding Statistics, Lloyds Register Fairplay, Dez. 2007.

Tabela 2.4 Pedidos Recebidos, Entregas e Pedidos em Aberto por Pas (2008)Pedidos recebidosPas N navios Milhes CGT Market Share (%) Cresc. Anual % N navios

EntregasMilhes CGT Market Share (%) Cresc. Anual %

Pedidos em aberto Dez. 2008N navios Milhes CGT Market Share (%) Cresc. Anual %

Coria do Sul Japo China Outros Global

625

17,5

41,0

-47,0

489

14,9

36,8 23,9 20,4 19,0 100

23,9 8,5 30,3 1,1 16,2

2.338 1.429 3.577 2.406 9.750

67,7 29,7 60,8 31,0 189,2

35,8 15,7 32,1 16,4 100

2,5 -14,3 10,2 -9,1 -0,4

279 4,9 11,5 -53,4 477 9,6 821 14,9 35,1 -54,2 605 8,2 446 5,2 12,4 -60,4 765 7,7 2.171 42,6 100 -52,4 2.336 40,5 Nota: Market share e Crescimento com base no CGT. Fonte: Clarkson, Woori I&S Research Center

Na segunda metade dos anos 2000, uma das grandes demandas do setor naval no mundo tem sido a produo voltada para a explorao de petrleo em alto mar (off-shore). A demanda acentuou-se com a elevao dos preos do petrleo e a explorao de petrleo em guas profundas. Apesar da queda dos preos do petrleo por conta da crise internacional, as expectativas de demanda futura ainda permanecem positivas. Para o Brasil este um mercado especialmente relevante tendo em vista as demandas da Petrobrs e a explorao de petrleo no pr-sal.

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A insero competitiva da indstria naval brasileira depende do aproveitamento das janelas de oportunidades que so abertas na produo voltadas para a indstria de petrleo. A produo com preos competitivos, qualidade e prazo de entrega depende de polticas governamentais de financiamento, a qual o governo brasileiro tem instrumentos para fazer, e da capacidade de reconstruir a indstria naval brasileira com maior dinamismo tecnolgico e investimento em conhecimento. A experincia internacional neste caso importante, por isso este trabalho procurou relatar as experincias de diversos pases focando na questo de como estes pases acumularam conhecimento para gerar inovaes e competir no mercado internacional

2.1.2. CORIA DO SULA estratgia do governo sulcoreano foi construir uma indstria de CN que visava atender o mercado internacional. Segundo Botelho (2007), medidas governamentais, posio geogrfica privilegiada, mo de obra abundante e de baixo custo, forte capacidade gerencial, capacidade tecnolgica e os elevados investimentos dos chaebol foram os fatores que viabilizaram o desenvolvimento da construo naval na Coreia do Sul, a partir do incio da dcada de 1970. O pas possui a 9 maior marinha mercante de longo curso do mundo. Serra (apud SILVA, 2007, p. 78) defende que a histria da moderna construo naval sulcoreana pode ser dividida em trs perodos: iniciao (anos 1970), desenvolvimento e capacitao (anos 1980), e grande expanso (anos 1990). Os chaebol foram determinantes no desenvolvimento das indstrias pesada e qumica e da industrializao do pas. As principais empresas de transporte pertenciam a conglomerados que tambm possuam estaleiros, o que criou um mercado cativo para a produo nacional. Isso foi incentivado com polticas de compras de navios coreanos por armadores daquele pas. semelhana do que observaremos no caso chins, no sistema Keihek Zoseon lanado em 1975 - predominava o princpio de que a carga do comrcio coreano deveria ser transportada em navio coreano, construdo em estaleiro coreano. Este princpio tambm ajudou a desenvolver a indstria de navipeas do pas.

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Entretanto, importante ressaltar que o mercado externo sempre foi um objetivo do setor, e a indstria de CN sul coreana buscou atender exigncias e requisitos de eficincia internacionais. Em 1976, foi criada a Korean Maritime and Port Administration. Cerca de 70% dos recursos que financiaram a rpida expanso do perodo eram provenientes do Fundo Nacional de Investimento governamental -, e o restante era complementado pelo Banco de Desenvolvimento da Coria. Alm disso, os produtores gozavam tambm de subsdios e incentivos fiscais. Atualmente, grande parcela do financiamento construo naval feita pelo Korea Eximbank, por meio de um programa denominado Export Loan.

Em 1988, foi sancionada a lei de racionalizao da indstria naval, com os objetivos de aumentar a produtividade, reforar a competitividade internacional e melhorar a estrutura financeira das companhias de CN. Houve um processo de fuses e aquisies regulado pelo Estado. Em 1995, foi implantada nova poltica de CN, com horizonte temporal de 10 anos, visando reforar a competitividade e a posio da indstria naval como uma das principais indstrias estratgicas de exportao. Os pontos bsicos dessa poltica basearam-se na liberdade de entrada de novas empresas no mercado, na reduo de subsdios e no reforo cooperao internacional, visando reduzir o subsdio.

A crise financeira de 1997 resultou na ida do pas ao Fundo Monetrio Internacional, que imps reformas estruturais e provocou a reorganizao dos chaebol. Nesse perodo, dos trinta maiores grupos empresariais sete entraram em processo de falncia. A forte desvalorizao cambial provocou uma reduo de 30% no preo dos navios, e contribuiu para que o market share no mercado de porta-contineres saltasse de 15% em 1997 para 54,5% em 2000. Alm do aspecto cambial, o sucesso da indstria sul coreana baseou-se na modernizao dos estaleiros como unidades de produo, no uso intensivo de tecnologia e na especializao em navios de grande porte.

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A Coreia do Sul atualmente tem os 5 maiores estaleiros do mundo, em termos de pedidos em aberto. Hyunday Heavy Industries (HHI) tem um backlog de 18,84 milhes de CGT, Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering (DSME) de 11,01 milhes de CGT, Samsung Heavy Industries (SHI) de 10,42 milhes de CGT, STX Shipbuilding de 7,21 milhes de CGT, e Hyunday Mipo Dockyard, subsidiria da HHI, de 6,02 milhes de CGT5. A empresa Hyunday controla dois dos mais renomados institutos de pesquisa aplicada: A Samsung possui o Daeduk R&D Research Center.

Segundo Barboza (2004), estas empresas so muito verticalizadas, tirando proveito de economias de escala, escopo e de rede. A concentrao e volume de capital disposio dos grandes conglomerados facilitam os investimentos de grande porte. Elas apresentam elevados gastos em P&D, usam intensamente inovaes na produo e acabamento, tm altos ndices de automao e utilizam modernas tcnicas de gesto e produo. Com relao s tcnicas de gesto e produo, Pinto et al. (2007) apresentam o estudo de caso da Daewoo, no mbito do programa de racionalizao da indstria naval, quando a firma quase foi falncia. A empresa passou a investir muito no aumento de produtividade, reduo do tempo de entrega e diminuio do desperdcio, criando um programa de gesto focado em 5 pontos: treinamento e educao, cronograma dinmico para todo o projeto do navio, reduo do tempo e desperdcio, pr edificao (construo de prtico Goliath com 200 m de largura, permitindo que 85% do navio pudesse ser construdo antes da edificao do dique), sistema de operao do dique.

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Fonte: Asia Pulse, 4 Fev. 2009.

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Quadro 2.1 reas de Atuao e Outras Informaes dos 5 Maiores Construtores Navais MundiaisConglomerado Hyunday reas de atuao CN, plantas industriais, sistemas eletro-eletrnicos, pesquisa e desenvolvimento, offshore, equipamentos, equipamentos de construo. CN Faturamento e estratgias de P&D Receita em 2008: US$14,5 bilhes. Institutos de pesquisa e design: Hyunday Maritime Research Institute, Hyunday Industrial Research Institute, Techno Design Institute

Daewoo

Samsung

STX

Receita em 2008: US$ 7,3 bilhes. reas de P&D: tecnologia de solda desenvolvimento e teste de materiais, mensurao, sistemas, meio ambiente, estrutura, hidrodinmica, vibrao e rudo, sistemas de produo, robtica de automao, equipamentos martimos, produtos futuros, negcios futuros. CN, construo, Receita em 2008: US$ 7,7 bilhes. negcios digitais, Institutos de pesquisa: SHI Research desenvolvimento de Institute tecnologia CN reas de P&D: anlise estrutural, anlise de vibrao, anlise de fatiga Receita em 2008: US$ 2,8 bilhes.

Hyunday Dockyard

Mipo CN

Fonte: Elaborao prpria, a partir de dados dos sites das empresas e informaes de receita da Woori I&S.

2.1.3. JAPOA partir do incio da dcada de 1960, o pas tornou-se o principal construtor naval, superando a Europa, sendo, por sua vez, suplantado pela Coreia do Sul no fim incio dos anos 2000. Como o pas possui a maior marinha mercante de longo curso do mundo, existe um grande mercado domstico para os estaleiros japoneses.

O Japo depende do comrcio exterior para importao de produtos primrios, inclusive para a produo de energia. Logo, tem interesse em manter os preos

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dos servios de transporte martimo baratos, e, por conseqncia, tambm os preos da construo naval no mercado internacional (GEIPOT, 1999).

No ps-guerra, instituiu-se o programa Keikaku Zosen, para garantir um nmero mnimo de encomendas de navios que pudesse manter os estaleiros operando constantemente. As principais vantagens competitivas na poca eram a mo de obra barata e produtiva, a grande desvalorizao do yen em relao ao dlar, a disponibilidade de recursos financeiros pelo governo, e as modernas instalaes dos estaleiros reconstrudos (CEGN, 2006).

A partir da dcada de 1960, para tentar combater a escalada salarial, o pas passou a investir na automao na CN, com vistas a reduzir os custos de produo. Essa necessidade criou uma demanda por tecnologia que garante a competitividade da indstria japonesa at os dias atuais. Nesse perodo, surgiu a construo em bloco, que permitiu reduo substancial do tempo de construo (CEGN, 2006). Na mesma linha, GEIPOT (1999) defende que o elemento fundamental do sucesso nipnico foi o esforo que produziu rpido desenvolvimento da tecnologia de processos e qualidade do produto.

A indstria naval japonesa passou por duas grandes reestruturaes, em 1979 e 1987, quando vrias instalaes excedentes foram fechadas. No fim da dcada de 1980, o governo coordenou o processo de ajuste, que reduziu o numero de grupos de 21 para 8, com fechamento de estaleiros, fuses e aquisies. Entre 1987-1989 estabeleceu-se um cartel anti-recesso, que estabeleceu tetos anuais para a produo (GEIPOT, 1999).

Atualmente, o governo oferece financiamento para a converso de instalaes de antigos estaleiros para outros usos e para a construo de navios destinados exportao, por meio do Exim Bank. Navios para o mercado domstico so financiados pelo Banco de Desenvolvimento do Japo. Em ambos casos, o financiamento pode ser feito em conjunto com bancos privados. O Estado oferece seguros nos financiamentos para exportao e garantia contra variaes cambiais (BOTELHO, 2007). Segundo Silva (2007),

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atualmente a maior parte do financiamento CN so feitos pelo Maritime Credit Corporation (MCC), que capitalizada pelo governo.

Desde a dcada de 1990, no h notcias de utilizao em larga escala de mecanismos de auxlio governamental para a CN no Japo. A importao de navios novos isenta de tarifas alfandegrias, enquanto as importaes de materiais e equipamentos para construo so taxadas. No h dedues fiscais especiais para a indstria naval em relao a lucros ou depreciao dos estaleiros. Existem mecanismos de apoio para P&D (BOTELHO, 2007, e GEIPOT, 1999).

Os principais conglomerados que atuam no setor so: Mitsubishi Heavy Industries, Ishikawajima Harima Heavy Industries, Hitachi Zosen Corporation, Kawasaki Heavy Industries, Sumitomo Heavy Industries, Mitsui Engineering & Shipbuilding, NKK Co. Entre os nichos que essas empresas procuram atacar esto os graneleiros de grande escala, pelos quais o pas responde por 50% das encomendas, e os porta-contineres de grande porte e alta velocidade: Technosuperliners, que s so viveis de operar em Hub Ports.

A cadeia de valores da CN japonesa muito integrada, aliando a indstria de navipeas, armadores e estaleiros (CHO e PORTER apud SILVA, 2007).

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Quadro 2.2 reas de Atuao e Outras Informaes dos Principais Construtores Navais JaponesesConglomerado Mitsubishi reas de atuao CN, plantas industriais, sistemas eletro-eletrnicos, pesquisa e desenvolvimento, offshore, equipamentos, equipamentos de construo. CN, espacial, turbinas de jatos, energia, armazenagem, ambiental, equipamentos logsticos, sistemas de distribuio, pontes e estruturas metlicas, equipamentos de construo, equipamentos industriais, mquinas e equipamentos, equipamentos para uso civil, sistemas de trfego e estacionamento, tecnologia de segurana CN. Afiliada a grupo que atua em: equipamentos mdicos, software, equipamentos industriais, sistemas de meio ambiente e energia, semicondutores, infraestrutura, sistemas de laser, equipamentos logsticos. CN, estruturas metlicas e equipamentos de construo, equipamentos de processamento, sistemas de preveno de acidentes martimos, sistemas ambientais e plantas industriais, equipamentos de preciso. CN, reciclagem ambiental, infraestrutura, sistemas avanados, TI, plantas industriais, sistemas logsticos, sistemas de energia. Faturamento e estratgias de P&D Receita em 2008: US$ 37,5 bilhes. Institutos de pesquisa e design: vide Quadro 3

Ishikawajima

Receita em 2008: US$ 15,8 bilhes. Institutos de pesquisa: Ishikawajima Inspection & Instrumentation Co. e Technical Research & Development Institute.

Sumitomo Heavy Industries Marine & Engineering

nfase em P&D: mecatrnica e tecnologias de sistemas, com ganhos em reas como aparelhos de controle de preciso e componentes chave.

Hitachi

O Technical Research Institute um departamento do Business & Product Devolpment Center, que responde ao presidente.

Mitsui

Institutos de pesquisa: Tamano Technology Center, Chiba Tecnology Center, CAE Center, Akishima Research Center, Tsukuba Research Center. Kawasaki reas de P&D: estruturas; materiais, elementos mecnicos; dinmica dos fluidos; combusto e transferncia de calor; qumica, meio ambiente e energia; aplicaes de ftons e laser; eletricidade e eletrnica; mensurao; controle; informao; mecanismos e mecatrnica; produo; sistemas de produo NKK CN, metalurgia, TI, energia, Institutos de pesquisa: Applied meio ambiente, plantas Technology Research Center, industriais, sistemas. Materials and Processing Research Center, Engineering Research Center Fonte: Elaborao prpria, a partir de dados dos sites das empresas e informaes de receita da Woori I&S.

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A Mitsubishi Heavy Industries (MHI) compe um grupo que atua em diversas reas: energia, construo de aeronaves, espacial, transportes, equipamentos logsticos, meio ambiente, automotivo, equipamento industrial, infraestrutura, ar-condicionados e defesa. O Quadro 2.3, a seguir, d uma dimenso da estrutura de P&D do conglomerado.

Quadro 2.3 Principais Competncias das Unidades de P&D da MHIAdvanced Technology Research Center Nagasaki Research & Development Center Hiroshima Takasago Research & Research & Development Development Center Center Yokohama Research & Development Center Nagoya Research & Development Center

Gas Turbine Combined Cycle Power Generation System Nuclear Ship & Ocean Power Technologies Generation Power System System Technologies Express Internal Highway Combustion Information New Engine & System elemental Hydraulic Air transformation Equipment Conditioner / Technologies Refrigerator Turbomachinery Products & Cryogenic NonSystem destructive Technologies Inspection Technology Robot Technology Plant Control TechnologyFonte: Site da empresa.

Steel Making Air Machinery Conditioning Technologies Environment(Waste Machinery Chemical Incineration and Compressor Technologies Ash Melting) & Transport Steel Environment(Waste Refrigeration Structures & Water, Exhaust Unit Civil Gas, and Plastics Engineering Recycling) Machinery & Technologies Steel Food Traffic & Structure(Traffic Processing Transfer Infrastructure) Machinery Technologies Steel Micro Paper Structure(Energy Electronics, Making & Infrastructure) Control & Converting Power Power Technologies Systems(Boilers, Electronics Printing Turbines, and Ergonomics, Technologies Diesel Plants) Industrial Wind Force Design Machinery Technologies

2.1.4. CHINA6A China beneficiou-se da demanda internacional crescente em direo a centros de baixos custos de produo e da grande demanda interna para construir uma slida fundao industrial. De acordo com a OCDE (2008a),6

A principal fonte de informaes para esta subseo OCDE (2008).

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significativos investimentos em P&D esto levando a uma crescente sofisticao dos tipos de navios sendo construdos, inclusive very large crude carriers (VLCCs), carregadores de gs liquefeito natural e navios continer de alta velocidade. O pas possui a 4 maior marinha mercante de longo curso do mundo.

A estratgia chinesa voltou-se inicialmente para desenvolver capacidade de CN visando atender o desenvolvimento econmico domstico, com vistas a tornar o pas auto-suficiente em transporte martimo. Ou seja, o transporte de matrias primas para a manufatura e de alimentos para a populao, bem como o transporte de exportaes deveria, na maior extenso possvel, ser feito por navios chineses. Entretanto, o pas tem explorado h dcadas o mercado externo, com crescente participao, conforme apresentado

anteriormente. Os principais mercados dos navios chineses so a Alemanha e Cingapura que somam 30% do total exportado -, Hong Kong, Ilhas Marshall, Malta, Austrlia, Japo, Panam e Gr-Bretanha.

O Guidelines on Foreing Investment o documento que d as bases para avaliao investimentos externos, sendo que a principal forma de cooperao se d atravs de joint ventures (JV). O planejamento de longo prazo para a indstria de CN estabelece que as firmas estrangeiras esto autorizadas a reorganizar, adquirir ou fundar em conjunto com firmas chinesas

empreendimentos no pas, desde que no detenham mais de 49% das aes. O mesmo vale para a produo de componentes. O governo requer que as JV estabeleam centros tcnicos para absorver e disseminar tecnologias transferidas por investidores estrangeiros. Muitas JV tm sido estabelecidas, especialmente com firmas japonesas e sulcoreanas, e propiciaram os meios para que a China reduza o seu gap tecnolgico e de estrutura.

H poucos empreendimentos de capital totalmente estrangeiro no pas, mas a situao est mudando, com investimentos como os sulcoreanos Daeyang Shipping Co., Oriental Precision & Engineering Co, em Dalian, Samsung Group em Ningbo, Daewoo Shipbuilding em Yantai, Doosan Engine e STX Engine, em Dalian. Investimentos sulcoreanos, japoneses, europeus e norteamericanos 18

esto sendo feitos em componentes, feitos por firmas como Warsila, ABB e Caterpillar. Em 2005, 220 milhes de dlares foram investidos por estrangeiros no setor de CN.

No h estatsticas confiveis a respeito do nmero de estaleiros chineses, mas estimativas indicam que h mais de 2000, sendo que pelo menos 430 podem ser considerados mais significativos. As maiores concentraes de estaleiros situam-se prximas a Shanghai, Guangzou e Dalian7. Os principais conglomerados chineses so o China State Shipbuilding Corporation (CSSC), que possui estaleiros concentrados principalmente na regio de Shanghai, incluindo Guangzhou, Chengxi, Wuhu, Jiangnan, Hudong, Hundong-Zhongua e Qiuxin; e o China Shipbuilding Industry Corporation (CSIC), cujos estaleiros esto localizados principalmente na regio do golfo de Bo-hai (Dalian), incluindo Bohai, Dalian, Dalian New e Wuchang. H tambm um grande nmero de estaleiros independentes.

Ambos CSSC e CSIC so empreendimentos estatais, originalmente parte de um nico grupo que foi dividido em 1999. CSIC emprega um contingente de 170 mil trabalhadores, possui 28 institutos de pesquisa cientfica e tecnolgica, e atua com embarcaes de uso civil e militar, engenharia e equipamentos martimos. Em 2000, CSIC recebeu uma encomenda de 5 VLCCs de 300 mil dwt, o que representou a maior ordem j recebida at ento.

CSSC possui ao menos 60 empreendimentos associados, incluindo alguns dos mais importantes estaleiros, 9 institutos de pesquisa, indstrias de

equipamento martimo e trading companies. O conglomerado tem o objetivo de aumentar significativamente a produo de produtos de maior valor agregado, incluindo carregadores LNG e embarcaes de suporte indstria petrolfera, como unidades de flutuao, produo, armazenamento e desembarque (FPSOs). CSSC e CSIC so capazes de desenhar e construir modernas embarcaes civis, de acordo com normas e padres internacionais.

OCDE (2008), apresenta uma relao dos principais estaleiros do pas, inclusive por regies geogrficas.

7

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Changjian National Shipping Corp. (CNSC) uma das principais firmas de navegao da China. CNSC e suas subsidirias possuem 4 grandes estaleiros e cerca de 20 pequenos.

COSCO Shipyard Group uma subsidiria da China Ocean Shipping Company, a maior firma de navegao estatal da China. O grupo possui 4 estaleiros, sendo 3 voltados principalmente para reparo e converso. 2 destes estaleiros so operados em joint ventures com a Kawasaki Heavy Industry, e 1 uma JV com o Sembcorp, de Cingapura.

A China Shipping Industry Company (CIC) uma subsidiria da China Shipping Groupo, que segunda maior estatal de navegao. A empresa CIC possui 6 estaleiros, voltados predominantemente para reparo e converso. Fujian Shipbuilding Industry Group propriedade da provncia de Fujian, e possui 4 estaleiros. Finalmente, YiuLian Dockyards um grupo de Hong Kong, com trs estaleiros voltados principalmente para reparo.

A principal vantagem competitiva das firmas chinesas sua mo de obra qualificada e de baixo custo (correspondem a apenas cerca de 14% do Japo e 12% da Coria), lembrando que os custos com mo de obra equivalem a cerca de um tero do custo total da embarcao. Apesar da eficincia produtiva chinesa crescer rapidamente, estimativas apontam que a produtividade por trabalhador na China ainda equivalem a cerca de 1/6 a do observado no Japo e Coreia do Sul.

No 11 Plano Econmico Quinquenal, o governo estabeleceu objetivos de aumentar a produtividade da indstria, por meio de treinamento da mo de obra, renovao e modernizao de maquinrio nos estaleiros estatais, e atrao de tecnologia e capital estrangeiros. O objetivo diminuir o gap de produtividade para 1/6 para a 1/3, em relao s firmas japonesas e sulcoreanas. O plano tambm tem o objetivo de que 60% das navipeas sejam feitas na China, contra 46% em 2006. Grande parte dos equipamentos de alta tecnologia e componentes essenciais ainda importada. Alm da produtividade, a gesto das empresas tambm considerada um ponto fraco. 20

A firma Lloyds Register Maritime Instititute atualmente conta com 11 escritrios na China, e investiu milhes de yuans no desenvolvimento de cursos de treinamento e infraestrutura na China. O centro de Shanghai foi desenvolvido para um centro de treinamento e de pesquisa e desenvolvimento para atender as necessidades de estaleiros, armadores e experts. De acordo com a OCDE (2008a), esses esforos aumentaram a competitividade de design e P&D chinesa em navios como tankers, bulk carriers e porta contineres.

Alm dos centros de pesquisa e design da CSSC e CSIC, h vrios centros independentes, que incluem: China Ship Design & Research Centre Co., China Shipbuilding Industry Institute of Engineering Investigation & Design (CSEI), Jiujiang Precision Measuring Technology Research Institute, Marine Design and Research Institute of China (MARIC), Changjiang Ship Design Institute, Guangzhou Marine Engineering Corporation (GUMECO), China Ship Research & Design Center, Shipbuilding Technology Research Institute (STRI), The Ninth Design and Research Institute, Shanghai Merchant Ship Design and Research Institute.

2.1.5. OUTROS PASESEsta sub-seo apresenta as principais caractersticas de outros pases com setor de CN com relevncia mundial.

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Pas

Quadro 2.4 Caractersticas Principais de Outros Pases Produtores Principais Caractersticas

Estados Unidos

Poltica de marinha mercante e construo naval predominantemente orientadas pelo Estado. Forte tradio de protecionismo e intervencionismo. 6 grandes estaleiros. Custos de produo elevados, slida base tecnolgica para o desenvolvimento de projetos e processos. Construo naval mercante pouco relevante internacionalmente. A produo dos estaleiros est baseada na demanda de navios militares e a frota de cabotagem protegida pelo Jonas Act.8 Vietn Ambio governamental de tornar o pas um dos principais participantes mundiais, com prioridade para o desenvolvimento de parques industriais e zonas de processamento para exportao. Objetivo de atrair empreendimentos especializados no setor martimo, inclusive produo de componentes e materiais. Investimentos estrangeiros dos EUA, Japo e Coreia do Sul, inclusive da Hyunday e Mitsubishi. Disponibilidade de vasto contingente de mo de obra alfabetizado e de baixo custo. Cerca de 60 empreendimentos de construo e reparo, a maior parte de propriedade da Vinashin Business Group, agncia estatal. Atualmente, o contedo nacional na CN da ordem de 30-35%9, mas h uma meta de 60-70% de nacionalizao. Fortes investimentos, inclusive estrangeiros, em metalurgia. The Shipbuilding Science and Technology Institute (SSTI), subsidiria da Vinashin e estabelecida em 1959, conta com 250 arquitetos e engenheiros navais, com poltica de treinamento no Japo e Coreia do Sul. Relacionamento prximo com instituies estrangeiras como Hitachi Zosen (Japo), Carl Bro (Dinamarca), Kitada Ship Design Co. (Japo), CTO (Polnia), American Bureau of Shipping, e Polands Ship Design and Research Center. Vinashin assinou contratos de transferncia de tecnologia com estaleiros poloneses, no valor de US$ 200 milhes. O objetivo da SSTI produzir de modo autnomo seus prprios designs de embarcaes entre 170 e 200 mil dwt at 2010. Os planos futuros incluem a educao de 1500 estudantes por ano. O Vietnan Maritime University (VIMARU) desenvolveu rapidamente e estabeleceu o Research Center of Ship Technology Application. Noruega Lder em embarcaes de apoio offshore, detendo cerca de 25% do mercado, seguido da China, com 17%. Investe em uma trajetria tecnolgica ascendente Cingapura Forte no reparo naval, devido em parte posio geogrfica privilegiada. Descoberta de petrleo no Mar da China estabeleceu no pas um grande polo petroqumico, o que direcionou o foco para o mercado offshore. Estratgia de nicho (no atua com embarcaes de grande porte). Postura proativa e no protecionista do governo: flexibilizao de mo de obra, incentivos fiscais para investidores estrangeiros, desburocratizao dos processos de abertura de empresas, linhas especiais de crdito para reas de interesse, foco na produtividade da indstria. O pas tornou-se centro de distribuio de navipeas de todo mundo. JV entre governo e Ishikawajima Harima Heavy Industries criou o Grupo Jurong. Alemanha Poltica de subsdios dos anos 80 substituda por polticas de incentivos fiscais (modelo Kommandistgesellschaft ou KG). Um dos principais produtores europeus. Itlia Lder mundial na construo de ferries e navios de cruzeiro. O principal grupo o Fincantieri. Fonte: Elaborao prpria a partir de informaes de Silva (2007), OCDE (2008b), CEGN (2006 e 2008). Ver no Anexo quadros A_2 e A_3 sobre polticas dos Estados Unidos para o Setor naval. A importao anual de equipamentos mecnicos da ordem de US$ 7 bilhes, provenientes da Alemanha, Japo, China e Coreia do Sul.9 8

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2.2. TECNOLOGIA E PRODUTIVIDADETradicionalmente tem sido argumentado que a principal fonte de inovao tecnolgica na cadeia da construo naval est nas firmas produtoras de peas para os navios, as navipeas. De fato, uma parte importante da agregao de valor de um navio est nas empresas que fornecem sistemas ou peas. No entanto, os relatos de sucesso de diversos estaleiros lderes nos mercados internacionais, que foi realizado na seo anterior, mostraram que h muito investimento em P&D e laboratrios especficos voltados para construo naval. A produtividade de um estaleiro est fortemente associado s atividades de planejamento, programao e gesto. Estas atividades so extremamente diversificadas pois envolve grandes estgios de produo com diferentes mtodos de planejamento e muito intensivo em engenharia. A engenharia a grande fonte de inovaes de processo neste segmento. Segundo Colin (200x) os estaleiros Japoneses e Coreanos possuem uma carreira com um horizonte de mais de dois anos e no Brasil no h procedimentos ou algoritmos sofisticados para realizar o trabalho na indstria naval.

O setor de CN caracterizado por um lento processo de inovao tecnolgica de produto. A maior parte da inovao no segmento de produo naval propriamente dito uma inovao de processo e, por isso, a sustentao da competitividade exige um contnuo aumento de produtividade e reduo de custos. A competitividade do Japo deve-se ao elevadssimo padro de tecnologia, tanto de processos de fabricao (tecnologias hard), quanto de engenharia de processos e tecnologias gerenciais (tecnologias soft). Os determinantes da competitividade sulcoreana so o alto nvel tecnolgico e gerencial, com alta capacidade de inovao, principalmente no que diz respeito a engenharia industrial e de produo. Estes fatores tornam vivel a disponibilidade dos maiores e mais modernos estaleiros do mundo na Coria. A Figura 2.2, apresenta uma viso dos diferentes nveis de produtividade internacional, com dados do fim dos anos 1990, incio dos anos 2000:

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Figura 2.2 Performance Competitiva Internacional

Fonte: First Marine International (2005).

O Japo o pas com as mais altas taxas de produtividade. Alguns pases europeus tambm apresentaram elevada produtividade, mas, na mdia esto aqum da Coria do Sul.

Um fator fundamental para se entender os incrementos de produtividade o conceito de Tecnologia de Grupo (TG). O objetivo da TG explorar a similaridade entre produtos intermedirios, para aumentar a eficincia por meio do aumento da escala de produo, mesmo quando os produtos finais no sejam padronizados. No caso da CN, existe uma grande similaridade de componentes intermedirios, mesmo no caso de navios de tipo e porte diferentes. Em um sistema de produo com TG, os produtos intermedirios de qualquer tipo e em qualquer nvel podem ser agrupados em famlias com processo de produo similar. Dependendo da demanda por determinada famlia de produtos, pode-se justificar economicamente a implantao de uma linha de processo ou uma estao de trabalho especializada (COPPE, 2006).

Os estaleiros que adotam TG em um ambiente de engenharia de produo menos sofisticado, agrupam componentes com nvel de agregao mais baixo.

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Os estaleiros mais avanados exploram a padronizao de grandes blocos e mdulos de grande porte de mquinas e instalaes. O processo de produo nos estaleiros que se aproximam da quinta gerao baseado na padronizao em larga escala de componentes. Esse modelo mais exigente no que diz respeito aos requisitos para a engenharia e para a qualificao dos recursos humanos. Finalmente, ressalta-se nos estudos realizados pela COPPE, que as atividades de projeto enfatizam fortemente a produo e a padronizao de componentes intermedirios desde os estgios iniciais. O projeto, o planejamento e a engenharia da construo so integrados. Os sistemas operacionais e os sistemas de informao integram plenamente as atividades de projeto, produo, administrao e comercial. Um sistema que adota a TG ou clulas de manufatura tem como caracterstica um trabalho multifuncional. O perfil do trabalhador em um estaleiro de quarta ou quinta gerao significativamente mais complexo que o de geraes anteriores. No Japo, por exemplo, os operrios com responsabilidade na produo tm ao menos 12 anos de formao escolar e trs anos de treinamento na empresa.

Os estaleiros japoneses e sul coreanos mais modernos adotam modelos avanados de TG, e por isso so flexveis com relao aos tipos de navios e seriao. Estes modelos de produo permitem que se realizem os benefcios da produo em massa, mesmo com sries pequenas de navios ou projetos nicos. O aprendizado significativamente mais rpido do que se observa em estaleiros com organizao orientada ao processo. O relatrio da COPPE ressalta que o importante para a produtividade no a produo de grandes sries de navios, e sim a padronizao dos componentes.

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3. AS CARACTERSTICAS DA CADEIA PRODUTIVA E DAS FIRMAS NAINDSTRIA NAVAL NO BRASIL

Nesta seo aprofundaremos as caractersticas da cadeia produtiva do setor naval brasileiro e das firmas que atuam nesta indstria. Do ponto de vista metodolgico o primeiro procedimento foi construir a cadeia produtiva da indstria naval no Brasil utilizando as informaes da matriz insumo-produto. A segunda seo mergulha nas caractersticas das firmas de forma geral, procurando identificar os esforos inovativos das firmas e as caractersticas de faturamento e pessoal ocupado. A terceira e quarta seo detalham as atividades dos estaleiros brasileiros e das firmas fornecedoras de peas para a construo naval. A quinta seo faz um mapeamento das empresas lderes que tem potencialidades em para tornar a indstria de navipeas mais competitivas em diversos setores.

3.1. CADEIA PRODUTIVA DO SETOR NAVAL NO BRASILPara construir a cadeia produtiva da indstria naval brasileira foram utilizadas as informaes da matriz insumo produto. Uma matriz de insumo-produto revela as ligaes entre os setores econmicos nas compras e vendas de produtos entre os setores, no uso de fatores de produo (capital e trabalho) e nas vendas dos setores para os componentes da demanda final. Para o propsito deste estudo, uma matriz insumo-produto foi construda a partir das informaes disponibilizadas pelo IBGE (IBGE, 2008) e os dados obtidos pela equipe. Assim, procedeu-se na abertura setorial da matriz para os setores em foco, quando necessrio. Os dados utilizados nessa etapa foram obtidos da PIA-2005, e se referem utilizao de insumos intermedirios e valor bruto da produo.

O setor original da matriz, Outros equipamentos de transporte", foi desagregado em 3 sub-setores: 1) Construo, montagem e reparao de aeronaves (Aeronutico), 2) Construo e reparao de embarcaes (Naval) e

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3)Demais setores de Outros Equipamentos de Transportes. O foco de anlise o segundo, denominado de Naval. A matriz construda permite avaliar a insero do setor Naval na estrutura produtiva brasileira, a partir de indicadores de composio das vendas, das inter-relaes setoriais na cadeia produtiva e com as demais cadeias produtivas.

A identificao das cadeias produtivas seguiu a metodologia tradicional (Haguenauer, Bahia, Castro et al., 2001). A delimitao das cadeias produtivas dos setores analisados considerou as transaes de maior valor, at o total de 95% do consumo e/ou fornecimento intermedirio. Foram desconsiderados nesse clculo, para cada setor, o auto-consumo (intra-setorial), os servios e os insumos de uso difundido (tanto compras como vendas).

A partir da matriz de insumo-produto foi implementado um modelo de insumoproduto, que gerou os multiplicadores de produo e emprego dos setores analisados, seguindo o padro da literatura (e.g. Miller e Blair, 1985). Dados obtidos pela equipe do projeto permitiram obter multiplicadores de emprego por qualificao da mo-de-obra (ensino superior, ensino mdio e inferior).

As vendas setoriais foram decompostas em 4 categorias para a demanda final: exportaes, consumo das famlias, formao bruta de capital fixo

(investimento) e outras demandas (consumo do governo e variao de estoques). A demanda intermediria corresponde ao consumo de todos os setores produtivos da economia.

A Tabela 3.1 apresenta a decomposio das vendas do setor Naval nessas categorias. Os dados indicam que o investimento das empresas o maior demandante da produo do setor, com 33% da demanda total. A demanda intermediria corresponde a 41% da produo do setor, mas muito concentrada nas relaes intra-setoriais. As exportaes representam apenas 7,3% da demanda do setor, e o consumo das famlias apenas 1,8%.

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Tabela 3.1 Distribuio da Demanda do Setor Naval, por categoria da demanda final e intermediria (Valor E % Da Demanda Total, 2005)Exportaes Consumo das Famlias FBCF Outras Demandas Demanda Final Demanda Intermediria Demanda Total R$ milhes 207 51 1.438 -28 1.667 1.167 2.834 % total 7.3 1.8 50.7 -1.0 58.8 41.2 100.0

Fonte: Elaborao prpria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

Figura 3.1 Cadeia Produtiva Do Setor Naval, em milhes de Reais (2005)Formao Bruta de Capital Fixo Ao e Derivados175 207

Exportao

Plsticos

121

938 433

Transporte e Armazenagem

Produtos de Metal

119

Naval

Tintas

114

Motores e Bombas

95 313

Guindastes e outros

83

Servios de reparao para indstria de petrleo e gs

Instrumentos e sist. Automao

67

Fonte: Elaborao prpria a partir da MIP 2005.

A Figura 3.1 apresenta a cadeia produtiva do setor. Para se ter uma anlise mais completa, a cadeia foi expandida com a representao da demanda para Formao Bruta de Capital Fixo (FBCF) e Exportaes. Um grupo de 4 setores representa 80% dos insumos domsticos da cadeia Naval: Fabricao de ao e derivados, Plsticos, Produtos de metal e Tintas, vernizes, esmaltes e lacas. Como ressaltado anteriormente, as vendas

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para FBCF so as mais importantes no setor. As nicas vendas intemedirias significativas referem-se a servios de reparao para o setor de Petrleo e Gs e Transporte e Armazenagem. Vale lembrar que a compra de navios pelas empresas contabilizada como investimento, e portanto est includa na FBCF.

A Tabela 3.2 apresenta os multiplicadores simples de produo do setor. Os resultados indicam um multiplicador prximo ao da mdia da economia brasileira, com predomnio do efeito direto. Esse fato se explica devido ao pequeno nmero de setores que fornecem insumos ao setor (baixo encadeamento para trs) e, principalmente, ao fato das vendas estarem concentradas na demanda final (FBCF especialmente), o que limita a repercusso dos efeitos multiplicadores a partir das vendas intermedirias (efeito de propagao para frente).

Tabela 3.2 Multiplicador Simples de Produo (2005)Multiplicador Simples de Produo Total (A+B) 1.94 Direto (A) 1.01 Indireto (B) 0.92 Participao no mult. (%) Direto (A/Total) 52.3 Indireto (B/Total) 47.7

Fonte: Elaborao prpria a partir da MIP 2005.

Os multiplicadores de emprego so obtidos a partir dos coeficientes de emprego de todos os setores da economia e da matriz de multiplicadores (inversa de Leontief). Seu clculo segue o descrito em Miller e Blair (1985). Os multiplicadores de emprego representam, para cada setor, a capacidade de gerao e propagao de empregos na economia decorrente da expanso da produo (ou demanda) dos seus produtos. Assim, os multiplicadores indicam quais setores possuem capacidade relativamente maior de gerao de emprego na economia, tanto em termos totais como por qualificao (nvel educacional) da mo-de-obra.

A Tabela 3.3 apresenta os multiplicadores de emprego para o setor Naval. Os resultados se relacionam aos multiplicadores simples de produo e aos coeficientes de emprego setoriais, e indicam que o setor Naval gera na 29

economia 20,37 empregos por 1 milho de reais de produo, com uma proporo de efeito indireto de cerca de 65%. Assim, embora os efeitos sobre a produo tendam a se concentrar no prprio setor (Tabela 2) os efeitos multiplicadores sobre o emprego so mais dispersos.

Tabela 3.3 Multiplicador Simples de Emprego (ocupaes/R$ milhes , 2005)Multiplicador Simples de Emprego Total (A+B) 20,37 Direto (A) 7,20 Indireto (B) 13,17 Participao no mult. (%) Indireto Direto (A/Total) (B/Total) 35,36 64,64

Fonte: Elaborao prpria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

Os dados de emprego do setor Naval, e de todos os setores da matriz, foram decompostos em 3 componentes, de acordo com a qualificao (educao) dos trabalhadores: superior, mdio e inferior. Coeficientes de emprego, que representam o nmero de trabalhadores dividido pelo valor da produo, foram obtidos para cada um dos setores, e, conjugados com o modelo de insumoproduto, permitem que se obtenham multiplicadores de emprego por nvel de qualificao para o setor Naval.

Tabela 3.4 Estrutura do Emprego no Setor Naval (2005)Todos 20583 100 Nvel de Educao Superior Mdio 1256 7421 6,10 36,05 Inferior 11906 57,84

Pessoal Ocupado Distribuio do Emprego (%) Coeficiente de emprego (Pessoal/VBP)

7,11

0,43

2,56

4,11

Fonte: Elaborao prpria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

A Tabela 3.4 indica que a participao de emprego no setor Naval mais significativa no de nvel de educao inferior, com quase 60% do pessoal ocupado. Segue-se o nvel mdio com 36% do total, e apenas 6,1% com nvel superior. 30

Os multiplicadores de emprego foram calculados a partir do modelo de insumoproduto para cada nvel educacional e para seus efeitos diretos e indiretos. Os resultados da Tabela 3.5 indicam que 51% do efeito multiplicador de emprego do setor naval repercutem no nvel de educao inferior, seguido do efeito multiplicador no nvel mdio (41%) e no nvel superior (8%). A decomposio de cada multiplicador de emprego (Tabela 9) indica a maior participao dos efeitos indiretos, especialmente no efeito sobre o emprego superior e mdio. Como esperado, na gerao de emprego de nvel educacional mais baixo que a gerao direta de emprego pelo setor Naval mais importante.

Tabela 3.5 Multiplicador Simples de Emprego para Setor Naval (ocupaes/R$ milhes , 2005)Multiplicador Simples de Emprego Total (A+B) 1,72 (8%) 8,37 (41%) 10,28 (51%) Direto (A) Indireto (B) 0,44 1,28 2,60 5,77 4,17 6,11 Participao no mult. (%) Direto (A/Total) 25,51 31,04 40,53 Indireto (B/Total) 74,49 68,96 59,47

Superior Mdio Inferior

Fonte: Elaborao prpria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

3.2. CARACTERSTICAS DAS FIRMAS DA INDSTRIA NAVAL BRASILEIRAA indstria brasileira de construo naval foi praticamente desativada nos anos 80. Os dados da Tabela 3.6 mostram, segundo a RAIS, que apenas pequenas empresas estavam ativas. A maioria das empresas fornecedoras de peas para navios, as navipeas tambm foram desativadas durante este perodo e poucas empresas especializadas sobreviveram. A indstria mais robusta de construo naval, formada por estaleiros que constroem navios acima de 1000 TPB iniciou a retomada da produo no incio dos anos 2000 com as encomendas da Petrobras. Em 2006, essa retomada j pode ser observada nos dados de nmero total de empregados nas firmas do setor naval e no nmero de empresas. Mais de 100 mil trabalhadores estavam ocupados nesta indstria em 2006 e existiam 46 grandes empresas com 500 ou mais pessoas ocupadas nesta indstria.

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Tabela 3.6 Evoluo do Nmero de Empresas e Empregados no Setor Naval Brasileiro1996 Porte 2000 2006 N de N de N de N de N de N de empresas empregados empresas empregados empresas empregados 1a9 325 1.055 288 888 280 881 10 a 49 73 1.509 70 1.465 130 3.224 50 a 99 18 1.304 15 1.021 39 2.682 100 a 249 12 1.804 10 1.370 29 4.291 250 a 499 1 482 3 1.145 17 5.514 500 ou mais 4 6.852 0 46 91.498 Todos 433 13.007 386 5.889 541 108.090Fonte: RAIS.

No existem firmas na indstria naval brasileira que so fortemente exportadoras ou mesmo que realizam exportaes sistemticas. No arcabouo deste trabalho, liderana est associada ao desempenho no comrcio exterior. Na ausncia de firmas exportadoras, as firmas foram classificadas nas categorias de seguidoras, frgeis e emergentes. A Tabela 3.7 apresenta as empresas que possuem mais de 30 pessoas ocupadas que foram classificadas neste trabalho. Nesta classificao, esto includas todas as firmas, estaleiros e navipeas. importante ressaltar que, segundo a metodologia do IBGE, para estar includa em uma determinada CNAE, a maior parte do faturamento da empresa deve ser proveniente daquela CNAE. Como veremos a maior caracterstica das navipeas sua diversificao. Isso significa que muitas firmas no so classificadas como do setor naval, mas fornecem tambm para o setor naval. Elas no esto includas nestas estatsticas porque a maior parte do seu faturamento no proveniente do setor naval. Sendo assim, das 109 empresas da indstria naval brasileira 21 delas foram classificadas como seguidoras. Estas empresas possuem a menor relao custo/faturamento quando comparado as demais empresas do setor naval. Os indicadores mostram que nestas firmas a produtividade tambm maior. As empresas multinacionais esto na sua maioria presentes nesta categoria.

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Tabela 3.7 Participao do Capital Estrangeiro na Indstria Naval BrasileiraIndicador N de firmas Nacionais Estrangeiras Faturamento (R$ milhes) Nacionais (%) Estrangeiras (%) Salrio mdio Produtividade mdiaFonte: PIA, PINTEC, RAIS e SECEX.

Tipo de empresa Seguidoras 21 14 7 1.059 12% 88% 1.808 54.780 Frgeis 83 81 2 1.444 57% 43% 1.244 38.571 Emergentes 5 5 26 100% 0% 1.131 4.049 Total 109 100 9 2.530 39% 61% 1.374 41.564

Tabela 3.8 Inovao nas Firmas no Setor Naval BrasileiroIndicador Seguidoras N de empresas N de inovadoras de produto de produto novo para o mercado de processo de processo novo para o mercado Fonte: PIA, PINTEC, RAIS e SECEX. 21 8 38% 0 0% 0 0% 8 38% 5 24% Tipo de empresa Frgeis 83 10 12% 5 6% 3 4% 10 12% 0 0% Emergentes 5 5 100% 5 100% 0 0% 2 44% 0 0% Total 109 23 21% 10 9% 3 3% 20 18% 5 5%

Os indicadores de inovao na indstria naval brasileira so pouco expressivos. A Tabela 3.8 mostra que dentre as seguidoras 5 delas declararam que realizaram inovao de processo novo para o mercado. Dentre as seguidoras esto a maior parte dos estaleiros e neste segmento as inovaes de processo so mais relevantes. As inovaes de produto concentram-se nas navipeas que esto na maioria classificadas como empresas frgeis. Um produto tecnologicamente novo um produto cujas caractersticas fundamentais como especificaes tcnicas, componentes, materiais etc. diferem significativamente de todos os produtos previamente produzidos pela empresa. Da mesma forma, os processos tecnologicamente novos envolvem a introduo de tcnicas

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novas no processo produtivo ou mtodos novos de oferta de servios ou manuseio e entrega dos produtos. Neste sentido, a introduo dos processos tecnologicamente novos no pode utilizar os processos previamente existentes, ou ento aumentar a eficincia da produo e da entrega de produtos j existentes.

evidente que as estratgias das empresas so materializadas nos seus esforos na busca de recursos para inovao. As Tabelas 3.9 e 3.10 mostram que so muito pequenos os esforos realizados pelas firmas da indstria naval para realizar inovao tecnolgica. O processo decisrio da empresa um elemento central na anlise das estratgias das firmas. As firmas tomam decises encadeadas e de forma recorrente, ou seja, constituem uma estratgia de longo prazo. A empresa decide investir levando em conta o que acontece no seu mercado, mas de forma especialmente relevante ela impulsionada pela concorrncia e pelo crescimento da demanda por seu produto. Quando a firma decide investir ela opta por fazer mais do mesmo produto e/ou investir na busca de novos recursos para competio. Se a firma decidiu por buscar novos recursos para competio, os recursos originrios desta estratgia podero se materializar em inovao. Se a firma obtiver xito na sua estratgia de inovao os novos recursos e competncias acumuladas pela empresa se transformam em novos produtos ou processos e tero valor econmico para a empresa. Por sua vez, a inovao afeta um dos principais indicadores de performance da empresa: a sua produtividade. Este seria um ciclo virtuoso de acumulao de capital centrado na capacitao tecnolgica prpria.

Os gastos em P&D, como proporo da receita lquida de vendas das empresas, so praticamente inexpressivos e a maior parte dos gastos so realizados em mquinas e equipamentos. Apenas as 5 empresas emergente do setor realizam gastos substantivos em P&D como proporo da receita lquida de vendas, 2,58%. Os gastos com projetos industriais so

especialmente mais importantes neste segmento e representam 29,5% dos gastos totais em atividades inovativas. tambm inexpressivo o nmero de pessoas ocupados em P&D, apenas 21 pessoas sendo 7 delas doutores. A 34

Tabela 3.11 mostra que no h um padro definido de busca de informaes para inovao e que pudesse indicar qualquer ao virtuosa na busca de informao para inovao. Tabela 3.9 Esforos Inovativos nas Firmas do Setor Naval BrasileiroTipo de empresa Indicador Seguidoras RLV (R$ milhes) Gastos em atividades inovativas (R$ milhes e % da RLV) Gastos em P&D interno e externo (R$ milhes e % da RLV) Pessoal total ocupado em P&D Doutores Mestres Fonte: PIA, PINTEC, RAIS e SECEX. 976 1,42 0,15% 0,24 0,02% 4 2 0% 2 0% Frgeis 1.409 8,35 0,59% 0,30 0,02% 7 0 0% 7 0% Emergentes 26 1,57 6% 0,67 2,58% 10 5 19% 5 19% Total 2.411 11,34 0,47% 1,21 0,05% 21 7 0% 14 1%

Tabela 3.10 Gastos em Atividades de Inovao nas Firmas no Setor Naval Brasileira, em milhes de reaisIndicador Seguidoras Gastos em atividades inovativas Gastos em P&D interno Gastos em P&D externo Aquisio de outros conhecimentos Aquisio de mquinas e equipamentos Treinamentos Gasto em introduo das inovaes Projeto industrial Fonte: PIA, PINTEC, RAIS e SECEX. 1,42 100,0% 0,24 16,9% 0,00 0,0% 0,00 0,0% 0,08 5,6% 0,03 2,1% 0,39 27,5% 0,68 47,9% Tipo de empresa Frgeis 8,35 100,0% 0,30 3,6% 0,00 0,0% 0,00 0,0% 4,82 57,7% 0,72 8,6% 0,00 0,0% 2,51 30,1% Emergentes 1,57 100,0% 0,67 42,7% 0,00 0,0% 0,00 0,0% 0,00 0,0% 0,18 11,5% 0,57 36,3% 0,15 9,6% Total 11,34 100,0% 1,21 10,7% 0,00 0,0% 0,00 0,0% 4,90 43,2% 0,93 8,2% 0,96 8,5% 3,34 29,5%

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Tabela 3.11 Fontes de Informao para InovaoTipo de empresa Seguidoras Frgeis Emergentes Fontes internas empresa 2 0 5 Departamento de P&D 25% 0% 100% 2 7 5 Outros 25% 70% 100% Fontes externas empresa 0 2 2 Clientes e consumidores 0% 20% 40% 3 5 0 Fornecedores 38% 50% 0% 0 3 2 Concorrentes 0% 30% 40% 0 0 0 Outra empresa do grupo 0% 0% 0% 0 1 0 Instituies de teste 0% 10% 0% 0 0 0 Aquisio de licena 0% 0% 0% 0 2 0 Centro de capacitao 0% 20% 0% 0 2 0 Empresa de consultoria 0% 20% 0% 2 2 0 Universidade 25% 20% 0% 8 10 5 Total de empresas inovadoras 100% 100% 100% Fonte de informaoFonte: PIA, PINTEC, RAIS e SECEX.

Total 7 30% 14 61% 4 17% 8 35% 5 22% 0 0% 1 4% 0 0% 2 9% 2 9% 4 17% 23 100%

Levando-se em considerao os indicadores de inovao das firmas brasileiras da indstria naval, parece que mesmo aps a retomada das atividades desta indstria a partir de 2000, no h qualquer virtuosidade das firmas na construo de uma indstria competitiva baseada em conhecimento. A experincia de pases como a Coria e a China mostraram que para tornar uma indstria competitiva relevante criar inteligncia e reduzir a dependncia de pacotes tecnolgicos provenientes do exterior. A experincia da Noruega tambm aponta nesta direo. No razovel pressupor que este segmento possa prescindir de investimentos em P&D e fortalecimento de competncias na rea de projetos e engenharia. Os relatos das experincias internacionais

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mostraram que os pases lderes neste segmento estruturaram centros de pesquisa com capacidade para liderar a produo naval no mundo. Para entender a dinmica da produo naval no Brasil necessrio, entretanto, aprofundar a anlise da atuao dos estaleiros e das navipeas no Brasil.

3.3. DEMANDA DE NAVIOS NO BRASIL: PEDIDOS EM ABERTOEm termos histricos, o ano de 1998, marca o movimento de retomada da produo nacional, impulsionado pelas encomendas da Petrobras para o aumento da produo de petrleo em alto-mar. O pas j fora o segundo maior produtor mundial, em ambiente protegido e de pouco estmulo produtividade e desenvolvimento tecnolgico, e viveu sria crise nos anos 1980 e 1990.

Em 2001, a Petrobras lanou seu Programa de Modernizao da Frota de Apoio Martimo, estabelecendo no edital de concorrncia internacional a exigncia de navios de bandeira brasileira, o que estimulou a construo local desses navios e reativou os estaleiros (SINAVAL, 2008).

Foi decidido, a seguir, que as firmas brasileiras participariam da construo de diversas plataformas martimas, fornecendo alguns dos mdulos das plataformas construdas a partir de cascos de petroleiros convertidos - no exterior em unidades flutuantes de produo. A montagem desses mdulos nas plataformas e a finalizao das unidades de produo passaram a ser feitas no Brasil (SINAVAL, 2008).

Em 2003, o Governo Federal decidiu encomendar plataformas semsubmersveis de grande porte, com construo parcial ou total no Brasil, o que contribuiu para a reativao de vrios estaleiros, e atraiu investidores estrangeiros. O mercado de offshore o principal demandante dos estaleiros brasileiros.

Em 2006, a Transpetro selecionou em licitao pblica, os estaleiros que construiriam os primeiros 26 novos petroleiros para a modernizao de sua

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frota, o que garantiu a ocupao de vrios estaleiros e a criao de novos empregos especializados (SINAVAL, 2008). Atualmente, o pas j representa 14% do total mundial da construo de navios de apoio martimo para servios offshore.

A demanda proveniente da indstria de petrleo e gs sem dvida nenhuma a grande oportunidade que o Brasil possui de ter uma indstria naval competitiva. Os dados do quadro 5 mostram que a construo naval voltada para a Petrobras/Transpetro representa a possibilidade de manuteno de uma escala competitiva para a indstria naval brasileira.

As descobertas das jazidas do Pr-sal abrem muitas oportunidades para os estaleiros e navipeas no Brasil. Apesar da queda recente do preo do petrleo, os esforos governamentais no sentido de manter os investimentos previstos pela Petrobras indicam que a perspectiva de crescimento da demanda do setor naval continuar nos prximos anos. Ressalta-se tambm que a similaridade geolgica com a costa da frica pode abrir novas demandas para o setor naval brasileiro.

Estudos realizados por Oliveira (200x) no mbito do PROMIMP mostraram que em um cenrio de crescimento baixo da economia (em torno de 4%) o preo do barril do petrleo estabilizaria em US$ 55 seria demandado a construo de 52 plataformas e 23 navios do tipo Suezmax no perodo 2012-2025.

Em dezembro de 2008, a Transpetro lanou edital para a segunda fase do Programa de Modernizao e Expanso da Frota (Promef II). A Transpetro garantir o afretamento por 15 anos, e as embarcaes devero entrar em operao entre 2012 e 2014. Segue, a seguir, a descrio dos navios, bem como a relao das propostas tcnicas qualificadas e em anlise:

Propostas tcnicas qualificadas: Lote 1 quatro navios Suezmax com posicionamento dinmico (Atlntico Sul e EISA); Lote 2 trs navios Aframax com posicionamento dinmico (Atlntico Sul e EISA); Lote 3 trs navios de produtos claros (Mau). 38

Proposta tcnica ainda em anlise: Lote 4 cinco navios de produtos (trs claros e dois escuros): concorrem os estaleiros Rio Nave (RJ) e Mau (RJ) No lado da demanda tambm cabe ressaltar que a Marinha do Brasil planeja construir, em estaleiros privados nacionais, 32 navios-patrulha at 2016, um investimento estimado em quase R$ 3 bilhes.

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Quadro 3.1 Carteira de Encomendas dos Estaleiros (2008)Estaleiro Brasfels, em consrcio com a Technip EISA Cliente Petrobras Encomendas Plataforma P-56

Mau STX Aliana Wilson, Sons Atlntico Sul

Inace

Rio Grande Quip TWB Detroit

Itaja Navship

Rio Maguari

ERIN

PDVSA Log-In Laurin UP-Offshore Transpetro Transpetro DOF / Norskan DOF / Norskan CBO CBO Wilson, Sons Wilson, Sons Trasnpetro Transpetro Noroil Petrobras DSND Consub Marimar Mar Alta Mar Alta Marinha do Brasil Petrobras Petrobras Petrobras quila Pesca Smit Rebras Smit Rebras Starnav Tranship Vale Camorim Alunorte/Vale Starnav Rebras Vale Transpetro Bram Offshore Bram Offshore Edison Chouest Navegao Rio Grande MMX MMX

10 navios petroleiros 5 porta-contineres 2 navios graneleiros 1 PSV 4 navios petroleiros (em definio) 4 navios petroleiros (produtos) 1 navio tipo AH5 (navio de manuseio de ncora) 2 AH12 (navios de manuseio de 8 navios PSV multifuncionais 20 navios PSV 8 navios PSV 5 navios AHTS 10 navios petroleiros Suezmax 5 navios petroleiros Aframax 2 navios VLCC Casco da P-55 4 navios de apoio martimo 5 navios de apoio martimo 4 navios de apoio tipo PSV 2 navios de apoio tipo UT 2 navios patrulha 8 plataformas FPSO P-53 P-55 (instalaes) 2 navios atuneiros 2 rebocadores de apoio porturio 6 rebocadores de apoio porturio/martimo 2 rebocadores de apoio porturio/martimo 1 rebocador de apoio porturio/martimo 1 rebocador de apoio porturio/martimo 4 rebocadores de apoio porturio/martimo 1 catamar de passageiros 4 rebocadores de apoio porturio/martimo 18 rebocadores de apoio porturio 11 rebocadores 3 navios gazeiros 5 navios PSV 3 navios AHTS 10 navios de apoio martimo 3 navios graneleiros de 5,8 mil TPB Empurradores e barcaas para transporte de minrio Empurradores e barcaas para transporte de minrio

Fonte: SINAVAL (2008).

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3.4. CAPACIDADE DE OFERTA DAS FIRMAS BRASILEIRAS 3.4.1. ESTALEIROS NO BRASILNo Brasil, no h estatsticas recentes sobre a produtividade dos estaleiros. Estimativa feita pela COPPE (2006), aponta que as operaes nos anos 1980 e 1990, antes da crise estariam entre 1,8 e 2,5, numa escala de 1 (tecnologias dos anos 1960) a 5 (estado da arte). O Ishibras, no mesmo perodo, estaria entre 2,5 a 2,8. Conforme apresentado no caso internacional, a busca de um aumento contnuo de produtividade fundamental para a sustentao da competitividade internacional. A entrada de novos players no mercado, em plantas modernas e em cooperao com grandes estaleiros estrangeiros pode contribuir para que a indstria de CN brasileira no repita os erros do passado. COPPE (2006) faz uma segmentao dos estaleiros em quatro grupos:

1) Estaleiros com capacidade de construo de embarcaes de mdio porte, como os destinados a apoio offshore, pesqueiros de maior capacidade e sofisticao, embarcaes de alumnio, e outras que demandam instalaes apropriadas e padro tecnolgico adequado. 2) Estaleiros com capacidade para produo de embarcaes fluviais com ou sem propulso, rebocadores porturios e outras embarcaes de ao, alm de embarcaes de alumnio de menor porte e sofisticao. 3) Instalaes que produzem regularmente embarcaes de pequeno porte, fluviais, pesqueiras, de recreio, inclusive lanchas, veleiros de fibra de vidro, e barcos de madeira. 4) Instalaes militares.

No presente trabalho concentrar-nos-emos nos dois primeiros grupos.

Brasfels: Estabelecido desde 2000 como uma parceria entre o grupo Keppel Fels, de Cingapura, e o grupo Pem Setal, brasileiro. Localiza-se em rea de 360 mil m2, em Angra dos Reis, RJ, na rea do antigo estaleiro Verolme. O estaleiro SRD Offshore, que atua em reparo naval, com instalaes de 85 mil

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m2, em Angra dos Reis, tambm faz parte do grupo. O estaleiro vem desenvolvendo fortemente a vocao de construtor de plataformas offshore e embarcaes de apoio. O relatrio prev dificuldades do estaleiro em atuar competitivamente na construo de navios no cenrio de continuar com os dois segmentos de atuao (navios e offshore). Construiu a plataforma P-52, em consrcio com a Technip. Entregou a plataforma P-51 (primeira plataforma semi-submersvel construda no pas) em outubro de 2008, tambm em parceria com a Technip. A plataforma P-56 foi contratada pela Petrobras em 2008, para o mesmo consrcio.

EISA: Controlada pelo grupo Synergy, do empresrio German Efromovich. ocupa uma rea de 140 mil m2, na Ilha do Governador, RJ. Segundo COPPE (2006), o estaleiro nunca chegou a paralisar completamente a produo, mesmo no pico da crise do setor. Atuou, inclusive, concluindo obras iniciadas e paralisadas em outros estaleiros. Para voltar a produzir navios de grande porte, so necessrios investimentos na infra-estrutura e, principalmente, na engenharia e na capacidade de planejamento e controle de produo. Para atingir nveis de produtividade mais prximos do padro internacional de competitividade, seriam necessrios investimentos significativos, e profunda reestruturao do modelo de produo adotado.

Mau : Fundado originalmente pelo Baro de Mau, em 1865. De 2000 a 2007, foi arrendado pelo grupo Jurong, de Cingapura. Tambm do grupo Synergy. Possui dois estaleiros em Niteri: Ponta DAreia, de 180 mil m2 e Ilha da Conceio, de 78 mil m2, um no Rio: Ilha do Caju, de 78 mil m2, e outro em So Gonalo, de 40 mil m2. Principais atividades: EPCI (Engineering, Procurement Construction & Installation)- Construo Offshore- Construo Naval- Reparo Naval e Offshore. Estaleiro vem se dedicando a construo de plataforma do tipo FPSO. Segundo COPPE (2006), o estaleiro apresenta timas condies para o padro atual das operaes. No caso de voltar a atuar na construo de navios, o estaleiro encontrar dificuldade em alcanar nvel de competitividade compatvel com o que pode ser atingido por outros estaleiros brasileiros.

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Estaleiro STX Brazil Offshore (ex- Aker Promar): Possui instalaes de 120 mil m2 de rea alugada ao Mac Laren, na Ilha da Conceio, Niteri, RJ. Capital sulcoreano, que, no fim de 2008, adquiriu o controle do grupo a Aker Yards, da Noruega. Os principais produtos entregues nos ltimos anos foram embarcaes Platform Supply Vessel (PSV), de mdio porte, mas com alto nvel de sofisticao nos sistemas utilizados, nos equipamentos e no acabamento requerido. A avaliao da COPPE (2006) que se trata de um especialista em embarcaes de apoio martimo, e, devido propriedade de capital noruegus, tem mantido produo contnua e consistente, se aproximando do padro mundial na construo desse tipo de embarcao, ou de outras assemelhadas. Trata-se de um estaleiro com grande potencial competitivo para a construo de embarcaes de apoio martimo e com condies de receber encomendas para exportao. Tambm capaz de construir embarcaes pesqueiras de grande porte, caso haja demanda. COPPE (2006) estima que a capacidade de produo anual pode alcanar quatro embarcaes de apoio martimo por ano. Aliana (ex-Ebin): Est localizado em rea de aproximadamente 60 mil m2, s margens da BR-101, em Niteri. propriedade da Companhia Brasileira de Offshore, de capital nacional, do grupo Fischer. No momento, est construindo para a CBO que presta servios para a Petrobras quatro PSVs, com entrega prevista para 2009. Na dcada de 1980, o antigo estaleiro Ebin chegou a construir vrios navios graneleiros.

Wilson, Sons: Uma das mais antigas empresas privadas do pas. Especializado na construo de: rebocadores, barcos patrulha, ferry boats, barcos de apoio porturio, supply boats e outras embarcaes em ao ou alumnio de at 800 tons. Estaleiro localizado em Guaruj, So Paulo. Mac Laren: Possui instalaes de 60 mil m2 na Ilha da Conceio, e de 25 mil m2 em Ponta da Areia, Niteri, Rio de Janeiro10. Trata-se de firma de capital

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Segundo matria da revista Exame, disponvel no site da Mac Laren http://www.maclaren.com.br/noticias2.asp?codigo=27, em 2012 a Mac Laren recuperar a rea

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nacional, da famlia Mac Laren, que iniciou suas atividades em 1938, e passou por srias dificuldades na dcada de 1990, inclusive com pedido de concordata. Receitas de 2008 estimadas em US$ 500 milhes. Atualmente, a firma est dedicada CN (em ao e fibra de vidro), construo offshore e onshore (mdulos de compresso e de gerao), reparo naval e manuteno de unidades offshore. O estaleiro possui um layout compacto e bem organizado para a construo de embarcaes de mdio porte e nvel tecnolgico compatvel com o perfil da produo. Entre seus clientes destacam-se: Astromartima Navegao; Delba Martima Navegao; Setal Construes; Rolls Royce; Petrobras; CBO; Docenave; MBR; Wilson, Sons; Marinha do Brasil, Armada Chilena, Empresa de Navegao da Amaznia, Cia. Docas do Rio de Janeiro. A plataforma PRA-1, projetada para receber e escoar a produo de leo das plataformas P-51, P-52, P-53 e P-55, construda pela Technint, Odebrecht/UTC, teve seu mdulo de gerao fabricado pela Rolls Royce no Mac Laren.

Rodriquez Cantieri: Est sob comando do grupo italiano Rodriquez Cantieri Navali, e ocupa uma rea de 14 mil m2, em Niteri. Constri catamars para a empresa Barcas S.A.

Renave-Enavi: De propriedade do grupo Reicon, de capital nacional, ocupa uma rea de 300 mil m2, na Ilha do Viana, na Baa de Guanabara. A rea referente Ilha Santa Cruz, est parcialmente disponvel para instalaes industriais, e as reas somadas de 1,5 milho de m2, o que representa condies especiais para a implantao de um grande estaleiro de padro internacional (COPPE, 2006). Atua em reparao.

Rio Nave: Empresa formada por ex-funcionrios do antigo estaleiro Caneco, no Rio de Janeiro, ocupa rea de 95 mil m2. Segundo COPPE (2006), o estaleiro dedica-se ao reparo de navios e equipamentos e servios de apoio a outros estaleiros. Apresenta limitaes de espao e infra-estrutura e requer considervel investimento para recuperar as instalaes e equipamentos.alugada ao Aker Pomar (atual STX), onde pretende construir um dique seco, para atender a demanda por sondas e navios-petroleiros da Petrobras.

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UTC: Localizada em Niteri, atua com mdulos de plataformas como a P-53.

Cassin: Atua em reparo naval, com instalaes em Niteri e Arraial do Cabo.

Atlntico Sul: Consrcio integrado pelas empresas Camargo Corra, Queiroz Galvo, e a empresa PJMR. A scia internacional a sul-coreana Samsung Heavy Industries (SHI). A empresa a maior mais moderna do setor de construo e reparao naval e offshore do hemisfrio sul. O empreendimento, o maior do hemisfrio sul, resultado de investimentos de R$ 1,4 bilho e tem capacidade instalada de processamento da ordem de 160 mil toneladas de ao por ano. Localizado no Complexo Industrial Porturio de Suape, Ipojuca, PE. A empresa produz todos os tipos de navios cargueiros de at 500 mil toneladas de porte bruto (TPB), alm de plataformas offshore dos tipos semi-submersvel, FPSO (Sistemas Flutuantes de Produo, Armazenamento e Transferncia de Petrleo), TLP (Plataformas de Pernas Atirantadas) e SPAR, entre outras. Tambm oferece servios de reparo de embarcaes e unidades de explorao de petrleo.

Inace: Empresa de capital nacional, de propriedade do economista Gil Bezerra. Ocupa uma rea de 150 mil m2, em Fortaleza, CE. Construiu para a Marinha Brasileira dois navios-patrulha da classe Guaruj. A EMGEPRON encomendou um navio da mesma classe para a Marinhada Nambia. Em 2006 a empresa francesa Constructions Mcaniques de Normandie assinou contrato com o estaleiro para transferncia de tecnologia para construo de dois naviospatrulha da classe Vigilante para a Marinha do Brasil (BOTELHO, 2007). A carteira em aberto inclui navios patrulha, Fast Supply Vessels, navios de apoio martimo e iates, com clientes no Brasil e no exterior. Segundo avaliao da COPPE (2006), o estaleiro adquiriu capacitao para iates de luxo e embarcaes de alumnio, que possuem alto valor agregado e demandam padres de qualidade que exigem um grande esforo. J foi um grande construtor de embarcaes pesqueiras quando a demanda por esse tipo de embarcao se encontrava aquecida. Possui um plano de aumento da capacidade, que vista capacitao para a construo de navios ocenicos de mdio e grande porte, mas sem previso para implantao. 45

Detroit Brasil: Subsidiria do grupo Detroit Chile. Est localizado em rea de aproximadamente 62 mil m2, em Itaja, SC. Segundo avaliao da COPPE (2006), tem infra-estrutura organizada e adequada para a construo de rebocadores porturios e embarcaes pesqueiras.

Rio Grande: Controlado pela WTorre Engenharia, de capital nacional. Iniciou obras para construo de dique seco para atuar na construo de plataformas de petrleo (140 m de comprimento, 130 de largura, 16,5m de altura livre e 13,8 m de calado na mar alta). O consrcio Top-55, formado pela Queiroz Galvo, UTC Engenharia S.A. e IESA leo e Gs S.A., integrar os mdulos da plataforma P-55 no Rio Grande, sendo o casco construdo no Atlntico Sul.

QUIP: Sociedade de propsito especfico formada pelas empresas Queiroz Galvo, Ultratec e IESA, Integrao da plataforma P-53 (um FPSO construdo a partir do casco de um petroleiro) para a Petrobras, nas dependncias do ponto do Rio Grande, RS. O consrcio tambm foi responsvel pela construo dos mdulos de separao de petrleo, tratamento de gs e utilidades.

Navship: Filial do grupo norteamericano Edison Chouest Offshore. rea de 220 mil m2, localizada em Navegantes, SC. Estaleiro focado na construo de embarcaes de apoio a indstria de petrleo, do tipo PSV. TWB: Estaleiro com 90 mil m2, em Navegantes, SC. Atua com embarcaes de pequeno porte. Itaja: Empresa do grupo Metalnave, e ocupa rea de 168 mil m2 em Itaja, SC. Segundo COPPE (2006), o estaleiro estava dedicado construo de embarcaes especiais, como navios gaseiro/qumico, para armador do mesmo grupo. Recentemente, ganhos contratos para a Transpetro.

Rio Maguari: Pertencente ao grupo Rio Maguari, de capital nacional, ocupa rea de 120 mil m2 em Belm, PA. Estaleiro pequeno e dedicado construo de embarcaes fluviais e montagens de estruturas metlicas para a construo civil e industrial. 46

ERIN: Fundado em 1971, com sede em Manaus-AM, fabrica embarcaes em ao, alumnio e executa obras de calderaria e estruturas para setor industrial. rea total de 60 mil m2.

H 3 novos estaleiros com implantao anunciada: Estaleiro da Bahia (EDB), formada pelos grupos OAS, Setal e Piemonte, Jurong, no ES, e STX, em Quissam, RJ.

3.4.2. NAVIPEAS NO BRASILNa segunda metade dos anos 2000 a demanda do setor naval abriu novas perspectivas para as empresas que fornecem peas para os navios, as chamadas navipeas. Conforme demonstrado acima a maior parte da demanda de navios proveniente das encomendas vinculadas ao setor de petrleo (Petrobras e Transpetro). No entanto, no tarefa trivial aproveitar as oportunidades que esto sendo geradas. A produo de navios no Brasil pode ser realizada importando-se partes peas e componentes em pacotes tecnolgicos provenientes do exterior. A opo pela criao de vantagens competitivas pode tambm ser uma estratgia mais virtuosa para a insero internacional da indstria brasileira.

A produo de um navio de grande porte no realizada propriamente em uma linha de produo. Segundo Stupello et.all (2006) a produo naval utiliza o conceito de Tecnologia de Grupo onde a seqncia de trabalho realizada em oficinas com mquinas e pessoal especficos. Os navios so comumente construdos em blocos ou anis porque geralmente h limitaes de espao fsico prximo ao mar. O estaleiro torna-se mais produtivo quando menor o tempo de montagem de um navio. A velocidade da manufatura est fortemente associada gesto do processo de montagem e a coordenao no fornecimento das peas necessrias para a construo da embarcao.

A maior parte do trabalho de um estaleiro a montagem dos grandes blocos e a pintura. Segundo Stupello et. all (200x) as atividades de estrutura, tubulao

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e pintura representam 79% das horas gastas na construo de um navio petroleiro. Um dos ativos mais importantes de um estaleiro o seu dique (carreira ou flutuante) e os processos e equipamentos envolvidos na construo dos blocos. Estes processos envolvem basicamente o trabalho com o ao e so os seguintes: desempeno e estreitamento; marcao e corte; conformao; soldagem e proteo. No entanto, a atuao das empresas de construo naval se aproxima muito aos do padro de atuao dos EPCistas e das empresas de projetos navais.

A coordenao entre os estaleiros e os produtores de peas para navios um elemento central da competitividade da indstria naval de um pas. A gesto da cadeia de produo envolve no apenas a qualidade dos produtos oferecidos e a necessidade de certificao da produo como tambm o planejamento de longo prazo para que a entrega das partes peas e componentes seja feito sem atrasos. Neste sentido o papel dos projetistas, das empresas de engenharia, tambm conhecidos como EPCistas torna-se central. Os novos projetos a introduo de inovaes organizacionais e tecnolgicas com a reduo de custos e prazo de fabricao especialmente relevante na produtividade dos estaleiros. Geralmente a contratao dos projetos e dos EPCistas define de forma especialmente relevante a organizao da produo e dos fornecedores do estaleiro.

O termo genrico navipeas utilizado para caracterizar um amplo nmero de fornecedores de peas para os navios. Segundo Brito (2006) um navio petroleiro teria aproximadamente 360 mil peas e o mercado de construo naval teria aproximadamente 1.000 a 2.500 empresas fornecedoras de peas, enquanto no setor automobilstico teria em torno de 500 empresas. Na verdade, as empresas que fornecem peas para o setor naval formam um grupo muito heterogneo de empresas que podem ser classificados como sistemistas e fornecedores de forma geral.

Diversas solues para o relacionamento entre estaleiros e fornecedores de peas para a indstria naval tem sido buscadas. A terceirizao da produo de sistemas completos, conhecidas como turnkey contracting tem sido 48

introduzidas para concentrar o fornecimento em um nmero menor de sistemistas e evitar muitas interfaces entre diversas empresas. O mdulo ou sistema portanto fornecido e instalado por uma s empresa que se responsabiliza pelo funcionamento completo do produto que est sendo entregue.

As informaes de custos de produo de um navio so muito diversas e variam de pas para pas de acordo com a escala de produo do estaleiro e dos custos da mo de obra envolvida. No caso dos estaleiros europeus, Kanerva (2004) estimou os custos de produo do estaleiro entre 25 e 35% dos custos totais. Os sistemas martimos representariam entre 32 e 45% dos custos totais. Maquinrios, ao e outros materiais seriam responsveis pelo restante dos custos totais. Estes nmeros demonstram a importncia dos sistemistas na indstria naval.

Alm da relevncia da participao dos sistemistas na produo da indstria da construo naval, a experincia internacional mostra que a cadeia de suprimentos um importante fator de competio dos pases que lograram liderana na produo de navios no mundo pois neste segmento h uma grande capacidade de acumular conhecimento para desenvolver inovaes no setor.

Do ponto de vista das oscilaes de demanda, a principal varivel que afeta significativamente o setor so as alteraes no preo de frete internacional. Sempre que a renda mundial sofre uma oscilao muito intensa, como, por exemplo, uma desacelerao ou uma queda muito acentuada como a que estamos observando por conta da crise do sistema financeiro internacional do final de 2008, o comrcio internacional tende a reduzir de forma especialmente relevante e isso afeta a formao de expectativas com relao a demanda de novos navios. O problema que h uma defasagem entre a formao das expectativas, a encomenda de novos navios e a entrega dos navios aos armadores. Esta defasagem pode ser de alguns anos e favorecer o aparecimento de um hiato muito grande entre a oferta e demanda de novos navios o que afeta toda a cadeia produtiva. 49

H, portanto, uma tendncia sobrecapacidade instalada na indstria naval que resultante dos ciclos econmicos mundiais e acentuada ainda mais por conta de polticas pblicas que so implementadas em diversos estados nacionais e justificadas sob os mais variados argumentos: soberania nacional , defesa, balana comercial, gerao de emprego e renda etc.

A navipeas no est imune a estes ciclos econmicos principalmente porque a escala de produo um fator especialmente relevante de competio neste setor. Nos segmentos de navipeas de maior contedo tecnolgico muitas vezes a demanda domstica no suficiente para garantir a escala minimamente rentvel de produo. Do ponto de vista da produo mundial estes fatores favoreceram a concentrao da produo nos segmentos de maior contedo tecnolgico como no caso dos sistemas de propulso de navios de grande porte (ex. motores e hlices). Em outros segmentos, entretanto, os problemas de escala e a da sazonalidade da demanda so resolvidos via flexibilizao e diversificao das empresas. Ou seja, dada a core competence da empresa, ela atua em diversos segmentos industriais e reduz a dependncia do setor naval.

A navipeas no o nico, mas um elo importante na gerao de novas tecnologias na indstria. Bitzer e Hirschhusen (1997) argumentam que h economias de aglomerao originadas da cooperao entre as firmas e a necessidade de fornecimento just in time de sistema de blocos j pr moldados. Muitos estaleiros europeus sobreviveram concorrncia dos pases orientais como a Coreia e Cingapura por conta de vantagens de aglomerao. O exemplo mais citado na literatura a liderana da Nor