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Informativo 735X-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: RE 598770/República Italiana; ACO 1271/RJ; HC 115196/RR. ÍNDICE Direito Constitucional É constitucional a Lei que veda que ocupantes da carreira policial exerçam advocacia. Direito Processual Civil Competência para julgar causa que interessa a todos os membros da magistratura. É possível recurso extraordinário contra decisão do STJ que homologa sentença estrangeira, desde que haja afronta a CF/88. Direito Penal 5 anos após o cumprimento ou extinção da pena a condenação pretérita poderá ser utilizada como maus antecedentes? As agravantes (tirante a reincidência) não se aplicam aos crimes culposos. Direito Processual Penal A regra geral é de que haja o desmembramento dos processos quando houver corréus sem prerrogativa de foro no STF. Não cabem embargos infringentes no STF para discutir o quantum da pena aplicada. Direito Tributário Se a lei de conversão aumentou a alíquota prevista na MP, a regra da anterioridade nonagesimal será contada a partir da publicação da lei. Imunidade do art. 195, § 7º da CF/88 é regulamentada por lei ordinária e abrange o PIS. Selo para controle de recolhimento de IPI não pode ser cobrado do contribuinte. DIREITO CONSTITUCIONAL É constitucional a Lei que veda que ocupantes da carreira policial exerçam advocacia A Lei que veda o exercício da atividade de advocacia por aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o princípio da isonomia. STF. Plenário. ADI 3541/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/2/2014. O agente, o escrivão ou o delegado de polícia, se forem bacharéis em direito e tiverem sido aprovados no exame da ordem, podem exercer a advocacia? NÃO. Existe vedação expressa no Estatuto da OAB (Lei n. 8.906/94):

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Informativo 735X-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: RE 598770/República Italiana; ACO 1271/RJ; HC 115196/RR.

ÍNDICE Direito Constitucional É constitucional a Lei que veda que ocupantes da carreira policial exerçam advocacia.

Direito Processual Civil Competência para julgar causa que interessa a todos os membros da magistratura. É possível recurso extraordinário contra decisão do STJ que homologa sentença estrangeira, desde que haja

afronta a CF/88.

Direito Penal 5 anos após o cumprimento ou extinção da pena a condenação pretérita poderá ser utilizada como maus

antecedentes? As agravantes (tirante a reincidência) não se aplicam aos crimes culposos.

Direito Processual Penal A regra geral é de que haja o desmembramento dos processos quando houver corréus sem prerrogativa de foro no STF. Não cabem embargos infringentes no STF para discutir o quantum da pena aplicada.

Direito Tributário Se a lei de conversão aumentou a alíquota prevista na MP, a regra da anterioridade nonagesimal será contada a

partir da publicação da lei. Imunidade do art. 195, § 7º da CF/88 é regulamentada por lei ordinária e abrange o PIS. Selo para controle de recolhimento de IPI não pode ser cobrado do contribuinte.

DIREITO CONSTITUCIONAL

É constitucional a Lei que veda que ocupantes da carreira policial exerçam advocacia

A Lei que veda o exercício da atividade de advocacia por aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o princípio da isonomia.

STF. Plenário. ADI 3541/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/2/2014.

O agente, o escrivão ou o delegado de polícia, se forem bacharéis em direito e tiverem sido aprovados no exame da ordem, podem exercer a advocacia?

NÃO. Existe vedação expressa no Estatuto da OAB (Lei n. 8.906/94):

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Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa própria, com as seguintes atividades: V - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou indiretamente a atividade policial de qualquer natureza;

Essa previsão é constitucional? SIM. O STF, ao julgar a ADI 3541, ajuizada pela Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis

(Cobrapol), decidiu que a previsão do inciso V do art. 28 da Lei n. 8.906/94 é constitucional. A Cobrapol alegava que a norma impugnada violaria o princípio da isonomia, porque impediria o exercício da advocacia pelos policiais civis que possuem o diploma de bacharel em direito, enquanto outros servidores públicos têm a possibilidade do exercício da advocacia. Em seu voto, o Min. Rel. Dias Toffoli, afirmou que o legislador pretendeu vedar o exercício simultâneo das duas atividades, por considerá-lo prejudicial ao exercício das funções, não havendo nisso violação ao princípio da isonomia.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Competência para julgar causa que interessa a todos os membros da magistratura

O art. 102, I, ‘n’, da CF/88 determina que a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados é de competência originária do STF.

Vale ressaltar, no entanto, que a causa não será da competência originária do STF se a matéria discutida, além de ser do interesse de todos os membros da magistratura, for também do interesse de outras carreiras de servidores públicos.

Além disso, para incidir o dispositivo, o texto constitucional preconiza que a matéria discutida deverá interessar a todos os membros da magistratura e não apenas a parte dela.

STF. 2ª Turma. AO 1840 AgR/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 11/2/2014.

Competência para julgar a causa que for de interesse da magistratura: A fim de garantir a imparcialidade, a CF/88 determina que, se a causa for de interesse de todos os membros da magistratura, ela deverá ser julgada originariamente pelo próprio STF:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: (...) n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;

Relembrada essa regra, vejamos a seguinte situação adaptada: João, juiz federal, propôs ação contra a União pedindo o pagamento de determinada gratificação que é paga aos Procuradores da República, mas que não é prevista na Lei aos membros da magistratura da União. O que João pleiteou foi o pagamento de ajuda de custo pelo fato de ter assumido o cargo de Juiz Federal Substituto e ter ido morar em outra localidade. Afirmou que essa verba é paga ao MPF, mas não aos magistrados federais. Assim, como fundamento jurídico, o autor invocou o princípio da simetria entre as carreiras, argumentando que a CF/88 atribuiu idêntico tratamento aos membros da magistratura e do MP e que, portanto, a lei infraconstitucional não pode conferir vantagens para uma carreira sem oferecer igual verba para a outra.

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Essa causa é de competência originária do STF com base no art. 109, I, ‘n’, da CF/88? NÃO. O STF, ao interpretar essa previsão do art. 102, I, ‘n’, da CF/88, faz duas importantes restrições: 1) A causa não será da competência originária do STF se a matéria discutida, além de ser do interesse de

todos os membros da magistratura, for também do interesse de outras carreiras de servidores públicos. Ex: Pedro ajuíza ação pedindo que não incida a contribuição previdenciária sobre o valor de seu terço de férias porque essa verba teria caráter indenizatório. Isso é de interesse de todos os magistrados, mas também interessa a todos os demais servidores. Logo, a competência não será do STF, mas sim da 1ª instância. Nesse sentido:

(...) A incidência da alínea ‘n’ do inciso I do art. 102 da CF, sob o ângulo do interesse da magistratura, pressupõe exclusividade, não alcançando situação em que outros segmentos sejam destinatários da norma. (...) STF. Plenário. Rcl 5.256-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/10/2013.

2) Como o próprio texto constitucional preconiza, a causa deverá interessar a todos os membros da

magistratura. Dessa feita, caso seja de interesse de um grande número de magistrados, mas não de todos, não haverá competência originária do STF.

No caso concreto, o STF entendeu que não era competente para julgar a ação porque que o pagamento de ajuda de custo nessas situações é um pleito de interesse não apenas dos juízes federais, mas também dos

servidores abrangidos pela Lei n. 8.112/90. Logo, não se trata de um causa de interesse exclusivo dos membros da magistratura. Além disso, é um pedido que interessa não a todos os juízes federais, mas apenas aos que estão ingressando na carreira e que não têm direito a ajuda de custo.

É possível recurso extraordinário contra decisão do STJ que homologa sentença estrangeira, desde que haja afronta à CF/88

É possível o controle das decisões homologatórias de sentenças estrangeiras proferidas pelo STJ mediante recurso extraordinário. No entanto, é necessário rigor no exame da alegação de afronta à Constituição nessas hipóteses (art. 102, II, “a”, da CF/88), sob pena de criação de nova instância revisional.

STF. Plenário. RE 598770/República Italiana, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12/2/2014.

A decisão proferida pelo Poder Judiciário de um país produz efeitos em outro Estado soberano? A princípio não, porque uma das manifestações da soberania é o fato de o Poder Judiciário do próprio país ser o responsável pela resolução dos conflitos de interesses. Assim, a princípio, uma decisão proferida pela Justiça dos EUA ou de Portugal, por exemplo, não tem força obrigatória no Brasil, considerando que, por sermos um país soberano, a função de dizer o direito é atribuída ao Poder Judiciário brasileiro.

Pode ser necessário, no entanto, que uma decisão no exterior tenha que ter eficácia no Brasil. Como fazer para que isso ocorra? Para que uma decisão proferida pelo Poder Judiciário de outro país possa ser executada no Brasil, é necessário que passe por um processo de “reconhecimento” ou “ratificação”, feito pela Justiça brasileira.

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“O processo de homologação de sentença estrangeira visa aferir a possibilidade de decisões estrangeiras produzirem efeitos dentro da ordem jurídica nacional” (MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. São Paulo: RT, 2008, p. 489). Somente após essa homologação, a sentença estrangeira terá eficácia no Brasil. Como ressalta Paulo Portela, “uma vez homologada, a sentença poderá produzir os mesmos efeitos de uma sentença nacional” (Direito internacional público e privado. Salvador: Juspodivm, 2010, p. 562). No Brasil, quem é o órgão competente para análise e homologação de sentenças estrangeiras? O Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “i”, da CF/88). Obs.1: o STJ passou a ser competente para homologar sentenças estrangeiras por força da EC 45/04. Antes dessa alteração, a competência era do STF. Obs.2: cuidado ao ler o art. 483 do CPC, porque ele menciona o STF, mas tal previsão foi revogada pela EC 45/04, que previu o STJ como órgão jurisdicional competente para homologação de sentença estrangeira. Obs.3: atualmente, a homologação de sentença estrangeira é regulamentada pela Resolução nº 9/2005 do STJ. É possível recurso contra a decisão do STJ que homologa sentença estrangeira? SIM. Em tese, é cabível recurso extraordinário contra decisão do STJ que homologa sentença estrangeira, desde que haja afronta à CF/88. No entanto, é necessário rigor no exame da alegação de afronta à Constituição nessas hipóteses (art. 102, II, “a”, da CF/88), sob pena de criação de nova instância revisional.

DIREITO PENAL

5 anos após o cumprimento ou extinção da pena a condenação pretérita poderá ser utilizada como maus antecedentes?

Importante!!!

A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a 5 anos, contado da extinção da pena, poderá ser considerada como maus antecedentes?

1ª corrente: SIM. Posição pacífica do STJ.

2ª corrente: NÃO. Últimos julgado do STF.

STF. 1ª Turma. HC 119200/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2014.

STJ. 6ª Turma. HC 240.022/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 11/03/2014.

O que é reincidência? A definição de reincidência, para o Direito Penal, é encontrada a partir da conjugação do art. 63 do CP com o art. 7º da Lei de Contravenções Penais. Com base nesses dois dispositivos, podemos encontrar as hipóteses em que alguém é considerado reincidente para o Direito Penal (inspirado no quadro contido no livro de CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 401):

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Se a pessoa é condenada definitivamente por

E depois da condenação definitiva pratica novo(a)

Qual será a consequência?

CRIME (no Brasil ou exterior)

CRIME REINCIDÊNCIA

CRIME (no Brasil ou exterior)

CONTRAVENÇÃO (no Brasil)

REINCIDÊNCIA

CONTRAVENÇÃO (no Brasil)

CONTRAVENÇÃO (no Brasil)

REINCIDÊNCIA

CONTRAVENÇÃO (no Brasil)

CRIME NÃO HÁ reincidência. Foi uma falha da lei.

Mas gera maus antecedentes.

CONTRAVENÇÃO (no estrangeiro)

CRIME ou CONTRAVENÇÃO NÃO HÁ reincidência.

Contravenção no estrangeiro não influi aqui.

A reincidência é uma agravante da pena Se o réu for reincidente, sofrerá diversos efeitos negativos no processo penal. O principal deles é que, no momento da dosimetria da pena em relação ao segundo delito, a reincidência será considerada como uma agravante genérica (art. 61, I do CP), fazendo com que a pena imposta seja maior do que seria devida caso ele fosse primário.

Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I - a reincidência;

Os efeitos negativos da reincidência duram para sempre? NÃO. Os efeitos deletérios da reincidência perduram pelo prazo máximo de 5 anos, contados da data do cumprimento ou da extinção da pena. Após esse período, ocorre a caducidade da condenação anterior para fins de reincidência. É o que afirma o art. 64, I, do CP:

Art. 64. Para efeito de reincidência: I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;

Assim, diz-se que, em tema de reincidência, o Código Penal adota o sistema da temporariedade, uma vez que os efeitos negativos da reincidência duram apenas por determinado período de tempo. O prazo em que a reincidência ainda vigora é chamado de “período depurador”. Curiosidade: na redação original do Código Penal (antes da Reforma de 1984), vigorava o sistema da perpetuidade, ou seja, os efeitos negativos da reincidência duravam para sempre. Exemplo: Douglas praticou um furto, foi condenado e terminou de cumprir sua pena em 02/02/2010. Em 03/03/2015, ele comete um outro crime. No julgamento desse segundo delito, Douglas não poderá ser considerado reincidente, porque já se passaram mais de 5 anos desde o dia em que terminou de cumprir a pena pelo primeiro crime.

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Assim, após o prazo de 5 anos, não poderá mais ser considerado reincidente. Contudo, essa condenação anterior poderá ser valorada como maus antecedentes?

SIM. Posição do STJ NÃO. Precedentes recentes do STF

Para o entendimento pacificado no STJ, mesmo ultrapassado o lapso temporal de cinco anos, a condenação anterior transitada em julgado pode ser considerada como maus antecedentes, nos termos do art. 59 do CP. “Apesar de desaparecer a condição de reincidente, o agente não readquire a condição de primário, que é como um estado de virgem, que, violado, não se refaz. A reincidência é como o pecado original: desaparece, mas deixa sua mancha, servindo, por exemplo, como antecedente criminal (art. 59, caput)” (BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal Comentado. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 238).

A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a 5 anos, contado da extinção da pena, também não poderá ser considerada como maus antecedentes. Após o prazo de 5 anos previsto no art. 64, I, do CP, cessam não apenas os efeitos decorrentes da reincidência, mas também qualquer outra valoração negativa por condutas pretéritas praticadas pelo agente. Ora, se essas condenações não mais servem para o efeito da reincidência, com muito maior razão não devem valer para fins de antecedentes criminais. “O homem não pode ser penalizado eternamente por deslizes em seu passado, pelos quais já tenha sido condenado e tenha cumprido a reprimenda que lhe foi imposta em regular processo penal. Faz ele jus ao denominado ‘direito ao esquecimento’, não podendo perdurar indefinidamente os efeitos nefastos de uma condenação anterior, já regularmente extinta.” (Min. Dias Toffoli).

Reincidência: sistema da temporariedade. Maus antecedentes: sistema da perpetuidade.

Tanto a reincidência como os maus antecedentes obedecem ao sistema da temporariedade.

STJ. 5ª Turma. HC 238.065/SP, Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE), julgado em 18/04/2013. STJ. 6ª Turma. HC 240.022/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 11/03/2014.

STF. 1ª Turma. HC 119200, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/02/2014. STF. 2ª Turma. HC 110191, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/04/2013.

Obs: há precedentes mais antigos do STF reconhecendo a 1ª corrente. Nesse sentido: RHC 106814, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, julgado em 08/02/2011. Obs2: o tema será definido pelo STF no RE 593818 RG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, que foi afetado para julgamento pelo Plenário sob a sistemática da repercussão geral. Obs3: cuidado. A maioria dos livros de Direito Penal fornece uma explicação em sentido contrário ao que vem sendo decidido pelo STF.

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As agravantes (tirante a reincidência) não se aplicam aos crimes culposos

Importante!!!

As circunstâncias agravantes genéricas não se aplicam aos crimes culposos, com exceção da reincidência.

STF. 1ª Turma. HC 120165/RS, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2014.

Dosimetria da pena A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:

1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP.

2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes.

3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição. Agravantes As agravantes genéricas estão previstas nos arts. 61 e 62 do CP e este rol é taxativo, não se admitindo sua ampliação por meio de analogia (seria analogia in malam partem, o que é vedado no direito penal). No caso do Código Penal Militar, as agravantes genéricas encontram-se listadas no art. 70. Se o réu praticou um crime culposo, sua pena poderá ser majorada por força das agravantes? Em outras palavras, as agravantes incidem também no caso de crimes culposos?

Sim NÃO

Existe um precedente antigo do STF afirmando que as agravantes genéricas poderiam ser aplicadas também na hipótese de crimes culposos. Trata-se do famoso naufrágio do navio “Bateau Mouche”, ocorrido no RJ por conta do excesso de passageiros: (...) Não obstante a corrente afirmação apoditica em contrario, além da reincidência, outras circunstancias agravantes podem incidir na hipótese de crime culposo (...) STF. 1ª Turma. HC 70362, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 05/10/1993.

Regra: as agravantes genéricas não se aplicam no caso de crimes culposos. Somente incidem quando o agente pratica um delito doloso. Exceção: a reincidência é uma agravante e ela majora a pena do réu mesmo em caso de crimes culposos. É a posição majoritária na doutrina e jurisprudência e a que deve ser adotada nas provas. Assim decidiu a 1ª Turma do STF. HC 120165, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/02/2014.

Veja como o tema já foi cobrado em concurso: (Juiz TJGO 2012 FCC) As circunstâncias agravantes não incidem nos crimes culposos, salvo a reincidência. (alternativa correta)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

A regra geral é de que haja o desmembramento dos processos quando houver corréus sem prerrogativa de foro no STF

Importante!!!

O desmembramento de inquéritos ou de ações penais de competência do STF deve ser a regra geral, admitida exceção nos casos em que os fatos relevantes estejam de tal forma relacionados, que o julgamento em separado possa causar prejuízo relevante à prestação jurisdicional.

STF. Plenário. Inq 3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/2/2014.

Imagine a seguinte situação hipotética: Cinco pessoas praticaram, em concurso, os crimes de peculato (art. 312 do CP), corrupção passiva (art. 317) e associação criminosa (art. 288). Um dos agentes ocupa o cargo de Deputado Federal. Como se sabe, os Deputados Federais possuem foro por prerrogativa de função, de modo que os crimes por eles praticados devem ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “b”, da CF/88). Os quatro outros acusados não possuem prerrogativa de foro no STF. Diante do quadro exposto, indaga-se: serão julgados pelo STF os cinco réus em conjunto (no mesmo processo) ou somente o Deputado Federal acusado? Somente o Deputado Federal. Os demais réus serão julgados pelo juiz em 1ª instância. Essa é a regra geral, conforme o entendimento mais recente do STF, manifestado no Inq 3515/SP, decidido em 13/02/2014. Caso uma pessoa que tenha foro por prerrogativa de função no STF pratique um crime em concurso com outros indivíduos sem foro privativo, a regra geral é de que haja o desmembramento dos processos e a situação fique da seguinte forma: O STF julgará o réu que tem foro privativo (ex: Deputado Federal); O juiz de 1ª instância julgará os demais acusados. Qual é a razão disso? A competência penal do STF é de direito estrito, estando prevista taxativamente na CF/88. Logo, não pode ser ampliada indevidamente por normas de direito infraconstitucional, como é o caso dos dispositivos do CPP que tratam sobre a reunião de processos em caso de conexão. Em outras palavras, não se pode ampliar a competência constitucional do STF por força de uma lei ordinária (CPP) que determina o julgamento em conjunto. Vale ressaltar que a decisão do STF que determina o desmembramento independe de requerimento do Ministério Público. Mas é possível que todos sejam julgados conjuntamente no STF? SIM. A regra geral é o desmembramento. No entanto, em casos excepcionais, será possível que os demais réus que não têm foro por prerrogativa de função também sejam julgados pelo STF em um único processo. Isso se justifica quando os fatos relevantes estejam de tal forma relacionados, que o julgamento em separado possa causar prejuízo relevante à prestação jurisdicional.

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Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9

E quem decide se o caso concreto seguirá a regra geral (desmembramento) ou se deverá haver o julgamento em conjunto (exceção)? O próprio Tribunal competente para julgar a autoridade, no caso, o STF. Se não houver o desmembramento e os réus sem foro privativo forem julgados em conjunto com a autoridade no STF, eles poderão alegar nulidade por violação a princípios constitucionais? NÃO. A decisão que determina que não haverá o desmembramento e que os réus sem foro privativo também serão julgados pelo Tribunal não viola os princípios do juiz natural, da ampla defesa, do devido processo legal e do duplo grau de jurisdição (AP 470/MG). Sobre o tema, já foi editada, inclusive, uma súmula:

Súmula 704 do STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

Existe algum exemplo recente no qual o STF aplicou a exceção (e não a regra)? SIM. No caso da Ação Penal 470/MG (“Mensalão”), existiam alguns acusados que eram Deputados Federais e outros que não tinham foro por prerrogativa de função. A defesa pediu que houvesse o desmembramento dos julgamentos, mas o STF rejeitou o pleito e decidiu que todos os réus (com e sem foro privativo) deveriam ser julgados pelo STF no mesmo processo. O STF entendeu que aquele era um caso excepcional e que, se houvesse o desmembramento, existiria a possibilidade de serem proferidas decisões contraditórias. Outro argumento foi o de que eventual remessa dos autos ao juízo de 1ª instância provocaria excessiva demora no julgamento, dada a complexidade da causa e a quantidade de informações envolvidas (AP 470/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, questão de ordem julgada nos dias 2 e 3.8.2012).

Não cabem embargos infringentes no STF para discutir o quantum da pena aplicada

A divergência estabelecida na fixação da dosimetria da pena não enseja o cabimento de embargos infringentes no STF.

STF. Plenário. AP 470 EI-décimos quartos-AgR/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 13/2/2014.

Embargos infringentes São cabíveis embargos infringentes contra decisão do STF que tiver condenado o réu em processo de competência originária daquela Corte, desde que tenha havido, no mínimo, quatro votos divergentes. Os embargos infringentes do STF estão previstos no art. 331, I, do RISTF, que foi recepcionado pela CF/88 com força de lei ordinária e não foi revogado pela Lei nº 8.038/90. STF. Plenário. AP 470 AgR - vigésimo sétimo/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 18.9.2013. Se quiser maiores detalhes, veja o Info 720-STF. Cabem embargos infringentes no STF para discutir o quantum da pena aplicada (ex: quatro Ministros aplicavam 10 anos e os demais calcularam em 15 anos)? NÃO. Para o STF, a divergência estabelecida na fixação da dosimetria da pena não enseja o cabimento de embargos infringentes, haja vista se tratar de mera consequência da condenação. Assim, os embargos são cabíveis quando a divergência diz respeito à condenação ou absolvição (e não no que diz respeito ao quantum da pena).

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DIREITO TRIBUTÁRIO

Se a lei de conversão aumentou a alíquota prevista na MP, a regra da anterioridade nonagesimal será contada a partir da publicação da lei

Nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida somente na lei de conversão, o termo inicial da contagem é a data da conversão da medida provisória em lei.

STF. Plenário. RE 568503/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/2/2014.

O que é o princípio da anterioridade nonagesimal? Segundo o princípio da anterioridade privilegiada, qualificada ou nonagesimal, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Trata-se de regra prevista no art. 150, III, ‘c’ (para os tributos em geral) e também no art. 195, § 6º (no que se refere às contribuições sociais). O que é o chamado PIS? PIS é uma espécie de contribuição de seguridade social, instituída pela União, e destinada a custear os serviços de saúde, previdência e assistência social (art. 194 da CF/88). Atualmente, o PIS é chamado de PIS/PASEP. O PIS se submete à regra da anterioridade nonagesimal? SIM. A contribuição social para o PIS submete-se ao princípio da anterioridade nonagesimal:

Art. 195 (...) § 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".

Imagine agora a seguinte situação: O Presidente da República editou, em 29/01/2004, a Medida Provisória 164/2004 instituindo o PIS/PASEP.

Essa MP foi convertida na Lei n. 10.865, promulgada em 30/04/2004. Durante a tramitação da Medida Provisória 164/2004 no Congresso, foi inserido no projeto de conversão um artigo majorando a alíquota do PIS incidente sobre a água mineral. Desse modo, a majoração não havia sido prevista, originariamente, pela Medida Provisória e somente surgiu quando a MP foi convertida na Lei. O prazo de 90 dias será contado da publicação da MP ou da Lei? O prazo será iniciado da data da publicação da lei. Em regra, o termo inicial para a contagem do prazo nonagesimal seria a data da publicação da medida provisória e não a da lei na qual fosse convertida. Todavia, como no caso houve o agravamento da carga tributária pela lei de conversão, a contagem do termo iniciar-se-ia da publicação desta. Assim, segundo decidiu o STF, nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida somente na lei de conversão, o termo inicial da contagem é a data da conversão da medida provisória em lei.

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Imunidade do art. 195, § 7º da CF/88 é regulamentada por lei ordinária e abrange o PIS

Importante!!!

As entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei (entidades filantrópicas) gozam de imunidade tributária com relação à contribuição para o PIS.

A lei necessária para regulamentar o referido § 7º é uma lei ordinária.

STF. Plenário. RE 636941/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/2/2014

Imunidade tributária Imunidade tributária consiste na determinação de que certas atividades, rendas, bens ou pessoas não poderão sofrer a incidência de tributos. Trata-se de uma dispensa constitucional de tributo. A imunidade é uma limitação ao poder de tributar, sendo sempre prevista na própria CF.

As hipóteses mais conhecidas de imunidade tributária estão previstas no art. 150, VI, da CF/88. Existem, contudo, outras? SIM. Exemplos: Art. 5º, XXXIV, “a” e “b”, LXXIII, LXXIV, LXXVI e LXXVII: imunidade que incide sobre “taxas”. Art. 149, § 2º, I: imunidade referente a “contribuições sociais” e CIDE. Art. 195, § 7º: imunidade incidente sobre “contribuições sociais”. Veja a hipótese do art. 195, § 7º:

Art. 195 (...) § 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.

Obs: apesar de a redação falar em “isentas”, a doutrina afirma que se trata, efetivamente, de uma hipótese de imunidade. A imunidade tributária prevista no art. 195, § 7º, da CF/88 abrange a contribuição para o PIS? SIM. As entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei são imunes quanto ao pagamento do PIS. Isso porque o PIS é uma espécie de contribuição para a seguridade social. A lei a que se refere o § 7º é lei complementar ou ordinária? ORDINÁRIA. Esse tema é extremamente polêmico na doutrina, mas neste julgamento o STF decidiu que não é necessário lei complementar para dar completude ao art. 195, § 7º, da CF/88. Para a Corte, a lei na qual são previstas as exigências das entidades beneficentes de assistência social é uma lei ordinária. Antes,

era o art. 55 da Lei n. 8.112/91 e, atualmente, trata-se da Lei n. 12.101/2009.

Selo para controle de recolhimento de IPI não pode ser cobrado do contribuinte

É incompatível com a CF/88 o art. 3º do Decreto-Lei 1.437/75, que autorizava que o Fisco exigisse do contribuinte o ressarcimento pelo custo dos selos do IPI.

Assim, o selo para controle de recolhimento de IPI não pode ser cobrado do contribuinte, sob pena de violação ao princípio da legalidade tributária (art. 150, I, da CF/88).

STF. Plenário. RE 662113/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/2/2014.

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Selo de IPI Para realizar a fiscalização e cobrança do IPI incidente sobre determinados produtos, o Fisco federal utiliza-se de uma interessante sistemática: para a mercadoria ser comercializada, exige-se que nela esteja colado um “selo” produzido pela Casa da Moeda com determinada numeração. Como a mercadoria só pode ser vendida com o selo e, como este é fornecido pelo Governo, é possível controlar quantos produtos são vendidos e, assim, fazer a cobrança exata do tributo. Comercialização de “bebidas quentes” Um dos setores que é controlado por meio do selo de IPI é o das “bebidas quentes” (cachaça, uísque etc). Assim, quando uma fabricante de cachaça retira seu produto da indústria, ela já deverá ter afixado na garrafa o selo do IPI, conforme mostra a imagem abaixo:

Se o valor do IPI é de 50 centavos por cachaça e a empresa encomendou 100 mil selos de IPI, o Fisco já terá a quantia exata do tributo a ser pago (no caso, 50 mil reais). Custo do selo O problema é que esse selo, como já dito, é produzido na Casa da Moeda, em papel especial, razão pela qual tem um custo. No caso das bebidas quentes, segundo reportagem do jornal Valor Econômico, o selo custaria cerca de 3 centavos a unidade. Em grandes quantidades, representa um custo a mais signficativo. De quem é a responsabilidade pelo custo dos selos? Do Fisco federal (União), não podendo ser repassado ao contribuinte do IPI. O Governo federal exigia que as empresas pagassem pelo selo, utilizando como fundamento o art. 3º do

Decreto-Lei n. 1.437/75, que dispõe:

Art. 3º O Ministro da Fazenda poderá determinar seja feito, mediante ressarcimento de custo e demais encargos, em relação aos produtos que indicar e pelos critérios que estabelecer, o fornecimento do selo especial a que se refere o artigo 46 da Lei número 4.502, de 30 de novembro de 1964, com os parágrafos que lhe foram acrescidos pela alteração 12ª do artigo 2º do Decreto-lei nº 34, de 18 de novembro de 1966.

Ocorre que o STF julgou que esse art. 3º do Decreto-Lei n. 1.437/75 é incompatível com a CF/88, por violar o princípio da legalidade tributária (art. 150, I, da CF/88), bem como por vulnerar o art. 25, I, do ADCT:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

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Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13

Art. 25. Ficam revogados, a partir de cento e oitenta dias da promulgação da Constituição, sujeito este prazo a prorrogação por lei, todos os dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órgão do Poder Executivo competência assinalada pela Constituição ao Congresso Nacional, especialmente no que tange a: I - ação normativa;

Ora, somente por meio de lei em sentido formal seria possível exigir das empresas o pagamento pelo selo. O referido dispositivo impõe o ressarcimento pelo selo mediante ato do Ministro da Fazenda. Tal delegação foi revogada pelo art. 25, I, do ADCT da CF/88 e, atualmente, viola o princípio da legalidade.

Vale ressaltar, em reforço, que a gratuidade do selo é prevista expressamente no art. 46, § 1º da Lei n. 4.502/64:

Art. 46. O regulamento poderá determinar, ou autorizar que o Ministério da Fazenda, pelo seu órgão competente, determine a rotulagem, marcação ou numeração, pelos importadores, arrematantes, comerciantes ou repartições fazendárias, de produtos estrangeiros cujo contrôle entenda necessário, bem como prescrever, para estabelecimentos produtores e comerciantes de determinados produtos nacionais, sistema diferente de rotulagem, etiquetagem obrigatoriedade de numeração ou aplicação de sêlo especial que possibilite o seu contrôle quantitativo. § 1º O sêlo especial de que trata êste artigo será de emissão oficial e sua distribuição aos contribuintes será feita gratuitamente, mediante as cautelas e formalidades que o regulamento estabelecer.

Como o selo do IPI é uma pré-condição para a circulação dos produtos, não se pode falar que o pagamento por ele seja uma espécie de “preço público”. Isso porque não existe voluntariedade. As empresas são obrigadas a ter o selo. No preço público, existe o elemento da voluntariedade, ou seja, o usuário pode ou não se valer daquele serviço público. Já no caso do selo, repita-se, não existe essa opção. Ademais, o selo do IPI não gera nenhum proveito ao contribuinte, razão pela qual o seu fornecimento não pode ser considerado serviço público. O pagamento pelo selo mais se aproximaria, portanto, ao pagamento de uma “taxa” de poder de polícia (art. 77 do CTN), estando, portanto, submetida aos princípios tributários, dentre eles o da legalidade.

JULGADOS NÃO COMENTADOS

Homologação de sentença estrangeira e admissibilidade O Plenário, por maioria, não conheceu de recurso extraordinário no qual se impugnava acórdão do STJ, que homologara parcialmente sentença estrangeira. A referida Corte endossara o reconhecimento da paternidade, mas excluíra a verba alimentar, por considerar que a fixação de alimentos ofenderia a ordem pública, tendo em conta o parâmetro utilizado para a estipulação do valor, assim como o termo inicial — nascimento do alimentando — para o cumprimento da obrigação. De início, por maioria, rejeitou-se questão de ordem, suscitada pelo Ministro Ricardo Lewandowski, para que o julgamento fosse realizado de forma reservada. O Tribunal afirmou que a questão relativa à paternidade não estaria em jogo, porquanto já homologada, e que a discussão cingir-se-ia a aspecto estritamente processual. Na sequência, a Corte não vislumbrou matéria constitucional a ser apreciada pelo STF. Salientou a possibilidade de controle das decisões homologatórias de sentenças estrangeiras proferidas pelo STJ. Registrou, no entanto, a necessidade de rigor no exame da alegação de afronta à Constituição nessas hipóteses (CF, art. 102, II, a), sob pena de criação de nova instância revisional. O Colegiado destacou, ademais, que a recorrente invocara, genericamente, o princípio da dignidade da pessoa humana e o direito de igualdade entre os filhos, sem explicitar em que consistiriam as supostas vulnerações. Consignou, ainda, que a argumentação da recorrente estaria baseada em tratados e convenções internacionais que não possuiriam estatura

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Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14

constitucional. Vencidos os Ministros Marco Aurélio, relator, que conhecia do recurso extraordinário e lhe dava provimento, e o Ministro Dias Toffoli, que negava provimento ao recurso. O relator assentava o descabimento da revisão do tema de fundo da sentença estrangeira. O Ministro Dias Toffoli, por sua vez, entendia configurada a ofensa à ordem pública, uma vez que a sentença estrangeira padeceria de fundamentação no tópico relativo ao valor da pensão, já que não observado o binômio capacidade e necessidade. RE 598770/República Italiana, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 12.2.2014. (RE-598770)

CPI estadual e quebra de sigilo fiscal Em conclusão de julgamento, o Plenário, em virtude da perda superveniente de objeto, assentou o prejuízo de pedido formulado em ação cível originária, processada segundo o rito do mandado de segurança. A ação havia sido ajuizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – Alerj contra ato coator do Chefe da Superintendência Regional da Receita Federal na 7ª Região Fiscal. Na espécie, questionava-se decisão da mencionada autoridade, que, com base no dever do sigilo fiscal, negara pedido de transferência de dados fiscais relativos aos principais investigados em comissão parlamentar de inquérito - CPI, criada pela autora, destinada a apurar a ação de milícias no referido Estado-membro — v. Informativo 578. Na presente assentada, em voto-vista, o Ministro Dias Toffoli julgou prejudicado o pedido diante do encerramento das atividades da mencionada CPI. Não obstante, ressalvou seu entendimento quanto à possibilidade de CPI estadual obter informações dessa ordem, desde que observado o âmbito de poder e das competências que um Estado-membro teria. O Ministro Joaquim Barbosa, relator e Presidente, reajustou seu voto no sentido do prejuízo. ACO 1271/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 12.2.2014.

MP: legitimidade e situação de miserabilidade Constatada a situação de miserabilidade, o Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação penal, ainda que os genitores da vítima, menor, tenham se retratado. Com base nesse entendimento, a 2ª Turma denegou habeas corpus em que se pleiteava o trancamento de ação penal. Na espécie, discutia-se: a) a ilegitimidade da atuação do Ministério Público, porque os genitores da menor teriam se retratado antes do oferecimento da denúncia; b) a validade da retratação da retratação da representação feita pelo pai da vítima, ao argumento de vício de consentimento, porque desconheceria os termos do documento que a ele fora apresentado por advogada; c) a modalidade de ação penal — privada — do crime pelo qual o paciente fora condenado, porque vigente, à época, a redação originária do art. 225 do CP (Nos crimes definidos nos capítulos anteriores, somente se procede mediante queixa); d) a ausência de prova, nos autos, da situação de miserabilidade da família da vítima; e e) a decadência, porque o direito de queixa não fora exercido pela vítima ou seu representante legal no prazo de 6 meses. Inicialmente, a Turma registrou que o pai da menor declarara, em juízo, sua situação de pobreza. Consignou que esta Corte já firmara entendimento no sentido de que a mera declaração de pobreza seria suficiente para comprovar a miserabilidade da vítima e de seus representantes. Seria admitido ao parquet, inclusive, basear-se em presunção acerca dessa situação. Nesse ponto, concluiu ser impossível acolher a tese de ilegitimidade do Ministério Público para o oferecimento da ação penal. No que diz respeito aos atos de retratação, a Turma asseverou que o tribunal de origem reconhecera a imprestabilidade da retratação da retratação e, ainda, julgara eivada de vícios a retratação da representação e, portanto, válida para o oferecimento da denúncia, afastada a decadência. HC 115196/RR, rel. Min Gilmar Mendes, 11.2.2014.

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OUTRAS INFORMAÇÕES

R E P E R C U S S Ã O G E R A L DJe de 17 a 21 de fevereiro de 2014

REPERCUSSÃO GERAL EM ARE 748.445-SC

RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA. LEI 6.496/1977.

MANIFESTAÇÃO DO EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA. NATUREZA DE TAXA. SUBMISSÃO AO PRINCÍPIO DA ESTRITA LEGALIDADE. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

O Tribunal reconheceu a existência de repercussão geral da matéria debatida nos presentes autos, para reafirmar a jurisprudência desta Corte, no

sentido de que a Anotação de Responsabilidade Técnica, instituída pela Lei Lei 6.496/1977, cobrada pelos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, tem natureza jurídica de taxa, sendo, portanto, necessária a observância do princípio da legalidade tributária previsto no art.

150, I, da Constituição. Em consequência, conheceu do recurso extraordinário, desde já, mas lhe negou provimento.

Decisões Publicadas: 1

C L I P P I N G D O D JE 17 a 21 de fevereiro de 2014

ADI N. 2.588-DF

RED P/ O ACÓRDÃO : MIN. JOAQUIM BARBOSA

EMENTA: TRIBUTÁRIO. INTERNACIONAL. IMPOSTO DE RENDA E PROVENTOS DE QUALQUER NATUREZA. PARTICIPAÇÃO DE

EMPRESA CONTROLADORA OU COLIGADA NACIONAL NOS LUCROS AUFERIDOS POR PESSOA JURÍDICA CONTROLADA OU COLIGADA SEDIADA NO EXTERIOR.

LEGISLAÇÃO QUE CONSIDERA DISPONIBILIZADOS OS LUCROS NA DATA DO BALANÇO EM QUE TIVEREM SIDO APURADOS

(“31 DE DEZEMBRO DE CADA ANO”). ALEGADA VIOLAÇÃO DO CONCEITO CONSTITUCIONAL DE RENDA (ART. 143, III DA CONSTITUIÇÃO).

APLICAÇÃO DA NOVA METODOLOGIA DE APURAÇÃO DO TRIBUTO PARA A PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS APURADA EM 2001.

VIOLAÇÃO DAS REGRAS DA IRRETROATIVIDADE E DA ANTERIORIDADE. MP 2.158-35/2001, ART. 74. LEI 5.720/1966, ART. 43, § 2º (LC 104/2000). 1. Ao examinar a constitucionalidade do art. 43, § 2º do CTN e do art. 74 da MP 2.158/2001, o Plenário desta Suprema Corte se dividiu em quatro

resultados:

1.1. Inconstitucionalidade incondicional, já que o dia 31 de dezembro de cada ano está dissociado de qualquer ato jurídico ou econômico necessário ao pagamento de participação nos lucros;

1.2. Constitucionalidade incondicional, seja em razão do caráter antielisivo (impedir “planejamento tributário”) ou antievasivo (impedir sonegação) da

normatização, ou devido à submissão obrigatória das empresas nacionais investidoras ao Método de de Equivalência Patrimonial – MEP, previsto na Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/1976, art. 248);

1.3. Inconstitucionalidade condicional, afastada a aplicabilidade dos textos impugnados apenas em relação às empresas coligadas, porquanto as

empresas nacionais controladoras teriam plena disponibilidade jurídica e econômica dos lucros auferidos pela empresa estrangeira controlada; 1.4. Inconstitucionalidade condicional, afastada a aplicabilidade do texto impugnado para as empresas controladas ou coligadas sediadas em países de

tributação normal, com o objetivo de preservar a função antievasiva da normatização.

2. Orientada pelos pontos comuns às opiniões majoritárias, a composição do resultado reconhece: 2.1. A inaplicabilidade do art. 74 da MP 2.158-35 às empresas nacionais coligadas a pessoas jurídicas sediadas em países sem tributação favorecida,

ou que não sejam “paraísos fiscais”;

2.2. A aplicabilidade do art. 74 da MP 2.158-35 às empresas nacionais controladoras de pessoas jurídicas sediadas em países de tributação favorecida, ou desprovidos de controles societários e fiscais adequados (“paraísos fiscais”, assim definidos em lei);

2.3. A inconstitucionalidade do art. 74 par. ún., da MP 2.158-35/2001, de modo que o texto impugnado não pode ser aplicado em relação aos lucros

apurados até 31 de dezembro de 2001. Ação Direta de Inconstitucionalidade conhecida e julgada parcialmente procedente, para dar interpretação conforme ao art. 74 da MP 2.158-35/2001,

bem como para declarar a inconstitucionalidade da clausula de retroatividade prevista no art. 74, par. Ún., da MP 2.158/2001.

*noticiado no Informativo 701

EMB. DECL. NA PPE N. 623-REPÚBLICA DO LÍBANO

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA PRISÃO PREVENTIVA PARA EXTRADIÇÃO. ALEGAÇÕES DE OMISSÃO E

CONTRADIÇÃO: INEXISTÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DA CAUSA. EMBARGOS REJEITADOS. 1. Ausência de obscuridade, omissão, ambiguidade ou contradição a ser sanada pelos embargos declaratórios.

2. São incabíveis embargos de declaração quando a parte, a pretexto de esclarecer inexistente obscuridade, omissão ou contradição, utiliza-os com o

objetivo de infringir o julgado e, assim, viabilizar indevido reexame da causa. Precedentes. 3. Embargos de Declaração rejeitados.

EMB. DECL. NA Rcl N. 12.316-GO

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

Embargos de declaração em reclamação. 2. Decisão monocrática. 3. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental. 4. Violação

à autoridade de decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal. 5. Não ocorrência. 6. Alegada não aplicação, por Governador de Estado,

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Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16

de lei declarada constitucional em ação direta de inconstitucionalidade. 7. Suposta violação de lei que não necessariamente constitui ofensa à

decisão do STF. 8. Agravo regimental a que se nega provimento.

RE N. 561.836-RN

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

EMENTA: 1) Direito monetário. Conversão do padrão monetário: Cruzeiro Real em URV. Direito aos 11,98%, ou do índice decorrente do processo

de liquidação, e a sua incorporação. Competência privativa da União para legislar sobre a matéria. Art. 22, inciso VI, da Constituição da República. Inconstitucionalidade formal da lei estadual nº 6.612/94 que regula o tema da conversão do Cruzeiro Real em URV.

2) O direito ao percentual de 11,98%, ou do índice decorrente do processo de liquidação, na remuneração do servidor, resultante da equivocada

conversão do Cruzeiro Real em URV, não representa um aumento na remuneração do servidor público, mas um reconhecimento da ocorrência de indevido decréscimo no momento da conversão da moeda em relação àqueles que recebem seus vencimentos em momento anterior ao do término do

mês trabalhado, tal como ocorre, verbi gratia, no âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário por força do art. 168 da Constituição da

República. 3) Consectariamente, o referido percentual deve ser incorporado à remuneração dos aludidos servidores, sem qualquer compensação ou abatimento

em razão de aumentos remuneratórios supervenientes.

4) A limitação temporal do direito à incorporação dos 11,98% ou do índice decorrente do processo de liquidação deve adstringir-se ao decisum na ADI nº 2.323-MC/DF e na ADI nº 2.321/DF.

5) O término da incorporação dos 11,98%, ou do índice obtido em cada caso, na remuneração deve ocorrer no momento em que a carreira do servidor

passa por uma restruturação remuneratória, porquanto não há direito à percepção ad aeternum de parcela de remuneração por servidor público. 6) A irredutibilidade estipendial recomenda que se, em decorrência da reestruturação da carreira do servidor, a supressão da parcela dos 11,98%, ou

em outro percentual obtido na liquidação, verificar-se com a redução da remuneração, o servidor fará jus a uma parcela remuneratória (VPNI) em

montante necessário para que não haja uma ofensa ao princípio, cujo valor será absorvido pelos aumentos subsequentes. 7) A reestruturação dos cargos no âmbito do Poder Judiciário Federal decorreu do advento da Lei nº 10.475/2002, diploma legal cuja vigência deve

servir de termo ad quem para o pagamento e incorporação dos 11,98% no âmbito do referido Poder.

8) Inconstitucionalidade. 9) Recurso extraordinário interposto pelo estado do Rio Grande do Norte conhecido e parcialmente provido, porquanto descabida a pretensa compensação

do percentual devido ao servidor em razão da ilegalidade na conversão de Cruzeiros Reais em URV com aumentos supervenientes a título de reajuste e

revisão de remuneração, restando, por outro lado, fixado que o referido percentual será absorvido no caso de reestruturação financeira da carreira, e declarada incidenter tantum a inconstitucionalidade da Lei n° 6.612, de 16 de maio de 1994, do estado do Rio Grande do Norte.

*noticiado no Informativo 721

HC N. 119.46-SP

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. CRIME CONTRA A ECONOMIA POPULAR. IMPOSIÇÃO DE REGIME

INICIAL MAIS GRAVOSO. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. POSSIBILIDADE. PRETENSÃO DE AFASTAMENTO DAS

CONCLUSÕES DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. NECESSIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS IMPRÓPRIO NA VIA ELEITA. ORDEM DENEGADA.

1. Não há nulidade na decisão que fixa o regime inicial mais gravoso considerando-se as circunstâncias judiciais desfavoráveis (Código Penal, arts.

33, § 3º e 59), não se prestando o habeas corpus para ponderar, em concreto, a suficiência daquelas circunstâncias: Precedentes. 2. O reexame dos elementos de convicção considerados pelas instâncias ordinárias na avaliação das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código

Penal demandaria o revolvimento do conjunto probatório, o que ultrapassa os limites do procedimento sumário e documental do habeas corpus. 3. Ordem denegada

AG. REG. NO ARE N. 705.661-BA

RELATORA: MIN. ROSA WEBER

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDORES PÚBLICOS FEDERAIS. VANTAGEM PECUNIÁRIA INDIVIDUAL. REAJUSTE. LEI 10.698/2003. ALEGADA CONTRARIEDADE AO ART. 37, X, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. DEBATE

INFRACONSTITUCIONAL. AUMENTO DE VENCIMENTOS DE SERVIDORES PÚBLICOS PELO PODER JUDICIÁRIO SOB O

FUNDAMENTO DA ISONOMIA. IMPOSSIBILIDADE. ÓBICE DA SÚMULA 339/STF. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 22.9.2011.

O exame da alegada ofensa ao art. 37, X, da Constituição Federal, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à espécie,

Lei 10.698/2003, o que refoge à competência jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da Constituição Federal. Divergir do entendimento do acórdão recorrido quanto à natureza do pagamento da vantagem no valor fixo de R$ 59,87 (cinquenta e nove reais e

oitenta e sete centavos), estabelecida pela Lei 10.698/03, se revisão geral ou vantagem pecuniária individual, demandaria a análise de legislação

infraconstitucional aplicada à espécie, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa, insuscetível, portanto, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário.

Na esteira da jurisprudência desta Corte, a equiparação de vencimentos requer a edição de lei específica, razão pela qual não se admite a extensão,

pela via judicial, de vantagem de natureza pessoal, legalmente instituída, a pretexto de se empregar tratamento isonômico. Óbice da Súmula 339/STF. As razões do agravo regimental não são aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada, mormente no que se refere à ausência de

ofensa direta e literal a preceito da Constituição da República.

Agravo regimental conhecido e não provido.

AG. REG. NO ARE N. 737.494-PR

RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

AGRAVO – OBJETO. Visando o agravo a fulminar certa decisão, a minuta deve estar direcionada a infirmá-la. O silêncio quanto ao fundamento

consignado conduz, por si só, à manutenção do que assentado.

AG. REG. NO AI N. 745.326-RO

RELATORA: MIN. ROSA WEBER

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SERVIDOR. REINTEGRAÇÃO. ESTADO DE RONDÔNIA. LEI ESTADUAL

1.196/2003 E DECRETOS ESTADUAIS 8.954, 8.955 E 9.044/2000 . EXAME DE LEGISLAÇÃO LOCAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA 280/STF. INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI PELO ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE ORIGEM. AUSÊNCIA DE

JUNTADA DO INTEIRO TEOR DO ACÓRDÃO. IMPOSSIBILIDADE DE CONHECIMENTO DOS FUNDAMENTOS ADOTADOS.

PRECEDENTES. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO EM 05.8.2008. Tendo a Corte Regional dirimido a lide com espeque em interpretação de legislação local, incide, na espécie, o óbice da Súmula 280/STF : “Por

ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário”.

Page 17: Info 735 Stf

Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17

A jurisprudência desta Corte entende necessária a juntada do inteiro teor do acórdão em que examinada, pelo plenário ou órgão especial do Tribunal

de origem, a constitucionalidade da lei impugnada via recurso extraordinário. Na espécie, ausente a cópia do incidente de inconstitucionalidade no

qual o Pleno do Tribunal a quo analisou a Lei Estadual 1.196/2003. Precedentes. Agravo regimental conhecido e não provido.

AG. REG. NO RE N. 635.398-SC

RELATORA: MIN. ROSA WEBER

EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS E COFINS. BASE DE CÁLCULO. SALÁRIOS E ENCARGOS SOCIAIS. EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS TERCEIRIZADOS. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO

EM 04.8.2010.

O Tribunal de origem decidiu em sintonia com a jurisprudência firmada por esta Corte, no sentido de que, por se tratarem, receita bruta e faturamento, de termos juridicamente equivalentes, significando, ambos, o total dos valores auferidos com a venda de mercadorias, de serviços ou de mercadorias e

serviços, afigura-se inviável a exclusão dos salários e encargos sociais dos trabalhadores temporários da base de cálculo do PIS e da COFINS devido

pelas empresas prestadoras de serviço de locação de mão de obra temporária. Agravo regimental conhecido e não provido.

AG. REG. NA Rcl N. 15.607-SC

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL. INVESTIDURA NO CARGO DE JUIZ FEDERAL

SUBSTITUTO. AJUDA DE CUSTO. MATÉRIA DE INTERESSE DE TODA A MAGISTRATURA. COMPETÊNCIA DO SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL: ART. 102, INC. I, ALÍNEA N, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL

AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

EMB. DECL. NO ARE N. 747.825-SC

RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS DE DECISÃO MONOCRÁTICA. CONVERSÃO EM AGRAVO

REGIMENTAL. TERRENO DE MARINHA. TAXA DE OCUPAÇÃO. PROCESSO DEMARCATÓRIO. INTIMAÇÃO DOS INTERESSADOS. INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA INDIRETA. DISCUSSÃO SOBRE A TITULARIDADE DO

IMÓVEL. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO STF. ALEGAÇÃO

DE CONTRARIEDADE AO ART. 5º, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. OFENSA REFLEXA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

I – É inadmissível o recurso extraordinário quando sua análise implica rever a interpretação de legislação infraconstitucional que fundamenta a

decisão a quo. A afronta à Constituição, se ocorrente, seria apenas indireta. II – Para dissentir da conclusão adotada pelo Tribunal de origem, quanto à titularidade do imóvel objeto da demanda, necessário seria o reexame do

conjunto fático-probatório constante dos autos, circunstância que torna inviável o recurso, nos termos da Súmula 279 do STF.

III – Esta Corte firmou orientação no sentido de ser inadmissível, em regra, a interposição de recurso extraordinário para discutir matéria relacionada à ofensa aos princípios constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, quando a verificação dessa alegação depender de

exame prévio de legislação infraconstitucional, por configurar situação de ofensa reflexa ao texto constitucional. Precedentes.

IV – Agravo regimental a que se nega provimento.

HC N. 117.063-MG

RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. DUPLO HOMICÍDIO QUALIFICADO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. PERICULOSIDADE CONCRETA E

MODO DE EXECUÇÃO DOS DELITOS. CONDIÇÕES SUBJETIVAS DA PACIENTE. IRRELEVÂNCIA NO CASO. ORDEM DENEGADA.

1. Os fundamentos utilizados revelam-se idôneos para manter a segregação cautelar do paciente, na linha de precedentes desta Corte. É que a decisão aponta de maneira concreta a necessidade de garantir a ordem pública, consubstanciada nas circunstâncias em que os delitos foram praticados

(motivação e modo de execução), e por conveniência da instrução criminal, ante a possibilidade de intimidação de testemunhas.

2. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a primariedade, a residência fixa e a ocupação lícita não possuem o condão de impedir a prisão cautelar, quando presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal, como ocorre no caso.

3. Ordem denegada.

RHC N. 120.387-SP

RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. PROCESSO PENAL. FRAUDE À LICITAÇÃO.

ALEGAÇÃO DE DESVIO DE RECURSOS DA UNIÃO. INOCORRÊNCIA. VERBA INCORPORADA AO MUNICÍPIO. COMPETÊNCIA DA

JUSTIÇA ESTADUAL. REVOLVIMENTO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. POSSIBILIDADE. RECURSO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

I - Eventual irregularidade na aplicação dos recursos em questão, decorrente de supostas fraudes em disputa de licitação, fere diretamente o

patrimônio do Município, tudo em decorrência da atuação dos gestores locais. II - A análise do mérito demanda o revolvimento de matéria fático-probatória, porquanto ausente prova robusta do alegado convênio com o Ministério

da Educação e Cultura (MEC) ou de que a verba não foi incorporada ao patrimônio do Município, o que é vedado na estreita via do habeas corpus.

III - Estando devidamente motivado o quantum de pena fixado pelo juízo monocrático, além de proporcional ao caso em apreço, é certo que não se pode utilizar “o habeas corpus para realizar novo juízo de reprovabilidade, ponderando, em concreto, qual seria a pena adequada ao fato pelo qual

condenado o Paciente” (HC 94.655/MT, Rel. Min. Cármen Lúcia).

IV – Recurso ao qual se nega provimento

ADI N. 2.729-RN

RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES

GARANTIAS E PRERROGATIVAS DE PROCURADORES DO ESTADO. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL. Ação direta de

inconstitucionalidade. 2. Impugnados dispositivos da Lei Complementar n. 240, de 27 de junho de 2002, do Estado do Rio Grande do Norte. 3. Ação julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do inciso I e §§ 1º e 2º do artigo 86 e incisos V, VI, VIII e IX do artigo 87. 3. Reconhecida a

inconstitucionalidade da expressão “com porte de arma, independente de qualquer ato formal de licença ou autorização”, contida no art. 88 da lei

impugnada. *noticiado no Informativo 711

ADI N. 2.729-RN

RED P/ O ACÓRDÃO: MIN. GILMAR MENDES

Page 18: Info 735 Stf

Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18

GARANTIAS E PRERROGATIVAS DE PROCURADORES DO ESTADO. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL. Ação direta de

inconstitucionalidade. 2. Impugnados dispositivos da Lei Complementar n. 240, de 27 de junho de 2002, do Estado do Rio Grande do Norte. 3. Ação

julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do inciso I e §§ 1º e 2º do artigo 86 e incisos V, VI, VIII e IX do artigo 87. 3. Reconhecida a inconstitucionalidade da expressão “com porte de arma, independente de qualquer ato formal de licença ou autorização”, contida no art. 88 da lei

impugnada.

*noticiado no Informativo 711

ADI N. 4.617-DF

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO ELEITORAL. PROPAGANDA PARTIDÁRIA IRREGULAR.

REPRESENTAÇÃO. LEGITIMIDADE. ART. 45, § 3º, DA LEI Nº 9.096/95. DIREITO DE ANTENA. ART. 17, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO.

ESTREITA CONEXÃO COM PRINCÍPIOS DEMOCRÁTICOS. MORALIDADE ELEITORAL. IGUALDADE DE CHANCES ENTRE

OS PARTIDOS POLÍTICOS (CHANCENGLEICHHEIT DER PARTEIEN). DEFESA DAS MINORIAS. LEGITIMIDADE INAFASTÁVEL

DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA A DEFESA DA ORDEM JURÍDICA, DO REGIME DEMOCRÁTICO E DOS INTERESSES

SOCIAIS INDISPONÍVEIS. ARTIGOS 127 E 129 DA CONSTITUIÇÃO. AÇÃO DIRETA JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1. A propaganda partidária, organizada pelos partidos políticos, no afã de difundir suas ideias e propostas para a cooptação de filiados, bem como para

enraizar suas plataformas e opiniões na consciência da comunidade, deriva do chamado direito de antena, assegurado aos partidos políticos pelo art. 17, § 3º, da Constituição.

2. A regularidade da propaganda partidária guarda estreita conexão com princípios caros ao Direito Eleitoral, como a igualdade de chances entre os

partidos políticos, a moralidade eleitoral, a defesa das minorias, e, em última análise, a Democracia. 3. O princípio da igualdade de chances entre os partidos políticos é elemento basilar das mais modernas democracias ocidentais, a impedir o arbitrário

assenhoramento do livre mercado de ideias por grupos opressores (JÜLICH, Christian. Chancengleichheit der Parteien: zur Grenze staatlichen

Handelns gegenuber den politischen Parteien nach dem Grundgesetz. Berlim: Duncker & Humblot, 1967. p. 65; CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ª ed. Coimbra: Almedina, 2000. p. 320).

4. As questões relativas à propaganda partidária não são meras contendas privadas, avultando o caráter público da matéria diante do art. 17 da

Constituição, que estabelece parâmetros claros para o funcionamento dos partidos, resguardando a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana, dentre outros preceitos.

5. A legitimidade do Ministério Público para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais indisponíveis, não pode ser

verberada, máxime diante da normativa constitucional insculpida nos artigos 127 e 129 da Constituição. 6. O dispositivo que restringe a legitimidade para a propositura de representação por propaganda partidária irregular afronta múltiplos preceitos

constitucionais, todos essencialmente vinculados ao regime democrático. Doutrina (GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 7ª ed. São Paulo: Atlas,

2011. p. 324; CÂNDIDO, Joel. Direito Eleitoral brasileiro. 14ª ed. Bauru: Edipro, 2010. p. 71). 7. A representação de que trata o art. 45, § 3º, da Lei nº 9.096/95 pode ser ajuizada por partido político ou pelo Ministério Público, mercê da

incidência do art. 22, caput, da Lei Complementar nº 64/90 , verbis: “Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral

poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar (…) utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de

candidato ou de partido político”. Exclui-se, nessas hipóteses, a legitimidade de candidatos e coligações, porquanto a propaganda partidária é

realizada fora do período eleitoral. 8. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 45, § 3º, da Lei nº

9.096/95, estabelecendo a legitimidade concorrente dos partidos políticos e do Ministério Público Eleitoral para a propositura da reclamação de que trata o dispositivo.

*noticiado no Informativo 711

RMS N. 31.972-DF

RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

EMENTA: Recurso ordinário em mandado de segurança. Licitação. Pregão. Atestado de capacidade técnica. Aplicação de penalidade à

licitante. Recurso ordinário em mandado de segurança provido. Ordem concedida. 1. Ausentes o prejuízo para a Administração Pública e a demonstração de dolo ou má-fé por parte da licitante, não há subsunção do fato ao art. 7º da Lei nº 10.520/02.

2. Recurso ordinário em mandado de segurança provido para, reformando a decisão do e. STJ, conceder a ordem.

*noticiado no Informativo 731

TERCEIRO AG. REG. NO SEGUNDO AG. REG. NO RE N. 466.732-RS

RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO – SENTENÇA PROFERIDA EM PROCESSO COLETIVO – EXECUÇÃO CONTRA FAZENDA PÚBLICA -

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. O Tribunal, por meio da sistemática da repercussão geral, assentou que não viabiliza recurso extraordinário o tema alusivo à cobrança de honorários advocatícios em execução contra a Fazenda Pública.

AG. REG. NO ARE N. 685.870-MG

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. POLICIAL CIVIL. LIMITE DE IDADE. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

1. A comprovação do requisito etário estabelecido na lei deve ocorrer no momento da inscrição no certame, e não no momento da inscrição do curso

de formação.

MED. CAUT. EM ADI N. 4.992-RO

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES

EMENTA: 1. Medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade. 2. Lei 2.264/2010, do Estado de Rondônia, que dispõe sobre a criação do Município

de Extrema de Rondônia, a partir de desmembramento de área territorial do Município de Porto Velho, fixa os seus limites, bem como informa os Distritos que integrarão a municipalidade criada. 3. Autorização, pelo Tribunal Superior Eleitoral, apenas para realização de consulta plebiscitária. 4. Violação ao

art. 18, § 4º, da Constituição Federal. Inexistência de Lei Complementar Federal. Impossibilidade de criação, fusão, incorporação ou desmembramento de

novos municípios antes do advento dessa legislação. Precedentes. 5. A Emenda Constitucional nº 57/2008 não socorre a lei impugnada, editada no ano de 2010. 6. Medida cautelar deferida para suspender a vigência da Lei 2.264/2010, do Estado de Rondônia.

*noticiado no Informativo 712

AG. REG. NO ARE N. 682.101-GO

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Page 19: Info 735 Stf

Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO

PÚBLICO. POLÍCIA MILITAR. QUESTÃO NÃO PREVISTA NO EDITAL DO CERTAME. ANULAÇÃO. REEXAME DO CONJUNTO

FÁTICO-PROBATÓRIO E DE CLÁUSULAS EDITALÍCIAS. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 279 E 454 DO STF. 1. A anulação, por via judicial, de questões de prova objetiva de concurso público, quando sub judice a controvérsia sobre a vinculação da

Administração Pública ao edital, demanda análise das cláusulas do certame, bem como o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que atrai

a incidência das Súmulas 279 e 454 desta Corte. 2. O recurso extraordinário não se presta ao exame de questões que demandam revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, adstringindo-se

à análise da violação direta da ordem constitucional.

3. A interpretação de cláusulas editalícias não viabiliza o recurso extraordinário, a teor do Enunciado da Súmula 454 do Supremo Tribunal Federal. 4. In casu, o acórdão recorrido assentou: “MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE GOIÁS.

AUSÊNCIA DE PREVISÃO EDITALÍCIA DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO EXIGIDO. ILEGALIDADE. ANULAÇÃO DA QUESTÃO”.

5. Agravo regimental DESPROVIDO.

AG. REG. NO AI N. 674.339-SP

RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

EMENTA: IMUNIDADE. ENTIDADE EDUCACIONAL. ARTIGO 150, INCISO VI, ALÍNEA C, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. IPTU.

IMÓVEL VAGO. FINALIDADES ESSENCIAIS. PRESUNÇÃO. ÔNUS DA PROVA. PRECEDENTES. 1. A condição de um imóvel estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para destituir a garantia constitucional da imunidade.

2. A regra da imunidade se traduz numa negativa de competência, limitando, a priori, o poder impositivo do Estado.

3. Na regra imunizante, como a garantia decorre diretamente da Carta Política, mediante decote de competência legislativa, as presunções sobre o enquadramento originalmente conferido devem militar a favor das pessoas ou entidades que se socorrem da norma constitucional.

4. Quanto à imunidade prevista no art. 150, inciso VI, alínea c, da Constituição Federal, o ônus de elidir a presunção de vinculação às atividades

essenciais é do Fisco. 5. A não utilização temporária do imóvel deflagra uma neutralidade, não atentando contra os requisitos autorizadores da imunidade. Precedentes da

Corte.

6. Agravo regimental não provido.

EMB. DECL. NOS EMB. DECL. NO HC N. 109.676-RJ

RELATOR: MIN. LUIZ FUX

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO HABEAS

CORPUS. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO E OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA. INJÚRIA QUALIFICADA. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO

DO PACIENTE. REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. IMPOSSIBILIDADE. MATÉRIA DEVIDAMENTE APRECIADA NA IMPETRAÇÃO.

EFEITOS INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO. ARQUIVAMENTO IMEDIATO DOS AUTOS. 1. A revisão do julgado, com manifesto caráter infringente, revela-se inadmissível, em sede de embargos. (Precedentes: AI n. 799.509-AgR-ED, Relator o Ministro

Marco Aurélio, 1ª Turma, DJe de 8/9/2011; e RE n. 591.260-AgR-ED, Relator o Ministro Celso de Mello, 2ª Turma, DJe de 9/9/2011).

2. A omissão, contradição ou obscuridade, quando inocorrentes, tornam inviável a revisão em sede de embargos de declaração, em face dos estreitos limites do art. 535 do CPC.

3. A interposição de sucessivos recursos com nítido intuito protelatório é prática repudiada no âmbito desta Corte, dando ensejo ao imediato

arquivamento dos autos, independentemente da publicação deste acórdão e do seu respectivo trânsito em julgado. Precedentes: ARE 665.384-AgR-ED, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 04/09/2012; AI 727.244-AgR-ED-ED, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJe de

19/10/2012; AI 746.016-AgR-ED-ED, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe de 11/02/2010; e AI 362.828-AgR-ED-ED-EDv-AgR-ED, Rel. Min. Cezar Peluso, Tribunal Pleno, DJ de 06/10/2006.

4. In casu , a) o acórdão embargado assentou que: “i) A Lei nº 9.459/97 acrescentou o § 3º ao artigo 140 do Código Penal, dispondo sobre o tipo

qualificado de injúria, que tem como escopo a proteção do indivíduo contra a exposição a ofensas ou humilhações, pois não seria possível acolher a liberdade que fira direito alheio, mormente a honra subjetiva. ii) O legislador ordinário atentou para a necessidade de assegurar a prevalência dos

princípios da igualdade, da inviolabilidade da honra e da imagem das pessoas para, considerados os limites da liberdade de expressão, coibir

qualquer manifestação preconceituosa e discriminatória que atinja valores da sociedade brasileira, como o da harmonia inter-racial, com repúdio ao discurso de ódio. iii) A pretensão de ser alterada por meio de provimento desta Corte a sanção penal prevista em lei para o tipo de injúria

qualificada implicaria a formação de uma terceira lei, o que, via de regra, é vedado ao Judiciário. Precedentes. iv) O pleito de reconhecimento da

atipicidade ou de desclassificação da conduta, do tipo de injúria qualificada para o de injúria simples, igualmente não pode ser acolhido, por implicar revolvimento de matéria fático-probatória, não admissível na via do writ. b) o embargante/paciente foi condenado à pena de um ano e

quatro meses de reclusão, substituída por uma pena restritiva de direito consistente em prestação de serviço à comunidade e à prestação pecuniária

de 16 (dezesseis) cestas básicas, de valor não inferior a R$ 100,00 (cem reais), em virtude de infração do disposto no artigo 140, § 3º, do Código Penal, a saber, injúria qualificada pelo preconceito”.

5. Embargos de declaração não conhecidos, com determinação de imediato arquivamento dos autos.

HC N. 120.550-PR

RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO

EMENTA: HABEAS CORPUS. IMPORTAÇÃO FRAUDULENTA DE CIGARROS. CONTRABANDO. 1. A importação clandestina de cigarros estrangeiros

caracteriza crime de contrabando e não de descaminho. Precedentes. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal não admite a aplicação do princípio da insignificância ao delito de contrabando. 3. Habeas corpus denegado.

HC N. 117.599-SP

RELATORA: MIN. ROSA WEBER

EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. SUBSTITUTIVO DE RECURSO CONSTITUCIONAL. INADEQUAÇÃO DA

VIA ELEITA. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. ARTIGO 302 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO NACIONAL.

EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. CIRCUNSTÂNCIAS ELEMENTARES DO DELITO. CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. 1. Contra a denegação de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal remédio jurídico expresso, o recurso ordinário. Diante da

dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República, a impetração de novo habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia o instituto recursal

próprio, em manifesta burla ao preceito constitucional. 2. A dosimetria da pena é matéria sujeita a certa discricionariedade judicial. O Código Penal não estabelece rígidos esquemas matemáticos ou regras

absolutamente objetivas para a fixação da pena. Cabe às instâncias ordinárias, mais próximas dos fatos e das provas, fixar as penas. Às Cortes

Superiores, no exame da dosimetria das penas em grau recursal, compete o controle da legalidade e da constitucionalidade dos critérios empregados, bem como a correção de eventuais discrepâncias, se gritantes ou arbitrárias, nas frações de aumento ou diminuição adotadas pelas instâncias

anteriores.

Page 20: Info 735 Stf

Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20

3. A ponderação das circunstâncias elementares do tipo no momento da aferição do cálculo da pena-base configura ofensa ao princípio do non bis in

idem.

4. A inobservância do dever de cuidado caracterizador da imprudência decorreu da condução do veículo, pelo paciente, em via pública com desrespeito aos limites de velocidade, ocasionando a morte da vítima, circunstâncias elementares do tipo.

4. À míngua de outras circunstâncias judiciais desfavoráveis, a pena-base há de permanecer no mínimo legal.

5. Ordem concedida de ofício. *noticiado no Informativo 731

RHC N. 116.950-ES

RELATORA: MIN. ROSA WEBER

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. DOLO EVENTUAL.

CULPA CONSCIENTE. PRONÚNCIA. TRIBUNAL DO JÚRI.

1. Admissível, em crimes de homicídio na direção de veículo automotor, o reconhecimento do dolo eventual, a depender das circunstâncias concretas da conduta. Precedentes.

2. Mesmo em crimes de trânsito, definir se os fatos, as provas e as circunstâncias do caso autorizam a condenação do paciente por homicídio doloso

ou se, em realidade, trata-se de hipótese de homicídio culposo ou mesmo de inocorrência de crime é questão que cabe ao Conselho de Sentença do Tribunal do Júri.

3. Não cabe na pronúncia analisar e valorar profundamente as provas, pena inclusive de influenciar de forma indevida os jurados, de todo suficiente a

indicação, fundamentada, da existência de provas da materialidade e autoria de crime de competência do Tribunal do Júri. 4. Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento.

AG. REG. NO RE N. 775.344-DF

RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. 1. ALTERAÇÃO DAS REGRAS DO EDITAL NO CURSO DO PROCESSO SELETIVO: IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTE. 2. NATUREZA DAS MODIFICAÇÕES

IMPOSTAS. NECESSÁRIA ANÁLISE DAS CLÁUSULAS DO EDITAL. SÚMULA N. 454 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO

REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

Acórdãos Publicados: 528

TRANSCRIÇÕES

Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais

aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham

despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica.

HC substitutivo de recurso ordinário e admissibilidade (Transcrições)

(v. Informativo 733)

HC 113.198/PI*

RELATOR: Ministro Dias Toffoli

VOTO: Conforme relatado, volta-se esta impetração contra ato do Tribunal Superior Eleitoral, o qual denegou a ordem no HC nº 1580 -76.2011.6.00.0000/PI, Relator o Ministro Arnaldo Versiani.

Narra a impetrante, na inicial, que

“(...) [o] paciente foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral, na Ação Penal nº 15/2009 (fls. 29/31), como incurso nas penas dos

artigos 350 do CE c/c art. 29 do CP, sob a alegação de falsidade ideológica eleitoral, por ter firmado declaração assegurando que os co-réus ** e ** residiam há 03 (três) anos no povoado Crispim, Zona Rural do município de Nazária/PI, com a finalidade de efetivar transferência de

domicílio eleitoral destes. A denúncia foi recebida em 15 de abril de 2009.

Foi oferecida a proposta de transação penal que, tendo sido aceita pelos denunciados, foi revogada em relação ao ora paciente em

virtude de este ter sido denunciado em outro processo – a Ação Penal nº 17/2009 (fls. 63/65) – como incurso nas penas dos artigos 289 e 350

do CE c/c art. 29 do CP, sob a alegação de inscrição fraudulenta e falsidade ideológica eleitoral, por ter fornecido declaração de que as co-

rés **, ** e **, residiam no Povoado Crispim, Zona Rural do município de Nazária/PI, com a finalidade de efetivar a transferência de domicílio eleitoral destes a fim de que supostamente favorecessem o co-réu ** no pleito eleitoral.

No que se refere à Ação Penal nº 17/2009, a denúncia foi recebida pelo MM. Juiz Eleitoral da 97ª Zona em 30 de junho de 2009. Foi

oferecida proposta de suspensão condicional do processo a todos os réus da Ação Penal nº 17/2009, excluídos o paciente e o denunciado**, pelas razões acima expostas.

Considerando que os fatos imputados ao paciente são manifestamente atípicos, a Defensoria Pública da União impetrou Habeas

Corpus no Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Piauí, com vistas ao trancamento de ambas as ações penais (fls. 02/16). Após as informações do Juiz da Zona Eleitoral (fls. 119/120), a Corte Regional, na Sessão de Julgamento realizada em 02 de agosto de

2011, denegou a ordem (fl. 131), por maioria, ao argumento de que não se vislumbrava de plano a atipicidade da conduta, revogando-se a

liminar outrora deferida. Foi vencido o Excelentíssimo Relator que, em consonância com a jurisprudência consolidada do Tribunal Superior Eleitoral, concedeu a ordem para trancar o curso de ambas as ações penais movidas contra o paciente (fls. 133/134).

Dessa decisão a Defensoria Pública impetrou novamente Habeas Corpus, desta vez no e. Tribunal Superior Eleitoral, demonstrando

que a decisão da Corte Eleitoral Regional não expressava o melhor direito, mormente em face da jurisprudência harmônica e pacífica do Tribunal Superior, anotada inicialmente a partir do Respe nº 15.033/GO, com decisão publicada em 24/10/1997.

Ocorre que, espantosa e surpreendentemente, a Corte Superior Eleitoral decidiu por denegar a ordem, indo assim de encontro à

própria jurisprudência firmada em seu âmbito, razão pela qual maneja-se o presente writ, com fulcro no art. 102, II, a, com vistas ao trancamento de ambas as ações penais, substituindo-se o recurso ordinário, merecendo ainda, in casu, trâmite processual mais célere, em

vista de tratar-se de paciente pessoa idosa” (fls. 2 a 4 da inicial – grifos no original).

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Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21

Transcrevo o teor daquele julgado:

“Ação Penal. Trancamento. - Se a denúncia narra fatos que evidenciam indícios suficientes de materialidade e autoria do delito imputado ao paciente, não há

como se acolher o pleito de trancamento da ação penal.

Ordem denegada” (fl. 48 do anexo 5).

Essa é a razão pela qual se insurge a impetrante neste writ. De início, afasto qualquer óbice jurídico-processual ao conhecimento do habeas corpus.

No caso, ressalto que a impetração foi manejada em substituição ao recurso ordinário constitucional prescrito no art. 102, inciso II, alínea a, da

Carta da República, o que esbarra em decisões da Primeira Turma desta Corte que, a partir de decisão tomada na sessão extraordinária de 7/8/12, assentou, quando do julgamento do HC nº 109.956/PR, Relator o Ministro Marco Aurélio, a inadmissibilidade do habeas corpus que tenha por

objetivo substituir o recurso ordinário.

Segundo aquele dispositivo constitucional, compete a este Supremo Tribunal julgar, em recurso ordinário, “o habeas-corpus, o mandado de segurança, o habeas-data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão”.

Conforme então consignado pelo eminente Relator,

“o habeas corpus substitutivo do recurso ordinário, além de não estar abrangido pela garantia constante do inciso LXVIII do artigo 5º

do Diploma Maior, não existindo sequer previsão legal, enfraquece este último documento, tornando-o desnecessário no que, nos artigos 102,

inciso II, alínea a, e 105, inciso II, alínea a, tem-se a previsão do recurso ordinário constitucional a ser manuseado, em tempo, para o

Supremo, contra decisão proferida por Tribunal Superior indeferindo ordem, e para o Superior Tribunal de Justiça contra ato de Tribunal

Regional Federal e de Tribunal de Justiça” (HC nº 108.715/RJ).

Não posso, contudo, omitir que Sua Excelência, posteriormente, alterou parcialmente seu entendimento, passando a admitir o writ substitutivo, desde que atingido na via direta o direito de liberdade de locomoção do paciente.

Nesse sentido destaco o seguinte precedente:

“HABEAS CORPUS – SUBSTITUTIVO DO RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL – LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO

ATINGIDA NA VIA DIRETA – ADEQUAÇÃO. Sendo objeto do habeas corpus a preservação da liberdade de ir e vir atingida diretamente, porque expedido mandado de prisão ou porquanto, com maior razão, esta já ocorreu, mostra-se adequada a impetração, dando-se alcance

maior à garantia versada no artigo 5º, inciso LXVIII, da Carta de 1988. Evolução em óptica linear assentada anteriormente. Entendimento

vencido do relator. (...)”(HC nº 116.022/SP, Primeira Turma, da relatoria do Ministro Marco Aurélio, DJe de 1º/8/13).

Esse, aliás, também tem sido o posicionamento adotado pela Segunda Turma deste Supremo Tribunal:

“HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. PROCESSUAL PENAL. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE DO ACÓRDÃO IMPETRADO: AUSÊNCIA DE CORRELAÇÃO ENTRE A FUNDAMENTAÇÃO DO PEDIDO E A DA DECISÃO. IMPETRAÇÃO DE

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO. ADMISSIBILIDADE. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. CONCESSÃO DA

ORDEM DE OFÍCIO. 1. Não entendendo o Superior Tribunal de Justiça pela possibilidade de conhecimento de habeas corpus, prejudicada a apreciação das alegações de fundo do Impetrante, não havendo que se falar em nulidade do acórdão impetrado pela ausência de correlação

entre a fundamentação do pedido e a do acórdão impetrado. 2. O eventual cabimento de recurso não constitui óbice à impetração de habeas

corpus, desde que o objeto esteja direta e imediatamente ligado à liberdade de locomoção física do Paciente. Precedentes. 3. Ordem

concedida, de ofício, para determinar à Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça que examine o mérito do Habeas Corpus n. 139.346”

(HC nº 112.836/SE, Segunda Turma, da relatoria da Ministra Cármen Lúcia, DJe de 15/8/13);

“Habeas corpus. 2. Writ substitutivo de recurso ordinário em habeas corpus. Conhecimento do remédio heroico em razão da possibilidade de vir-se a conceder, se for o caso, a ordem de ofício. Preliminar de não cabimento superada. 3. O acórdão impugnado denegou

a ordem de habeas corpus que objetivava desconstituir decisão condenatória, nos termos da revisão criminal proposta no Tribunal a quo. 4.

A jurisprudência do STF aceita a confissão extrajudicial quando corroborada por outros meios de provas, admitindo, também, o testemunho de policiais na fase judicial. 5. Ordem denegada” (HC nº 116.437/SC, Segunda Turma, da relatoria do Ministro Gilmar Mendes, DJe de

19/6/13).

Ocorre que, desde sempre ressalvei meu entendimento pessoal, já consignado naquele julgamento, pelo cabimento do habeas corpus

substitutivo, tendo, contudo, adotado o entendimento da Turma nos julgamentos afetos àquele colegiado. Entretanto, diante da submissão da questão, agora ao colegiado maior, penso seja a oportunidade de externar meu ponto de vista, para que o

tema seja sedimentado no âmbito do Plenário.

Começo por destacar que o habeas corpus, instituto constitucionalmente destacado em nossa carta maior, tem seu berço no direito anglo-saxão, porém como destacado por PLÁCIDO e SILVA, com raízes que remontam à antiga Roma:

“(…) propriamente deriva o instituto do Direito Romano, onde já todo cidadão poderia reclamar a exibição do homem livre que era

retirado ilegalmente, por meio de uma ação privilegiada, a que se chamava interdictum de libero homine exhibendo “(Vocabulário

jurídico. 4. ed. São Paulo: Forense, 1975, p. 753, v. II.).

Destaca José Ernani de Carvalho Pacheco (Habeas corpus – prática, processo e jurisprudência. 8. ed. Curitiba: Juruá, 2002. p. 15-22), o seguinte histórico dessa nobre ação mandamental:

“(...)

Reinava na Inglaterra, no ano de 1215, o Rei João, que passaria para a História com o cognome de ‘Sem Terra’, sucessor de Ricardo

Coração de Leão. Fora este monarca um dos mais queridos de seu povo, mas seu irmão e sucessor mostrou-se arbitrário e incompetente no reger os destinos do país, o que ocasionou uma grande reação dos nobres que viam ameaçados os seus direitos, devido ao despotismo do

soberano.

Assim é que a 24 de maio de 1215, não só pelas razões referidas, como também por outras, de ordem interna, os barões feudais, chefiados por Robert Fritz-Gautiel, entraram em Londres à frente do chamado Exército de Deus e compeliram o monarca a assinar, no dia 19

de junho do mesmo ano, no campo de Runnymead, uma carta de liberdade que se chamaria Carta Magna.

O que não deixa dúvidas ao estudioso do direito inglês, afirma PONTES DE MIRANDA, ’é que a carta de 1215 foi a pedra inicial do novo estado de coisas, para a Inglaterra, para as nações filhas e para o homem’. E, citando a clássica sentença de Lord CHATHAN: ‘Esse

bárbaro latim dos ‘barões de ferro’ — referindo-se ao latim rude com que foi escrita a carta - valia muito bem todos os clássicos’ (História e

prática do habeas corpus. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 13-17, v. I).

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Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22

Efetivamente, significava a Carta uma grande conquista. Por ela confirmavam-se antigas leis, principalmente de Eduardo, o

Confessor, e Henrique I e, dentre outras garantias individuais, ficava estabelecido que ninguém poderia sofrer prisão injusta e que as pessoas

livres só seriam julgadas por seus pares. Em 1216, morre João Sem Terra e sobe ao trono Henrique III, aos nove anos de idade, que em 12 de novembro do mesmo ano

confirma a Carta em concílio nacional, com algumas modificações não substanciais.

Logo que Henrique III passou a governar sozinho, devido à sua pouca idade e absoluto despreparo para o trono, voltou a descontentar os barões que, anteriormente, haviam se revoltado contra seu pai.

Após uma guerra perdida contra Luiz IX de França, grande alta de impostos e muitas arbitrariedades do Rei, os barões, novamente,

sublevaram-se e, num concílio em Westminster, no ano de 1255, foi a Carta, pela segunda vez, confirmada pelo monarca. Mas as medidas arbitrárias não cessaram e novas lutas ocorreram até que, em 5 de novembro de 1298, Eduardo I, o rei de então; foi

forçado pelo Parlamento a ratificar a Carta, ficando esclarecido que a mesma seria mantida sem modificações e que seria publicada,

juntamente com outra, denominada Carta da Floresta, a fim de que os juízes e oficiais, executores da lei no reino, aplicassem-nas em suas decisões. Ficava também estabelecido que todos os julgamentos proferidos no futuro, contrariando as ditas Cartas, seriam nulos, ficando,

ainda, ameaçado de excomunhão quem por palavras, ações ou conselhos se manifestasse contrário ou violasse as mesmas.

Como se nota, a Carta Magna foi obtida visando a proteger os barões contra o despotismo do Rei; mas, com a evolução do tempo, acabou sendo incorporada ao patrimônio de conquistas comuns do povo, no sentido de garantir a cada cidadão a sua liberdade, inerente à

condição de ser humano.

Consagrado pela prática, o instituto foi, finalmente, posto em execução com maior rigor e respeito, no dia 26 de maio de 1679, através

do Habeas Corpus Act.

Posteriormente, um novo ato, no reinado de Jorge III, veio [a] complementar o de 1679, ficando estabelecido que o cidadão inglês,

preso por delito que não constituísse traição ou rebelião, poderia pedir, por si ou por outrem, uma ordem de habeas corpus. Tão engajado na alma jurídica britânica ficou o instituto, a partir de então, que até mesmo Napoleão Bonaparte foi paciente, ainda

que sem o saber, de um pedido desta natureza, bem mais tarde, quando, após o malogro de Waterloo, seguia para a Ilha de Santa Helena. Tal

fato pitoresco está narrado em Memórias da Vida, de José L. de CARVALHO, e recorda que a nau-prisão, levando o grande corso, fundeou na costa inglesa defronte a Portsmouth. Assim que ali chegou, instalou-se entre os britânicos grande curiosidade por ver o gigante tombado.

Entre eles, um teve a idéia atrevida de fazê-lo desembarcar. Face ao extraordinário ato denominado habeas corpus, requereu ao magistrado,

alegando ser-lhe necessária a presença de Napoleão como sua testemunha em processo que tramitava. O Juiz, não podendo, por força da lei, negar-lhe o pedido, concedeu-lhe, como requerido. Alertou, entrementes, ao governo, do sucedido e este não teve outro remédio senão avisar,

pelo telégrafo, ao comandante do navio, solicitando-lhe que se pusesse ao largo, fora das águas territoriais inglesas e do alcance da ordem

judicial.

‘O habeas corpus nasceu historicamente como uma necessidade de contenção do poder e do arbítrio. Assinala o momento inicial do liberalismo, que as tendências do neoliberalismo acentuam. Os países civilizados adotam-no como regra, pois a ordem do

habeas corpus significa em sua essência uma limitação às diversas formas de autoritarismo’ (FERREIRA. Pinto. Teoria e prática do

habeas corpus. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1982, p. 13).

Do seu país de origem o habeas corpus passou para outros e, em nossa pátria foi introduzido, após a partida de D. João VI para Portugal, com expedição do Decreto de 23 de maio de 1821, referendado pelo Conde dos Arcos. Após considerar que ‘nem a Constituição da

Monarquia Portuguesa, nem as ordenações expressas das Ordenações do Reino’ têm podido proteger a segurança das pessoas, decretou o que PONTES DE MIRANDA denominou de a ‘nossa Magna Carta, o primeiro grande marco histórico das nossas liberdades. Com o atraso de

alguns séculos. Mas era um Brasil que nascia e tem reagido como possível às violações dos textos constitucionais, que são devidas, quase

sempre, a planos estrangeiros para se evitar que o Brasil cedo chegue à altura a que há de chegar’ (História e prática do habeas corpus. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 177, v. I.)

Estabelecia aquele Decreto que, a partir de então, nenhuma pessoa livre no Brasil poderia ser presa sem ordem escrita do Juiz ou

magistrado criminal do território, a não ser em caso de flagrante delito, quando qualquer do povo poderia prender o delinqüente; e que nenhum Juiz ou magistrado criminal poderia expedir ordem de prisão sem que houvesse culpa formada, por inquirição de três testemunhas e

sem que o fato fosse declarado em lei como delito. Nota-se que o decreto do Conde dos Arcos já trazia em si a consagrada segurança do

direito criminal, totalmente abordada na síntese latina: Nullum crimen nulla poena sine praevia lege. Posteriormente, pela Constituição de 1824, ficou estabelecido que ninguém seria preso sem culpa formada, exceto nos casos

declarados em lei; e, nestes dentro em 24 horas contadas da entrada na prisão, se em cidades, vilas ou outras povoações próximas aos

lugares da residência do Juiz e, nos lugares remotos, dentro de um prazo razoável, determinado pela lei, atenta à extensão do território, o Juiz, por uma nota por ele assinada, faria constar ao réu o motivo da prisão, o nome do seu acusador e os das testemunhas, se houvesse (art.

179, VIII).

O ato de 1821 e a sua absorção pela Carta de 1824, foi um raio de luz no horizonte, institucional brasileiro, porquanto afastava do convívio jurídico as Ordenações Filipinas, - seu livro V, chamado pelos historiadores de ‘catálogo de monstruosidades’ - cuja ‘caótica técnica

legislativa (...) e a carência de coordenação das matérias disciplinadas tornam difícil uma abordagem interpretativa sistemática’ (MACHADO

NETO, Zahidé. Direito penal e estrutura social. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 33). Mais tarde ver-se-á, nas pugnas legislativas em torno do projeto ao Código Criminal de 1830, o temor que ainda despertava no ilustre parlamentar Bernardo de VASCONCELOS, idealizador do

projeto, a sombra tormentosa do ‘Código bárbaro’.

O Código Criminal de 1830, embora ordenamento de direito material, merece ser lembrado, pois, estatuindo normas sancionadoras ao descumprimento da ordem de habeas corpus, impositivamente acolheu o instituto (arts. 183 e 184).

Mais tarde foi o instituto regulamentado pelo Código de Processo Criminal, de 24 de novembro de 1832, nos arts. 340. a 355.

Estabelecia aquele código, ainda, que qualquer Juiz poderia passar uma ordem de habeas corpus de ofício, sempre que no curso do processo chegasse ao seu conhecimento que alguém estivesse detido ou preso.

Em 3 de dezembro de 1841, uma nova lei determinava que a competência para a concessão da ordem seria do Juiz superior ao que

decretou a prisão, e, quatro décadas após, a Lei 2.033 estatuía que o habeas corpus não era somente remédio contra o constrangimento já efetivado, mas também, contra aquele em vias de se concretizar. Era o aparecimento, entre nós, do habeas corpus preventivo. Esta mesma lei

estendia aos estrangeiros a possibilidade de se beneficiarem com a ordem.

Com o advento da República, o Decreto de 11 de outubro de 1890 determinava que todo cidadão, nacional ou estrangeiro, poderia solicitar, para si ou para outrem, ordem de habeas corpus, sempre que ocorresse ou estivesse em vias de se consumar um constrangimento

ilegal.

Na apresentação daquele Decreto, o então Min. Campos Salles escrevia:

‘O mesmo zelo pela liberdade individual presidiu às disposições relativas ao habeas corpus. As fórmulas mais singelas, mais prontas e de maior eficácia foram adotadas; e, como uma sólida garantia em favor daquele que sofre constrangimento, ficou

estabelecido o recurso ao Supremo Tribunal Federal a todos os casos de denegação da ordem do habeas corpus. Tanto quanto

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Informativo 735-STF – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23

possível e dentro dos limites naturalmente postos à previsão legislativa, ficou garantida a soberania do cidadão. É este certamente o

ponto para onde deve convergir a mais assídua de todas as preocupações do governo republicano. O ponto de partida para um sólido

regime de liberdade está na garantia dos direitos individuais. O princípio fundamental de que só um poder judicial independente é capaz de defender com eficácia a liberdade e os direitos dos cidadãos na luta desigual entre o indivíduo e o Estado, foi, neste

organismo, rigorosamente observado.’

A Constituição de 1891 estabelecia que se daria o habeas corpus sempre que alguém sofresse ou se achasse na iminência de vir a

sofrer violência ou coação, por ilegalidade ou por abuso de poder. O habeas corpus, elevado a garantia constitucional pelo Constituinte de 1891, teve ampliada a sua abrangência, que alcançou

amparar também outros direitos pessoais, além da liberdade de locomoção. Essa amplitude, porém, pouco mais de três decênios depois,

novamente retrocederia com a Reforma Constitucional de 1926, ocasião em que o trasbordamento institucional deu lugar ao retorno do habeas corpus à sua índole natural protetiva apenas da livre locomoção.

A continuidade daquela ampla proteção, teve na República denodados defensores, conforme narra o Prof. PINTO FERREIRA:

‘Na história constitucional brasileira, sobretudo mediante a influência de Rui BARBOSA e Pedro LESSA, aconteceu que em

face da generalidade do preceito que estava exposto no art. 72, § 22, da Constituição Federal de 1891, a jurisprudência finalizou estendendo o remédio do habeas corpus para defesa de todo e qualquer direito pessoal, uma orientação que ampliou a índole

originária do instituto de simples remédio para a proteção da liberdade pessoal. Rui BARBOSA foi o grande defensor desse ponto de

vista, que permitiu a extensão e ampliação do habeas corpus a uma amplidão generalizada’ (Pinto [Ferreira]. Teoria e prática do

habeas corpus. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1982, pg. 16).

O Prof. Celso Ribeiro BASTOS ilustra bem o assunto:

‘De 1891 a 1926 vai-se assistir, sob o influxo dessa corrente de pensamento, a um gradativo alargamento da utilização do

habeas corpus até o ponto em que ele deixa de proteger diretamente a liberdade física para colher na sua malha tutelar a proteção de

qualquer direito para cujo exercício se fizesse imprescindível a liberdade de locomoção. Com esse fundamento concedeu-se habeas corpus, por exemplo, para asseguramento da posse em cargo público, de funcionário nomeado’ (Do mandado de segurança. São

Paulo: Saraiva, 1978, p. 3).

O instituto passou praticamente incólume pela revolução de 1930, com a seguinte redação: ‘É mantido o habeas corpus em favor dos

réus ou acusados em processos de crimes comuns, salvo os funcionais e os da competência de Tribunais especiais’ (Dec. 19.398, art. 5º). Pela Carta Constitucional de 1934 retornou ao instituto o caráter de protetor de ampla atuação, como fora no período anterior a

1926. O mesmo diploma, entretanto, constitucionalizou um outro remédio heróico, o mandado de segurança, nos seguintes termos:

‘Dar-se-á mandado de segurança para a defesa do direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente

inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade. O processo será o mesmo do habeas corpus, devendo ser sempre ouvida a pessoa de direito público interessada. O mandado não prejudica as ações petitórias competentes.’

A Constituição de 1937 restringiu, novamente, o âmbito do habeas corpus colocando-o apenas na tutela do direito locomotivo.

Estabelecia que a ordem seria concedida sempre que alguém sofresse ou fosse ameaçado de sofrer um constrangimento ilegal em sua

liberdade de ir, permanecer ou vir, salvo nos casos de transgressão disciplinar. A Constituição de 1946 deixou o aludido instituto praticamente nos mesmos moldes da anterior.

A Carta Política de 1967, em seu art. 150, § 20, dispunha:

‘Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Nas transgressões disciplinares não caberá habeas corpus.’

A Emenda Constitucional 1, de 1969, repetiu a disposição (art. 153, §20).

Necessário se faz ressaltar que o instituto foi duramente abalroado pelo Ato Institucional 5, de 13.12.1968, que o suprimia ao sabor e à

subjetividade de conceitos desprovidos de rigor científico, quais sejam, v.g., os intitulados crimes políticos. Ab-rogado o Ato Institucional em 1978, recobrou o habeas corpus a sua plenitude original.

Finalmente, a Constituição Federal de 05.10.1988, prevê a concessão de habeas corpus ‘sempre que alguém sofrer ou se achar

ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder’ (art. 5º, LXVI1I). No atual texto constitucional, bem se vê, omitiu-se a ressalva dos casos de punição disciplinar, constante do CPP, art. 647, bem como da Carta Magna

anterior. Com isso, ampliou-se o cabimento da medida, a ponto de torná-la também idônea a remediar as ilegalidades e abusos de poder

cometidos a título de sanções disciplinares. Atendeu-se, assim, à orientação hoje prevalente na doutrina e jurisprudência, que, em verdade, há bastante tempo se insurgiam contra essa injustificável restrição.”

Feita essa digressão histórica, penso que a garantia constitucional do habeas corpus, na visão desta Suprema Corte, encontra definição maior

nas palavras do eminente Ministro Ayres Britto, in verbis:

“O habeas corpus é via de verdadeiro atalho que só pode ter por alvo – lógico – a ‘liberdade de locomoção’ do indivíduo, pessoa

física. E o fato é que esse tipo de liberdade espacial ou geográfica é o bem jurídico mais fortemente protegido por uma ação constitucional. Não podia ser diferente, no corpo de uma Constituição que faz a mais avançada democracia coincidir com o mais depurado humanismo.

Afinal, habeas corpus é, literalmente, ter a posse desse bem personalíssimo que é o próprio corpo. Significa requerer ao Poder Judiciário um

salvo-conduto que outra coisa não é senão uma expressa ordem para que o requerente; preserve, ou, então, recupere a sua autonomia de vontade para fazer do seu corpo um instrumento de geográficas idas e vindas. Ou de espontânea imobilidade, que já corresponde ao direito

de nem ir nem vir, mas simplesmente ficar. Autonomia de vontade, enfim, protegida contra ‘ilegalidade ou abuso de poder’ — parta de quem

partir —, e que somente é de cessar por motivo de ‘flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei’ (inciso LXI do art. 5º da Constituição). (...)” (HC nº

88.747-AgR/ES, Primeira Turma, j. 28/10/09).

Na minha concepção, portanto, seja a ameça direta ou frontal, seja ela indireta ou tangencial, aberta está a via constitucional para amparar o

direito do cidadão à liberdade, não cabendo limitar-se, ao argumento de que os tribunais já se encontram assoberbados por recursos outros, o exercício de um direito constitucionalmente assegurado, inclusive, no rol maior das garantias individuais.

Por essa razão, pedindo vênia aos que pensam de modo diverso, admito a presente impetração, passando ao exame do mérito da pretensão.

Ressalto, a propósito, que, pelo que se observa na decisão proferida pelo Tribunal Superior Eleitoral, não se vislumbra ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia que justifique a concessão da ordem. Com efeito, o julgado proferido por aquela Corte encontra-se suficientemente

motivado, restando justificado o convencimento formado.

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É firme a jurisprudência consagrada por este Supremo Tribunal no sentido de que a concessão de habeas corpus com a finalidade de

trancamento de ação penal em curso só é possível em situações excepcionais, quando estiverem comprovadas, de plano, atipicidade da conduta, causa

extintiva da punibilidade ou ausência de indícios de autoria, o que não vislumbro neste caso. Nesse sentido:

“HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO

PENAL, POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. EXCEPCIONALIDADE. INÉPCIA DA DENÚNCIA. INOCORRÊNCIA. REEXAME DE

PROVAS. INVIABILIDADE. 1. O trancamento da ação penal por ausência de justa causa é medida excepcional, justificando-se quando despontar, fora de dúvida, atipicidade da conduta, causa extintiva da punibilidade ou ausência de indícios de autoria, o que não ocorre no

caso sob exame. 2. A denúncia que descreve as condutas dos co-réus de forma detalhada e individualizada, estabelecendo nexo de

causalidade com os fatos, não é inepta 3. O habeas corpus não é a via processual adequada à análise aprofundada de matéria fático-probatória. Ordem indeferida” (HC nº 94.752/RS, Relator o Ministro Eros Grau, Segunda Turma, DJe de 17/10/08);

“Habeas corpus. Penal e Processual Penal. Crime do art. 20 da Lei nº 7.716/89. Alegação de que a conduta configuraria o crime

previsto no art. 140, § 3º, do Código Penal. A ilegitimidade ad causam do Ministério Público Federal não pode ser afirmada na fase em

que se encontra a ação penal. Justa causa. Existência. Precedentes. 1. A afirmação da legitimidade ad causam do parquet, no caso, se confunde com a própria necessidade de se instruir a ação penal,

pois é no momento da sentença que poderá o Juiz confirmar o tipo penal apontado na inicial acusatória. Qualquer capitulação jurídica feita

sobre um fato na denúncia é sempre provisória até a sentença, tornando-se definitiva apenas no instante decisório final.

2. Não cabe ao Supremo Tribunal Federal, em habeas corpus, antecipar-se ao Magistrado de 1º grau e, antes mesmo de iniciada a

instrução criminal, firmar juízo de valor sobre as provas trazidas aos autos para tipificar a conduta criminosa narrada.

3. A jurisprudência deste Tribunal é firme no sentido de que o trancamento da ação penal, em sede de habeas corpus, por ausência de justa causa, constitui medida excepcional que, em princípio, não tem lugar quando os fatos narrados na denúncia configuram crime em tese.

4. É na ação penal que deverá se desenvolver o contraditório, na qual serão produzidos todos os elementos de convicção do julgador e

garantido ao paciente todos os meios de defesa constitucionalmente previstos. Não é o habeas corpus o instrumento adequado para o exame de questões controvertidas, inerentes ao processo de conhecimento.

5. Habeas corpus denegado” (HC nº 90.187/RJ, Primeira Turma, Relator o Ministro Menezes Direito, DJ de 25/4/08 – grifos do

autor).

E ainda o HC nº 93.853/PA, Primeira Turma, Relator o Ministro Menezes Direito, DJe de 30/5/08; o HC nº 86.583/SP, Segunda Turma, Relator o Ministro Eros Grau, DJe de 27/4/07; e o HC nº 85.066/GO, Segunda Turma, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ de 20/5/05, entre

outros.

Ressalte-se que a jurisprudência mais recente da Corte, em hipótese absolutamente idêntica a esta, já se manifestou pela existência de justa causa para a persecução penal:

“INQUÉRITO. CONDUTA QUE CONFIGURA, EM TESE, CRIME DE FALSA DECLARAÇÃO DE DOMICÍLIO ELEITORAL (CE,

ART. 350). Declaração falsa firmada pelo proprietário do imóvel visando a comprovar que o indiciado, candidato ao cargo de prefeito

municipal, tinha domicílio eleitoral na cidade de Santo André/SP. Conduta configuradora, em tese, do delito tipificado no art. 350 do Código Eleitoral. Denúncia recebida” (Inq. nº 1.645/SP, Tribunal Pleno, da relatoria do Ministro Eros Grau, DJe de 5/9/08).

No mesmo sentido, a jurisprudência da Corte Eleitoral:

“CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL. AFRONTA AO ART. 350 DO CÓDIGO ELEITORAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. DIVERGÊNCIA

JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, DESPROVIDO. 1. A forma incriminadora ‘fazer inserir’, prevista no artigo 350 do Código Eleitoral, admite a realização por terceira pessoa que

comprovadamente pretenda se beneficiar ou prejudicar outrem na esfera eleitoral, sendo o bem jurídico protegido pela norma a fé pública

eleitoral referente à autenticidade dos documentos. 2. A divergência jurisprudencial requisita comprovação e demonstração por meio da transcrição dos trechos dos acórdãos que

configurem o dissídio, mencionando-se as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, não se satisfazendo com a

simples transcrição de ementas ou votos. 3. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido” (REspe nº 35.486/SP, da relatoria do Ministro Gilson Dipp, julgado em

4/8/11).

Diante desse quadro, conheço da impetração, mas denego a ordem.

É como voto.

*julgamento pendente de conclusão **nomes suprimidos pelo informativo

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS 17 a 21 de fevereiro de 2014

Emenda Constitucional 77, de 11.2.2014 - Altera os incisos II, III e VIII do § 3º do art. 142 da Constituição Federal, para estender aos

profissionais de saúde das Forças Armadas a possibilidade de cumulação de cargo a que se refere o art. 37, inciso XVI, alínea “c.” Publicado no DOU

em 12.2.2014, Seção 1, p.1.

Secretaria de Documentação – SDO

Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD

[email protected]