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I Após um dia inteiro negro e triste, coberto por nuvens pesadas e aterradoras, finalmente dirigia por um trecho em linha reta. Os pensamentos vieram. Como vinham sempre. Sem controle e sem hora marcada. Vês lá diante o caminhão em direção contrária? Basta uma leve guinada de direção e poremos fim a tudo. A todo o sofrimento. O choque será frontal. À velocidade em que estamos, não sobrará quase nada. Será rápida e indolor. Não nos acovardamos! É agora! Uma leve virada e pronto. Vamos! Lá vem o caminhão...acelere...isso! Mais... Não tivestes coragem. O caminhão passou. Quase na curva diminuiu a velocidade e parou no acostamento. Pois um suor frio tomou-lhe o corpo. As mãos trêmulas. Enjoo. Pânico. Horror!! Desligou o carro. Abriu a porta e apoiou as duas mãos espalmadas sobre os joelhos e, levemente inclinado para a frente, vomitou. Apenas uma gosma esverdeada. Melhorou um pouco. Embora ainda se sentisse tonto. Olhou para cima. O céu negro. Começou a chover de leve. Uma chuvinha fria e doce. Olhou a paisagem ao redor. Voltou para o carro, abriu a porta do motorista e por cima do ombro a enxergou. Inês de Sollero. Seu corpo se arrepiou. Eletrificou-se . Um pouco abaixo do ponto onde estava a cidadezinha ria para ele. Localizada às margens da estrada, via casas e pequenos edifícios. Atrás dele uma verde e floresta lhe emoldurava. Isso. Parecia um quadro. Lindo. Aconteceu-lhe algo estranho: ao ver a cidade a apenas alguns quilômetros a sua frente, não teve reação alguma. Nem motora, nem psicológica. Antes de qualquer pensamento lhe vir a cabeça. Antes de qualquer movimento, antes de tudo existir, ele simplesmente se alegrou. Um sorriso lhe veio aos lábios. Vindo do fundo de seu ser. Alegria. Em estado bruto. II Mais dez minutos, sem prestar muita atenção à estrada e sim a cidade, que não saia, de sua visão, chegou. Passou por uma placa que dizia bem-vindos à Inês de Sollero. Dirigia bem devagar, vidros abertos. Rodeou uma praça

Inês de Sollero

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Page 1: Inês de Sollero

I

Após um dia inteiro negro e triste, coberto por nuvens pesadas e aterradoras, finalmente dirigia por um trecho em linha reta. Os pensamentos vieram. Como vinham sempre. Sem controle e sem hora marcada. Vês lá diante o caminhão em direção contrária? Basta uma leve guinada de direção e poremos fim a tudo. A todo o sofrimento. O choque será frontal. À velocidade em que estamos, não sobrará quase nada. Será rápida e indolor. Não nos acovardamos! É agora! Uma leve virada e pronto. Vamos! Lá vem o caminhão...acelere...isso! Mais...

Não tivestes coragem. O caminhão passou. Quase na curva diminuiu a velocidade e parou no acostamento. Pois um suor frio tomou-lhe o corpo. As mãos trêmulas. Enjoo. Pânico. Horror!! Desligou o carro. Abriu a porta e apoiou as duas mãos espalmadas sobre os joelhos e, levemente inclinado para a frente, vomitou. Apenas uma gosma esverdeada. Melhorou um pouco. Embora ainda se sentisse tonto. Olhou para cima. O céu negro. Começou a chover de leve. Uma chuvinha fria e doce. Olhou a paisagem ao redor. Voltou para o carro, abriu a porta do motorista e por cima do ombro a enxergou. Inês de Sollero. Seu corpo se arrepiou. Eletrificou-se .

Um pouco abaixo do ponto onde estava a cidadezinha ria para ele. Localizada às margens da estrada, via casas e pequenos edifícios. Atrás dele uma verde e floresta lhe emoldurava. Isso. Parecia um quadro. Lindo. Aconteceu-lhe algo estranho: ao ver a cidade a apenas alguns quilômetros a sua frente, não teve reação alguma. Nem motora, nem psicológica. Antes de qualquer pensamento lhe vir a cabeça. Antes de qualquer movimento, antes de tudo existir, ele simplesmente se alegrou. Um sorriso lhe veio aos lábios. Vindo do fundo de seu ser. Alegria. Em estado bruto.

II

Mais dez minutos, sem prestar muita atenção à estrada e sim a cidade, que não saia, de sua visão, chegou. Passou por uma placa que dizia bem-vindos à Inês de Sollero. Dirigia bem devagar, vidros

abertos. Rodeou uma praça