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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA NA FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA E COORDENAÇÃO MOTORA GLOBAL EM INDIVÍDUOS COM SÍNDROME DE DOWN NO DISTRITO FEDERAL Valéria Sovat de Freitas Costa BRASÍLIA 2012

INFLUÊNCIA DA EQUOTERAPIA NA FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA E ...repositorio.unb.br/bitstream/10482/11968/1/2012_ValeriaSovatdeFrei... · ajudar, Hugo meu ex-aluno e hoje um grande

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  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    FACULDADE DE EDUCAO FSICA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO-SENSU EM

    EDUCAO FSICA

    INFLUNCIA DA EQUOTERAPIA NA FORA MUSCULAR

    RESPIRATRIA E COORDENAO MOTORA GLOBAL EM INDIVDUOS

    COM SNDROME DE DOWN NO DISTRITO FEDERAL

    Valria Sovat de Freitas Costa

    BRASLIA

    2012

  • ii

    INFLUNCIA DA EQUOTERAPIA NA FORA MUSCULAR

    RESPIRATRIA E COORDENAO MOTORA GLOBAL EM INDIVDUOS

    COM SNDROME DE DOWN NO DISTRITO FEDERAL

    VALRIA SOVAT DE FREITAS COSTA

    Dissertao apresentada Faculdade de

    Educao Fsica da Universidade de Braslia

    como requisito parcial para a obteno do grau

    de Mestre em Educao Fsica.

    ORIENTADOR: PROF. DR. JNATAS DE FRANA BARROS

  • iii

  • iv

    VALRIA SOVAT DE FREITAS COSTA

    INFLUNCIA DA EQUOTERAPIA NA FORA MUSCULAR RESPIRATRIA

    E COORDENAO MOTORA GLOBAL EM INDIVDUOS COM

    SNDROME DE DOWN NO DISTRITO FEDERAL

    Dissertao aprovada como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em

    Educao Fsica pelo programa de Ps Graduao da Faculdade de Educao Fsica da

    Universidade de Braslia.

    Banca examinadora:

    ______________________________________

    Prof. Dr. Jnatas de Frana Barros

    (Orientador FEF/UnB)

    ______________________________________

    Prof. Dr. Paulo Henrique de Azevedo

    (Examinador Interno FEF/UnB)

    ______________________________________

    Prof. Dr. Jos Roberto Pimenta de Godoy

    (Examinador Externo FM/UnB)

    ______________________________________

    Prof. Dr. Claudio Olavo de Almeida Crdova

    (Examinador Suplente UCB)

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Seria injusta se dissesse que esse o momento mais difcil. Afinal agradecer

    algo to especial, significa que existem pessoas que realmente so importantes

    para mim. Mas posso dizer que trs um sentimento de responsabilidade. Afinal,

    foram tantos que fizeram parte dessa histria.

    Durante essa jornada acumulei uma quantidade de experincias e vivncias

    incomparveis a qualquer situao. Conheci pessoas to especiais, que me senti

    pequena com tamanha importncia. Cresci muito e me tornei grande com elas.

    Deus, tu estivestes a minha frente, e me guiou, ao meu lado, e me guardou,

    nas minhas costas, e me protegeu. Tu s a minha luz e confio a ti a minha vida.

    Obrigada meu Deus, por ter chegado at aqui.

    M, meu maior amigo, meu grande parceiro, minha fortaleza. Obrigada por

    existir na minha vida, me acompanhar, me fazer crescer, me tornar forte quando

    muitas vezes minha fora parecia ter terminado. Olhar para o lado o meu recurso,

    voc est SEMPRE l. Estamos juntos h quase 21 anos e no saberia viver sem

    voc. Eu te amo marido!

    Bibi, minha amiga mais verdadeira, minha companheirinha. Agradeo

    diariamente por Deus ter me dado voc. Obrigada por todo apoio e todo carinho em

    qualquer momento, mesmo quando te chamava nas horas que estava estudando

    para o vestibular. S voc para largar tudo e me ajudar nas tabelas. A me te ama

    muito minha filha.

    Pepe! Acho at que no sabemos mais seu nome verdadeiro, voc Pepe

    desde que nasceu. O meu menino, orgulho da mezinha. Seu abrao e um colinho

    vieram nas melhores horas. Parece que depois disso tudo passava a dar certo, a

    ficar mais fcil. Voc a minha beno. Te amo muito filho querido.

    Ao meu mentor! O professor doutor Jonatas de Frana Barros, que acreditou

    em mim, mesmo nas minhas horas de angstia e desespero. Humano e fiel aos

    seus princpios, virtudes que o fazem uma pessoa nica e admirvel. Obrigada

    professor pelos seus ensinamentos. Sempre esteve presente nas minhas

    orientaes, mesmo o destino nos afastando um pouco. Que Deus ilumine seu

    caminho, sempre!

  • vi

    A minha irm que eu amo tanto, Flavia Ladeira. Que muito me viu chorar e

    nunca me deixou cair, mas secou minhas lgrimas e me colocou de p, para

    continuar. O destino nos uniu e nos tornou amigas...amigas para sempre! Obrigada

    querida!

    A uma pessoa especial por suas qualidades e mritos, Vanessa

    Campanella, a pessoa mais prestativa e admirvel que j conheci. Seus olhos de

    guia evitaram muitos problemas. Obrigada Van!

    Aos amigos, Albinha, quantas vezes me salvou na secretaria da FEF,

    Martinha, minha amiga de tantos anos, Marcio Oliveira, no mede esforos para

    ajudar, Hugo meu ex-aluno e hoje um grande amigo, Caline e Mariane, s elas

    sabem o que foi fazer todos os plantes para mim.

    E por fim, e no menos importante aqueles que fizeram tudo isso acontecer,

    tornaram esse sonho possvel, os indivduos desse estudo. Obrigada pela

    disponibilidade de vocs e de seus pais. Vocs moram no meu corao!

    A todos aqueles que de uma forma ou de outra fazem parte do meu sonho!

    MUITO OBRIGADA!

  • vii

    SUMRIO

    LISTA DE TABELAS ................................................................................................ xi

    LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ xii

    LISTA DE QUADROS ............................................................................................. xiii

    LISTA DE GRFICOS ............................................................................................. xiv

    RESUMO ................................................................................................................. xv

    ABSTRACT ............................................................................................................. xvi

    1. INTRODUO .................................................................................................... 1

    1.1 Fundamentao do Problema........................................................................... 1

    1.2 Problema de Estudo ......................................................................................... 5

    1.3 Objetivos........................................................................................................... 5

    1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................ 5

    1.3.2 Objetivos Especficos ................................................................................. 6

    1.4 Relevncia do Estudo ....................................................................................... 6

    1.5 Hipteses do Estudo ......................................................................................... 9

    1.6 Delimitao do Estudo ...................................................................................... 9

    2. REVISO DE LITERATURA ............................................................................. 10

    2.1 Histrico da Sndrome de Down ..................................................................... 10

    2.2 Etiologia e Incidncia da Sndrome de Down .................................................. 11

    2.3 Classificao e Caractersticas (fentipo) da Sndrome de Down .................. 13

    2.4 Tonicidade Muscular ....................................................................................... 17

    2.5 Desenvolvimento Motor .................................................................................. 18

    2.5.1 Componentes Bsicos do Desenvolvimento Motor ................................... 19

    2.5.1.1 Motricidade Fina ................................................................................. 19

    2.5.1.2 Motricidade Global ............................................................................. 19

    2.5.1.3 Equilbrio ............................................................................................ 20

  • viii

    2.5.1.4 Esquema Corporal ............................................................................. 21

    2.5.1.5 Organizao Espacial......................................................................... 21

    2.5.1.6 Organizao Temporal ....................................................................... 22

    2.5.1.7 Lateralidade ....................................................................................... 23

    2.5.1.8 Linguagem ......................................................................................... 24

    2.6 Capacidades Motoras ..................................................................................... 24

    2.6.1 Coordenao Motora e Capacidades Coordenativas ................................ 25

    2.6.1.1 Teste de Coordenao Corporal para Crianas (Krperkoordination

    test fr Kinder - KTK)...................................................................................... 28

    2.6.2 Desenvolvimento e Coordenao Motora em Sndrome de Down ............ 29

    2.7 Avaliao Pulmonar ........................................................................................ 31

    2.7.1 Alteraes Respiratrias na Sndrome de Down ...................................... 31

    2.7.2 Fora Muscular Respiratria ..................................................................... 31

    2.8 Equoterapia .................................................................................................... 32

    2.8.1 Definio .................................................................................................. 33

    2.8.2 Histrico da Equoterapia .......................................................................... 34

    2.8.3 Princpios e Fundamentos ........................................................................ 35

    2.8.4 Benefcios e Efeitos Teraputicos da Equoterapia.................................... 42

    2.8.5 Valncias ................................................................................................. 42

    2.8.5.1 Equitao Desportiva/ Recreativa Adaptada ...................................... 43

    2.8.5.2 Equitao Psico-Educacional (EPE) ................................................... 43

    2.8.5.3 Hipoterapia ......................................................................................... 43

    2.8.6 Equoterapia na Sndrome de Down .......................................................... 44

    3. MATERIAL E MTODO .................................................................................... 46

    3.1 Delineamento do Estudo ................................................................................. 46

    3.2 Seleo da Amostra ....................................................................................... 46

    3.3 Protocolo de Tratamento da Equoterapia ....................................................... 48

  • ix

    3.4 Critrios de Incluso ...................................................................................... 48

    3.5 Critrios de Excluso ...................................................................................... 49

    3.6 Apreciao do Comit de tica em Pesquisa ................................................. 49

    3.7 Coleta de Dados Propriamente Dita ............................................................... 49

    3.8 Instrumentos de Coleta de Dados .................................................................. 50

    3.8.1 Fora Muscular Respiratria ..................................................................... 50

    3.8.2 Coordenao Motora Global ..................................................................... 52

    3.8.2.1 Procedimentos do Teste K.T.K. .......................................................... 53

    3.8.2.2 Anlise e Classificao da Coordenao Motora................................ 64

    3.8.2.3 Validao do Teste KTK ..................................................................... 65

    3.9 Tratamento Estatstico .................................................................................... 66

    4. ANLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSO ............................................... 70

    4.1 Caracterizao da Amostra ............................................................................ 70

    4.2 Comparao entre os Grupos pelas Variveis Independentes ....................... 74

    4.3 Apresentao dos Resultados ........................................................................ 76

    4.4 Correlaes das Variveis Quantitativas ........................................................ 82

    4.5 Comparao entre os Gneros do Grupo Experimental.................................. 87

    4.6 Comparao entre os Gneros entre os Grupos............................................. 91

    4.7 Correlao entre as Variveis da Coordenao Motora Global e Fora

    Muscular Respiratria ........................................................................................... 95

    4.8 Classificao do Teste KTK para os Grupos ................................................... 96

    4.9 Resultado do Teste KTK pela Idade, Gnero e Grupo .................................... 99

    5. CONCLUSO ................................................................................................. 102

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................. 104

    7. SUGESTES E LIMITAES .........................................................................104

    LISTA DE ANEXOS .............................................................................................. 119

  • x

    ANEXO I Aprovao do Comit de tica e Pesquisa da Faculdade de Sade da

    Universidade de Braslia ..................................................................................... 120

    ANEXO II - Tabelas de referncia do Teste Original KTK ................................ 121

    LISTA DE APNDICES

  • xi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Valores do Teste de Kolmogorov Smirnov para Avaliao de Normalidade

    entre os grupos: Experimental (GE) e Controle (GC) de ambos os gneros ............75

    Tabela 2 - Teste de Levene para as varincias entre os Grupos: Experimental (GE)

    e Controle (GC) de ambos os gneros ......................................................................76

    Tabela 3 - Mdia, Desvio Padro e P-Valor das variveis QM Total, PiMx e PeMx

    entre Grupo Experimental (GE) e Grupo Controle (GC) de ambos os gneros ........77

    Tabela 4 - Teste T-Student, com medidas descritivas de tendncia central e

    disperso ...................................................................................................................78

    Tabela 5 - Variveis de Fora Muscular com Teste de Mann Whitney de ambos os

    gneros ......................................................................................................................80

    Tabela 6: Correlao de Pearson entre as variveis estudadas e o tempo que

    realiza Equoterapia ....................................................................................................83

    Tabela 7 - Correlao de Pearson entre as variveis QM1, QM2, QM3, QM4, QM

    Total, PeMx e PiMx e a idade dos praticantes de Equoterapia .................................85

    Tabela 8 - Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov do Grupo Experimental

    (GE) por gnero .........................................................................................................88

    Tabela 9 - Teste de Levene do Grupo Experimental (GE) por Gnero ....................88

    Tabela 10 - Teste T-Student para anlise de mdias entre os gneros do Grupo

    Experimental (GE) .....................................................................................................89

    Tabela 11 - Valores Mnimos, Mximos, Mdias, Desvio Padro e Desvio Padro da

    Mdia dos gneros entre o Grupo Experimental (GE) e o Grupo Controle (GC) ......91

    Tabela 12 - Valores das Mdias e Desvio Padro por gnero entre os grupos Grupo

    Experimental (GE) e o Grupo Controle (GC) .............................................................93

    Tabela 13 - Correlao de Pearson (Coordenao Motora x Fora Muscular) ........95

    Tabela 14 - Nmero de indivduos no Grupo Experimental (GE) e Grupo Controle

    (GC) em cada classificao do teste KTK .................................................................96

    Tabela 15 - Porcentagem da Classificao da Coordenao Motora do KTK pela

    idade, grupos e gnero .............................................................................................99

  • xii

    Tabela 16 - Mdias das variveis QM1, QM2, QM3, QM4, QMTotal, PiMx e PeMx,

    por idade e por grupo ..............................................................................................100

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Olhos com fissuras palpebrais oblquas ...................................................14

    Figura 2 - Face achatada ..........................................................................................14

    Figura 3 - Lngua protrusa e fissurada ......................................................................14

    Figura 4 - Pele frouxa na regio dorsal do pescoo e anomalias auriculares ..........15

    Figura 5 - Mos curtas e largas ................................................................................15

    Figura 6 - Prega palmar nica ..................................................................................15

    Figura 7 - Encurvamento dos quintos dgitos ...........................................................16

    Figura 8 - Distncia aumentada do primeiro e segundo artelho ...............................16

    Figura 9 - Diviso das capacidades motoras ............................................................25

    Figura 10 - Bscula anterior .....................................................................................36

    Figura 11 - Bscula posterior ....................................................................................36

    Figura 12 - Transferncia peso lado esquerdo .........................................................36

    Figura 13 - Flexo tronco ..........................................................................................36

    Figura 14 - Extenso tronco .....................................................................................37

    Figura 15 - Sequncia de movimentos do cavalo ....................................................37

    Figura 16 - Demonstrao do paralelismo entre passo do homem e do cavalo ......38

    Figura 17 - Comparao entre o esqueleto humano e do cavalo ............................40

    Figura 18 - Manovacumetro ....................................................................................50

    Figura 19 - Realizao do teste de manovacuometria para PeMx ...........................51

    Figura 20 - Realizao do teste de manovacuometria para PiMx ............................52

    Figura 21 - Materiais necessrios para avaliao do teste motor de KTK ...............53

    Figura 22 - Materiais necessrios para avaliao do teste motor de KTK ...............54

    Figura 23 - Teste KTK na Trave de Equilbrio (EQ) ..................................................55

    Figura 24 - Trave de Equilbrio KTK .........................................................................55

    Figura 25 - Teste KTK Salto Monopedal (SM) ..........................................................57

    Figura 26 - Dimenses do bloco de espuma ............................................................57

    Figura 27 - Teste KTK Salto Lateral (SL) .................................................................60

    Figura 28 - Dimenses da plataforma de madeira para os saltos laterais ...............61

  • xiii

    Figura 29 Teste KTK Transferncia sobre Plataforma (TP) ..................................62

    Figura 30 - Dimenses da plataforma de madeira para transferncias sobre

    plataformas ................................................................................................................63

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Qualidades bsicas da coordenao motora .........................................27

    Quadro 2 - Capacidades fundamentais de coordenao motora .............................28

    Quadro 3 - Valores previstos para PiMx e PeMx em indivduos saudveis pra todas

    as idades ...................................................................................................................32

    Quadro 4 - Comparao entre estruturas anatmicas do cavalo e do homem ........39

    Quadro 5 - Valores previstos para PiMx e PeMx em indivduos saudveis para todas

    as idades ...................................................................................................................51

    Quadro 6 - Planilha da Tarefa Trave de Equilbrio ...................................................56

    Quadro 7 - Altura recomendada para o incio do teste de acordo com a idade da

    criana .......................................................................................................................58

    Quadro 8 - Planilha da Tarefa Saltos Monopedais ...................................................59

    Quadro 9 - Planilha da Tarefa Saltos Laterais ..........................................................62

    Quadro 10 - Planilha da Tarefa Transferncias sobre Plataformas .........................64

    Quadro 11 - Classificao do Teste de Coordenao Motora Corporal KTK ........65

  • xiv

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Porcentagem do nmero de indivduos dos grupos: experimental (GE) e

    controle (GC), por gnero ..........................................................................................70

    Grfico 2 - Porcentagem do nmero de indivduos dos grupos: experimental (GE) e

    controle (GC), por idade ............................................................................................71

    Grfico 3 - Boxplot das variveis Trave de Equilbrio (QM1) e Salto Monopedal

    (QM2) ........................................................................................................................71

    Grfico 4 - Boxplot das variveis Salto Lateral (QM3) e Transferncia sobre

    Plataformas (QM4) ....................................................................................................72

    Grfico 5 - Boxplot da varivel Somatria QM1-QM4 (QM Total) ............................73

    Grfico 6 - Boxplot das variveis Presso Expiratria Mxima (PeMx em cm H2O) e

    Presso Inspiratria Mxima (PiMx em cm H2O) ......................................................74

    Grfico 7 - Tempo (em meses) de Equoterapia x QM1(Quociente Motor da Tarefa

    Trave de Equilbrio) e QM2 (Quociente Motor da Tarefa Salto Monopedal)

    ...................................................................................................................... ..............85

    Grfico 8 - Tempo (em meses) de Equoterapia x QM3 (Quociente Motor da Tarefa

    Salto Lateral) e QM Total (Coeficiente Motor da soma dos quocientes motores das

    tarefas do KTK) .........................................................................................................85

    Grfico 9 - Idade (em anos) do Grupo Experimental (GE) x QM2 (Quociente Motor

    da Tarefa Salto Monopedal) e QM3 (Quociente Motor da Tarefa Salto Lateral) ......87

    Grfico 10 - Idade (em anos) do Grupo Experimental (GE) x QM Total (Coeficiente

    Motor da soma dos quocientes motores das tarefas do KTK) e PiMx (Presso

    Inspiratria Mxima) ..................................................................................................87

    Grfico 11 - Percentuais da Classificao do Teste KTK para Grupo Experimental

    (GE) ...........................................................................................................................97

    Grfico 12 - Percentuais da Classificao do Teste KTK para Grupo Controle (GC)

    ....................................................................................................................................97

  • xv

    RESUMO

    Introduo: A Sndrome de Down (SD), de todas as sndromes genticas a mais

    comum. Os indivduos portadores podem apresentar um atraso no desenvolvimento

    motor e uma reduo da fora muscular respiratria principalmente devido a

    hipotonia, caracterstica comum nessa populao. Objetivo: Analisar os efeitos de

    um programa de Equoterapia sobre as variveis de coordenao motora global e

    fora muscular respiratria em indivduos com SD de ambos os gneros e comparar

    indivduos com a mesma sndrome que no praticam Equoterapia. Material e

    Mtodos: participaram do estudo 41 indivduos sendo 20 que praticavam

    Equoterapia (GE) e 21 que no praticavam Equoterapia (GC). Utilizou-se o teste

    KTK (Krperkoordinations test fr Kinder) composto por quatro tarefas: Equilbrio

    sobre traves, Salto monopedal, Salto lateral e Transferncia sobre plataforma para

    anlise de coordenao motora para indivduos e a manovacuometria para aferio

    da fora muscular respiratria. Resultados: Os indivduos que praticam Equoterapia

    apresentaram melhores resultados na coordenao motora global, com diferena

    significativa, assim como na fora muscular respiratria tanto inspiratria (PiMx)

    como expiratria (PeMx), embora para essas variveis no tenha havido diferena

    significativa. No GE, 5% apresentaram coordenao motora alta, 40% coordenao

    motora boa e 55% coordenao motora normal, j no GC, apenas 10%

    apresentaram coordenao motora boa e 90% coordenao motora normal.

    Concluso: Como resultado nessa amostra observa-se que a equoterapia

    apresenta benefcios de melhora na coordenao motora global (significativa) e na

    fora muscular respiratria de indivduos com SD e as mais novas tiveram os

    melhores resultados. Especificamente nas tarefas como a trave de equilbrio, salto

    monopedal e salto lateral, alm da coordenao motora global, houve forte relao

    com o tempo de execuo de equoterapia, quanto maior o tempo de prtica melhor

    os resultados. Nenhum indivduo do estudo apresentou perturbao ou insuficincia

    na coordenao motora global.

  • xvi

    Palavras-chaves: Sndrome de Down; Coordenao Motora; Fora Muscular

    Respiratria; Equoterapia, Atividade Fsica.

    ABSTRACT

    Introduction: Down syndrome (DS) of all genetic syndromes is the most common.

    Individuals may present patients with a delay in motor development and a reduction

    in respiratory muscle strength mainly due to hypotonia, a common characteristic in

    this population. Objective: To analyze the effects of riding therapy program on motor

    coordination of global variables and respiratory muscle strength in individuals with

    DS of both genders and to compare individuals with the same syndrome who do not

    Hippotherapy. Material and Methods: 41 subjects participated in the study with 20

    practicing Hippotherapy (GE) and 21 who did not practice Hippotherapy (GC). We

    used the test KTK (Krperkoordinations test fr Kinder) consists of four tasks:

    walking backwards, moving sideways, hopping for height and jumping sideways for

    analysis of motor coordination for individuals and manometer for measurement of

    respiratory muscle strength. Results: Individuals who practice riding therapy showed

    better results in the overall coordination, with a significant difference, as well as

    respiratory muscle strength in both inspiratory (MIP) and expiratory (MEP), although

    for these variables there was no significant difference. At GE, 5% had high motor

    coordination, motor coordination, 40% good and 55% normal motor coordination, as

    in the GC, only 10% had good motor coordination and motor skills 90% normal.

    Conclusion: As a result this sample shows that the benefits of equine therapy has

    improved overall coordination (significant) and respiratory muscle strength in

    individuals with DS and the youngest had the best results. Specifically on tasks such

    as balance beam, jump and jump monopedal side, besides the overall coordination,

    there was a strong relationship with the runtime of hippotherapy, the longer the better

    practical results. No individual study showed disruption or failure in global

    coordination.

    Keywords: Down syndrome, Motor Coordination, Respiratory Muscle Strength,

    Riding Therapy, Physical Activity.

  • 1

    1. INTRODUO

    1.1 Fundamentao do Problema

    O ltimo Censo Demogrfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatstica IBGE (2010) incluiu pesquisa sobre a existncia de deficincias

    permanentes: visual, auditiva, motora, mental/intelectual. Demonstrou um expressivo

    crescimento no nmero de pessoas que declararam algum tipo de deficincia.

    Naquela ocasio 45.623.910 pessoas, ou 23,9% assinalaram algum tipo de

    deficincia ou incapacidade e 2.617.025, ou 1,4% da populao total, assinalaram

    deficincia mental/intelectual.

    A deficincia visual severa foi a que mais incidiu sobre a populao em 2010,

    e 18,8% das pessoas declararam possuir grande dificuldade ou nenhuma

    capacidade de enxergar. Em seguida, apareceu a deficincia motora severa,

    atingindo, em 2010, 7% das pessoas. O percentual de pessoas que declararam

    possuir deficincia auditiva severa foi de 5,1% e o das que declararam ter deficincia

    mental foi de 1,4% (IBGE, 2010).

    A pesquisa no Censo 2010 foi definida pelo conceito de deficincia mental -

    dficit no desenvolvimento intelectual, e caracterizada pela dificuldade que a

    pessoa tem em se comunicar com outros, de cuidar de si mesma, de fazer

    atividades domsticas, de aprender, trabalhar, brincar dentre outros. Em geral, a

    deficincia mental ocorre na infncia ou at os 18 anos. No se considerou como

    deficincia mental para essa pesquisa as perturbaes ou doenas mentais como

    autismo, neurose e esquizofrenia (IBGE, 2010).

    No Brasil, as estatsticas sobre a frequncia das deficincias, temporrias ou

    definitivas so muito escassas. A Organizao das Naes Unidas (2000) estima

    que em pases em desenvolvimento, a incidncia seja em 15% da populao e a

    deficincia mental responsvel por maior parte desse percentual (FONSECA, 2001).

    Hoje, no mundo, a cada minuto, nasce 18 bebs com alguma deficincia, o

    que significa 9,8 milhes de bebs com deficincia por ano. A Sndrome de Down

    (SD), na rea das sndromes genticas, a de maior incidncia com 91% (BRASIL,

    2012).

    Contando ainda, com os dados analisados, no Censo de 2000, o IBGE

    constatou que cerca de 24.600.256 pessoas (14,5%) tinham algum tipo de

  • 2

    deficincia, sendo aproximadamente 300 mil delas com SD. A maioria carente,

    pobre, sem orientao, sem informao, sem condies de frequentar clnicas de

    estimulao precoce (CENTRO DE INFORMAO E PESQUISA DA SNDROME

    DE DOWN, 2012).

    A evoluo do tratamento da SD vem experimentando sensvel avano.

    Comparando-se os dados disponveis de meados do sculo passado, possvel

    perceber o aumento da expectativa de vida dessa populao (BERG et al., 2012).

    Baseado nos estudos de Moreira e Gusmo (2002) a SD caracterizada por

    um grau varivel de atraso no desenvolvimento mental e motor.

    Tratando-se de desenvolvimento infantil, observa-se que crianas com SD

    exibem atraso no desenvolvimento de habilidades motoras, indicando que esse

    marco surge em tempo diferenciado quando comparado s crianas com

    desenvolvimento considerado normal (POLASTRI; BARELA, 2005; WANG; JU,

    2002).

    Ainda, disfunes no controle postural so frequentemente descritas em

    crianas com SD e relacionadas s dificuldades como coordenao motora,

    problemas com integrao sensrio-motora ou simplesmente como movimentos

    desajeitados, que so assim considerados por Polastri e Barela (2005) e Webber,

    Virji-Babul e Lesperance (2004) quando os indivduos so lentos em se adaptar

    tarefa e s condies mutveis do ambiente ou so menos capazes de fazer ajustes

    posturais antecipatrios.

    de se destacar o estudo de Coutinho (1999) e Escrib (2002), que

    comprova que a populao com SD susceptvel a ter diversos problemas

    musculoesquelticos, incluindo grandes sequelas neurolgicas, fato que leva a uma

    considervel reduo das tarefas que impliquem deslizamentos, saltos,

    coordenaes e controle postural.

    Para Gorla, Arajo e Rodrigues (2009), a coordenao motora global um

    componente fundamental para o desenvolvimento das crianas, observa-se

    ultimamente um crescente interesse pelo seu papel no controle motor durante o

    desenvolvimento humano, principalmente nos perodos de crescimento e define a

    coordenao motora global a condutas motoras bsicas, importante na aquisio de

    inmeras habilidades no desenvolvimento dos portadores de necessidades

    especiais, destacando: minimizao das dificuldades na realizao das atividades de

  • 3

    vida diria e aquisio de habilidades motoras, possibilitando o indivduo com

    deficincia a inserir-se na sociedade, sendo reconhecido mediante suas

    capacidades.

    Outro fator importante considerado a dificuldade respiratria originada pela

    hipotonia generalizada, caracterizada por flacidez muscular e ligamentar, um dos

    problemas congnitos que mais prejudica o desenvolvimento psicomotor da criana

    com SD. Alm de afetar diretamente a musculatura lisa de modo a diminuir o

    potencial broncoespstico, causa alteraes na fora muscular respiratria. A

    alterao no tnus dessa musculatura favorece o acmulo de secrees e a possvel

    proliferao de bactrias (SOARES et al., 2004).

    Consequentemente, muitas crianas com SD apresentam anormalidades que

    afetam a funo pulmonar, como: obstruo das vias areas superiores, doena das

    vias respiratrias inferiores, hipertenso pulmonar, hipoplasia pulmonar, apneia

    obstrutiva do sono, imunodeficincia, obesidade relativa, hipotonia. As infeces

    respiratrias so manifestaes clnicas frequentes em pacientes com SD

    (KLEINHANS, 2006; RIBEIRO et al., 2003; SHIELDS et al., 2008).

    A funo dos msculos respiratrios pode estar afetada na presena de

    doenas em que os pacientes possam apresentar fraqueza da musculatura

    respiratria (JUNIOR et al., 2007). A perda de fora dos msculos respiratrios

    uma alterao que pode afetar a performance ventilatria (CADER et al., 2006), pois

    eles so os responsveis diretos pelo adequado funcionamento do sistema

    respiratrio (MACHADO, 2008), sendo as infeces respiratrias a principal causa

    de admisso hospitalar dos portadores de SD (SALVIO et al., 2007; SOARES et al.,

    2004).

    A partir da avaliao da fora muscular respiratria, podemos identificar

    precocemente, doenas respiratrias, classificar sua gravidade e avaliar respostas

    teraputicas (VENKATESHIAH; IOCHIMESCU, 2007).

    A avaliao da fora muscular , absolutamente, importante para termos a

    ideia da efetiva contrao muscular e, consequentemente, da fora desenvolvida

    pelos msculos (SOUZA, 2007). Esta fora avaliada atravs das presses

    respiratrias mximas, a saber, presso inspiratria mxima (PiMx) e presso

    expiratria mxima (PeMx) (COSTA et al., 2003). Em pacientes com doenas

    neuromusculares a medida sequencial das presses respiratrias mximas permite

  • 4

    quantificar a progresso da fraqueza dos msculos respiratrios (POLICARPO;

    SANTOS, 2010).

    Portanto, a soluo pode estar no preconizado por Santos (2005) que afirma

    que o cavalo utilizado como instrumento cinesioteraputico no atendimento de

    pessoas portadoras de deficincias fsicas, oferece uma melhoria motora do

    alinhamento corporal, para o controle das sinergias globais alm de proporcionar um

    aumento do equilbrio esttico e dinmico. Lermontov (2004) cita que o praticante da

    Equoterapia levado a acompanhar os movimentos do cavalo, tendo de manter o

    equilbrio e a coordenao para movimentar simultaneamente tronco, braos,

    ombros, cabea e o restante do corpo, dentro de seus limites.

    Os benefcios das atividades com o cavalo so atribudos a uma combinao

    de estmulos sensoriais gerados pelo movimento produzido pelo passo do animal

    sob os sistemas bsicos humanos que, em conjunto, resultam em uma integrao

    motora e sensorial ampliada (CHERNG et al., 2004; MARCELINO; MELO, 2006;

    MEDEIROS; DIAS, 2002).

    Sterba et al. (2002) comprovam melhorias aps intervenes com a

    Equoterapia nas funes motoras grossas, especialmente no caminhar, correr e

    saltar de pessoas com deficincia mental. Cherng et al., 2004, tambm demonstram

    melhora na simetria da atividade muscular de tronco, assim como Benda, Mcgibbon

    e Grant (2003) com resultados no equilbrio em p e Blery e Kauffman (1989), em

    quatro apoios, alm de benefcios nos campos psicolgico e social.

    Policarpo e Santos (2010) afirmam que os indivduos portadores de SD

    apresentam dficit de fora muscular respiratria e acreditam que estes indivduos

    se beneficiariam de um programa de treinamento muscular, minimizando assim,

    futuras complicaes respiratrias.

    Ainda de acordo com o estudo de Herrero et al. (2010), os objetivos da

    Equoterapia so, dentre outros, melhorar o equilbrio, estimular a fora muscular e

    desenvolver a coordenao motora fina. A incapacidade para manter a qualidade da

    postura e dos movimentos, presentes nas pessoas com SD, reflete-se sobre o

    tronco, alterando a harmonia da mecnica da respirao, modificando as presses

    torcicas e abdominais. A evoluo motora assistida equilibra trax e abdmen,

    mantendo um ponto de equilbrio entre estas duas cavidades e assim ajustando a

    capacidade e volumes pulmonares.

  • 5

    consenso que a Equoterapia atravs do deslocamento tridimensional do

    centro gravitrio do cavalo, ajustado ao do cavaleiro, propicia a este a estimulao

    de seus sistemas neuromotor, musculoesqueltico, sensorial, cardiorrespiratrio,

    digestivo e paralelamente psicoemocional. Os msculos respiratrios, como os

    outros msculos estriados esquelticos, tem participao direta na atividade

    voluntria e em reaes automticas de alto grau de integrao neurolgica. So

    mantenedores da postura, equilibrando, constantemente, o tronco que o centro do

    controle dos membros, atuando diretamente no tnus e fora muscular, nas reaes

    de endireitamento e equilbrio, assim como presena de padres de movimentos

    anormais, que desencadeiam distores posturais contribuindo com o aparecimento

    dos distrbios ventilatrios e consequentes afeces pulmonares (COPETTI et al.,

    2007).

    Ao longo dos anos, a equitao com fins teraputicos vem recebendo

    crescente ateno por parte dos profissionais de sade e investigadores desta rea

    (STERBA, 2007), no entanto, a utilizao do cavalo para estimular terapeuticamente

    utentes com as mais variadas disfunes, desperta ainda surpresa, curiosidade leiga

    e dvida (LEITO, 2008).

    1.2 Problema de Estudo

    Quais os efeitos de um programa de Equoterapia utilizando variveis como:

    coordenao motora global e fora muscular respiratria em indivduos com

    Sndrome de Down quando comparada a indivduos com Sndrome de Down que

    no praticam Equoterapia?

    1.3 Objetivos

    1.3.1 Objetivo Geral

    Analisar os efeitos de um programa de Equoterapia nas variveis de

    coordenao motora global e fora muscular respiratria em indivduos com

    Sndrome de Down em ambos os gneros com idade compreendida entre 6 e 14

    anos quando comparada em indivduos com Sndrome de Down que no praticam

    Equoterapia.

  • 6

    1.3.2 Objetivos Especficos

    Avaliar a relao do tempo de realizao de programa de Equoterapia na

    coordenao motora global e na fora muscular respiratria nos indivduos

    com Sndrome de Down;

    Avaliar a relao da idade de indivduos que praticam Equoterapia na

    coordenao motora global e na fora muscular respiratria nos indivduos

    com Sndrome de Down;

    Avaliar a relao entre os gneros dos indivduos que praticam Equoterapia

    na coordenao motora global e na fora muscular respiratria nos

    indivduos com Sndrome de Down;

    Avaliar o desempenho no equilbrio dinmico, lateralidade, velocidade dos

    indivduos com Sndrome de Down que realizam um programa de

    Equoterapia com aqueles que no realizam um programa de Equoterapia;

    Correlacionar s variveis de fora muscular respiratria e coordenao

    motora global dos indivduos com Sndrome de Down, que praticam um

    programa de Equoterapia com aqueles que no realizam um programa de

    Equoterapia.

    1.4 Relevncia do Estudo

    A SD apresenta um atraso do desenvolvimento tanto das funes motoras

    como das funes mentais. O portador de Sndrome de Down tem como

    caractersticas a hipotonia muscular, alteraes posturais, falta de coordenao

    motora e presena de dficit de equilbrio (FRUG, 2001).

    Os indivduos com Sndrome de Down apresentam diversas alteraes, mas

    sem dvida a baixa coordenao motora se destaca refletindo em muitas

    dificuldades na vida diria (ESCRIB, 2002; KOZMA, 2007; MORATO, 1995;

    QUIROGA, 1989).

    A coordenao motora fundamental para realizao das mltiplas tarefas do

    dia-a-dia (S; PEREIRA, 2003). O indivduo com SD evidencia problemas de

    equilbrio, dificuldades de locomoo, de coordenao e de manipulao

    (QUIROGA, 1989).

  • 7

    Vinagre (2001) indica como fase sensvel das capacidades coordenativas o

    perodo de 7 a 11 anos, lembrando que esse intervalo pressupe que indivduos

    tenham um desenvolvimento motor adequado idade e varivel de acordo com

    estmulos e vivncias. Um bom desenvolvimento das capacidades coordenativas

    fundamental para a formao corporal de jovens e crianas (HIRTZ; HOLTZ, 1987).

    Alm de alteraes prprias da sndrome, o individuo com SD possui maior

    risco de sofrer complicaes, principalmente relacionadas s funes

    cardiorrespiratrias, como: doena cardaca congnita, hipertenso pulmonar,

    hipoplasia pulmonar, obstruo das vias areas superiores, imunodeficincia, entre

    outros (SCHWARTZMAN et al., 2003).

    So vrios os fatores que contribuem para as alteraes no sistema

    respiratrio, sendo os principais: a hipotonia muscular, obesidade, disfuno imune,

    doena cardaca, compresso das vias respiratrias, volume reduzido das vias

    respiratrias inferiores, traqueobroncomalcia, hipoplasia pulmonar, cistos

    subpleurais, refluxo gastroesofgico, glossoptose com aumento da secreo,

    congesto nasal, amgdalas e adenoides (SILVA; FERREIRA, 2001).

    Estudos demonstram que a hipotonia muscular nesses indivduos leva a

    maior susceptibilidade de reduo da capacidade cardiorrespiratria em decorrncia

    de inabilidade do transverso abdominal, deixando de fazer a sinergia com o

    diafragma, bem como diminui a ao dos oblquos, que estabilizam a caixa torcica

    biomecanicamente, e da musculatura intercostal, interferindo na qualidade da

    respirao profunda, ampla e adequada e reduzindo o condicionamento fsico

    desses indivduos (SANTOS, 2005; SCHWARTZMAN et al., 2003).

    Hitz (1986) afirma que o desenvolvimento das capacidades coordenativas

    depende dos processos de maturao biolgica, da quantidade e da qualidade da

    atividade motora e ainda fatores da atividade social.

    Escrib (2002) diz que dificuldades em tarefas de executar saltos,

    coordenao e controle postural na populao com SD causada por transtornos

    msculos-esquelticos.

    Fernandz-Marcote e Leandro (2001) avaliaram e compararam a

    coordenao motora geral de indivduos com SD, deficincia mental e ditos

    normais e verificaram que os com SD obtiveram uma menor pontuao do que os

    demais, fato que se acentua com o avanar da idade dessa populao.

  • 8

    Silva e Ferreira (2001) verificaram que atravs do teste KTK os nveis de

    coordenao motora de 78% das crianas entre 6 a 10 anos com SD, aps um

    programa de atividade fsica, evoluram com melhora no desenvolvimento motor.

    Em indivduos com SD, ocorre atraso no desenvolvimento motor e de

    habilidades de autoajuda, bem como um dficit de equilbrio. Essas alteraes

    podem persistir at a adolescncia (FRUG, 2001; JONES, 1998; MANCINI et al.,

    2003).

    O desenvolvimento do equilbrio tambm pode ser influenciado pela falta de

    integrao dos estmulos visuais, vestibulares e somatosensitivos e pela dificuldade

    do indivduo em se adaptar s modificaes ambientais (BEAR; CONNORS;

    PARADISO, 2002; COHEN, 2001; LUND-EKMAN, 2004).

    As privaes de novas experincias e as caractersticas apresentadas pela

    populao com SD causam atrasos para esses indivduos (MAIA, 2002).

    Como possvel soluo, a Equoterapia sendo um mtodo teraputico e

    educacional interdisciplinar, com notvel presena das esferas da sade, educao

    e equitao, que utiliza o cavalo, objetivando o desenvolvimento biopsicossocial de

    pessoas portadoras de deficincias ou de necessidades especiais (LADISLAU;

    REIS; MATOS, 2000; LIMA; MOTTI; MARCIEL, 2001).

    O fato de estar sobre o equino, o praticante recebe em torno de 1.800 a 2.250

    ajustes tnicos/30min, e cerca de 90 a 110 impulsos multidimensionais/minuto,

    estimulando o sistema proprioceptivo e os receptores do sistema vestibular,

    desenvolvendo com isso as reaes de equilbrio esttico e dinmico (PAIVA et al.,

    2005).

    Todo e qualquer movimento do cavalo, exige do praticante um ajuste de seu

    tnus muscular para o esquema corporal, que neurolgico e se estabelece pela

    simultaneidade das informaes proprioceptivas e exteroceptivas, e a Equoterapia

    oferece a multiplicao desta (SILVEIRA; WIBELINGER, 2010).

    Com a utilizao do cavalo, os portadores de deficincia tendem a adaptar-se

    ao movimento do equino, aprendendo a equilibrar e a realizar movimentos

    simultaneamente ao comando do instrutor. Com isso, os praticantes enrijecem a

    musculatura hipotnica (ANGONESE; WISNIEWSKI, 2006).

    Meneghetti, Porto e Poletti (2009) citam sobre as alteraes da coordenao

    motora em indivduos com Sndrome de Down, e afirma que ainda faltam trabalhos

  • 9

    que mostrem a influencia da Equoterapia na coordenao motora global nesta

    populao, junto a Policarpo e Santos (2010) que afirmam que em pacientes com

    doenas neuromusculares monitorar presses respiratrias mximas permite avaliar

    a progresso da fraqueza dos msculos respiratrios e evitar assim maiores

    complicaes cardiorrespiratrias nessa populao.

    1.5 Hipteses do Estudo

    H0 - No h alteraes na coordenao motora e/ou na fora muscular

    respiratria, atravs de um programa de Equoterapia, em indivduos com Sndrome

    de Down de ambos os gneros com idade entre 6 e 14 anos.

    H1 H alteraes na coordenao motora e/ou na fora muscular

    respiratria, atravs de um programa de Equoterapia, em indivduos com Sndrome

    de Down de ambos os gneros com idade entre 6 e 14 anos.

    1.6 Delimitao do Estudo

    Este estudo limita-se populao de indivduos portadores de Sndrome de

    Down no Distrito Federal (DF), na faixa etria compreendida entre 06 e 14 anos de

    ambos os gneros, que pratiquem ou no Equoterapia e frequentem as seguintes

    instituies: Associao Nacional de Equoterapia Braslia no Distrito Federal

    (ANDE-BRASIL), Instituto Cavalo Solidrio e as Filantrpicas: Associao de Mes,

    Pais, Amigos e Reabilitadores de Excepcionais - AMPARE-DF e Instituto pice

    Down Braslia.

  • 10

    2. REVISO DE LITERATURA

    A Sndrome de Down, causada pela trissomia do cromossomo 21, a mais

    frequente desordem cromossmica humana, que ocorre em 700-800 recm-

    nascidos. Devido sua base polignica, os fentipos desta desordem genmico

    esto envolvidos com principais sistemas. Entre eles, anormalidades do sistema

    nervoso so um dos fardos mais importantes para os pacientes. SD a causa

    gentica mais comum de retardo mental (PENNINGTON et al., 2003)

    Os problemas de sade mais comuns so: cardiopatias congnitas,

    problemas respiratrios, visuais, auditivos, hipotireoidismo e distrbios emocionais e

    de crescimento (NUNES; DUPAS, 2011).

    Deficincias fsicas comumente associadas com a SD incluem uma maior

    prevalncia de fraqueza muscular e hipotonia e baixo performance cardiovascular

    (ROIZEN; PATTERSON, 2003).

    2.1 Histrico da Sndrome de Down

    A primeira descrio clnica da sndrome, provavelmente foi feita por Jean

    Esquirol, em 1838. Entre 1846 e 1866, Edoug Seguin, descreveu um paciente que

    mostrava feies da sndrome. Especificamente, em 1866, o mdico ingls JOHN

    LANGDON DOWN com a publicao do trabalho que descreveu as caractersticas

    da sndrome que hoje leva seu nome, considerou como sua hiptese bsica, que as

    crianas seriam resultado de uma possvel degenerao da raa superior

    caucasiana a uma raa inferior monglica. Da o nome mongolismo (CHEN; FANG,

    2007; MORATO, 1995).

    Por uma dcada (1866 a 1876) no foram feitos registros sobre Sndrome de

    Down, quando foi publicado, por J. Frase e A. Mitchell, um trabalho onde

    denominaram o idiotia kalmuk, observando nesses pacientes pescoo mais curto e

    as mes que pariam essas crianas eram mais velhas, cabendo ento a esses

    autores o primeiro relato cientfico sobre Sndrome de Down em 1875 (PUESCHEL,

    1998).

    Em 1932, um oftalmologista holands chamado Waardenburg sugeriu que a

    ocorrncia da Sndrome de Down fosse causada por uma aberrao cromossmica.

    Dois anos mais tarde, em 1934, nos Estados Unidos, Adrian Bleyer sups que essa

  • 11

    aberrao poderia ser uma trissomia. Parecia, portanto, que a descoberta da causa

    da Sndrome de Down estava prxima. Contudo, foram necessrias mais de duas

    dcadas para que isto ocorresse (SCHWARTZMAN, 1999a).

    Foi somente em 1959 comprovado a causa gentica de mongolismo por trs

    cientistas franceses, Lejeune, Turpin e Gautir ao demonstrarem a existncia de um

    caritipo com um cromossomo a mais, identificando-se a chamada trissomia 21

    (SCHWARTZMAN, 1999a).

    O mesmo autor, afirma ainda que alguns termos apresentem um alto grau

    pejorativo, para se referir aos portadores da sndrome, incluindo o termo

    mongolismo, foi muito utilizado at 1961. Segundo o mesmo autor, esta terminologia

    foi suprimida nas publicaes da Organizao Mundial de Sade (OMS), a partir de

    1965, prevalecendo denominao de Sndrome de Down.

    Esta sndrome considerada uma das mais frequentes anomalias numricas

    dos cromossomos autossmicos e representa a mais antiga causa gentica de

    retardo mental (GARCIAS et al., 1995). Geralmente pode ser diagnosticada ao

    nascimento ou logo depois por suas caractersticas dismrficas, que variam de um

    paciente para outro, contudo, produzem um fentipo distintivo (OTTO; OTTO;

    PENO, 2004).

    2.2 Etiologia e Incidncia da Sndrome de Down

    Segundo o IBGE (2010) no Brasil existem 45,6 milhes de pessoas com

    algum tipo de deficincia ou incapacidade, o que representava 1,4% da populao

    brasileira, sendo 2,6 milhes de pessoas com deficincia mental/intelectual.

    Em 1959, a expectativa de vida da criana com SD era de apenas 15 anos.

    Aps o desenvolvimento de tratamentos adequados, atualmente, os deficientes

    intelectuais podem chegar a 70 anos (BERG et al., 2012).

    Os perodos de maior mortalidade so na infncia, quando cardiopatias

    congnitas, leucemias e doenas respiratrias so os principais fatores

    responsveis. Na vida adulta, predomina a doena de Alzheimer e a deteriorao da

    funo imunolgica. A mortalidade por cardiopatia congnita maior durante os 2

    primeiros anos de vida e somente 40-60% das crianas que tm cardiopatia

    congnita chegam aos 10 anos (FERREIRA, 2005).

  • 12

    So conhecidos alguns indicadores que tornam mais susceptvel um casal ter

    um filho com SD que so os casos da idade da me e dos fatores externos que

    englobam as radiaes, os vrus, os agentes qumicos a imunoglobulina e

    tiroglobulina e as deficincias vitamnicas (RAMOS; OLIVEIRA; CARDOSO, 2008).

    Para Schwartzman (1999b), alguns fatores endgenos e exgenos

    contribuem para a maior ou menor incidncia da desordem.

    Segundo Sampedro, Blasco e Hernandez (1993), aproximadamente 4% dos

    casos de SD so devidos a um grupo de fatores hereditrios: casos de mes

    afetadas pelo SD, famlias com vrias crianas afetadas, casos de translocao num

    dos pais e casos em que existe a possibilidade de um deles, com normal aparncia,

    possua uma estrutura cromossmica em mosaico, com maior incidncia de clulas

    normais.

    A taxa de incidncia parece estar relacionada idade da me, ocorrendo

    dramtico aumento em mes com mais de 45 anos de idade. De fato, a incidncia

    de bebs Down em mulheres na idade de 30 anos de cerca de 1 para cada 885

    nascimentos, ao passo que, em mulheres de 49 anos, a probabilidade de dar luz a

    crianas com SD de cerca de 1 para cada 17 nascimentos. No se deve concluir,

    contudo, que a me seja a nica responsvel pelo aparecimento do cromossomo

    extra; em 20% a 25% dos casos, o pai contribui para o surgimento do terceiro

    cromossomo (GALLAHUE; OZMUM, 2005).

    Segundo dados do Estudo Colaborativo Latino-Americano de Malformaes

    (ECLAMC), 40% dos nascidos com Sndrome de Down tm mes com idades entre

    40 e 44 anos. Embora, mulheres nesta faixa etria sejam responsveis por apenas

    2% do total de nascimentos (MOREIRA; EL-HANI; GUSMO, 2003). Pueschel

    (1998) afirma que em 80% dos casos de trissomia simples, o cromossomo extra,

    provm da me.

    Acrescenta-se ainda as causas por fatores externos, como processos

    infecciosos, exposies e radiaes, agentes qumicos, imunoglobilina e

    tiroglobulina, deficincia vitamnicas, ausncia de diagnstico pr-natal e o uso de

    plulas anticoncepcionais (SAMPEDRO; BLASCO; HERNANDEZ, 1993;

    SCHWARTZMAN, 1999b).

  • 13

    2.3 Classificao e Caractersticas (fentipo) da Sndrome de Down

    Esta anomalia pode ser originada por trs fatores diferentes, dando assim

    lugar aos trs tipos de SD: a trissomia simples ou trissomia do 21, o mosaicismo, e a

    translocao (ESCRIB, 2002; SAMPEDRO; BLASCO; HERNANDEZ, 1993).

    Trissomia 21 ou simples: presena de um cromossomo 21 extra, ou seja,

    possui 47 cromossomos em todas as clulas. (ocorre em 95% dos casos);

    Mosaicismo: a alterao gentica compromete apenas parte das clulas, ou

    seja, algumas clulas tm 47 e outras 46 cromossomos, as clulas

    trissomicas aparecem ao lado de clulas normais. Ocorre em menor grupo,

    aproximadamente 2% dos casos;

    Translocao: o cromossomo 21 adicional est fundido a outro autossomo; a

    mais comum aquela existente entre os cromossomos 14 e 21. A ocorrncia

    deste tipo de anomalia se d em 5% dos casos diagnosticados, embora

    Brunoni (1999) afirme que a incidncia seja de 1,5 a 3%.

    Nos casos por translocao os pais devem submeter-se a um exame

    gentico, pois nesses casos, aumentam-se consideravelmente as possibilidades de

    gerar outro filho com a mesma sndrome (SIQUEIRA; MOREIRA, 2006).

    A Sndrome de Down reporta uma alterao cromossmica no 21 par, que

    produz uma srie de transformaes orgnicas e funcionais. Em todos os indivduos

    encontra-se presente um atraso ao nvel intelectual e motor. Tambm so

    frequentes dificuldade da coordenao motora apresentando ento movimentos

    descoordenados (ALMEIDA et al., 2000; CHARLTON; IHSEN; LAVELLE, 2000;

    JOBLING; MON-WILLIWM, 2000; WEBBER; VIRJI-BABUL; LESPERANCE, 2004).

    O diagnstico ps-natal dado aps a observao de uma srie de

    caractersticas fsicas peculiares da sndrome e, como dito anteriormente,

    confirmado pelo caritipo. O National Dissemination Center for Children with

    Disabilities (2004) refere que, apesar de existir mais de 50 caractersticas

    reconhecidas da Sndrome de Down, raro encontrar uma pessoa com todas ou

    com uma grande quantidade delas.

    Das caractersticas mais comuns destaca-se:

    Sistema musculoesqueltico: hipotonia, frouxido ligamentar;

  • 14

    Cabea e face: braquicefalia, plpebras oblquas e estreitas, face achatada,

    nariz pequeno, boca pequena, orelhas pequenas e com baixa insero,

    lngua protrusa e fissurada e olhos com fissuras palpebrais oblquas;

    (Figuras 1, 2 e 3).

    Figura 1 - Olhos com fissuras palpebrais oblquas

    Fonte: (RODINI; SOUZA, 1972).

    Figura 2 - Face achatada

    Fonte: (RODINI; SOUZA, 1972).

    Figura 3 - Lngua protrusa e fissurada

    Fonte: (RODINI; SOUZA, 1972).

    Pescoo: curto, alargado com excesso de pele na parte posterior; (Figura 4)

  • 15

    Figura 4 - Pele frouxa na regio dorsal do pescoo e anomalias auriculares

    Fonte: (RODINI; SOUZA, 1972).

    Mos: largas com prega palmar nica (prega simiesca), braqdactlia,

    clinodactilia do quinto dedo (Figura 5, 6 e 7).

    Figura 5 - Mos curtas e largas

    Fonte: (RODINI; SOUZA, 1972).

    Figura 6 - Prega palmar nica

    Fonte: (RODINI; SOUZA, 1972).

  • 16

    Figura 7 Clinodactilia do quinto

    Fonte: (RODINI; SOUZA, 1972).

    Ps: aumento do espao entre o hlux e o segundo dedo com uma dobra

    entre eles na ola do p, curtos largos e grossos; (Figura 8)

    Figura 8 - Distncia aumentada do primeiro e segundo artelho

    Fonte: (RODINI; SOUZA, 1972).

    Mustacchi e Peres (2000) concordam que o comprometimento observado em

    todo o caso e o aspecto clnico mais frequente inclui: hipotonia muscular (99%)

    fissura palpebral oblqua (90%), microcefalia (85%), occipital achatado (80%),

    hiperextenso articular (80%), mos largas com dedos curtos (70%), baixa estatura

    (60%), clinodactilia do quinto dedo (50%), epicanto (40%), orelhas de implantao

    baixa (50%), prega palmar nica (40%), instabilidade atlanto-axial (15%) e

    instabilidade rtulo-femural (10%), cardiopatia congnita (40%); problemas de

    audio (50 a 70%); de viso (15 a 50%); alteraes na coluna cervical (1 a 10%);

  • 17

    distrbios da tireoide (15%); problemas neurolgicos (5 a 10%); obesidade e

    envelhecimento precoce.

    Em relao s condies sistmicas, pode-se observar a alta prevalncia de

    infeces respiratrias em pacientes com doena cardaca congnita, hipertenso

    da artria pulmonar, deficincias imunolgicas e alteraes do sistema

    estomatogntico, caracterizadas pela diminuio do tnus (VILAS BOAS;

    ALBERNAZ; COSTA, 2009).

    2.4 Tonicidade Muscular

    Crianas recm-nascidas com SD, como a maioria dos bebs severamente

    envolvidos neurologicamente, exibem um extremo grau de hipotonia muscular. Esta

    flacidez poder reduzir com a idade, se os msculos largos forem exercitados. A

    causa da hipotonia tem sido um elo para reduzir a importncia do cerebelo nos

    indivduos com SD (MELVILLE, 2005). A hipotonia apresenta-se em variados graus

    nos bebs com SD e tende a ser mais acentuada nos membros inferiores

    (COUTINHO, 1999). Segundo o mesmo autor, alguns estudos parecem evidenciar

    que o tnus observado nas crianas com SD tende a melhorar durante o primeiro

    ano de vida, medida que a habilidade motora tambm melhora. No entanto, este

    fato carece ainda de verificao objetiva, pois existem poucos estudos que

    documentem em que medida que a hipotonia afeta a prestao motora em

    crianas mais velhas.

    Fonseca (2001) apresenta que as crianas com SD acusam um volume e um

    peso do crebro menor, conexes menos ricas, circunvolues menores, reflexos

    lentos de orientao e atrofia cortical reticular, cerebelosa e frontal. Toda esta

    situao sugere vrias disfunes psicomotoras de tonicidade, de postura, de

    somatognosia e de praxias. Com tais caractersticas neurofuncionais no ser

    estranho que se identifiquem hipotonias musculares e tendinosas que afetem o

    desenvolvimento e o controle postural, assim como o tempo de reao e a referncia

    motopsquica, que surge mais lenta ou se desintegram ao nvel neurosensorial.

  • 18

    2.5 Desenvolvimento Motor

    O desenvolvimento motor poder ser definido como as trocas que se

    produzem na conduta motora como consequncia da interao do organismo

    humano com o meio (ESCRIB, 2002; LOPES et al., 2003).

    O desenvolvimento motor um processo contnuo e demorado e, pelo fato

    das mudanas mais acentuadas ocorrerem nos primeiros anos de vida, existe a

    tendncia em se considerar o estudo do desenvolvimento motor como sendo apenas

    o estudo da criana. necessrio enfocar a criana, pois, enquanto so necessrios

    cerca de vinte anos para que o organismo se torne maduro, os primeiros anos de

    vida, do nascimento aos seis anos, so anos cruciais para o indivduo. As

    experincias que a criana tem durante este perodo determinaro, por grande

    extenso, que tipo de adulto a pessoa se tornar. No esquecendo que o

    desenvolvimento um processo contnuo que ocorre ao longo de toda a vida do ser

    humano (TANI et al.,1988).

    O desenvolvimento motor pode ser visto pelo desenvolvimento progressivo

    das habilidades de movimento, ou seja, a abertura para o desenvolvimento motor

    dada atravs do comportamento de movimento observvel do sujeito. Em seu

    modelo terico, apresenta o desenvolvimento da transacionalidade, a interao

    indivduo, ambiente e tarefa. Com os domnios, cognitivo, afetivo e motor, o autor

    descreve seu modelo desde a fase dos movimentos reflexos at a fase dos

    movimentos especializados. O processo de desenvolvimento motor apresentado

    atravs das fases dos movimentos reflexos, rudimentares, fundamentais e

    especializados. Para cada fase do processo de desenvolvimento motor so

    indicados estgios com idades cronolgicas correspondentes. Os movimentos

    podem ser caracterizados atravs dos estabilizadores, locomotores ou

    manipulativos, que se combinam na execuo das habilidades motoras ao longo da

    vida (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    De acordo com Amaral, Tabaquim e Lamonica (2005) o desenvolvimento

    motor fundamental, considerando que a criana desenvolve sua linguagem no

    intercmbio com o ambiente, pela manipulao dos objetos, pela repetio das

    aes, pelo domnio do prprio corpo e pelo controle do esquema corporal.

  • 19

    2.5.1 Componentes Bsicos do Desenvolvimento Motor

    Almeida e Rosa Neto (2006) expe a motricidade humana como sendo

    composta por oito elementos bsicos: motricidade fina, motricidade global, equilbrio,

    esquema corporal, organizao temporal, organizao espacial, lateralidade e

    linguagem. Conforme Gallahue e Ozmun (2005), tais componentes, demonstram a

    especificidade do desenvolvimento motor. A habilidade superior em uma rea no

    garante habilidade similar em outra. Cada indivduo tem uma capacidade especfica

    em cada rea e a sua aquisio ocorre em uma poca peculiar.

    2.5.1.1 Motricidade Fina

    A motricidade fina compreende a coordenao visuomanual, ou seja, a

    complexa interao olho-mo-objeto para a concretizao de atividades de preciso

    (ROSA NETO, 2002).

    Filho e Schuller (2010) afirmam que a motricidade fina provm de [...]

    elevado nvel de maturao e grande aprendizagem para a aquisio plena de cada

    um de seus aspectos, visto que h diferentes nveis de dificuldade e preciso. A

    habilidade manual depende: do eixo corporal, da cintura escapular e dos membros

    superiores, apoios necessrios preciso e fora de sua ao; e dos msculos

    oculomotores, que regulam a fixao do olhar (ROSA NETO, 2003).

    Para a coordenao desses atos, necessria a participao de diferentes centros nervosos motores e sensoriais que se traduzem pela organizao de programas motores e pela interveno de diversas sensaes oriundas dos receptores sensoriais, articulares e cutneos do membro requerido. (ROSA NETO, 2002, p 14).

    2.5.1.2 Motricidade Global

    Alvarenga (2003) coloca que a motricidade global compreende a capacidade

    de coordenar movimentos amplos, mais ou menos complexos, envolvendo grupos

    musculares de todas as partes do corpo de maneira harmnica. A eficincia da

    motricidade global depende da integrao dos mecanismos como a tonicidade, o

    equilbrio, o esquema corporal e a estruturao espao-temporal (MARINELLO,

    2001).

    Gouvea (2004) relata que o desenvolvimento da motricidade global leva

    aquisio da dissociao dos movimentos e descreve tal dissociao como a

  • 20

    capacidade de ativar voluntariamente grupos musculares de forma independente, o

    que leva a supor bom controle de automatismos e boa coordenao.

    Para Rosa Neto (2002), o importante [...] o controle de si mesmo obtido

    pela qualidade do movimento executado, isto , da preciso e da maestria de sua

    execuo.

    2.5.1.3 Equilbrio

    O equilbrio uma condio bsica da motricidade visto que engloba o

    ajustamento postural necessrio para a manuteno de uma postura esttica ou

    dinmica, vencendo a ao da gravidade (LENGRUBER, 2004).

    Berg et al. (2012) define que O tnus se manifesta pelo grau de tenso

    muscular necessrio para poder realizar qualquer movimento, adaptando-se s

    novas aes que a pessoa realiza. Lengruber (2004) sugere que a tonicidade [...]

    est relacionada com as respostas adaptativas a gravidade, onde se incluem os

    padres hierarquizados do controle da cabea ao controle da postura sentado, da

    quadrupedia, da braquiao e da conquista definitiva da postura bpede. O tnus de

    manuteno se sobrepe ao muscular de base e rege as reaes de equilbrio, o

    que fornece referncia e suporte para a execuo de aes motrizes (ROSA NETO,

    2002).

    A deficincia mental afeta a sua integrao sensorial, acumulando dficit de

    reflexos primitivos aparecendo com alteraes de tnus musculares ou

    subadaptao postural, ocasionando problemas em seu equilbrio dinmico e

    explorao do espao (MAUERBERGDECASTRO, 2005).

    Oliveira (2003) considera quatro tipos de equilbrio:

    Prprio: Relao do corpo com o seu prprio centro de gravidade (por

    exemplo, permanecer nas pontas dos ps com inclinao anterior de tronco,

    sem fletir os joelhos ou tocar com o calcanhar no cho, surfar, andar de

    bicicleta);

    Exterior: o equilbrio de objetos com o corpo (por exemplo, equilibrar um

    basto na ponta dos dedos ou um livro sobre a cabea);

    Esttico: Quando as reaes de equilbrio ocorrem com o indivduo parado;

    Dinmico: Quando as reaes de equilbrio ocorrem com o indivduo

    deslocando-se.

  • 21

    2.5.1.4 Esquema Corporal

    Jakobsen (2002) apresenta o esquema corporal como [...] conscincia e

    percepo global do prprio corpo e suas possibilidades de movimento, ou seja, o

    esquema corporal a imagem que construmos do nosso corpo, tanto da sua

    unidade quanto dos segmentos que o compe, durante a esttica e a dinmica.

    Dize-se ainda que representa a relao do corpo com o ambiente que o circunda.

    Gallahue e Ozmun (2005) afirmam que a criana percebe-se e percebe os

    seres e as coisas que a cercam, em funo de sua pessoa. Sua personalidade se

    desenvolver graas a uma progressiva tomada de conscincia de seu corpo, de

    seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo sua volta.

    Segundo Jakobsen (2002), o desenvolvimento do esquema corporal ocorre

    por fases. A progresso depende da delimitao do corpo e de sua representao

    mental. Ambas obtidas por meio da explorao do ambiente, do contado com outras

    pessoas, da tomada de conscincia da relao entre as partes e das possibilidades

    de movimento e de ao.

    Quando est presente um distrbio do esquema corporal, problemas

    relacionados motricidade fina e global, equilbrio, lateralidade e organizao

    espacial so agravados. O que demonstra a importncia dessa rea motora

    (CORREA; COSTA; FERNANDES, 2004).

    2.5.1.5 Organizao Espacial

    Constantemente somos solicitados a nos situarmos, ou seja, localizar um

    objeto em relao a outro, nos organizarmos em funo de um espao disponvel. A

    partir dessas necessidades comeamos a desenvolver a organizao espacial, isto

    , [...] a orientao, estruturao do mundo exterior referindo-se primeiro ao eu

    referencial, depois s outras pessoas ou objetos em posio esttica ou em

    movimento (BUENO, 1998).

    Toda informao relacionada com espao tem de ser interpretada atravs

    do corpo. Pelo corpo podemos estimular a quantidade de movimento

    necessrio para explorar o espao, ou contatar com qualquer objeto nele

    localizado ou contido. Pela quantidade de movimento, podemos estimar a

    distncia percorrida no espao a percorrer para apanhar o objeto. Atravs

    da translao do movimento no espao que obtemos conhecimento da

    distncia a que nos encontramos do objeto ou da distncia percorrida no

    espao. Transformamos o conhecimento do corpo em conhecimento do

  • 22

    espao, primeiro intuitivamente, depois conceitualmente (LENGRUBER

    2004, p.34).

    De acordo com Lengruber (2004) e Gouva (2004) a organizao espacial

    dependente da conscincia corporal e da lateralidade. Para os autores preciso boa

    imagem corporal, j que o corpo ponto de referncia. A lateralidade definida facilita

    a distino de conceitos como os de direita e esquerda.

    Alm dos conceitos supracitados, tambm fazem parte da organizao

    espacial as noes de perspectiva ( frente, atrs, acima, abaixo), situao (dentro,

    fora, alto, baixo, longe, perto), tamanho (grosso, fino, grande, mdio, pequeno),

    posio (de p, ajoelhado, agachado), movimento (levantar, abaixar, empurrar,

    puxar), forma (crculo, quadrado tringulo), quantidade (cheio, vazio, muito, pouco),

    alm das de superfcie e volume (GOUVA, 2004; ROSA NETO, 2002).

    2.5.1.6 Organizao Temporal

    Para Gouva (2004), A estruturao temporal a capacidade de situar-se

    em funo da sucesso de acontecimentos, da durao de intervalos e da

    renovao cclica de certos perodos. Diz respeito [...] capacidade de avaliar

    intervalos de tempo e de estar ciente dos conceitos de tempo (OLIVEIRA, 2003).

    Tais conceitos incluem: simultaneidade (relacionar movimentos juntos e

    sequenciados); ordem e sequncia (disposio de acontecimentos em uma escala

    temporal, de modo que as relaes de tempo e a ordem dos acontecimentos

    evidenciam-se); durao de intervalos (horas, minutos, segundos); renovao cclica

    de perodos (dias, semanas, meses, anos, estaes); e ritmo (GOUVA, 2004).

    Para Lermontov (2004), O ritmo como um fator de estruturao temporal,

    que sustenta a adaptao ao tempo, abrangendo a noo de ordem, sucesso,

    durao, alternncia.

    Oliveira (2003) expe que [...] as noes temporais so muito abstratas,

    muitas vezes difceis de serem adquiridas. O autor destaca a importncia deste

    aprendizado para a vida cotidiana, tendo em vista que a maioria de nossas

    atividades so reguladas pelo tempo. Com o objetivo de facilitar o aprendizado das

    noes de tempo, refere importncia da vivncia de diferentes ritmos, [...] pois o

    ritmo, atravs da regularidade de sua sucesso, uma maneira concreta de

    vivenciar o tempo.

  • 23

    2.5.1.7 Lateralidade

    A lateralidade [...] diz respeito percepo dos lados direito e esquerdo e da

    atividade desigual de cada um destes lados visto que sua distino ser manifestada

    ao longo do desenvolvimento da experincia. (GRIMALDI, 2004). Segundo Rosa

    Neto (2003), desenvolve-se [...] em funo de um predomnio que outorga a um dos

    dois hemisfrios a iniciativa da organizao do ato motor, o qual desembocar na

    aprendizagem e na consolidao das praxias. um elemento importante da

    motricidade, pois influi na concepo do esquema corporal e da estruturao

    espacial.

    Grimaldi (2004) expem que a lateralidade classificada a partir da

    preferncia em utilizar mais um lado do corpo ao outro, em trs nveis olho, mo e

    p. O lado dominante caracteriza-se mais gil, mais forte e mais preciso.

    O autor afirma que a preferncia ocular uma dominncia de carter motor,

    na qual o olho mais gil se impe. Entretanto, deve-se estar atento a possveis

    problemas oftalmolgicos que algumas vezes mascaram os resultados.

    Alguns pesquisadores acham que existe uma disposio inata, herdada, para uma determinada dominncia. Outros acreditam que a maior parte das pessoas usa mais a mo direita porque vive um mundo onde tudo feito em funo da mo direita. A imitao inconsciente dos pais pode talvez desempenhar um papel, de tal forma que a dominncia cerebral poderia ser mais um resultado do que uma causa da dominncia manual (HOLLE, 1990, p.121).

    De acordo com Gorla, Arajo e Rodrigues (2009) e Rosa Neto (2002), com a

    observao da preferncia lateral nos itens citados se obter um dos seguintes

    resultados:

    Lateralidade homogenia: a criana destra ou sinistra no olho, na mo e no

    p. Diz-se destro ou sinistro completo.

    Lateralidade cruzada: a criana apresenta duas preferncias homolaterais e

    uma contralateral, por exemplo: destra no olho e na mo, sinistra no p.

    Lateralidade indefinida ou ambidestra: a criana to forte, gil e precisa do

    lado esquerdo quanto do lado direito.

  • 24

    2.5.1.8 Linguagem

    Para Alvarenga (2003), a linguagem funo de expresso e comunicao

    do pensamento e funo de socializao. Permite ao indivduo trocar experincias e

    atuar verbal e gestualmente no mundo.

    De acordo com Kover e Abbeduto (2010) ainda nos primeiros meses a criana

    descobre a capacidade de emitir sons. Por volta de um ano e meio contemplar

    algumas palavras e frases simples, dos dois aos trs anos torna as suas frases mais

    complexas para, finalmente, aos quatro anos exercer domnio sobre o aparelho

    fonador. Lemos e Daenecke (2000), afirmam que [...] mltiplos fatores implicam

    neste processo, como o desenvolvimento motor global, a integridade das vias

    areas, auditivas e neurolgicas e o desenvolvimento intelectual. A articulao

    correta da fala exige adequao tnica e muscular, coordenao fono-respiratria,

    ritmo e tempo (LERMONTOV, 2004).

    2.6 Capacidades Motoras

    De acordo com Rodrigues (2000), as capacidades motoras encontram-se na

    base da realizao e da aprendizagem das aes motoras apresentando-se, no

    como qualidades do movimento, mas como pressupostos para que ele exista. Sendo

    assim o grau de desenvolvimento para as capacidades motoras influencia o xito de

    toda atividade motora.

    Essa capacidade motora dividiu-se em dois domnios: condicional e

    coordenativo, que representam o mbito quantitativo e qualitativo respectivamente.

    O nvel motor do indivduo determinado pela relao entre os dois domnios que se

    desenvolvem pela relao existente entre eles (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    Os autores ainda acreditam que o desenvolvimento das capacidades

    coordenativas influencia o grau de utilizao dos potenciais funcionais energticos

    em solicitao de resistncia, de velocidade, de flexibilidade, permiti uma maior

    economia, durao e eficcia na atividade. A flexibilidade, destreza e velocidade,

    sendo qualitativos e quantitativos ao mesmo tempo dependem dos processos de

    conduo do Sistema Nervoso Central (SNC).

    Complementam ainda que as capacidades motoras esto presentes em

    maior, ou menor grau, em toda atividade motora e a conjuno das mesmas propicia

    e permite a realizao de qualquer movimento.

  • 25

    De acordo com Santos, Weiss e Almeida (2010) para aprendizagem das

    habilidades motoras se faz necessrio um trabalho prvio no mbito das

    coordenaes motoras e no desenvolvimento das habilidades motoras bsicas, de

    modo que o indivduo tenha oportunidade de explorar o seu corpo e as suas

    possibilidades de movimento, assim defini-se a importncia do papel de diversas

    atividades motoras no sentido de garantir o desenvolvimento das habilidades

    motoras bsicas.

    Carvalho (1988) divide as capacidades motoras em capacidades condicionais

    (mbito quantitativo) e capacidades coordenativas (mbito qualitativo) (Figura 9).

    Figura 9 - Diviso das capacidades motoras

    Fonte: (CARVALHO, 1988).

    2.6.1 Coordenao Motora e Capacidades Coordenativas

    Kiphard (1976) conceitua a coordenao motora como interao harmoniosa

    e econmica senso-neuro-muscular, com o objetivo final de criar aes cinticas

    Capacidade Condicionais Capacidade Coordenativa

    Velocidade de reao Velocidade Mxima Cclica Velocidade Mxima Acclica Velocidade fora Flexibilidade

    Fora Mxima Fora rpida Fora resistncia

    Equilbrio Fluidez e movimento Preciso Constncia do movimento Ritmo Ligao do movimento

    Resistncia aerbia

    Resistncia anaerbia

    Destreza (habilidade e agilidade) Capacidade de conduo e adaptao

    Capacidade Motora

  • 26

    precisas e equilibradas (movimentos voluntrios), e como reaes rpidas e

    adaptadas situao (movimentos reflexos).

    O mesmo autor definiu as condies ou caractersticas que satisfazem uma

    boa coordenao motora:

    adequada medida de fora que determina a amplitude e a velocidade do

    movimento;

    adequada seleo dos msculos que influenciam a conduo e orientao

    do movimento;

    capacidade de alternar rapidamente entre tenso e relaxao musculares,

    premissas de toda a forma de adaptao motora.

    Para Bissoto (2005) as capacidades coordenativas, determinadas pelos

    processos de conduo e regulao motora, so uma classe das capacidades

    motoras (corporais) que, em conjuno com as capacidades condicionais, fsicas e

    as habilidades motoras, se refletem na capacidade de rendimento corporal.

    As capacidades coordenativas permitem ao indivduo identificar a posio do

    seu corpo, ou parte dele, no espao, a sintonizao espao-temporal dos

    movimentos, reagir prontamente a diversas situaes, manter-se em equilbrio,

    ainda que em situaes dificultadas, ou ainda realizar gestos com referncia a ritmos

    pr-determinados. Assim, as capacidades coordenativas desempenham um papel

    primordial na estrutura do movimento com reflexos nas mltiplas aptides

    necessrias para responder s exigncias do dia - a - dia, do trabalho e do desporto

    (BISSOTO, 2005; ROSA et al., 2008).

    Kiphard (1976) caracteriza uma boa e fraca coordenao em funo de

    determinadas variveis, conforme quadro 1, por ele consideradas determinantes.

  • 27

    Quadro 1 - Qualidades bsicas da coordenao motora

    Boa Coordenao Motora Fraca Coordenao Motora

    Preciso de Movimento

    Equilbrio corporal, boa oscilao de movimentos; correto equilbrio.

    Desequilbrio espacial, movimentos intermitentes, grosseiros e incorretamente equilibrados.

    Economia do Movimento

    Equilbrio muscular, utilizao da fora adequada, situao dinmica, moderada inervao grosseira.

    Desequilbrio da fora muscular com impulsos excessivos (hiperdinmico) ou demasiado fracos (hipodinmico)

    Fluncia do Movimento

    Equilbrio temporal, adequada situaes do tempo do impulso muscular pela rpida reao

    Desequilbrio temporal. Rpida inadaptao, impulsos abruptos ou aumentados e intermitentes atrasado reao motora.

    Elasticidade do Movimento

    Equilbrio da elasticidade muscular, elevada atividade e adaptao da utilizao da tenso muscular.

    Desequilbrio da elasticidade muscular. Difcil adaptao, execuo muito fraca ou no elstica, falta de fora muscular.

    Regulao da Tenso

    Equilbrio da tenso muscular. Mximo relaxamento dos grupos antagonistas, rapidez na alterao das relaes da tenso dos diferentes grupos musculares.

    Desequilbrio da tenso muscular, inadequada tenso dos grupos antagonistas, defeituosa conduo dos impulsos motores; desequilbrios na troca de impulsos (Regulao da Tenso)

    Isolamento do Movimento

    Equilibrada escolha muscular. Enervao objetiva dos grupos musculares necessrios para um impulso mximo.

    Desequilbrio na escolha muscular, inadequada coao como resultado de uma tenso muscular exagerada, impulso incorreto e errneo, extra movimento.

    Adaptao do Movimento

    Equilbrio da reao de regulao sensrio-motora. Boa adaptao motora e capacidade de adaptao adequada a cada situao do movimento, base de uma boa percepo sensorial

    Desequilibrada reao de regulao Sensrio-motora. Insuficiente adaptao situao do movimento e deficiente capacidade motora. Base para uma percepo sensorial pouco clara

    Fonte: (KIPHARD, 1976).

    Hirtz (1986) cita cinco capacidades fundamentais de coordenao, que se

    apresentam hierarquicamente da seguinte forma: (Quadro 2)

  • 28

    Quadro 2 - Capacidades fundamentais de coordenao motora

    Capacidade de Orientao espacial

    Corresponde as qualidades necessrias para determinao e modificao da posio do corpo como um todo no espao.

    Capacidade de diferenciao cinestsica

    Corresponde as qualidades de comportamento relativamente estveis e generalizveis para realizao de aes motoras e econmicas com base numa recepo e assimilao bem diferenciada e precisa de informaes cinestsicas.

    Capacidade de reao

    Corresponde as qualidades necessrias a uma rpida e inoportuna preparao e execuo, no mais curto espao de tempo, de aes desencadeadas por sinais mais ou menos complicados ou por aes ou estmulos anteriores.

    Capacidade de ritmo

    Corresponde as qualidades necessrias a compreenso, acumulao e interpretao de estruturas temporais e dinmicas pretendidas ou contidas na evoluo do movimento.

    Capacidade de equilbrio

    Corresponde as qualidades necessrias conservao ou recuperao do equilbrio, pela modificao das condies ambientais e para convincente soluo de tarefas motoras que exijam pequenas alteraes de planos ou situaes de equilbrio muito instveis.

    Fonte: (HIRTZ, 1986).

    2.6.1.1 Teste de Coordenao Corporal para Crianas (Krperkoordination test

    fr Kinder - KTK)

    O teste de coordenao corporal para crianas (KTK) surgiu de um trabalho

    estreitamente conjunto do Westflischen Institut fr Jugend psychiatrie und

    Heilpdagogik Hamm e do Institutfrrztl. Pd. Jugendhilfe der Philippe-

    Universitt, frente necessidade de diagnosticar mais sutilmente as deficincias

    motoras em crianas com leses cerebrais e/ou desvios comportamentais.

    O histrico do desenvolvimento do teste KTK foi traduzido de

    Motopdagogik de Kiphard ([19--]). O desenvolvimento do teste ocorreu durante

    cinco anos de estudo em diversos estgios, e com apoio da Sociedade Alem de

    Apoio Pesquisa. Em busca de um procedimento motor exato. Hnnekens, Kiphard

    e Kesselmann (1967) apresentaram o Hammer Geschicklich-Keitstest (teste

    Hammer de Habilidades). Este primeiro tipo de teste construdo na forma de uma

    escala nominal no possibilitava, no entanto, uma diferenciao suficiente dentro de

    cada faixa etria dos cinco aos oito anos. Nos anos de 1968 a 1972 foi realizada

    uma ampla reviso por Schilling de acordo com os pontos de vista das modernas

    teorias de testes. Com isso foi abandonado o principio da dificuldade da tarefa

  • 29

    relativa idade (medido pelo conseguir ou no conseguir) e, ao invs disso,

    assumida uma diferenciao quantitativa do mximo de rendimento dentro de cada

    tarefa.

    Assim, foi obtido o rendimento mximo do testando pela constante repetio

    das tarefas com dificuldades crescente, atravs de uma avaliao por pontos ou

    pela contagem das repeties por unidade de tempo, no teste de coordenao

    corporal para crianas Hamm-Marburger (MHKTK-Hamm-arburger

    Krperkoordination test fr Kinder), apresentado por Kiphard e Schilling em 1974.

    Pela elevao da dificuldade das tarefas, tornou-se possvel ampliar o teste de oito a

    doze anos, podendo mais tarde, ser estendido at o quatorze anos. A concepo

    final do teste foi publicada em 1974 em Weinhein (Beltz-Verlag); ela est baseada

    na normatizao n1228 de 1973-74 usada por Schilling.

    O KTK um teste de rendimento motor. Para cada tarefa esto prescritos

    exerccios-ensaio, para que a criana possa adaptar-se tarefa e ao material do

    teste. Pelo grau crescente das dificuldades em cada tarefa, pretende-se que a

    criana chegue gradativamente ao seu limite de rendimento. Pelo exerccio-ensaio

    pode-se verificar se a criana compreendeu realmente a tarefa. Em alguns casos, a

    demonstrao e instruo do teste precisam ser subdivididas em partes.

    O KTK testa a dimenso de movimento domnio corporal geral de acordo

    com os resultados da anlise de fatores, que objetivam forte homogeneidade das

    tarefas do teste. Ele se presta para a determinao do desenvolvimento desta

    dimenso de movimento em crianas de 4,5 a 14,5 anos.

    2.6.2 Desenvolvimento e Coordenao Motora em Sndrome de Down

    Gorla, Arajo e Carminato (2004) afirmam que o estudo do perfil da

    coordenao motora de crianas e adolescentes portadores de deficincia mental e

    da influncia de alguns fatores do envolvimento nos perfis justifica-se pela escassez

    ou mesmo inexistncia de dados acerca do perfil da coordenao motora e, prende-

    se possibilidade, de concepo e desenvolvimento, que possam promover

    competncias motoras e compensar perfis tidos como deficitrios potencializando as

    capacidades de cada um. Enormes dificuldades so encontradas para a anlise da

    coordenao motora em indivduos portadores de deficincia mental (DM). Isto se

  • 30

    deve instabilidade adaptativa e de controle postural apresentados por esta

    populao.

    A descrio do desenvolvimento motor da criana com SD, efetuada por

    Brousseau e Brainerd (1928), uma das primeiras e mais completas. Para estes

    autores, a investigao sobre os padres de desenvolvimento motor, inicia-se com a

    observao dos movimentos espontneos dos recm-nascidos em resposta a

    estmulos de diversa natureza. Os autores concluem que a atividade muscular

    nestas crianas se encontra reduzida ou atrasada relativamente s crianas ditas

    "normais", atribuindo este fenmeno a limitaes existentes ao nvel do Sistema

    Nervoso Central e no ao nvel perifrico ou muscular. (ROSA et al., 2008).

    Gorla, Araujo e Rodrigues (2009), afirma que os diversos graus de deficincia

    mental, correspondem no campo motor,